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CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
NATAL
2023
ALEXANDRA MARIA PINHEIRO ROSA
NATAL
2023
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes – CE
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Profa. Dra./Ma. Adriane Cenci
Orientador(a)
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
______________________________________
Profa. Dra./ Ma. Juliana de Melo Lima
Membro interno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
______________________________________
Prof. Dr./ Me. Walter Pinheiro Barbosa Júnior
Membro interno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
DEDICATÓRIA
Agradecer é um momento de nossas vidas em que nós temos que abandonar o posto
de produtor de tudo que nos permeia, para dar crédito àqueles que fizeram parte dessa produção.
Analisando a minha trajetória no curso começo por agradecer a minha família, por
estar sempre presente em todos os momentos, principalmente naqueles em que tive que
defender a educação pública e lutar por um reconhecimento para elas;
Aos meus filhos e netos, porque estiveram na minha vida, nos momentos em que era
preciso esquecer a sala de aula, tão estressante e cheia de responsabilidades – como é toda a
vida – para me dizer e mostrar que sou importante e que tenho assento preferencial em suas
vidas;
Às crianças, adolescentes, familiares, colaboradores, prestadores de serviços da
Fundação Lar Celeste por serem minhas interlocutoras, sempre que eu aprendia algo de “super
interessante” e queria ansiosamente aplicar e que tão lindamente compraram minha ideia, me
fazendo sentir parte da vida delas e por isso importante;
Ao meu companheiro, José Serra Neto, que esteve ao meu lado, que tantas vezes foi
me deixar e buscar, que pacientemente se disponibilizou a viver comigo essa experiência, que
compreensivamente se privou de minha presença, que aguentou todo o meu estresse e que, mais
que isso, me mostrou que sou capaz disso e de muito mais. Que me mostrou, inclusive, que
estaria comigo em todos os momentos da minha vida, principalmente os que eu dissesse que
tinha necessidade;
A Sayonara Freitas que me fez acreditar que poderia conseguir galgar um degrau
importante como esse;
A Paulo Freire, que com sua inacreditável obra me trouxe subsídios para acreditar em
uma educação do esperançar, do mudar, do libertar, do emancipar, com a beleza e a alegria que
lhes são peculiares e que eu acredito necessárias para a construção do conhecimento;
E finalmente, a Deus, que me deu a oportunidade de viver tudo isso, acompanhada por
essas pessoas maravilhosas as quais agradeci e, que com o livre arbítrio, me permitiu errar e
acertar, avançar e recuar em todas as situações que me foram vivenciadas.
Somente um ser que é capaz de sair de seu contexto, de “distanciar-se”
dele para ficar com ele; capaz de admirá-lo para, objetivando-o,
transformá-lo e, transformando-o, saber-se transformado pela sua
própria criação; um ser que é e está sendo no tempo que é o seu, um ser
histórico, somente este é capaz, por tudo isso, de comprometer-se.
Paulo Freire
RESUMO
Esta pesquisa tem por objetivo compreender a relação existente entre a intencionalidade dos/as
professores/as e a recepção/compreensão dos/as estudantes do curso de Pedagogia da UFRN,
presencial, turma 2018.1, acerca dos trabalhos em grupo e qual o impacto que essa relação ou
a falta dela ocasiona para o processo de ensino-aprendizagem desses/as estudantes. Para
alcançar essa compreensão, foi realizada uma pesquisa exploratória com 11 docentes que deram
aula para a referida turma ao longo do curso e com 23 estudantes que faziam parte da mesma
turma. O grupo de docentes e o grupo de estudantes responderam a questionário eletrônico,
organizado na plataforma Google Formulários. Os dados provenientes dessa ferramenta foram
organizados, com base na análise textual discursiva, em duas categorias: “trabalho em grupo
como trabalho coletivo” e “aprendizagem no trabalho em grupo”. As categorias mobilizam o
referencial teórico demonstrando que a atividade, por ser coletiva, tem cunho colaborativo e
que portanto, é perpassada por processos dialógicos. Com o envolvimento das/os membras/os
do grupo e com que as várias participações efetivas há a promoção de um repensar e um refletir
sobre os assuntos, que caminham para novas aprendizagens. Nessa direção, os resultados
obtidos apontam para o entendimento do trabalho em grupo como estratégia pedagógica de ação
coletiva que envolve o diálogo e a negociação. Durante a análise dos dados percebeu-se que,
por parte das/os docentes, há uma unanimidade na adoção do trabalho em grupo como estratégia
formativa; mas, entre os estudantes pesquisados, muitos apontam problemas, na maior parte das
vezes, relacionados à falta de colaboração dos colegas do grupo. Ademais, verificou-se, com as
pesquisas, que tanto as/os docentes quanto as/os estudantes identificaram o trabalho em grupo
como impulsionador da aprendizagem e propiciador de momentos de discussão e de
conhecimento de ideias advindas de vários sujeitos.
This research aims to understand the relationship between the intentionality of the teachers and
the reception/understanding of the students of the Pedagogy course at UFRN, face-to-face, class
2018.1, about group work and the impact that this relationship or lack of it affects the teaching-
learning process of these students. In order to reach this understanding, an exploratory research
was carried out with 11 professors who taught that class throughout the course and with 23
students who were part of the same class. The group of professors and the group of students
answered an electronic questionnaire, organized on the Google Forms platform. Data from this
tool were organized, based on discursive textual analysis, into two categories: “group work as
collective work” and “learning through group work”. The categories mobilize the theoretical
framework demonstrating that the activity, as it is collective, has a collaborative nature and that,
therefore, it is permeated by dialogic processes. With the involvement of the group members
and with the various effective participations, there is the promotion of rethinking and reflecting
on the subjects, which lead to new learning. In this direction, the results obtained point to the
understanding of group work as a pedagogical strategy of collective action that involves
dialogue and negotiation. During data analysis, it was noticed that, on the part of the teachers,
there is unanimity in the adoption of group work as a training strategy; however, among the
students surveyed, many point to problems, most of the time, related to the lack of collaboration
from colleagues in the group. Moreover, it was verified, with the researches, that both the
professors and the students identified group work as a driving force of learning and propitiator
of moments of discussion and knowledge of ideas coming from several subjects.
E01 Estudante 01
E02 Estudante 02
E03 Estudante 03
E04 Estudante 04
E05 Estudante 05
E06 Estudante 06
E07 Estudante 07
E08 Estudante 08
E10 Estudante 10
E11 Estudante 11
E12 Estudante 12
E13 Estudante 13
E14 Estudante 14
E16 Estudante 16
E17 Estudante 17
E18 Estudante 18
E20 Estudante 20
E22 Estudante 22
P01 Professor/a 01
P02 Professor/a 02
P04 Professor/a 04
P05 Professor/a 05
P08 Professor/a 08
P10 Professor/a 10
QE08 Questão das/os estudantes 08
QE09 Questão das/os estudantes 09
QE13 Questão das/os estudantes 13
QE13.1 Questão das/os estudantes 13.1
QE15 Questão das/os estudantes 15
QE16 Questão das/os estudantes 16
QE16.1 Questão das/os estudantes 16.1
QE17 Questão das/os estudantes 17
QE17.1 Questão das/os estudantes 17.1
QE18 Questão das/os estudantes 18
QP03 Questão das/os professores 03
QP04 Questão das/os professores 04
QP5.1 Questão das/os professores 5.1
QP06 Questão das/os professores 06
QP11 Questão das/os professores 11
SIGAA Sistema Integrado de Gestão Acadêmica
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 11
2 REVISÃO DE LITERATURA......................................................................... 13
3 A CATEGORIA TRABALHO EM MARX PARA ENTENDER O
TRABALHO EM GRUPO: a sociedade sala de aula e o trabalho em
grupo ………………………………………………………………………….. 16
4 GRUPOS COMO ESTRATÉGIA FORMATIVA: quem usa, por que usa
e para quê usa? ................................................................................................. 21
5 TRABALHO EM GRUPO NA PERSPECTIVA COLABORATIVA E O
DIÁLOGO COMO DIMENSÃO ESSENCIAL: é dialogando que a
conversa vai tomando rumo …......................................................................... 24
6 O TRABALHO EM GRUPO NA FORMAÇÃO DOS PEDAGOGOS…...... 30
7 MÉTODOS E MATERIAIS: um bom diálogo requer saber como o assunto
foi desenrolado................................................................................................... 35
8 RESULTADOS: para onde o diálogo nos levou? ........................................... 38
8.1 Trabalho em grupo como trabalho coletivo .................................................... 39
8.2 Aprendizagem no trabalho em grupo .............................................................. 46
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 53
REFERÊNCIAS................................................................................................. 56
APÊNDICE A – ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA AS/OS
DOCENTES ...................................................................................................... 58
APÊNDICE B – ROTEIRO DE PERGUNTAS PARA AS/OS
ESTUDANTES .................................................................................................. 59
11
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO DE LITERATURA
Após fazer pesquisas na internet e em livros sobre a temática por nós estudada,
encontramos as seguintes publicações: Planejando o Trabalho em grupo: estratégias para salas
de aula heterogêneas, escrito por Cohen e Lotan (2017), Análisis del trabajo en grupo como
estrategia formativa en las titulaciones de ciencias de la educación en la Universidad de
Córdoba, apresentada por Cabrera (2011), Reflexões sobre o trabalho em grupo com
licenciandos de uma universidade particular de São Paulo, realizado por Abrahão (2010), O
trabalho de grupo cooperativo nas disciplinas de História e Geografia, de Ribeiro (2013), “O
trabalho em grupo qualifica a aprendizagem”: realização de atividades pedagógicas
colaborativas e construção conjunta de conhecimentos na fala-em-interação de sala de aula,
escrito por Stein (2017), O trabalho em grupo como instrumento operatório no processo de
alfabetização: relações entre concepções e práticas pedagógicas, de Soares (2005), O trabalho
em grupo como metodologia de ensino em cursos e disciplinas on-line, de Inocêncio e
Cavalcanti (2005) e Trabalhos em grupo como estratégia pedagógica da prática docente na
educação infantil, de Freitas (2020).
