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Curso Técnico em Enfermagem

APOSTILA DO
CURSO
TÉCNICO EM
ENFERMAGEM

MÓDULO I

1
Curso Técnico em Enfermagem

DISCIPLINA:
SAÚDE MENTAL

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Curso Técnico em Enfermagem

SUMÁRIO
CONCEITOS BÁSICOS ..............................................................................................4
BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL ................................................................4
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE MENTAL .........................................................4
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO ....................................................................................... 7
REFORMA PSIQUIÁTRICA/SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS ...................................... 7
LEGISLAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL.......................................................8
AS LEIS FEDERAIS.................................................................................................... 9
AS LEIS E DECRETOS ESTADUAIS .........................................................................10
MENÇÕES AOS PORTADORES DE SOFRIMENTO MENTAL NOS CÓDIGOS PENAL
E CIVIL BRASILEIRO .................................................................................................11
RESOLUÇÕES ESTADUAIS E PORTARIAS MINISTERIAIS.....................................12
SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS CRIADOS APÓS REFORMA PSIQUIÁTRICA ...........13
FATORES DESENCADEANTES DE UMA DOENÇA MENTAL .................................14
CRISE .........................................................................................................................14
ETAPAS DA PERSONALIDADE - Por Sigmund Freud ..............................................15
DISTÚRBIOS PSIQUIÁTRICOS..................................................................................16
TRANSTORNOS MENTAIS........................................................................................20
ESTRUTURAS PSICANALÍTICAS - Por Sigmund Freud............................................25
TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS......................................................28
ADMISSÃO, ANOTAÇÃO DE ENFERMAGEM E ALTA DO PACIENTE.....................30
MORTE E LUTO .........................................................................................................31

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CONCEITOS BÁSICOS:

Saúde: Capacidade física, emocional, mental e social que o indivíduo tem de


interagir em completa harmonia com seu ambiente.
Doença: Estado de alteração da saúde física ou mental, sob efeito de agentes
perniciosos originados dentro ou fora do organismo.
Mente: Termo que designa em psicologia a totalidade dos processos
psicológicos conscientes, pelos quais um organismo reage a diferentes tipos de
estímulos.
Doença mental: É a incapacidade para um alto conhecimento realista, seguir a
sua própria consciência, satisfazer suas necessidades sem prejudicar os demais e
tolerar as tensões e frustrações.

BREVE HISTÓRICO DA SAÚDE MENTAL

A História da loucura é marcada por significações diversas que caracterizam


através dos tempos: força sobrenatural, manifestação dos deuses, magia, doença.
Desde os tempos bíblicos, encontramos citações sobre loucura.
Durante a antiguidade e a idade média, a loucura trouxe um conteúdo mágico.
Uma força divina e sagrada e foi entendida como a encarnação de manifestações
divinas e demoníacas.
A loucura que, até então, era entendida e suportada pelos homens como
dotada de razão e verdade, adquiriu um novo significado na era clássica.
Foi inserida nas nosologias do século XVIII como todas as outras doenças,
perdendo o seu caráter mágico e sagrado, passando a pertencer ao mundo dos homens,
podendo ser capturada e tratada dentro das instituições psiquiátricas que surgiram
nessa época.
Portanto, o conceito de doença mental surgiu há dois séculos e trouxe consigo
a marca da exclusão e da segregação dos loucos dentro das instituições psiquiátricas.
A palavra doença vem do latim e significa “desvio”. Desvio da saúde, desvio de um
padrão de bem estar, de normalidade.
Segundo LALANDA (1995), “a doença mental é uma doença da relação, ou seja,
afeta essencialmente os padrões sociais da comunicação e do relacionamento social”.
As funções mentais são responsáveis pela organização do sujeito em relação à
pessoa e ao mundo exterior. Não devemos reduzir o paciente a uma mera somatória
das funções mentais, mas considerá-lo como um todo biológico, psicológico e social.
A saúde mental se justifica, assim, por ser uma área de conhecimento que mais
do que diagnosticar e tratar liga-se à prevenção e promoção de saúde, preocupando-se
em reabilitar e reincluir o paciente no contexto social.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA SAÚDE MENTAL

PRÉ-HISTÓRIA: as pessoas eram tratadas de acordo com os ritos tribais. Se


essas medidas falhavam, provavelmente o indivíduo era abandonado para morrer de
inanição.

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ERA GREGA: os templos foram construídos para abrigar pessoas com doenças
mentais. As pessoas eram tratadas com grande delicadeza, mas, em outras ocasiões o
tratamento era severo.
IDADE MÉDIA: eram aplicados tratamento desumanos e brutais para afastar o
espírito maligno e usavam a técnica do exorcismo.
SÉCULO XVI: as pessoas eram trancadas em celas e asilos para loucos. Os
guardas recebiam permissão para mostrar os pacientes mais perturbados ao público.
Os curiosos pagavam para ver a representação.
SÉCULO XVII: a doença mental era atribuída a uma batalha entre Deus e Satã
pela posse da alma humana. A sociedade se preocupava com a própria segurança e
não com o bem estar dos doentes. Os processos terapêuticos eram camisa de força e
chicote.
SÉCULO XVIII: em 1792, Phillipe Pinel recebeu permissão para liberar os
prisioneiros de dois dos maiores hospitais, alguns dos quais viviam acorrentados há
mais de 20 anos. Ele provou que estava errado o tratamento que vinha sendo aplicados
aos doentes. Esquirol, aluno de Pinel, deu continuidade ao seu tratamento humano,
fundando 20 asilos e foi o primeiro professor regular de psiquiatria. Acreditava que as
fases da lua influenciavam o comportamento.
SÉCULO XIX: em 1873, foi fundado o primeiro hospital psiquiátrico público na
América. Os doentes eram colocados junto com os criminosos. Dorotheia Dix,
professora americana, levantou fundos para a construção de hospitais apropriados para
os doentes em várias partes dos Estados Unidos, estes hospitais ofereciam ambientes
seguros e caseiros. Muitos se sentiam mais confortáveis ali do que em suas próprias
casas. Surgiu, então, a Síndrome de institucionalização. Os doentes adaptavam-se ao
meio e aos seus papéis dentro do hospital a ponto de não aceitar e resistir à alta. Tornou-
se o tratamento ineficiente, caro e desumano.
SÉCULO XX: em 1908, foi colocada ênfase sobre a prevenção e a intervenção
precoce na doença mental. Em 1939, as teorias de Freud chamavam a atenção de todos
para o tema do comportamento humano. Em 1946 foi aprovada a Lei Nacional para a
Saúde Mental. Essa lei surgiu das experiências sofridas pela Nação durante a Segunda
Guerra Mundial, quando muitos homens das forças armadas tornavam-se incapacitados
por doenças mentais, exigindo, assim, para cuidar desses veteranos um pessoal bem
treinado e mais preparado, com os seguintes requisitos:
1- maior conhecimento sobre a causa e a prevenção da doença mental,
2- melhorar as técnicas de tratamento,
3- fazer o diagnóstico familiar,
4- elaborar programas de tratamento a curto e longo prazo,
5- terapia orientada de acordo com o transtorno do paciente.
Até a metade do século XIX os doentes mentais não se beneficiavam da
assistência médica.
1852 (RJ): Criado o primeiro hospício do Brasil – Hospício Pedro II, sob o
comando de religiosos. Atendia a todo o país, com instalações precárias, superlotação,
deficiência de pessoal.
1900 (MG): Estado define normas para a assistência aos doentes mentais – Lei
290. Abertura do hospital psiquiátrico em Barbacena que ocupava as antigas

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dependências do sanatório de tuberculose. No início só atendia a pacientes do sexo


masculino.
1904: Abertura de novos leitos para sexo feminino.
1911: O poder público, questionando as despesas elevadas com a manutenção
desse hospício e alegando difícil situação financeira, transformou o hospício de
Barbacena em hospital colônia. O doente passou a contribuir para o custeio do hospício
com o seu trabalho, que representava um valor aproximado de um terço do orçamento
alocado. Os pacientes trabalhavam na agricultura, produzindo os alimentos que seriam
consumidos no hospital. Os hospícios públicos e privados crescem e multiplicam-se por
toda parte.
O atendimento é precário, o número de profissionais insuficiente, a superlotação
é uma constante e as más condições de vida fazem parte do cotidiano desses serviços.
Pacientes sobrevivem em espaços superlotados, carentes de qualquer dignidade
própria do ser humano.
1960: A Psiquiatria Pública entra em crise e os hospitais particulares aumentam
a fim de gerar lucro e sem foco na assistência ao paciente.
1962: Surgem, no Brasil, as primeiras denúncias e a sociedade se colocam a
par da situação dos hospícios, da situação imposta ao doente mental, dos maus tratos
e das condições subumanas a que este é submetido.
1979: Ocorre o Movimento que da origem a uma Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Neste ano o psiquiatra italiano Franco Basaglia realizou, em Belo Horizonte, Rio de
Janeiro e São Paulo, uma série de seminários e discussões. O trabalho de Basaglia e
de sua equipe, influenciou fortemente os rumos da psiquiatria na história do país. Da
proposta inicial, que pretendia apenas a humanização da assistência, avançou-se para
propostas mais ousadas, que visavam o resgate da cidadania do louco através da
desospitalização , à criação de novas alternativas de tratamento (hospital-dia, centros
de convivências, oficinas, ambulatório) e à não-construção de novos hospitais
psiquiátricos.
1987: Surge em São Paulo o primeiro CAPS (Centros de Atenção Psicossocial),
e representa efetiva implementação de um novo modelo de atenção em saúde mental
atendidos na rede pública. Estes Centros de Atenção, ao contrário dos hospitais
psiquiátricos , permitem que os usuários permaneçam juntos a suas famílias e
comunidades.
2001: Surge a primeira lei que conferem direitos e resguarda os doentes mentais.
A lei propõe a extinção progressiva dos manicômios e sua substituição por instituições
abertas, tais como, unidades de saúde mental, emergência psiquiátrica em pronto
socorro geral, unidade de atenção intensiva em saúde mental em regime de hospital-
dia, centros de atenção psicossocial, serviços que funcionem 24 horas, pensões
protegidas, lares abrigados, centro de convivência, cooperativas de trabalho e outros
serviços que preservem a integridade do cidadão.
A lei também prevê que o usuário tem direito de receber o maior número de
informações a respeito de sua doença e de seu tratamento.
Observa-se nesta lei que a família, o trabalho e a comunidade recebem lugar de
destaque, contribuindo para a inserção deste indivíduo no cenário social.
Outro aspecto importante é que a lei inibe a construção de novos

