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Pedagogia

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIALCONECTADO


PEDAGOGIA

THAIS LUCIANA FERREIRA CARDOSO

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS


POSITIVAS NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

CAIAPÔNIA
2018
2

THAIS LUCIANA FERREIRA CARDOSO

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS


POSITIVAS NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

Projeto de Ensino apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Licenciado em Pedagogia

Orientadora: Prof. Ms. Hanna A. Feitosa


Tutora eletrônica: Helen Cristina P.D. Muniz
Tutora de sala: Sueli Aparecida da S. Castro

CAIAPÔNIA
2018
3

CARDOSO, Thais Luciana Ferreira. A importância das relações interpessoais


positivas na construção da aprendizagem. 2018. 34f. Projeto de Ensino do Curso
de Pedagogia. Centro de Ciências Exatas e Tecnologia. Universidade Norte do
Paraná, Caiapônia, 2018.

RESUMO

Esta pesquisa direcionou um olhar crítico sobre as relações interpessoais na escola,


tendo como temática a importância da afetividade entre professor e aluno,
principalmente quando se trata da construção das relações interpessoais, pois,
sabe-se que a afetividade é um combustível precioso para as relações humanas e,
portanto, essencial na construção da aprendizagem. A temática do projeto proposto
abarca a dimensão da Gestão Escolar, sendo definido a fim de responder à
problemática interposta na seguinte questão: qual a importância das relações
interpessoais para a aprendizagem? Desse modo, o objetivo central do estudo foi
analisar de que modo a construção da afetividade e como pode exercer influência no
processo de ensino aprendizagem. A proposta do projeto, fruto dos estudos teóricos
que o fundamentam, voltou-se para os educadores que cotidianamente são
desafiados a construir a aprendizagem sem deixar de lado as relações afetivas. As
atividades do projeto foram desenvolvidas em forma de oficinas temáticas, de
responsabilidade do grupo gestor da escola campo, em parceria com outros agentes
educativos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Os autores que, dentre
outros, fundamentaram o estudo foram Fernandéz (2010); Mosquera (2004); Freire
(1996), Antunes (2007), além dos Referenciais Curriculares Nacionais para a
Educação Infantil (RCNEI). Esta pesquisa pretendeu somar com os agentes
educativos para que pudessem observar como as relações interpessoais positivas
contribuem para a solução dos possíveis conflitos originados na escola. Desse
modo, o estudo buscou dimensionar de que forma o afeto pode se instituir como
instrumento importante na integração da criança, na aprendizagem e, sobretudo em
sua formação crítica, pautada em valores e no respeito pelo outro.

Palavras-chave: Escola. Família. Professor. Aprendizagem. Alunos.


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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................5
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................7
3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE ENSINO..........18
3.2 Justificativa.................................................................................................18
3.3 Problematização.........................................................................................19
3.4 Objetivos.....................................................................................................19
3.5 Conteúdos..................................................................................................19
3.6 Processo de desenvolvimento....................................................................20
3.7 Tempo para a realização do projeto...........................................................25
3.8 Recursos humanos e materiais..................................................................26
3.9 Avaliação....................................................................................................26
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................27
REFERÊNCIAS...................................................................................................29
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1 INTRODUÇÃO

O seguinte projeto discorre sobre a temática das relações


interpessoais positivas e sua influência na aprendizagem, se inserindo no contexto
da Gestão Escola, sendo pensado para atender às prerrogativas do trabalho com a
afetividade e as relações interpessoais que são construídas no espaço escolar e que
devem mediar a aprendizagem.
Destaca-se que, de modo geral, a vida dos sujeitos se pauta naquilo
que é construído desde quando nasce, toma forma no seio familiar e se
complementa no contexto social, tendo parte nesse processo a vivência escolar.
Torna-se, então, possível compreender que os indivíduos são formados pelos
aspectos culturais, afetivos, religiosos e familiares e a escola soma tudo isso no
fortalecimento das relações interpessoais.
Não é apenas o afeto, mas é a construção de concepções que
precisam se basear na positividade, no respeito pelo que o outro é, com suas
diferenças e características. Quando isso não ocorre, pode ocorrer uma ruptura nas
relações que irá se refletir na aprendizagem, na autoestima e no modo como a
criança se relaciona com o mundo e pelo que foi abordado, destaca-se a importância
deste trabalho, que se justificou na necessidade de ofertar momentos nos quais os
professores da escola campo pudessem refletir sobre a importância destas relações
afetivas, sendo relevante por se tornar também um meio de compreensão de como
se deve construir a ação pedagógica voltada para as relações interpessoais.
As relações interpessoais também promovem no ambiente escolar
uma convivência agradável entre todos que compõem a instituição de ensino.
Visando esse aspecto, o problema de pesquisa se constitui nas seguintes questões:
De que forma as relações interpessoais contribuem ou interferem no processo de
ensino aprendizagem? Como os valores relativos às relações interpessoais
interagem no contexto escolar? Qual discurso utilizado pelos professores de uma
escola pública fundamenta o trabalho com as relações interpessoais e a
aprendizagem?
O objetivo principal da proposição do projeto esteve em
compreender a importância dos valores morais, espirituais e culturais na construção
das relações interpessoais na escola e no espaço constituinte da sala de aula.
Desse modo, o estudo visou refletir sobre a afetividade no processo ensino-
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aprendizagem, partindo do pressuposto de que as relações interpessoais são pontes


