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Saúde Pública e

Mental
PROF. ME. FRANCISCO AIRES NETO
Hospício Pedro II (1852)

Asilos, alienados e alienistas.


PEQUENA HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA NO BRASIL
Asilos, alienados e alienistas.

 "O Alienista", de Machado de Assis - Simão Bacamarte. Missão de conhecer a


loucura para sobre ela intervir com certeza e convicção. A loucura, entretanto, não
se deixa desvendar. Seria o alienista o alienado?

 “Mas o ilustre médico, com os olhos acesos da convicção científica, trancou os


ouvidos à saudade da mulher, e brandamente a repeliu. Fechada a porta da Casa
Verde, entregou-se ao estudo e à cura de si mesmo. Dizem os cronistas que ele
morreu dali a dezessete meses, no mesmo estado em que entrou, sem ter podido
alcançar nada. Alguns chegam ao ponto de conjeturar que nunca houve outro
louco, além dele, em Itaguaí, mas esta opinião, fundada em um boato que correu
desde que o alienista expirou” (O Alienista, Machado de Assis).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 A história da nossa psiquiatria é a história de um
processo de asilamento; é a história de um
processo de medicalização social.

 A ordem psiquiátrica, é oferecida como paradigma


de organização modelar às instituições de uma
sociedade que se organiza.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 A loucura só vem a ser objeto de intervenção específica por parte do Estado a
partir da chegada da Família Real, no início do século passado.

 As mudanças sociais e econômicas, no período que se segue, exigem medidas


eficientes de controle social, sem as quais toma-se impossível ordenar o
crescimento das cidades e das populações.

 Convocada a participar dessa empresa de reordenamento do espaço urbano, a


medicina termina por desenhar o projeto do qual emerge a psiquiatria brasileira.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 Em 1830, uma comissão da Sociedade de Medicina do Rio de
Janeiro realiza um diagnóstico da situação dos loucos na
cidade.

 É a partir desse momento que os loucos passam a ser


considerados doentes mentais, merecedores, portanto, de um
espaço social próprio, para sua reclusão e tratamento. Antes,
eram encontrados em todas as partes: ora nas ruas, entregues à
sorte, ora nas prisões e casas de correção, ora em asilos de
mendigos, ora ainda nos porões das Santas Casas de
Misericórdia.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 Quem são estes loucos?

Os miseráveis, os marginais, os pobres e toda a sorte de párias...

São ainda trabalhadores, camponeses, desempregados, índios, negros,


"degenerados“...

Perigosos em geral para a ordem pública, retirantes que, de alguma forma ou


por algum motivo, padecem de algo que se convenciona englobar sobre o título
de doença mental.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


História da Psiquiatria = História do
Asilamento
 No Hospício de Pedro II, inaugurado no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha, em 1852, os poucos
pensionistas particulares têm boas instalações, inclusive um quarto mobiliado, com conforto,
além de um criado à sua inteira disposição. Mas o quadro geral é bem diferente!

Hospício de Pedro II
Fonte: http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/323-
hospicio-de-pedro-segundo

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Colônia Juliano Moreira (CJM)

A crítica ao hospício e a criação das


colônias.
A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Da criação do Hospício de Pedro II até a Proclamação da República,
os médicos não poupam críticas ao hospício, excluídos que estavam
de sua direção e inconformados com a ausência de um projeto
assistencial científico.

 Reivindicam o poder institucional que se encontra nas mãos da


Provedoria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, assim
como da Igreja.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Em sua grande maioria, os alienistas compartilham dos ideais
positivistas e republicanos, e aspiram o reconhecimento legal, por
parte do Estado, que legitime e autorize uma intervenção mais ativa
no campo da doença mental e assistência psiquiátrica.

 O hospício deve ser medicalizado, isto é, deve ter em sua direção o


poder médico, para poder contar com uma organização embasada
por princípios técnicos.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Isso se torna necessário para que se permita alcançar a
respeitabilidade pública, da qual a medicina mental carece devido ao
estado em que se desenvolve a psiquiatria no Hospício de Pedro II.
Mas também para que o hospício se torne um lugar de produção e
conhecimento.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Proclamada a República (1889), a psiquiatria busca modernizar-se.

Em segundo lugar, porque, sob a égide de


Em primeiro lugar porque o asilo, nos
uma nova ordem social que então se
moldes arcaicos do Pedro II, assemelha-se
constitui, a psiquiatria deve partir para
demais às instituições despóticas, filhas
atuar no espaço social, no espaço onde
autênticas do absolutismo político, o que
vivem as pessoas, onde se estruturam as
a faz destoar do ideário liberal veiculado
doenças mentais, e não se limitar apenas
nos meios republicanos.
ao espaço cercado pelos muros do asilo.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Efetivamente, com a chegada dos republicanos ao poder, em janeiro
de 1890 o Hospício de Pedro II é desvinculado da Santa Casa,
ficando subordinado à administração pública, e passando a
denominar-se Hospício Nacional de Alienados.

