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Enfermagem

Psiquiátrica e Saúde
Mental

PROF. ENF. ESP. BIANCA ALVARES DA SILVA


CURSO: ENFERMAGEM
6° SEMESTRE
Um pouco de História...
• Casos de perturbações mentais estão registrados por toda a História e são, desde
as épocas mais remotas, citados por historiadores, poetas, pintores, escultores e
médicos.

• Algumas figuras históricas conhecidas:

• Os Imperadores Romanos Calígula e Nero, os reis franceses Clóvis II e Carlos VI.

• Carlos VI: chamado de Carlos, o Louco, o qual acreditava ser feito de vidro e que
inseria pequenas hastes de ferro em suas roupas a fim de prevenir que se partisse
em pedaços.
Um pouco de História...

• Eduard Einsten, filho do renomado físico Albert Einstein – esquizofrenia.

• O lendário bailarino ucraniano Vaslav Nijinsky – esquizofrenia.

• E o prêmio Nobel de Economia para Jonh Forbes Nash Jr. – esquizofrenia.


Um pouco de História...
• O famoso pintor Vincent Van Gogh (1853-1890), sofria de crises de instabilidade
de seu humor.

• Diversos historiadores afirmam que Van Gogh sofria "ataques epilépticos" o que
para alguns seria o resultado do uso frequente de bebidas contendo absinto
(Artemisia absinthium), substância que era utilizada para modificar a atividade
cerebral e assim "estimular" atividades artísticas.

• Houve diversas tentativas de estabelecer um diagnóstico para a doença de Van


Gogh. Atualmente, o mais aceito é o Transtorno do Humor Bipolar, levando-se em
consideração os estados depressivos, alternados de episódios eufóricos (ou
maníacos) que lhe faziam mergulhar em um estado de humor de grande energia e
paixão. Van Gogh cometeu suicídio aos 37 anos de idade.
Diversas Denominações...
- Possuídos por espíritos.

- Mania ou furor insano (Século V. AC- Euclides, Sófocles).

- Sofrimento da alma. Perda das Faculdades Mentais.

- Louco, lunático, lelé, maniático, tança, vesano, demente.

- Alienado, insano (Pinel, Esquirol. Atendimento asilar).


- No Brasil colonial e durante parte do Império, a ordem jurídica era determinada
pelas Ordenações do Reino e nelas a loucura possuía várias denominações:
"desassisados", "sandeus", "mentecaptos" ou "furiosos"; eram ali contemplados
ainda os "desmemoriados" e os "pródigos".
O que é loucura?

• Designa-se por louco aquele indivíduo cuja maneira


de ser é “diferente” em comparação com uma
outra maneira de ser considerada pela sociedade
como “normal”.
• Porém com as diferenças: culturais, sociais,
éticas, filosóficas, religiosas existentes, como se
poderia definir o que é um indivíduo normal?
O que é loucura?

• Nem sempre a loucura foi vista como uma doença ou um problema de integração
social.
• Assim como a conceituação de loucura, os cuidados dedicados as pessoas
com transtorno de comportamento variaram no decorrer dos tempos, sempre
influenciados por crenças, costumes, religião.
A doença mental na Pré- História

• O homem primitivo atribuía todas as doenças à ação de


forças externas, forças sobrenaturais, maus espíritos,
bruxos, demônios, deuses.
• Acredita-se que nessa época as pessoas com distúrbios
de comportamento eram atendidas em rituais tribais, para
corrigir tal distúrbio.
• E em casos de insucesso, o indivíduo era abandonado à
própria sorte.
Antiguidade
• Na Grécia e Roma antigas não existiam procedimentos ou espaços sociais
destinados aos “loucos”.

• Os ricos permaneciam em suas residências e os pobres circulavam pelas ruas,


onde recebiam caridade pública ou realizavam pequenos serviços.

• A sociedade atribuía as crises de agitação a forças sobrenaturais, decorrentes de


possessões demoníacas.

• O indivíduo louco era visto como um problema familiar e não social.


Antiguidade (cont.)
• Na Grécia de 860 a.C. os sacerdotes recomendavam que os loucos fossem
tratados com bondade e que lhes fossem proporcionadas atividade físicas.