entre alunos e professores e devem ser nutridas de forma positiva.
Não há como negar a ligação entre afetividade e aprendizagem, pois
na escola a criança se relaciona emocionalmente com os colegas e professores, o
que faz com que se reflita sobre a necessidade de resgatar este tema na ação
pedagógica como mediadora do processo de ensino-aprendizagem. Nesse aspecto,
torna-se essencial a existência de estudos e pesquisas que discorram sobre as
relações interpessoais até mesmo como uma forma de demonstrar que não há como
mecanizar a sala de aula, pois esta é formada de sentimentos e expressões que irão
construir a aprendizagem. Para tanto, os conteúdos selecionados para a efetivação
do projeto, partem da compreensão do sejam as relações interpessoais, perpassa
pela sensibilização do professor, trabalhando autoestima e autoconhecimento e
finaliza com técnicas de trabalho com as afirmações positivas, relacionadas ao
relacionamento interpessoal.
Não é apenas o afeto, mas é a construção de concepções que
precisam se basear na positividade, no respeito pelo que o outro é, com suas
diferenças e características. Quando isso não ocorre, pode ocorrer uma ruptura nas
relações que irá se refletir na aprendizagem, na autoestima e no modo como a
criança se relaciona com o mundo e pelo que foi abordado, destaca-se a importância
deste trabalho, que se justificou na necessidade de ofertar momentos nos quais os
professores da escola campo pudessem refletir sobre a importância destas relações
afetivas.
Para o desenvolvimento das oficinas propostas serão utilizados
como recursos os equipamentos multimídia dispostos pela escola campo, e os
recursos humanos serão formados por psicólogos e psicopedagogos que juntamente
com a equipe de gestão serão responsáveis pelo desenvolvimento das oficinas. A
avaliação do projeto será feita em longo prazo, uma vez que este será efetivado no
período de seis meses, com uma oficina semanal. Como é um projeto que
pressupõe mudanças atitudinais, este será avaliado no início, com a proposição,
durante, observando a participação dos professores e ao final, com a proposição de
um diário de registro das atividades realizadas em sala de aula, partindo do que foi
proposto nas oficinas.
Tendo por base os conceitos de relações interpessoais e afetividade,
o estudo teve como metodologia a pesquisa bibliográfica e os autores que, dentre
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outros, fundamentaram o estudo foram Fernandéz (2010); Mosquera (2004); Freire


(1996), Antunes (2007).

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

As relações interpessoais mediam toda forma de convivência


humana, desde a convivência familiar até a vivência profissional. As primeiras
aprendizagens da criança são construídas a partir da relação que estabelece com
seus familiares e que depois serão fortalecidas no ambiente escolar.
Quando o ambiente de vivências interpessoais é prazeroso, há o
equilíbrio das emoções. Por outro lado, se existem dificuldades, a motivação fica
precária e isso passa a interferir diretamente nas boas relações. É importante frisar
que as relações interpessoais nem sempre são estabelecidas de forma positiva. Se
o sujeito não convive bem com seus vizinhos, por exemplo, isso não deixa de ser
uma relação interpessoal, entretanto, negativa. O mesmo acontece quando existe
uma competitividade muito acirrada entre um e outro profissional a ponto de haver
uma grande interferência no profissionalismo ou na produtividade.
No contexto da escola, as relações interpessoais são estabelecidas
de uma forma bem delicada, pois este, sendo um ambiente multicultural, fomenta os
conflitos oriundos da não compreensão do espaço que o outro ocupa e seu direito
de ocupá-lo. As denominadas incompatibilidades ideológicas são as que mais
interferem nas relações interpessoais, sendo motivação para grandes brigas e
discussões.
No tocante à escola, se as relações não são equilibradas desde a
gestão até o aluno e professor, as possibilidades de um bom trabalho são
diminuídas. Do mesmo modo, quando o professor não consegue se relacionar bem
com os alunos em sala de aula, a aprendizagem será comprometida.
Sobre o relacionamento interpessoal e sua influência na
aprendizagem, Mosquerae Stobaus (2004, p.93) “ Grande parte dos problemas que
um docente enfrenta podem ser provenientes de um ambiente hostil, podendo este
se tornar ainda mais hostil quando se trabalha com pessoas diversas. ”
O bom relacionamento pode ser visto como um dos passos para a
aprendizagem, entretanto, uma boa relação interpessoal não significa que os
conflitos não existam, mas que em sua resolução, as ideias contrárias sejam
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respeitadas e o respeito, mantido. É papel do professor fazer com que os alunos


saibam que ninguém é obrigado a pensar da mesma forma, mas o respeito pela
ideia do outro deve ser primordial. O bom relacionamento parte do entendimento de
que os indivíduos não são iguais, e por isso, agem e pensam de formas diversas.
Devido à diversidade de ideias e culturas nem sempre a convivência se delineia da
forma esperada. É nesse ambiente que a afetividade assume sua importância para a
construção de relações interpessoais positivas.
Citando Gaspar (2011)

A presença da afetividade na relação professor-aluno e a qualidade da


mediação pedagógica marcam a atuação profissional docente no
desenvolvimento do aluno. Quando a afetividade se torna um instrumento
de trabalho e o educador a reconhece como elemento direcionador de
práticas didáticas, o resultado desse processo será diferenciado. (GASPAR,
2011, p.32)

Quando se trata dos professores e seus alunos, as relações


interpessoais positivas passam a ser fundamentais para que a aprendizagem ocorra.
Existe, na sala de aula, o compartilhamento de experiências que podem influenciar
positivamente na construção do conhecimento.
Cunha (2004, p.155) faz uma interessante reflexão ao afirmar que
“[...] ser professor e ser aluno extrapola a relação de ensinar e aprender os
conteúdos de ensino [...] O professor e o aluno não podem ser engolidos pelo ritual
escolar, precisam ser sujeitos conscientes, protagonistas desse ritual. ”
É esse protagonismo que faz com que as relações interpessoais se
tornem uma temática interessante, pois originam-se dos vínculos afetivos que se
constituem no ambiente escolar. Quando se trata desses vínculos, é interessante
destacar que não podem ser invasivos ou impositivos.
As relações interpessoais positivas nascem primeiro da empatia, da
identificação de um sujeito com o outro. No caso da sala de aula, a empatia deve
emanar do professor para que o aluno se sinta seguro para compartilhar suas
experiências. “O clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes,
generosas, em que a autoridade docente e as liberdades dos alunos se assumem
eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico” (FREIRE, 1996, p.
103).
Indiscutivelmente o professor tem que se colocar como o principal
responsável pela construção de uma relação harmoniosa em sala de aula. Em
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alguns contextos, o educador passa a ser visto como um norteador até mesmo das
outras relações interpessoais que são instituídas fora do ambiente da sala de aula.
Embora pareça injusto sob alguns aspectos, afinal o professor possui uma vida fora
da escola, a responsabilidade pelo equilíbrio emocional na sala de aula é toda do
educador. A aprendizagem se torna mais complicada quando este não consegue
demonstrar equilíbrio para gerir os conflitos. Embora essa prática tenha sido
valorizada durante muito tempo, a educação contemporânea denota que o bom
professor não é aquele que tem uma severidade em cada passo, mas o que
consegue se tornar exemplo de ética, respeito e amor pelo que faz.
Cunha (2004) defende que o relacionamento interpessoal construído
entre professores e alunos advém de um cuidado no olhar, no ouvir as demandas e
necessidade, de um discurso pautado na necessidade, bem construído,
fundamentado na afetividade, amizade, respeito e valor pelo que faz e por quem
recebe o que faz.
De acordo com os referenciais pesquisados, quando uma boa
relação interpessoal é estabelecida, professor e alunos passa a se reconhecer
dentro de um nível de intimidade ampliada. O aluno consegue demonstrar para o
professor o que precisa aprender, quais as dúvidas que podem interferir no processo
de aprendizagem. Por outro lado, o professor consegue ser pontual no que deve ser
exigido, denotado sensibilidade para se fazer ouvir.
Nas escolas atuais o que se percebe é que o professor tem medo de
ser classificado como chato e passa ser permissivo de forma excessiva. Por outro
lado, existem professores que acreditam que autoridade deve ser imposta e se
distanciam dos alunos por medo de não conseguir manter o respeito em sala de
aula. Na realidade é preciso ter um equilíbrio entre autoridade, que deve ser
emanada e a liberdade concedida ao aluno.
As relações interpessoais positivas são cultivadas em meios que
podem e possuem legitimidade suficiente para lapidá-las, oferecendo experiências
que irão se configurar na positividade que fará com que afeto, carinho e respeito,
bem como os valores morais seja parte da trajetória da criança e posteriormente, do
indivíduo adulto.
Quando se fala em religiosidade e relações interpessoais, não se
trata apenas da espiritualidade ou o conhecimento do sagrado nas mais diversas
religiões. Distante e, ao mesmo tempo, próximo a esse aspecto, aqui a religiosidade
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é tratada na transcendentalidade, no reconhecimento de que o Outro tem suas


