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Saúde Pública e

Mental
PROF. ME. FRANCISCO AIRES NETO
Hospício Pedro II (1852)

Asilos, alienados e alienistas.


PEQUENA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL
Asilos, alienados e alienistas.

 "O Alienista", de Machado de Assis - Simão Bacamarte. Missão de


conhecer a loucura para sobre ela intervir com certeza e
convicção. A loucura, entretanto, não se deixa desvendar. Seria o
alienista o alienado?

 “Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção


científica, trancou os ouvidos à saudade da mulher, e
brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa Verde,
entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas
que ele morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que
entrou, sem ter podido alcançar nada. Alguns chegam ao ponto
de conjeturar que nunca houve outro louco, além dele, em Itaguaí,
mas esta opinião, fundada em um boato que correu desde que o
alienista expirou” (O Alienista, Machado de Assis).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 A história da nossa psiquiatria é a história
de um processo de asilamento; é a
história de um processo de
medicalização social.

 A ordem psiquiátrica, é oferecida como


paradigma de organização modelar às
instituições de uma sociedade que se
organiza.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 A loucura só vem a ser objeto de intervenção específica por parte
do Estado a partir da chegada da Família Real, no início do século
passado.

 As mudanças sociais e econômicas, no período que se segue,


exigem medidas eficientes de controle social, sem as quais toma-se
impossível ordenar o crescimento das cidades e das populações.

 Convocada a participar dessa empresa de reordenamento do


espaço urbano, a medicina termina por desenhar o projeto do
qual emerge a psiquiatria brasileira.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 Em 1830, uma comissão da Sociedade de Medicina
do Rio de Janeiro realiza um diagnóstico da
situação dos loucos na cidade.

 É a partir desse momento que os loucos passam a


ser considerados doentes mentais, merecedores,
portanto, de um espaço social próprio, para sua
reclusão e tratamento. Antes, eram encontrados em
todas as partes: ora nas ruas, entregues à sorte, ora
nas prisões e casas de correção, ora em asilos de
mendigos, ora ainda nos porões das Santas Casas
de Misericórdia.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 Quem são estes loucos?

Os miseráveis, os marginais, os pobres e toda a sorte de párias...

São ainda trabalhadores, camponeses, desempregados, índios,


negros, "degenerados“...

Perigosos em geral para a ordem pública, retirantes que, de


alguma forma ou por algum motivo, padecem de algo que se
convenciona englobar sobre o título de doença mental.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 No Hospício de Pedro II, inaugurado no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha, em
1852, os poucos pensionistas particulares têm boas instalações, inclusive um
quarto mobiliado, com conforto, além de um criado à sua inteira disposição.
Mas o quadro geral é bem diferente!

Hospício de Pedro II
Fonte: http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-
categorias-2/323-hospicio-de-pedro-segundo

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Colônia Juliano Moreira (CJM)

A crítica ao hospício e a criação


das colônias.
A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Da criação do Hospício de Pedro II até a Proclamação
da República, os médicos não poupam críticas ao
hospício, excluídos que estavam de sua direção e
inconformados com a ausência de um projeto
assistencial científico.

 Reivindicam o poder institucional que se encontra nas


mãos da Provedoria da Santa Casa de Misericórdia do
Rio de Janeiro, assim como da Igreja.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Em sua grande maioria, os alienistas compartilham dos
ideais positivistas e republicanos, e aspiram o
reconhecimento legal, por parte do Estado, que
legitime e autorize uma intervenção mais ativa no
campo da doença mental e assistência psiquiátrica.

 O hospício deve ser medicalizado, isto é, deve ter em


sua direção o poder médico, para poder contar com
uma organização embasada por princípios técnicos.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Isso se torna necessário para que se permita alcançar a
respeitabilidade pública, da qual a medicina mental
carece devido ao estado em que se desenvolve a
psiquiatria no Hospício de Pedro II. Mas também para
que o hospício se torne um lugar de produção e
conhecimento.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Proclamada a República (1889), a psiquiatria busca modernizar-se.

Em segundo lugar, porque, sob a


Em primeiro lugar porque o asilo,
égide de uma nova ordem social
nos moldes arcaicos do Pedro II,
que então se constitui, a
assemelha-se demais às
psiquiatria deve partir para atuar
instituições despóticas, filhas
no espaço social, no espaço onde
autênticas do absolutismo político,
vivem as pessoas, onde se
o que a faz destoar do ideário
estruturam as doenças mentais, e
liberal veiculado nos meios
não se limitar apenas ao espaço
republicanos.
cercado pelos muros do asilo.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Efetivamente, com a chegada dos republicanos ao
poder, em janeiro de 1890 o Hospício de Pedro II é
desvinculado da Santa Casa, ficando subordinado à
administração pública, e passando a denominar-se
Hospício Nacional de Alienados.