• Nessa mesma época, médicos, estudiosos tinham grande consideração pelos


doentes, estes podiam desfrutar de ar fresco, água pura, luz solar. Mestres,
alunos e doentes faziam caminhadas, encenações teatrais para melhorar o
“humor”.

• No entanto os paciente que não reagiam ao tratamento eram submetidos à


inanição e a flagelação.
Idade Média
• Nessa época a loucura era vista com grande tolerância. Acreditava-se que o
mundo era todo organizado de acordo com os desígnios de Deus.

• Os loucos e os miseráveis eram considerados parte da sociedade e alvo de


caridade.

• Os doente mentais eram chamados de lunáticos (do latim luna=lua), pois


acreditava-se que a mente das pessoas era influenciada pelas fases da lua.

• Eram também considerados pecadores.


Idade Média (cont.)
• Desfrutavam de relativa liberdade de ir e vir.
• Doente mentais mais graves ou agressivos eram acorrentados, escorraçados,
submetidos a jejuns prolongados sob a alegação de estarem possuídos pelo
“demônio”.
Idade Média (cont.)
• Muitas vezes eram submetidos a rituais religiosos de exorcismo.
Idade Moderna
• Retomada de princípios racionalistas na observação e descrição das doenças
mentais, em oposição ao misticismo religioso.

• Nessa fase com o início do mercantilismo, formação de cidades e concentração


da população, começaram a surgir os problemas sociais e sanitários, ocorrendo
aumento do número de mendigos.
Idade Moderna (cont.)
• Pobres e loucos eram vistos como
desocupados, como não trabalhavam, não
produziam riquezas, eram considerados
marginais, improdutivos.

• Os mendigos eram expulso das cidades, os


doentes mentais e mendigos sem família eram
condenados ao isolamento.

• Nessa época surgem os Hospitais Gerais (instalados


nos antigos leprosários), onde eram internados não só
os loucos, mas toda população marginalizada na
época.
Idade Contemporânea
• Final do século XVIII, denúncias contra as internações de doentes mentais
junto aos marginais e contra as torturas a que eram submetidos.

• Abordagem mais humanística ao doente mental.

• Construção de asilos, porém permaneciam sob formas de violência, com ameaças


e privações.

• A loucura passa a ser considerada uma doença, que exigia condições e


tratamentos específicos.
Idade Contemporânea (cont.)
• Em 1793, o médico francês Philippe Pinel quebrou as correntes que
prendiam os alienados ou insanos.

• Nessa época avança a descrição das doenças mentais.

• Século XX, postura mais humanista no tratamento dos doentes mentais, os asilos
onde os doentes eram aprisionados foram substituídos pelos Hospitais
Psiquiátricos.
Idade Contemporânea (cont.)
• Século XX: Freud revela a concepção do homem como um
todo mente-corpo e o papel da história pessoal no
desenvolvimento dos transtornos emocionais.
- Compreender a loucura não como defeito biológico.
●1952: sintetizada em laboratório o primeiro neuroléptico do mundo, a
clorpromazina.

● Progressos:

- Atitude positiva em relação à doença mental;


- Doentes crônicos melhoram;
- O tratamento em casa tornou-se possível;
- Expandem-se tratamentos psicoterápicos;
- Hildegard Peplau – teoria do relacionamento terapêutico enfermeiro-
paciente.
- Enfoque da assistência física (higiene, limpeza) para centrar-se nas relações
interpessoais (ambiente terapêutico).
A Psiquiatria no Brasil
• No Brasil, o primeiro manicômio foi fundado por D. Pedro II em 1852, no Rio de
Janeiro.
A Psiquiatria no Brasil

