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SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT


FACULDADE DE EDUCAÇÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO
DE JUARA CURSO DE PEDAGOGIA

PAULO RICARDO DA SILVA

A AFETIVIDADE NOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA:


Implicações na relação professor aluno como facilitador
na construção do conhecimento

JUARA – MT
2017
SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO – UNEMAT
FACULDADE DE EDUCAÇÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO
DE JUARA CURSO DE PEDAGOGIA

PAULO RICARDO DA SILVA

A AFETIVIDADE NOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA:


Implicações na relação professor aluno como facilitador
na construção do conhecimento

Trabalho de Conclusão de Curso,


elaborado como exigência para obtenção
do Título de Pedagogo na Universidade
do Estado de Mato Grosso, Campus
Universitário de Juara, sob a
responsabilidade do Departamento de
Pedagogia, sob a orientação da Prof. Esp.
Berenice Maria Dalla Costa da Silva.

JUARA – MT
2017
Ficha Catalográfica

SILVA, Paulo Ricardo da Silva

A afetividade nos anos iniciais da educação básica: implicações na


relação professor aluno como facilitador na construção do
conhecimento. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Mato Grosso –
UNEMAT, 2017.

Palavras-chave: 1.Afetividade 2.Aprendizagem 3.Conhecimento


PAULO RICARDO DA SILVA

A AFETIVIDADE NOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: implicações na


relação professor aluno como facilitador na construção do conhecimento

TCC apresentado à Banca Examinadora


do Departamento de Pedagogia –
UNEMAT, Campus Universitário de Juara-
MT.

BANCA EXAMINADORA:

Profª Esp. Berenice Maria Dalla Costa da Silva.


Professora Orientadora
UNEMAT – Campus Universitário de Juara

Profª Ms. Sandra Aparecida Cavallari


Professora Avaliadora
UNEMAT – Campus Universitário de Juara

Prof. Esp.Radams Capelleti


Professor Avaliador
UNEMAT – Campus Universitário de Juara

JUARA/MT
2017
AGRADECIMENTO
A Deus por estar realizando esta
pesquisa e por ter me dado saúde e força para
superar as barreiras encontradas.
À minha família pela colaboração
principalmente nos momentos de dificuldades
Aos meus colegas pelos incentivos e
por fazerem parte desta caminhada.
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia a minha
família pela fé e confiança demostrada.
A minha orientadora pelo excelente
trabalho, disposição e paciência demonstrada
no decorrer do trabalho.
Enfim a todos aqueles que de alguma
forma colaborou para que este caminho fosse
concluído.
“A formação crítica de um educando dependerá, em grande parte, da
clareza e da firmeza de propósito do educador. Ainda que seja
um lugar privilegiado para a cognição, sabemos
que a afetividade não se acha excluída
da cognicibilidade.”

Paulo Freire, 1996


RESUMO
A necessidade desta pesquisa se dá na investigação da afetividade numa turma de
5º ano da Educação Básica e buscou compreender as implicações na relação
professor aluno como facilitador na construção do conhecimento. A proposta teve
como objetivo geral analisar as relações afetivas entre professor e aluno como
facilitador na construção do conhecimento. A coleta de dados se deu através de
questionário aberto, entrevista informal e observação com duração de duas
semanas a qual desenvolveu uma pesquisa qualitativa focada em analisar os
aspectos sócio-afetivo da turma. Os sujeitos integrantes deste trabalho foram a
professora e três alunos da turma pesquisada. Os dados apontaram que no espaço
escolar os profissionais necessitam conhecer a realidade de cada aluno, para que
aconteça o diálogo em sala de aula, ouvindo cada um, transformando esse espaço
num lugar de aprendizagem significativa. Para tanto a pesquisa se torna necessária
para o curso de Pedagogia e demais público leitor, pois o estudo deixa contribuições
sobre afetividade nos anos iniciais da educação básica.

Palavras Chave: 1. Afetividade. 2.Aprendizagem. 3.Conhecimento.


ABSTRACT
The need for this research is given in the investigation of affectivity in a 5th grade
class of Basic Education and sought to understand the implications in the student
teacher relationship as a facilitator in the construction of knowledge. The purpose of
the proposal was to analyze the affective relations between teacher and student as a
facilitator in the construction of knowledge. Data were collected through an open
questionnaire, an informal interview and a two-week observation, which developed a
qualitative research focused on analyzing the socio-affective aspects of the class.
The subjects included in this study were the teacher and three students of the class
searched. The data pointed out that in the school space professionals need to know
the reality of each student, so that the dialogue takes place in the classroom,
listening to each one, transforming this space into a place of meaningful learning.
Therefore, the research becomes necessary for the course of Pedagogy and other
readers, because the study leaves contributions about affectivity in the initial years of
basic education.

Keywords: 1. Affectivity. 2. Learning. 3. Knowledge.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................... 13
1.1 Etimologia da palavra afetividade .................................................................... 13
1.2 Desenvolvimento afetivo .................................................................................. 15
1.3 A necessidade da afetividade .......................................................................... 17
1.4 Relacionamento familiar .................................................................................. 19
1.5 Relacionamento na escola ............................................................................... 21
CAPÍTULO II - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................... 23
2.1 Característica do objeto pesquisado ................................................................ 25
2.2 Um olhar sobre o contexto escolar .................................................................. 26
2.3 Característica do sujeito pesquisado ............................................................... 27
2.4 Contribuições do sujeito da pesquisa .............................................................. 28
2.4.1 Caracterizando a produção dos dizeres dos alunos ................................. 28
2.4.2 Caracterizando a produção dos dizeres da professora ............................. 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ......................................................................... 39
APENDICE ................................................................................................................ 42
11

INTRODUÇÃO

A propositura desta pesquisa se dá na investigação da afetividade nos anos


iniciais da educação básica, busca compreender as implicações na relação
professor aluno como facilitador na construção do conhecimento. Porém, é um
trabalho que requer contribuições de diversas áreas do conhecimento no processo
afetivo tanto familiar quanto no ensino aprendizagem.
No entanto, a busca nas teorias se faz necessário para reconhecer como o
indivíduo desenvolve fatores que favorecem no relacionamento afetivo individual e
coletivo num processo contínuo de significação e apropriação do conhecimento.
Desta maneira a pesquisa apresenta dados importantes que nos faz compreender o
desenvolvimento da criança nas habilidades do conhecimento, no aspecto sócio
afetivo comparando as diferentes fases dos limites e possibilidades.
Partindo deste pressuposto, buscou-se descrever o conceito e o
desenvolvimento de afetividade dentro do valor teórico, no que consiste uma
investigação do relacionamento do professor aluno como facilitador na construção
do conhecimento e finalmente sistematizado.
A coleta de dados teve uma duração de duas semanas a qual desenvolveu
uma pesquisa qualitativa focado em analisar os aspectos sócio-afetivo da turma.
Diante disso, a proposta da pesquisa sobre a afetividade está pautado na
experiência vivenciada durante o estágio em sala. A relevância dessa pesquisa está
no sentido de compreender a importância da afetividade na produção do
conhecimento e socialização da criança, assim como um melhor rendimento em sua
vida escolar.
A proposta deste trabalho teve como objetivo geral analisar as relações
afetivas entre professor e aluno como facilitador na construção do conhecimento. E
os objetivos específicos consistiram observar como se dão dentro da sala de aula as
relações ligadas à afetividade nos anos iniciais; levantar junto aos professores
informações do pensamento sobre as contribuições da afetividade no
desenvolvimento das práticas pedagógicas e avaliar o desempenho da turma
durante as aulas.
Justifica-se essa pesquisa, numa tentativa de levantar, sistematizar e fazer
reflexões sobre esta temática no sentido de trazer contribuições significativas no
processo de construção do conhecimento e contribuição na formação do pedagogo.
12