Planejando o Trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas é um livro
de autoria de Elizabeth G. Cohen e Rachel A. Lotan (2017), que traz o trabalho em grupo como
ferramenta para conquistar a participação igualitária oferecendo percepções para a criação de
tarefas que atinjam esse fim. As autoras apontam o conceito de trabalho em grupo adotado e
elencam passos importantes que compõem essa ferramenta, para que os/as professoras/es
possam se sentir auxiliados pelo livro.
Análisis del trabajo en grupo como estrategia formativa en las titulaciones de ciencias
de la educación en la Universidad de Córdoba, é uma tese de doutorado, defendida por Maria
del Mar García Cabrera, em 2011, na Universidade de Córdoba, na Argentina. Nessa tese, a
autora faz uma abordagem dos conceitos acerca do trabalho cooperativo e após isso define uma
construção própria sobre o termo, bem como aponta que estudos demonstram ganhos cognitivos
e de saúde mental para os/as alunos/as que participam da atividade.
No documento escrito por Eduardo Ferreira Abrahão (2010), intitulado Reflexões
sobre o trabalho em grupo com licenciandos de uma universidade particular de São Paulo,
encontrei uma consonância de justificativa com o trabalho que realizamos, no sentido de que
há uma similaridade entre sua justificativa e a nossa. O autor realiza uma pesquisa, com a
utilização de questionário, com alunos de um curso de formação de professores, de uma
universidade particular de São Paulo, trazendo a discussão para o âmbito da mediação
14
infantil”, parte da hipótese de que a forma como é acompanhado o trabalho em grupo sofre
interferência da ausência de entendimento, do docente, sobre os elementos da gestão dessa
atividade. No decorrer da dissertação, a autora versa sobre a origem e concepção do trabalho
em grupo, as ferramentas que compõem essa atividade, bem como da função dos/as
professores/as e os limites e dificuldades para pôr em prática essa dinâmica.
Assim, podemos evidenciar, através dos trabalhos encontrados, que nosso trabalho de
pesquisa, sobre o estudo da relação existente entre a intencionalidade do/a professor/a ao propor
um trabalho em grupo e a fruição dos/as estudantes acerca dessa proposição, da turma 2018.1,
do curso de Pedagogia, na modalidade presencial e a compreensão dos/as alunos/as diante da
obrigatoriedade de executar esses trabalhos e atividades grupais é uma produção de relevância
porque traz perspectivas diferentes das já existentes. O entendimento acerca das intenções
individuais que movem cada estudante diante de uma atividade coletiva foi um dos motivadores
da realização deste estudo. Desse modo, podemos dizer que nosso objeto de estudo é original.
Aborda o trabalho em grupo no ensino superior, considerando as perspectivas docentes e
discentes.
16
Utilizando-me da teoria marxista e dos autores que dela discorrem, este tópico será
destinado à discussão sobre a sociedade da sala de aula e de como ela se organiza para a
produção de trabalhos em grupo. Nesse ponto, faz-se necessária a discussão sobre o trabalho
em Marx, bem como entender as formas de relacionamento entre trabalho e indivíduo social,
para os quais recorreremos à Iamamoto (2011), Netto e Braz (2008) entre outros.
De acordo com Iamamoto (2011), Marx recorre a Aristóteles para afirmar que o
homem1 é um “ser social político”, porque vai além de ser um ser que vive em sociedade. Este
homem vive e produz rodeado pelos seus pares. No entanto, essa sociedade da qual ele faz parte
não é uma sociedade formada pura e simplesmente da união de homens, pessoas que convivem
entre si, mas dos frutos, conflitos, contradições e demais processos que perpassam essa
sociedade e a transformam.
Essa transformação vai ser possibilitada pelo trabalho, “categoria que, além de
indispensável para a compreensão da atividade econômica, faz referência ao próprio modo de
ser dos homens e da sociedade” (NETTO; BRAZ, 2008, p. 29) que faz com que o homem se
distinga de qualquer outra espécie, transforme a natureza, intencionalmente, e assim se
transforme novamente, num movimento que não cessa jamais.
É assim, nesse movimento, que o homem recria a realidade natural ao seu redor e
aprende com ela, modificando-se e recriando-a na companhia de outros homens, formando um
entrelaçamento de relações sociais, que vão transformando a história no tempo em que
reconfiguram a sociedade e modificam sua própria essência.
1 O termo homem a que nos referimos aqui diz respeito à espécie humana.
17
Para Netto e Braz (2008), a sociedade, tal como a conhecemos hoje, foi fundada, nos
primórdios, pela instituição do trabalho, também diferente do que temos hoje. Os autores
retomam os tempos da pré-história, para identificar o surgimento das primeiras formas de
trabalho e só após isso, a organização coletiva, em torno das necessidades inicialmente básicas,
para desembocar na complexa teia de relações que envolvem a sociedade atual.
O ser que trabalha constrói para si, através de sua atividade, modos de agir e
de pensar, ou seja, uma maneira especificamente humana de se relacionar com
as circunstâncias objetivamente existentes, delas se apropriando tendo em
vista a consecução de fins propostos pelo sujeito na criação de objetos capazes
de desempenhar funções sociais, fazendo nascer valores de uso.
(IAMAMOTO, 2011, p. 42)
Percebe-se então, que o homem, ao estar inserido na sociedade, mediado pelo trabalho,
não o faz isolado de suas faculdades mentais. Utiliza ainda, sua dimensão histórica, na medida
em que para executar suas funções utiliza o conhecimento adquirido através dos tempos,
satisfazendo suas necessidades.
Por outro lado, ainda que o trabalho seja considerado uma categoria fundante da
sociabilidade humana, promove um outro tipo de sociabilidade que é a exclusão. Pois, ao
mesmo tempo em que se desenvolvem as forças produtivas e as capacidades humanas pelo
trabalho, ele também produz um alto nível de alienação (BARROCO, 2010). A autora afirma
que há uma subjetividade que vai fazer com que a alienação se recrie em novas formas e que
assim, invada todas as dimensões da vida social.
O trabalho alienado se dá a partir do momento em que há uma personificação das
coisas e uma coisificação do ser humano. Isto acontece à medida em que o trabalhador produz
mais e tem menos condições de consumir o que produz, além de se tornar mercadoria pela
venda de sua força de trabalho.
Para Marx, deveria haver uma unidade entre trabalho e ensino, no sentido de que o ser
tinha que completar-se através do trabalho, de atividades intelectuais e culturais e dos exercícios
físicos. “Marx une o ato produtivo e o ato educativo, explicando que a unidade entre a educação
e a produção material deveria ser admitida com um meio decisivo para a emancipação do
homem” (GADOTTI, 1995, p. 54).
No caso da sociedade da sala de aula, o trabalho em grupo envolve um contingente de
trabalhadores, que juntos vão pensar o produto desse trabalho. Esse produto, que é proposto
pela/o docente, tem por objetivo emancipar a/o estudante, através da aprendizagem, mas que
resulta também numa valoração, que é a nota. Tendo os trabalhadores do trabalho em grupo
20
Neste tópico abordaremos a categoria grupo como estratégia formativa, trazendo para
o diálogo Cabrera (2011), que discute, entre outras coisas, conceituação sobre o tema e o
desenvolvimento da aprendizagem através do processo colaborativo. Outros autores como
Freire, Cohen e Lotan também fazem frente à discussão deste tópico.
É preciso tensionar nesse ponto, as diferenças existentes em sala de aula, para que se
possa entender que tipos de grupos são formados. Que especificidades são encontradas nesses
grupos, que vão dar o tom do trabalho realizado. Grupos são formados por individualidades que
se tensionam, se conflitam, desejos individuais que são colocados à prova para a produção de
um produto comum, que a depender do processo democrático de participação, tomam esse ou
aquele formato. Assim, discutiremos as diferenças na sala de aula, utilizando no debate as
contribuições de Passos (1999) e Pinto (199).
