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ISSN: 1984-6290

Qualis B1 - avaliação CAPES 2020-2024


DOI: 10-18264/REP

Violência escolar: uma percepção social

Bianca da Cruz Barbieri


Pedagoga, professora da Educação Básica e Faculdade de Americana

Naiara Ester dos Santos


Pedagoga, professora da Educação Básica e Faculdade de Americana

Wagner Feitosa Avelino


Mestre em Educação (Unesp), professor e pesquisador da Faculdade de Americana e da Secretaria Estadual de São Paulo

A violência escolar é um fenômeno preocupante no Brasil, tem-se agregado e assumido diversas formas nas escolas, fazendo-se
necessária uma investigação das perspectivas sociais, políticas e psicológicas, para que se possa ampliar a compreensão e fazer-se uso
do pensamento crítico sobre essas questões.

A escola é vista como um centro de formação intelectual, de desenvolvimento e aprendizagem, um espaço constituído por segurança e
proteção. Entretanto, atualmente, situações de violência e desrespeito nas instituições ganham cada vez mais destaque nas mídias e
pesquisas, como dito por Debarbieux (2001), o enfoque da mídia no assunto contribuiu para que os acontecimentos tivessem mais
visibilidade. As agressões nem sempre são físicas, casos de violência psicológica são bem mais comuns e menosprezados, pois
constantemente são julgados como brincadeira.

O índice de violência nas escolas é alarmante. De acordo com Souza (2019),

em 2019, 81% dos estudantes e 90% dos professores souberam de casos de violência em suas escolas estaduais no último ano. Ocorrências
mais frequentes de violência nas escolas estaduais envolveram bullying, agressão verbal, agressão física e vandalismo.

Consequentemente, fazendo com que seja criada uma atmosfera de medo e vulnerabilidade, tanto para professores quanto para alunos.
Vítimas presentes nesse índice são propensas a desenvolverem problemas sérios de saúde (tanto físicos quanto mentais), abono escolar,
evasão e ensino-aprendizagem negativos, são alguns dos problemas que podem ser decorrentes à violência. Abramovay e Rua (2003, p.
63) verificaram que

muitos jovens são vítimas ou agentes da violência, entretanto, mesmo os que não se envolveram diretamente, relataram inúmeros casos dos
quais tomaram conhecimento ou presenciaram no espaço escolar. Essa proximidade contribui para banalizar o comportamento violento [...]. A
gratuidade da violência para eles. É uma realidade, e o medo é comum em suas falas.

A hostilidade é comumente estimulada por meio do convívio em ambientes violentos, os alunos absorvem para si a atmosfera ali
presente e o único modo que encontram de se expressar é por meio da agressividade, ofensas e humilhações contra os colegas,
professores e os funcionários da instituição. Para Bourdieu (2002) os alunos apenas reproduzem a violência, não a aprendem, pois, para
aprender deve-se abrir espaço para questionamento, ao qual não ocorre.

A negligência dos pais ou responsáveis também tem influência no comportamento do discente, uma vez que a família é a base da
educação, e se não age paralelamente com a instituição de ensino, o aluno entende que seus atos não têm consequência real. Pais
transferem para a escola a responsabilidade de educar e cuidar do indivíduo, tirando de si a obrigação de formar um cidadão para integrar
o convívio social. De acordo com Pereira e Zuin (2019), pais que são excessivamente autoritários e violentos, e por outro lado, pais que
não têm autoridade, sujeitam influenciar o desempenho do filho e o convívio escolar.

Quando ocorrem situações externas, em que o estudante foi vítima, ele tem grandes chances de se tornar o agressor em uma próxima
oportunidade, ao causar o mesmo sofrimento que lhe foi ocasionado. De qualquer forma, tudo afeta em grande escala o desenvolvimento
do aluno.