A pesquisa pretendeu visar o comportamento da criança destacado em ambiente


escolar, relação professor-aluno, aluno-professor e relacionamento com outras
crianças.
Sendo assim, o presente trabalho está estruturado em três capítulos. No
primeiro capítulo abordamos uma contextualização teórica que expõe a etimologia
da palavra afetividade, tais como conceito e definição. No segundo capítulo, está
descrito a necessidade da afetividade, o relacionamento no convívio familiar e sócio
afetivo. Uma exposição metodológica, no terceiro capítulo, mostra os caminhos
percorridos na coleta de dados, bem como a caracterização do objeto pesquisado e
as colaborações do sujeito. O fechamento desta pesquisa se dá através da análise e
discussão dos dados coletados e considerações finais.
Para tanto, a relevância deste trabalho se dá pelas possíveis contribuições
sobre afetividade nos anos iniciais, por buscar aproximar o professor das
necessidades e comportamentos da criança, já que as crianças podem apresentar
especificidades em razão de sua condição peculiar de pessoa em processo de
desenvolvimento.
13

CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo será apresentada a literatura pesquisada com a finalidade de


compreender as concepções e necessidade da afetividade nos anos iniciais da
educação básica: implicações na relação professor aluno como facilitador na
construção do conhecimento, origem, conceitos e fundamentos. Desta forma será
analisada a relação e influências do professor e aluno onde a criança inicia sua
trajetória para vida social.

1.1 Etimologia da palavra afetividade

Em uma rápida pesquisa ao DicionárioEtimológico Online, encontramos que


a palavra afetividade tem origem do Latim Affectio, que significa,inclinação,
influência, sentimento, de Afficere, agir sobre, fazer algo a alguém, formado por Ad-,
“a”, + Facere, fazer. O sentido desta palavra mais tarde mudou para ter boa
disposição ou inclinação para com alguém. Do Latim afficere, afectum está
relacionado em produzir impressão. Composto de uma junção ad = em, para; e
facere = fazer, relacionado a operar, agir, produzir. Em outras interpretações do
Latim a palavra afetividade significa, tocar, comover o espírito, unir, fixar, também
tem o sentido de "adoecer" (BONOMI, 2008).
Diante do exposto a afetividade está relacionada ao estado psicológico de
cada um que pode ou não ser modificado a partir das situações. Segundo La Taille
(1992, p. 52) “a afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a
razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos
variados e obter êxito nas ações”.
A definição de afetividade encontra muitos obstáculos para se chegar a um
parâmetro do que realmente significa. No entanto a afetividade está ligada ao
emocional de cada pessoa, conseguindo delinear o comportamento de maneira que
visualizam o mundo e as características que se expõe dentro dele. Desta forma, a
manifestação do ser humano revela os seus sentimentos em relação a outros seres
e objetos. Através deste comportamento chamado afetividade, as pessoas
conseguem criar vínculos de amizade entre grupos, familiares, escola, igreja,
comunidade e até mesmo com animais irracionais, isto porque os animais também
são capazes de demonstrar afetividade.
14

De acordo com Jean Piaget (1983, p.45);

O sentimento dirige a conduta ao atribuir um valor aos seus fins(...) a


afetividade é caracterizada por suas composições energéticas, com
cargas distribuídas sobre um objeto ou outro segundo as ligações
positivas ou negativas. O que caracteriza, pelo contrario, o aspecto
cognitivo das condutas é a sua estrutura.

Segundo o autor o sentimento se torna um dos principais objetivos da


afetividade que precisa ser valorizada. A capacidade de raciocinar do ser humano,
faz sentir emoção que pode ser percebida a distância, como incentivo e motivação,
ou seja, uma composição energética da razão. No entanto Cortella (2012, p.13)
afirma que estamos vivendo na era da ‘despamonhalização’ pertencemos a uma
cultura que desvaloriza as emoções e tudo se vive muito rápido.

A ideia da pamonha é evitar aquilo que chamo de miojização da vida,


a vida miojo. O namoro miojo, o sexo miojo, a pesquisamiojo(grifo
nosso). Hoje um jovem imagina que para fazer uma pesquisa ele dá
uma “googleada” e pronto. Não. A internet é um poderoso meio de
começo de pesquisa, não de término. A ideia do “ficar”, comum entre
os jovens, representa a miojização das relações. Há também
casamentos miojo. Relação de casamento e também de vida. E até
relação religiosa miojizada – o sujeito vai apenas à missa das 10 no
domingo, porque é mais curtinha. Enfim, essa miojização do mundo
corresponde a uma despamonhalização da vida,que é preciso rejeitar
(CORTELLA, 2012, p.13).

O autor citado não está falando em seu livro publicado, assunto diretamente
sobre afetividade, de certa forma a citação nos chama atenção quando Cortella
(2012) diz “É preciso rejeitar a despamonhalização da vida”, o artigo discute
exatamente a pressa inerente às coletividades, advinda, em grande parte, da
evolução das Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC). Para tanto, o
significado de despamonhalizar, faz referência ao período em que as famílias se
ajuntavam para fazer pamonha, transmitindo, naquele momento, emoção,
sentimento, carinho, afetividade, ou seja, as pessoas não tem mais tempo para
trocarem afetos e o transformam em miojização, tudo muito rápido e falta de
atenção.
Toda criança necessita de atenção, ser amada, necessita de carinho, de ser
ouvida, só assim haverá um despertamento para a vida, para a aprendizagem.
Quando se fala em afetividade, não significa dizer acobertar o erro, nem dar
respostas prontas, e sim a necessidade de ensinar e encorajar a criança a descobrir
15

novos caminhos que a leva a ter reciprocidade naquilo que recebe. Portanto, o
conhecimento também se constrói através da afetividade, pois é na convivência
entre famílias e grupos de interação que ocorrem atos de comunicação,
apresentando características de comportamentos, sentimentos, crenças, valores, e
desejos que afetam as relações e consequentemente o processo de aprendizagem.

1.2 Desenvolvimento afetivo

É no lar que a criança adquire as primeiras experiências afetivas, isso


porque o relacionamento da criança está no apego com seu progenitor. O
desenvolvimento afetivo não está restrito aos cuidados básicos de saúde e nutrição,
todo ser ao nascer precisa de afeto. A criança que não recebe a devida atenção nos
primeiras anos de vida pode apresentar riscos no comportamento ao crescer e
desenvolver problemas sociais. É com a mãe que a criança tem seu primeiro
contato, a partir desse contato se estabelece novos vínculos.
Piaget (apud PAREDES e TANUS, 2000, p.40) destaca quatro tipos de
estágios do desenvolvimento humano, o primeiro período Sensório-motor de 0 a 2
anos, segundo período sendo o Pré-operatório de 2 a 7 anos, o terceiro período das
Operações concretas, compreendido entre os 7 a 11 ou 12 anos e por fim o quarto
período das Operações formais de 11 ou 12 anos em diante. Sobre o estágio
sensório motor, Piaget (apud PAREDES e TANUS, 2000, p.40) relata que:

Nessa fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus


reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas, é
um período anterior a linguagem, no qual o bebe desenvolve a
percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta.