características próprias e que deve ser respeitado por isso. Nesse aspecto da
religiosidade, as relações interpessoais são estabelecidas para que o convívio social
seja estabelecido de modo que o direito de ser do outro não seja reduzido.

Toma-se a noção de religiosidade como uma experiência pessoal e


individual de espiritualidade que é construída por cada pessoa a partir de
suas vivências anteriores em instituições religiosas e ou fora delas. Desta
forma, ela se diferencia do conceito de religião. Ou seja, a religião, de
caráter mais institucional, teria uma influência profunda na forma de
organizar a existência humana, já que ela se afirmaria para além daquilo
que é material, natural, concreto e finito. (SANCHES, 2008,p.77)

Um olhar para o contexto histórico social dos indivíduos aponta para


o fato de que a contemporaneidade trouxe uma explosão tecnológica que, ao
mesmo tempo em que aproximou, distanciou as pessoas. Seguindo esse raciocínio
é possível compreender que as relações assumiram novas formas e os valores, em
determinada época, não foram mais o alimento para a convivência. Isso significou
um distanciamento da religiosidade, do “medo” imposto pelas regras sociais, pelo
sagrado.
Entretanto, ainda que as relações tenham se modificado, os valores
voltaram a fazer parte do cotidiano, sendo estes ensinados incansavelmente na
família, na escola, nas igrejas ou em outros grupos sociais. Isso porque quando não
há o reconhecimento de que o Outro é “meu” semelhante, mas ao mesmo tempo é
muito diferente, as relações e o convívio é marcado por diversos aspectos negativos,
dentre esses o bullying, a violência, a não aceitação e tudo que se prende a estes
aspectos.
Acerca da importância da religiosidade e da abordagem dos valores,
principalmente na escola, Martinelli (2006) faz uma interessante provocação ao
reforçar que os educadores dever passar por um profundo processo de
“reeducação” pois estes não sabem como abordar os valores, uma vez que o
cotidiano da sala de aula pode ser ilustrado com a imagem de professores que
elegem seus queridinhos na sala de aula, excluem aqueles que não acompanham
ou alcançam as expectativas, punem antes de ouvir, elevam a voz quando deveriam
abaixá-la, ou seja, não se encontram preparados para a diversidade de vivências
que representam a escola.
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De acordo com Martinelli (2006) os professores estão sendo


responsáveis por formar crianças inseguras de sua capacidade, principalmente
afetiva. Então, falar de valores, abordar a religiosidade, a dimensão do Outro, torna-
se um desafio, pois incorre na velha dicotomia entre o que se prega e o que se
pratica na escola. Valores como ética, solidariedade e respeito não fazem parte do
cotidiano escolar porque a própria escola não reconhece que é seu papel inseri-los
em seu dia a dia.
Voltando para o aspecto da religiosidade na formação da criança, ou
melhor, na construção de seu convívio social, tem-se a perspectiva dada por Valente
(2015). De acordo com a autora, a religiosidade é um aspecto cultural vivenciado
pelos sujeitos. Desse modo, é possível compreender que sendo a cultura um
fenômeno social, a religiosidade passa a ser fundamental para a convivência, uma
vez que também aproxima os valores culturais, tanto dos grupos quanto dos
indivíduos.

A religiosidade faz parte, pois, da totalidade das disposições culturais do


indivíduo, é um elemento simbólico interiorizado. Ela pode até mesmo ser
considerada metaforicamente como uma vestimenta que se põe e se retira
quando necessário. No entanto, é mais comum que faça parte das
experiências mais profundas do indivíduo de modo que ele nem sempre
perceba que opera a partir de pontos de vistas religiosos. (VALENTE, 2015,
p.2)

O que se percebe na constituição teórica do estudo é que a religião


suplanta a religiosidade, sobretudo quando se trata do ambiente escolar. Os valores
não são contemplados no planejamento a não ser que estejam associados a algum
ensinamento religioso. Do mesmo modo, a religiosidade diversa da estabelecida não
é vista como fonte de ensinamentos relativos à convivência social. Assim, se a
maioria dos alunos é cristã, a experiência dos não cristãos é deixada de lado. Nesse
sentido, não é a religiosidade ou seus valores que interessa para a convivência, mas
os dogmas que permeiam a religião e que são obedecidos sob a égide do medo e
do castigo.
Compreende-se que a religiosidade conceda equilíbrio para que os
valores sejam colocados em prática. Não como imposição de castigos divinos, mas
no reconhecimento de que o Outro também é criatura da mesma natureza embora
possa carregar traços, características, personalidade e comportamentos diferentes.
O pertencimento religioso não é o mesmo da religiosidade. No primeiro, há uma
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autoridade divina que impõe o medo e que, por isso, é seguida. No segundo
aspecto, não há a imposição do medo, mas o convite a refletir sobre o espaço que o
indivíduo ocupa na sociedade, seu papel, seus direitos e deveres. A religião impõe
autoridade. A religiosidade a emana.
Assim, na busca pelo equilíbrio, principalmente na convivência, a
religiosidade faz com que as crianças busquem dentro de si as experiências
culturais que elevam os valores à sua importância. Ao se considerar que a
sociedade contemporânea, até certo ponto, despreza os valores mais comuns, como
a ética e o respeito pelo outro, a escola pode entrar na contramão dessa via. Basta
que se considere que seu papel não é apenas abordar os conhecimentos
acadêmicos, mas alimentar a vivência social.
Os estudos de Cunha, Rios-Neto e Oliveira (2014) reforçam que o
desempenho educacional se encontra ligado à religiosidade. Suas pesquisas
realizadas com jovens de escolas públicas apontaram para o fato de que embora a
religiosidade não seja vista como fonte de contribuições mais concretas para a
aplicação das variáveis que descrevem os números do desempenho escolar, tem
sido relevante na avaliação dos resultados, sobretudo quando se considera o que os
autores denominam “socialização religiosa”.
Nessa perspectiva, a religiosidade contribui para a formação de uma
vivência construída no reforço de valores e no sentimento de pertencimento a um
grupo social. Assim, a própria autoestima do aluno é construída a partir do reforço
de valores que partem, principalmente, da ética e solidariedade.