 Logo no mês seguinte é criada a Assistência Médico-Legal aos


Alienados, primeira instituição pública de saúde estabelecida pela
República.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 No âmbito da assistência são criadas as duas primeiras colônias de alienados, que
são também as primeiras da América Latina. Denominadas de Colônias de São
Bento e de Conde de Mesquita (destinam-se ao tratamento de alienados indigentes
do sexo masculino).

http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/modulosfotograficos.ht
ml

http://www.ccs.saude.gov.br/saudemental/mostrasvirtuais.php

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A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Logo após serão criadas as Colônias de Juqueri, em São Paulo, e a
de Vargem Alegre, no interior do Estado do Rio.

 Este conjunto de medidas caracterizam a primeira reforma


psiquiátrica no Brasil, que tem como escopo a implantação do
modelo de colônias na assistência aos doentes mentais.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 A idéia fundamental desse modelo de colônias é a de fazer a
comunidade e os loucos conviverem fraternalmente, em casa ou no
trabalho.

 O trabalho é, pois, um valor decisivo na formação social burguesa e,


como conseqüência, passa a merecer uma função nuclear na
terapêutica asilar.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 João Carlos Teixeira Brandão, que é o primeiro diretor tanto da
Assistência Médico-Legal aos Alienados quanto do Hospício
Nacional de Alienados, caracteriza sua gestão com a ampliação
dos asilos.

 Cria ainda a primeira cadeira de psiquiatria para estudantes de


medicina (que é também a primeira cadeira de clínica Fonte:
https://www.anm.org.br/joao-carlos-tei
'especializada), assim como a primeira escola de enfermagem, xeira-brandao/

sistematizando assim a formação de profissionais para a


especialidade.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Neste período, no Rio de Janeiro é criada a Colônia de Alienadas do
Engenho de Dentro ( 1911), para mulheres indigentes, e em 1920
são iniciadas as obras da Colônia de Alienados de Jacarepaguá (para
onde serão transferidos os internos de São Bento e Conde de
Mesquita, que devem ser extintas), e as obras do Manicômio
Judiciário.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de
Higiene Mental
De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 Ao retomar de viagem de estudos à Europa, Juliano Moreira é
designado em 1903 para a dirigir a Assistência Médico-Legal aos
Alienados.

 Com ele tem continuidade a criação de novos asilos, a reorganização


dos já existentes e a busca de legitimação jurídico-política da
psiquiatria nacional.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 Ao retomar de viagem de estudos à Europa, Juliano Moreira é
designado em 1903 para a dirigir a Assistência Médico-Legal aos
Alienados.

 Com ele tem continuidade a criação de novos asilos, a reorganização


dos já existentes e a busca de legitimação jurídico-política da
psiquiatria nacional.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMASJM) IMAS Juliano Moreira.
 Fonte: http://historiaeloucura.gov.br/index.php/instituto-municipal-de-assistencia-saude-juliano-
moreira-brasil-brasil-secretaria-municipal-de-saude-do-rio-de-janeiro.

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De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 Juliano Moreira ocupa esta direção por 27 anos, até 1930, quando é
destituído pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas. Por sua obra
prática e teórica passa a ser conhecido como o Mestre da Psiquiatria
brasileira.

 Moreira traz para o Brasil a escola psiquiátrica alemã, que toma o


lugar dominante até então ocupado pela escola francesa, vinda na
bagagem de Teixeira Brandão.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 A vinculação da psiquiatria brasileira à corrente alemã tem um
importante significado quanto à discussão etiológica das doenças
mentais.

 O biologicismo, tendência predominante da tradição alemã, passa a


explicar não só a origem das doenças mentais, mas também muitos
dos fatores e aspectos étnicos, éticos, políticos e ideológicos de
múltiplos eventos sociais.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 Em 1923, Gustavo Riedel funda a Liga Brasileira de Higiene
Mental, com a qual se cristaliza o movimento da higiene mental.

 A carta dos princípios da Liga constitui um programa de intervenção


no espaço social, com características marcadamente eugenistas,
xenofóbicas, antiliberais e racistas .

