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AÇÕES DE

ENFERMAGEM EM
SAÚDE MENTAL

Desenvolvimento: Corpo Docente da Escola Arquimedes


Revisão: Julho 2014

Saúde Mental
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Saúde Mental
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ÍNDICE

1- SAÚDE MENTAL----------------------------------- 3
2- EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA E HISTÓRIA DA
ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA-------------
4
3- NÍVEIS DE ASSISTÊNCIA E SERVIÇOS DE
SAÚDE MENTAL------------------------------
10
4- SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE ( SUS)--------- 12

5- OBSERVAÇÕES E ANOTAÇÕES DE
NEFERMAGEM PSQUIÁTRICA--------------
14
6- NEUROSE E PSICOSE------------------------ 17

7- PSICOFARMACOLOGIA-------------------------- 53

8- REGISTRO PSIQUIÁTRICO----------------------- 61

9- ATITUDES BÁSICAS NO RELACIONAMENTO


COM O USUÁRIO----------------------------------
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Saúde Mental
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1. SAÚDE MENTAL

É um aspecto da saúde em geral que, a partir de uma concepção


integral do ser humano como entidade biopsicossocial, não pode
ser visto em separado.

Segundo a OMS, saúde mental é a capacidade de estabelecer


relações harmoniosas com os demais e a contribuição
construtiva nas modificações do ambiente físico e social.

Indivíduos com uma confiança básica em si mesmos e nos


demais, com sentido da própria competência e a sensação de que
a situação humana, no seu conjunto, possui um significado e
vale a pena, têm uma resistência muito maior à descompensação
emocional que aqueles com atitudes e sentimentos geradores de
insegurança.

1.1. CARACTERÍSTICAS DA PESSOA MENTALMENTE


SAUDÁVEL

 Não ter sintomas e doença, sentindo-se vital e


descontraído;
 Conhecer a si mesmo;
 Manter contato com a realidade, o que implica aceitar as
próprias limitações, assim como a capacidade em fazer
frente às situações com critérios realistas;
 Manter uma vida emocionalmente equilibrada;
 Adaptar-se à vida em sociedade;
 Encontrar motivos de satisfações razoáveis na vida
diária;
 Ter convicções acerca do valor pessoal e do sentimento
da vida;
 Desenvolver espírito criador na vida pessoal.

1.2. DOENÇA MENTAL

É difícil definir com exatidão científica a expressão doença


mental.

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De forma empírica consiste num desequilíbrio psíquico que se
pode manifestar através de diversos sinais e sintomas e que
dificulta o desenvolvimento da vida habitual da pessoa.

Fatores de caráter diversos (biológicos, psicológicos e sociais)


podem alterar o equilíbrio dinâmico que mantém as pessoas num
estado relativo de saúde, descompensando-as. O mais freqüente
é a ocorrência de vários fatores influindo no psiquismo humano,
e que podem constituir um risco de alteração da saúde mental.

2. EVOLUÇÃO DA PSIQUIATRIA E HISTÓRIA DA


ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA

2.1. ÉPOCAS REMOTAS

 Causas das doenças não eram evidentes;


 Acreditava-se que as causas eram influências malignas;
 Não se fazia distinção entre doença física e doença
menta;
 Doentes mentais eram considerados seres possuídos por
demônios ou espíritos malignos;
 Curandeiros (médicos feiticeiros): práticas mágico-
religiosas, feitiçaria ou magia de exorcismo, rituais
mágicos;
 Primeiro curador: Inhotep, sacerdote egípcio, criou o
Templo de Mênfis . Os pacientes eram encorajados a
praticarem atividades recreativas, como excursões sobre
o Nilo, danças, pinturas, concertos, desenhos,
exatamente como acontece hoje nos hospitais modernos,
onde a terapia ocupacional é importante, junto à equipe
interdisciplinar.

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2.2. ERAS CLÁSSICAS

 Na Grécia, medicina sofre grande influência de


Esculápio, sacerdote, e constrói um templo.
 Os povos da Antigüidade, embora utilizando da prática
mágico-religiosa, tinham intuição da influência sobre a
importância das atividades ocupacionais e do valor da
recreação na recuperação dos doentes mentais;
 Hipócrates, primeiro médico a explicar coerentemente as
doenças com base em causas naturais;
 Vários filósofos contribuíram para a mudança do
conceito do doente mental. Exemplo: Sorano, filósofo
romano, assim como Hipócrates, não admitia maus
tratos as doentes mentais. Defendia lugares iluminados,
limpos.
 Contenção aplicada de forma humanizada;
 Os médicos hipocráticos descreviam pela 1ª vez: delírios,
sintomas de depressão, fobias, psicoses pós-parto;
 Hipócrates obtinha a história completa de vida de seus
pacientes e reconhecia a importância da relação médico-
paciente.

2.3. IDADE MÉDIA – SÉCULO XIV (1301-1399)

 Queda do Império Romano;


 Retrocesso geral na magia, no misticismo e na
demonologia;
 Durou 10 séculos;
 Assistência psiquiátrica deteriorou-se ao exorcismo
demonológico;
 O doentes mentais passam a ser considerados feiticeiros
e tornam-se vítimas da perseguição;
 Publicado “O Martelo das Bruxas” – manual da
inquisição de autoria de 2 religiosos, Kramer e Spencer –
essa publicação lançou uma campanha para exterminar
na fogueira: bruxas, possessos, enfim, todos aqueles que

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tivessem pactuado com o demônio. A idéia: a alma
possuída apenas se salvaria com a destruição do corpo;
 Nessa época, a atitude para com os doentes mentais era
de rejeição, medo, desprezo, tortura e perseguição e a
condenação à morte pela inquisição.

2.4. ERA DA RENASCENÇA – SÉCULO XVI (1501)

 Intensa vida artística e intelectual;


 Novo espírito de indagação levou ao questionamento da
igreja que dominava tudo com sua ênfase no mundo
sobrenatural, e na proibição da prática clínica;
 Diversas descobertas científicas;
 O homem da renascença é observador e explora a
natureza ao seu redor;
 A doença mental foi desembaraçada da superstição e do
erro autoritário;
 Ainda existiam práticas como: toque mágico,
quiromancia e astrologia;
 Médicos: Paracelso e Weyner. A doença mental deveria
ser tratada com medicamento e as feiticeiras teriam
doença mental e deveriam ser tratadas por médicos;
 Preocupação constante em proteger o doente mental,
independentemente da causa atribuída à sua doença;
 Proteção ambivalente: porque organizavam-se asilos
(isolar o doente do convívio social, para proteger a
sociedade);
 Asilamento + morte + tortura: formas de fazer
desaparecer o doente mental que provoca angústia e
hostilidade na sociedade.

2.5. ILUMINISMO – SÉCULO XVIII (1701)

 Progressos científicos;
 Descobertas fabulosas nas áreas de física, biologia,
química e medicina;

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 Doentes mentais não são mais torturados e mortos em
fogueiras, mas ainda a situação é angustiante. Quando
não eram hospitalizados, vagavam pelos campos ou pelas
ruas, onde eram maltratados e ridicularizados;
 Inglaterra, Hospital Bethelen, servia de local de passeio
para os londrinos. Tratamentos: eméticos, purgativos e
sangrias – ambiente deprimente.
 Paris: Hospitais: Salptrière e Bicêtre;
 1793 – Pinel, médico francês, autor do livro “Reflexão
sobre a vida monástica”, foi designado para dirigir o
Hospital Bicêtre. Ele solta os pacientes de suas algemas,
abre as janelas, dá-lhes alimentação nutritiva,
humanização, arruma-lhes empregos;
 Depois de Pinel, o paciente passou a ser olhado com
mais humanidade, a doença passou a ser vista como
fenômeno natural e já se pensava na possibilidade de
recuperar o doente mental;
 Esta época tem sido considerada a segunda etapa da
evolução da psiquiatria e talvez o primeiro passo para o
desenvolvimento de atividades de enfermagem
psiquiátrica – reconhecimento da importância do
treinamento específico para as pessoas responsáveis
pelos cuidados prestados aos doentes mentais, capazes
de verem os seres humanos necessitando de apoio, amor
e compreensão.

2.6. ERA MODERNA – SÉCULO XIX (1801)

 Kraeplin: classifica as doenças mentais;

 Modalidades de tratamento choque insulínico e


eletrochoque;

 Melhoras nos cuidados ao doente, porém ainda temos


atitudes de vigilância, desconfiança e medo;

 Surge Sigmund Freud, com suas importantes


descobertas sobre a mente humana, possibilitando assim

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a compreensão do indivíduo sadio e doente. Reflexo da
infância na vida adulta;

 1950: primeiros psicotrópicos - Amplicitl;

 1852: primeira instituição psiquiátrica no Brasil,


Hospício Pedro II – RJ;

 1890: nesse Hospício que, a partir da proclamação da


república passa a se chamar Hospício Nacional de
Alienados, surge a Escola Profissional de Enfermeiros.

2.7. ERA CONTEMPORÂNEA - HOJE

Atenção primária: promoção e prevenção das doenças.

Atenção secundária: Hospital Dia, CAPS, Centros de


Referência, Oficinas.

Atenção Terciária: Hospitais


Reabilitação Psicossocial

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3. NÍVEIS DE ASSISTÊNCIA E SERVIÇOS DE SAÚDE
MENTAL

3.1. PORTARIA 224 – JANEIRO DE 1992, QUE REGULA A


ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL

3.1.1. UNIDADE BÁSICA, CENTRO DE SAÚDE E


AMBULATÓRIO

Deve oferecer:

 Atendimento individual (consulta, psicoterapia, dentre


outros);

 Atendimento grupal (grupo operativo, terapêutico,


atividades socioterápicas, etc.);

3.1.2. NÚCLEO/CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL (CAPS


– NAPS)

São unidades de saúde locais/regionais, que contam com uma


população definida pelo nível local e que oferecem atendimento
de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a
internação integral.

3.1.3. HOSPITAL DIA

Representa um recurso intermediário entre a internação e o


ambulatório, que desenvolve programas de atenção de cuidados
intensivos por equipe multiprofissional.

3.1.4. SERVIÇO DE URGÊNCIA PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL


GERAL

Os serviços de urgência psiquiátrica em pronto socorros gerais,


funcionam diariamente durante 24 horas até 72 horas, com
equipe multiprofissional.

Objetivo: atendimento resolutivo e com qualidade dos casos de


urgência, evitando a internação hospitalar.

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3.1.5. LEITO OU UNIDADE PSIQUIÁTRICA EM HOSPITAL
GERAL

Objetiva oferecer uma retaguarda hospitalar para os casos em


que a internação se faça necessária, após esgotadas todas as
possibilidades de atendimento em unidades extra-hospitalares e
de urgência. Trabalho em equipe multiprofissional.

3.1.6. HOSPITAL ESPECIALIZADO EM PSIQUIATRIA

Entende-se como hospital psiquiátrico aquele cuja maioria de


leitos se destine ao tratamento especializado de clientela
psiquiátrica.

3.1.7. DISPOSIÇÕES GERAIS

 Está proibida a existência de espaços restritivos (celas


fortes);

 Deve ser resguardada a inviolabilidade da


correspondência dos pacientes;

 Deve haver registro adequado dos procedimentos


diagnósticos e terapêuticos nos pacientes.

3.2. FORMAS DE TRATAMENTO EM SAÚDE MENTAL

3.2.1. PSICOTERAPIA

É a forma de tratamento feita através de entrevistas, que usa


abordagem psicológica, partindo do princípio de que os
problemas e conflitos provêm de causas psíquicas internas. Pode
ser usada com clientes internados ou fora dos hospitais. Pode ser
individual ou me grupo.

3.2.2. TERAPIA DE FAMÍLIA

Tipo de tratamento que inclui o cliente e seus familiares. Trata-se


de uma terapia fundamental, pois geralmente a doença tem
muito a ver com as relações familiares.

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3.2.3. TERAPIA OCUPACIONAL

É um tratamento que oferece ao cliente a oportunidade de


exercitar maneiras mais criativas de se expressar, através da
pintura, desenho, modelagem, música, teatro, etc., bem como se
relacionar com os outros, tornar-se mais independente e
responsável.

3.2.4. TERAPIA PELO TRABALHO

É um outro tipo de tratamento, no qual o cliente exerce uma


atividade, mas cumpre horário, recebe salário. O efeito dessa
terapia já foi constatado, o cliente troca de papel de doente pelo
papel de cidadão inserido no mundo do trabalho.

3.2.5. TERAPIA MEDICAMENTOSA

Essa terapia faz parte de uma estratégia geral de intervenção e,


segundo o Ministério da Saúde, os medicamentos jamais devem
ser considerados como instrumento único ou isolado da terapia,
tanto em casos agudos como nos casos crônicos.

4. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)


O SUS foi aprovado na Constituição Federal e regulamentado
pela Lei Orgânica da Saúde, em dezembro de 1989.

4.1. PRINCÍPIOS DOUTRINÁRIOS DO SUS

4.1.1. UNIVERSALIDADE

É a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e


qualquer cidadão. Garantia de acesso a todos os serviços de
saúde. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo:
municipal, estadual e federal.

4.1.2. EQÜIDADE

É assegurar ações de todos os níveis, de acordo com a


complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde
morar, sem privilégios e sem barreiras. Todos cidadão é igual

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perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o
limite do que o sistema oferecer para todos.