De acordo com Cabrera (2011), analisando o trabalho em grupo no ensino superior na
Universidade de Córdoba, para que os alunos possam conviver em uma sociedade complexa
como a que vivemos, as atividades cooperativas são as melhores opções. Na Universidade de
Córdoba, o ensino de graduação se dá por competências, cujas características são teóricas e
práticas, envolvendo saberes, atitudes, processos operativos e habilidades, ou seja, capaz de
promover conhecimentos que serão utilizados de forma qualitativa pelos graduados, a fim de
que sejam capazes de promover uma aprendizagem relevante, contemplando qualidades
humanas fundamentais (PÉREZ GÓMEZ et al, 2009, apud CABRERA, 2011). Segundo esta
autora, para que assim se faça, é necessária a ativa participação das/os estudantes, de forma
voluntária, observando pilares básicos como autonomia e responsabilidade, na composição de
seu aprendizado, que será a forma como vão capacitar-se para a sua vida profissional.
Dentre alguns princípios citados pela autora, como sendo indicações de Pérez Gómez
et al. (2009) estão:
Com os princípios elencados acima, podemos perceber que Cabrera (2011) traz a
responsabilidade da/o docente para que ele proponha situações em sala de aula que promovam
a autonomia e o desenvolvimento do discente, objetivando as competências que terão que ter
após concluírem a graduação e se colocarem no processo de trabalho, para o qual irão utilizar
as competências que ali foram adquiridas. Do mesmo modo, é necessário que destaquemos a
responsabilidade das/os discentes no tocante ao processo de aprendizagem. No entanto, é
importante ressaltar que, dentro dos princípios citados por Pérez Gómez et al. (2009, apud
CABRERA, 2011) está a formação de uma autonomia por parte das/os estudantes, na
construção da sua aprendizagem, mostrando a importância de se colocar como partícipe desse
processo de formação. Outra importante acentuação é dada na proposição, por parte da/o
docente, de atividades cooperativas para se aprender a colaboração, que de acordo com Cabrera
(2011) é uma ferramenta básica para a convivência em sociedade.
As autoras Cohen e Lotan (2017) apontam várias características do trabalho em grupo
e uma delas é a interdependência entre as/os componentes deste grupo, uma vez que a
complexidade do trabalho pode ter sido um dos pressupostos para o/a proposição deste tipo de
atividade pelo/a professor/a. Nesse caso, a divisão de tarefas é uma das demandas que se impõe
as/aos componentes do grupo de trabalho. A intencionalidade da/o docente vai estar
intimamente ligada à propositura do trabalho. Se a/o docente tem a intenção de aplicar um
trabalho mais complexo, cheio de detalhes e de processos, por ficar para as/os estudantes
também mais complicado, é preciso que a ferramenta pedagógica utilizada seja o trabalho em
grupo. Outro pressuposto para a utilização do trabalho em grupo, de acordo com as autoras, é a
de fazer com que as/os estudantes se comuniquem entre si, promovendo um ambiente de
socialização de ideias, com uma maior compreensão entre as/os estudantes, podendo promover
com isso uma potencialização do aprendizado.
O trabalho em grupo é uma técnica eficaz para atingir certos tipos de objetivos
de aprendizagem intelectual e social. É excelente para o aprendizado
conceitual, para a resolução criativa de problemas e para o desenvolvimento
de proficiência em linguagem acadêmica. Socialmente, melhora as relações
intergrupais, aumentando a confiança e a cordialidade. Ensina habilidades
para atuar em equipe que podem ser transferidas para muitas situações, sejam
23
No entanto, as autoras chamam a atenção para o fato de que um trabalho em grupo que
não tenha uma estruturação e organização mais bem feitas poderá sustar o processo de
aprendizagem no assunto que se queira trabalhar, e, ao invés da/o estudante melhorar sua/eu
aprendizado, ela/e o estará prejudicando (Idem). Porém, na configuração de trabalho em grupo
na academia, esse controle vai estar, predominantemente, a critério das/os membras/os do grupo
de trabalho e não das/os docentes em si, que estarão mais preocupados com a intencionalidade
com que elaboraram o trabalho, do que com a execução deste.
O trabalho em grupo vai fazer parte da prática da/o docente, que pode adotá-lo como
estratégia, cuja prática de ensino estará ancorada em conhecimentos acerca do ambiente de sala
de aula, característica da turma/realidade da sala de aula, quantidade de pessoas e o que se
deseja alcançar. Pinto (1999, p. 109) expõe que a sala de aula é compreendida de uma série de
diferentes realidades, ou seja, “transformações familiares, à crise de valores, à desorganização
urbana, à rápida obsolescência dos conhecimentos etc.” e é preciso que a/o docente tenha
consciência disso.
Creio ser este o grande desafio para os professores hoje: a prática real da sala
de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são
diferentes, experiências de vida são distintas, perfis cognitivos e
conhecimentos são diversos. E como construir juntos a carpintaria desse
cenário real? (PASSOS, 1999, p. 110)
Trazendo para o debate o trabalho em grupo, que venha a discorrer sob a perspectiva
de heterogeneidade encontrada nas turmas e que foi verificada na turma de 2018.1, traçaremos
um diálogo com Cohen e Lotan (2017). As autoras discorrem sobre as características do
trabalho em grupo, as necessidades de atuação discente e as implicações de se trabalhar com
outras pessoas, ouvindo o que elas têm a dizer.
Também utilizando como fonte de inspiração um dos autores mais citados na história
da educação mundial, tomamos as palavras de Paulo Reglus Neves Freire (1983, 1983a, 2011,
2011a, 2017), para discutir, dentro da temática do trabalho em grupo, numa perspectiva
colaborativa, o conceito de diálogo, suas implicações para seres comunicativos que somos e os
desdobramentos que desse conceito emanam. Outras discussões do autor atravessam essa
proposição, tais como autonomia, afetividade e alegria no fazer, que vão determinar a qualidade
do trabalho realizado.
Para a compreensão desse tópico, iniciaremos trazendo as concepções que utilizaremos
do trabalho em grupo e da sua dimensão colaborativa. O que significa para nós dizermos o que
é um trabalho em grupo e assinalarmos o que estamos chamando de trabalho em grupo na
perspectiva colaborativa, para que entendamos a diferença entre as duas dimensões desse tipo
de proposição.
O trabalho em grupo, na concepção de Cohen e Lotan (2017), é uma ferramenta
poderosa, que promove a construção de uma aprendizagem ativa, oferecendo possibilidades de
atuação simultânea entre os indivíduos. As autoras partem do pressuposto de trabalho em grupo
como sendo “alunos trabalhando juntos em grupos pequenos de modo que todos possam
participar de uma atividade com tarefas claramente atribuídas” (s. p.), no qual se atribui ainda,
autonomia para a comunicação entre os participantes do grupo, para cometer erros e acertos
que vão demandar as/os alunas/os a construção da autoridade no assunto estudado. Para essas
autoras, quando posicionam-se, dando testemunho da sua compreensão, os sujeitos aprendem
mais uns com os outros, se modificam e modificam os seus pontos de vista. Essa afirmação
também pode ser percebida em Vigotski (1991), na sua concepção de desenvolvimento social,
cultural e histórico, que discorre acerca da importância do outro na construção do
conhecimento.
25
A autoridade, segundo Cohen e Lotan (2017), vai ser gerada a partir do momento em
que as/os participantes do grupo decidam em conjunto quais serão os melhores caminhos para
a confecção do trabalho, bem como estejam responsáveis por partes destinadas a cada um, as
quais terão que cumprir para que ao final, o trabalho seja entregue ao/a professor/a.
No entanto, as autoras chamam a atenção para o que não deve ser considerado o
trabalho em grupo, citado por elas como agrupamentos por habilidades ou agrupamentos
temporários para ensino personalizado ou ensino individualizado de leitura, nos quais não há
uma ação de comunicação de ideias, nem de suposições e nem tampouco de discussões acerca
dos assuntos proposto ao trabalho em grupo.
Para as autoras, nas ações em grupo também estão contidas ações colaborativas e
participativas, que só poderão ser realizadas através de momentos onde o grupo estará reunido,
presencial ou remotamente, pensando juntos, utilizando o diálogo como ferramenta essencial
para a comunicação das ideias de cada componente do grupo.
Nós concordamos com as autoras (COHEN, LOTAN, 2017) e utilizamos a concepção
de trabalho em grupo como sendo uma atividade que tem uma coletividade como pressuposto,
cujas partes constituintes devem estar imbuídas de trabalhar juntas para atingir um mesmo
objetivo, utilizando-se para isso a distribuição de partes das atividades a serem cumpridas, bem
como tendo o diálogo como elemento primordial para o êxito da atividade.
Na perspectiva de Freire (2011, p. 16), “(...) o diálogo é, em si, criativo e recriativo.
Isto é, em última análise, você está se recriando no diálogo de forma mais ampla do que quando
você escreve, solitário”. Sendo assim, ao comunicar as suas ideias, ao mesmo tempo em que
fazemos o outro - que são vários por se tratar de um grupo - entender o lugar de onde se fala,
chega dos outros a comunicação que a você fazem, num intercâmbio de ideias que, ao se
retroalimentarem, vão provocando um novo pensar, um novo momento no processo formativo
e de construção do conhecimento ou seja, na medida que comunicam o pensamento, através do
diálogo, transformam-se uns aos outros.