Esta fase da criança relaciona-se com o desenvolvimento psíquico e é


expressa na percepção dos movimentos que está a sua volta, sendo a partir desses
movimentos que a criança assimila suas ações evoluindo sua capacidade do
sistema neurológico. A fase sensório-motora envolve a assimilação de compreender
o objetivo do mundo exterior, e na acomodação, a afetividade está presente no
interesse pelo objetivo, ou seja, a criança se adapta aos novos conceitos e aos
conceitos já existentes.
16

Em relação a segunda fase do desenvolvimento afetivo chamado de estágio


pré operacional, Piaget (apud PAREDES e TANUS, 2000, p.46) define que:

As brincadeiras são fontes riquíssima para o desenvolvimento da


linguagem que é uma verdadeira explosão. É também neste estágio
que ocorre o desenvolvimento dos sentimentos morais e regulam-se
os interesses e valores, ou seja, um objeto torna-se interessante à
medida que corresponde a uma necessidade. Assim, além das trocas
intelectuais, há também sentimentos espontâneos que nascem das
trocas entre pessoas tal como a simpatia em relações às pessoas
que correspondem aos interesses da criança e as valoriza. Os
interesses e a auto valorização, os valores individuais espontâneo
são as primeiras manifestações afetivas desse estágio.

Para tanto, o estágio pré-operacional que perfaz o período de 2 ao 7 anos de


idade, de acordo com Macedo (2004, p.57) é um período que se caracteriza “pelo
surgimento da capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por
meio de símbolos”.
Na fase de Operações concretas, chamada de fase da escolarização, há
aqui um egocentrismo mais acentuado, a criança não é capaz moralmente de se
colocar no lugar do outro.

O estágio das operações concretas, que vai dos 7 aos 11 ou 12


anos, tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das
ações. Surge a logica nos processos mentais e a habilidade de
discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já
pode dominar conceitos de tempo e número. Por volta dos 12 anos,
começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada
na idade adula, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o
domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita a
experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar
conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses(RAPPAPORT,
1981, p.66).

Nesta fase a criança entra na transposição de casa para a escola. É nessa


fase que é oportunizado a criança um novo ambiente e novos contatos, havendo
participação ativa em outros grupos sociais. Diante disso, o professor tem papel
fundamental no desenvolvimento afetivo de seus alunos e para isso é necessário
uma atenção especial a cada aluno, proporcionando uma condição de aprendizado
com qualidade. Desta maneira os educadores, principalmente os educadores dos
17

anos iniciais da escolarização da criança, precisam proporcionar aos seus


educandos, condições que favorecem o campo da afetividade.
Saltini (1971, p.87) confirma os argumentos acima, mencionando que o
“desenvolvimento cognitivo só é possível se houver condições afetivas e
relacionamento social favorável”. Diante do exposto, é inegável que a afetividade é
um aspecto necessário, complementar e indissociável de ensino e aprendizagem do
ser humano.
Após terminar o período pré-operatório, a criança entra no estágio da quarta
e ultima fase denominada operação formal que consiste em manifestar alterações
características do pensamento. Piaget (SEP, 1971, p.105)1 ressalta que "estas
idades médias dependem dos meios sociais e escolares". É nesta fase, entre os
quatorze e quinze anos que cada pessoa atinge o equilíbrio e permanece na fase
adulta. Tais situações exigem que ele faça dissociação de fatores por neutralização
(compensação = igualdade das diferenças) ou por exclusão (negação) (Piaget,
1983).
Nesse período, a pessoa encontra dificuldade de compreender o mundo
real. É como se vivesse numa ponte que o faz pensar ora como adulto, ora como
criança, não possui ainda domínio do mundo real e transmite reações do mundo
abstrato. No entanto é nesta fase que a criança encontra dificuldades para definir
entre o certo e o errado, passa adquirir uma identidade que manifesta outros
interesses e ideais e defende que seu pensamento está certo segundo os seus
próprios valores e naquilo que acredita. A adolescência é caracterizada por aspectos
de egocentrismo cognitivo, pois o adolescente possui a capacidade de resolver os
problemas que por vezes surgem á sua volta.

1.3 A necessidade da afetividade

Nascemos sem nenhuma percepção da realidade social que nos cerca,


portanto nossa condição de sujeitos sociais e históricos se constrói diuturnamente.
Com o passar do tempo, a criança cresce e vai construindo sua identidade, neste
sentido é preciso zelar pelo desenvolvimento integral da criança. Ao falar de zelo
integral estamos falando não apenas do cuidar, mas do cuidar e principalmente do

1
PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1971. - (SEP)
18

educar. Para desenvolver essas duas ações é preciso que o cuidar e o educar
aconteçam juntos, pois na medida em que o brincar favorece e propicia elementos
positivos para o desenvolvimento da criança, o educar a prepará para conviver em
sociedade. Saltini (2008, p.12) assinala que:

Inicialmente, educar seria, então, conduzir ou criar condições para


que, na interação, na adaptação da criança de zero até seis anos,
fosse possível desenvolver as estruturas da inteligência necessárias
ao estabelecimento de uma relação lógico-afetivo com o mundo.

Essa responsabilidade dos pais em educar seus filhos logo nos primeiros
anos de vida, com o advento da industrialização e as mudanças no comportamento
da sociedade, está sendo transferida para terceiros, ou seja, a necessidade e as
dificuldades econômicas encontradas por muitas famílias obrigam os pais a procurar
uma fonte de renda, com isso deixam as crianças aos cuidados dos avós, tios,
primos ou até mesmo vizinhos. Uma parcela significativa das mulheres necessita
trocar o trabalho do lar por algum trabalho remunerado em outro ambiente diferente
de sua casa, ou seja, para garantir o direito aos filhos de qualidade de vida a mulher
na ocasião de sua inserção no mercado foi levada pela lógica do capital a abrir mão
da convivência com os filhos. Para Chalita (2001, p.20):

A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para


os desafios da vida, de perpetuar valores éticos e morais. Os filhos
se espelhando nos pais e os pais desenvolvendo a cumplicidade com
os filhos. [...] A preparação para a vida, a formação da pessoa, a
construção do ser são responsabilidades da família. É essa a célula
mãe da sociedade, em que os conflitos necessários não destroem o
ambiente saudável.

Os filhos passaram a ficar um maior tempo sozinhos em casa sem a


presença do pai, da mãe ou responsável, encontrando-os somente no horário do
jantar ou no horário de dormir. Com isso diminuiu o tempo de convívio entre a família
e em especial mãe e filho. Desta forma, a criança passou a ter um tempo maior para
ficar com a televisão, por muitas vezes assistindo a programas que não agregam
valores morais e os princípios da boa convivência.
Com a ausência dos pais durante todo o dia as crianças passam a sentir
carência do afeto, carinho e atenção, e o pouco tempo que passam juntos os pais
19

ainda educam seus filhos para que tenham um bom relacionamento e


comportamento em sociedade. Sobre esse assunto Maturana (2001, p.29) ressalta
que:

A educação é um processo em que a criança ou o adulto convive com outro


e ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que
seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro
no espaço de convivência.

A família é essencial ao ser humano, é no convívio familiar que se aprende a


viver em meio a sociedade, é a partir dela que se é inserido no mundo da cultura no
qual se vive, e para a criança essa primeira fase da vida é fundamental, pois sendo
pais ou responsáveis a criança precisa de cuidados e afeto.

1.4 Relacionamento familiar

Ao propormos pesquisar esta temática focamos em olhar para a criança


enquanto sujeito histórico, neste sentido falar em afetividade nos anos iniciais é falar
em educação na perspectiva da formação humana. Quando envidamos esforços
pensamos em como promover uma educação na perspectiva humana dentro de um
mundo marcado por competições e toda uma lógica de exclusão.
Maluf (2009) afirma que “toda criança que brinca vive uma infância feliz”.
Considerando a fala da autora podemos afirmar que o brincar também se constitui
em elemento primordial ao processo de desenvolvimento, promove interação e
reforça o processo de construção e afirmação da identidade.
Ao discutir educação sob a ótica da afetividade estamos falando em
formação humana, neste sentido Freire (2001, p.25) pontua que:

A compreensão dos limites da prática educativa demanda


indiscutivelmente a claridade política dos educadores com relação a
seu projeto. Demanda que o educador assuma a politicidade de sua
prática. Não basta dizer que a educação é um ato político assim
como não basta dizer que o ato político é também educativo.