Os identificados como alvos/autores apresentam maior probabilidade de desenvolverem doença mental, devendo ser considerados como de
maior risco. Manifestações como hiperatividade, déficit de atenção, desordem de conduta, depressão, dificuldades de aprendizado,
agressividade, além de todas as demais já citadas, podem ser encontradas (Neto, 2005, p. 169).

Deve-se ressaltar que os professores também são alvo dessas respostas agressivas. Contudo, é possível que os docentes induzam seus
alunos por meio da falta de diálogo e do abuso de poder. Uma vez que, docentes ainda utilizam a metodologia tradicional, que consiste no
professor como o detento do conhecimento absoluto, não tendo participação dos discentes, atividades já prontas, não se adaptando às
necessidades dos alunos em questão e distribuição de carteiras em fileiras viradas ao quadro e ao professor, desmotivando os
educandos a acreditarem no processo de conhecimento.
A pedagogia tradicional, nesse contexto educativo, traz aulas expositivas, em que o ensino é centrado na figura do professor. O docente
deposita o conteúdo sem abrir espaço para questionamentos e sugestões dos alunos, que por sua vez não tem voz e oportunidade de
socializar o que pensam e sentem. Deste modo, quando o professor é autoritário e não transmite um processo educativo de reflexão e
participação ativa dos alunos, tende a criar sentimentos de ódio pelo professor e falta de interesse pelas aulas, abrindo espaço para
conflitos, ocasionando a violência contra o professor e contra o patrimônio da escola.

O intuito não é identificar e rotular vítima ou agressor, mas procurar construir uma cultura de paz nas escolas e promover atendimento
psicossocial para profissionais da educação, alunos e comunidade. De acordo com Debarbieux (2001), a família e a escola devem trabalhar
em conjunto para acompanhar as mudanças, uma forma de manter a realidade familiar junto à encontrada no ambiente escolar, visto que
esse é muito importante para o desenvolvimento e obtenção da dignidade.

A instituição de ensino, juntamente à comunidade escolar, necessita repensar seus papeis e proporem estratégias para minimizarem a
violência encontrada em ambientes escolares. Buscar a compreensão e a presença do poder público para uma melhor infraestrutura e
criação de novas metodologias para que o professor possa estimular e auxiliar o aluno a ansiar por conhecimento e a se desenvolver.
Tudo isso, com constante parceria aos profissionais psicossociais, sendo eles, psicólogos, psicopedagogos e/ou psiquiatras, para que
assim, alcancem a educação por meio da paz, baseada em respeito mútuo, onde ninguém se sinta coagido no ambiente que deve ser de
acolhimento.

A metodologia da pesquisa consiste em revisões literárias sobre o tema, realizadas a partir das leituras de obras e artigos científicos,
consultados na base de dados da SciELO e bibliotecas virtuais. O objetivo desta pesquisa é demonstrar quais os motivos propagam a
violência escolar e como essa pode afetar na saúde psicológica e física dos alunos e professores. Diante disso, a finalidade de tal é
buscar subsídios para melhor convivência e minimização do impacto da violência no âmbito escolar.

A violência sempre existiu, em todos os ambientes, e nunca poderá ser erradicada por completo, contudo, são conhecidas alternativas
para a diminuição dessas, todas a médio e longo prazos, contando com o apoio de todos os envolvidos, sendo eles comunidade, família,
poder público e a escola.

As violências presentes em ambiente escolar


A escola, sobretudo, deve ser um espaço para socializar conhecimentos e cultivar a formação intelectual, moral e ética do aluno,
entretanto, o aprendizado do discente não é a única preocupação da instituição, fatores como a violência vêm sendo cada vez mais
presentes no processo educacional, pois vem prejudicando não só o processo de ensino-aprendizagem dos discentes, mas sim a
preocupação de como enfrentar a violência, qual a melhor forma em lidar com o aluno contemporâneo e buscar bons resultados no seu
desenvolvimento. Sua amplificação no âmbito escolar requer discussões que envolvam família e a comunidade.