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hospitais psiquiátricos e a contratação ou financiamento de novos leitos nesta área pelo


poder público. Com relação ao processo de internação, está previsto que só poderá se
dar quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes. Desta forma a lei
prevê três tipos de internação:
Voluntária – aquela consentida pelo usuário;
Involuntária – aquela a pedido de terceiro, sem consentimento do usuário;
Compulsória – aquela determinada pela Justiça;

HOSPITAL PSIQUIÁTRICO

A análise do hospital psiquiátrico do ponto de vista sanitário revela a


organização centralizada “cidade dos loucos”, como produto da loucura administrativa,
executiva e organizacional. Os hospitais psiquiátricos como locais de tratamento à
doença mental estavam ligados à conduta social de cada época. Entre 1948 ao início
do século XX o uso de eletrochoque, lobectomia, camisas de força, eram condutas
amplamente utilizadas para controlar os pacientes vítimas de doença mental.
A institucionalização, a exclusão do convívio social, também passa a ser
entendida como uma prática nos hospitais psiquiátricos que, por si só, não significa o
tratamento mais adequado para aqueles que entendemos como doentes mentais.
A institucionalização trouxe inúmeras consequências para o portador de
transtorno mental como, por exemplo, o isolamento do convívio familiar; perda da
identidade e da liberdade.
Baseado em mudanças criadas requer melhoria do ambiente hospitalar onde o
doente mental seja visto como um cidadão com sua integridade. Deve ser composto por
uma equipe multidisciplinar, onde o doente seja tratado em um ambiente terapêutico
digno, sem discriminação, empenhada em tentar inserir o indivíduo novamente na
sociedade.
Emergência Psiquiátrica
Tem o objetivo de atender pacientes com quadro agudo grave, evitando a
internação psiquiátrica. Para tal, possui leitos de observação para o tratamento
intensivo, com permanência por período limitado (72 horas).
Unidade de Internação
É utilizada quando a gravidade do quadro do paciente é incompatível com outras
formas de atenção, objetivando protegê-lo dando-lhe o necessário suporte terapêutico.

REFORMA PSIQUIÁTRICA/SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS

Em plena crise do modelo de assistência à saúde mental prestada pelos


hospitais psiquiátricos e de acordo com o movimento sanitário, que dispunha a favor de
mudanças dos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde pública, em 1970
tem início o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil.
Historicamente é a partir desta década que se intensificam as críticas
relacionadas à pouca eficiência das políticas públicas de saúde, bem como as
denúncias de fraude em seu sistema financeiro.
Neste contexto tornam-se públicos os relatos de maus tratos aos doentes

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mentais como torturas, abandono, violência. Não se criticavam os pressupostos do asilo


e da psiquiatria, mas seus excessos ou desvios

Está sendo considerada reforma psiquiátrica o processo histórico de formulação


crítica e prática que tem como objetivos e estratégias o questionamento e a elaboração
de propostas de transformação do modelo clássico e do paradigma da psiquiatria. No
Brasil, a reforma psiquiátrica é um processo que surge mais concreta e principalmente
a partir da conjuntura da redemocratização, em fins da década de 1970, fundado não
apenas na crítica conjuntural ao subsistema nacional de saúde mental, mas também, e
principalmente, na crítica estrutural ao saber e às instituições psiquiátricas clássicas, no
bojo de toda a movimentação políticosocial que caracteriza esta mesma conjuntura de
redemocratização. (Amarante, 1995, p. 91).

A partir da década de 80 foram orientadas para a reformulação das práticas de


intervenção psiquiátrica, a desospitalização, a desinstitucionalização e da criação de
serviços substitutivos a internação manicomial.

LEGISLAÇÃO EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL

● Declaração de Caracas:
Documento que marca as reformas na atenção à saúde mental nas Américas.
As organizações, associações, autoridades de saúde, profissionais de saúde mental,
legisladores e juristas reunidos na Conferência Regional para a Reestruturação da
Assistência Psiquiátrica dentro dos Sistemas Locais de Saúde:
Que a assistência psiquiátrica convencional não permite alcançar objetivos
compatíveis com um atendimento comunitário, descentralizado, participativo, integral,
contínuo e preventivo;
Que o hospital psiquiátrico, como única modalidade assistencial, impede
alcançar os objetivos já mencionados ao:
a) isolar o doente do seu meio, gerando, dessa forma, maior incapacidade social;
b) criar condições desfavoráveis que põem em perigo os direitos humanos e civis
do enfermo;
c) requerer a maior parte dos recursos humanos e financeiros destinados pelos
países aos serviços de saúde mental; e
d) fornecer ensino insuficientemente vinculado com as necessidades de saúde
mental das populações, dos serviços de saúde e outros setores.
Que o Atendimento Primário de Saúde é a estratégia adotada pela Organização
Mundial de Saúde e pela Organização Panamericana de Saúde e referendada pelos
países membros para alcançar a meta de Saúde Para Todos, no ano 2000;
Que os Sistemas Locais de Saúde (SILOS) foram estabelecidos pelos países da
região para facilitar o alcance dessa meta, pois oferecem melhores condições para
desenvolver programas baseados nas necessidades da população de forma
descentralizada, participativa e preventiva;

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Que os programas de Saúde Mental e Psiquiatria devem adaptar-se aos


princípios e orientações que fundamentam essas estratégias e os modelos de
organização da assistência à saúde.

DECLARAM
1. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica ligada ao Atendimento
Primário da Saúde, no quadro dos Sistemas Locais de Saúde, permite a promoção de
modelos alternativos, centrados na comunidade e dentro de suas redes sociais;
2. Que a reestruturação da assistência psiquiátrica na região implica em revisão
crítica do papel hegemônico e centralizador do hospital psiquiátrico na prestação de
serviços;
3. Que os recursos, cuidados e tratamentos dados devem:
a) salvaguardar, invariavelmente, a dignidade pessoal e os direitos humanos e
civis;
b) estar baseados em critérios racionais e tecnicamente adequados;
c) propiciar a permanência do enfermo em seu meio comunitário;
4. Que as legislações dos países devem ajustar-se de modo que:
a) assegurem o respeito aos direitos humanos e civis dos doentes mentais;
b) promovam a organização de serviços comunitários de saúde mental que
garantam seu cumprimento;
5. Que a capacitação dos recursos humanos em Saúde Mental e Psiquiatria deve
fazer-se apontando para um modelo, cujo eixo passa pelo serviço de saúde comunitária
e propicia a internação psiquiátrica nos hospitais gerais, de acordo com os princípios
que regem e fundamentam essa reestruturação;
6. Que as organizações, associações e demais participantes desta Conferência
se comprometam solidariamente a advogar e desenvolver, em seus países, programas
que promovam a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica e a vigilância e defesa dos
direitos humanos dos doentes mentais, de acordo com as legislações nacionais e
respectivos compromissos internacionais.

SOLICITAM
Aos Ministérios da Saúde e da Justiça, aos Parlamentos, aos Sistemas de
Seguridade Social e outros prestadores de serviços, organizações profissionais,
associações de usuários, universidades e outros centros de capacitação e aos meios
de comunicação que apóiem a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica,
assegurando, assim, o êxito no seu desenvolvimento para o benefício das populações
da região.

AS LEIS FEDERAIS

As novas legislações em Saúde Mental aqui referidas encontram sustentação na


Constituição Federal de 1988, que elenca em seu Título II, Capítulo I, o rol dos direitos
e garantias fundamentais de todos os residentes no país, conforme dispõe o art. 5º caput
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

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brasileiros, e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à


liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)”
No que diz respeito à Saúde, o direito do cidadão é garantido pelo poder público
nas esferas federal, estadual e municipal por meio de políticas voltadas para diminuir o
risco de doenças e que possibilitem a implementação de ações e serviços de promoção,
de proteção e de recuperação da saúde, constituindo o Sistema Único de Saúde, criado
pela Constituição Federal em vigor. O Sistema Único de Saúde foi regulamentado pela
lei nº 8.080, conhecida como Lei Orgânica da Saúde, e pela Lei 8.142/90, que trata da
participação da comunidade na gestão do SUS e das transferências
intergovernamentais de recursos financeiros. O SUS possui, ainda, normas e
regulamentos que disciplinam as políticas de ações em cada esfera governamental.
A legislação sanitária brasileira é reconhecida internacionalmente como uma das
mais avançadas neste campo.
Na área específica da Saúde Mental, a Lei Federal nº 10.216 de 06/04/01
(também conhecida como Lei Paulo Delgado, ou Lei da Reforma Psiquiátrica), após
doze anos de tramitação no Congresso Nacional, foi enfim aprovada. Garante a
proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, sem qualquer
discriminação; preconiza cuidado especial com a clientela internada por longos anos;
prevê a possibilidade de punição para a internação involuntária arbitrária e/ou
desnecessária; e redireciona o modelo assistencial para serviços abertos e inseridos na
comunidade, que substituirão gradativamente o tratamento em regime fechado. Tem
como base o projeto do deputado mineiro Paulo Delgado, elaborado a partir de
discussão do movimento da luta antimanicomial, aprovado com algumas modificações.
Constitui um dos atuais respaldos legais da Reforma Psiquiátrica.
A Lei nº 10.708 de 31/7/2003, aprovada em curto prazo pelo Congresso
Nacional, instituiu o Programa De Volta para Casa. Esta nova lei possibilita a alta e a
reinserção social de pessoas internadas há mais de dois anos em hospitais
psiquiátricos. Recebendo uma bolsa-auxílio reabilitação, estas pessoas podem retornar
para o próprio lar, ou para lares substitutos, ou para moradias protegidas. A cada alta
hospitalar, sucede-se o fechamento do respectivo leito. As diretrizes desta nova lei
foram, na verdade, gestadas desde 1993: um Grupo de Trabalho, convocado pelo
Ministério da Saúde, produziu a proposta do Programa de Apoio à Desospitalização
(PAD), cuja diretriz básica de redirecionar os recursos gastos com a internação para
viabilizar a reinserção social é retomada na lei 10.708.

AS LEIS E DECRETOS ESTADUAIS

A legislação estadual mineira – Lei nº 11.802 de 18/01/95 (Lei Carlão),


modificada pela Lei nº 12.684 de 01/12/97, ambas regulamentadas pelo Decreto nº
42.910, de 26/09/02 – dispõe sobre a promoção da saúde e da reintegração social do
portador de sofrimento mental: determina as ações e serviços de Saúde Mental
substitutivos aos hospitais psiquiátricos e a extinção progressiva dos mesmos;
regulamenta as internações, especialmente a involuntária; dá ainda outras providências.
Esta nova legislação, formulada através de ampla discussão social, constitui um
marco relevante para o avanço da Reforma Psiquiátrica em Minas Gerais.