[...] a participação religiosa aprimora o desempenho e o aproveitamento


escolar, assim como a qualidade dos recursos disponíveis para o
adolescente nas relações sociais. Os resultados revelam que uma parte dos
efeitos da participação religiosa na educação é atribuída ao capital social. A
participação religiosa altera as relações sociais dos adolescentes,
colocando-os em contato com recursos que reforçam os valores
educacionais. (CUNHA; RIOS-NETO; OLIVEIRA, 2014, p.72)

Uma prova contundente acerca da importância da religiosidade para


o convívio social encontra-se em alguns números do suicídio em alguns países.
Atualmente esse tem se tornado um problema que atingiu tal dimensão a ponto de
ser considerado uma epidemia.
As pesquisas realizadas demonstram que dentre as crianças,
adolescentes e jovens que professam alguma fé ou que estão envolvidos em alguma
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manifestação de religiosidade, seja esta cristã ou não, os números de tentativas de


suicídio são menores do que entre os que não professam nenhuma fé. Desse modo,
o bem-estar causado pelo sentimento de ser parte de algo que individual e ao
mesmo tempo, coletivo, faz com que a convivência social seja positiva. (CUNHA,
RIOS-NETO, OLIVEIRA, 2014)
Esse mesmo equilíbrio pode ser alimentado em sala de aula. A
criança, enquanto aluno também necessita de um espaço no qual sinta-se
valorizado ou que perceba que mesmo nas dificuldades existe uma “torcida” pelo
seu sucesso e não o contrário. Isso acontece nas manifestações da religiosidade
assim como nas religiões.
De acordo com Silva (2014) não basta o reconhecimento da
importância da religiosidade para o convívio. Atualmente o maior desafio é trazer a
religiosidade para a sala de aula sem que os dogmas sejam impostos. Desafio
também é, por exemplo, aceitar que outras manifestações da religiosidade tais como
as religiões de matriz africana, as orientais e outras crenças que representam o
transcendentalismo, mas que não são vistas com bons olhos pela crença dominante,
façam parte do contexto escolar.

2.1 A importância do desenvolvimento de habilidades sócio emocionais na


escola

As denominadas Habilidades Sociais (HS) configuram uma nova


perspectiva de análise do desenvolvimento dos indivíduos a partir do estudo das
relações interpessoais. Com o século XXI emerge um novo indivíduo, antenado,
repleto de informações que impõe como desafio à escola a transformação de
montante em aprendizagens. Se antes a aprendizagem era vista como fruto do
conhecimento, na contemporaneidade ela se coliga também às relações que são
estabelecidas, ou seja, antes, para aprender, o sujeito precisa conviver.
A tendência das habilidades sociais baseia-se em um modelo
pensado a partir da concepção de sujeito do século XXI, aquele que em sala de aula
tem a posse de informações que podem ser acessadas antes mesmo do professor
encerrar o conteúdo previsto. Assim, exige-se e se coloca como desafio, manter o
aluno em constante atenção, motivado para aprender, conseguindo gerir emoções e
sensações, bem como as relações estabelecidas com professores e colegas de
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sala.
Muitos autores e dentre estes, Abed (2016) reforçam que o sucesso
escolar no século XXI passa pelo desenvolvimento das habilidades socioemocionais
como resultado das relações interpessoais positivas. De acordo com a autora, o
maior desafio encontra-se em fazer com os alunos desenvolvam habilidades sociais
e não apenas acumulem conhecimentos acadêmicos.

É urgente e necessário que os paradigmas quesustentam a prática


pedagógica se adequem ao novo estudante e à nova realidade em que
vivemos. [...] cabe à instituição escolar não só a manutenção do arcabouço
de conhecimentos acumulados na história da civilização, como também o
desenvolvimento de seres pensantes, criativos, construtores de
conhecimento, que saibam se relacionar consigo mesmos e com os outros,
comprometidos na construção de um mundomelhor. (ABED, 2016, p.11)

O conceito de habilidades socioemocionais tem um fundo filosófico e


daí partem as construções que se voltam para o contexto da escola. A base
filosófica advém da compreensão da dimensão humana que constitui o Ser. Aqui
colocado em letra maiúscula para reforçar que na tendência socioemocional o
autoconhecimento, aquilo que denomina e determina o que o sujeito é. O ser. O
estar nas relações interpessoais.
Morin (2000) reforça que no Ocidente, durante muito tempo, a escola
se fortaleceu a partir da compreensão de que a aprendizagem se dava na
organização do pensamento lógico aliado à transmissão dos conhecimentos
considerados válidos, legitimados nos sistemas de ensino. O que houve, de acordo
com o autor, foi o que se denominou como neutralidade e rigor científico, ou seja, na
objetividade em detrimento da subjetividade.
Na escola tradicional, resultado do pensamento articulado na
transmissão de conhecimentos e não em sua construção, as relações interpessoais
são um acaso que acontece sem o interessa da escola. O aluno precisa mostrar que
sabe e, na pior das análises, construir relacionamentos. Tal neutralidade científica
pode ter constituído gênios, mas também alimentou o fracasso escolar.
Compreendendo melhor esse princípio Kincheloe (2007) reforça que:

[...] a escola tradicional priorizou não a produção do conhecimento, mas a


aprendizagem do que foi definido como conhecimento. [...] em nome da
neutralidade, uma visão particular do propósito educacional, que afirma que
as escolas existem para transmitir cultura sem comentários.(KINCHELOE,
2007, p. 21).
15