4.1.3. INTEGRALIDADE

O homem é um ser biopsicossocial e deverá ser atendido com


essa visão, por um sistema de saúde também integral, voltado a
promover, proteger e recuperar sua saúde.

4.2. DIRETRIZES DO SUS

4.2.1. REGIONALIZAÇÃO E HIERARQUIZAÇÃO

Os serviços devem ser organizados em níveis de complexidade


tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada
e com definição da população atendida. O acesso da população à
rede deve se dar através dos serviços de nível primário de
atenção que deve estar qualificado para atender e resolver os
principais problemas de saúde da população a ser atendida.

4.2.2. RESOLUBILIDADE

Serviço capacitado para resolver problemas de sua competência.

4.2.3. DESCENTRALIZAÇÃO

É entendida como um redistribuição das responsabilidades


quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de
governo, a partir da idéia de que quanto mais perto do fato a
decisão for tomada, mais chance haverá de acerto –
municipalização da saúde.

4.3. CLASSIFICAÇÃO DOS SERVIÇOS SENGUNDO O


SUS

4.3.1. SERVIÇOS PRIMÁRIOS

Devem resolver 80% dos problemas de saúde.

 Centro de saúde;
 Pronto socorro;

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 Pronto atendimento.

4.3.2. SERVIÇOS SECUNDÁRIOS

Devem resolver 90% dos problemas de saúde.

 Hospital geral;
 Ambulatórios de especialidades.
4.3.3. SERVIÇOS TERCIÁRIOS

 Hospitais especializados;
 Hospitais de especialidades;
 Hospitais universitários.

5. OBSERVAÇÕES E ANOTAÇÕES DE ENFERMAGEM


PSIQUIÁTRICA

5.1. CARCTERÍSTICAS DA OBSERVAÇÃO

5.1.1. FINALIDADE

Toda observação é feita com uma finalidade, seja visando o bem-


estar do doente, seja visando ajudá-lo em sua recuperação. O
pessoal de enfermagem observa o paciente, suas reações, sua
conversa, seu modo de ser e depois registra o que observou.

5.1.2. OBJETIVIDADE

Uma observação tem valor quando mostra exatamente o que


aconteceu, sem julgamento e sem deixar que interfira a opinião
própria. Objetividade significa a existência real do ato,
independente das idéias do observador.

5.1.3. PLANEJAMENTO

De modo geral, a enfermagem tem muitas tarefas a executar e


precisa planejar cuidadosamente p seu tempo a fim de poder
dispensar a maior parte de seu tempo junto ao paciente. Uma

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observação bem feita só se consegue quando se convive com ele,
ouvindo o que ele tem a dizer.

5.2. COMO OBSERVAR

5.2.1. SIMPLES OBSERVADOR

É a atitude que toma o observador ao estar simplesmente


olhando o que acontece com o paciente. É uma boa atitude
quando o paciente não percebe que está sendo observado. Se o
paciente percebe, ele pode escolher o seu sintoma.

5.2.2. ENTREVISTADOR

É a atitude do observador quando faz perguntas com a finalidade


de conhecer alguma coisa do doente.

5.2.3. PARTICIPANTE-OBSERVADOR

De todas, é a melhor atitude. Enquanto o técnico está


trabalhando com o paciente, está observando.

5.3. O QUE OBSERVAR

 Aparência pessoal;
 Fluxo da linguagem;
 Ânimo, disposição e humor;
 Motricidade;
 Orientação em relação a si mesmo, ao tempo, ao espaço;
 Inter-relacionamento;
 Alimentação;
 Som.

5.4. POR QUE FAZER ANOTAÇÕES

Se as observações são feitas com a finalidade de ajudar os


pacientes a se recuperarem, é importante quês sejam
comunicados oralmente e por escrito.

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Todo detalhe do comportamento do sujeito, incluindo sua
aparência pessoal, é importante, pois demonstra se ele está
melhorando. Sendo um minucioso informe permanente dos
sintomas, atitudes e reações do paciente, as anotações são
valiosas para:

 auxiliar no diagnóstico;
 elaboração do projeto terapêutico individual (PTI);
 elaboração de trabalhos científicos;
 para fins legais.

5.5. O QUE ANOTAR

Todo comportamento do paciente e todas as suas reações ao


tratamento e ao ambiente.

5.6. O RELATÓRIO DE ENFERMAGEM

Não se anotam simplesmente as ocorrências, mas tudo que


aconteceu no decorrer do plantão.

Algumas situações são relatadas na hora em que ocorrem, devido


ao seu caráter legal: fuga, suicídios e acidentes.

5.6.1. CARACTERÍSTICAS DO RELATÓRIO

 Objetividade: descrever o que realmente aconteceu, o


que o paciente disse. Não anotar o que o profissional
pensa ou sente.
 Descritiva: não se utilizam anotações telegráficas do
tipo: paciente passou bem o dia; paciente sem queixa,
sem intercorrências.
 Conciso e completo: apesar de descritivo, deve conter
um resumo de tudo que foi visto, evitando-se repetições,
relatos longos e cansativos.
 Clareza: os relatos devem ser bem entendidos por quem
os lê. Português correto, com letra legível e sem rasuras.

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 Data, hora e assinatura: para que seja válida a
anotação, deve conter data, horário e assinatura de
quem a fez.

8. REGISTRO PSQUIÁTRICO
Deve desempenhar papel semelhante para o profissional de
saúde mental ao exame físico para o clínico geral; é a soma total
das observações e impressões do examinador.

8.1. HISTÓRIA PSIQUIÁTRICA

 Identificação
 Queixa principal
 História da doença atual
 História da doença anterior
 História familiar

8.2. EXAME PSÍQUICO

8.2.1. DESCRIÇÃO GERAL

 Aparência: postura (movimentos de corpo e membros),


vestimenta, modo como se arruma, estado de higiene
corporal.

 Comportamento: coopera, é defensivo, é franco, medroso,


hostil, atento. É de se esperar uma certa ansiedade
inicial.

 Fala: rápida, lenta, aflitiva, emotiva, alta, indistinta.

8.2.2. CONSCIÊNCIA

Estado de percepção: pessoa, tempo e lugar.

 Orientado

- Auto: em relação a ele próprio;

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- Alo: em relação ao espaço, tempo e lugar.

 Confusão: distúrbio da orientação em relação a pessoa,


tempo e lugar.

 Atenção: esforço exercido para focalizar certas partes de


uma experiência.

 Distração: incapacidade de concentrar-se.

8.2.3. AFETO

Tonalidade dos sentimentos emocionais

 Afeto inadequado: desarmonia entre afeto e a ideação.


 Afeto prazeroso:

- Euforia: sentimento elevado de bem estar.

- Elevação: ar de confiança e alegria associados


com aumento da atividade motora.

- Exaltação: elevação intensa com sentimentos de


grandeza.

 Afeto desprazeroso

- Depressão: sentimento patológico de melancolia.

- Dor ou luto: tristeza apropriada de uma perda


real.

 Outros afetos:

- Ansiedade: sentimento de apreensão devido a


conflitos inconscientes.

- Medo: sentimento diante de perigos reais e


conscientes reconhecidos.

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- Apatia: tonalidade emocional monótona
associado com desligamento ou indiferença.

- Ambivalência: existência de dois impulsos


contrários frente à mesma coisa, na mesma
pessoa e ao mesmo tempo.

- Agressão: forte ação objetiva que pode ser verbal


ou física, e que é a reprodução motora do afeto
de raiva, cólera ou hostilidade.

 Comportamento motor:

- Capacidade de iniciar ação ou descarga motora


referentes às impulsões básicas de uma pessoa
quando expressa através de seu comportamento.
- Estereotipia: repetição contínua da fala ou
atividade física.
- Negativismo: freqüente oposição a sugestões.
- Hiperatividade: atividade impulsiva, agressiva,
destrutiva.
- Hipoatividade: diminuição ou retardo de
atividades, funcionamento psicológico e físico
lentos.
 Pensamento

Fluxo de idéias , símbolos e associações objeto-dirigidas (têm


uma finalidade), iniciadas por um problema ou tarefa e
conduzido para uma conclusão orientada para a realidade.

- Fuga de idéias: verbalizações rápidas de maneira


que há troca de uma idéia por outra.

- Delírio: falsa crença, não compatível com as


inteligência e a formação cultural do paciente
que não pode ser corrigida pelo raciocínio.

- Delírio de grandeza: concepção exagerada da


própria importância.

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- Delírio de perseguição: crença falsa de estar
sendo perseguida.

- Delírio de referência: falsa crença de que o


comportamento dos outros refere-se ao próprio
comportamento.

- Delírio de controle: sentimento enganoso de ser


controlado pelos outros.

- Delírio de infidelidade: crença enganosa que a


pessoa amada é infiel.

- Delírio paranóide: desconfiança excessiva.

- Hipocondria: preocupação exagerada com a


própria saúde, que não está baseada em real
patologia orgânica.

- Obsessão: persistência patológica de


pensamento, sentimento ou impulso irresistível
que não pode ser eliminado da consciência pelo
esforço lógico.

- Fobia: medo exagerado invariavelmente


patológico, de algum tipo específico de estímulo
ou situação.

 Percepção:

Conscientização de objetos e relações que obedecem a


estimulação dos órgãos periféricos dos sentidos.

- Alucinação: percepção sensorial enganosa


que não estão associadas com estímulos
reais externos:

 Auditivas: falsa percepção auditiva

 Visual: falsa percepção visual

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 Olfativa: falsa percepção olfativa.
 Gustativa: falsa percepção do paladar
 Gustativa: falsa percepção táctil

- Ilusão:percepção sensorial contrária à


realidade provinda de estímulos sensoriais
externos e reais.

 Memória

Função pela qual as informações armazenadas no cérebro são


mais tarde chamadas à consciência.

- Amnésia: incapacidade total ou parcial para


relembrar experiências passadas.

- Confabulação: lacunas na memória,


inconscientemente preenchidas por
experiências fantasiadas os falsas nas quais
o paciente acredita, mas que na verdade não
têm fundamento.

 Inteligência

Capacidade de compreender, recordar, mobilizar e integrar


conhecimentos anteriores ao encontrar novas situações.

- Retardo mental: falta de inteligência num


grau no qual há interferência no
desempenho social e vocacional.

- Demência: perda orgânica da função mental.

9. ATITUDES BÁSICAS NO RELACIONAMENTO COM


O USUÁRIO

9.1. INTRODUÇÃO

Não é fácil encontrar um padrão de atitudes gerais que atenda as


diversas necessidades e exigências, pois cada ser humano é
único.

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Faz-se necessário desenvolver a nossa observação em relação as
ações do usuário para podermos fazer uma leitura do seu estado
com objetivo de trazer o alívio e melhora de seu sofrimento.

9.2. NÓS

Cada membro da equipe, qualquer que seja o papel que


desempenha nela, deve e pode desenvolver uma atitude solidária
e efetiva. cuidando da pessoa e não do sintoma.

Atitude carinhosa e segura para cada usuário de maneira que


desde o primeiro momento ele se sinta aceito, reconhecido como
sujeito, para que possa confiar na pessoa, na equipe e no serviço.

Respeito para com a experiência diferente do usuário, ainda que


não consiga compreende-la, explicá-la, modificá-la. Consciência
da falta de poder do usuário. Tentar devolver sua dignidade.

9.3. PACIENTE ISOLADO E SILENCIOSO

 O paciente que se isola é aquele que encontramos pelos


cantos do hospital ou do pátio, sozinho e sem conversar com
ninguém.
 Pode ser utilizado pelo paciente face as aIucinações ou idéias
de perseguição, por sentimento de medo, ou por uma
dificuldade de relacionar-se com o mundo externo.
 Ele necessita de uma atenção especial e não tolera contatos
prolongados e profundos.
 Sendo assim, os contatos devem ser frequentes e de curta
duração.
 Tipos de perguntas usadas no contato:
- Como passou a noite...
- Se almoçou bem...
- Se deseja alguma coisa.

 Estimular com tarefas simples, até que ele descubra a


satisfação de realizar alguma coisa útil.

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9.4. O PACIENTE QUE CHORA

9.4.1. POR QUE CHORA?

 Por depressão
 Por razões externas
 Saudade da família
 Por ter sido magoado por alguém
 Por não aceitar a internação
 Por sentir desconforto físico
 Por alguma frustração, etc...
 É importante permitir que chore,
9.4.2. O QUE FAZER?

 Conversar com ele sobre as causas do choro


 Eliminar as causas possíveis
 Ajuda necessária para enfrentar a situação.

9.5. O PACIENTE DEPRIMIDO

É aquele que está sempre se lamentando da vida, sente-se


culpado por todas as coisas erradas, chora muito e toda sua
aparência é de tristeza.

 Este paciente desperta em nós muita pena e ansiedade.


 Saber que este quadro é resultante de sua doença, com
isso, auxilia a evitar atitudes de piedade.
 Para estabelecer esta relação é importante ouvir suas
queixas.
 Dar-Ihe mais atenção.
 Estimular atividades e grupos de apoio, para que ele não
se ISOLE na sua doença.
 Apoiar e mostrar Os aspectos mais valorizados das

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atividades.
 Observar risco de suicídio, mostrando desejo de morrer.
 Conversar, convidá-lo para um jogo (TO) ajudá-lo a
escolher urna atividade.
 Vigilância constante e discreta.
 Não deixá-lo sozinho, não como fiscal, mas ajudando,
uma presença amiga.