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 “[...] quem quer que acompanhe, de perto, o grande movimento da
hygiene mental no mundo, haverá de notar que os ingentes esforços
dos neuro-hygienistas se vão orientando não somente no sentido da
conservação da saúde psychica, mas também e sobretudo, no
sentido da extincção das eivas hereditarias, de modo que a
mentalidade das novas gerações possa, cada vez mais se aproximar
do padrão psychologico ideal “(CALDAS, 1932, p. 29 apud
MANSANERA, 2000. p. 122).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


De Juliano Moreira à Liga Brasileira de Higiene
Mental
 A psiquiatria não se limita a estabelecer modelos ideais de
comportamento individual, mas passa a pretender a recuperação de
"raças", apreender a constituição de coletividades sadias.

 Com o movimento da eugenia, o asilo passa a contar com uma nova


ideologia que o fortalece: a psiquiatria deve operar a reprodução ideal do
conjunto social que se aproxima de uma concepção modelar da natureza
humana.

 Um espaço eugênico, asséptico, de normalidade.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


http://www.ccs.saude.gov.br/memoria%20da%20loucura/mostra/tratamentos.html

A era dos choques e a psiquiatria


comunitária
A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Nos anos 30 a psiquiatria parece ter finalmente encontrado a tão


procurada cura para as doenças mentais.

 É grande o entusiasmo com a descoberta do choque insulínico, do


choque cardiazólico, da eletroconvulsoterapia e das lobotomias.

 Técnicas novas que vêem substituir ou a malarioterapia ou o


descabido empirismo.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Na década de 50 fortalece-se este processo de psiquiatrização, com o


aparecimento dos primeiros neurolépticos.

 Mais que as experiências das colônias, cumpre observar que o furor


farmacológico dos psiquiatras dá origem a uma postura no uso dos
medicamentos que, nem sempre, é "tecnicamente orientada", muitas
das vezes utilizados apenas em decorrência da pressão da
propaganda industrial.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 A partir do fim da Segunda Guerra Mundial surgem também


variadas experiências de reformas psiquiátricas, dentre as quais
destacam-se as de comunidades terapêuticas, de psicoterapia
institucional, de psiquiatria de setor, de psiquiatria preventiva e
comunitária, de anti psiquiatria, de psiquiatria democrática, para
ficar apenas nas mais importantes.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A era dos choques e a psiquiatria comunitária

 Uma característica comum a todas estas experiências no Brasil é a


sua marginalidade. São experiências locais, referidas a um ou outro
serviço, a um ou outro grupo. Tão à margem das propostas e dos
investimentos públicos efetivos, que suas memórias são de difícil,
senão impossível, resgate.

 Muito deste insucesso deve-se à forte oposição exercida pelo setor


privado que, em franca expansão, passa a controlar o aparelho de
Estado também no campo da saúde.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria
A privatização na psiquiatria

 Na década 'de 60, com a unificação dos institutos de aposentadoria e


pensões, é criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

 O Estado passa a comprar serviços psiquiátricos do setor privado e,


ao ser privatizada grande parte da economia, o Estado concilia no
setor saúde pressões sociais com o interesse de lucro por parte dos
empresários.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 A doença mental toma-se, definitivamente, um objeto de lucro, uma


mercadoria.

 Ocorre, assim, um enorme aumento do número de vagas e de


internações em hospitais psiquiátricos privados, principalmente nos
grandes centros urbanos.

 Chega-se ao ponto de a Previdência Social destinar 97% do total dos


recursos da saúde mental para as internações na rede hospitalar.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 As propostas mais inovadoras, ou pelo menos aquelas que buscam


uma alternativa não manicomial, mesmo partindo de organismos
oficiais, como é o caso dos planos de psiquiatria preventiva e
comunitária, e de comunidades terapêuticas, a exemplo do Plano
Integrado de Saúde Mental (PISAM), além de outras propostas de
atenção primária, encontram dificuldades sérias, seja por não
enfrentarem adequadamente a idéia da superação dos asilos, seja
pela barreira de resistências levantada pelos empresários e suas
representações no aparelho de Estado.

http://laps.ensp.fiocruz.br/linha-do-tempo
Prof.Me. Francisco Aires Neto
A privatização na psiquiatria

 Este modelo privatizante (em todo o setor saúde, e não apenas no


subsetor saúde mental) é de tal forma tão violento, concentrador,
fraudulento e ganancioso, que contribui com parcela signifícativa de
responsabilidade para a crise institucional e financeira da
Previdência Social que se deflagra no início dos anos 80.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A privatização na psiquiatria

 Assim, é implantado o processo de Co-Gestão entre os Ministérios da


Saúde e da Previdência Social, e é também criado o Conselho Consultivo
da Administração de Saúde Previdenciária (CONASP), este último
responsável pela elaboração de um plano de reorientação da assistência
psiquiátrica, que fica conhecido como o "plano do CONASP".