O que seria esse diálogo além de uma conversa entre pares? “É uma relação horizontal
de A com B” (FREIRE, 1983, p. 68) e acrescenta que envolve muito mais do que comunicar ao
outro, mas implica em comunicar nutrido de amor, onde um pensa criticamente no que o outro
disse, envolve esperança, humanidade, além de confiança, fé e empatia.
[...] o que ocorre aqui é que cada um de nós é estimulado a pensar e a repensar
o pensamento do outro. [...]O diálogo pertence à natureza do ser humano,
enquanto ser de comunicação. O diálogo sela o ato de aprender, que nunca é
individual, embora tenha uma dimensão individual. (FREIRE, 2011, P. 17)
26
Apenas com o diálogo é possível que se perceba a dominação, que pode estar em pauta,
de A em B, num caminho totalmente oposto e antagônico ao ato de comunicar-se e assim, ao
ser empático, humilde, afetuoso, amoroso, estando ainda na contramão de um trabalho em
grupo na perspectiva de colaboração. O diálogo, para Freire (2011), por ser um ato
comunicante, não implica dominação; implica entendimento das ideias, ponderação, reflexão
do que está sendo dito, para então ocorrer a transformação dos sujeitos. É no momento mesmo
do diálogo que ocorre a inclusão das pessoas do trabalho em grupo e a democratização do saber,
além do ganho cognitivo existente nesses momentos.
[...] deveríamos entender o “diálogo” não como uma técnica apenas que
podemos usar para conseguir obter alguns resultados. Também não podemos,
não devemos, entender o diálogo como uma tática que usamos para fazer dos
alunos nossos amigos. Isto faria do diálogo uma técnica para a manipulação,
em vez de iluminação. Ao contrário, o diálogo deve ser entendido como algo
que faz parte da própria natureza histórica dos seres humanos. É parte de nosso
progresso histórico do caminho para nos tornarmos seres humanos. [...] Isto é,
o diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os seres
humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente comunicativos.
O diálogo é o momento em que os humanos se encontram para refletir sobre
sua realidade tal como a fazem e re-fazem. Outra coisa: na medida em que
somos seres comunicativos, que nos comunicamos uns com os outros
enquanto nos tornamos mais capazes de transformar nossa realidade, somos
capazes de saber que sabemos, que é algo mais do que só saber. De certa
maneira, por exemplo, os pássaros conhecem as árvores. Eles até se
comunicam entre si, usam uma espécie de linguagem oral e simbólica, mas
não usam a linguagem escrita. E eles não sabem que sabem – pelo menos até
agora, cientificamente, não temos certeza de que eles sabem que sabem. Por
outro lado, nós, seres humanos, sabemos que sabemos, e sabemos também que
não sabemos. Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não
sabemos, podemos, a seguir, atuar criticamente para transformar a realidade.
(FREIRE, 2011, p. 167-168)
Nesse sentido, o autor vai dizer que o diálogo faz parte da vida do ser. Para Lotan e
Cohen (2017), quanto mais os alunos estão envolvidos em atividades dialógicas, mais eles
desenvolvem o aprendizado conceitual. Conversando, partilhando suas dificuldades e
problemas na execução das tarefas, verificando as experiências dos outros participantes, através
do trabalho em grupo vão ser possíveis que estes superem, sem a intervenção dos/as professores,
as dificuldades que estão encontrando inicialmente. De acordo com as autoras, quando os/as
aluno/as explicam com suas próprias palavras os conceitos que aprenderam é útil para
verificarem o seu aprendizado particular. Para Freire (2011a) deve-se ter disponibilidade para
o diálogo e para o risco que ele envolve, uma vez que é no contexto dialógico que os sujeitos
27
serão capazes de perceber sua incompletude e se sentir seguros para expressar a dúvida e a
ignorância. É no momento do diálogo que os sujeitos vão expor suas dúvidas e certezas. O que
é certeza para um pode ser dúvida para o outro e vice e versa, num jogo promissor entre o
ignorar e o conhecer, visto que ninguém sabe tudo e ninguém ignora tudo.
É possível afirmar que outro ponto importante no trabalho em grupo, na concepção
colaborativa, é o compromisso. Percebemos em Cohen e Lotan (2017) também essa exigência
pelo compromisso como fonte de sucesso do trabalho em grupo, quando colocam que as/os
alunas/os têm a responsabilidade pela entrega desse trabalho. Para Freire (1983, p. 15), “O
compromisso seria uma palavra oca, uma abstração, se não envolvesse a decisão lúcida e
profunda de quem o assume. Se não se desse no plano do concreto”. Esse plano concreto nós
identificamos como sendo o momento da realização do trabalho em grupo, que vai estar
embebido pelo ato compromissado, uma vez que sendo “próprio da existência humana, só existe
no engajamento com a realidade, de cujas ‘águas’ os homens verdadeiramente comprometidos
ficam ‘molhados’, ensopados. Somente assim o compromisso é verdadeiro” (FREIRE, 1983, p.
19, grifos do autor).
O compromisso, juntamente com o diálogo, vão ser a base do trabalho colaborativo.
Para que haja a colaboração, de fato, no trabalho em grupo, é necessário que as partes
envolvidas encontrem-se imbuídas da ação compromissada e também das característica
encontradas no diálogo que já foram citadas anteriormente. O diálogo e o compromisso são,
portanto, nas leituras que realizamos de Cohen, Lotan (2017) e Freire (2011), base do trabalho
em grupo, na perspectiva colaborativa porque compartilham objetivos comuns, desejos de que
o trabalho venha a obter o êxito diante das energias empregadas, comunicam os mais íntimos e
antigos saberes que construíram sobre o assunto no decorrer de suas vidas e, diante daqueles
momentos, destinados à discussão do assunto, constroem as ideias que utilizam para
confeccionar o produto final e entregá-lo a/o professor/a.
Nesta propositura, podemos perceber que o trabalho em grupo, numa perspectiva
colaborativa, passa a conter uma proposta de relações, porque é cobrado dos sujeitos agrupados,
com objetivos comuns, que tenham um comportamento de diálogo, partilha, participação e além
disso um posicionamento crítico em relação ao andamento que o trabalho está tomando. Essa
capacidade é discutida por Ninin e Magalhães (2017, p. 629), levando em consideração as
discussões feitas por Edwards, referindo a agência relacional que envolve a “capacidade do
sujeito para oferecer e solicitar apoio a outros sujeitos, envolvendo-se com o mundo por meio
de ações que levam em conta os posicionamentos dos outros participantes nas interações”.
28
O conceito de agência relacional, de acordo com as autoras, nos traz a ideia de que
esse sujeito, nesse trabalho em grupo, que também é colaborativo, vai estar em relação com
outro sujeito, aumentando nele a exigência e a capacidade de se colocar de forma crítica e
colaborativa, compartilhando seus conhecimentos sobre determinado trabalho ou atividade,
administrando as divergências que poderão surgir na execução. Sendo assim, segundo as
autoras, quanto mais se acentuam as diferenças de saberes entre os sujeitos, maior será a sua
necessidade de atuar conscientemente e de se movimentar no sentido de lidar com as
contradições (NININ; MAGALHÃES, 2017). Um processo de negociação entra em curso, uma
vez que as propostas, os discursos têm um fim específico, que é contribuir, colaborar, incluir o
conhecimento do sujeito num produto que, na sua essência, é coletivo. O pensar de cada sujeito
que forma esse todo grupal será posto na berlinda, para que a negociação de ideias se faça, antes
que seja aceito e incluído de fato na formulação e dê andamento à produção.
Ainda que estejamos falando do processo de formação profissional, no ambiente
acadêmico e se tratando de uma proposição grupal de trabalho, instituído pelo docente,
podemos utilizar a contribuição de Edwards (2007, apud, NININ; MAGALHÃES, 2017),
quando cita que a agência relacional encaixa-se em diferentes finalidades. No caso específico
da nossa formulação, também se verifica a necessidade dos participantes de entenderem a
dinâmica que envolve o trabalho em grupo. Que nessa dinâmica está inserida certo nível de
resistência, de negação, de ideias contrárias e de críticas, sendo esses momentos propícios para
as negociações, para a defesa das ideias propostas, para o conhecimento das ideias de todos os
participantes, levando em consideração que, num trabalho em grupo todos deveriam posicionar-
se, mais ou menos na mesma proporção, para que seja considerado mesmo uma atuação
coletiva, o que nas palavras de Edwards (2007, apud, NININ; MAGALHÃES, 2017), diferem
de um comportamento onde os sujeitos apenas cumprem tarefas ou ordens. Esse
posicionamento vai exigir uma reflexão sobre a forma como o sujeito se coloca neste trabalho,
como compreende a atividade em grupo, sua leitura também de mundo, ou seja,
Para Freire (2011), nós não estamos no mundo à passeio, somos seres de
enfrentamentos e posicionamentos. Temos um pensar certo que “não é que fazer de quem se
isola, de quem se ‘aconchega’ a si mesmo na solidão, mas um ato comunicante. Não há por isso
29
mesmo pensar sem entendimento, e o entendimento, do ponto de vista do pensar certo, não é
transferido, mas coparticipado” (FREIRE, 2011, p. 38, grifos do autor). Num trabalho coletivo,
com perspectivas colaborativas, é preciso repensar essa atitude passiva, de quem não tem nada
a ver com a situação. Isso é reforçado pela noção de relação que Ninin e Magalhães (2017)
trazem sobre a agência relacional. Não há a dimensão relacional sem que haja um vivência
coletiva, uma experiência de sujeitos com sujeitos, de intelectualidades, de conversas e tomadas
de decisões. Longe do diálogo não há dimensão relacional.