9.6. PACIENTE QUE PERMANECE INCOMUNICÁVEL E


ESTÁTICO

 Pode ser um paciente psicótico, que no consegue


comunicar-se e nem se mexer.
 Pode permanecer horas em uma mesma posição, sem se
alimentar, repousar, sem contato com o mundo exterior.
 Se estiver deitado, não muda de posição podendo reter
eliminações.
 Não reage diante de qualquer perigo.
 Não responde aos estímulos.
 Necessita de um cuidado de MATERNAGEM uma
mistura de cuidados maternos e de Enfermagem.
 Pode desenvolver problemas clínicos como: edemas,
infeções pulmonares, infecções renais, fecalomas,
escaras, problemas circulatórios, desnutrição,
desidratação.
 Pode ficar exposto ao frio, chuva, sol em demasia,
acidentes e perigos em geral.
 Apesar de incomunicável está consciente.

É preciso conversar muito com ele, mostrando a ele que você o


ajudará a fazer o que ele não consegue.

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9.6.1. CUIDADOS DE ENFERMAGEM

 Higiene e conforto
 Mudança de decúbito
 Não permitir que fique muito tempo em pé
 Propiciar repouso e abrigo adequados
 Protegê-lo dos riscos e perigos em geral
 Observar sua alimentação e hidratação
 Observar eliminações
 Qualquer procedimento deverá ser feito com muito
cuidado, explicando com clareza ao paciente o que será
feito e porque, a fim de que ele não se assuste ainda
mais.

9.7. PACIENTES QUE DIZEM COISAS SEM SENTIDO

 Falam de maneira tão confusa e atrapalhada, tornando-


se difícil a entendê-los.
 Frases sem conexão. Sem sentido, usando palavras que
não existem.
 É importante dizer a ele que estamos tendo dificuldade
em atendê-lo...
 Repetindo o que disse com mais clareza.
 É preciso ter paciência e não esperar que ele mude
rapidamente.
 Ouvi-lo com cuidado e tranqüilidade tentando captar a
MENSAGEM CENTRAL, do que está querendo
comunicar.

9.8. PACIENTE EXIGENTE

 As exigências podem estar relacionados com seus


sintomas ou com os hábitos e costumes da sua vida
particular.
 Suas exigências tenderão a diminuir a medida que o

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paciente receber a atenção que está buscando ou quando
se sentir mais seguro e protegido.
 Na medida do possível atendê-lo em suas necessidades.
 As necessidades que não forem atendidas, explicar ao
paciente a razão do não atendimento.

9.10. O PACIENTE DESCONFIADO

 Mostra-se assustado e com medo;


 Sentimenos que alguém possa estar prejudicando ou
tentando matá-lo;
 Acha que tem veneno na comida, ou tramando alguma
coisa contra ele.
 É importante saber que idéias e fantasias não irão
modificar argumentos lógicos, como por ex.:
experimentar a comida na presença do paciente;
 Mostrar-Ihe que podemos compreender a sua angústia;
 Conquistar a confiança do paciente;
 Ouvi-lo sem críticas e incentivá-lo para tarefas.

9.11. O PACIENTE MUITO ATIVO E EUFÓRICO

 Paciente esta sempre em atividade, Caminhando muito,


iniciando muitas tarefas sem concluir nenhuma.
 Falando 0 tempo todo, orando, cantando e rindo, as
vezes agitado e agressivo.
 Mostrando de uma outra maneira a sua doença.
 A primeira atitude e aceita-lo, não exigindo que
modifique seu comportamento.
 Permitir que extravase sua energia através de jogos,
danças, ginásticas, tarefas
 As tarefas devem ser dirigidas para que se consiga
concluir urna antes de começar outra.
 Observar seu sono, pois e difícil permanecer deitado.
 Se persistir essa excitação, comunicar 0 medico para
urna possível revisão medica de sua medicação sedativa.

Saúde Mental
27
9.12. PACIENTE REGRESSIVO

 Geralmente nos causa certa perplexidade pela sua


conduta bizarra e fora do comum.
 Ele pode sentar-se no chão, tirar a roupa, comer lixo,
apresentar eliminações em qualquer lugar, interrompe o
diálogo com comentários incoerentes e desligado do
assunto.
 Esta conduta e observada em paciente com deficiência
grave e profunda.
 Com pacientes dementes por senilidade, epilepsia,
alcoolismo e outras causas.
 Adotar urna conduta de paciência perante essas
manifestações, pois e através deste comportamento que
ele esta pedindo para atender as suas necessidades.
 Paciente na sua fantasia, acha que volta a ser um
"BEBÊ", e' a única forma de receber atenção necessária e
estar protegido de perigos e ameaças.

9.13. O PACIENTE AGRESSIVO

 O paciente pode mostrar sua agressividade de diversas


maneiras.
 Ameaçando agredir outros paciente ou alguém da equipe.
 As agressões podem ser: verbais, destruição de objetos,
agressão física.
 Ele é agressivo por alguma razão interna ou externa.
 Por não sentir-se compreendido ou não atendido em
suas necessidades.
 Por sofrer alguma agressão física ou verbal de algum
paciente.
 Por sentir-se agredido por alguém da equipe que não
soube abordá-lo adequadamente.
 Ele torna-se agressivo por razões internas, mostrando
assim sua ansiedade e os sintomas de sua doença.
 Pode estar sentindo-se perseguido, sendo assim projeta

Saúde Mental
28
no mundo externo as suas dificuldades.
 A principal dificuldade que defrontamos é o medo.
 É necessário identificar e enfrentar este sentimento
(Medo) para ajudar no tratamento do paciente,
melhorando a relação entre ambos.
 Adotar uma postura de tranqüilidade e buscando as
causas dessa agressividade, certamente irão ajudar a
tranqüilizar o paciente.
 Se as causas forem reais, é preciso eliminá-las.
 Se forem internas e fruto da fantasia do paciente é
necessário um confronto com a realidade.
 Quando a agressividade do paciente deixa de ser verbal
passando a ser agressão física, indica que seu controle
interno deixou de funcionar e é necessário acionar os
controles externos; um grupo segurando o paciente,
tentando não machucá-lo e um da equipe explica para
ele o que está acontecendo, tentando trazê-lo à realidade,
retornando à sua consciência, deixando claro que
ninguém quer machucá-lo ou destruí-lo.
 Sedação será feita se for necessário.
 A restrição física também será realizada se for
necessário.

9.14. PACIENTE ENVOLVENTE E QUE ESTÁ SEMPRE


ROMPENDO AS NORMAS DA COMUNIDADE

 Ele adota sempre uma atitude hostil e agressiva


manifestada através de seu comportamento sedutor e
anti-social.
 Certos comportamentos como roubos, atuações sexuais,
rompimento de combinações, horários, tarefas, uso de
objetos etc.
 Adota essa atitudes para tentar desintegrar a equipe,
gerando brigas e desentendimentos, podem usar drogas e
álcool.
 Têm pouca tolerância às frustrações e está sempre
agindo instintivamente.

Saúde Mental
29
 Ele não sente nenhuma culpa pelo que faz e causa aos
outros ao seu redor.
 Exerce influência negativa sobre os outros pacientes,
gerando um clima de ansiedade e deve ser interferido
logo para não causar outros transtornos.
 Apesar desta atitude ele é inseguro e frágil, através de
seu comportamento está pedindo para traçarmos limites
necessários para modificá-lo.
 Será necessário estabelecer limites, sendo o que é
permitido e o que não é permitido.
 Ele poderá adotar uma atitude de sedutor e envolvente,
despertando em nós um sentimento de lisonjeamento e
confundir o tratamento.
 Ele poderá ter um comportamento de agredir nossos
princípios éticos e sociais.
 Ou persistir em um comportamento agressivo.
 Não esquecer que ele é doente e necessita de ajuda.
 Ter em mente que sua recuperação é lenta e dependerá
de nossa constância e aceitação das combinações para
seu tratamento.

9.15. PACIENTE SEDUTOR QUE DRAMATIZA MUITO E


DESMAIA COM FREQUÊNCIA

 Todo paciente psiquiátrico necessita de muita atenção e


afeto pela sua fragilidade e por ter sua afetividade muito
comprometida.
 Ela busca diversas formas para diminuir a suas
dificuldades e geralmente esta busca é inadequada.
 Paciente faz um drama em torno do menor problema e
de mínimas frustrações.
 Da mesma forma exagera nas expressões de alegria e de
sucesso.
 Nos relatos de suas vivências e descrições de suas
qualidades.

Saúde Mental
30
 Quando fica muito ansioso ou alguma dificuldade maior,
tem crise de desmaio que pode assemelhar-se a crises
epilépticas.
 Sua atitude é sedutora com relação ao sexo oposto.
 Na irritação pode ficar fora de si, quebrando objetos,
gritando muito e até agredindo pessoas.
 Estabelecer a diferença entre realidade e os sentimentos
que vivência.
 Com relação ao desmaio, ele só desmaia na presença de
outras pessoas, escolhe o lugar para cair, suas pálpebras
piscam, seus reflexos são normais, quando passa à crise
é capaz de relatar o que ocorreu durante a crise.
 Saber se o paciente adota essa atitude porque está
doente, para sanar suas dificuldades.
 Tentar trazê-lo para a realidade e detectar as causas que
o levaram a adotar.

9.16. PACIENTE SUICIDA

 Tratá-lo com respeito, serenidade e com limites.


 Evitar discussões ou ordens autoritárias.
 Afastar os objetos irritantes do paciente.
 Providenciar meios terapêuticos para canalizar sua
energia ( habilidades manuais).
 Auxiliar e incentivar a higienização e aparência pessoal.
 Bom humor da equipe terá influência benéfica ao
paciente.
 Estimular seu lado positivo, conversando.
 Controlar e evitar possíveis fugas.
 Providenciar ambiente adequado.
 Não forçar a tomada de decisão, não apressando-o
desnecessariamente.
 Estimular atividades e sociabilidade.
 Aparência pessoal e higiene melhoram a auto-estima.
 Aliviar sentimentos de culpa, através de atividades
construtivas.

Saúde Mental
31
 Encorajar e conquistar confiança do paciente.
 Estimular exercícios físicos.
 Observar sinais clínicos como: constipação,
extremidades frias, hipotensão.
 Estar atento para o risco de suicídio.
 Anotar em prontuário.
 Comunicar anormalidades à equipe.

6. NEUROSE E PSICOSE

6.1. PSICOSE

Perda do sentido ou incapacidade de distinguir entre as


experiências reais e imaginárias.

Há uma desintegração, isto significa que tais quadros são


caracterizados por uma ruptura no interior do indivíduo, que
passa a viver uma separação entre si mesmo e a realidade, de
forma muito significativa.

As psicoses classifica-se em:

 Psicoses orgânicas;
 Psicoses esquizofrênicas;
 Psicoses afetivas.

No caso da esquizofrenia, as alterações das relações familiares


assumem um papel muito importante.

Os estudos sugerem que no caso das psicoses afetivas são


determinantes as alterações bioquímicas dos
neurotransmissores. Característica de quase todos os
transtornos mentais é a presença do sintoma ansiedade, o qual
assume papéis diferentes segundo cada tipo de enfermidade.

A insônia pode, de acordo com a gravidade do caso, ser um


sintoma presente nessas doenças.

Saúde Mental
32
A depressão pode ser parte de uma sintomatologia neurótica,
assim como uma manifestação (a principal) de uma psicose
afetiva ou sintoma de uma demência (psicose orgânica).

As oligofrenias e psicoses orgânicas não são necessariamente


consideradas primariamente quadros psiquiátricos.

6.1.1. ESQUIZOFRENIA

 Não existe nenhum acordo no que se refere às causas


fundamentais desta doença.

 Muitos casos seguem com curso crônico.

 Acomete com freqüência adultos jovens e pode provocar


grave incapacidade no período mais criativo e produtivo
da vida de uma pessoa.

Aspectos clínicos

 Aspectos essenciais:

- Pensamento: em aparência bizarra, ilógica,


caótica.

- Delírio: uma falsa crença. Ex.: o FBI está atrás


de mim.

- Autismo: o paciente está preocupado com idéias


derivadas de imaginação e de fantasia.
Aumentando este sintoma, ocorre uma
interferência no relacionamento e na percepção
da realidade.

- Afetividade: respostas emocionais podem ser


inadequadas ao conteúdo do pensamento.
Humor pode incluir indiferença, embotamento
afetivo, frivolidade.

- Ambivalência: sentimentos,atitudes, desejos


contraditórios em relação a um dado objeto,

Saúde Mental
33
pessoa ou situação (ex.: ama e odeia a mesma
pessoa ao mesmo tempo).

- Alucinação: auditivas (ouvir a voz de Deus),


visuais (ver anjos), táteis (formigas andando no
corpo), gustativas (gosto ruim), olfativas (mau
cheiro).

 Aspectos associados:

- Ilusão: interpretação deformada de um estimulo


sensorial real. Ex.: mancha no teto - aranha que
desce em direção ao paciente.
- Idéias de referência: uma inquietante impressão
de que as conversas e gestos de outras pessoas
se referem a si próprio;
- Despersonalização: sentimento de estar separado
da sua própria personalidade;
- A consciência é clara e a capacidade intelectual
usualmente está mantida.