 Logo no mês seguinte é criada a Assistência Médico-


Legal aos Alienados, primeira instituição pública de
saúde estabelecida pela República.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 No âmbito da assistência são criadas as duas primeiras colônias de
alienados, que são também as primeiras da América Latina.
Denominadas de Colônias de São Bento e de Conde de Mesquita
(destinam-se ao tratamento de alienados indigentes do sexo
masculino).

http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/modul
osfotograficos.html

http://www.ccs.saude.gov.br/saudemental/mostrasvirtuais.php

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A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Logo após serão criadas as Colônias de Juqueri, em São
Paulo, e a de Vargem Alegre, no interior do Estado do
Rio.

 Este conjunto de medidas caracterizam a primeira


reforma psiquiátrica no Brasil, que tem como escopo a
implantação do modelo de colônias na assistência aos
doentes mentais.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 A idéia fundamental desse modelo de colônias é a de
fazer a comunidade e os loucos conviverem
fraternalmente, em casa ou no trabalho.

 O trabalho é, pois, um valor decisivo na formação social


burguesa e, como conseqüência, passa a merecer uma
função nuclear na terapêutica asilar.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 João Carlos Teixeira Brandão, que é o primeiro diretor
tanto da Assistência Médico-Legal aos Alienados
quanto do Hospício Nacional de Alienados, caracteriza
sua gestão com a ampliação dos asilos.

 Cria ainda a primeira cadeira de psiquiatria para


estudantes de medicina (que é também a primeira Fonte:
cadeira de clínica 'especializada), assim como a https://www.anm.org.br/joao-
carlos-teixeira-brandao/
primeira escola de enfermagem, sistematizando assim
a formação de profissionais para a especialidade.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Neste período, no Rio de Janeiro é criada a Colônia de
Alienadas do Engenho de Dentro ( 1911), para mulheres
indigentes, e em 1920 são iniciadas as obras da Colônia
de Alienados de Jacarepaguá (para onde serão
transferidos os internos de São Bento e Conde de
Mesquita, que devem ser extintas), e as obras do
Manicômio Judiciário.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira
de Higiene Mental
De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 Ao retomar de viagem de estudos à Europa, Juliano
Moreira é designado em 1903 para a dirigir a Assistência
Médico-Legal aos Alienados.

 Com ele tem continuidade a criação de novos asilos, a


reorganização dos já existentes e a busca de
legitimação jurídico-política da psiquiatria nacional.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 Ao retomar de viagem de estudos à Europa, Juliano
Moreira é designado em 1903 para a dirigir a Assistência
Médico-Legal aos Alienados.

 Com ele tem continuidade a criação de novos asilos, a


reorganização dos já existentes e a busca de
legitimação jurídico-política da psiquiatria nacional.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM) IMAS Juliano
Moreira.
 Fonte: http://historiaeloucura.gov.br/index.php/instituto-municipal-de-
assistencia-saude-juliano-moreira-brasil-brasil-secretaria-municipal-de-saude-do-
rio-de-janeiro.

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De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 Juliano Moreira ocupa esta direção por 27 anos, até
1930, quando é destituído pelo Governo Provisório de
Getúlio Vargas. Por sua obra prática e teórica passa a
ser conhecido como o Mestre da Psiquiatria brasileira.

 Moreira traz para o Brasil a escola psiquiátrica alemã,


que toma o lugar dominante até então ocupado pela
escola francesa, vinda na bagagem de Teixeira
Brandão.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 A vinculação da psiquiatria brasileira à corrente alemã
tem um importante significado quanto à discussão
etiológica das doenças mentais.

 O biologicismo, tendência predominante da tradição


alemã, passa a explicar não só a origem das doenças
mentais, mas também muitos dos fatores e aspectos
étnicos, éticos, políticos e ideológicos de múltiplos
eventos sociais.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 Em 1923, Gustavo Riedel funda a Liga Brasileira de
Higiene Mental, com a qual se cristaliza o movimento da
higiene mental.

 A carta dos princípios da Liga constitui um programa de


intervenção no espaço social, com características
marcadamente eugenistas, xenofóbicas, antiliberais e
racistas .