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Outras leis estaduais:


Vários outros Estados brasileiros também possuem leis de Reforma Psiquiátrica,
a saber: Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Rio Grande do Sul.

MENÇÕES AOS PORTADORES DE SOFRIMENTO MENTAL NOS CÓDIGOS


PENAL E CIVIL BRASILEIRO

● Código penal
O Código Penal Brasileiro, modificado pela lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984,
contém nos artigos 26,27 e 28; art.83 e artigos 96, 97,98 e 99 disposições a respeito
dos atos infracionais praticados por pessoas portadoras de transtornos mentais.
Vejamos alguns pontos essenciais. Um deles é a isenção de pena para a pessoa
que, “por doença mental, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz
de entender o caráter ilícito do fato”: esta pessoa é considerada inimputável. Caso seja
ao menos parcialmente capaz deste entendimento, não há isenção de pena, mas
possibilidade da sua redução.
O outro ponto se refere às medidas de segurança: para os portadores de
sofrimento mental inimputáveis, a pena é substituída pelas medidas de segurança, que
consistem na internação em hospitais de custódia e de tratamento psiquiátrico (ou
manicômios judiciários) ou, à falta destes, em outro estabelecimento adequado; ou
ainda, conforme o caso, em tratamento ambulatorial. Estes tratamentos são
obrigatórios, por tempo indeterminado, e perduram até que, mediante perícia médica,
seja afirmada a cessação de periculosidade.

● Código civil
No antigo Código Civil, de 1916, eram definidos como “absolutamente incapazes
de exercer pessoalmente os atos da vida civil”, dentre outros, os ”loucos de todo gênero”
(expressão utilizada literalmente no Código). Havia, pois, uma vinculação pré-
estabelecida entre formas graves de sofrimento mental e incapacidade: todo “louco” era,
em princípio, considerado civilmente incapaz.
No novo código, de 2002, houve um avanço importante. O texto citado
anteriormente foi modificado, tendo agora a seguinte redação, no artigo 3º: “São
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a
prática destes atos”. Como se vê, houve um avanço significativo. A equivalência
estabelecida no código anterior não está mais presente, ou seja, o portador de
transtornos mentais não é automaticamente considerado incapaz. Só o será se o seu
transtorno mental interferir diretamente no seu discernimento ou na manifestação da
sua vontade.
Ainda, na categoria de incapacidade relativa, o Código antigo situava apenas os
pródigos. O novo código considera relativamente incapazes, relativamente a certos atos
ou à maneira de exercê-los, além dos pródigos, também os ébrios habituais, os viciados
em tóxicos, e o deficiente mental, os excepcionais sem o desenvolvimento mental
completo – desde que tenham discernimento reduzido.

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Quando o portador de sofrimento mental é considerado civilmente incapaz, de


acordo com estes critérios, sua interdição, relativa ou absoluta, é promovida mediante
solicitação de familiares ou do Ministério Público, ou seja, solicita-se que a pessoa,
considerada louca, seja impedida de exercer os atos da vida civil. Caso aceite o pedido
de interdição, o juiz nomeia um curador, ou seja, uma outra pessoa, preferencialmente
o familiar mais próximo, que deve passar a cuidar dos interesses da pessoa curatelada.
Na prática, a interdição e a curatela muitas vezes são solicitadas e concedidas
indevidamente, incapacitando e limitando as possibilidades de decisão e escolha de
portadores de sofrimento mental que se encontram em plenas condições de exercê-las.
Além do mais, certos auxílios-doença, como o Benefício de Prestação
Continuada da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), são, lamentavelmente,
atrelados à interdição prévia do paciente, identificando de forma equivocada a
incapacidade civil, e, portanto, a necessidade de interdição e curatela, com a
incapacidade laborativa. Este grave equívoco encontra respaldo legal através de
decretos-leis que modificaram o primeiro parágrafo do artigo 162 da Lei 8.213/91, da
seguinte forma: “É obrigatória a apresentação do termo de curatela, ainda que
provisória, para a concessão da aposentadoria por invalidez decorrente de doença
mental”.

RESOLUÇÕES ESTADUAIS E PORTARIAS MINISTERIAIS

● Resoluções estaduais
Destacamos as seguintes: a Resolução nº 068/2001 que aprova a
desospitalização progressiva em Saúde Mental no Estado de Minas Gerais, por meio
da implantação de serviço residencial terapêutico em Saúde Mental; e a Resolução nº
088/2004, que trata da regulação das internações psiquiátricas no Sistema Único de
Saúde do Estado de Minas Gerais.
● Portarias ministeriais
Existem várias Portarias Ministeriais, que são normas legais reguladoras da rede
de atenção à Saúde Mental, emitidas pelo Poder Executivo. Dentre elas, destacamos:
A Portaria nº 336, resultado de um longo e coletivo processo de revisão da
histórica portaria nº 224, que estabeleceu a tipologia dos CAPS, distinguindo os CAPS
pelo porte (I, II, III) e pela finalidade (atendimento a transtornos mentais graves e
persistentes em clientela adulta, infanto-juvenil e usuários de álcool e outras drogas).
Nesta portaria, importa ressaltar também a criação das modalidades de cuidado
“intensivo”, “semi-intensivo” e “não-intensivo”, introduzindo uma dimensão clínica ainda
não abordada em ato normativo.
A Portaria nº 251 de 31/02/02 estabelece diretrizes e normas para a assistência
hospitalar em psiquiatria, reclassifica os hospitais psiquiátricos, define e estrutura a
porta de entrada para as internações psiquiátricas na rede do SUS.
O Ministério da Saúde edita periodicamente edições referentes a Legislação em
Saúde Mental. A última edição reúne o conjunto de atos legais que norteiam esse
processo, do período de 1990 a 2004.

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SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS CRIADOS APÓS REFORMA PSIQUIÁTRICA

Após a Reforma Psiquiátrica, o olhar a respeito da loucura foi modificado,


fazendo surgir os Serviços Substitutivos em Saúde Mental. Esses serviços orientam o
sujeito para a sua própria autonomia. São eles:
NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial): São unidades Regionalizadas,
abertas e oferecem cuidados 24 horas, todos os dias da semana. Inclusive, há alguns
leitos para atendimentos do tipo internação.
(CAPS) Centro de Atenção Psicossocial: O objetivo dos CAPS é oferecer
atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento
clínico e a reinserção social dos usuários pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos
direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. O Serviço conta com
profissionais da área de Psicologia, Psiquiatria, Serviço Social, Enfermagem, Nutrição,
Terapeuta Ocupacional e Educador Físico. Deve trabalhar com a idéia de
gerenciamento de casos, personalizando o projeto de cada paciente na unidade e fora
dela e desenvolver atividades para a permanência diária no serviço.

Tipos de CAPS:
● CAPS I e CAPS II: São CAPS para atendimento diário de adultos, em
sua população de abrangência, com transtornos mentais severos e persistentes. O
CAPS I atende municípios com população entre 20.000 e 70.000 habitantes. Funciona
das 8 às 18 horas de segunda a sexta-feira. Já o CAPS II atende municípios com
população entre 70.000 e 200.000 habitantes. Funciona das 8 às 18 horas de segunda
a sexta-feira, pode ter um terceiro período, funcionando até 21 horas.
● CAPS III: São CAPS para atendimento diário e noturno de adultos,
durante sete dias da semana, atendendo à população de referência com transtornos
mentais severos e persistentes. Atende municípios com população acima de 200.000
habitantes. Funcionam 24 horas, diariamente, também nos feriados e fins de semana.
● CAPSi: CAPS para infância e adolescência, para atendimento diário a
crianças e adolescentes com transtornos mentais. Funciona das 8 às 18 horas de
segunda a sexta-feira, pode ter um terceiro período, funcionando até 21 horas. Atende
municípios com população acima de 200.000 habitantes.
● CAPSad: CAPS para usuários de álcool e drogas, para atendimento
diário à população com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias
psicoativas, como álcool e outras drogas. Esse tipo de CAPS possui leitos de repouso
com a finalidade exclusiva de tratamento de desintoxicação. Funciona das 8 às 18 horas
de segunda a sexta-feira, pode ter um terceiro período, funcionando até 21 horas.
Atende municípios com população acima de 100.000 habitantes.
Residências Terapêuticas
São residências destinadas a pessoas que possuam algum tipo sofrimento
psíquico grave e que por muitos anos ficaram em Hospitais Psiquiátricos. Essa foi uma
alternativa encontrada para reinserir essas pessoas na sociedade.
Em geral, os moradores das chamadas residências terapêuticas não possuem
nenhum tipo de apoio e nem contato com a família.
Visitas Domiciliares: Visita que tem o intuito de acompanhar os usuários de

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Saúde Mental para que não voltem à internação. Esse serviço também demonstra para
a família que ela é capaz de cuidar do membro que possui Sofrimento Psíquico Grave.

FATORES DESENCADEANTES DE UMA DOENÇA MENTAL

Fatores físicos: São os estímulos, como: insolação, frio, sede, fome, que podem
alterar o psiquismo pela alteração do sistema nervoso.
Fatores biológicos: São originados por perturbações orgânicas como: tumores,
infecções e malformações que podem afetar o cérebro.
Fatores psicológicos econômicos e sociais: São os fatores de ordem afetiva
que influenciam a formação da personalidade e são sementes de futuros
desajustamentos, choques afetivos (catástrofe e guerra); choques individuais
(decepção financeira, sentimental).
Fatores sociais: São as organizações e fatos da vida social que podem causar
alterações do psiquismo, como por exemplo, guerra, migrações e uso de drogas.
Outros fatores, como:
Gestação: Ocorrem grande número de retardos mentais nesta fase decorrente
de fadiga, traumas, infecções, hereditariedade.
Parto: Acidentes no parto podem lesar o cérebro de modo definitivo (fórceps e
circular de cordão).
Hereditariedade: Fator importante que intervém antes do parto os pais
transmitem a criança características de modo que chega ao mundo com bagagem de
disposição que chamamos de “terreno” (constituição e temperamento).