A tendência socioemocional é também chamada de competência


socioemocional. Mas do mesmo modo traz em seu bojo o mesmo conceito, a
mesma ideia como a apresentada pelo Instituto Ayrton Senna (2018) de que não
bastam notas que aprovem com excelência o aluno, se ele não se torna um ser
pensante, formado com bases humanas e humanistas, capaz de mudar o mundo e a
realidade que vivencia, em primeiro lugar. De acordo com o instituto,

Mais exercícios, mais repetição e mais testes podem até resultar em uma
nota maior, mas não prepararão o aluno de forma integral e, muito menos,
darão conta de desenvolver todas as competências que ele necessita para
enfrentar os desafios do século 21. Enquanto o mundo abre espaço e cobra
que os jovens sejam protagonistas de seu próprio desenvolvimento e de
suas comunidades, o ensino tradicional ainda responde com modelos
criados para atender demandas antigas. A realidade é que o ser humano é
definitivamente complexo e, para desenvolvê-lo de maneira completa, é
necessário incorporar estratégias de aprendizagem mais flexíveis e
abrangentes. (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2018, p.i.)

Indubitavelmente, no contexto contemporâneo não é o que o


indivíduo acumula enquanto conhecimento que o faz ter sucesso, entretanto, por
que o sistema de ensino ainda insiste em avaliar de forma classificatória, ainda que
na teoria isso seja feito no contexto formativo? Essa pergunta remonta ao fato de
que o denominado “sucesso” precisa de notas, de números, numa dicotomia ainda
difícil de ser superada, por mais que os modelos educativos passem a priorizar as
relações interpessoais também como forma de avaliação.
O referencial da tendência socioemocional é o denominado teste da
personalidade, ou como é conhecido internacionalmente o The Big Five Personality
Test. O princípio desse teste é apontar os traços característicos dos alunos a partir
de cinco pressuposições. Com base nos resultados, denota-se em que aspecto o
aluno se sobressai melhor e como o professor pode utilizar essas características no
planejamento das aulas. As relações interpessoais são estimuladas por se
considerar que estas trazem o equilíbrio necessário para que as competências
socioemocionais sejam estimuladas.

Os Big Five são constructos latentes obtidos por análise fatorial realizada
sobre respostas de amplos questionários com perguntas diversificadas
sobre comportamentos representativos de todas as características de
personalidade que um indivíduo poderia ter. Quando aplicados a pessoas
de diferentes culturas e em diferentes momentos no tempo, esses
questionários demonstraram ter a mesma estrutura fatorial latente, dando
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origem à hipótese de que os traços de personalidade dos seres humanos se


agrupariam efetivamente em torno de cinco grandes domínios. (SANTOS e
PRIMI, 2014, apud ABED, 2014, p. 114)

No Big Five, considera-se cinco pontos a serem observados nos


indivíduos: abertura a novas experiências; consciência; extroversão; amabilidade e
estabilidade emocional.

Abertura a novas experiências:  tendência a ser aberto a novas


experiências estéticas, culturais e intelectuais. O indivíduo aberto a novas
experiências caracteriza-se como imaginativo, artístico, excitável, curioso,
não convencional e com amplos interesses. Consciência: inclinação a ser
organizado, esforçado e responsável. O indivíduo consciente é
caracterizado como eficiente, organizado, autônomo, disciplinado, não
impulsivo e orientado para seus objetivos (batalhador). Extroversão:
orientação de interesses e energia em direção ao mundo externo e pessoas
e coisas (ao invés do mundo interno da experiência subjetiva). O indivíduo
extrovertido é caracterizado como amigável, sociável, autoconfiante,
energético, aventureiro e entusiasmado. Amabilidade: tendência a agir de
modo cooperativo e não egoísta. O indivíduo amável ou cooperativo se
caracteriza como tolerante, altruísta, modesto, simpático, não teimoso e
objetivo (direto quando se dirige a alguém). Estabilidade Emocional:
previsibilidade e consistência de reações emocionais, sem mudanças
bruscas de humor. Em sua carga inversa, o indivíduo emocionalmente
instável é caracterizado como preocupado, irritadiço, introspectivo, impulsivo
e não-autoconfiante. (INSTITUTO AYRTON SENNA, 2018, p.i.)

De acordo com Mesquita (2017) a tendência socioemocional


alcançou um debate mais amplo a partir da consideração de que tanto o progresso
quanto o bem-estar social dependem de habilidades emocionais, assim como de
relações interpessoais. A necessidade do estabelecimento das relações
interpessoais positivas foi considerada de tal importância que a Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, após algumas pesquisas publicou um
relatório no qual especifica-se a relevância das habilidades socioemocionais na
construção de um meio equilibrado, voltado para a formação integral dos seres.
O ponto de partida se dá na compreensão de que desde criança os
sujeitos podem ser motivados a cultivar as relações interpessoais positivas. Do
mesmo modo, motiva-se as crianças a se autoconhecerem a partir da compreensão
de suas emoções, possibilidades e potencialidades.

As crianças não são adultos em miniatura, e por esse motivo precisamos


oferecer a elas oportunidades de aprendizagem que vão além da esfera
cognitiva (das habilidades de analisar, interpretar, deduzir, aprender). O
respeito, a autoestima, a resiliência, a empatia, o autocontrole são
importantes para que os jovens encarem os desafios pessoais, acadêmicos
17

e profissionais no futuro. (MESQUITA, 2017, p.i.)

A tendência socioemocional não pode ser vista como uma espécie


de “jogo do contente” no qual os aspectos negativos são infantilmente transformados
em positivos. O que se pretende é fazer com que os sujeitos utilizem suas emoções
para compreender suas necessidades de aprendizagem, as dificuldades envolvidas
nesse processo e os conflitos do conviver, gerados pela multiplicidade de culturas
que compõem o contexto escolar.
Sendo as habilidades socioemocionais um elemento importante para
a aprendizagem, por outro lado não existem receitas que façam com as relações
interpessoais alcancem uma amplitude total em sala de aula. O que pode ser feito,
incansavelmente, de acordo com Mesquita (2017)

Famílias e educadores podem promover o desenvolvimento dessas


habilidades das seguintes formas: reforçando que a inteligência não é fixa e
que ela pode ser desenvolvida com dedicação e esforço (mentalidade de
crescimento), incentivando a criança a falar e escrever sobre os seus
pensamentos e suas emoções, a praticar exercícios de respiração e
meditação, a escutar o outro para entender e não simplesmente para
responder, a achar algo positivo, mesmo em atividades que não gosta tanto
de fazer, a elogiar o outro, a desacelerar, a utilizar as novas tecnologias
com moderação, a pesar os prós e os contras antes de tomar decisões, a
nutrir relações de amizade e a resolver conflitos de forma diplomática.
(MESQUITA, 2017, p.i.)