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 “[...] quem quer que acompanhe, de perto, o grande
movimento da hygiene mental no mundo, haverá de
notar que os ingentes esforços dos neuro-hygienistas se
vão orientando não somente no sentido da
conservação da saúde psychica, mas também e
sobretudo, no sentido da extincção das eivas
hereditarias, de modo que a mentalidade das novas
gerações possa, cada vez mais se aproximar do padrão
psychologico ideal “(CALDAS, 1932, p. 29 apud
MANSANERA, 2000. p. 122).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
 A psiquiatria não se limita a estabelecer modelos ideais de
comportamento individual, mas passa a pretender a
recuperação de "raças", apreender a constituição de
coletividades sadias.

 Com o movimento da eugenia, o asilo passa a contar com


uma nova ideologia que o fortalece: a psiquiatria deve
operar a reprodução ideal do conjunto social que se
aproxima de uma concepção modelar da natureza
humana.

 Um espaço eugênico, asséptico, de normalidade.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/tratamentos.html

A era dos choques e a psiquiatria


comunitária
A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Nos anos 30 a psiquiatria parece ter finalmente


encontrado a tão procurada cura para as doenças
mentais.

 É grande o entusiasmo com a descoberta do choque


insulínico, do choque cardiazólico, da
eletroconvulsoterapia e das lobotomias.

 Técnicas novas que vêem substituir ou a malarioterapia


ou o descabido empirismo.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Na década de 50 fortalece-se este processo de


psiquiatrização, com o aparecimento dos primeiros
neurolépticos.

 Mais que as experiências das colônias, cumpre observar


que o furor farmacológico dos psiquiatras dá origem a
uma postura no uso dos medicamentos que, nem
sempre, é "tecnicamente orientada", muitas das vezes
utilizados apenas em decorrência da pressão da
propaganda industrial.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 A partir do fim da Segunda Guerra Mundial surgem


também variadas experiências de reformas
psiquiátricas, dentre as quais destacam-se as de
comunidades terapêuticas, de psicoterapia
institucional, de psiquiatria de setor, de psiquiatria
preventiva e comunitária, de anti psiquiatria, de
psiquiatria democrática, para ficar apenas nas mais
importantes.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Uma característica comum a todas estas experiências no


Brasil é a sua marginalidade. São experiências locais,
referidas a um ou outro serviço, a um ou outro grupo. Tão à
margem das propostas e dos investimentos públicos efetivos,
que suas memórias são de difícil, senão impossível, resgate.

 Muito deste insucesso deve-se à forte oposição exercida pelo


setor privado que, em franca expansão, passa a controlar o
aparelho de Estado também no campo da saúde.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria
A privatização na psiquiatria

 Na década 'de 60, com a unificação dos institutos de


aposentadoria e pensões, é criado o Instituto Nacional
de Previdência Social (INPS).

 O Estado passa a comprar serviços psiquiátricos do setor


privado e, ao ser privatizada grande parte da
economia, o Estado concilia no setor saúde pressões
sociais com o interesse de lucro por parte dos
empresários.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 A doença mental toma-se, definitivamente, um objeto


de lucro, uma mercadoria.

 Ocorre, assim, um enorme aumento do número de


vagas e de internações em hospitais psiquiátricos
privados, principalmente nos grandes centros urbanos.

 Chega-se ao ponto de a Previdência Social destinar


97% do total dos recursos da saúde mental para as
internações na rede hospitalar.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 As propostas mais inovadoras, ou pelo menos aquelas


que buscam uma alternativa não manicomial, mesmo
partindo de organismos oficiais, como é o caso dos
planos de psiquiatria preventiva e comunitária, e de
comunidades terapêuticas, a exemplo do Plano
Integrado de Saúde Mental (PISAM), além de outras
propostas de atenção primária, encontram dificuldades
sérias, seja por não enfrentarem adequadamente a
idéia da superação dos asilos, seja pela barreira de
resistências levantada pelos empresários e suas
representações no aparelho de Estado.

http://laps.ensp.fiocruz.br/linha-do-tempo
Prof.Me. Francisco Aires Neto
A privatização na psiquiatria

 Este modelo privatizante (em todo o setor saúde, e não


apenas no subsetor saúde mental) é de tal forma tão
violento, concentrador, fraudulento e ganancioso, que
contribui com parcela signifícativa de responsabilidade
para a crise institucional e financeira da Previdência
Social que se deflagra no início dos anos 80.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 Assim, é implantado o processo de Co-Gestão entre os


Ministérios da Saúde e da Previdência Social, e é também
criado o Conselho Consultivo da Administração de Saúde
Previdenciária (CONASP), este último responsável pela
elaboração de um plano de reorientação da assistência
psiquiátrica, que fica conhecido como o "plano do CONASP".