CRISE

É a perda do domínio de uma situação, é um desequilíbrio emocional que pode


ser momentâneo ou não. Existem dois tipos de crise:
1. Crise de crescimento ou crise evolutiva, que são crises previsíveis que
ocorrem na vida desde o nascimento até a morte. Ingresso na escola pela primeira vez,
a adolescência, o casamento, o primeiro filho, a menopausa, outros,
2. Crises acidental ou crise traumática, que são crises imprevisíveis no
decorrer da vida. Doença grave, morte familiar, separação do casal, perda do emprego,
falência, outros.
As reações diante da crise são influenciadas por hábitos, costumes, normas,
família, regras e leis da sociedade.
A Reação positiva diante da crise significa vivê-la intensamente, superando-a e
ao mesmo tempo tirando uma lição de vida. Aprendendo com o sofrimento os nossos
limites e as nossas potencialidades. A reação positiva leva ao crescimento pessoal,
fortalecimento emocional e amadurecimento.
Já a Reação negativa diante da crise consiste em fugir, criar uma ideia ilusória
da situação. A reação negativa pode levar a uma doença mental. Cada crise não
vivenciada plenamente é igual a emoções e/ou sentimentos não experimentados.
● Atendimento a crise:
O paciente em crise exigirá uma urgência de ação. A angústia que nos

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mostra um paciente diante de uma situação que ultrapassa o limiar de contenção,


demanda alguma intervenção de forma iminente. Por esta razão o profissional atuante
na Saúde Mental deve servir como junção no processo de restabelecimento do equilíbrio
emocional.

ETAPAS DA PERSONALIDADE - Por Sigmund Freud

Um dos maiores conhecimentos que Freud trouxe à psicologia foi quando


mencionou que a experiência da infância tem uma forte influência sobre a personalidade
adulta. “O desenvolvimento da personalidade envolve uma série de conflitos entre o
indivíduo, que quer satisfazer os seus impulsos instintivos, e o mundo social
(principalmente a família), que restringe este desejo.” (CLONINGER, 1999).
Existem cinco fases universais do desenvolvimento que são chamadas de fases
psicossexuais. Freud acreditava que a personalidade estaria essencialmente formada
ao fim da terceira fase, por volta dos cinco anos de idade, quando o indivíduo
possivelmente já desenvolveu as estratégias fundamentais para a expressão dos seus
impulsos, estratégias essas que estabelecem o núcleo da personalidade.
Na fase oral, o desenvolvimento ocorre desde o nascimento aos doze meses de
vida. Nesta fase a zona de erotização é a boca, as atividades prazerosas são em torno
da alimentação (sucção). Quando o bebê aprende a associar a presença da mãe à
satisfação da pulsão da fome, a mãe vem a ser um objeto à parte, ou seja, o bebê
começa a diferenciar entre si próprio e os outros. Uma fixação nessa fase provoca o
desenvolvimento de um tipo de personalidade de caráter oral, do qual os traços
fundamentais são o otimismo, a passividade e a dependência. Para Freud, os
transtornos alimentares poderiam se dar às dificuldades na fase oral.
A fase anal ocorre durante o segundo e o terceiro ano de vida, onde o prazer
está no ânus. Nessa fase a criança tem o desejo de controlar os movimentos
esfincterianos e começa também a entrar em conflito com a exigência social de adquirir
hábitos de higiene. Uma fixação nessa fase pode causar conflitos para o resto da vida
em torno de questões de controle, de guardar para si ou entregar. O caráter anal é
caracterizado por três traços que são: ordem, parcimônia (econômico) e teimosia.
Na fase fálica que ocorre dos três aos cinco anos, a área erógena fundamental
do corpo é a zona genital. Freud sustenta que nessa fase o pênis é o órgão mais
importante para o desenvolvimento, tanto dos homens quanto das mulheres, por isso
Freud é fortemente criticado e acusado de ser falocêntrico. O desejo de prazer sexual
expressa-se por meio da masturbação, acompanhada de importantes fantasias. Nessa
fase fálica também ocorre o complexo de Édipo, que consiste no menino desejar a
própria mãe, mas por medo da castração abandona esse desejo, igualmente ocorre com
a menina mudando apenas os papéis, onde o pai seria o seu objeto de desejo. Uma
não resolução nessa fase pode ser considerada como a causa de grande parte das
neuroses.
A psicanálise certifica que a fixação na fase fálica tem como conseqüência
dificuldades na formação do superego (regras sociais), na identidade do papel sexual e
até mesmo na sexualidade, envolvendo inibição sexual, promiscuidade sexual e
homossexualismo. Dificuldades como a identificação de papéis sexuais podem derivar

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de dificuldades nesta fase. Freud propôs que os homens homossexuais têm uma forte
angústia de castração, mas Freud é novamente criticado por não levar em conta as
questões sociais que mudam de uma cultura para a outra e que influenciam o
desenvolvimento das preferências sexuais. Ele acreditava também que a tendência
homossexual poderia ser de caráter hereditário. Freud declara que em grande parte a
personalidade se forma durante esses primeiros três estágios psicossexuais, quando
são estabelecidos os mecanismos essenciais do ego para lidar com os impulsos
libidinais.
A fase de latência que ocorre desde os 5 anos e vai até a puberdade é
considerado um período de relativa calma na evolução sexual, sendo que pouco é
colocado por Freud com relação a tensão libidinal.
Na fase genital que tem início na puberdade, o indivíduo desenvolve a
capacidade de obter satisfação sexual com um parceiro do sexo oposto. “O caráter
genital é o ideal freudiano do desenvolvimento pleno, que se desenvolve na ausência
de fixações ou depois da sua resolução por meio de uma psicanálise.” (CLONINGER,
1999). Contudo, o indivíduo livre de conflitos pré-edípicos significativos, aprecia uma
sexualidade satisfatória preocupando-se com a satisfação do companheiro sexual,
evitando assim a manifestação de um narcisismo egoísta. Assim sua energia psíquica
sublimada fica disponível para o trabalho, que é prazeroso.

DISTÚRBIOS PSIQUIÁTRICOS

Principais distúrbios psiquiátricos na criança


Feridas visíveis são relativamente fáceis de reconhecer. É diferente quando uma
criança começa a ter problemas na escola ou com amigos, ou quando ela não coopera
e tem explosões de raiva inexplicáveis. Tais ocorrências muitas vezes deixam os pais
confusos e inseguros sobre o que fazer.
Quase uma em cada cinco crianças é afetada por um distúrbio emocional ou
comportamental. Você pode reconhecer que algo não está certo, e faz parte da ação
dos profissionais da enfermagem realizar esse reconhecimento precocemente.
Alguma preocupação é uma parte normal da experiência de cada criança, muitas
vezes mudando de um estágio de desenvolvimento para o seguinte. No entanto, quando
a preocupação ou o estresse dificultam o funcionamento normal de uma criança, um
transtorno de ansiedade deve ser considerado.
● Distúrbios Alimentares:
Os transtornos de alimentação podem ser divididos em dois grupos. O
primeiro grupo são os distúrbios do comportamento alimentar, em que não há a
preocupação excessiva com o peso e/ou forma corporal, mas podem interferir no
desenvolvimento infantil. Já o segundo grupo está associado diretamente a problemas
físicos e biológicos.
A ingestão persistente de substâncias não nutritivas, inadequadas para o
desenvolvimento infantil e que não fazem parte de uma prática aceita culturalmente é
sim considerado um transtorno alimentar. As substâncias mais frequentemente
consumidas são: terra, barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de
animais. Atrasos no desenvolvimento, retardo mental e história familiar são condições

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que podem estar associadas.


O transtorno da alimentação da primeira infância inicia-se antes dos seis anos
de idade. Trata-se de uma dificuldade em se alimentar adequadamente levando à perda
ponderal ou à falha em ganhar peso de forma apropriada. Os sintomas geralmente não
são devidos a alguma condição médica geral, a outro transtorno psiquiátrico ou à falta
de alimentos. O tratamento objetiva a melhora do estado nutricional do paciente, para
isso devendo-se realizar avaliação dos pais e de fatores psicossociais que estejam
contribuindo para o desenvolvimento e a manutenção do problema.
A compulsão alimentar pode iniciar em qualquer fase da infância, porém
aproximadamente com dois anos a criança já possui autopercepção e possui uma certa
autonomia. É considerado compulsão quando não existe um controle sobre o que se
come, come-se em excesso sem nunca ficar satisfeito, causando obesidade.
● Distúrbio na Eliminação:
Tanto a enurese (falta do controle de urina) quanto a encoprese (falta de controle
das fezes) implicam deficiência no controle de esfíncteres, respectivamente vesical e
anal, em uma idade em que a maioria das crianças já têm esse domínio. Assim, são
consideradas enuréticas ou encopréticas as crianças acima de cinco e quatro anos
respectivamente, que ainda não urinam ou defecam nos locais destinados à eliminação.
O controle fecal é, em geral, obtido antes do vesical independentemente do sexo
da criança, embora as meninas tendem a alcançar qualquer um dos dois controles antes
dos meninos. Bragado (1998) sugere reações inadequadas dos familiares durante o
treino de toalete como um dos fatores de riscos de encoprese. A incidência da
encoprese em função da entrada da criança na escola, tem menos a ver com os pais e
mais a ver com a criança e seus padrões de evitar banheiros escolares em função de
vergonha ou medo.
A enurese é entendida como um problema físico com consequências
comportamentais (portanto um fenômeno biocomportamental), já que existem estudos
que comprovam a imaturidade muscular e neurogênica da bexiga.
● Distúrbios do sono:
Os distúrbios do sono são prevalentes na faixa etária pediátrica. Estima-se que
entre 20% e 30% das crianças apresentem, até a adolescência, alguma alteração do
sono, sendo essa prevalência ainda mais elevada entre crianças com comorbidades
neuropsiquiátricas.
Por outro lado, distúrbios do sono também podem, por si só, elevar o risco do
surgimento de uma série de alterações metabólico-comportamentais, podendo levar a
déficits de atenção, distúrbios do humor, aumento de peso, e mesmo alterações do
neurodesenvolvimento.
A insônia é o distúrbio do sono mais prevalente na faixa etária pediátrica,
acometendo até 30% das crianças. Define-se insônia como uma dificuldade de início ou
manutenção do sono, despertar mais cedo que o desejado, resistência para o início do
sono, ou dificuldade em iniciar o sono sem a intervenção dos pais ou cuidadores em um
ambiente propício para o início do sono (sem televisores, smartphones ou tablets sendo
utilizados no horário de dormir).
Para o diagnóstico, é necessário haver consequências diurnas da dificuldade
descrita, sob a forma de sonolência ou fadiga, alterações do desempenho escolar ou

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ocupacional, da capacidade intelectual, alterações do humor ou do comportamento.