Tipos de esquizofrenias

 Simples

- Redução do interesse no relacionamento humano


e com o mundo exterior;
- Empobrecimento, apatia e indiferença;
- Pouco freqüente: delírio e alucinação;
- Regressão.

 Hebefrênica

- Inacessível nas relações com as outras pessoas,


permanece mais isolado;
- Afeto superficial e inadequado;
- Riso sem motivo aparente.

Saúde Mental
34
 Catatônica

- Diminuição marcante da reação ao meio ambiente e


da atividade espontânea: o estupor catatônico (pode
ter uma agitação psicomotora);
- Apatia;
- Não tem expressão afetiva;
- Autismo.

 Paranóide

Delírios (geralmente persecutórios) alucinações;


Hostilidade;
Frieza emocional.

 Esquizo afetiva

Distúrbio do pensamento, do afeto e do comportamento;


Perda do contato com a realidade;
Comportamento bizarro.

Tratamento

 Hospitalização no quadro agudo;

 Medicação: antipsicóticos. Existem vários, o mais indicado é


o Amplictil por que ele tem efeito sedativo também;

 Abordagem em grupo: confrontação com a realidade,


participação do paciente nas tomadas de decisão do próprio
tratamento e dos outros, encorajamento da auto confiança e
gratificação dos esforços positivos;

 Abordagem individual: idem anterior;

 Reabilitação: é uma tentativa de disciplinar o paciente ao


ambiente, procurando equilibrar ou minimizar as
dificuldades, aproveitando as quantidades do paciente e
desenvolver ou redesenvolver as qualidades suas
habilidades.

Saúde Mental
35
Cuidados de enfermagem

 Tentar contato delicadamente a partir de algo que o


interesse, mas sem forçá-lo a responder;
 Propor algum tipo de artesanato;
 Administração dos medicamentos, observar efeitos
colaterais;
 Sinais vitais diários;
 Estimular a higiene;
 AVD.

6.1.2. ESTADOS PARANÓIDES

 Persistentes delírios persecutórios ou de equipe que não


podem ser explicados por outras perturbações
psiquiátricas;
 São delírios logicamente desenvolvidos e bem
sistematizados;
 É uma defesa contra a desintegração do ego;
 O indivíduo é capaz de atuar de modo relativamente
normal, mantém suas atividades.

Tratamento

 Hospitalização no quadro agudo;


 Medicação: tranqüilizante maior – Amplictil até
300mg/dia;
 Atendimento psicoterápico.

6.1.3. TRANSTORNO BIPOLAR DO HUMOR (PSICO MANÍACO-


DEPRESSIVA)

Sinônimos

Psicose maníaco-depressiva, transtorno ou doença afetivo


bipolar, incluindo tipos específicos de doenças ou transtornos do
humor, como ciclotimia, hipomania e transtorno misto do
humor.

Saúde Mental
36
O que é a doença bipolar do humor

Até bem pouco tempo conhecida como psicose maníaco-


depressiva, a doença bipolar do humor é caracterizada por
períodos de um quadro depressivo, geralmente de intensidade
grave, que se alternam com períodos de quadros opostos à
depressão, isto é, a pessoa apresenta-se eufórica, com muitas
atividades, às vezes fazendo muitas compras ou efetuando gastos
financeiros desnecessários e elevados, com sentimento de
onipotência, quase sempre acompanhados de insônia e falando
muito, mais que seu habitual. Esse quadro é conhecido como
mania. Tanto o período de depressão quanto o da mania podem
durar semanas, meses ou anos. Geralmente a pessoa com essa
doença tem, durante a vida, alguns episódios de mania e outros
de depressão. É importante ficar claro que mania, no sentido
médico, é diferente de mania para o leigo, significando para este
hábitos que a pessoa sempre repete.

O que causa a doença bipolar do humor

A base da causa para a doença bipolar do humor não é


inteiramente conhecida, assim como não o é para os demais
distúrbios do humor. Sabe-se que os fatores biológicos (relativos
a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos
somam-se no desencadeamento da doença. Em geral, os fatores
genéticos e biológicos podem determinar como o indivíduo reage
aos estressores psicológicos e sociais, mantendo a normalidade
ou desencadeando doença. O transtorno bipolar do humor tem
uma importante característica genética, de modo que a tendência
familiar à doença pode ser observada.

Como se manifesta a doença bipolar do humor

O mais chamativo da doença bipolar do humor são os episódios


de mania que podem alternar-se, geralmente ao longo dos anos,
com a depressão. Os episódios começam a manifestar-se em
geral por volta dos 15 a 25 anos de idade, com muitos casos de
mulheres podendo ter início entre os 45 e 50 anos. A freqüência
em homens e mulheres, contudo, é a mesma.

Saúde Mental
37
A pessoa apresentando o quadro de mania mostra um humor
anormal e persistentemente elevado, expansivo, excessivamente
eufórico e alegre, às vezes com períodos de irritação e explosões
de raiva, contrastando com um período de normalidade, antes da
doença manifestar-se. Além disto, há uma auto-estima grandiosa
(com a pessoa sentindo-se poderosa e capaz de tudo), com
necessidade reduzida de dormir (a pessoa dorme pouco e sente-
se descansada), apresentando-se muito falante, às vezes dizendo
coisas incompreensíveis (pela rapidez com que fala), não se
fixando a um mesmo assunto ou a uma mesma tarefa a ser feita.

De que outras formas a doença bipolar do humor pode se


manifestar

Existem três outras formas através das quais a doença bipolar do


humor pode se manifestar, além de episódios bem definidos de
mania e depressão.

Uma primeira forma seria a hipomania, em que também ocorre


estado de humor elevado e expansivo, eufórico, mas de forma
mais suave. Um episódio hipomaníaco, ao contrário da mania,
não é suficientemente grave para causar prejuízo no trabalho ou
nas relações sociais, nem para exigir a hospitalização da pessoa.

Uma segunda forma de apresentação da doença bipolar do


humor seria a ocorrência de episódios mistos, quando em um
mesmo dia haveria a alternância entre depressão e mania. Em
poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, sentindo-se sem
valor e sem esperança, e no momento seguinte estar eufórica,
sentindo-se capaz de tudo, ou irritada, falante e agressiva.

A terceira forma da doença bipolar do humor seria aquela


conhecida como transtorno ciclotímico, ou apenas ciclotimia, em
que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor,
marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e
numerosos períodos com sintomas depressivos, que se
alternariam. Tais sintomas depressivos e maníacos não seriam
suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente
para se ter certeza de se tratar de depressão e de mania,
respectivamente. Seria, portanto, facilmente confundida com o
jeito de ser da pessoa, marcada por instabilidade do humor.

Saúde Mental
38
Como se diagnostica a doença bipolar do humor

O diagnóstico da doença bipolar do humor deve ser feito por um


médico psiquiátrico baseado nos sintomas do paciente. Não há
exames de imagem ou laboratoriais que auxiliem o diagnóstico. A
dosagem de lítio no sangue só é feita para as pessoas que usam
carbonato de lítio como tratamento medicamentoso, a fim de se
acompanhar a resposta ao remédio.

Como se trata a doença bipolar do humor

O tratamento, após o diagnóstico preciso, é medicamentoso,


envolvendo uma classe de medicações chamada de
estabilizadores do humor, da qual o carbonato de lítio é o mais
estudado e o mais usado. A carbamazepina a oxcarbazepina e o
ácido valpróico também são mostram eficazes. Um
acompanhamento psiquiátrico deve ser mantido por um longo
período, sendo que algumas formas de psicoterapia.

6.3. NEUROSES

Na raiz dos distúrbios neuróticos reside um conflito que numa


pessoa se origina quando, contraditoriamente surgem duas
tendências de importância vital incompatíveis e sob a pressão de
uma decisão. Um indivíduo pode ao mesmo tempo desejar e
rejeitar (ambivalência). Ex.: conflito entre desejo instintivo e
exigências do meio ambiente; um indivíduo pode pretender uma
mudança, mas ao mesmo tempo temê-la por causa das
adaptações e exigências necessárias, etc.

Freud formulou assim: “o conflito original é aquele que existe


entre os instintos de conservação do ego e os impulsos sexuais”,
ou, em outro contexto “entre libido e ego..., entre id e ego, mas
também superego e ego”.

Onde:

ID – princípio do prazer: o recém-nascido espera que satisfaçam


instantaneamente cada uma de suas necessidades e desejos.

EGO – princípio de realidade: pouco a pouco a criança começa a


interagir e a perceber que deve adaptar suas necessidades às dos

Saúde Mental
39
outros. E, que nem sempre as coisas acontecerão conforme seus
desejos.

SUPEREGO – Consciência: certo e errado, o bom e o mau, o sim


e o não, valores, regras, padrões culturais e costumes do
ambiente onde vive.

As neuroses são distúrbios menos graves na sua evolução, sem


desintegração da personalidade nem perda da adaptação à
realidade. Na maioria das vezes manifestam-se por determinados
sintomas clínicos e queixas complexas, porém esta delimitação é
imprecisa.

 Socialmente: é uma desordem menos grave, o


ajustamento social, vocacional e sexual é freqüentemente
alterado, mas via de regra não é impedido.
 Etiologicamente: é provado por fatores psicológicos.
 Descritivamente: envolve uma redução da eficiência, uma
desorganização muito menor das funções da
personalidade.
 Clinicamente: não tem delírio e alucinação.
 Sintomas: incluem conversão, obsessões, compulsões,
fobias.
 Dinamicamente: há uma perda parcial da força do ego.
 Há uma tentativa de lidar com os conflitos por supressão
(impedir que apareça) e repressão(conter).

6.4. DEPRESSÃO

6.4.1. SINÔNIMOS

Transtorno depressivo, depressão maior, depressão unipolar,


incluindo ainda tipos diferenciados de depressão, como
depressão grave, depressão psicótica, depressão atípica,
depressão endógena, melancolia, depressão sazonal.

6.4.2. O QUE É A DEPRESSÃO

Depressão é uma doença que se caracteriza por afetar o estado


de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio anormal de

Saúde Mental
40
tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres, de qualquer faixa
etária, podem ser atingidas, porém mulheres são duas vezes
mais afetadas que os homens. Em crianças e idosos a doença
tem características particulares, sendo a sua ocorrência em
ambos os grupos também freqüente.

6.4.3. COMO SE DESENVOLVE A DEPRESSÃO

Na depressão como doença (transtorno depressivo), nem sempre


é possível haver clareza sobre quais acontecimentos da vida
levaram a pessoa a ficar deprimida, diferentemente das reações
depressivas normais e das reações de ajustamento depressivo,
nas quais é possível localizar o evento desencadeador.

As causas de depressão são múltiplas, de maneira que somadas


podem iniciar a doença. Deve-se a questões constitucionais da
pessoa, com fatores genéticos e neuroquímicos
(neurotransmissores cerebrais) somados a fatores ambientais,
sociais e psicológicos, como:

 estresse,
 estilo de vida,
 acontecimentos vitais: crises e separações conjugais,
morte na família, climatério, crise da meia-idade, entre
outros.

6.4.4. COMO SE DIAGNOSTICA A DEPRESSÃO

Na depressão a intensidade do sofrimento é intensa, durando a


maior parte do dia por pelo menos duas semanas, nem sempre
sendo possível saber porque a pessoa está assim. O mais
importante é saber como a pessoa sente-se, como ela continua
organizando a sua vida (trabalho, cuidados domésticos, cuidados
pessoais com higiene, alimentação, vestuário) e como ela está se
relacionando com outras pessoas, a fim de se diagnosticar a
doença e se iniciar um tratamento médico eficaz.

6.4.5. O QUE SENTE A PESSOA DEPRIMIDA

Freqüentemente o indivíduo deprimido sente-se triste e


desesperançado, desanimado, abatido ou " na fossa ", com "

Saúde Mental
41
baixo-astral ". Muitas pessoas com depressão, contudo, negam a
existência de tais sentimentos, que podem aparecer de outras
maneiras, como por um sentimento de raiva persistente, ataques
de ira ou tentativas constantes de culpar os outros, ou mesmo
ainda com inúmeras dores pelo corpo, sem outras causas
médicas que as justifiquem. Pode ocorrer também uma perda de
interesse por atividades que antes eram capazes de dar prazer à
pessoa, como atividades recreativas, passatempos, encontros
sociais e prática de esportes. Tais eventos deixam de ser
agradáveis. Geralmente o sono e a alimentação estão também
alterados, podendo haver diminuição do apetite, ou mesmo o
oposto, seu aumento, havendo perda ou ganho de peso. Em
relação ao sono pode ocorrer insônia, com a pessoa tendo
dificuldade para começar a dormir, ou acordando no meio da
noite ou mesmo mais cedo que o seu habitual, não conseguindo
voltar a dormir. São comuns ainda a sensação de diminuição de
energia, cansaço e fadiga, injustificáveis por algum outro
problema físico.

6.4.6.COMO É O PENSAMENTO DA PESSOA DEPRIMIDA

Pensamentos que freqüentemente ocorrem com as pessoas


deprimidas são os de se sentirem sem valor, culpando-se em
demasia, sentindo-se fracassadas até por acontecimentos do
passado. Muitas vezes questões comuns do dia-a-dia deixam os
indivíduos com tais pensamentos. Muitas pessoas podem ter
ainda dificuldade em pensar, sentindo-se com falhas para
concentrar-se ou para tomar decisões antes corriqueiras,
sentindo-se incapazes de tomá-las ou exagerando os efeitos
"catastróficos" de suas possíveis decisões erradas.