Os conflitos que acontecem no espaço escolar contam com três situações, a primeira são as testemunhas, alunos que observam os
acontecimentos, mas mantêm-se neutros, pois não querem ser a próxima vítima, desse modo, não intervindo nas ações que estão
ocorrendo passam a compactuar com as agressões, tornando-se coautores. A segunda situação são os alvos, esses por sua vez, são
perseguidos de forma hostil e por vezes não sabem como se defender, podendo ser professores, alunos e funcionários da escola. Na
terceira circunstância, os autores encontram um indivíduo com características especificas, podendo ser a orientação sexual, crença,
gênero, físico e raça, sem motivos aparentes, desta maneira, todos passam a ser alvos em potencial.

Nas escolas as violências mais presentes são ações de depredação do espaço físico, vandalismo, pichações, brigas, cyberbullying, o
bullying que envolve ameaças, xingamentos, insultos, discriminações, intimidações, agressões físicas, verbais e psicológicas, também se
encontra as incivilidades, indisciplinas, uso e comércio de drogas, furtos e a utilização de armas, ocasionando possíveis mortes.

São ações violentas desencadeadas por motivos diversos, bem como a própria realidade vivenciada pelo indivíduo, seja do convívio
doméstico, familiar e social. A própria escola também favorece a eclosão da violência, Ristum et al. (2010) por meio das grandes
diferenças das condições de vida e de aprendizado entre alunos do ensino público e privado, acarretando a uma violência estrutural, mas
também do ambiente que a escola está inserida.

A violência estrutural expressa formas de manifestação relacionadas à dominação de classe, de grupos e do próprio Estado e as formas como
determinados grupos/instituições criam condições de vida desiguais e injustas (Farmer, 2004, apud Piccoli; Lena; Gonçalves, 2019, p. 178).

As escolas públicas lidam frequentemente com problemas e desafios estruturais, ao comparar as instituições de ensino público e privado
reflete-se a reprodução das desigualdades sociais. As escolas privadas são voltadas em desenvolver nos discentes habilidades e
competências que os qualifiquem na formação social, portanto, um dos principais fatores são os investimentos na instituição, as salas
de aula não passam por superlotações de alunos, as metodologias e recursos utilizados são de qualidade e sempre atualizados, a
estrutura e funcionamento da escola são voltados ao benefício dos alunos, por meio de laboratórios de informática, de química, aulas de
dança, música, karatê, ambientes amplos para o bom desenvolvimento dos discentes e os cursos extras na preparação para vestibulares.

A violência também ocorre em escolas destinadas à elite, mas acaba sendo mais frequente nas situadas em ambientes carentes de segurança,
saneamento e saúde – que não asseguram condições de vida digna –, fatores que contribuem para um quadro de violência geral (Sposito, 2001,
apud Piccoli; Lena; Gonçalves, 2019, p. 178).

Na rede pública, um fato muito comum é a falta de investimentos e as estruturas precárias, as salas de aulas são sempre lotadas,
dificultando assim o desenvolvimento do aluno e um atendimento/atenção individual, como também a falta constante de recursos e a
fragilidade de materiais, com efeito prejudicial na formação do cidadão com pensamento crítico, dessa forma afetando o
desenvolvimento escolar e, por conseguinte, ocasionando conflitos interpessoais. De acordo com Piccoli, Lena e Gonçalves (2019, p. 180),
“não há como tratar das violências cotidianas no ambiente escolar sem relacioná-las com o cenário mais amplo de violências estruturais”.
Mediante o exposto, é lamentável que as escolas públicas ainda continuem com infraestruturas inadequadas e que situações de violência
permaneçam frequentes no ensino público brasileiro.
Uma pesquisa do Instituto Locomotiva e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) indica que a
violência contra professores cresceu nas escolas públicas paulistas nos últimos anos. De acordo com os dados, cinco em cada dez
professores da rede (54% já sofreram algum tipo de violência nas dependências das escolas em que lecionam — esse número era de 51% em
2017 e de 44% em 2014. Entre estudantes 37% declararam ter sofrido algum tipo de violência, em 2014 eram 28%, e 39% em 2017 (Apeoesp, 2019,
s/p).