Ao entender o diálogo como essencial, compreendemos que se trata de um processo
não só comunicante, extensionista, mas participante, inclusivo, colaborativo. O diálogo será um
espaço no qual os indivíduos vão partilhar suas convicções, sua consciência de que sabe algo,
mas mais que isso, permeado pelo respeito de que os outros componentes do grupo também
sabem algo (FREIRE, 2011), podendo inclusive ser algo que podemos desconhecer, o que
constitui vasta possibilidade de desenvolvimento de habilidades e conhecimento coletivo.
Freire (2011, p. 133) entende que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com
seu gesto a relação dialógica”.
30
Para embasarmos esse tópico traremos Liberali e Fuga (2018), que tratam do
desenvolvimento dos sujeitos como agentes transformadores, fazendo uma discussão sobre o
conceito de perejivanie, com base na obra de Vigotski. Ao dialogarmos, ainda, com Ninin e
Magalhães (2017), encontraremos no conceito de agência uma interatividade que consiste em
entender uma coletividade como lócus de atuação do sujeito que, consciente e intencionalmente,
age para atender às necessidades desta coletividade. Toassa e Souza (2010) vão entrar no debate
discutindo as ações coletivas, na perspectiva da colaboração, tendo como pano de fundo, assim
como Ninin e Magalhães (2017), os conceitos de agentes transformadores. A transgressão como
forma de perceber o enrosco da sociedade da sala de aula como alienador do processo formativo
traz para o debate, no documento monográfico, Bell Hucks (2013) para entender o movimento
libertador como necessário para a construção do conhecimento obtido através do trabalho em
grupo. E neste tópico também vamos refletir que tipo de profissional está sendo formado no
curso de Pedagogia, e para isso utilizaremos as contribuições trazidas por Assis (2007).
Ao trazermos o conceito de trabalho como uma ação de inteligibilidade dos sujeitos,
ou seja, uma ação que antes de ser efetivada já foi projetada no seu intelecto, nos reportamos à
contribuição de Liberali e Fuga (2018) e na importância que as autoras acentuam ao estudo
sobre perejivanie para a atuação de sujeitos no contexto escolar, trazendo essa reflexão como
forma de contribuir no processo constitutivo da dimensão agentivo-transformadora desses
sujeitos. Esse termo russo, cuja tradução tem mobilizado pesquisadores e tradutores, tem sido
apresentado, em português, como vivência, e em alguns casos, como experiência visceral,
vivência dramática (LIBERALI, FUGA, 2018).
Ao discutir o conceito de perejivanie, Veresov (2016, apud LIBERALI E FUGA,
2018) vai dizer que em russo, trata-se de um termo que envolve as dimensões social e
individual, no qual vai demonstrar as transformações ou formas como os sujeitos vão processar
as experiências vividas com essas relações. Mas não se encerra com essas palavras a discussão
realizada pelas autoras sobre o termo perezhivania. Estas vão dizer inclusive, que são várias
perezhivania, podendo se constituir como repertórios para serem utilizados em várias situações
e que seriam responsáveis pelo desenvolvimento dos sujeitos. Aqui enfatizando que os
momentos vividos pelas/os discentes são particularmente vividos, no qual cada pessoa, mesmo
vivendo situações e experiências iguais vivencia de modo diferente. Esta é a razão pela qual
trouxemos a discussão de perejivanie para a modalidade de trabalho em grupo, visto que, a
unidade grupal não se traduz em homogeneidade para cada componente. É preciso ressaltar que
31
entrando em contato com as informações que o levariam ao conhecimento, não conheceu, não
articulou ideias, não argumentou, portanto não se deu a possibilidade de debater o objeto que
foi trabalhado com a dinâmica, da mesma forma que o participante real da atividade. No
entanto, esses sujeitos darão o tom nas atividades que alimentarão essa unidade grupal e como
resultado dessa alimentação, serão perpassados por essa experiência que, vivida coletivamente,
serão afetados de forma heterogênea. Quando trazemos o conceito de agência como “[...] um
processo de engajamento social temporariamente incorporado pelo sujeito, informado pelo
passado, orientado por uma avaliação do presente em direção a possibilidades futuras” (NININ;
MAGALHÃES, 2017, p. 627), estamos intencionando trazê-lo diretamente para o debate sobre
a atuação dos sujeitos nos grupos de trabalho e atividades em grupo promovidos dentro da
academia, e a influência desse tipo de metodologia para a formação da/o pedagoga/o, mais
precisamente daquelas/es que iniciaram seu processo formativo em 2018.1, na UFRN.
No ambiente educativo essa interação entre as/os profissionais se dará muito mais
intensamente e frequentemente, visto que as atribuições não cessam depois de terminada uma
atividade, tendo sempre mais outra e outra tarefa a ser cumprida. Então o processo de
colaboração será também muito mais presente nas atividades desenvolvidas pela/o pedagoga/o,
seja qual for a função que ela/e estiver desempenhando. Assim, colaborar exige:
partilhados por pessoas diferentes são importantes, Porque “[...] embora diferentes entre si,
quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado
[...]. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2011, p.
25).
Assim, pode-se dizer que as mediações feitas em um trabalho em grupo vão ser
coletivas e vão fazer com que cada indivíduo participante, comunicativamente, seja mediador
de cultura, trazendo para o grupo as informações adquiridas na sua performance/ação/reflexão
pelo mundo e, em contrapartida recebam, caso os outros indivíduos sejam igualmente
comunicantes, as mediações de suas vivências (SFORNI, 2008).
35
Sobre o método, Gil (1999) nos esclarece que é uma forma, um caminho para se atingir
determinado objetivo. A metodologia científica engloba um conjunto de procedimentos
intelectuais e técnicos que devem ser utilizados para que se chegue ao conhecimento daquilo
que se intenciona conhecer.
Nessa pesquisa para a construção do diálogo com o objeto de estudo, foi realizada uma
investigação do tipo qualitativa e exploratória com estudantes do curso de Pedagogia, turma
2018.1, bem como com os/as professores/as que lecionaram e ainda lecionam na turma.
Trata-se de abordagem qualitativa, uma vez que, os dados construídos foram
apresentados através de descrições verbais e não numéricas (GIL, 1999). E, dado o objetivo de
entender a relação existente entre intencionalidade dos/as docentes e
receptividade/compreensão dos/as estudantes sobre a proposta de trabalho em grupo, além das
peculiaridades e especificidades que perpassam esse relacionamento, a pesquisa exploratória
foi a que mais correspondeu às características do objeto de estudo.
O instrumental utilizado para a coleta dos dados foram dois questionários digitais,
organizados com a ferramenta Google Formulários. Foi elaborado um questionário para as/os
estudantes e outro para as/os docentes. Essa é uma ferramenta de pesquisa que tem suas
vantagens e limitações. Gil (1999) aponta como vantagens que os questionários abrangem um
maior número de pessoas e em lugares distantes, não necessitando de utilização de pessoal para
aplicá-lo, garantindo o sigilo sobre o respondente. Sobre as limitações desta ferramenta o autor
cita as seguintes: pessoas analfabetas são excluídas; não há ajuda caso o respondente não tenha
entendido a pergunta; não permite conhecer as circunstâncias em que o questionário foi
respondido; não há garantia de que se terá o questionário corretamente respondido, nem que ele
vá ser respondido; o número de perguntas deve ser limitado, para não correr o risco de de não
ser respondido; e a depender da interpretação das pessoas, proporciona resultados bastante
críticos em relação à objetividade (GIL. 1999, p. 129).
Antes de enviar os questionários aos participantes, aplicamos questionários teste. Eles
foram importantes para verificar o tempo aproximado para resposta e também para saber se as
perguntas estavam elaboradas de forma que o entendimento fosse possível. Enviamos o
questionário das/os estudantes para três estudantes, 02 mulheres e 01 homem, que não
pertenciam a minha turma - para não comprometer a pesquisa e também para não diminuir o
número de estudantes respondentes - explicando-os que se tratava de um questionário teste e
36
que se destinava a obter informações sobre o tempo gasto com as respostas, se as perguntas
estavam elaboradas de forma entendível e se tinham alguma sugestão para as perguntas, caso
as achassem confusas. Recebemos todas as respostas, sem nenhum comentário negativo sobre
as perguntas e também sem nenhuma sugestão de mudança. O mesmo procedimento foi
realizado para duas docentes, tendo sido respondido por apenas uma, que nos auxiliou em um
dos questionamentos, levando a ajustes no teor de uma pergunta. É importante salientar que
nós, eu e a orientadora dessa pesquisa, não fomos respondentes dos questionários, pois já
estávamos impregnados dos objetivos e da justificativa do projeto.