6.4.7. PENSAMENTOS DE MORTE OU TENTATIVAS DE


SUICÍDIO

Freqüentemente a pessoa pode pensar muito em morte, em


outras pessoas que já morreram, ou na sua própria morte.
Muitas vezes há um desejo suicida, às vezes com tentativas de se
matar, achando ser esta a " única saída " ou para " se livrar " do
sofrimento, sentimentos estes provocados pela própria
depressão, que fazem a pessoa culpar-se, sentir-se inútil ou um
peso para os outros. Esse aspecto faz com que a depressão seja
uma das principais causas de suicídio, principalmente em

Saúde Mental
42
pessoas deprimidas que vivem solitariamente. É bom lembrar
que a própria tendência a isolar-se é uma conseqüência da
depressão, a qual gera um ciclo vicioso depressivo que resulta na
perda da esperança em melhorar naquelas pessoas que não
iniciam um tratamento médico adequado.

6.4.8. SENTIMENTOS QUE AFETAM A VIDA DIÁRIA E OS


RELACIONAMENTOS PESSOAIS

Freqüentemente a depressão pode afetar o dia-a-dia da pessoa.


Muitas vezes é difícil iniciar o dia, pelo desânimo e pela tristeza
ao acordar. Assim, cuidar das tarefas habituais pode tornar-se
um peso: trabalhar, dedicar-se a uma outra pessoa, cuidar de
filhos, entre outros afazeres podem tornar-se apenas obrigações
penosas, ou mesmo impraticáveis, dependendo da gravidade dos
sintomas. Dessa forma, o relacionamento com outras pessoas
pode tornar-se prejudicado: dificuldades conjugais podem
acentuar-se, inclusive com a diminuição do desejo sexual;
desinteresse por amizades e por convívio social podem fazer o
indivíduo tender a se isolar, até mesmo dificultando a busca de
ajuda médica.

6.4.9. COMO SE TRATA A DEPRESSÃO

O tratamento médico sempre se faz necessário, sendo o tipo de


tratamento relacionado à intensidade dos problemas que a
doença traz. Pode haver depressões leves, com poucos aspectos
dos problemas mostrados anteriormente, ou pode haver
depressões bem mais graves, prejudicando de forma importante
a vida do indivíduo. De qualquer forma, depressões leves ou mais
graves necessitam de tratamento médico, geralmente
medicamentoso (com medicações antidepressivas), ou
psicoterápico, ou a combinação de ambos , de acordo com a
intensidade da doença e a disponibilidade dos tratamentos.

6.5. DISTIMIA - ESTADO CRÔNICO DE DEPRESSÃO

Sinônimos e nomes relacionados: Transtorno distímico, neurose


depressiva, depressão neurótica, neurastenia, transtorno
depressivo de personalidade.

Saúde Mental
43
6.5.1. O QUE É?

A distimia é uma doença do humor, como a depressão, porém


ocorrendo de uma forma crônica, com a persistência de tristeza
por longo tempo (pelo menos dois anos), durando a maior parte
do dia, na maioria dos dias.

6.5.2. O QUE SE SENTE?

Além do humor triste de forma prolongada, a pessoa pode sentir


o apetite aumentado ou diminuído, insônia ou muita sonolência,
sensação de baixa energia e cansaço, baixa auto-estima, com
pensamentos de não ter valor ou ser incapaz, apresentando
ainda dificuldade em concentrar-se ou em tomar decisões, além
de ter sentimentos de falta de esperança. Não necessariamente
todos esses sintomas deverão estar presentes, mas muitos são
comuns.

Diferentemente da depressão, a distimia pode deixar o indivíduo


com a sensação de que este é o seu jeito normal de ser, com
dizeres como "sempre fui desse jeito ". Há, portanto, uma perda
de autocrítica quanto à doença, o que, somado ao baixo interesse
em várias áreas da vida, pode levar ao isolamento ou a uma vida
limitada, com poucos relacionamentos sociais, inclusive
dificuldades profissionais e familiares. Normalmente não há um
período mais agudo da doença, com os sintomas sendo mantidos
de uma forma estável durante anos. Contudo, é comum ocorrer a
depressão propriamente dita em uma pessoa previamente com
distimia.

6.5.3. COMO SE DESENVOLVE?

A distimia freqüentemente começa cedo na vida, na infância,


adolescência ou início da idade adulta, por isso facilmente
confundindo-se com o jeito de ser da pessoa. Em crianças,
muitas vezes expressa-se por irritabilidade e mau humor. Em
adolescentes pode associar-se a isolacionismo, rebeldia ou abuso
de drogas, além da irritabilidade.

Saúde Mental
44
6.5.4. QUAL A IMPORTÂNCIA DE SE TRATAR A DISTIMIA?

Comumente a pessoa com distimia não procura tratamento por


esse problema. Porém, esta é uma doença freqüentemente
associada a outras, como depressão, transtornos de ansiedade
(principalmente transtorno do pânico), abuso de álcool e drogas e
múltiplas queixas físicas (dores, por exemplo) de origem
psicológica. Portanto, são pessoas que terminam por recorrer a
vários tratamentos médicos, muitas vezes usando várias
medicações, mas não tratando especificamente a distimia.

6.5.5. COMO SE TRATA?

A distimia em geral requer tratamento medicamentoso, com


antidepressivos, e tratamento psicoterápico, de preferência
associados.

6.9. DISTÚRBIOS DE ANSIEDADE - FOBIAS

6.9.1. ANSIEDADE NORMAL

Sentir-se ansioso é uma experiência comum a qualquer ser


humano. Quem já não se sentiu apreensivo, com dor de cabeça,
palpitações, respiração rápida, aperto no peito, desconforto
abdominal ou inquietação? A ansiedade é uma resposta normal
para diversos acontecimentos na vida: para um bebê ameaçado
com o afastamento dos pais, para as crianças no primeiro dia de
escola, para os adolescentes no primeiro namoro, para os adultos
que contemplam a velhice e a morte e para qualquer um que
enfrente uma doença. A ansiedade é um acompanhante normal
do crescimento, das mudanças, de experiências novas e inéditas,
do encontro da própria identidade e do sentido da vida de uma
pessoa.

6.9.2. QUANDO A ANSIEDADE ATRAPALHA PODENDO


TORNAR-SE UMA DOENÇA

Uma pessoa que tenha uma reação inadequada extrema, ou de


longa duração a um determinado acontecimento, provavelmente
pode estar sofrendo algum tipo de distúrbio de ansiedade.
Os mais comuns são:

Saúde Mental
45
6.9.3. FOBIA ESPECÍFICA

O que é?

É um medo irracional e excessivo que provoca a evitação


consciente de um objeto ou de uma determinada situação, tal
como, medo de voar, de altura, de animais, de tomar uma injeção
ou ver sangue. As manobras para evitar a situação temida, o
medo antecipatório da situação ou a ansiedade extrema causada
pela exposiçao interferem na rotina normal do indivíduo, no seu
trabalho ou em seus relacionamentos sociais, causando
importantes limitações na vida da pessoa.

O que se sente?

Medo acentuado e persistente, irracional ou excessivo, de um


objeto ou situação fóbica. A exposição ao estímulo fóbico (objeto
ou situação) provoca uma resposta imediata de ansiedade. A
ansiedade é caracterizada por sudorese, batimentos rápidos do
coração, tremor das mãos, falta de ar e sensação de "frio" na
barriga.

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado nos sintomas do


paciente. Nenhum exame laboratorial ou de imagem é utilizado
para o diagnóstico.

Como se trata?

O tratamento deve ser individualizado, dependendo das


características e da gravidade dos sintomas que o paciente
apresenta. Utiliza-se no tratamento tanto a psicoterapia
cognitivo-comportamental quanto a psicoterapia de orientação
analítica.

Saúde Mental
46
6.9.4. FOBIA SOCIAL

O que é?

É um medo excessivo de humilhação ou embaraço em vários


contextos sociais, como falar, comer, escrever, praticar atividades
físicas e esportivas em público, assim como urinar em toalete
público ou falar ou aproximar-se de um parceiro em um encontro
romântico. O resultado disso é uma importante limitação na vida
da pessoa pela evitação dessas situações ou atividades sociais
temidas. Também podem ocorrer prejuízos na vida profissional e
afetiva do indivíduo.

O que se sente?

A pessoa com fobia social sente medo acentuado e persistente de


uma ou mais situações sociais ou de desempenho quando é
exposta a pessoas estranhas. Pode haver temor por acabar
agindo de forma humilhante e embaraçosa para si próprio. A
exposição à situação social temida causa ansiedade. Ansiedade é
caracterizada por sudorese, batimentos rápidos do coração,
tremor das mãos, falta de ar, sensação de "frio" na barriga. O
indivíduo reconhece que o medo é irracional ou excessivo. As
situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou
suportadas com intensa ansiedade e sofrimento.

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico é clínico, ou seja, baseado no relato dos sintomas


do paciente. Nenhum exame laboratorial ou de imagem é
utilizado para o diagnóstico.

Como se trata?

O tratamento deve ser individualizado, dependendo das


características e da gravidade dos sintomas que o paciente
apresenta. O tratamento atual baseia-se no emprego de
medicações antidepressivas combinadas com psicoterapia,

Saúde Mental
47
6.10. DISTÚRBIOS DE ANSIEDADE:
TRANSTORNO DE PÂNICO

6.10.1. ANSIEDADE NORMAL

Sentir-se ansioso é uma experiência comum a qualquer ser


humano. Quem já não se sentiu apreensivo, com dor de cabeça,
palpitações, respiração rápida, aperto no peito, desconforto
abdominal ou inquietação? A ansiedade é uma resposta normal
para diversos acontecimentos na vida: para um bebê ameaçado
com o afastamento dos pais, para as crianças no primeiro dia de
escola, para os adolescentes no primeiro namoro, para os adultos
que contemplam a velhice e a morte e para qualquer um que
enfrente uma doença. A ansiedade é um acompanhante normal
do crescimento, das mudanças, de experiências novas e inéditas,
do encontro da própria identidade e do sentido da vida de uma
pessoa.

6.10.2. QUANDO A ANSIEDADE ATRAPALHA PODENDO


TORNAR-SE UMA DOENÇA

Uma pessoa que tenha uma reação inadequada extrema, ou de


longa duração a um determinado acontecimento, provavelmente
pode estar sofrendo algum tipo de distúrbio de ansiedade. Os
mais comuns são:

6.10.3. TRANSTORNO DE PÂNICO

O que é?

O Transtorno de Pânico se caracteriza pela ocorrência


espontânea de ataques de pânico. Os ataques de pânico duram
quase sempre menos de uma hora com intensa ansiedade ou
medo, junto com sintomas como palpitações, respiração ofegante
e até mesmo medo de morrer. A pessoa pode ter múltiplos
ataques durante um único dia até, apenas, alguns ataques
durante um ano. Estes ataques podem ocorrer acompanhados
por agorafobia, que é o medo de estar sozinho em locais públicos,
especialmente, locais de onde uma rápida saída seria difícil em
caso de ocorrer um ataque de pânico.

Saúde Mental
48
O que se sente?

O primeiro ataque de pânico muitas vezes é completamente


espontâneo, embora os ataques de pânico, em geral, ocorram
após excitação, esforço físico, atividade sexual ou trauma
emocional. O ataque freqüentemente começa com um período de
10 minutos de sintomas que aumentam rapidamente. Pode se
sentir extremo medo e uma sensação de morte e catástrofe
iminente. As pessoas, em geral, são incapazes de indicar a fonte
de seus medos. Pode haver dificuldade de concentração,
confusão, aceleração do coração, palpitações, falta de ar,
dificuldade para falar e um enorme medo de morrer. O ataque
dura de 20 a 30 minutos, raramente mais de uma hora.

Como se faz o diagnóstico?

O médico diagnostica o transtorno de pânico através do relato


contado pelo paciente, procurando diferenciar de outras doenças
físicas ou psicológicas. Muitas vezes a pessoa procura ajuda
quando nota que não está mais conseguindo sair sozinha de casa
por medo que ocorra um ataque de pânico.

Como se trata?

A pessoa deve procurar um médico que provavelmente irá


associar um modelo de psicoterapia com uma medicação. Os
sintomas melhoram dramaticamente nas primeiras semanas de
tratamento. Atualmente os medicamentos mais empregados são
os antidepressivos.

6.11. SUICÍDIO

A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; - caedes =


ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines,
em 1737 e significa morte intencional auto-inflingida, isto é,
quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de
sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
Nos EUA, se estima que a cada ano ocorram 30.000 mortes
decorrentes de suicídio, sendo que as tentativas de suicídio que
não terminaram em morte são estimadas em 8 a 10 vezes esse
número. Atualmente, o suicídio ocupa a 8a posição entre as
causas gerais de morte nos EUA, depois de problemas do

Saúde Mental
49
coração, câncer, derrame, acidentes, pneumonia, diabetes e
cirrose (doença causada pelo uso excessivo do álcool).