Essas consequências podem ser descritas tanto para a criança quanto para o cuidador
principal. A insônia é definida como crônica caso esteja presente ao menos 3 dias por
semana durante, no mínimo, 3 meses.
O terror noturno é uma atividade anormal do sono. Ele faz parte de uma categoria
de manifestações noturnas conhecida por parassonia, onde também se enquadram falar
e andar dormindo. O terror noturno é bastante frequente em crianças, principalmente
entre os 2 e os 5 anos de idade. Na fase pré-escolar, ele chega a atingir metade da
população infantil, segundo estatísticas internacionais.
A hipótese mais aceita é a de que o terror noturno tem a ver com o
desenvolvimento do sistema nervoso central. É como se o cérebro ainda não estivesse
suficientemente maduro para realizar a transição entre o sono e o despertar. Por isso,
a criança fica em um “limbo” entre o dormir e o acordar. Em geral, pais que falam à noite
ou são sonâmbulos têm filhos com terror noturno.
O sonambulismo é um transtorno do sono que consiste basicamente em
levantar-se da cama, andar ou praticar algum tipo de atividade enquanto ainda está
dormindo. Em termos médicos, o sonambulismo é um distúrbio do sono em que as
funções motoras da pessoa despertam, mas sua consciência permanece inativa. Trata-
se, portanto, de um despertar desequilibrado do cérebro. Crianças entre os sete anos
de idade estão mais propensas a desenvolver episódios de sonambulismo. Esta é uma
fase de desenvolvimento muito intensa do sistema nervoso e é natural, portanto, que
essas mudanças refletem-se no sono das crianças.
O sonambulismo tende a desaparecer durante a adolescência, mas pode
também surgir em adultos. Nestes casos, ele está comumente mais relacionado a outras
condições de saúde do que a um distúrbio do sono propriamente dito.
● Distúrbios da fala:
É um impedimento ou dificuldade de comunicação através das palavras
(discurso articulado). A fala pode ser subdividida em dois estágios: concepção
(formulação) e produção (articulação e fonação). O desenvolvimento da fala nas
crianças começa com a associação de sons a pessoas e objetos, sendo que a
compreensão normalmente precede a vocalização em alguns meses.
Os sintomas mais evidentes da gagueira (disfemia) são a repetição de sílabas,
os prolongamentos de sons e os bloqueios dos movimentos da fala, sobretudo na
primeira sílaba, no momento em que o fluxo suave de movimentos da fala precisa ser
iniciado. Cerca de 5% das crianças entre dois e quatro anos de idade apresentam
episódios de disfemia, sendo geralmente episódios transitórios, que duram poucos
meses, ocorrendo em consequência de uma combinação de vários fatores durante o
desenvolvimento da fala.
Um destes fatores é a maturação lenta das redes neurais de processamento da
linguagem, que resulta numa habilidade ainda pequena para articular palavras e
encadeá-las em frases nesta idade.
Dentre as possíveis causas do atraso no desenvolvimento da fala, estão a
dificuldade de audição ou falta de estímulos adequados – e aqui estão incluídas as
crianças que ficam muito tempo ligadas nos eletrônicos. O quadro também está
associado a limitações cognitivas e autismo.

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Ainda, pode ser um indicador de transtorno no desenvolvimento da linguagem,


conhecido por distúrbio específico de linguagem. Depois dos 2 anos, a criança
consegue reconhecer e apontar objetos em livros, começa a trabalhar com plurais
simples e passa a combinar substantivos e verbos. A partir dos 3 anos, o
desenvolvimento é ainda mais visível. A criança já consegue contar pequenas histórias
e até cantar musiquinhas e falar o seu nome e sobrenome. Se há um atraso na
construção de frases, deve-se procurar especialistas para avaliar cada caso
particularmente.

Principais distúrbios na alimentação


● Anorexia nervosa:
Resultado da preocupação exagerada com a imagem e peso corporal
podem causar problemas psiquiátricos graves. A pessoa se olha no espelho e embora
extremamente magra, se vê obesa. Com medo de engordar, exagera na atividade física,
jejua, vomita, toma laxantes e diuréticos.
Manifesta-se principalmente em mulheres jovens, embora sua incidência esteja
aumentando também em homens.
Desnutrição grave, desidratação, diminuição da resistência ao frio, alterações
significativas dos sinais vitais, constipação intestinal, anemia, ossos fracos e propensos
a fraturas, inflamação das articulações, redução da massa muscular, baixa auto-estima,
amenorréia, depressão (perturbações do sono, crise de choro, idéias de suicídio) são
complicações desse distúrbio.
O tratamento basicamente consiste na reintrodução gradativa dos alimentos
para não causar sobrecarga cardíaca. Em geral, faz-se necessário o trabalho de uma
equipe multidisciplinar.
● Bulimia nervosa:
Caracteriza-se pelo ato de provocar vômitos após a ingestão descontrolada e
compulsiva de grandes quantidades de alimento, em curto período de tempo.
Existem complicações sérias, que devem ser avaliadas constantementes, como
a perda de potássio e outros minerais, lesão no trato digestivo, irregularidade menstrual
e hipertensão arterial.
● Hiperfagia:
É a fome insaciável fazendo com que a pessoa coma compulsivamente.
Um dos principais sinais de que há o distúrbio psiquiátrico é o vômito causado pelo
excesso de alimentação.
A obesidade mórbida é a principal complicação da hiperfagia, o que
também pode resultar em problemas como hipertensão arterial e diabetes mellitus.
● Cuidados de enfermagem com o paciente portador de distúrbio
alimentar:
A enfermagem deverá praticar uma escuta efetiva das demandas do
adolescente, a fim de conhecer o perfil dos mesmos, para que previnam várias
complicações relacionadas aos distúrbios alimentares. Também atua no
acompanhamento da oferta e ingesta alimentar, ganho de peso, hidratação, cuidados
com pele e higiene geral do paciente.
Em casos de tratamento medicamentoso, a enfermagem deverá administrar a

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medicação nos horários adequados, avaliar as reações orgânicas ao uso do


medicamento, comunicar quaisquer anormalidades e documentar toda a assistência
prestada.

Distúrbios psiquiátricos na mulher


Fases complicadas, como a temida tensão pré-menstrual (TPM), depressão pós-
parto e a menopausa, geralmente, tornam a mulher mais fragilizada e propensa a sofrer
distúrbios mentais.
● Distúrbios na gravidez:
A depressão leve é normal nos primeiros três meses de gestação. Ansiedade
fóbica pode surgir devido ao medo de traumatismo do parto ou deformidades da criança.
● Depressão pós-parto:
O pós-parto é um período de risco psiquiátrico aumentado no ciclo de vida da
mulher. A depressão pós-parto pode se manifestar com intensidade variável, tornando-
se um fator que dificulta o estabelecimento de um vínculo afetivo seguro entre mãe e
filho, podendo interferir nas futuras relações interpessoais estabelecidas pela criança.
Tanto na morte, quanto no nascimento ocorre uma separação corporal definitiva.
Este é o significado mais doído do parto e que se não for bem elaborado, pode trazer
uma depressão muito mais intensa à puérpera: o parto é vida e também é morte.
Os sintomas do estado depressivo variam quanto à maneira e intensidade com
que se manifestam, pois dependem do tipo de personalidade da puérpera e de sua
própria história de vida, bem como, no aspecto fisiológico, as mudanças bioquímicas
que se processam logo após o parto.
Os sintomas incluem crises de choro, fadiga, humor deprimido, irritabilidade,
ansiedade, confusão e lapsos de memória. As reações emocionais não psicóticas
ocorridas no período de pós-parto se resolvem espontaneamente em até três meses,
sendo que o manejo consiste em deixar a paciente verbalizar seus sentimentos,
enfatizando a normalidade da sua alteração.
O principal problema desta depressão está no uso das medicações. Enquanto
os psiquiatras julgam que os antidepressivos apesar de passarem para o leite materno
não causam maiores problemas para a criança, os pediatras recomendam a suspensão
da amamentação caso seja introduzida alguma medicação antidepressiva, isso gera
uma necessidade expressiva do auxílio da enfermagem.
Quando a mãe é psicótica, ela pode acreditar que o bebê é deficiente ou pode
estar morto, também pode ter alucinações ordenando que ela mate o bebê, por este
motivo, a família deve ser incluída desde o pré-natal, e faz parte do processo de trabalho
da enfermagem cultivar a confiança da paciente, observar o seu comportamento,
estimular e oferecer atividades construtivas ocupando o tempo da paciente, sempre
observar e anotar comportamento e queixas que surgirem.

TRANSTORNOS MENTAIS

Diagnosticar um transtorno mental não é tarefa fácil. Justamente por essa razão
podemos encontrar várias teorias dos transtornos mentais, algumas mais voltadas para
os fatores ambientais ou biológicos. No entanto, percebe-se a necessidade de que os

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profissionais falem a mesma língua, a fim de que troquem melhor as informações e


experiências que possuem.
Assim, são cada vez mais utilizadas as classificações internacionais de doenças
mentais. Para fazer essas classificações, várias comissões de profissionais reúnem-se
a fim de ter soluções de consenso.
O CID – 10 (Classificação Internacional de Doenças – décima edição), realizado
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e mais usado em nosso país, especifica os
transtornos mentais e de comportamento, usando como critérios de classificação os
próprios sinais e sintomas de cada quadro mental, não procurando buscar explicações
de suas causas.
Isso é compreensível, uma vez que sua intenção é uniformizar a linguagem dos
profissionais. Nessa nova revisão, o termo transtorno foi usado ao invés de doença ou
distúrbio, como antes aparecia, a fim de evitar os problemas inerentes a estes termos,
tais como a discriminação.