 No decorrer deste processo surgem as Ações Integradas de Saúde (AIS),


os Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde (SUDS) e o Sistema
Unificado de Saúde (SUS), cujos princípios mais importantes são
inscritos na Constituição de 1988, ainda em vigor.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Fonte: https://www.diariodoaco.com.br/noticia/0082216-associaaao-promove-evento-online-gratuito-sobre-saade-
mental

Os novos tempos da
desinstitucionalização.
Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Em 1987, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental


assume-se enquanto um movimento social, e não apenas de técnicos
e administradores, e lança o lema "Por uma Sociedade sem
Manicômios".

 O lema estratégico remete para a sociedade a discussão sobre a


loucura, a doença mental, a psiquiatria e seus manicômios. No
campo prático, passa-se a privilegiar a discussão e a adoção de
experiências de desinstitucionalização.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Neste contexto surge o projeto de lei 3657/89


(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=20004)* que, ao propor a extinção progressiva dos
hospitais psiquiátricos e sua substituição por outras modalidades e
práticas assistenciais, desencadeia um amplo debate nacional,
realmente inédito, quando jamais a psiquiatria esteve tão permanente e
conseqüentemente discutida por amplos setores sociais.

 * Transformado na Lei Ordinária 10216/2001(


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Os novos tempos da desinstitucionalização.

 Neste contexto surge o projeto de lei 3657/89


(https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=20004)* que, ao propor a extinção progressiva dos
hospitais psiquiátricos e sua substituição por outras modalidades e
práticas assistenciais, desencadeia um amplo debate nacional,
realmente inédito, quando jamais a psiquiatria esteve tão permanente e
conseqüentemente discutida por amplos setores sociais.

 * Transformado na Lei Ordinária 10216/2001(


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Fonte:
http://professoraedilzafontes.blogspot.com/2009/12/historia-do-hospital-psiquiatrico_16.html
. Acesso em 08 fev 21.

Prólogos da psiquiatria no Pará.


O HOSPITAL JULIANO MOREIRA
Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Inaugurado em 19 de julho de 1892, o Hospício de Alienados do Pará foi um dos mais


antigos do país e o primeiro a ser construído na Região Norte. Instalado à Avenida Tito
Franco (atual Av. Almirante Barroso), em Belém, este sob a administração da Santa Casa
de Misericórdia desde a sua fundação até 1903 (…) o hospício passou a ser uma
referência para os alienados paraenses, pois simbolizava o início da República e
representava 'um ponto luminoso da medicina no estado’”.
 (Fonte: https://fragmentosdebelem.tumblr.com/post/132298631748)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Em 1937 muda de nome, passando a ser chamado de Hospital


Psiquiátrico Juliano Moreira.

 Mais que uma troca de denominação, há uma tentativa de se


incorporar às inovações no tratamento psiquiátrico que começam a
ocorrer no País, muitas delas introduzidas por Juliano Moreira. 

 (fonte: https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-
235693-historia-do-tratamento-a-doentes-mentais-e-contada.html)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 A ideia embutida era que manicômios, hospitais e presídios


deveriam ser construídos distantes da área central para que se
retirassem os ‘elementos não condizentes com o espaço urbano,
pautado na higienização, organização e embelezamento’.

 (fonte: https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-
235693-historia-do-tratamento-a-doentes-mentais-e-contada.html)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 No início dos anos de 1960 existia cerca de mil pacientes no interior do


Hospital Juliano Moreira (HJM) no Pará, divididos por sexo e pela
contribuição financeira para essa instituição.

 A maioria era composta por “centenas de indigentes amontoados no


pavimento inferior”, mantidas pelas limitadas verbas do orçamento estadual
enquanto que no pavimento superior, separados e alocados em quartos ou
enfermarias encontravam-se os “pensionistas”, pacientes que colaboravam
com pagamentos regulares pelo seu tratamento, cujos valores eram
administrados pelas religiosas da congregação católica das Filhas de
Sant’Anna.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 “Como compensação às suas jornadas de trabalho, parte dos


recursos obtidos com o pagamento dos pensionistas eram
transferidos para a matriz da ordem, em Recife, numa operação
apoiada talvez em senso prático de justiça, mas sem amparo legal”
(COIMBRA, 25.06.2011, p.4. apud NASCIMENTO e CORREA,
2015).

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Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Ao retornar a direção do HJM em 1964, Dorvalino Braga, não operou


mudanças somente na retirada das grades dessa instituição e a
colocação dos Cobongós que servia de divisória e “não veda a luz do
sol e nem as brisas”.