6.11.1. PROBABILIDADES

Através da observação dos casos de suicídios, pode-se constatar


que há certos fatores que estão relacionados a uma maior ou
menor probabilidade de cometer o suicídio. Por exemplo, as
mulheres tentam o suicídio 4 vezes mais que os homens, mas os
homens o cometem (isto é, morrem devido a tentativa) 3 vezes
mais do que as mulheres. Isso se explica pelo fato de os homens
utilizarem métodos mais agressivos e potencialmente letais nas
tentativas, tais como armas de fogo ou enforcamento, ao passo
que as mulheres tentam suicídio com métodos menos agressivos
e assim com maior chance de serem ineficazes, como tomar
remédios ou venenos.

A idade também está relacionada às taxas de suicídio, sendo que


a maioria dos suicídios ocorre na faixa dos 15 aos 44 anos.
Doenças físicas, tais como câncer, epilepsia e AIDS ou doenças
mentais, como alcoolismo, drogadição, depressão e esquizofrenia,
são fatores relacionados a taxas mais altas de suicídio. Além
disso, uma pessoa que já tentou cometer o suicídio
anteriormente tem maior risco de cometê-lo.

6.11.2. MOTIVOS

As pessoas podem tentar ou cometer suicídio por diversos


motivos:

 numa tentativa de se livrarem de uma situação de


extrema aflição,
 para a qual acham que não há solução;
 por estarem num estado psicótico, isto é, fora da
realidade;
 por se acharem perseguidas, sem alternativa de fuga;
 por se acharem deprimidas, achando que a vida não vale
a pena;
 por terem uma doença física incurável e se acharem
desesperançados com sua situação;

Saúde Mental
50
 por serem portadores de um transtorno de personalidade
e atentarem contra a vida num impulso de raiva ou para
chamar a atenção.

6.11.3. INDICADORES DE RISCO

Suicídio é algo que, em geral não pode ser previsto, mas existem
alguns sinais indicadores de risco, e eles são:

 tentativa anterior ou fantasias de suicídio,


 disponibilidade de meios para o suicídio,
 idéias de suicídio abertamente faladas,
 preparação de um testamento,
 luto pela perda de alguém próximo,
 história de suicídio na família,
 pessimismo ou falta de esperança, entre outras.

Pessoas que apresentem tais indicadores devem ser observadas


mais atentamente. Entretanto não se pode ter certeza alguma a
respeito pois a idéia de morrer pode mudar na mente da pessoa,
de um momento para outro.

6.11.4. COMO ENCAMINHAR QUEM ESTÁ COM RISCO DE


SUICÍDIO

Quando a preocupação a respeito de um risco de suicídio ocorrer


em relação a uma pessoa, esta deve ser encaminhada a uma
avaliação psiquiátrica, em emergências de hospitais que
trabalhem com psiquiatria, para que se possa avaliar
adequadamente o risco e oferecer um tratamento para essa
pessoa.

Esse tratamento poderá ser uma internação, quando for avaliado


que o risco é muito grave, ou tratamento ambulatorial (consultas
regulares com psiquiatra), ocasião em que é feita uma avaliação
das circunstâncias da vida da pessoa, se ela tem uma família que
possa estar presente, observando-a e fornecendo-lhe suporte, e à
qual, ela própria, apesar da vontade de se matar, possa
comunicar isso e pedir ajuda antes de cometer o ato.

Saúde Mental
51
Quando alguém estiver pensando em cometer suicídio é
importante comunicar essa idéia para que outros possam ajudá-
lo, pois quem está se sentindo tão mal a ponto de pensar que a
morte é sua única saída, com certeza precisará de ajuda para
sair dessa.

6.2 ALCOOLISMO E DEPENDÊNCIA QUÍMICA


6.2.1. SINÔNIMOS

Alcoolismo, dependência química, drogadições

O uso de substâncias que modificam o estado psicológico tem


ocorrido em todas as culturas conhecidas desde a Antigüidade.
Em sociedades modernas, especialmente as ocidentais, o uso
descontrolado destas substâncias tornou-se um dos principais
problemas de saúde pública. Praticamente todos já tiveram
algum tipo de contato com cafeína ou nicotina (cigarros), a
grande maioria já experimentou álcool e boa parte dos jovens já
experimentou canabinóis (maconha).

É considerada substância psicoativa (drogas) qualquer


substância que utilizada por qualquer via de administração
altera o humor, o nível de percepção ou o funcionamento
cerebral, podendo ser legalmente usadas, prescritas ou ilícitas
(ilegais).

No entanto, não existe uma fronteira nítida entre o que seja um


simples uso de drogas, um abuso ou mesmo uma dependência
severa pois tudo isto se desenvolve em um continuum. A droga
vai assumindo um papel progressivamente mais importante na
vida do usuário, suas atividades e seu círculo social vão ficando
cada vez mais associados ao uso, surgindo, então, problemas
causados pela droga de natureza familiar, sociais, legais,
financeiros e físicos, entre outros.

Considera-se abuso de drogas quando o uso ultrapassa qualquer


padrão social ou médico aceitos para o uso desta substância e
isso está causando prejuízos a vida do usuário em um ou mais
dos aspectos citados acima. Já a dependência ou uso compulsivo
implica uma necessidade ("fissura") pela droga, seja de natureza
psicológica ou física. Neste último caso, o organismo da pessoa

Saúde Mental
52
adaptou-se à droga e apresenta sintomas quando de sua
abstinência.

6.2.2. ALCOOLISMO

O alcoolismo é uma doença que afeta a saúde física, o bem estar


emocional e o comportamento do indivíduo. Segundo estatísticas
americanas, atinge 14% de sua população e no Brasil estima-se
que entre 10 a 20% da população sofra deste mal. O álcool é
classificado como um depressor do sistema nervoso central.

Efeitos físicos

Os efeitos físicos ocasionados pelo álcool são:

 Diminuição dos reflexos.


 O uso a longo prazo aumenta o risco de doenças como o
câncer no cérebro, língua, boca, esôfago, laringe, fígado e
vesícula biliar. Pode ocasionar hepatite, cirrose, gastrite e
úlcera.
 Quando usado em grande quantidade pode ocasionar
danos cerebrais irreversíveis.
 Pode causar problemas cardíacos e de pressão arterial.
 Pode levar à desnutrição.
 É uma causa conhecida de malformação congênita
quando usado durante a gestação.

Efeitos emocionais

Os efeitos emocionais e comportamentais são:

 Perda da inibição, sendo que pessoa intoxicada com


álcool pode fazer coisas que normalmente não faria,
como por exemplo dirigir um carro em alta velocidade.

 Alteração do humor, ocasionando raiva, comportamento


violento, depressão e até mesmo suicídio.

 Pode resultar em perda de memória.

Saúde Mental
53
 Prejuízo na vida familiar do alcoolista, ocasionando
desentendimento entre o casal, e problemas emocionais
a longo prazo nas crianças.

 Diminuição da produtividade no trabalho.

Como a pessoa desenvolve alcoolismo

Um indivíduo pode tornar-se alcoolista devido a um conjunto de


fatores, incluindo predisposição genética, estrutura psíquica,
influências familiares e culturais. Sabe-se que homens e
mulheres têm 4 vezes mais probabilidade de ter problemas com
álcool se seus pais foram alcoolistas. Geralmente está associado
a outras condições psiquiátricas como transtornos de
personalidade, depressão, transtorno afetivo bipolar (antiga
psicose maníaco depressiva), transtornos de ansiedade e suicídio.

Efeitos do álcool

 Intoxicação por álcool - Os sintomas dependem da


concentração de álcool no sangue. No início do quadro a
pessoa pode tornar-se séria e retraída, ou mesmo falante
e alegre. Podem ocorrer crises de riso ou choro. Em geral
ocorre sonolência. Gradativamente o indivíduo começa a
perder a coordenação motora, apresentando dificuldade
para falar e caminhar. Os reflexos tornam-se mais
lentos. Intoxicações graves com concentrações maiores
de álcool no sangue podem levar ao coma, depressão
respiratória e morte.

 Intoxicação patológica - caracteriza-se por intensas


mudanças de comportamento e agressividade após a
ingestão de uma pequena quantidade de álcool. A
duração é limitada, sendo comuns blecautes (amnésias).
Pela violência das manifestações pode ser necessário até
internar o paciente além de medicá-lo.

 Abstinência ao álcool- Ocorre em pacientes que fazem


uso de álcool em grande quantidade e por tempo
prolongado, e que param de consumir a bebida. Os
primeiros sintomas de abstinência iniciam 12 horas após

Saúde Mental
54
parar de beber. O sintoma mais comum são os tremores,
acompanhados de irritabilidade, náuseas, vômitos,
ansiedade, sudorese, pupilas dilatadas e taquicardia.
Pode evoluir para uma condição clínica mais grave
chamada Delirium por abstinência de álcool (antigo
Delirium Tremens).

 Delirium - É uma emergência médica e, quando não


tratado adequadamente, pode levar o paciente a
convulsões e morte em até 20% dos casos. Inicia
geralmente na semana em que o paciente pára de beber.
O paciente apresenta taquicardia, sudorese, febre,
ansiedade, insônia. Pode apresentar alucinações, como,
por exemplo, enxergar insetos ou outros pequenos
bichos na parede. O nível de consciência do paciente
"flutua" desde um estado de hiperatividade até um de
letargia.

Como o médico faz o diagnóstico

O diagnóstico é feito através de uma anamnese (entrevista) com o


paciente e sua família e exame físico. Os exames de laboratório
não servem para diagnosticar alcoolismo, porém podem dar
"pistas" se o paciente faz uso crônico de álcool, e conseguem dar
uma idéia aproximada do grau de lesão de alguns órgãos
ocasionado pelos efeitos tóxicos do álcool, como por exemplo no
fígado.

Como se trata

Em primeiro lugar é preciso esclarecer que não existe um


tratamento ideal para o alcoolismo. Por isso os casos devem ser
considerados individualmente, e a partir de um bom exame
clínico, deve-se indicar o tratamento mais apropriado para cada
paciente de acordo com o grau de dependência e do ponto de
desenvolvimento da doença em que se encontra a pessoa.

É preciso lembrar que as recaídas são comuns nos pacientes


alcoolistas.

Na grande maioria dos casos, o próprio paciente não consegue


perceber o quanto está envolvido com a bebida, tendendo a negar

Saúde Mental
55
o uso ou mesmo a sua dependência dela. Nestes casos, pode-se
começar o tratamento ajudando o paciente a reconhecer seu
problema e a necessidade de tratar-se e de tentar abster-se do
álcool. A indicação de internação, pelo menos como fase inicial
de desintoxicação, costuma ser a regra.

A nível de ambulatório, os tratamentos disponíveis são:

 A psicoterapia cognitivo comportamental e a psicoterapia


de orientação analítica realizadas individualmente ou em
grupo.

 Os grupos de auto-ajuda, como os Alcóolicos Anônimos


têm-se mostrado uma das alternativas mais eficazes no
tratamento do paciente alcoolista e no acompanhamento
de sua família, o que costuma ser indispensável para o
bom andamento do tratamento.

 Algumas medicações podem ser utilizadas para causar


uma reação física violenta se a pessoa ingere álcool ou
ainda bloquear a vontade e o prazer de beber.

6.2.3. DROGADIÇÕES

Existe um número muito grande de substâncias utilizadas como


drogas, que podem ser classificadas de diferentes maneiras.
Abaixo encontramos apenas informações sobre as drogas de
maior significado pela freqüência e disseminação de uso.

Canabinóis (Maconha e Haxixe)

Está entre as drogas mais usadas. O seu princípio ativo é o THC


(tetra hidrocanabinol). Essas substâncias são preferentemente
fumadas. Seus efeitos físicos são taquicardia, olhos
avermelhados, boca seca, tremores de mãos, além de prejuízo da
coordenação motora e da força muscular.

Seus efeitos psíquicos são variáveis. Em geral provocam


relaxamento, diminuição da ansiedade, aumento do apetite,
euforia, alteração da percepção do tempo e do espaço. Em função
disso, pode facilitar a ocorrência de acidentes automobilísticos
graves.

Saúde Mental
56
Em doses mais altas podem ocorrer delírios, alucinações com
perda do sentido de realidade, além de sentimentos de
perseguição. É considerada uma droga de "rua", " leve", porque
não existe descrição de dependência física. No entanto, seu uso
crônico pode dar origem à chamada síndrome amotivacional pelo
prejuízo da memória de fixação, causando desinteresse,
desmotivação para a vida quotidiana com sérios prejuízos á
integração social, escolar ou profissional do indivíduo.

Estimulantes do SNC (Cocaína e Anfetaminas)

São substâncias cujo efeito predominante é o estímulo do cérebro


pelo bloqueio de células inibitórias ou pela liberação de
substâncias neuro-transmissoras (substâncias liberadas por
uma célula cerebral para estimular outras).

A cocaína pode ter diferentes efeitos conforme a via de


administração. A via intravenosa e o fumar tem efeitos mais
rápidos e intensos do que a inalatória (cheirar). Seus efeitos
físicos são aumento da pressão arterial, temperatura, tremor de
extremidades e midríase( dilatação da pupila).

Os efeitos psíquicos são sensação de bem estar, euforia, aumento


da autoconfiança, hiperatividade, desinibição, abolição da fome e
da sensação de cansaço. Com aumento da dose aparece
ansiedade, irritabilidade, apreensão, desconfiança, podendo
chegar a delírios e alucinações tanto auditivas quanto visuais.