Transtornos mentais orgânicos


Este agrupamento compreende uma série de transtornos mentais reunidos tendo
em comum uma etiologia demonstrável tal como doença ou lesão cerebral ou outro
comprometimento que leva à disfunção cerebral.
A disfunção pode ser primária, como em doenças, lesões e comprometimentos
que afetam o cérebro de maneira direta e seletiva; ou secundária, como em doenças e
transtornos sistêmicos que atacam o cérebro apenas como um dos múltiplos órgãos ou
sistemas orgânicos envolvidos.
A demência é uma síndrome devida a uma doença cerebral, usualmente de
natureza crônica ou progressiva, na qual há comprometimento de numerosas funções,
tais como a memória, o pensamento, a orientação, a compreensão, o cálculo, a
capacidade de aprendizagem, a linguagem e o julgamento.
O comprometimento das funções cognitivas se acompanha habitualmente e é
por vezes precedida por uma deterioração do controle emocional, do comportamento
social ou da motivação. A síndrome ocorre na doença de Alzheimer, em doenças
cerebrovasculares e em outras afecções que atingem primária ou secundariamente o
cérebro.
● Demência na doença de Alzheimer:
A Doença de Alzheimer (DA) é um transtorno neurodegenerativo progressivo e
fatal que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento
progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas
neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais.
A doença instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema
nervoso central começa a dar errado. Surgem, então, fragmentos de proteínas mal
cortadas, tóxicas, dentro dos neurônios e nos espaços que existem entre eles. Como
consequência dessa toxicidade, ocorre perda progressiva de neurônios em certas
regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral,
essencial para a linguagem e o raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos
sensoriais e pensamento abstrato.
➔ Início precoce: Demência na doença de Alzheimer com início antes da

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idade de 65 anos, com um curso de deterioração relativamente rápido e com transtornos


múltiplos e marcantes das funções corticais superiores.
➔ Início tardio: Demência na doença de Alzheimer com início após a idade
de 65 anos, e usualmente ao fim do oitavo decênio (70-79 anos) ou após esta idade;
evolui lentamente e se caracteriza essencialmente por uma deterioração da memória.
● Demência vascular:
A demência vascular é o resultado do infarto cerebral devido à doença vascular,
inclusive a doença cerebrovascular hipertensiva. Os infartos são usualmente pequenos
mas cumulativos em seus efeitos. O seu início se dá em geral na idade avançada.
➔ Início agudo: Desenvolve-se usual e rapidamente em seguida a uma
sucessão de acidentes vasculares cerebrais por trombose, embolia ou hemorragia. Em
casos raros, a causa pode ser um infarto único e extenso.
➔ Infartos múltiplos: Demência vascular de início gradual, que se segue a
numerosos episódios isquêmicos transitórios que produzem um acúmulo de infartos no
parênquima cerebral. Demência predominantemente cortical.
➔ Vascular subcortical: Demência vascular que ocorre no contexto de
antecedentes de hipertensão arterial e focos de destruição isquêmica na substância
branca profunda dos hemisférios cerebrais. O córtex cerebral está usualmente
preservado, fato este que contrasta com o quadro clínico que pode se assemelhar de
perto a demência da doença de Alzheimer.
● Demência em outras doenças classificadas em outra parte
Casos de demência devida a, ou presumivelmente devida a, outras causas que
não a doença de Alzheimer ou doença cerebrovascular. O início pode ocorrer em
qualquer época na vida, embora raramente na idade avançada.
➔ Demência da doença de Pick: É uma doença neurodegenerativa
incomum causada por excesso de uma proteína, denominada “tau”, nos neurônios
conhecidos como corpos de Pick. Geralmente afeta o lobo frontal ou/e o lobo temporal
danificando a capacidade de raciocínio, expressão de linguagem e auto-controle. É
semelhante a doença de Alzheimer, mas na doença de Pick os sintomas
comportamentais aparecem muito antes da perda de memória começando por volta dos
40-60 anos.
➔ Demência na doença de Creutzfeldt-Jakob: É uma desordem cerebral
degenerativa rara e fatal caracterizada por rápida neurodegeneração incapacitante, que
provoca movimentos involuntários. Afeta um em cada milhão de habitantes por ano,
geralmente começa entre 50 a 70 anos e 90% morrem em menos de um ano.
➔ Demência na doença de Huntington: A doença de Huntington ou coréia
de Huntington é uma doença hereditária que causa a morte das células do cérebro. Os
primeiros sintomas são geralmente problemas sutis a nível do humor ou das
capacidades mentais. A estes sintomas segue-se falta de coordenação motora e
locomoção instável. À medida que a doença avança, começa-se a manifestar
movimentos do corpo bruscos, descoordenados e sem sentido. As capacidades físicas
vão progressivamente diminuindo até que a coordenação motora se torna difícil e a
pessoa se mostra incapaz de falar. Os sintomas específicos podem variar entre as
pessoas. Têm início entre os 30 e 50 anos de idade, mas podem manifestar-se em
qualquer idade.
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➔ Demência na doença de Parkinson: A Doença de Parkinson é uma


doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. É causada por
uma diminuição intensa da produção de dopamina, que é um neurotransmissor
(substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células
nervosas). Na falta dela, particularmente numa pequena região encefálica chamada
substância negra, o controle motor do indivíduo é perdido, ocasionando sinais e
sintomas característicos, a lentidão motora (bradicinesia), a rigidez entre as articulações
do punho, cotovelo, ombro, coxa e tornozelo, os tremores de repouso notadamente nos
membros superiores e geralmente predominantes em um lado do corpo quando
comparado com o outro e, finalmente, o desequilíbrio.

Transtornos causados por uso de drogas psicoativas


Transtornos por uso de substâncias está intrinsecamente relacionado a um
padrão patológico de comportamentos em que os pacientes continuam a usar uma
substância apesar de experimentarem problemas significativos relacionados ao uso.
As pessoas com alguma dependência química geralmente passam da
experimentação para o uso ocasional e então uso intenso e, às vezes, para a própria
dependência química. Essa progressão é complexa e apenas parcialmente entendida.
O processo depende da interação entre a fármaco, o usuário e o contexto.
● Alcoolismo:
É o consumo de uma grande quantidade de álcool suficiente para interferir nos
comportamentos físico, emocional e social do indivíduo.
As causas do alcoolismo são numerosas, complexas e profundas. Podemos
enumerar algumas:
➔ Fatores sócio-culturais: O ato de beber está intimamente ligado à
crenças populares, formas de vida (relação como trabalho, com a família, a produção
econômica). Aparece em todos os níveis sócio-econômicos, culturais e intelectuais de
nossa sociedade;
➔ Prestígio social da bebida: O ato de beber “em conjunto” facilita a
aproximação entre os homens: geralmente toda festividade, encontro, comemoração
inclui a bebida.
➔ Susceptibilidade orgânica: Cada indivíduo reage organicamente ao
álcool e à quantidade ingerida, diferentemente.
➔ Fatores hereditários: É comum encontrar alcoolistas entre parentes de
“alcoolistas”.
➔ Fatores psicológicos: fatores relacionados ao desenvolvimento
emocional do indivíduo e sua relação com o mundo.
O alcoolismo possui formas de manifestação, entendendo-se a progressão
através de fases:
Forma inicial: Caracterizada pela necessidade do aumento da ingestão,
irritabilidade ou ansiedade nos períodos de abstinência, distúrbios gastrintestinais
(náuseas e gastrite), insônia, inapetência alimentar, conjuntivas hiperemiadas, tremores
de extremidades, faltas ao trabalho.
Intoxicação aguda: Aparece quando a pessoa faz uso contínuo da bebida
alcoólica e intensifica a ingestão a níveis que chegam à intoxicação aguda. Os principais
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sintomas são: gastrintestinais (náuseas, vômitos, gastrite, diarréia), cardio-circulatórios


(taquicardia, hipertensão arterial), instabilidade emocional, alterações da percepção
(alucinações visuais e auditivas), delírio, desinteresse pelas atividades da vida diária e
de se relacionar com as pessoas, não se alimenta, não dorme e não consegue ficar
quieto.
Delírium Tremens: Uma reação aguda à retirada da ingestão do álcool e delírio
de 2 a 5 dias. Tremores generalizados, excitação psicomotora, hipertermia, taquicardia,
distúrbios hidro-eletrolíticos, sudorese profusa e alucinações táteis e visuais.
Caracterizado por irritabilidade excessiva, medo apreensão e terror. A consciência está
obnubilada, estado de confusão profunda com desorientação temporal e espacial.
O alcoolismo pode evoluir para uma forma psicótica que inclui um estado
paranóide, caracterizado por ciúme excessivo, e alucinose caracterizado por
alucinações auditivas acusatórias ou ameaçadoras em um estado de consciência
relativamente claro.
As complicações referentes ao abuso do álcool são diversas, entre elas estão as
deficiências nutricionais, náuseas, vômitos, dor abdominal, distensão abdominal,
hemorragia, disfunção hepática, cirrose, pancreatite, pneumonia, diabetes, doenças
cardiovasculares, lesões por acidentes, sofrimento psíquico, desintegração familiar e
social, baixa da auto-estima, depreciação da sua condição de pessoa e cidadão.
Basicamente o tratamento do alcoolista consiste inicialmente na desintoxicação,
administração de soluções salinas, glicose, vitaminas e nutrientes por via parenteral e
oral, ansiolíticos e neurolépticos e psicoterapia.
Assistência de enfermagem ao paciente alcoolista:
• Encaminhar e orientar o paciente sobre serviços especializados;
• Observar sinais de intoxicação alcoólica crônica (alucinações auditivas e delirium
tremens;
• Estar atento para sinais e sintomas de gastrite, hepatite, cirrose hepática,
endocardite, desidratação, desnutrição decorrentes do consumo prolongado de álcool,
encaminhado o paciente ao médico quando necessário;
• Dar apoio e estímulo para que consiga se manter sem consumir álcool;
• Nos casos de agitação intensa, que persiste após a administração de
tranquilizantes, fazer a contenção física do paciente, imobilizando seu tronco e membros
e utilizando grades de proteção para evitar acidentes;
• Controle de sinais vitais, balanço hídrico, dieta e eliminações;
• Observar efeitos colaterais dos medicamentos, dentre eles: reações alérgicas,
icterícia, edema, erupções, febre, calafrios, sonolência, hipotensão ortostática, aumento
do apetite e do peso corporal, secura da boca e visão borrosa.

● Dependência química:
As drogas mais utilizadas são: maconha, cocaína, crack e tranquilizantes.
Maconha: provoca sensação de bem-estar, relaxamento e uma alteração de
percepção de tempo e espaço.
Alterações clínicas e psíquicas: taquicardia, problemas respiratórios, diminuição
da fertilidade do homem, comprometimento da habilidade psicomotora.
Cocaína: Provoca sensações de poder, energia e ‘’controle da situação’’.

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Curso Técnico em Enfermagem

Alterações clínicas e psíquicas: pode causar aumento da temperatura e pressão


arterial. Usuários crônicos podem apresentar degeneração irreversível dos músculos
esqueléticos. Em doses elevadas pode induzir aos estados psicóticos geralmente
paranóides (alucinações e delírios).
Crack: Sensações que provoca: as mesmas que a cocaína, mas em maior
quantidade. Alterações clínicas e psíquicas: as mesmas que a cocaína pura.
Oxi: É mais barato e mais agressivo que o crack, a ciência ainda tenta entender
seus efeitos no organismo. Seu potencial alucinógeno é o dobro da euforia causada
pela cocaína.
Estes pacientes vão ter que passar por procedimentos de desintoxicação e por
algumas técnicas de psicoterapias motivacionais, terapias cognitivo-comportamentais e
de prevenção de recaída.
Os pacientes dependentes químicos, como a maioria dos pacientes
psiquiátricos, requerem intensos cuidados por parte da equipe de enfermagem. Não
existe apenas um modelo a seguir, cada paciente tem um perfil diferente na área da
dependência química.