 No decorrer deste processo surgem as Ações Integradas de


Saúde (AIS), os Sistemas Unificados e Descentralizados de
Saúde (SUDS) e o Sistema Unificado de Saúde (SUS), cujos
princípios mais importantes são inscritos na Constituição de
1988, ainda em vigor.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Fonte: https://www.diariodoaco.com.br/noticia/0082216-associaaao-promove-evento-online-
gratuito-sobre-saade-mental

Os novos tempos da
desinstitucionalização.
Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Em 1987, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde


Mental assume-se enquanto um movimento social, e
não apenas de técnicos e administradores, e lança o
lema "Por uma Sociedade sem Manicômios".

 O lema estratégico remete para a sociedade a


discussão sobre a loucura, a doença mental, a
psiquiatria e seus manicômios. No campo prático,
passa-se a privilegiar a discussão e a adoção de
experiências de desinstitucionalização.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Neste contexto surge o projeto de lei 3657/89


(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramita
cao?idProposicao=20004)* que, ao propor a extinção
progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por
outras modalidades e práticas assistenciais, desencadeia um
amplo debate nacional, realmente inédito, quando jamais a
psiquiatria esteve tão permanente e conseqüentemente
discutida por amplos setores sociais.

 * Transformado na Lei Ordinária


10216/2001(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001
/l10216.htm)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Neste contexto surge o projeto de lei 3657/89


(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramita
cao?idProposicao=20004)* que, ao propor a extinção
progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por
outras modalidades e práticas assistenciais, desencadeia um
amplo debate nacional, realmente inédito, quando jamais a
psiquiatria esteve tão permanente e conseqüentemente
discutida por amplos setores sociais.

 * Transformado na Lei Ordinária


10216/2001(http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001
/l10216.htm)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Fonte: http://professoraedilzafontes.blogspot.com/2009/12/historia-do-
hospital-psiquiatrico_16.html. Acesso em 08 fev 21.

Prólogos da psiquiatria no Pará.


O HOSPITAL JULIANO MOREIRA
Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Inaugurado em 19 de julho de 1892, o Hospício de Alienados do Pará foi um dos


mais antigos do país e o primeiro a ser construído na Região Norte. Instalado à
Avenida Tito Franco (atual Av. Almirante Barroso), em Belém, este sob a
administração da Santa Casa de Misericórdia desde a sua fundação até 1903
(…) o hospício passou a ser uma referência para os alienados paraenses, pois
simbolizava o início da República e representava 'um ponto luminoso da
medicina no estado’”.
 (Fonte: https://fragmentosdebelem.tumblr.com/post/132298631748)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Em 1937 muda de nome, passando a ser chamado de


Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira.

 Mais que uma troca de denominação, há uma tentativa de


se incorporar às inovações no tratamento psiquiátrico que
começam a ocorrer no País, muitas delas introduzidas por
Juliano Moreira.

 (fonte:
https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-
235693-historia-do-tratamento-a-doentes-mentais-e-
contada.html)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 A ideia embutida era que manicômios, hospitais e


presídios deveriam ser construídos distantes da área
central para que se retirassem os ‘elementos não
condizentes com o espaço urbano, pautado na
higienização, organização e embelezamento’.

 (fonte:
https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-
235693-historia-do-tratamento-a-doentes-mentais-e-
contada.html)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 No início dos anos de 1960 existia cerca de mil pacientes no


interior do Hospital Juliano Moreira (HJM) no Pará, divididos
por sexo e pela contribuição financeira para essa instituição.

 A maioria era composta por “centenas de indigentes


amontoados no pavimento inferior”, mantidas pelas limitadas
verbas do orçamento estadual enquanto que no pavimento
superior, separados e alocados em quartos ou enfermarias
encontravam-se os “pensionistas”, pacientes que
colaboravam com pagamentos regulares pelo seu
tratamento, cujos valores eram administrados pelas religiosas
da congregação católica das Filhas de Sant’Anna.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 “Como compensação às suas jornadas de trabalho,


parte dos recursos obtidos com o pagamento dos
pensionistas eram transferidos para a matriz da ordem,
em Recife, numa operação apoiada talvez em senso
prático de justiça, mas sem amparo legal” (COIMBRA,
25.06.2011, p.4. apud NASCIMENTO e CORREA, 2015).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Ao retornar a direção do HJM em 1964, Dorvalino Braga, não


operou mudanças somente na retirada das grades dessa
instituição e a colocação dos Cobongós que servia de
divisória e “não veda a luz do sol e nem as brisas”.