Em usuários crônicos foi descrito um quadro de letargia,


hipersonia, irritabilidade, humor depressivo que, em casos
graves, pode até chegar ao suicídio. A cocaína desenvolve uma
compulsão muito forte ("fissura") nos seus usuários. No uso
injetável pode causar arritmias cardíacas, convulsões, flebites,
endocardites, além de AIDS, síndromes que são todas
potencialmente fatais. Por via nasal pode causar atrofia da
mucosa nasal ou mesmo perfurações no septo nasal.

As anfetaminas são também muito utilizadas sob forma de


comprimidos anorexígenos, muitas vezes prescritos como
coadjuvantes de tratamentos para emagrecer. Em geral, elas

Saúde Mental
57
causam efeitos físicos e psíquicos semelhantes à cocaína. Podem
também desencadear ataques típicos de pânico.

Benzodiazepínicos e Outros Tranqüilizantes

São os medicamentos mais prescritos no mundo atualmente e


utilizados como sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos.
Aproximadamente 90% dos pacientes clínico-cirúrgicos
hospitalizados recebem essas drogas. São substâncias com
utilidade clínica, porém, têm importante potencial para abuso
porque apresentam tolerância, dependência psíquica e
dependência física.

Seu efeito é a depressão do sistema nervoso central,


caracterizando-se por sonolência, níveis variáveis de sedação e
relaxamento muscular. Provocam prejuízo da memória e do
desempenho psicomotor. Em doses muito elevadas podem causar
intoxicações com sedação acentuada, arritmias cardíacas e
depressão respiratória.

6.2.4. TRATAMENTO DAS DEPENDÊNCIAS QUÍMICAS

Não existe tratamento universal para as farmacodependências;


nenhuma modalidade terapêutica mostra-se claramente superior
para todos os pacientes. Entretanto, existem alguns princípios
comuns que devem estar presentes em qualquer abordagem
terapêutica:

 qualquer tratamento requer uma longa duração uma vez


que se trata de uma doença crônica;

 tratamento deve ser voluntário para se obter melhores


resultados;

 os tratamentos compulsórios devem ser a exceção já que,


na sua maioria, esses pacientes não podem ser
considerados legalmente incapazes;

 envolvimento familiar é de suma importância tanto para


promover a desmistificação da existência de culpados
pela drogadição, quanto para melhorar as relações

Saúde Mental
58
familiares, sempre abaladas por sentimentos de raiva,
frustração e culpa, tão comuns nestas situações.

 esquematicamente cada tratamento compõe-se de três


fases: busca da abstinência, tratamento das
complicações da drogadição e prevenção das recaídas.

6.6. ANOREXIA NERVOSA

6.6.1. SINÔNIMOS

Anorexia, transtornos alimentares

6.6.2. O QUE É?

Anorexia nervosa é um transtorno alimentar no qual a busca


implacável por magreza leva a pessoa a recorrer a estratégias
para perda de peso, ocasionando importante emagrecimento. As
pessoas anoréxicas apresentam um medo intenso de engordar
mesmo estando extremamente magras. Em 90% dos casos,
acomete mulheres adolescentes e adultas jovens, na faixa de 12
a 20 anos. É uma doença com riscos clínicos, podendo levar à
morte por desnutrição.

6.6.3. O QUE SE SENTE?

 Perda de peso em um curto espaço de tempo;


 Alimentação e preocupação com peso corporal tornam-se
obsessões;
 Crença de que se está gordo, mesmo estando
excessivamente magro;
 Parada do ciclo menstrual (amenorréia );
 Interesse exagerado por alimentos;
 Comer em segredo e mentir a respeito de comida;
 Depressão, ansiedade e irritabilidade;
 Exercícios físicos em excesso;
 Progressivo isolamento da família e amigos.

Saúde Mental
59
6.6.4. COMPLICAÇÕES MÉDICAS

 Desnutrição e desidratação.
 Hipotensão (diminuição da pressão arterial).
 Anemia.
 Redução da massa muscular.
 Intolerância ao frio.
 Motilidade gástrica diminuída.
 Amenorréia (parada do ciclo menstrual).
 Osteoporose (rarefação e fraqueza óssea ).
 Infertilidade em casos crônicos

6.6.5. CAUSAS DA ANOREXIA NERVOSA

Não existe uma única causa para explicar o desenvolvimento da


anorexia nervosa. Essa síndrome é considerada
multideterminada por uma mescla de fatores biológicos,
psicológicos, familiares e culturais. Alguns estudos chamam
atenção que a extrema valorização da magreza e o preconceito
com a gordura nas sociedades ocidentais estaria fortemente
associada à ocorrência desses quadros.

6.6.6. COMO SE DESENVOLVE?


A preocupação com o peso e a forma corporal leva o adolescente
a iniciar uma dieta progressivamente mais seletiva, evitando ao
máximo alimentos de alto teor calórico. Aparecem outras
estratégias para perda de peso como: exercícios físicos
excessivos, vômitos, jejum absoluto. A pessoa segue se sentindo
gorda, apesar de estar extremamente magra, acabando por se
tornar escrava das calorias e de rituais em relação à comida.
Isola-se da família e dos amigos, ficando cada vez mais triste,
irritada e ansiosa. Dificilmente a pessoa admite ter problemas e
não aceita ajuda de forma alguma. A família às vezes demora
para perceber que algo está errado. Assim, as pessoas com
anorexia nervosa podem não receber tratamento médico, até que
tenham se tornado perigosamente magras e desnutridas.

Saúde Mental
60
6.6.7. COMO SE TRATA?

O tratamento deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar


formada por psiquiatra, psicólogo, pediatra, clínico e
nutricionista, em função da complexa interação de problemas
emocionais e fisiológicos nos transtornos alimentares.
Quando for diagnosticada a anorexia nervosa, o médico deve
avaliar se o paciente está em risco iminente de vida, requerendo,
portanto, hospitalização.

O objetivo primordial do tratamento é a recuperação do peso


corporal através de uma reeducação alimentar com apoio
psicológico. Em geral, é necessário alguma forma de psicoterapia
para ajudar o paciente a lidar com sua doença e com as questões
emocionais subjacentes.

Psicoterapia individual, terapia ou orientação familiar, terapia


cognitivo-comportamental (uma psicoterapia que ensina os
pacientes a modificarem pensamentos e comportamentos
anormais) são em geral muito produtivas.

Para o quadro de anorexia nervosa não há medicação específica


indicada. O uso de antidepressivos pode ser eficaz se houver
persistência de sintomas de depressão após a recuperação do
peso corporal.

O tratamento da anorexia nervosa costuma ser demorado e


difícil. O paciente deve permanecer em acompanhamento após
melhora dos sintomas para prevenir recaídas.

6.6.8. COMO SE PREVINE?

Uma diminuição da pressão cultural e familiar com relação à


valorização de aspectos físicos, forma corporal e beleza pode
eventualmente reduzir a incidência desses quadros. É
fundamental fornecer informações a respeito dos riscos dos
regimes rigorosos para obtenção de uma silhueta "ideal", pois
eles têm um papel decisivo no desencadeamento dos transtornos
alimentares.

Saúde Mental
61
6.7. BULIMIA NERVOSA

6.7.1. SINÔNIMOS

Bulimia, transtornos alimentares

6.7.2. O QUE É?

Na bulimia nervosa as pessoas ingerem grandes quantidades de


alimentos (episódios de comer compulsivo ou episódios
bulímicos) e depois utilizam métodos compensatórios, tais como:
vômitos auto-induzidos, uso de laxantes e/ou diuréticos e
prática de exercícios extenuantes como forma de evitar o ganho
de peso pelo medo exagerado de engordar. Diferentemente da
anorexia nervosa, na bulimia não há perda de peso, e assim
médicos e familiares têm dificuldade de detectar o problema. A
doença ocorre mais freqüentemente em mulheres jovens, embora
possa ocorrer mais raramente em homens e mulheres com mais
idade.

6.7.3. O QUE SE SENTE?

 Ingestão compulsiva e exagerada de alimentos;


 Vômitos auto - induzidos, uso de laxantes e diuréticos
para evitar ganho de peso;
 Alimentação excessiva sem aumento proporcional do
peso corporal;
 Depressão;
 Obsessão por exercícios físicos;
 Comer em segredo ou escondido dos outros.

6.7.4. COMPLICAÇÕES MÉDICAS

 Inflamação na garganta (inflamação do tecido que reveste


o esôfago pelos efeitos do vômito);
 Face inchada e dolorida (inflamação nas glândulas
salivares);
 Cáries dentárias;
 Desidratação;

Saúde Mental
62
 Desequilíbrio eletrolítico;
 Vômitos com sangue;
 Dores musculares e coimbrãs.

6.7.5. CAUSAS

Assim como na anorexia, a bulimia nervosa é uma síndrome


multideterminada por uma mescla de fatores biológicos,
psicológicos, familiares e culturais. A ênfase cultural na
aparência física pode ter um papel importante .Problemas
familiares, baixa auto - estima e conflitos de identidade também
são fatores envolvidos no desencadeamento desses quadros.

6.7.6. COMO SE DESENVOLVE?

Muitas vezes leva tempo para se perceber que alguém tem


bulimia nervosa. A característica principal é o episódio de comer
compulsivo, acompanhado por uma sensação de falta de controle
sobre o ato e, muitas vezes, feito secretamente. Os
comportamentos direcionados a controle de peso incluem jejum,
vômitos auto-induzidos, uso de laxantes, enemas, diuréticos, e
exercícios físicos extenuantes. O diagnóstico de bulimia nervosa
requer episódios com uma freqüência mínima de 2 vezes por
semana por pelo menos 3 meses. A fobia de engordar é o
sentimento motivador de todo o quadro. Esses episódios de
comer compulsivo seguidos de métodos compensatórios podem
permanecer escondidos da família por muito tempo.
A bulimia nervosa acomete adolescentes um pouco mais velhas,
em torno dos 17 anos. Pessoas com bulimia têm vergonha de
seus sintomas, portanto, evitam comer em público e evitam
lugares como praias e piscinas onde precisam mostrar o corpo. À
medida que a doença vai se desenvolvendo essas pessoas só se
interessam por assuntos relacionados a comida, peso e forma
corporal.

6.7.7. COMO SE TRATA?

A abordagem multidisciplinar é a mais adequada no tratamento


da bulimia nervosa e inclui psicoterapia individual ou em grupo,
farmacoterapia e abordagem nutricional a nível ambulatorial.

Saúde Mental
63
As técnicas cognitivo-comportamentais têm se mostrado eficazes.
As medicações antidepressivas também tem se mostrado eficazes
no controle dos episódios bulímicos. A abordagem nutricional
visa estabelecer um hábito alimentar mais saudável, eliminando
o ciclo "compulsão alimentar/purgação/jejum". A orientação
e/ou terapia familiar faz-se necessária uma vez que a família
desempenha um papel muito importante na recuperação do
paciente.

6.7.8. COMO SE PREVINE?

Uma diminuição na ênfase na aparência física tanto cultural


como familiar pode eventualmente reduzir a incidência desses
quadros. É importante fornecer informações a respeito dos riscos
de regimes rigorosos para obtenção de uma silhueta "ideal", já
que eles desempenham um papel fundamental no
desencadeamento dos transtornos alimentares.

6.8. TRANSTORNO DO COMER COMPULSIVO

6.8.1. SINÔNIMOS

Comer compulsivo, ataques de comilança

6.8.2. O QUE É?

O transtorno do comer compulsivo vem sendo reconhecido nos


últimos anos como uma síndrome caracterizada por episódios de
ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, porém,
diferentemente da bulimia nervosa, essas pessoas não tentam
evitar ganho de peso com os métodos compensatórios. Os
episódios vêm acompanhados de uma sensação de falta de
controle sobre o ato de comer, sentimentos de culpa e de
vergonha.

Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresentando


uma história de variação de peso, pois a comida é usada para
lidar com problemas psicológicos.

O transtorno do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2 %


da população em geral, mais freqüentemente acometendo

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64
mulheres entre 20 e 30 anos de idade. Pesquisas demonstram
que 30% das pessoas que procuram tratamento para obesidade
ou para perda de peso são portadoras de transtorno do comer
compulsivo.

6.8.3. O QUE SE SENTE?

 Episódios de ingestão exagerada de alimentos;


 Comer mesmo sem ter fome;
 Dietas freqüentes;
 Sensação de incapacidade de parar de comer
voluntariamente;
 Flutuação do peso;
 Humor deprimido;
 Comer em segredo por sentimento de vergonha e culpa;
 Obesidade.

6.8.4. COMPLICAÇÕES MÉDICAS

 Pressão alta;
 Aumento do colesterol;
 Diabete;
 Complicações cardíacas.

6.8.5. CAUSAS

As causas desse transtorno são desconhecidas. Em torno de 50%


das pessoas têm uma história de depressão. Se a depressão é
causa ou efeito do transtorno, ainda não está bem claro. Muitas
pessoas relatam que a raiva, a tristeza, o tédio, a ansiedade e
outros sentimentos negativos podem desencadear os episódios de
comilança. Embora ainda não esteja claro o papel das dietas
nesses quadros, sabe-se que, em muitos casos, os regimes
excessivamente restritivos podem piorar o transtorno.