ESTRUTURAS PSICANALÍTICAS - Por Sigmund Freud

Na psicanálise, todo ser humano tem algum problema psíquico. Isso porque
todos reprimem alguma realidade em algum momento da sua infância. A personalidade
de todos os indivíduos pode ser compreendida por meio de três estruturas mentais. São
elas: Psicose, Neurose e Perversão.
Uma vez definida a personalidade dentro de uma das estruturas, ela nunca
mudará, podendo apenas variar o grau de intensidade dos sintomas específicos de cada
uma. Isso quer dizer, ainda, que uma estrutura exclui a outra: um indivíduo neurótico
jamais apresentará nenhum sintoma ligado a psicose, por exemplo.
Um dos pontos essenciais quando se trata de compreender essas estruturas
mentais supracitadas é o seu funcionamento. Cada uma delas possui, segundo Freud,
um mecanismo de defesa específico. Esse mecanismo de defesa nada mais é do que
uma forma inconsciente que a mente do indivíduo encontra para lidar com o sofrimento
que advém do Complexo de Édipo.
● 1º Tipo: Neuroses:
É a existência de tensão excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de
uma necessidade longamente frustrada. É sinal de que na pessoa se instalou um estado
neurótico. A neurose determina uma modificação, mas não uma desestruturação da
personalidade e muito menos de perda de valores da realidade.
Costuma-se catalogar os sintomas neuróticos em certas categorias, como:
a) Ansiedade: a pessoa é tomada por sentimentos generalizados e persistente
de intensa angústia sem causa objetiva. Alguns sintomas são: palpitações do coração,
tremores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma exagerada e ansiosa preocupação por si
mesmo.
b) Fobias: uma área da personalidade passa a ser possuída por respostas de
medo e ansiedade. Na angústia o medo é difuso e quando vem à tona é sinal de que já
existia, há longo tempo. Se apresenta envolta em muita tensão, preocupação, excitação

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Curso Técnico em Enfermagem

e desorganização do comportamento. Na reação fóbica, o medo se restringe a uma


classe limitada de estímulos. Verifica-se a associação do medo a certos objetos, animais
ou situações.
c) Obsessiva-Compulsiva: A Obsessão é um termo que se refere a idéias que
se impõem repetidamente à consciência. São por isto dificilmente controláveis. A
compulsão refere-se a impulsos que levam à ação. Está intimamente ligada a uma
desordem psicológica chamada transtorno obsessivo-compulsivo.
d) Depressão: é uma doença psiquiátrica crônica e recorrente que produz uma
alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, sem fim, associada a
sentimentos de dor, amargura, desencanto, desesperança, baixa autoestima e culpa,
assim como a distúrbios do sono e do apetite. É importante distinguir a tristeza
patológica daquela transitória provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis,
mas que são inerentes à vida de todas as pessoas, como a morte de um ente querido,
a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as
dificuldades econômica
2º Tipo: Psicoses:
O psicótico pode encontrar-se ora em estado de depressão, ora em extrema
euforia e agitação. Age de um modo e, em outro, de maneira totalmente diferente.
Desestruturação da sua personalidade. O dado clínico para se aferir à psicose é a
alteração dos juízos da realidade.
O psicótico passa a perceber a realidade de maneira diferente. Por isso, faz
afirmações e tem percepções não apoiadas nem justificadas pelos dados e situações
reais. Nas psicoses, além da alteração do comportamento, são comuns alucinações
(ouvir vozes, ter visões e delírios). O mecanismo de defesa dessa estrutura é conhecido
como Foraclusão ou Forclusão, termo desenvolvido por Lacan.
As Psicoses se manifestam como:
a) Esquizofrenia: Doença mental grave de difícil compreensão. O indivíduo não
se recupera totalmente, é discriminado e não tem condições para o trabalho. Atinge
ambos os sexos e ocorre entre 15 e 34 anos.
Caracteriza-se por desordens manifestadas por alteração do pensamento, afeto,
comportamento, tendência a fugir da realidade, alucinações, delírios, irritação, ausência
do trabalho e emoções contraditórias.
Classificação das esquizofrenias:
1. Simples: Caracterizada por indiferença total inclusive pelo sexo oposto,
incapacidade de aceitar responsabilidades e total falta de higiene e auto-cuidado.
2. Hebefrênica: Forma mais grave acometendo a pessoa na adolescência, o
comportamento e o tom de voz do paciente lembram uma criança, alteração da
afetividade, riso sem motivo, delírios, alucinações, come com as mãos, urina e evacua
em qualquer lugar, pode tentar suicídio.
3. Catatônica: Paciente apresenta falta de ânimo, delírios e alucinações.
No estupor catatônico permanece imóvel em uma única posição, não reagindo
com o que ocorre à sua volta. Na excitação catatônica tornar-se agressivo com atividade
motora excessiva.
4. Paranóide: Caracteriza-se por ideias de perseguição e grandeza, ‘’acredita
que estão sempre falando mal dele’’, conversa com Deus recebendo uma missão

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Curso Técnico em Enfermagem

especial e é sempre dotado da certeza.apatia emocional, carência de ambições,


desorganização geral da personalidade, perda de interesse pela vida nas realizações
pessoais e sociais. Pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado,riso
insólito, bobice, infantilidade, hipocondria, delírios e alucinações transitórias.
b) Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) : O TEA reúne desordens do
desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou começo da infância.
Pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou
interação social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade
socioemocional) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos
contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.
c) Maníaca-depressiva ou Transtornos Afetivo Bipolar (TAB): Caracteriza-se
por perturbações psíquicas duradouras e intensas, decorrentes de uma perda ou de
situações externas traumáticas. O estado maníaco pode ser leve ou agudo. É
assinalado por atividade e excitamento. Os maníacos são cheios de energia, inquietos,
barulhentos, falam alto e têm idéias bizarras. O estado depressão caracteriza-se por
inatividade e desalento.
Seus sintomas são: pesar, tristeza, desânimo, falta de ação, crises de choro,
perda de interesse pelo trabalho, por amigos e família, bem como por suas distrações
habituais. Torna-se lento na fala, não dorme bem à noite, perde o apetite, pode ficar um
tanto irritado e muito preocupado.
d) Paranóia: Caracteriza-se sobretudo por ilusões fixas. É um sistema delirante.
As ilusões de perseguição e de grandeza são mais duradouras do que na esquizofrenia
paranóide. Os ressentimentos são profundos. É agressivo, egocêntrico e destruidor.
Acredita que os fins justificam os meios e é incapaz de solicitar carinho. Não confia em
ninguém.
e) Psicose alcoólica: É habitualmente marcada por violenta intranqüilidade,
acompanhada de alucinações de uma natureza aterradora.
● 3° Tipo: Perversão:
Os perversos não estruturam determinadas dimensões da personalidade,
verificando-se uma espécie de falha na própria construção. Os principais sintomas está
relacionado a diminuição ou ausência da consciência moral. O certo e o errado; o
permitido e o proibido não fazem sentido para eles. Desta maneira, simular, dissimular,
enganar, roubar, assaltar, matar, não causam sentimentos de repulsa e remorso, em
suas consciências.
O único valor para eles é seus interesses egoístas. Não existem de alucinações
ou manifestações neuróticas. Os perversos buscam estimulações fortes; Incapacidade
de adiar satisfações; Não toleram um esforço rotineiro e não sabem lutar por um objetivo
distante; Não aprendem com os próprios erros, pelo fato de não reconhecerem estes
erros; Em geral, têm bom nível de inteligência e baixa capacidade afetiva;
Parecem incapazes de se envolver emocionalmente. Não entendem o que seja
socialmente produtivo. Existe um outro modo de entendimento em que o mecanismo de
defesa específico da perversão é a denegação.
Ele poder ser compreendido através do fetichismo. Freud coloca que muitos
indivíduos que faziam análise com ele apresentavam fetiches como algo que os traria
apenas prazer, algo até mesmo louvável. Esses indivíduos nunca o procuravam para

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falar desse fetichismo, ele aprecia apenas como uma descoberta subsidiária. Assim se
dá a denegação: a recusa em reconhecer um fato, um problema, um sintoma, uma dor.

TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS MENTAIS

Psicoterapia
A psicoterapia é uma técnica utilizada para o tratamento das doenças mentais
ou psíquicas e constitui um valioso recurso para lidar com as dificuldades de existência
apresentadas por esses pacientes.
A psicoterapia é também aplicada nos tratamento dos aspectos emocionais que
estão envolvidos nas doenças físicas; as denominadas psicossomáticas. Essa
modalidade de tratamento ao portador de sofrimento mental baseia-se em ajudar o
doente a compreender os seus conflitos internos a partir da relação doente-terapeuta.
A psicoterapia é apropriada para uma variedade ampla de situações descritas por
pessoas que sofrem de perturbações psiquiátricas relacionadas ao trabalho, às relações
sociais, perda de um ente querido ou uma doença crónica na família, entre outros.
Entende-se que o uso do tratamento psicoterápico na rede pública de saúde é
relativamente recente e deve ser amplamente considerada hoje no conjunto de
transformações que tem caracterizado a assistência em saúde mental no Brasil.
Há alguns tipos de psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração dos
problemas, sendo os principais:
• Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos.
• Psicoterapia de Grupo
• Psicoterapia de Casal
• Psicoterapia de Família
• Psicoterapia Institucional