Ao abordar afetividade Piaget (1983, p.183) discorre:


20

O sentimento dirige a conduta ao atribuir um valor aos seus fins(...) a


afetividade é caracterizada por suas composições energéticas, com
cargas distribuídas sobre um objeto ou outro segundo as ligações
positivas ou negativas. O que caracteriza, pelo contrario, o aspecto
cognitivo das condutas é a sua estrutura.

Segundo o autor citado, a família é a estrutura essencial na vida do ser


humano, a partir dessa estrutura a criança é inserida no mundo da cultura social na
qual se vive. A infância se apresenta como a fase mais importante, é nesta fase que
a criança precisa de atenção especial, por isso o processo de adaptação da criança
à escola é um período delicado, no entanto, se faz necessário a atenção de toda
comunidade escolar. Para Cortella (2012) “o trabalho em conjunto busca
resultados2”.
Desta forma, é importante salientar que a família deve levar em
consideração o modo de relacionar-se com a criança, a importância que os pais
exercem na vida dos filhos, ou seja, que a criança não seja afetada por desvios de
personalidade, condutas irregulares, causadas pela falta de afeto dos pais ou
responsáveis.

Levar em conta a diversidade de estruturas e composições familiares


é fundamental no trabalho educativo, tanto no tratamento equânime e
sem preconceitos às diferentes famílias quanto no trabalho com as
crianças, em particular no que diz respeito a conteúdos relacionados
à casa, à família e à vida familiar. Não se pode tomar como
referência apenas a família ideal, para não dar a impressão a muitas
crianças de que sua família é estranha ou, inclusive, de que não é
uma “verdadeira família”. É preciso incorporar as diferenças como
algo normal nas mensagens verbais cotidianas, nos livros e em
outros materiais, ou quando se aborda explicitamente a família com o
tema (PANIAGUA e PALÁCIOS, 2008, p.212).

Atualmente não existe apenas um modelo de família e sim inúmeros, por


isso é preciso trabalhar com a criança respeitando sua estrutura familiar, não
constrangendo o aluno devido o tipo de configuração familiar em que vive,
contribuindo assim para o desenvolvimento cognitivo da criança na escola dentro da
sua estrutura familiar. O importante é que exista dentro da família amor, carinho e
afeto para o desenvolvimento dela, assim contribuindo com sua aprendizagem.

2
Fala do autor retirado do vídeo disponibilizado
em:<https://www.youtube.com/watch?v=OgfCig3e65w> acessado em: 23 de dezembro de 2016
21

1.5 Relacionamento na escola

Para que o professor proporcione um bom desenvolvimento à seus alunos é


necessário confiança e convicção nos seus ensinamentos para que as crianças
sintam envolvidos e aprendam melhor (CHALITA, 2001).
Ao falar no papel do educador Freire (2001, pág. 25) discorre:

A compreensão crítica dos limites da prática tem a ver com o


problema do poder, que é de classe e tem que ver, por isso mesmo,
com a questão da luta e do conflito de classes. Compreender o nível
em que se acha a luta de classes em uma dada sociedade é
indispensável à demarcação dos espaços, dos conteúdos da
educação, do historicamente possível, portanto, dos limites da prática
político-educativa.

Nesta afirmativa do autor podemos compreender a importância do educador


enquanto agente capaz de promover ações que permitam a expansão da cidadania,
do olhar que possibilite amorosidade nos fazeres da vida, que possibilite um
repensar das práticas que minimizam o ser em detrimento do ter.
Ao discutir a autoridade do educador e a especificidade da ação educativa
recorremos a Freire (1996, pág.92): “a autoridade docente mandonista, rígida, não
conta com nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de sua forma de ser,
esperar, sequer que o educando revele o gosto de aventurar-se”.
O professor precisa trabalhar de forma agradável com alunos, sem passar a
imagem de um mestre carrancudo e exigente. Da mesma forma é importante que os
pais tratem seus filhos bem, ensinando e conversando com eles para uma melhor
aproximação de relacionamento entre pais e filhos.
Vale lembrar que o diálogo é a maneira mais saudável para detectar algum
problema que venha ocorrendo na família, no relacionamento do casal ou na
educação dos filhos.
Ainda em Freire (1996, pág.38), encontramos aporte para discorrer sobre a
opção do professor; pois segundo o autor:

Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e que a


maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no cumprimento
de minha tarefa de professor, aumenta em mim os cuidados com o
meu desempenho. Se a minha opção é democrática, progressista,
não posso ter uma prática reacionária, autoritária, elitista.
22

O professor precisa ter o compromisso em capacitar suas formas de ensino


para uma melhor aprendizagem do aluno. Sendo assim, é necessário que o
professor procure uma formação continuada oferecida pelas instituições.
Os dias passam e o mundo se transforma, a globalização persuade a
sociedade e as pessoas anseiam por uma nova educação. Assim da mesma forma
as crianças necessitam de uma aprendizagem criativa diferente da educação de
algumas décadas atrás.
23

CAPÍTULO II - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi realizada à partir de experiências vividas no estágio curricular


de observação no 5º ano em uma Escola Municipal, durante um período de duas
semanas. O interesse esteve voltado em verificar a afetividade nos anos iniciais da
educação básica: implicações na relação professor aluno como facilitador na
construção do conhecimento, e saber se o professor utilizava meios metodológicos
que influenciassem seus alunos no processo de desenvolvimento e ensino
aprendizagem. Desta forma, observou-se o trabalhado desenvolvido pelo professor
e a contribuição da escola para que esse processo acontecesse.
Essa pesquisa foi desenvolvida com cunho qualitativo, que segundo
orientações de Minayo (2007, p.21) responde a questões muito particulares.

Ela se ocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que


não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com
o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das
crenças, dos valores e das atitudes.

Também foi realizada uma pesquisa documental, observações na sala de


aula e questionário aberto para a professora regente da turma pesquisada. Após o
levantamento destas informações pertinentes à investigação foram feitas as análises
dos dados obtidos. Para a realização da pesquisa efetuou-se leituras de autores que
discutem a temática abordando o comportamento dos professores e como as
crianças reagem a essa situação de afetividade ou a falta dela. De acordo com
Demo (1987, p.19):

A metodologia é uma preocupação instrumental, que trata do


caminho para a ciência tratar a realidade teórica e prática e centra-
se, geralmente, no esforço de transmitir uma iniciação aos
procedimentos lógicos voltados para questões da causalidade, dos
princípios formais da identidade, da dedução e da indução, da
objetividade, etc.

Com o objetivo de analisar as contribuições positivas na relação de


afetividade entre professor e aluno como fator relevante no aprendizado do aluno
dentro da sala de aula e do espaço escolar, observamos o comportamento da
24

criança e como o professor reage às necessidades de afeto desses alunos em sala


de aula. Nesse aspecto Antunes (2004, p.1), assina-la que:

Os valores são os alicerces da humanidade, a essência da


preservação da espécie e o “alimento” que integra e faz prosperar os
grupos sociais. Mais que isso “valores” são, em ultima instancia,
aquilo que faz sentido e, dessa forma, como tudo quanto dá razão à
vida.

Desta forma a pesquisa de campo utilizou-se de entrevista formal contendo


questões voltadas para obtenção de uma visão geral do problema pesquisado,
permitindo que a professora expressasse livremente sua opinião e atitudes em
relação ao foco da pesquisa.