Vista aérea do Palácio Universitário


(UFRJ), antiga sede do Hospício Pedro II,
construído 1842-1852.
Primeiros hospícios públicos para
alienados no Brasil
Província/Estado Ano Estabelecimento (município)
Rio de Janeiro 1852 Hospício de Pedro II (Rio de Janeiro)
1878 Enfermaria de Alienados anexa ao Hospital São João Batista (Niterói)
1890 Colônias de São Bento e Conde de Mesquita (Ilha do Governador)
São Paulo 1852 Hospício Provisório de Alienados de São Paulo (Rua São João)
1864 Hospício de Alienados de São Paulo (Chácara da Tabatingüera)
1895 Hospício-colônia provisório de Sorocaba
1898 Hospício-colônia de Juqueri (atual Franco da Rocha)
Pernambuco 1864 Hospício de Alienados de Recife-Olinda (da Visitação de Santa Isabel)
1883 Hospício da Tamarineira (Recife)
Pará 1873 Hospício Provisório de Alienados (Belém, próximo ao Hospício dos Lázaros).
1892 Hospício do Marco da Légua (Belém)
Bahia 1874 Asilo de Alienados São João de Deus (Salvador)
Rio Grande do Sul 1884 Hospício de Alienados São Pedro (Porto Alegre)
Ceará 1886 Asilo de Alienados São Vicente de Paula (Fortaleza)
Alagoas 1891 Asilo de Santa Leopoldina (Maceió)
Paraíba 1890 Asilo de Alienados do Hospital Santa Ana (João Pessoa)
Amazonas 1894 Hospício Eduardo Ribeiro (Manaus)
Minas Gerais 1903 Hospício de Barbacena
Paraná 1903 Hospício Nossa Senhora da Luz (Curitiba)
Maranhão 1905 Hospício de Alienados (São Luis do Maranhão)
A Psiquiatria no Brasil
• Local de confinamento da população crescente de desocupados e loucos que
vagavam pelas velhas e grandes fazendas e recentes cidades.

• À partir desse momento vários outros hospícios foram sendo fundados


(grandes centros).
A Psiquiatria no Brasil
• Nas cidades interioranas, os manicômios só
surgiram quando o desenvolvimento e a
urbanização lá chegaram.
• Manicômios eram construídos em locais
afastados.
• Características dos manicômios brasileiros
– freqüentados em sua maioria pela população
mais pobre.
A Psiquiatria no Brasil
• No Brasil, o atendimento aos loucos era tarefa da Irmandade da Misericórdia e
esteve nas mãos da Santa Casa até a proclamação da República em 1889.

• A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício


Nacional dos Alienados.
Diversas Denominações...
• A partir de 1890, o Hospício Pedro II passa a ser chamado de Hospício
Nacional dos Alienados.

• No século XX, surgem novos nomes: Hospício passa a ser chamado de


Hospital.

• Alienado agora é doente mental, depois será psicopata. O asilado passa a


ser interno.

• Nos ambulatórios ele é egresso, quando oriundo da hospitalização. Torna-se


paciente do ambulatório.
Diversas Denominações...
• No consultório ele é paciente, cliente, analisando ou está em terapia. Na
perícia é o caso ou o periciando.

• No serviço público ele é usuário. O mesmo vale para os planos de saúde. Para
alguns, ele passa a ser visto como consumidor.

• Assim, a loucura recebe os nomes de alienação mental, insanidade, depois


doença mental, transtorno mental e ultimamente, sofrimento psíquico.
A Psiquiatria no Brasil
• ERA DO TEMOR
- Falta de leitos nos hospícios
1950-1970:
- Expansão de leitos privados
- Estado patrocinando a loucura
A Psiquiatria no Brasil
• Os hospitais de luxo “cinco estrelas”, são em sua essência iguais aos hospitais
para pobres, porque têm a função de excluir ou invalidar os doentes, afastando-os
da sociedade;
• Infra-estrutura – péssimas;
• Higiene – banhos coletivos;
• Medicação – distribuída sem critério;
• ECT – castigo.
A Psiquiatria no Brasil
A Psiquiatria no Brasil
• Tudo é organizado pensando não no doente, mas na manutenção da ordem
interna e na obtenção de lucro (hospitais privados).
• Internações – superior ao número de leitos.
• Ociosidade dos internos.
A Psiquiatria no Brasil
• A partir de 1964, o governo começou a contratar incisivamente os hospitais
psiquiátricos particulares para atender aos hospitais públicos.
• Como o governo pagava pouco pelas diárias, os hospitais reduziram seus
custos e pioraram definitivamente as condições de hospedagem e cuidados.
A História da Psiquiatria
● 1960: Franco Basaglia (Itália) questiona a existência dos hospitais
psiquiátricos.