Psicofármaco
São drogas cujo principal uso é modificar as funções psíquicas normais ou
alteradas. Não curam o doente mental, apenas, diminuem seu sofrimento.
● Tipos:
➔ Psicolépticos: Drogas que atuam diminuindo a atividade psíquica
normal ou alterada.
➔ Hipnóticos: (Que induzem o sono), divididos em: Barbitúricos – usados
em caso de sedação e disritmia cerebral. Ex: Fenobarbital e Gardenal – e não
barbitúricos. Ex: Nitrazepan (mogadon).
➔ Ansiolíticos: Aliviam a ansiedade e tensão. Ex: Diazepan.
Efeitos colaterais: Náuseas, vômitos, constipação intestinal, irregularidade
menstrual e sinais de dependência.
➔ Antipsicóticos (ou neurolépticos): reduzem sintomas psicóticos como
alucinações e idéias delirantes. Ex: clorpromazina (amplictil), levopromazina (Neozine),
Haloperidol (Haldol).
Efeitos colaterais: Hipotensão, aumento de peso, lentidão motora, diminuição
da iniciativa, sonolência, redução da mímica facial, alteração de pulso e temperatura,
síndrome de impregnação, náuseas, vômitos, prurido, ansiedade, constipação
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intestinal, movimentos anormais – tremores, acatisia, distonia, discinesia, disfagia,


retenção urinária, incontinência urinária e síndrome parkissoniana.
➔ Antidepressivos: Drogas que aumentam a atividade mental. Exs:
Tofranil e Anafranil.
Efeitos colaterais: Hipotensão ortostática, obstipação, oligúria, hipertensão
arterial, sonolência, principalmente no início do tratamento, secura de mucosas,
dificuldade acomodação visual, tremores de extremidades, insônia (superdosagem),
alterações menstruais, alteração no desempenho sexual. Sinais de intoxicação:
palpitação, agitação, confusão mental, alterações de consciência que podem levar a
convulsão, coma e morte.
➔ Normalizadores do humor: Utilizados no transtorno afetivo bipolar,
controlam crises de agitação e euforia, sendo o medicamento de escolha o lítio. Ex:
Carbolítio.
Efeitos Colaterais: Náuseas, vômitos, sede, boca seca, hipertensão arterial,
aumento de peso e cefaléia. Sinais de intoxicação: Diarréia, espasmos musculares,
disartria, arritmia cardíaca, edema de membros inferiores, confusão mental, dificuldade
de marcha.
➔ Antidepressivos de 2ª geração: Têm mínimos efeitos colaterais. O mais
usado é a Fluoxetina (Prozac). Podem ocorrer com seu uso aumento da ansiedade,
insônia e alterações de comportamento.
➔ Euforizantes: Psicofármacos que causam dependência: Opiáceos
(morfina, heroína, cocaína), maconha e alucinógenos (LSD).

Oficinas Terapêuticas
Oficinas em Saúde Mental serão consideradas terapêuticas quando
possibilitarem aos pacientes a oportunização de expressão, troca, acolhimento,
comunicação. Além disso, avançam no caminho da reinserção, pois exercem o papel
de conduzir o indivíduo na reabilitação psicossocial. As oficinas terapêuticas acontecem
nos CAPS e tem por objetivo maior permitir a expressão de conflitos internos ou
externos do usuário por meio de atividades artísticas, com a valorização do potencial
criativo, imaginativo e expressivo.
A equipe multiprofissional (assistente social, técnico em enfermagem, educador
físico, monitores educacionais e instrutores de oficinas terapêuticas específicos em suas
áreas, entre outros) favorecem o fortalecimento da autoestima e da autoconfiança, bem
como a possibilidade de troca de conhecimentos. As oficinas terapêuticas estão
fundamentadas na Reforma Psiquiátrica, desinstitucionalização do doente mental e sua
reabilitação psicossocial, através de atividades artísticas e artesanais.
Importante ressaltar que, no Brasil, com a Portaria GM nº 189, de 19 de
novembro de 1991, as oficinas terapêuticas, que até então eram desenvolvidas apenas
como prática de expressão artística, passam a objetivar também a socialização e a
convivência entre os pacientes, profissionais, familiares e comunidade.

Visitas Domiciliares
As visitas domiciliares constituem uma estratégia referente ao Programa de
Saúde da Família PSF do Ministério da Saúde. Essas visitas têm por objetivo avaliar
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as condições de saúde da população em domicílio, otimizando a prevenção às doenças


e acompanhamentos terapêuticos.
É preconizado que o Agente Comunitário de Saúde (ACS) realize, no mínimo,
uma visita por família da área de abrangência ao mês, sendo que, quando necessário,
estas podem ser repetidas de acordo com as situações determinantes de cada
realidade.
Cabe aos demais profissionais da equipe planejar suas visitas domiciliares
procurando atender as demandas identificadas pelos agentes. Para a saúde mental, as
visitas domiciliares dos agentes de saúde configuram uma forma de assistir o portador
de sofrimento mental de modo efetivo, uma vez que descreve o cotidiano de seu
tratamento no próprio seio familiar.
A abordagem em saúde mental durante as visitas domiciliares deverá ser
realizada por profissionais devidamente habilitados para que ocorra êxito na
implementação e eficiência de ações para promoção de saúde mental na família. As
visitas domiciliares permitem desta forma, uma detecção precoce da necessidade de
demais intervenções terapêuticas ao portador de sofrimento mental em tempo hábil, o
que favorece a continuidade do tratamento.

ADMISSÃO, ANOTAÇÃO DE ENFERMAGEM E ALTA DO PACIENTE

Admissão: A equipe de enfermagem deve estar preparada para receber o


paciente sendo receptiva, amável, livre de preconceitos e tentando compreender o
momento vivido por ele. Deve ser capaz de dar informações, esclarecer dúvidas,
mostrar que o tratamento é importante e que ele é bem-vindo na instituição onde vai se
tratar.
• Orientar o doente e a família em relação às rotinas da instituição.
• Se consciente, apresentá-lo à unidade de internação e aos outros doentes.
• Encaminhá-lo ao banho, se necessário.
• Encaminhá-lo ao leito e guardar os seus pertences.
• Verificar sinais vitais, observar o comportamento e integridade física, iniciar
cuidados físicos imediatos.
• Anotar todo o procedimento realizado com o paciente, como ele chegou a
instituição e qual estado geral do mesmo.

Observação e anotação de enfermagem em Saúde Mental: Observação é a


forma de comunicação constante durante o trabalho da enfermagem, desde os cuidados
gerais até o estado comportamental do paciente.
Finalidade: visa ao bem-estar do paciente para ajudá-lo em sua recuperação
através de planejamento dos cuidados e tratamentos prescritos.
O que observar: Aparência pessoal do paciente, fluxo de linguagem, ânimo,
disposição, humor, motricidade, orientação (em relação ao tempo, lugar e à sua
pessoa), o inter-relacionamento, alimentação, sono, auto-cuidado, dados vitais, sinais e
sintomas após administrar medicações, são alguns fatores que sempre devem ser
observados no paciente.
O que anotar: Tudo deve ser anotado, a anotação de enfermagem é o maior

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respaldo que se tem. É importante anotar desde o horário que foi feita uma medicação
até as queixas do pacientes e suas menores alterações.
Alta hospitalar: O paciente deve ser preparado, desde o momento que chega
ao hospital para retornar à sua vida habitual, deve ser avisado (bem como sua família)
de sua alta com antecedência pela equipe multidisciplinar que o tratou.
• A equipe de enfermagem deve proporcionar a ele sentimento de segurança e o
paciente deve ser conscientizado da importância de continuar se necessário o
tratamento após a alta.
• Orientar com relação à medicação, dieta, retorno e quanto aos profissionais que
deve procurar em caso de necessidade.
• O paciente só sairá da instituição acompanhado de um responsável legal a quem
deve ser entregues todas as receitas de medicamentos, agendamentos de retornos e
todas as recomendações.
• Realizar anotações de alta no prontuário do paciente, destacando com quem o
mesmo foi acompanhado e qual seu estado geral no momento da alta.

MORTE E LUTO

O luto acontece com todos, o que varia é a intensidade com que os seus
sentimentos serão vivenciados. Para alguns, o luto parece eterno, para outros, é apenas
mais uma etapa da vida em que o tempo irá resolver.
O luto é a angústia por uma perda de algum ente ou pessoa que morreu, ou até
mesmo ao receber uma notícia devastadora. É o processo emocional e sentimental que
vivencia a ausência e o vazio causado por uma perda.

Elizabeth Kübler-Ross sugere que uma pessoa em iminência de morte


(pacientes terminais) e as pessoas com vínculo afetivo (familiares, amigos, colegas)
podem passar por até cinco estágios de luto, geralmente nesta ordem e com
peculiaridades:
● NEGAÇÃO: nesta fase a pessoa não acredita, acha que pode haver enganos.
Esta fase está sujeita a ser vista como forma de defesa de algo improvável e pode durar
minutos ou até mesmo anos (como nos casos das pessoas que continuam sempre
esperando seus entes queridos).
● RAIVA: nesta fase existe culpabilização, normalmente de Deus. É a fase mais
delicada, a pessoa está incongruente e pode ter atitudes desagradáveis, piorando o
clima diante de um tratamento ou em um velório.

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Curso Técnico em Enfermagem

● NEGOCIAÇÃO: a revolta anterior não trouxe alívio, aí vem os pensamentos


sobre fazer algo para reverter o acontecido, pensa em fazer promessas, pacto com
Deus, receber uma graça ou milagre.
● DEPRESSÃO: nesta fase a pessoa chora, se isola, repensa sobre a vida, quer
deixar a vida do outro organizada de uma forma melhor, percebe a falta que o outro fará
na sua vida. A maior colaboração de quem está ao lado pode ser um ouvinte paciencioso
e apenas estar ao lado.
● ACEITAÇÃO: Com o sofrimento um pouco mais suavizado, a pessoa faz
reflexões e tem percepções mais congruentes com a situação, consegue ter “tranquilas
expectativas”, facilitando a aceitação do ocorrido e possibilidades de reação. A pessoa
percebe que nem tudo em sua vida está acabado e perdido, mesmo com dificuldades e
limitações tem possibilidades de se reestruturar sem a pessoa perdida.
➔ Luto complicado:
Existem situações em que o processo de luto, principalmente por morte de um
ente querido, não segue a evolução normal, ou seja, o indivíduo não consegue se
reestruturar, podendo ocorrer fixação numa das etapas e, consequentemente, a não
elaboração do luto.
Alguns fatores podem contribuir para o risco de uma pessoa caminhar para o
luto complicado, tais como: uma morte inesperada e/ou violenta; morte por suicídio de
um ente amado; falta de suporte social – familiares e amigos; experiências traumáticas
na infância; ansiedade de separação na infância; não aceitar a morte como um processo
natural; dificuldade de adaptação a mudanças de vida.
➔ Luto não autorizado:
Este tipo de luto se apresenta quando a sociedade ou a comunidade na qual o
sujeito está inserido não valida ou ignora a perda sofrida, seja pelo fato de o
relacionamento não ser legitimado, seja pela perda não reconhecida, seja pelo enlutado
ou pela morte não serem aceitos.
A perda pode ser vista como irrelevante. Exemplo: morte do animal de
estimação. Este processo também pode ocorrer quando a perda não está relacionada
a uma morte. Exemplos: separação conjugal e/ou aposentadoria.

“Quem ensina o homem a


Morrer, ensina-o
também a viver”
Montaigne

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