Este tipo de entrevista é o menos estruturado possível e só se


distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a
coleta de dados. O que se pretende com entrevistas desse tipo é a
obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem como a
identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistado
(GIL, 1999, p.119).

Outro instrumento de coletas de dados utilizado foi a observação in loco, não


participante, segundo as orientações de Marconi e Lakatos (2010, p.78):

Na observação não participante, o pesquisador toma contato com a


comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a
ela: permanece de fora. Presencia o fato, mas não participa dele; não
se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador.
Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente,
dirigida, ordenada para um fim determinado. O procedimento tem
caráter sistemático.

A pesquisa teve uma duração de duas semanas. Na ocasião observou-se


uma turma do 5º ano, com a finalidade de analisar a afetividade como facilitadora na
produção do conhecimento e quais as expectativas e resultados obtidos com essa
prática. Segundo relata Gil (1999, p. 26) “o objetivo é organizar sistematicamente os
dados de forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema de
investigação”. Para tanto, ao final desse trabalho realizou-se uma discussão e
análise dos dados coletados, comentadas e fundamentadas por autores que
discutem a temática.
25

Por último foi descrito as considerações finais. As análises foram discutidas


em função de suas propriedades relacionais de causa-efeito, produtor-produto, de
correlações, de análise de conteúdo. Com a execução dessa pesquisa não temos
nenhuma pretensão em solucionar todos os problemas relacionados a esse assunto
e sim contribuir para o fortalecimento dos materiais pesquisados e oportunizar um
avanço do conhecimento científico sobre esse tema.

2.1 Característica do objeto pesquisado

Caracteriza o objeto desta pesquisa uma escola municipal, aberta para


atendimento ao público nos turnos matutino e vespertino, em regime de externato,
propicia o ensino de educação básica valorizando a inclusão social. Os recursos da
referida escola em pesquisa é proveniente da Rede Oficial de Ensino do município,
com ligação ao Estado de Mato Grosso através da Secretaria Municipal de
Educação e Cultura - SMEC.
A instituiçãopossui fundação datada do ano de 1982, criada através do
decreto nº 2147/82 de 06 de dezembro de 1982, localizada no município de Juara
região norte de Mato Grosso, é auxiliada pela Secretaria Municipal de Educação
com finalidade em atender a Educação de ensino básico.
O público-alvo desta unidade de ensino abrange alunos moradores do
próprio bairro em que está localizada e mais cinco bairros circunvizinhos. Analisando
a metodologia de ensino percebe-se que a mesma não está desvinculada do
contexto real, permitindo assim a nós educadores uma contemplação parcial do
homem enquanto agente do processo histórico.
O objetivo geral desta instituição é proporcionar um ensino de
conhecimentos significativos e científicos capazes de desenvolver o senso crítico no
educando considerando-o como sujeito histórico, tendo o educador como mediador,
de forma a possibilitar a construção e reconstrução de novos conhecimentos,
respeitando e valorizando as diversidades culturais, suas experiências dentro do
contexto social (PPP, 2011).
A escola pesquisada além do quadro de professor, conta com o apoio de
manutenção, nutrição, limpeza, vigia, coordenadores, secretária, diretora.
26

2.2 Um olhar sobre o contexto escolar

Ao realizar esta pesquisa, estivemos na escola por um período de duas


semanas para observar a organização e trabalhos realizados na sala pesquisada,
nesse período convivemos em sala de aula com os alunos que seriam entrevistados.
Na primeira semana de observação, após a aula, em conversas informais,
selecionamos três alunos, que através de convite aceitaram participar da pesquisa.
Essa convivência permitiu uma interação com a turma que propiciou ganhar
confiança e credibilidade. Houve um bom diálogo com a professora e alunos
referente à temática em questão.
Nos momentos em sala, observamos que o professor ao iniciar a aula,
escrevia no quadro negro com giz o nome da disciplina, página e relação dos
exercícios a serem desenvolvidos, posteriormente, distribuía os livros solicitando que
os alunos fizessem as atividades, ou seja, não demonstrava nenhuma maneira
amável ao relacionar-se com os alunos em qualquer introdução do conteúdo
estabelecido. Desta forma, a minoria conseguia resolver as atividades, alguns
alunos procuravam o professor para esclarecer suas dúvidas enquanto outros, com
dúvidas não procuravam, dessa forma, uma parcela dos alunos não conseguiam
desenvolver os exercícios propostos ou resolviam parcialmente.
Sobre esta questão Paulo Freire (2001, p.91) assina-la que é preciso ter um
diálogo entre professor e aluno:

O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que


se solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao
mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um
ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-
se simples troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes.

O método de ensino do professor observado não apresenta características


do sistema tradicional, pois durante as aulas observadas, em nenhum momento os
conteúdos foram explicados. Durante observação o professor comentou que não
precisava realizar uma introdução ou nenhum contato de afetividade com as
crianças e que essas atitudes poderiam atrapalhar o desenvolvimento da disciplina e
também o interesse no aprendizado. No entanto, durante as aulas pode-se perceber
quão necessário se dá essa relação.
27

Segundo Candau (2003, p.29), “educar não deve ser uma imposição
autoritária e sim um modo de auxiliar o sujeito a adquirir uma atitude critica frente ao
mundo”. Educação se faz com amor, paixão, é preciso facilitar o ensino e a
aprendizagem do aluno de forma que ele se torne desejável.
A atitude distante do professor em relação aos alunos, poderia se explicar
pelo fato dele não ser titular da turma, pois era substituto por um período de trinta
dias, o que veio coincidir com o período da observação e coleta dos dados desta
pesquisa, entretanto, esta justificativa não pode ser utilizada como pretexto para o
desenvolvimento das aulas em sala.
Os alunos demonstram mais empenho nas atividades quando há um
relacionamento de carinho na relação professor/aluno. Na observação percebi que
gostavam de andar juntos durante o intervalo e após o horário das aulas algumas
crianças ficavam sentadas ao nosso lado à espera do ônibus. O que deixou evidente
a importância que davam à atenção dedicada a elas. Esse tempo juntos permitia um
diálogo sobre o desenvolvimento das aulas, logo, o momento era oportuno para
entrevistar os alunos.

2.3 Característica do sujeito pesquisado

Na realização da pesquisa foram selecionados os sujeitos que contribuiriam


com as informações dos assuntos relacionados à temática no ambiente escolar. Os
sujeitos da pesquisa estão compostos pela professora da turma do 5º ano da escola
municipal em pesquisa. Também houve a participação de 03 (três) alunos da turma.
Para a coleta dos dados utilizou-se um questionário com questões abertas para a
professora.
A professora da turma considerada sujeito da pesquisa foi caracterizada com
nome fictício de “professora”, é do sexo feminino, com idade de 36 anos, pedagoga,
especialista em psicologia do ensino-aprendizagem e psicomotricidade, atuante na
educação há 8 anos.
Os alunos foram descritos respectivamente por “A1”, “A2”, “A3”, todos da
mesma turma do 5º ano, a faixa etária está relacionado entre 10 a 12 anos.
28