Com a aplicação dos testes, revisamos o questionário mais uma vez. Fizemos os
ajustes, adicionando as informações obtidas sobre o tempo estimado para as respostas com base
no tempo declarado pelos respondentes do teste. O roteiro desses questionários pode ser
consultado nos apêndices A e B.
Iniciou-se, então, a busca dos participantes da pesquisa. Fizemos uma lista em planilha
Excel, com todos os nomes e e-mails das/os estudantes da turma 2018.1, turno vespertino
presencial e das/os docentes que haviam lecionado nas turmas que eu havia feito parte. No total
entramos em contato com 50 estudantes e 43 docentes.
Buscamos pelos/as discentes no grupo de WhatsApp da turma, salientando que alguns
não estavam no grupo. O primeiro passo foi verificar quais eram as/os discentes que estavam
no grupo de WhatsApp da turma. Assim, enviamos um texto cordial, contendo o objetivo do
questionário, o público prioritário, o prazo final de recebimento das respostas, o link do
questionário digital destinado às/aos discentes e um agradecimento breve, para o grupo de
WhatsApp da turma. Como citado, haviam pessoas da turma que não estavam no grupo de
WhatsApp da turma, e a alternativa foi enviar o mesmo texto, com link e agradecimento para
os e-mails destas/es discentes.
Para os docentes enviamos, por e-mail, um texto cordial mais formal, contendo o
objetivo do questionário, o público prioritário, o prazo final de recebimento das respostas, o
link do questionário e um breve agradecimento pelas atenção e respostas. O questionário das/os
discentes ficou disponível por 09 dias. O da/os docentes ficou por 04 dias.
Não houve uma adesão esperada ao questionário, tanto por parte das/os estudantes
quanto das/os docentes. Era esperada uma adesão maior porque pensávamos que a empatia
das/os estudantes se apresentaria com maior expressão, visto estarem passando pelo mesmo
processo de construção dos seus trabalhos de conclusão de curso. Diante disso, passamos a
contatar as pessoas uma a uma, através de mensagens via WhatsApp. Foram 10 mensagens
extras enviadas para as/os estudantes por este aplicativo. Dessa vez, um apelo mais informal e
37
A primeira categoria, que optamos por trabalhar, foi o trabalho em grupo como
trabalho coletivo. Essa percepção do trabalho em grupo aparece com muita frequência nas
respostas dadas pelas/os pesquisadas/os, às vezes de modo mais explícito, às vezes com
afirmações que indicavam tal percepção.
Dentro dessa perspectiva, um aspecto que surge é o diálogo como dimensão essencial,
discussão ancorada em Freire (2011). Na questão QE09 (Na sua concepção, o que é um trabalho
em grupo?), algumas respostas deixam bem explícita essa compreensão de atividade coletiva.
O estudante E01 respondeu: “Trabalho em grupo é uma perspectiva de atividade coletiva que
visa a compreensão de diferentes pontos de vista”. O mesmo raciocínio é colocado pela
estudante E06, que respondeu ser o “Desenvolvimento de atividade de modo coletivo e
colaborativo, onde há o envolvimento de todos de forma equilibrada”. Essa compreensão está
de acordo com Ninin e Magalhães (2017) que destacam as características do processo de
colaboração, como sendo perpassado por diálogos, oferecimentos e solicitações de apoio aos
demais sujeitos envolvidos. Percebam que a estudante E06 destacou a colaboração na sua
respostas, retomaremos a discussão desse ponto posteriormente.
Identificamos que há um entendimento nos dois grupos pesquisados, discentes e
docentes, sobre o caráter de coletividade que envolve esse tipo de estratégia pedagógica. Ao
perguntarmos as/os docentes “em que você se inspira para propor trabalhos em grupo?” (QP04),
estas/es reportam às características, teorias e teóricos que dizem respeito ao processo de
trabalho coletivo como propiciador dos processos de ensino e aprendizagem, ou em que cuja
40
teoria está a influência que os sujeitos do grupo de trabalho exercem uns sobre os outros. A
professora P04 respondeu “Na concepção interacionista de aprendizagem e na ideia de que o
trabalho coletivo é uma das características do trabalho docente” e a professora P08 disse que
era na “Perspectiva Sociointeracionista de Vigotski”.
Da mesma forma, percebemos que, na pergunta QP06 (Qual a sua intencionalidade ao
propor um trabalho em grupo?), o professor P05 diz que é “Partilha de saberes e construção
coletiva do conhecimento” e a professora P10 diz que
É visível a identificação das/os respondentes sobre uma atividade que não deve ser
realizada por um único sujeito. Também há o entendimento de que no trabalho em grupo, por
se tratar de uma estratégia coletiva, as pessoas que compõem essa coletividade (grupo de
trabalho) devem fazer a atividade de forma conjunta.
De acordo com as respostas das/os estudantes, também está expressa a compreensão
que essa atividade é de cunho colaborativo. É o que afirma a estudante E16, quando diz que
“Constitui-se como uma ação colaborativa, onde todas as pessoas se envolvem e participam
ativamente na sua construção".
Lembraram que a estudante E06, anteriormente, citou essa palavra - colaboração - e
que ficamos de discutir depois? Especificamente aqui, utilizaremos o termo colaboração como
sinônimo para participação e contribuição (termos que apareceram nos questionários) visto que,
nas respostas dadas pelas/os estudantes, encontramos essa correlação. Nós entendemos, assim
como Ninin e Magalhães (2017, p. 632) que “Colaborar é esse processo de construção com
outros em que os sujeitos trabalham juntos na compreensão e transformação de si mesmos, de
outros, de seu contexto coletivo de ação e do mundo”. Isso difere da simples participação, que
pode ser entendida apenas como estar presente em determinada atividade. No entanto,
analisando as respostas das/os estudantes no questionário, verificamos que utilizam as duas
palavras como sinônimos, em certos momentos. Percebemos, pelas respostas dos professores e
estudantes, que o trabalho em grupo deve ter participação e colaboração. Essa colaboração, em
acordo com o pensamento de Freire, implica compromisso, uma análise desse sujeito da sua
41
inserção no mundo, e nesse caso, no trabalho em grupo, posto que “a primeira condição para
que um ser pudesse exercer um ato comprometido era a sua capacidade de atuar e refletir”
(FREIRE, 1982, p.17).
A nossa intenção principal é entender os relacionamentos existentes entre
intencionalidade dos professores e receptividade dos estudantes nos trabalhos em grupo. É por
isso que fazemos uma série de associações entre as respostas dos questionários dos dois grupos
e entre as respostas de diferentes participantes do mesmo grupo.
Continuando essa comunicação entre as respostas, percebemos que, na perspectiva
das/os estudantes, a colaboração é essencial. Tanto é que sua falta foi uma das queixas retratadas
na QE13.1 (Se você respondeu sim à questão anterior2, indique porque tinha vontade de fazê-
lo individualmente). As respostas - algumas delas discutidas na sequência - colocam dúvida
para a eficácia do trabalho em grupo como atividade coletiva, na nossa concepção. Levando em
consideração a participação nesta atividade, relataram situações nas quais a colaboração não se
deu proporcionalmente entre as/os participantes do grupo.
É possível que a participação citada tenha se configurado apenas com o nome no rol
de membros do grupo ou apenas na apresentação final do trabalho, como cita a estudante E11,
ao responder, na QE13.1, que “Em quase toda a minha graduação tive que fazer o trabalho
praticamente sozinha, sendo sempre grupo de 5 pessoas, 90% das vezes eu e outra colega
fazíamos sempre o trabalho inteiro”. Ou que tenham denotado a não participação das/os
membras/os do grupo como é o exemplo da estudante E16 respondendo que “Mesmo estando
ciente das possibilidades que o trabalho em grupo proporciona, o fato de alguns colegas não
colaborarem para o trabalho coletivo era algo que desmotivava bastante”. E a estudante E20
que fala que “Por haver pessoas que contribuíam minimamente, assim como pessoas que
desejavam fazer tudo sozinhas sem aceitar a opinião dos demais e fazendo o trabalho, como se
o trabalho em grupo que estava sendo proposto fosse de fato individual.” Nesse ponto
percebemos tanto o aspecto de negação da contribuição, como uma postura autoritária que toma
conta da atividade e não permite que as/os outras/os componentes façam a sua parte.
Continuando a análise da resposta da estudante E20, percebemos que há uma interferência no
processo de aprendizagem, provocada por uma postura autoritária e igualmente traumática para
a estudante.
2 Questão anterior, 13, Quando a/o docente propunha trabalho em grupo, você tinha vontade de fazê-
lo individualmente?
42
Chateada. Entendo que todos tem suas diferentes demandas fora da faculdade,
mas também acredito que é necessário administrar o seu tempo e colocar os
trabalhos como uma obrigação a serem cumpridas, pois não é justo
sobrecarrega somente uma ou algumas pessoas e só participar na hora da
apresentação ou acrescentando o seu nome.