Saúde Mental
65
6.8.6. COMO SE TRATA?

O transtorno do comer compulsivo desenvolve-se a partir da


interação de diversos fatores predisponentes biológicos,
familiares, socioculturais e individuais. O seu tratamento exige
uma abordagem multidisciplinar que inclui um psiquiatra, um
endocrinologista, uma nutricionista e um psicólogo. O objetivo do
tratamento é o controle dos episódios de comer compulsivo
através de técnicas cognitivo-comportamentais e de um
acompanhamento nutricional para restabelecer um hábito
alimentar mais saudável. A psicoterapia dinâmica ou a
interpessoal podem ajudar o paciente a lidar com questões
emocionais subjacentes. O acompanhamento clínico faz-se
necessário pelos riscos clínicos da obesidade. As medicações
antidepressivas têm se mostrado eficazes para diminuir os
episódios de compulsão alimentar e os sintomas depressivos.

7. PSICOFARMACOLOGIA

7.1. EFEITO FARMACOLÓGICO

É uma modificação comprovável que um medicamento produz no


organismo humano, em um ou mais de seus órgãos.

Todos os psicofármacos têm a propriedade de produzir efeitos


farmacológicos, bioquímicos e funcionais:

 Efeitos funcionais: provoca modificações nos reflexos e a


ação pode ser comprovada no E.E.G. Ex.:
benzodiazepínicos.

 Efeitos bioquímicos: provoca modificações no balanço da


prolactina. Ex.: antipsicóticos.

7.2. EFICÁCIA TERAPÊUTICA

É a capacidade de uma substância farmacologicamente ativa ou


inerte como um placebo, produzir uma modificação útil ou
positiva no curso de uma enfermidade.

Saúde Mental
66
7.3. EFICÁCIA TERAPÊUTICA SINTOMÁTICA

O objetivo é controlar ou suprimir uma expressão do problema


do paciente que é nociva, ou demasiado incômodo para ele, ou
que impeça uma comunicação ou uma interação que se acredita
úteis entre o paciente, seu ambiente e o meio assistencial. Ex.:
analgésico antitérmico.

7.4. EFICÁCIA TERAPÊUTICA CURATIVA

São intervenções terapêuticas que modificam radicalmente o


curso de uma enfermidade, através da eliminação de suas raízes,
que estejam cientificamente bem comprovadas em si mesmo e
presentes no paciente. Realizam-se apenas com princípios
farmacologicamente ativos (não com placebos). Ex.: antibióticos,
insulina, vitaminas.

A procura de terapia curativa na psiquiatria tem sido um dos


temas que mais se desenvolvem na investigação experimental e
clínica desde a descoberta dos neurotransmissores cerebrais.
Espera-se ainda se encontrar uma carência (como a dopamina
no parkisoniano) ou um transtorno funcional específico devido a
uma substância bem definida que poderia ser controlado por um
medicamento substitutivo, antagonista ou coadjuvante.

7.5. ANTIPSICÓTICOS OU NEUROLÉPTICOS

A característica e o papel principal deste grupo de medicamento


podem ser resumidos por sua capacidade de oferecer um meio
rápido de controle das principais manifestações de um crise ou
de um estado psicótico: delírio, alucinação, surto psicótico,
agitação.

É preciso salientar que essa capacidade dever ser qualificada


tanto no meio agudo, como no crônico, como uma atividade:

1. Sintomática: os medicamentos antipsicóticos não


modificam por si mesmo o curso natural do problema do
paciente, mas estabelecem condições de relação
diferentes entre o paciente e seu problema, entre a
equipe ou o ambiente e o paciente.

Saúde Mental
67
2. Inespecífica: todos os neurolépticos são equivalentes no
tocante à sua ação antipsicótica embora seja necessário
ter em conta as características relativas à cinética e aos
efeitos indesejáveis.

7.5.1. GUIA PARA USO CLÍNICO

 Os antipsicóticos não curam a psicose; em compensação,


servem para controle de alguns sintomas psicóticos:
delírio, alucinação, surto maníaco, agitação; não são
eficazes.
 A comprovação clínica controlada existente permite
afirmar que a eficácia destes medicamentos está bem
estabelecida quanto ao controle das fases agudas do
episódio psicótico.
 Uma terapia antipsicótica não deve ser realizada de
forma prolongada e sim de forma aguda ou a médio
prazo. O tratamento crônico deve ser sempre revisto,
avaliando a possibilidade de diminuir ou suspender a
dose.
 Nunca se deveriam usar antipsicóticos como ansiolíticos
ou hipnóticos para controle de sintomas leves, os
benefícios são menores. Freqüentemente os
antipsicóticos são empregados como sedantes. Utiliza-se
o efeito colateral do neuroléptico, isto é, a sedação, como
efeito terapêutico. Este hábito deve ser sempre avaliado.
 A atitude mais apropriada prevê o emprego de um só
antipsicótico.
 Os antipsicóticos de depósito deveriam ser prescritos
muito raramente somente em casos particulares para os
quais não exista meio de utilizar o esquema de
administração diária.
 Entre os efeitos indesejáveis, a discinesia é talvez o mais
sério e o mais limitante deles. Sua freqüência é máxima
nos idosos, nas mulheres e pacientes em tratamento há
muito tempo. Existe atualmente o consenso de que este
efeito não se pode tratar, apenas se prevenir, utilizando-
se doses mínimas possíveis, suspendendo

Saúde Mental
68
periodicamente o tratamento, reconhecendo os primeiros
sinais e retirando-se o medicamento aos poucos.
 Como regra geral, deve-se evitar seu uso em mulheres
grávidas e lactantes para minimizar o mais que possível
a eventualidade de icterícia, hipersedação neonatal.
 Posologia: a variação das doses eficazes entre os diversos
medicamentos antipsicóticos é muito ampla e as
margens terapêuticas são significativas.

Doses (mg) Doses (mg)


Neurolépticos Equivalentes
Equivalentes Diárias

Clorpromazina Amplictil 50 100 - 100

Haloperidol Haldol 1 4 – 20

Levomepromaz Neozine 60 120 – 800


ina

Tioridazina Melleril 100 200 –


800/1200

Triflugrerazina Stelazine 5 5 - 40

Cuidados de enfermagem

 Controle dos sinais vitais (crise hipotensiva);


 Observar sinais de síndrome extrapiramidal;
 Atenção aos efeitos anticolonérgicos (secura na boca,
visão turva, retenção urinária).

7.6. ANSIOLÍTICOS - HIPNÓTICOS

A diferença entre as drogas ansiolíticas e as hipnóticas é um


pouco artificial. Separamos os tratamentos farmacológicos da
ansiedade dos da insônia – algo artificialmente – já que quase
qualquer droga sedativa ou antiansiedade pode ser usada em
doses baixas durante o dia e em doses mais altas para a
dificuldade em adormecer.

Saúde Mental
69
Ansiedade e insônia são manifestações sintomáticas de estados
de “mal-estar”, com ou sem problemas psicológicos e
psiquiátricos, que devem ser tratados segundo uma estratégia
terapêutica na qual os medicamentos deste grupo têm, às vezes,
um papel importante mas sempre parcial e normalmente
limitado no tempo.

Além da ansiedade, as benzodiazepinas são indicadas para o


relaxamento muscular, estado de mal epilético (diazepan),
anestesia pré-operatória e abstinência alcoólica. A única
propriedade clinicamente útil para guiar a escolha de uma outra
molécula é tempo de vida média e a equivalência entre as doses
ansiolíticas e as doses hipnóticas.

Doses Doses
Vida
Medicamento ansiolíticas hipnóticas
média (hs)
(mg) (mg)
Diazepan 20 – 70 5 20

Fluritrazepan 25 – 35 - 4

Nitrazepan 20 – 30 - 10

Lorazepan 12 – 30 1-2 5–7

Oxazepan 4 – 13 15 75

7.6.1. GUIA PRA USO CLÍNICO

 É uma boa regra aprender a usar uma só


benzodiazepina, individualizar a dose e estabelecer o
tempo para ingestão diária tendo em conta a resposta do
paciente e os efeitos indesejáveis. É preciso destacar que
não apenas a resposta pode ser diferente por razões
objetivas (concentrações muito diferentes podem dever-
se a uma mesma dose) mas também existem fatores
individuais de “sensibilidade”.

Saúde Mental
70
 Ocorre uma diminuição dos reflexos e da atenção, o que
evidentemente tem uma importância particular aos que
manejam veículos e instrumentos.

 Criação de um estado de dependência que se expressa,


por ocasião da suspensão repentina do tratamento,
através de sintomas clássicos da abstinência: ansiedade,
insônia, irritabilidade, náusea, vômito, palpitações, com
poucos dias de duração.

 O risco de tomar bebidas alcoólicas por seu efeito


somatório que produz hipersedação e ressaca, torna
ainda mais perigosa a diminuição dos reflexos e da
atenção.

 A eficácia terapêutica das benzodiazepinas na depressão


psicótica é inferior à dos antidepressivos.

 Na depressão neurótica e na involutiva, as


benzodiazepinas podem desempenhar um papel
importante no controle da ansiedade e
conseqüentemente diminuir a depressão do paciente.

7.6.2. CUIDADOS DE ENFERMAGEM

 Controle dos sinais vitais;


 Observar sinas de sedação.

7.7. ANTIDEPRESSIVOS

Os medicamentos antidepressivos se agrupam em três grandes


categorias (tricíclicos, IMAO, outros) que possuem características
de atividade bioquímica e farmacológica muito diferentes, embora
sua atividade seja apontada como equivalente.

Existe atualmente um consenso geral que indica que os


antidepressivos tricíclicos são os medicamentos que podem
assegurar a maior eficácia com menor número de efeitos
indesejáveis.

Saúde Mental
71
7.7.1. GUIA PARA USO CLÍNICO

 Deve-se considerar a formulação correta do diagnóstico


como uma condição, pois têm um papel terapêutico.

 As doses terapêuticas recomendadas situam-se em torno


de 150mg/dia (mínimo de 100mg, máximo de 300mg),
sendo estratégia de começar com 25mg aumentando-se
gradualmente até alcançar a dose desejada no prazo de
duas semanas.

 A dose terapêutica aparece em geral ao fim de 3 a 5


semanas. Para a terapia de manutenção, recomenda-se a
dose mínima (1/3 da que e necessária nas fases agudas),
em uma única ingestão preferivelmente à noite.

 O tratamento a longo prazo (maior ou igual a 6 meses )


não deve ser a regra, mas uma decisão tomada para
casos individuais: quando as reagudizações são
freqüentes (mais de duas por ano); quando há um
agravamento progressivo nos episódios.
 Efeitos indesejáveis mais freqüentes estão ligados à ação
anticolinérgica dos tricíclicos: boca seca, prisão de
ventre, midríase com alteração da acomodação, tremores
nas mãos, hipotensão, retenção urinária.

 Contra-indicação: glaucoma, epilepsia, alcoolismo,


hipertrofia prostática.

 Intoxicação aguda: hipotensão, febre, arritmias graves,


convulsões e coma e por estas razões representa uma
condição clínica que requer internação.

7.7.2. CUIDADOS DE ENFERMAGEM

 Controle dos sinais vitais ;


 Observar os efeitos colaterais.

Saúde Mental
72
7.7.3. LÍTIO

O lítio (Li+) é um cátion monovalente que facilmente circula nos


espaços intra e extracelulares. Tem um papel terapêutico
exclusivo nas psicoses maníacos-depressivas.

EFICÁCIA DO LÍTIO

Lítio Tricíclicos

Fase aguda Mania Eficaz Não eficaz

Prevenção de Depressão Não eficaz Eficaz


recaídas

Monopolar: Mania Eficaz Não eficaz

Monopolar: Eficaz Eficaz


Depressão

Bipolar: Eficaz Não eficaz


Mania/Depressão

7.7.4. GUIA PARA USO CLÍNICO

 Começar com dois ou três comprimidos de 300mg de lítio


(300mg = 8.1mEq). Aumentar gradualmente até atingir
os níveis terapêuticos (mais ou menos 4 a 6 comprimidos
por dia).
 Nível terapêutico na fase aguda 0,9 – 1,2 mEq/1. Nível
terapêutico na fase de manutenção 0,6 – 0,8 mEq/1.

 É preciso destacar que é fundamental o


acompanhamento cuidadoso dos níveis plasmáticos.

 Fatores que podem aumentar o nível de lítio: reduzida


função renal, emprego de diuréticos, vômitos, diarréia,
sudorese excessiva.

 Situações de risco: gravidez, hipotiroidismo, cardiopatia,


insuficiência renal, alterações de equilíbrio
hidroeletrolítico, epilepsia.

Saúde Mental
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EXERCÍCIOS DE SAÚDE MENTAL

Faça as anotações de enfermagem dos episódios a seguir:

1- Paciente portador de TAB, em fase maníaca:

- Está com tosse com catarro amarelo;


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- Anda de um lado para o outro;
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- Não dorme, não senta;


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- Fala acelerada;
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- Não aceitou a dieta;
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- Não responde às perguntas com coerência;


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- Está com acesso venoso em braço direito.

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BIBLIOGRAFIA
Jnaick, P.G. Princípios e práticas em psicofarmacoterapia, editora
Medsi,1996.

www.geocities.com/HotSprings/Villa/3502

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