 Ele determinou que a renda advinda dos pensionistas fosse


incorporada na sua integralidade ao poder público estadual e
convertidas ao HJM, provocando a revolta das freiras que “decidiram
abandonar abruptamente o Juliano Moreira, provocando ataques a
Dorvalino pelos jornais de Belém” (IDEM).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Ressaltamos que essa estratégia afirma a proposta de dotar o HJM


como um espaço sob controle da psiquiatria, tanto em sua gestão
técnica como administrativa.

 Iniciou-se “o trabalho de 12 anos sem remuneração de sua esposa, a


Sra. Maria Helena Salameh que desenvolvia técnicas de terapia
ocupacional”.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Vários aspectos eram ressaltados nesse quadro de mudanças


preconizadas pela direção do hospital. Um deles referia-se a
“recuperação da autoestima” com o incentivo de ações corriqueiras
na higiene das mulheres-internadas como “se banharem toda manhã,
oferecendo a elas água de colônia. Um salão de beleza, com
manicure, foi montado para atendê-las. Assim, sumiram seus
cabelos sujos e desgrenhados”. Essas mulheres ao participarem das
atividades de terapia ocupacional “mostravam asseio e estavam
cheirosas” (COIMBRA, DIÁRIO DO PARÁ, 25.06.2011, p. 4. apud
NASCIMENTO e CORREA, 2015).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Agora, as novas “ordens pedagógicas” podem ser visibilizadas como


as equipes multidisciplinares de profissionais com formação
acadêmica, que atuavam no sentido de transpor o modelo de
tratamento preconizado pelos métodos de isolamento, mesmo que
ainda utilizassem dispositivos dos sistemas disciplinares e seus
mecanismos de controle internos e externos.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Nessa ordenação institucionalizada de controle e exercício


do poder, os militares assumiram o governo no Pará em
meados de 1964, mas somente a partir do ano de 1965 o
HJM se tornou objeto de preocupação na Mensagem do
Governador Jarbas Passarinho à Assembleia Legislativa.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Nessa ordenação institucionalizada de controle e exercício do poder, os


militares assumiram o governo no Pará em meados de 1964, mas somente a
partir do ano de 1965 o HJM se tornou objeto de preocupação na Mensagem
do Governador Jarbas Passarinho à Assembleia Legislativa.

 As reformas que transformaram o hospício em um hospital, com aparência


de um hospital comum, sem muros altos e suas grades, demonstram.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Apesar da supressão das grades, fato bastante enaltecido pelo então diretor
Dorvalino Braga, ressaltamos a manutenção de um modelo
hospitalocêntrico, pois as medidas ainda procuravam dotar o HJM como um
“grande hospital”, espaço apropriado para garantir o acesso e a permanência
dos internos naquele local de tratamento.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 O médico-psiquiatra José Paulo que morou como residente no HJM por


cinco anos em entrevista ao jornal O Estado do Pará de 19.12.1978 foi uma
das vozes que ressaltava a tentativa de humanização desse espaço
institucional nas ações do médico e diretor Dorvalino Braga, porém,
afirmava que o trabalho desenvolvido no hospital era de “assistência
psiquiátrica tipo asilar. Um trabalho na base do uso de medicamentos onde
há uma comunicação precária entre o doente e a equipe médica”.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 O médico não procura saber como eu estou. Ele não procura saber o fato, as
causas. Ele, também, está pouco se interessando com o que pode vir a
acontecer. Acredito que, quando a gente chega com um médico e ele não dá
oportunidade para a gente se abrir e no fim passa um remédio que é perigoso,
ele não está importando com coisa nenhuma. Então a partir disso que tomei a
decisão de não fazer consulta e não tomar mais remédio nenhum. Eu
precisava salvar a minha vida (O ESTADO DO PARÁ, 19.12.1978, p.9. apud
NASCIMENTO e CORREA, 2015).

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Neste período foram criados:

 Hospital Aluyzio da Fonseca no ano de 1969, como anexo do HJM


 Centro Integrado de Assistência do Pará (CIASPA).
 Centro Psiquiátrico do Pará.

Prof.Me. Francisco Aires Neto


Prólogos da psiquiatria no Pará.

 Centro Psiquiátrico do Pará.

 Foto: (Nascimento, 2015, p.79)

Prof.Me. Francisco Aires Neto


A crítica ao hospício e a criação das
colônias.
 https://www.youtube.com/watch?v=71LaYxtaGdI (História, loucura
e memória: o acervo do hospital psiquiátrico Juliano Moreira)

Prof.Me. Francisco Aires Neto

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