2.4 Contribuições do sujeito da pesquisa

2.4.1 Caracterizando a produção dos dizeres dos alunos

A turma pesquisada já mencionada na metodologia desta pesquisa é do 5º


ano do ensino fundamental de uma escola da rede municipal de ensino, sendo eles
um número de vinte meninas e dezenove meninos perfazendo um total de trinta e
nove alunos, dos quais nove destes alunos se encontram com dificuldades de
aprendizagem.
A escola proporciona apoio pedagógico para os alunos que apresentam
dificuldades no aprendizado, para realizar esse trabalho utilizam a sala de leitura
como o laboratório de aprendizagem. A professora trabalha leitura com esses
alunos, além de proporcionar aula de reforço em outras disciplinas. A turma
pesquisada tem um bom aproveitamento, se tratando da turma de modo geral são
alunos assíduos, participativos e críticos.
O maior interesse da turma consiste em atividades desafiadoras e gostam
muito da leitura como fonte de prazer, relacionam-se bem entre os pares, trabalham
em equipe, são solidários e possuem valores básicos para um bom convívio.
No período em que estivemos presentes em sala de aula, me foi dado
abertura para explicar o que é afetividade e qual o seu significado, isso ocorreu por
várias vezes antes de aplicar o questionário aos alunos selecionados para fazer
parte desta pesquisa. As explicações discorreram sobre a prática pedagógica
desenvolvida numa relação afetiva positiva entre professor e alunos tornando o
aprendizado mais significativo. Desta forma coletamos os dados que foram
relevantes para a pesquisa, os quais foram transcrito e analisados na sequência.
Para os alunos participantes desta pesquisa foi aplicado um questionário
igual a todos. A primeira pergunta pautou em saber como eles entendiam o que era
afeto e como poderiam definir essa questão entre professor e aluno. Nas respostas
transcritas “A1” respondeu que afeto “é a brincadeira entre o professor e o aluno,
isso ajuda pra gente aprender mais e torna as aulas mais divertidas”. Para “A2”
“afeto é quando os professores conversam com a gente, quando eles brincam são
mais amigos e as aulas ficam mais legal”. “A3” respondeu que “afeto é a atenção
que o professor tem com a gente, é o contato quando estão próximos”.
29

Em análise a resposta anterior os alunos relataram que o afeto está


relacionado com a brincadeira, atenção e diálogo. Neste sentido, é necessário que o
professor esteja atento a esses sentimentos para “transformar o aprendizado do
aluno em algo prazeroso, o exercício de uma pedagogia afetiva permite ao professor
conhecer o seu aluno bem como suas particularidades” (CUNHA, 2008, p.67).
O segundo questionamento procurou saber sobre a afetividade na escola, ou
seja, de que forma é visto por eles a afetividade no espaço escolar. Para “A1" - a
professora interagir mais com nós alunos, deixar de usar tanto o quadro e trazer
mais atividades de interação para as aulas. Segundo “A2" – a professora deve trazer
mais desenhos, brincadeiras que possa divertir para que as aulas não sejam tão
cansativas e demoradas o tempo todo. Já para “A3" - afetividade na escola é quando
o professor aplica uma aula interessante e o aluno passa a participar mais com a
sala, tornando a aula mais divertida e gostosa de assistir”.
As respostas a esse questionamento podem ser analisadas da seguinte
forma, a afetividade segundo os alunos só existe quando a professora trabalha com
brincadeiras que contribui para o desenvolvimento cognitivo, porém quando é
aplicado atividades no quadro que estimula o raciocínio, os alunos entendem que
não há afeto nesta hora, ou seja, que a professora deixa de ser atenciosa e passa a
ser segundo eles “chata”. Para ajudar os alunos a compreenderem a relevância de
se utilizar metodologias diferenciadas para aplicação dos conteúdos, Saltini (2008,
p.98) pontua: “o educador sensível é aquele que questiona suas ações baseando-se
na abordagem que a criança faz da realidade, verbalizado uma realidade vista a seu
modo (criança), com as suas capacidades estruturais, funcionais e afetivas”.
Na sequência os alunos foram questionados a responder qual opinião possui
sobre a existência de relações entre afetividade e aprendizagem. Todos
responderam que sim, e “A1” relatou que “se a professora tratar os alunos com mais
carinho e atenção os alunos podem desenvolver mais rápido, sem muita briga e
discussão". Para “A2" tem que haver mais amizade, a professora não conversa
comigo ela é séria e brava, se ela fosse mais minha amiga eu participaria mais. “A3”
respondeu que “se a aulas fossem mais divertidas certamente o desenvolvimento
seria satisfatório”.
Desta forma, entende-se que o professor em sala deve ser parceiro dos seus
alunos, procurar compreende-los, é necessário ter confiança para haver troca de
informação antes mesmo do inicio da aula. Se houver a participação do professor e
30

a interação com os alunos, a probabilidade dos alunos terem um aproveitamento


aumenta consideravelmente. Neste sentido, o professor que organiza seu conteúdo
de forma prazerosa e interativa, a percepção disto é o que sua postura seja de um
bom educador. “A postura desse profissional se manifesta na percepção e na
sensibilidade aos interesses das crianças que em cada idade diferem em seu
pensamento e modo de sentir o mundo” (SALTINI, 2008, p.87).
Finalizando o questionamento com os alunos tivemos a intenção de saber
como eles agem em sala para que aconteça afetividade entre pares. Para “A1" - "eu
gosto de brincar com meus amigos no parque na quadra e jogar bola, gosto também
de pintar e desenhar”. Segundo “A2" - "Eu não consigo me concentrar nas aulas
durante as atividades que o professor passa, são muitas contas e textos para copiar
e ler e a professora é muito brava, ela briga com todo mundo”. Conforme “A3" -
"participo mais com a turma e tenho desenvolvimento melhor com meus amigos
quando estamos juntos, as aulas interativas são mais interessantes e divertidas”.
As contribuições dos alunos afirmam que é possível haver maior
desenvolvimento quando se presencia uma interatividade do professor com o aluno,
desta forma a afetividade se torna mais frequente e a participação dos alunos nas
atividades pode ser percebido com maior intensidade. Para Oliveira (2002, p.160), “o
afeto contribui com o desenvolvimento psicológico da criança, pois contribui para
que as mesmas se relacionem melhor com o outro e com o mundo”.
Em análise, pudemos constatar no período de observação que as crianças
brincam sempre unidas, uma auxiliando a outra nas brincadeiras, e que apresentam
um semblante alegre, ou seja, estão sempre sorrindo, se abraçando e demonstrando
carinho uns pelos outros, são mais participativas aprimorando os vínculos de
amizade.

2.4.2 Caracterizando a produção dos dizeres da professora

Com o passar dos anos tudo sofre transformação, modifica; com os alunos
isso não é diferente, é da natureza humana se desenvolver, portanto cabe ao
professor a busca de novas maneiras que contribuam para esse desenvolvimento.
Para que isso aconteça o professor precisa tornar as aulas interessantes e atrativas
onde os alunos tenham um envolvimento maior com a aula possibilitando um melhor
desenvolvimento na aprendizagem.
31

Nesta pesquisa foi aplicado um questionário à professora da turma do 5º


ano, para obtermos informações do seu conhecimento sobre afetividade. Diante das
respostas da professora, uma análise foi realizada com cada fala para saber o nível
de relacionamento afetivo da professora em sala referente aos alunos da turma.
No início das aulas a professora apresentava um semblante alegre,
cumprimentava todos da sala, logo emseguida passava as explicações das
atividades. Neste momento havia uma interação de afetividade maior entre a
professora e alunos.
Para iniciar questionamos à professora como definia afetividade, em sua
resposta argumentou: “o afeto é tratar bem as pessoas falar com carinho, mostrar
que tem amor”. Mediante a resposta da professora a essa questão pode-se perceber
que a afetividade, do seu ponto de vista, é ser educado com as pessoas e que esta
relação pode começar através de um simples abraço, pois, demonstrar afeto
segundo a professora, é demonstrar amor pelos alunos.
O professor desempenha um papel fundamental entre a criança e o
conhecimento, criando um elo entre a cognição e a afetividade. Dessa forma, vale
ressaltar a importância da dimensão da afetividade no processo ensino-
aprendizagem e a ação do professor como fator determinante neste processo.
A afetividade vai além de demonstrar amor pelo aluno apenas em sala de
aula, é acreditar, demonstrar confiança, respeito, proporcionar momentos agradáveis
que facilitem o aprendizado. Nesse contexto Freire (1999, p.29) relata que:

Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo.