Vale destacar que a aprendizagem emocional não é imposta, e sim


mediada pelas atitudes do próprio professor. Afinal, como um educador deseja que
seus alunos se relacionem bem, com equilíbrio e autoconhecimento, se não cultiva,
ele próprio, uma boa relação com colegas? De que forma é possível trabalhar o
autoconhecimento se o professor sequer olha nos olhos dos alunos ou nem mesmo
os cumprimenta quando chega em sala de aula? Essas inquietações fazem com que
a responsabilidade sobre o que existe para além do conhecimento acadêmico recaia
sobre o professor, pois este ainda é aquele que irá lapidar as possibilidades que
chegam à escola.
18

3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO DE ENSINO

3.1 Tema e linha de pesquisa

O projeto a ser desenvolvido tem como temática a importância das


relações interpessoais na construção da aprendizagem. A proposta origina-se da
percepção de que a aprendizagem caminha muito próxima da afetividade e que,
muitos professores não conseguem dimensionar essa relevância. O tema emerge
em meio aos diversos estudos realizados no curso de Pedagogia da Unopar,
principalmente naqueles que se voltaram para a relação entre a afetividade e a
aprendizagem. Na construção da proposta, observou-se que quanto mais positivas
são as relações interpessoais, mais positiva também é a aprendizagem, uma vez
que não é possível se afastar do afeto, sobretudo ao se tratar das motivações
necessárias para que o aluno aprenda.

3.2 Justificativa

O tema voltado para as relações interpessoais teve sua base


constituída em dois aspectos, o primeiro, na vivência pessoal, nas observações
medidas pelos momentos dos estágios supervisionados, e depois na consideração
de que as relações interpessoais fazem parte de todo cotidiano, não somente
escolar, mas social e que, muitos problemas em sala de aula se originam na falta de
se cultivar as relações positivas. Esse fato alimenta um distanciamento que interfere
na aprendizagem, sem contar que as relações interpessoais aglutinam outros
aspectos da vida social, tais como a religiosidade e os valores.
A proposta do projeto é importante porque ousa no trabalho com as
oficinas voltadas para os professores. Estes, por sua vez, serão os agentes
multiplicadores das relações interpessoais positivas, e assim, mais e mais alunos
poderão ser inseridos nas propostas de ensino que tenham a afetividade como
ponto de partida. Em suma, a temática proposta neste projeto é importante por se
tratar de um assunto que na correria do cotidiano nem sempre é abordado de uma
forma mais aprofundada. Pretende-se com este, que mais professores sejam
sensibilizados sobre o fato de que ensinar os conteúdos científicos é de suma
19

importância, mas antes de tudo é preciso pensar que a criança possui sentimentos
que precisam ser valorizados.

3.3 Problematização

Partindo do pressuposto de que a afetividade e as relações


interpessoais são aspectos importantíssimos quando se trata da aprendizagem, é
que a proposição do projeto de ensino se baseou nas seguintes questões: de que
forma as relações interpessoais contribuem ou interferem no processo de ensino
aprendizagem? Como os valores relativos às relações interpessoais interagem no
contexto escolar? Como motivar professores para fomentarem as relações
interpessoais positivas em sala de aula?

3.4 Objetivos

Partindo das questões problematizadoras, os objetivos do projeto


foram:

 Compreender o conceito de relações interpessoais e sua aplicabilidade no


contexto escolar;

 Conceituar valores como respeito, afetividade e religiosidade e suas


contribuições para a aprendizagem;

 Utilizar de recursos estratégicos como oficinas direcionadas para professores,


no sentido de fortalecer as percepções acerca da importância das relações
interpessoais positivas para a construção da aprendizagem.

3.5 Conteúdos

As oficinas do projeto serão desenvolvidas pelo Grupo Gestor da


escola campo, e os conteúdos ministrados por profissionais, sendo estes psicólogos
e psicopedagogos, partindo do estudo teórico para a prática. A meta principal da
proposição do projeto está na sensibilização dos professores participantes, para que
compreendam que a afetividade não atrapalha o andamento da aula, mas cria laços
que podem se tornar essenciais quando se tratar de aprendizagem, de ensino e de
20

relações positivas.
Conforme mencionado, os conteúdos serão desenvolvidos em forma
de Oficinas temáticas, voltadas para os professores e organizados pela equipe
gestora da escola campo. Desse modo, o conteúdo abarcará o trabalho voltado para
as relações interpessoais e afetividade; compreensão da dimensão humana da
aprendizagem e do relacionamento professor e aluno; e estratégias de afirmação
das relações interpessoais positivas, visando a sensibilização da comunidade
escolar para a importância desse aspecto no processo de ensino\aprendizagem.

3.6 Processo de desenvolvimento

O projeto de ensino voltado para a importância das relações


interpessoais na aprendizagem será realizado por meio de Oficinas temáticas
mensais, totalizando seis meses ou seis oficinas, mais uma voltada para a
apresentação e sensibilização da comunidade escolar à temática escolhida,
conforme consta no cronograma abaixo do desenvolvimento das oficinas. Como a
escola campo possui já um cronograma de estudos teóricos realizados nos
encontros coletivos mensais, a proposta é que o projeto seja executado
concomitante às atividades previstas na escola. Desse modo, as atividades serão
desenvolvidas conforme descrito:

Roda de conversa – Apresentação do projeto e sensibilização da comunidade


escolar – tempo estipulado para a atividade 60’.

Nesse primeiro momento a temática do projeto será apresentada


para a comunidade escolar. Inicialmente será lido o texto “ O amor e a
aprendizagem”, esse texto será utilizado para a sensibilização da comunidade
escolar, de modo que o projeto possa ser realizado com a colaboração de todos.
Após a leitura do texto, será feita uma roda de conversa, tendo como objetivo que os
presentes possam relatar suas experiências próprias com a afetividade e as
relações interpessoais. Finalizando esse primeiro momento, será entregue um
caderno para que os participantes façam seus diários de bordo, registrando as
aprendizagens oriundas das atividades do projeto.
21

Oficina 1 – Estudo sobre a importância das relações interpessoais positivas


para a aprendizagem – filme “Extraordinário”

Na primeira oficina, será trabalhada a importância das relações


interpessoais positivas como tema gerador. Incialmente os participantes assistirão
ao filme “Extraordinário1”, baseado no livro homônimo escrito por R.J. Palacio, e que
conta a história de Auggie Pullman que nasceu com uma deformidade no rosto e
que precisa se adaptar ao contexto da escola.