43
Com essas palavras podemos perceber outro lado que o trabalho em grupo está
revelando: dos componentes autoritários. Eles não permitem outras ideias que não as suas e
promovem assim o não aprendizado, pela não permissão do outro comunicar as suas ideias.
Foi possível observar, cruzando as respostas às QE13 (Quando a/o docente propunha
trabalho em grupo, você tinha a vontade de fazê-lo individualmente?), QE15 (Qual critério você
utilizava para se inserir em um grupo para realizar o trabalho em grupo?) e QE16 (Você já
participou de um trabalho em grupo onde alguns componentes não deram sua contribuição?),
do grupo de estudantes, que embora na QE13, 12 pessoas (52,2%) tenham dito que não tinham
vontade de fazer o trabalho individualmente, na QE15 11 pessoas (48%) relatam que um dos
critérios adotados seria a participação de outros componentes no decorrer do trabalho e na
QE16, apenas 1 pessoa relata não ter participado de nenhum grupo que tenha havido ausência
de contribuição de algum/a participante. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a E02, na
QE15, responde que o critério para inserção em grupo é a “proatividade”, para a QE16 ela
responde que “sim”, participou de grupo com participante que não colaborou na atividade, e na
QE13 ela respondeu que não tinha vontade de fazer o trabalho individualmente. O mesmo
exemplo aconteceu com a E23, que responde, na QE15 que a colaboração das pessoas é o
critério para escolha do grupo, relata que já participou de trabalhos onde não houve a
colaboração de componente do grupo, e na QE13 responde negativamente à vontade de fazer o
trabalho individualmente.
Ao relacionarmos essas três questões, QE13, QE15 e QE16, percebemos que embora
chateadas/os, tristes e injustiçadas/os, das/os 11 estudantes que disseram não querer fazer o
trabalho individualmente, 05 disseram também que o critério para se inserirem em grupos de
trabalho eram apenas por afinidade ou por vaga nos grupos.
A não participação de alguns colegas leva a estresse e sobrecarga, conforme foi
possível ver nas respostas à questão QE16.1. 06 pessoas indicam esse estado. Uma vez que, a
não participação de uma pessoa do grupo não significa que a parte da atividade que ela deva
desempenhar estará concluída, muito pelo contrário, essa parte será realizada por alguém que
já está responsabilizado por outra parte da atividade, tendo assim, que desempenhar um papel
44
Acredito que sim! Pois enquanto grupo todos devem possuir o mesmo
posicionamento frente ao tema trabalhado e apresentado. No entanto,
46
Considerando os colegas que não colaboram, não acho justo que estes
possuam a mesma nota que uma pessoa que realizou as leituras, esteve
disposta a conversar/debater sobre a temática, foi organizada e fez o
trabalho antes do prazo. Essa pessoa foi dedicada e se dispôs a aprender,
não é justo que receba a mesma nota de alguém que só estava com o
nome no trabalho.
Como possibilidade para uma nota mais condizente com a participação, poderíamos
sugerir a adoção da autoavaliação, na qual cada membra/o do grupo atribui a sua nota,
considerando a própria participação na atividade. Ficaria a cargo da/o docente a avaliação sobre
a apresentação do trabalho das/os discentes, que é um passo do trabalho que ela/e teve condição
de acompanhar. Talvez, se configure como uma alternativa que contribuísse para um processo
mais justo.
Verificamos que há sim uma compreensão do trabalho em grupo como processo
coletivo, mas, a participação e colaboração de todas/os, presente na intencionalidade docente
ao propor a atividade grupal, deve existir.
Outra categoria, que veio à tona com as respostas das/os estudantes e docentes
pesquisadas/os, diz respeito à aprendizagem no trabalho em grupo.
A aprendizagem no trabalho em grupo, ao nosso ver, com base no referencial estudado
(FREIRE, 2011; COHEN E LOTAN, 2017; NININ E MAGALHÃES, 2017), vai se dar pelas
características de coletividade, colaboração, compromisso e diálogo, porque será através destas
que as/os estudantes entrarão em contato com o pensamento e o conhecimento das/os
membras/os do grupo formado. Relembrando aqui as palavras de Freire (2011, p. 167) sobre
diálogo, “como algo que faz parte da natureza histórica dos seres humanos [...] é uma espécie
de postura necessária, na medida em que os seres humanos se transformam cada vez mais em
seres criticamente comunicativos”. Retomando também as palavras de Ninin e Magalhães
47
(2017) sobre a colaboração sua característica de interlocução entre os indivíduos, num contexto
de confiança, respeito, responsabilidade, compromisso etc. que tenha também como parte
integrante o compartilhamento de ideias, para aprimoramento mútuo das pessoas que estão em
relação.
Vemos o caráter de coletividade nas palavras das/os estudantes. E01 aponta que
“Trabalho em grupo é uma perspectiva de atividade coletiva que visa a compreensão de
diferentes pontos de vista”, E06 responde “Desenvolvimento de atividade de modo coletivo e
colaborativo, onde há o envolvimento de todos de forma equilibrada” e a estudante E13 diz que
“É quando todos os componentes colaboram de forma conjunta para a elaboração de um
trabalho, um ajudando/completando o outro”. Percebemos que compreendem que não basta
estar no grupo figurativamente, mas que há uma necessidade de que todos partilhem do
processo, fazendo-nos retomar o conceito de agência relacional, discutidas por Ninin e
Magalhães (2017), que vai levar em consideração as atitudes dos sujeitos no mundo,
envolvendo deles a capacidade de estarem em relação, oferecendo e solicitando seus
posicionamentos.
Essa participação ativa é uma das características da colaboração, que vai permitir que
as pessoas que estão inseridas no grupo de trabalho entrem em contato com as ideias do outro
e, assim, possam repensar as suas próprias ideias; que possam entrar em comunicação com
vários saberes para ter uma nova configuração de saber. Vai se dar, então, o movimento de
retroalimentação de saberes e concepções proporcionado pelo diálogo, nos quais os
dialogadores têm a possibilidade de se perceberem sempre a completar-se, sem nunca chegarem
a um conhecimento final, uma vez que somos seres inconclusos buscando, conscientemente, o
que nos complete (FREIRE, 2011).
Podemos enxergar nas respostas das/os docentes, na pergunta QP03, sobre adoção de
trabalho em grupo como estratégia pedagógica, que 100% das/os professoras/es responderam
que sim, mostrando que essa é uma prática que encontra credibilidade por partes delas/es e que
é frequentemente utilizada. E, levando em consideração o tempo de docência de cada
professor/a, não importa se leciona há 1 ano ou há 30 anos, a adoção de trabalho em grupo
como estratégia pedagógica é unânime. As respostas das/os estudantes sobre a QE08 (Você
participou de trabalhos em grupo durante o curso?) comprovam que essa estratégia é, de fato,
recorrente, uma vez que 100% das/os discentes responderam que sim.
No entanto, se essa forma de atividade é escolha unânime entre todas/os as/os
docentes, não encontra a mesma unanimidade entre as/os estudantes. Quando perguntado se
preferia fazer a atividade de forma individual ao ser proposta uma atividade em grupo (QE13),
48
47,8% responderam que sim, preferiam. As estudantes E06 e E16 relatam que a vontade de
fazer trabalho individualmente se deu pela falta de colaboração de alguns/mas componentes do
grupo. E06 indica que “Devido à falta de colaboração de alguns colegas os quais, por não serem
colaborativos, sobrecarregavam alguns companheiros do grupo.” e E16 que “Mesmo estando
ciente das possibilidades que o trabalho em grupo proporciona, o fato de alguns colegas não
colaborarem para o trabalho coletivo era algo que desmotivava bastante.”
Nesse sentido, observamos que a aprendizagem, como uma construção coletiva de
conhecimento que se concretiza na individualidade é prejudicada. Torna-se, muitas vezes,
frustrante, como relata a/o estudante E06, estressante, como responde a estudante E10, além de
proporcionar uma sobrecarga nas/os demais componentes do grupo de trabalho, como citou a
estudante E08. Tais respostas, reiteram a compreensão de vivência, como experiência
individual em uma situação coletiva, como explicam Liberali e Fuga (2018).
Isso é importante para o processo de aprendizagem vivido dentro da universidade, pois
esses momentos, ainda que negativos, serão criadores de sentidos e repertório para serem
usados no cotidiano da/o pedagoga/o. Ao participarem novamente de experiências como as
referidas, vão poder atuar com conhecimento de causa, modificando ou reiterando seus
posicionamentos.
Para o processo de aprendizagem no trabalho em grupo, a intencionalidade das/os
docentes tem um caráter decisivo. Os objetivos traçados por elas/es são definidos tanto pelo
que querem desenvolver nas/os estudantes, quanto pelas competências que devem ser
trabalhadas e contempladas ao final do curso. No entanto, essas experiências que
proporcionariam o desenvolvimento da aprendizagem podem, apesar da intencionalidade da/o
docente, não atingir o objetivo desejado.