Quem não é capaz de amar (...) não pode educar. Não
háeducaçãoimposta, como não há amor imposto. Quem não ama
não compreende o próximo, não o respeita.

A professora foi questionada quanto a afetividade no âmbito geral em


relação a escola, a qual pontuou: “o professor demonstra afeto pelos alunos no jeito
de falar, quando demonstra carinho pelo que faz, demonstra amor pelo seu
trabalho”. Nesta resposta percebe-se que a professora relaciona a possibilidade de
haver afeto entre seus alunos e colegas de serviço se o profissional amar o que faz,
ou seja, se o professor e todos da equipe de apoio da unidade escolar se relacionam
bem e demonstram alegria e contentamento no trabalho fazendo do ambiente
escolar clima agradável e de confiança, contribuirá para o desenvolvimento e
32

aprendizagem dos alunos em sua totalidade. Pois se os alunos percebem um clima


de amizade e afeto entre os funcionários, os mesmos serão influenciados por este
clima harmonioso, sentindo assim prazer em estar na escola e motivados a
aprender.
De acordo com Saltini (1997) serenidade e a paciência do educador, mesmo
em situações difíceis, fazem parte da paz que a criança necessita.
Isso estabelece um clima de confiança e uma atitude de respeito com sí
próprio e com os alunos desta forma, passa a ser um mediador da aprendizagem.
De acordo com Piaget (1975, p.226), “cada um dos personagens do meio ambiente
da criança ocasiona em suas relações com ela uma espécie de esquema afetivo,
isto é, resumos ou moldes dos diversos sentimentos sucessivos que esse
personagem provoca”.
No questionamento seguinte, para a professora o momento que percebe
trocas de afetividade entre professor e seu aluno é “quando chega perto da
professora e fala ‘oi pro’, gostam de tocar no braço ou quando pedem apoio e dizem
‘me ajuda pro’, desta forma entende-se que todos de igual modo querem uma
atenção exclusiva do professor”.
Segundo a professora existem outras formas de se mediar afeto, “pode ser
através do olhar, saber ouvir, nos pequenos gestos demonstrados”. Segundo Cury
(1958, p.79) “Pequenos gestos que geram intensa emoção podem influenciar mais a
formação da personalidade das crianças do que os gritos e pressões”.
A partir da fala da professora podemos perceber que há uma relação de
afetividade entre aluno e professor que é percebida em pequenos gestos,
construindo um clima harmonioso em sala de aula, pois ela relata que os mesmos a
chamam de ‘pro’ e se sentem a vontade para fazer perguntas e pedir apoio quando
necessitam. Enfatizamos também a observação da professora quanto a perceber
pequenos gestos de afetividade. “Aquele educador que se centra nas crianças
observa e avalia constantemente” (SALTINI, 2008, p.103). Para Libâneo (1994,
p.251) "os aspectos sócio-emocionais se referem aos vínculos afetivos entre
professor e aluno, esses vínculos não podem ser confundidos com a relação de mãe
e pai no lar”.
Quanto perguntado se na sua concepção pode existir relações entre
afetividade e aprendizagem, obtivemos a seguinte resposta: “Sim, a afetividade é
importante no processo da aprendizagem, pois quando a gente valoriza as
33

potencialidades dos alunos eleva sua autoestima, ao acreditarmos em sua


capacidade estimulamos os alunos a tentarem resolver as atividades propostas e
isso contribui com a aprendizagem. Quando estamos fazendo uma brincadeira,
querem ficar perto, do lado da professora, e no final da aula o beijo na professora, e
quando a professora elogia o aluno também é um gesto de afeto”.
Fica evidente na fala da professora que há uma relação de amizade entre
eles e que os alunos tem grande carinho por ela, demonstrado quando relata
‘querem ficar perto, do lado’. Essa interação aluno professor possibilita prazer na
aprendizagem e o aluno se sente mais confiante mediante a atitude do professor
que o elogia demostrando afeto, gerando um ambiente saudável e propício para a
aprendizagem. Quando a criança se sente valorizada e motivada aprende melhor os
conteúdos, a partir de um novo olhar sobre ela, como ser integral. De acordo com
Moreno (1999, p.64), “todo membro de um grupo tem necessidade de se perceber
aceito e amado por seus pares. Essa necessidade reflete seu desejo de possuir um
lugar permanente no grupo sem se ver ameaçado a marginalização”.
A professora foi questionada se é possível que em algumas situações as
questões afetivas são indiferentes para aprendizagem, a qual nos respondeu: “não
consigo separar afetividade de aprendizagem, pois se a criança tem afeto pelo
professor com certeza ela estará mais confiante e aberta para aprender”.
Segundo ela, não tem como um relacionamento saudável não trazer
influências positivas e influenciar no comportamento do aluno. Portanto ela acredita
que tudo que aprendemos é fruto da interação que temos com outras pessoas.
Acrescenta ainda que o aluno conhece quando o professor é verdadeiro deixando
transparecer esse sentimento quando se sente mais confiante e participativo
disposto a aprender.
Para Wallon (2007, p.58), “o processo ensino-aprendizagem facilitador do
ponto de vista afetivo é aquele que permite a expressão e discussão dessas
diferenças e que elas sejam levadas em consideração, desde que respeitados os
limites que garantam relações solidárias”.
Já para Saltini (1999, p. 20) “a escola deveria também saber que em função
dessas articulações, a relação que o aluno estabelece com o professor é
fundamental enquanto elemento energizante do conhecimento”
Ao ser perguntado se é possível que os comportamentos afetivos possam
auxiliar na aprendizagem, a professora da turma respondeu que “sim, quando o
34

aluno tem bom relacionamento com professor, haverá mais estímulo para estudar,
vontade de aprender”.
Observa-se nessa resposta uma contradição entre a fala da professora e
suas atitudes em sala de aula. Durante a observação, evidenciou-se seu
relacionamento frio e distante com os alunos e uma vez que ela compreende a
importância das relações afetivas como incentivadoras para ajudar o aluno na
aprendizagem, o comportamento esperado é outro. Sobre esse aspecto Chalita
(2001, p.248) ressalta:

Os alunos precisam de afeto. E só há educação onde há afeto, onde


experiências são trocadas, enriquecidas, vividas. O professor que
apenas transmite informação não consegue perceber a dimensão do
afeto, de atenção. A família cada vez mais distribuída gera filhos,
ainda mais complicados, tristes, ressequidos, carentes de um mestre
que estenda a mão e não tenha medo de dar amor. Não se quer com
isso desprezar a importância dos pais, nem tentar cobrir sua
ausência e indiferença na vida dos filhos. Entretanto, como não dá
para reclamar apenas, alguma coisa precisa ser feita, que o
professor minimize esse sofrimento e auxilie o desenvolvimento
harmônico do aluno.