● 1978: Aprovado lei proibindo a criação de novos hospícios e sua substituição


por pensões protegidas, lares abrigados, hospital-dia, leitos
psiquiátricos em hospital geral.

● 1987: Primeiro CAPS no Brasil em SP e NAPS em Santos (24 hs).


A Psiquiatria no Brasil
● 1990: Reforma Psiquiátrica Brasileira;
- Movimentos dos profissionais e famílias;
- Impasses, tensões, conflitos e desafios;
- Lei proibindo a criação de novos hospitais psiquiátricos e enfatizando o tratamento
ambulatorial e a reinserção social do doente junto da família e comunidade e sua
reabilitação social, profissional e cívica.

DESINTITUCIONALIZAÇÃO
A Psiquiatria no Brasil
● 1992: Movimentos sociais aprovam em vários estados brasileiros as primeiras leis
que determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede
integrada de atenção à saúde mental.

2001: Lei 10.216 que redirecionaa assistência em saúde mental, privilegiando o


oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária.

- Proteção e direitos dos doentes mentais;


- Rede de atenção diária (CAPS);
- Financiamento do MS para serviços abertos e substitutivos dos hospícios.

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A Psiquiatria no Brasil

Paulo de Tarso – Rondonópolis - MT

- Centro Integrado de Assistência Psicossocial Adauto Botelho.


- Inaugurado em 1957 e reinaugurado em 1993.

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DESINSTITUCIONALIZAÇÃO
● Deslocar o centro da atenção da instituição para a
comunidade, distrito e território.

● Desinstitucionalização = Desospitalização
● Oferecer espaço para que os doente sejam atendidos fora
do hospital;
● Incentivo à desinstitucionalização;
● Ampliação de serviços ambulatoriais;
● Incorporação da saúde mental na ESF;
● Redução de leitos psiquiátricos;
● CAPS;
● Residências Terapêuticas.
DOENÇA MENTAL
• É o estado que surge quando as pessoas não conseguem desenvolver ou manter-
se em funcionamento harmônico para viver com seu grupo cultural ou em
sociedade, não conseguindo transformar suas possibilidades em realidade.
SAÚDE MENTAL
• É o estado de funcionamento harmônico que as pessoas desenvolvem e
mantêm, para viver em sociedade, em constante interação com seus
semelhantes e meio ambiente.
Critérios definidores de saúde
mental
• Atitudes positivas em relação a si próprio;
• Crescimento, desenvolvimento e auto-realização;
• Integração e resposta emocional;
• Autonomia e autodeterminação;
• Percepção da realidade;
• Domínio ambiental e competência social.
COMO ANDA A SUA SAÚDE
MENTAL???
"De perto ninguém é normal“.

Caetano Veloso
Referência Bibliográfica
ATKINSON, R. I., ATKINSON, R. C., SMITH, E. E. Introdução à Psicologia (trad.
Dayse Batista). Porto Alegre, 1955.

FIGUEIREDO. A. A., SILVA, J. F. (Org.). Ética e Saúde Mental, Rio de Janeiro: Top
Books, 1996.

FOUCAULT, M. História da Loucura. São Paulo: Perspectiva, 1978.

FUREGATO, A.R.F. Relações interpessoais terapêuticas na enfermagem.


Ribeirão Preto, Scala, 1999.
KUPSTAS, M. (org.) Saúde em Debate. (Coleção Debate na Escola) 1ª ed. São
Paulo: Moderno, 1997.
Referência Bibliográfica
OGUISSO, TAKA. TRAJETÓRIA HISTÓRICA E LEGAL DA ENFERMAGEM. BARUERI: SÃO
PAULO, MANOLE, 2005.

RODRIGUES, A. R. F. Enfermagem Psiquiátrica em Saúde Mental: Prevenção


e intervenções. São Paulo: E.P.U. 1996.

ROCHA, R. M. ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTAL. 2 ED. ATUAL E AMPL. RIO DE


JANEIRO. SENAC NACIONAL, 2008.

STEFANELLI, M. C.; FUKUDA, I. M.; ARANTES, E. C. ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA:


EM SUAS DIMENSÕES ASSISTENCIAIS. SÃO PAULO: MANOLE, 2008.
Não fiquem tristes, mas acabou!!!
Obrigada.

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