Falamos isso porque, de acordo com respostas de parte das/os estudantes, a questão
QE13.1 participação e a colaboração não foi vivida proporcionalmente por todas/os. Por
exemplo, o P01 disse que propõe trabalhos em grupo com a intencionalidade de “interação, no
partilhamento de conhecimentos”. No entanto, a estudante E11 relatou que em quase toda a
graduação dela/e teve que desenvolver o trabalho, que deveria ser em grupo, sozinha, visto que
as pessoas que estavam inseridas no grupo do qual ela/e fazia parte não colaborava com a
atividade, fazendo com que procurasse uma ajuda terapêutica pela vivência traumática que teve
dessas experiências. Assim, esse processo, ao invés de ser um meio dialógico e promissor de
aprendizagem, tornou-se algo penoso e sofrível, trazendo transtornos para essa/e estudante,
fazendo-a/o acreditar que não houve aprendizado no trabalho em grupo. Ela responde na
questão QE17.1 (Como o trabalho em grupo contribuiu na sua Formação? Caso a resposta à
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pergunta anterior3 tenha sido negativa, escreva “Não contribuiu”) dizendo que não houve
contribuição.
Outras/os estudantes trouxeram pontos de vista diferente referente a aprendizagem no
trabalho em grupo. O estudante E18, tem como pressuposto que o trabalho em grupo é uma
atividade coletiva com objetivos comuns, cuja intencionalidade da/o docente é “potencializar o
aprendizado exercitando a zona de desenvolvimento proximal dos alunos para que possam
aprender uns com os outros (Ou simplesmente para ter que corrigir menos trabalhos)” e que
também relata o caráter de comprometimento das/os componentes para se inserir em
determinado grupo (resposta dada à QE15). Essa resposta, do estudante E18, apresenta uma
similaridade com o que foi respondido por parte das/os docentes à questão QP06 (Qual a sua
intencionalidade ao propor um trabalho em grupo?), “Possibilitar a troca, a interação, as
discussões, a (re)elaboração conceitual, o trabalho colaborativo e a construção coletiva”, como
responde a P08 ou “Que as alunas aprendam compartilhando conhecimentos e experiências;
que experimentem o diálogo e o trabalho coletivo (...)” respondeu P04. Essa similitude entre as
respostas corrobora a resposta do E18 à QE 17.1 considerando que houve aprendizado com os
trabalhos em grupo que participou (resposta dada à QE 17.1 - “Me permitiu aprender com os
colegas.”).
A resposta do estudante E18 sobre a intencionalidade docente traz indícios de uma
contradição. Ele diz, inicialmente, que a/o docente entende ser o trabalho em grupo
“potencializar o aprendizado exercitando a zona de desenvolvimento proximal dos alunos para
que possam aprender uns com os outros [...]” mas completa “...(Ou simplesmente para ter que
corrigir menos trabalhos)” questionando a ideia de que a/o docente sempre entende o trabalho
em grupo como potencializador do aprendizado.
Na questão E10 (Ainda na sua concepção, para que o/a professor/a utiliza o trabalho
em grupo) é possível perceber que não há consenso entre as/os respondentes. Das/os 23
estudantes que responderam o questionário, 08 responderam que em sua opinião o/a professor/a
escolhia o trabalho em grupo como estratégia formativa para reduzir a quantidade de atividades
a corrigir, como foi o caso das/os estudantes E01, E05, E12, entre outros. A outra parte das/os
estudantes, ou seja, 15 apontaram várias opiniões sobre a pergunta. A estudante E04 faz uma
ponderação, dizendo: “Reduzir a quantidade de correções, proporcionar interação, dividir partes
da atividade que seriam realizadas em mais tempo com mais dificuldade por um único
estudante, promover o debate do tema entre os pares”. No mesmo entendimento do que nos
3 Você acha que o trabalho em grupo contribuiu para a sua formação durante o curso?
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9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
fácil. Era preciso saber o que perguntar porque as perguntas precisavam falar umas com as
outras e essa comunicação precisava fazer sentido. E fizeram, no momento certo.
O momento mais desconcertante e mais aterrorizador se deu quando estava de posse
dos dados. Após as respostas chegarem até mim. Um silêncio ensurdecedor tomou conta da
minha mente. O que fazer com tanta informação? Que caminho tomar? Por onde começar? Por
fim, uma resposta: começa por onde te fizer mais sentido. Eu não sei, mas comecei e tudo
começou a fluir.
Eu senti muita angústia, um misto de ansiedade e desespero, posso afirmar. Mas algo
mais estava por vir, eu acreditei. Sim, porque o processo de planejar a pesquisa, confeccionar
o questionário, enviar para as pessoas responderem, analisar os dados e construir a monografia
acrescentaram muito conhecimento na minha jornada.
Primeiramente, era preciso entender a minha intencionalidade, para poder fazer as
perguntas corretas, a utilização do instrumento de coleta de dados mais apropriada aos meus
objetivos e até entender que contribuição todo esses processos trariam para a minha vida e
também para minhas colegas e meus colegas e para o curso.
Um ponto que saliento sobre o meu aprendizado é a necessidade de entender qual é a
intencionalidade de quem propõe uma estratégia como o trabalho em grupo, que me parece,
agora, depois das reflexões realizadas, primordial para que possamos desenvolver a atividade.
Pois, embora as/os estudantes não saibam quais sejam os motivos e objetivos, a/o docente tem
uma intencionalidade, se debruçou sobre aquela atividade e deseja que os objetivos pensados
sejam alcançados.
Outro ponto, agora tratando sobre as contribuições para o curso de Pedagogia e para
outros cursos, é que falar sobre essa estratégia pode servir para que ela seja amplamente
discutida dentro de sala de aula e que docentes e estudantes possam refletir juntos sobre
intencionalidades, alcances e conhecimentos sobre o trabalho em grupo. Visto que neste estudo
e nas fontes pesquisadas, este tipo de atividade se mostrou eficaz como potencializador do
aprendizado e das relações interpessoais dentro da sala de aula.
Por outro lado, podemos observar que o trabalho em grupo, no modelo que é realizado
em sala de aula, permite que o/a professor/a analise de forma coletiva o produto obtido, mas
não o permite perceber se todos/as os/as estudantes participaram da elaboração, tampouco se
os/as estudantes obtiveram um aproveitamento individual satisfatório, que talvez seja o
principal objetivo da proposição coletiva de trabalhos - o diálogo para compartilhamento dos
saberes, uma ação coletiva que vai expor a relação indivíduo/coletivo.
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Diante de tudo que foi estudado, vendo as limitações apontadas pelo tempo e pelo
próprio objetivo do documento, percebo que outras possibilidades poderiam surgir, tais como
o estudo sobre a participação das/os estudantes no processo de planejamento e avaliação tanto
das atividades em sala de aula, quanto da própria modalidade de trabalho em grupo e seus
resultados, entrelaçados pela comunicação entre docentes e discentes nos processos de ensino
e aprendizagem dentro da academia.
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REFERÊNCIAS
BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. 8a Ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
BRAZ, Marcelo; NETTO, José P. Economia Política: uma introdução crítica. 4a Ed. São
Paulo: Cortez, 2008.
CABRERA, M. del Mar García. Analisis del trabajo en grupo como estrategia formativa en
las titulaciones de ciencias de la educación en la Universidad de Córdoba. 2011. 661 f. Tese
(Doutorado em Ciências da Educação) - Universidad de Córdoba, Córdoba, 2011.
CORTELLA, Mário Sérgio. O espaço da ética na relação indivíduo e sociedade. In: Serviço
Social e ética. São Paulo: Cortez, 2011.
FREIRE, Paulo R. N.; SHOR, Ira. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. São Paulo: Paz e
Terra, 2011.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5a. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
IAMAMOTO. Marilda Villela. Trabalho e indivíduo social. 4a ed. São Paulo: Cortez, 2011.
MORAES, Roque. Uma tempestade de luz: a compreensão possibilitada pela análise textual
discursiva. Ciência e educação. RS, V. 9, n. 2, p. 191-211, 2003.
RIBEIRO, Carla Patrícia Freixo. O trabalho em grupo cooperativo nas disciplinas de História
e de Geografia. 2013. 24 f. Dissertação (Mestrado em Ensino de História e Geografia) -
Universidade do Porto. Porto. 2013.
RUFINO, Luiz. Vence-demanda: educação e descolonização. 1a. ed. RJ: Mórula, 2021.
TOASA, Gisele; SOUZA, Marilene Proença Rebello de. As vivências: questões de tradução,
sentidos e fontes epistemológicas no legado de Vigotski. Psicologia USP, São Paulo, 21(4),
757-779, 2010.
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PERFIL
PERFIL
17.1. Como o trabalho em grupo contribuiu na sua formação? Caso a resposta a pergunta
anterior tenha sido negativa, escreva "Não contribuiu".
18. Na sua opinião, nos trabalhos em grupo, a avaliação em forma de nota deveria ser a mesma
para todos os componentes? Justifique sua resposta.
19. Você vivenciou algum tipo de problema para realizar os trabalhos em grupo que as/os
docentes propuseram durante o curso?
19.1. Caso a resposta anterior tenha sido ¨SIM¨, você poderia relatar a situação? Caso tenha
sido não, responder "Não houve problema".