Segundo o autor, com carinho e atenção as chances do aluno despertar


para o conhecimento ficam maiores, ampliando as chances no aprendizado.
Perguntou-se na sequencia se ela achava possível que em algumas
situações a falta de afetividade pudesse dificultar ou bloquear a aprendizagem.
Segundo a professora: “se uma criança não tiver afeto pelo professor, não terá
ânimo para estudar, sempre terá dificuldade de se aproximar do professor para pedir
apoio pedagógico e também terá rejeição de ir para escola”.
De acordo com a fala da professora é fundamental manter uma relação de
afeto com os alunos, pois estimula o aluno tanto pra estudar, quanto para manter um
ambiente saudável com todos aqueles que estão a sua volta. Segundo sua fala se
não existir afetividade não haverá aproximação, consequentemente isso afetará
negativamente o aluno que se distanciará do professor, prejudicando seu
envolvimento nas aulas ou até mesmo abandono escolar.
A esse respeito, Chalita (2001, p.11) ressalta que “o ato de educar só se dá
com afeto, só se completa com amor”.
35

Perguntamos à professora como ela age em sala para que a afetividade


aconteça. Sobre esse questionamento ela nos relatou: “converso muito com meus
alunos, demostro carinho quando falo, mas quando é necessário sou dura. Mas
demonstro que gosto de ser professora. Quando estou ensinando demonstro que
gosto do que faço, sou amiga”.
A afetividade não é sinônimo de bondade; o afeto não é transmitido,
segundo a professora, somente nos momentos de amor, carinho e atenção; as
vezes é necessário que um professor seja rígido também, corrigir quando
necessário, explicando a eles, que aquele que ama também corrigi, para que os
alunos aprendam a conviver em harmonia com seus amigos, familiares e em
sociedade. Corrigir também é uma demonstração de amor, e segundo Rodrigues
(1976, p.174): “a aprendizagem escolar depende, basicamente, dos motivos
intrínsecos: uma criança aprende melhor e mais depressa quando se sente querida”.
A professora ainda relata que é feliz no trabalho,e que deixa refletir isso na
sua vida, o que é importante, para que os alunos construam uma imagem positiva da
professora. Para Grillo (2004, p.106) “a docência envolve o professor em sua
totalidade; sua prática é resultado do saber, do fazer e principalmente do ser,
significando um compromisso consigo mesmo, com o aluno, com o conhecimento e
com a sociedade e sua transformação”.
Finalizando os questionamentos, procuramos saber se ela obtém resultados
com afetividade na produção do conhecimento, ao qual respondeu: “não vejo como
não obter resultados, se agir desta forma sempre teremos resultados positivos, e o
ensino-aprendizagem ocorre de forma tranquila e o resultado é gratificante”.
Segundo a fala a professora, se houver interação, consequentemente o aluno
será estimulado a aprender. Ainda deixa claro quando diz que o resultado é
gratificante, que o professor sabe perceber quando o suas aulas estão sendo
produtivas e o conhecimento está sendo construído positivamente de uma forma
alegre.
Nesse sentido compreendemos que a escola não deve ser um espaço de
ensino voltado apenas para os aspectos cognitivos. O aluno tem uma história, traz
consigo experiências, elementos que precisam ser respeitados e valorizados.
Segundo Freire (1996, p.18),
36

o processo de ensino-aprendizagem envolve uma interação sócio-


afetiva entre um ensinante (aquele que ensina) e um aprendente
(aquele que aprende). Esta interação se relaciona tanto com o
ambiente sociocultural (primeira referência pela qual a criança se
desenvolve com o apoio das pessoas), quanto com o ambiente
escolar, social e familiar.

O professor e a escola, portanto, devem estar atentos aos aspectos que


valorizem a cultura do aluno, relacionando os conteúdos apreendidos com suas
vivências. Ao favorecer os conhecimentos prévios dos alunos e sua realidade
cultural o processo de ensino-aprendizagem ocorre de forma mais eficiente e
prazerosa. O afeto neste contexto proporciona não somente um ambiente agradável
para professor e aluno, mas sim uma educação humanizadora voltada para a
transformação, centrada na solidariedade.
37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O educador representa um amigo para seus alunos, portanto há uma


necessidade em observar o quanto á falta de afetividade com as crianças pode
apresentar sintomas de brigas, agressões e falta de interesse no ensino.
Compreendeu-se por meio desta pesquisa, segundo as respostas dos
alunos, que o afeto aproxima a criança do professor, facilitando o entendimento dos
conteúdos ministrados em sala. Nesse sentido o educador precisa estar atento a
modificar sua metodologia a fim de atender a necessidade específica do problema
do aluno, tornando o ato de aprender e ensinar mais significativos para ambos.
Segundo as falas do professor, durante a pesquisa, o educador precisa se
comprometer com suas respectivas funções focando nas necessidades do aluno.
Para isso o professor precisa ter capacidade de ouvir, refletir, e discutir sobre os
problemas que se referem a aprendizagem, entendendo como funciona na prática
através das estratégias de ensino e dinâmicas.
O principal motivador no espaço educativo é o educador, seus desejos,
anseios, metas e ideais, não podem se perder ao longo do tempo, sua metodologia
deve expor uma qualidade imprescindível almejando sempre melhores resultados
em uma produção coletiva essencial para a formação humana. O educador
transforma o aluno em um ser humano, através do amor, do carinho, transformando-
o em um cidadão do bem, feliz é aquele acredita na sua totalidade, podendo o tornar
próximo um ser humano mais feliz e confiante.
Segundo contribuições dos alunos, eles se sentem felizes quando são
tratados com carinho e atenção pelos colegas e professores. Nesse contexto, a
escola deve ser um ambiente acolhedor, trazendo novidades que encantem a
motivação de estar presente todos os dias, dialogando com as famílias durante essa
fase que a criança está passando. O aluno precisa se sentir seguro, e através do
diálogo o professor compreende a situação de cada aluno e percebe as dificuldades
de aprendizagem, portanto necessita refletir sobre seu trabalho em sala de aula,
respondendo aos questionamentos das crianças, às dúvidas, apresentando as
regras a serem cumpridas na escola, sendo estas, formas de se trabalhar limites
com as crianças.
Os dados apontaram que no espaço escolar os profissionais necessitam
conhecer a realidade de cada aluno, para que aconteça o diálogo em sala de aula,
38

ouvindo cada um, transformando esse espaço num lugar de aprendizagem


significativa.
39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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2004.

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41

SALTINI, Cláudio J. P. Afetividade e Inteligência. Rio de Janeiro: Wak, 2008.


42

APENDICE
43

Apêndice A–Questionário aplicado à professora

Caro (a) Professor (a)


Sou aluno do curso de Licenciatura Plena de Pedagogia da Universidade do
Estado de Mato Grosso – UNEMAT, estou fazendo uma pesquisa sobre a
Afetividade nos anos iniciais da educação básica: implicações na relação professor
aluno como facilitador na construção do conhecimento, orientado pela professora
Berenice Maria Dalla Costa. Peço sua colaboração no sentido de responder às
questões a seguir. Obrigado.

1 -Como você pode definir afeto?


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - O que você pode definir afetividade na escola?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – Qual é o momento que você percebe trocas de afetividade entre professor e seu
aluno?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 – Em sua opinião, podem existir relações entre afetividade e aprendizagem? De
que forma?/ Citeum exemplo.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5 – É possível que em algumas situações as questões afetivas são indiferentes
paraaprendizagem? Explique
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6 - É possível que em algumas situações as questões afetivas podem auxiliar
naaprendizagem? De que forma?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7- É possível que em algumas situações as questões afetivas podem dificultar ou
bloqueara aprendizagem? De que forma? Cite um exemplo?
44

___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8 - E como você age em sala para que essa afetividade aconteça?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9– Quais são os resultados da afetividade na produção do conhecimento?

Apêndice C–Questionário aplicado para osalunos

1 -Como você pode definir afeto?


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2 - O que você pode definir afetividade na escola?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3 – Qual é o momento que você percebe trocas de afetividade entre professor e seu
aluno?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4– O que você faz em sala para que aconteça afetividade?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

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