 Ele determinou que a renda advinda dos pensionistas fosse


incorporada na sua integralidade ao poder público estadual
e convertidas ao HJM, provocando a revolta das freiras que
“decidiram abandonar abruptamente o Juliano Moreira,
provocando ataques a Dorvalino pelos jornais de Belém”
(IDEM).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Ressaltamos que essa estratégia afirma a proposta de


dotar o HJM como um espaço sob controle da
psiquiatria, tanto em sua gestão técnica como
administrativa.

 Iniciou-se “o trabalho de 12 anos sem remuneração de


sua esposa, a Sra. Maria Helena Salameh que
desenvolvia técnicas de terapia ocupacional”.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Vários aspectos eram ressaltados nesse quadro de mudanças


preconizadas pela direção do hospital. Um deles referia-se a
“recuperação da autoestima” com o incentivo de ações
corriqueiras na higiene das mulheres-internadas como “se
banharem toda manhã, oferecendo a elas água de colônia.
Um salão de beleza, com manicure, foi montado para
atendê-las. Assim, sumiram seus cabelos sujos e
desgrenhados”. Essas mulheres ao participarem das
atividades de terapia ocupacional “mostravam asseio e
estavam cheirosas” (COIMBRA, DIÁRIO DO PARÁ, 25.06.2011,
p. 4. apud NASCIMENTO e CORREA, 2015).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Agora, as novas “ordens pedagógicas” podem ser


visibilizadas como as equipes multidisciplinares de
profissionais com formação acadêmica, que atuavam
no sentido de transpor o modelo de tratamento
preconizado pelos métodos de isolamento, mesmo que
ainda utilizassem dispositivos dos sistemas disciplinares e
seus mecanismos de controle internos e externos.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Nessa ordenação institucionalizada de controle e


exercício do poder, os militares assumiram o
governo no Pará em meados de 1964, mas
somente a partir do ano de 1965 o HJM se tornou
objeto de preocupação na Mensagem do
Governador Jarbas Passarinho à Assembleia
Legislativa.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Nessa ordenação institucionalizada de controle e exercício do


poder, os militares assumiram o governo no Pará em meados
de 1964, mas somente a partir do ano de 1965 o HJM se tornou
objeto de preocupação na Mensagem do Governador Jarbas
Passarinho à Assembleia Legislativa.

 As reformas que transformaram o hospício em um hospital,


com aparência de um hospital comum, sem muros altos e suas
grades, demonstram.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Apesar da supressão das grades, fato bastante enaltecido


pelo então diretor Dorvalino Braga, ressaltamos a manutenção
de um modelo hospitalocêntrico, pois as medidas ainda
procuravam dotar o HJM como um “grande hospital”, espaço
apropriado para garantir o acesso e a permanência dos
internos naquele local de tratamento.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 O médico-psiquiatra José Paulo que morou como residente no


HJM por cinco anos em entrevista ao jornal O Estado do Pará
de 19.12.1978 foi uma das vozes que ressaltava a tentativa de
humanização desse espaço institucional nas ações do médico
e diretor Dorvalino Braga, porém, afirmava que o trabalho
desenvolvido no hospital era de “assistência psiquiátrica tipo
asilar. Um trabalho na base do uso de medicamentos onde há
uma comunicação precária entre o doente e a equipe
médica”.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 O médico não procura saber como eu estou. Ele não procura


saber o fato, as causas. Ele, também, está pouco se
interessando com o que pode vir a acontecer. Acredito que,
quando a gente chega com um médico e ele não dá
oportunidade para a gente se abrir e no fim passa um remédio
que é perigoso, ele não está importando com coisa nenhuma.
Então a partir disso que tomei a decisão de não fazer consulta
e não tomar mais remédio nenhum. Eu precisava salvar a
minha vida (O ESTADO DO PARÁ, 19.12.1978, p.9. apud
NASCIMENTO e CORREA, 2015).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Neste período foram criados:

 Hospital Aluyzio da Fonseca no ano de 1969, como anexo do HJM


 Centro Integrado de Assistência do Pará (CIASPA).
 Centro Psiquiátrico do Pará.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Centro Psiquiátrico do Pará.

 Foto: (Nascimento, 2015,


p.79)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação
das colônias.
 https://www.youtube.com/watch?v=71LaYxtaGdI
(História, loucura e memória: o acervo do hospital
psiquiátrico Juliano Moreira)

Prof.Me. Francisco Aires Neto

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