A partir do filme, o profissional responsável pela oficina irá distribuir


algumas perguntas que deverão ser respondidas pelos participantes e serão
problematizadoras para o desenvolvimento do estudo. As perguntas são: como a
escola deve receber aqueles que não se adaptaram ao contexto social tido como
normal? De quem é a responsabilidade pela relações interpessoais que se formam
no espaço escolar? De quem é a responsabilidade quando as relações criadas no
espaço escolar não são positivas? O que deve ser feito para que o afeto e a
positividade sejam parte da aprendizagem?
A partir dessas problematizações será proposto que os participantes
relatem suas experiencias positivas e negativas tendo como ponto de partida as
relações interpessoais. O mediador da oficina finalizará com uma dinâmica de
autoconhecimento e autoestima, que deverá ser registrada no diário de bordo dos
participantes.
Oficina 2 – Criando relações positivas: oficina de autoestima – tempo de
1
Disponível em www.amazonprime.com.br
22

duração 90’

Essa oficina será da responsabilidade de um psicopedagogo e se


encontra disponível no site “https://acaixadeimaginacao.com/2018/05/21/oficina-de-
autoestima/” Seu objetivo será a construção da percepção e autoconhecimento, uma
vez que professores com baixa autoestima não conseguem mediar a construção de
uma relação positiva. Conforme as instruções do site, esta oficina deverá acontecer
da seguinte forma, por meio da Contoexpressão:

Desenvolver uma autoestima equilibrada é algo que deve ser feito em todas
as fases da vida, tanto com crianças, como adolescentes, adultos e também
com idosos. Porém, como fazê-lo? Eu o faço através de uma oficina de
contoexpressão. O que é a Contoexpressão? A contoexpressão é a arte
de compartilhar e despertar conhecimento, de forma sensorial através de
contos. Se trata de uma técnica arteterapêutica e psicoexpressiva, que
busca potenciar os conhecimentos simbólicos, através de quatro
ferramentas que utilizadas da forma adequada podem produzir grandes
resultados: O resultado do uso desta técnica é um despertar da consciência,
de forma cognitiva que culminará em uma mudança de atitude e conduta.

O ponto de partida para a realização da oficina será a leitura do


conto “O que te faz único...”. Após a leitura do conto, o mediador da oficina irá
entregar caixas contendo espelhos e outras lembranças ligadas aos participantes.
Cada participante irá retirar uma lembrança e falar porque escolheu e o que o faz
único. Finalizando, o mediador irá entregar caixas vazias escritas “ caixas de
autoestima”, para que a partir da oficina, cada participante coloque, pelo menos uma
vez da semana, aquilo que o fez se sentir único e especial.

Oficina 3 – Compreendendo o espaço e o ser Outro – tempo de duração 60’

Essa oficina será mediada pelo grupo gestor e irá explorar o


reconhecimento de que o Outro tem um espaço e que as relações interpessoais
positivas visam respeitar esse espaço. Assim, a proposta é de que os participantes
escolham entre seus colegas quem gostaria de ser por um dia. É necessário
ressaltar que ao assumir o colega, o participante deverá incorporar sua
personalidade, ou seja, aquilo que mais o define enquanto pessoa. O participante
não poderá revelar que colega escolheu para ser e ao final, em roda de conversa,
deverá apresentar suas características e comportamento para que os demais
possam descobrir de quem se trata. Os mediadores da oficina devem ressaltar que
23

nas relações interpessoais cada um se enxerga e enxerga o outro de uma forma


bem particular. Quando as relações são positivas, um passa a aceitar as forças e
fragilidades uns dos outros sem emitir julgamentos ou pré-conceitos simplesmente
baseados em aparências e suposições.

Oficina 4 – Despertando a consciência emocional no aluno – tempo de duração


60’

Nesta oficina, os responsáveis irão ensinar como o professor pode


trabalhar a consciência emocional dos alunos, para que possa identificar as
variações emotivas na sala de aula, antecipar e mediar os conflitos originados nesse
aspecto. Será apresentado o questionário emocional e o professor poderá utilizá-lo
em sala de aula, adaptando-o para a série e o vocabulário dos alunos. O professor
será orientado a aplicar o questionário a analisá-lo de modo a perceber quais são os
momentos mais tensos e conflituosos para os alunos.
Questionário
 Como reage quando vê um amigo ou um adulto perder a c alma e tornar-se- se
agressivo?;
 Em situações muito tensas, quais são suas reações?;
 Quais as circunstâncias que o deixam inteiramente "fora de si"?;
 Em quais situações vive estados de medo? felicidade? tristeza? esperança?;
 Na sua opinião, qual a diferença entre alegria e felicidade?;
 É capaz de perder horas de sono por causa de alguma grande preocupação?;
 Consegue falar de seus sentimentos para outras pessoas? Quais pessoas?;
 Quais fatos, ocorridos c om outras pessoas, o(a) fazem sofrer sinceramente?
 Você se acha uma pessoa muito querida em sua casa? E na escola?;
 Você seria capaz de matar um animal pequeno, sem qualquer sentimento?;
 Sei, com clareza, quem eu amo e sei, também com clareza, quem me ama?;
 Como você não sabe dizer "não", muitas vezes faz coisas que detesta?;
 De zero a dez, a nota que dou para minha timidez é...;
 Situações que me deixam muito aborrecido são as que...;
 Toda vez que tenho que tomar importante decisão, sinto...;
 Como você se apresenta ao aceitar e manifestar carinho?;
24

 Qual sua capacidade em aceitar afirmações, mesmo negativas, sobre suas


emoções?;
 Como você se apresenta ao pedir e ao aceitar desculpas de outras pessoas?;
 Você é uma pessoa que, sem ajuda, consegue encontrar motivos suficientes
para o que necessita fazer?;
 Como você administra uma situação muito frustrante?

Oficina 5 – O diálogo como meio de produção de relações interpessoais


positivas

Na quinta oficina, será proposta a realização de uma brincadeira que


poderá ser aplicada em sala de aula pelos professores participantes. O objetivo
dessa atividade é fazer com que os participantes e, posteriormente, os alunos
compreendam que o diálogo é o primeiro passo para a construção de uma relação
positiva. Dialogar significa respeitar opiniões, aprender ouvir e aceitar que o outro
não pense igual a você e que mesmo assim é possível construir uma convivência
saudável. Por outro lado, um dos objetivos do jogo é demonstrar que a convivência
sem os rótulos que são impostos pode ser melhor aproveitada. Do mesmo modo,
objetiva-se mostrar para o professor participante que ele próprio precisa se
desarmar quando se trata de ver o potencial de seus alunos, mesmo quando estes
não se enquadrem em modelos pressupostos.

Jogo: Os rótulos
Preparar um conjunto de etiquetas gomadas para cada grupo. Essas
etiquetas devem conter, com letras bem visíveis, as palavras SOU SURDO(A) - GRIT
E / SOU PODEROSO(A) - RESPEITE / SOU ENGRAÇADO(A) - RIA / SOU SÁBIO -
ADMIRE / SOU PREPOTENTE - TENHA MEDO / SOU ANTIPÁTICO(A) - EVITE / SOU
TÍMIDO(A) - AJUDE.
Formar grupos de cinco a sete educandos e sugerir que, durante 5
minutos, discutam um tema polêmico qualquer, proposto pelo educador. Avise que,
entretanto, na testa de cada um dos integrantes do grupo será colocada uma etiqueta
(rótulo) e que o conteúdo da mesma deve ser levado em conta nas discussões, sem que
seu possuidor, entretanto, saiba o significado. Com os rótulos na testa, os grupos
iniciam a discussão que torna- se, naturalmente, inviável. Ao final do tempo, solicitar que
os grupos exponham suas conclusões que é, entretanto, impossível. Após essa tentativa
25

os alunos devem retirar a etiqueta e debater as dificuldades que os muitos rótulos que
recebemos impõem a relações mais profundas. A estratégia permite aprofundar os
problemas de comunicação e relacionamento impostos pelos estereótipos e pelos
preconceitos. 2
Oficina 6 – Culminância do projeto – relatos de experiências

Na finalização das oficinas serão realizadas rodas de conversas com


relatos de experiências dos participantes. Estes serão convidados a demonstrarem
como as relações interpessoais estão sendo construídas em sala de aula. Para
finalizar, os diários de bordo do projeto serão apresentados e transformados em
diários das aulas, sensibilizando os participantes a continuarem seus registros
cotidianos.

3.7 Tempo para a realização do projeto

A realização das atividades do projeto se dará uma vez por mês,


totalizando seis meses, sendo realizadas conforme é demonstrado no cronograma
abaixo:
Data Tema da oficina Responsáveis
30\09\2018 Roda de conversa – Equipe gestora e equipe
Apresentação do projeto e multidisciplinar.
sensibilização da comunidade
escolar – tempo estipulado
para a atividade 60’.

30\10\2018 Oficina 2 – Criando relações Equipe gestora e equipe


positivas: oficina de autoestima multidisciplinar.
– tempo de duração 90’

14\11\2018 Oficina 3 – Compreendendo o Equipe gestora e equipe


espaço e o ser Outro – tempo multidisciplinar.
de duração 60’

15\12\2018 Oficina 4 – Despertando a Equipe gestora e equipe


consciência emocional no multidisciplinar.
aluno – tempo de duração 60’

08\02\2019 Oficina 5 – O diálogo como Equipe gestora e equipe


meio de produção de relações multidisciplinar.
interpessoais positivas
10\03\2019 Oficina 6 – Culminância do Equipe gestora e equipe
projeto – relatos de multidisciplinar.
experiências

3.8 Recursos humanos e materiais


2
Disponível em http://www.cvdee.org.br/evangelize/pdf/2_0238.pdf
26

 Professores;
 Grupo gestor;
 Aparelho projetor;
 Notebook;
 Caixa de som;
 Microfone;
 Caixas de tamanhos variados;
 Cadernos;
 Materiais de escrita.

3.9 Avaliação

As atividades do projeto em dois momentos: primeiramente na


realização das oficinas a partir do envolvimento dos participantes nas proposições.
Em segundo momento, considerar-se-á as mudanças atitudinais, na consolidação
das relações interpessoais positivas e no acompanhamento e registro da
aprendizagem dos alunos.
27

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática desenvolvida neste trabalho de conclusão de curso se


constituiu a partir da observação de que as relações interpessoais fazem parte de
todo o processo de ensino aprendizagem e são construídas cotidianamente. Nesse
sentido, o objetivo primordial do estudo foi o de tecer uma análise acerca de como
as relações interpessoais são construídas na escola, considerando que cada aluno
possui sua individualidade, vem de uma cultura estabelecida em casa e ampliada
nos grupos sociais.
É inegável a importância das relações interpessoais na escola e isso
fica claro quando se analisa as respostas dos professores que participaram da
pesquisa. Nesse sentido, ficou claro que as emoções, afetividade, convivência,
respeito e valores devem ser abordados em sala de aula e precisam ser inseridos no
planejamento cotidiano. Por outro lado, é preciso que o professor consiga entender
que ensinar vai além da demonstração de conhecimentos acumulados. Como bem
dizia Paulo Freire, não é possível ensinar ou aprender sem que haja emoção naquilo
que se faz. Do mesmo modo, Rubem Alves definiu que a alegria de ensinar deve
fazer parte do cotidiano da escola, e isso somente é possível a partir da construção
de uma relação interpessoal positiva.
Quando se trata das relações interpessoais positivas, não é possível
deixar de se falar em religiosidade. Os autores pesquisados reforçam que a
pedagogia dos valores não pode ser esquecida, por mais que a sociedade
demonstre certo desprezo por estes. Por meio da religiosidade a criança aprende a
viver seu contexto social de uma forma subjetiva, aprendendo que deve respeitar o
outro e suas diferenças.
É preciso que a escola crie mais espaços para as reflexões sobre as
relações que são construídas em seu interior. A escola é um espaço de
humanização e precisa assumir esse papel. Entretanto, é necessário também que se
reconheça que divergentes opiniões e pontos de vista somente alimentam o espaço
plural e portanto, devem ser respeitadas, pois existe uma responsabilidade social
por trás de toda atividade pedagógica. É importante que a escola tenha professores
com sensibilidade para apoiar seu aluno e motivá-lo, e nesse sentido, quando isso
ocorre, o aluno vai longe, a aprendizagem acontece mesmo em meio às
dificuldades.
28

Finalmente, foi possível compreender que o professor está além do


simples ato de ensinar. É de sua responsabilidade fazer com as emoções dos
alunos sejam talhadas positivamente, seus conflitos compreendidos e as soluções
buscadas em conjunto, tendo a família também como suporte. Quando isso ocorre
cumpre-se a funcionalidade das relações interpessoais na escola.
29

5 REFERÊNCIAS

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