Os alunos agora são outros, tendo outras criações e necessidades, fazendo com que a figura autoritária não tenha mais o mesmo
sentido que antes. A violência no ambiente escolar, conclui-se que essas são resultantes de microviolências cotidianas, como por
exemplo: empurrar, cutucar, andar pela sala, falar enquanto o professor está falando, gritar, jogar papel, dar risada, entre outros episódios
recorrentes em sala, são atitudes que causa desordem e sem intervenções podem passar a agressões mais sérias. Essas ações também
são chamadas de incivilidades ou indisciplinas, ou seja, manifestações perturbadoras, nas quais a aprendizagem é rompida e “a incivilidade
permite pensar nas microviolências” (Debarbieux, 2001, p. 179). As microviolências geram as violências duras, ações que utilizam de força e
palavras mais ofensivas.

Essas ações passaram a ser banalizadas, se encaixando no conceito de Arendt (1963) de “banalidade do mal”, ou seja, atos tratados
como naturais que, por vezes, passam despercebidos em nosso cotidiano, por já se tratar de situações corriqueiras, que agridem não
necessariamente o físico, enquadrando-se no conceito de violência simbólica, de Bourdieu (1989), em que a violência é psicológica, sendo
aquilo que machuca sem tocar.

Os discentes praticam esses atos pensando não ter consequências, é quando se faz uso de punições e recompensas. Marchetto (2009)
aponta que não se deve reprimir o outro dando recompensas quando é feito apenas o que se pede, fazendo assim com que o aluno se
acomode, sem pensar por si mesmo, e deixa de desenvolver o pensamento crítico, ou seja, as crianças não aprendem o que é certo ou
errado, faltando com autorregulação, pelo fato de estarem em constante aprendizagem para a manipulação.

Para Abramovay (2015), a escola é um local onde os alunos são obrigados a conviver todos os dias, obedecendo aos horários, normas e
regras. Estes são alguns mecanismos de controle utilizados, mas que não apresentam resultado a longo prazo, pois não minimizam o
mau comportamento dos alunos. Desta maneira, os estudantes irão encontrar outros meios de provocar as agressões físicas,
xingamentos, intimidações, indisciplinas, incivilidades e o bullying, descobrindo brechas nas regras impostas ou simplesmente quebrando-
as, afetando a aprendizagem e a vida pessoal de todos os submetidos.

Causas e consequências da violência em âmbito escolar


A violência no âmbito escolar tem influência sob todos, visto que tem se instalado de diversas formas, afetando a qualidade de vida
pessoal e social, além de ocasionar males a saúde física e psicológica.

Uma das principais causas da violência nas escolas são reproduções de ambientes violentos, como por exemplo: presença de discussões
familiares, ausência dos pais ou responsáveis, falta de afeto, desemprego, pobreza, falta das políticas públicas, violência presentes nos
meios de comunicação (televisão, celular, filmes, desenhos, redes sociais e até mesmo nos videogames), violência sexual, falta de
empatia, entre outros. São formas que encontram de manifestar, uma vez que as crianças reproduzem o que veem ou o que lhes é
ensinado (Peçanha, 2013, p. 15): “o agressor por vezes vem de convívios familiares perturbados e/ou desestruturados, e é frequente que
tenha sido submetido à violência doméstica, acaba reproduzindo na escola o uso de forças e da intimidação, sob a qual é sujeitado em
seu meio familiar”. A violência doméstica pode estar relacionada a vários fatores, conforme Lourenço e Senra (2014, p. 45):

Tais fatores podem ser socioeconômicos, culturais, o temperamento do indivíduo e as influências de familiares, colegas e da comunidade. Além
desses, sobretudo, as relações de desigualdade de poder em casa/família e na escola, a ausência de coesão, a ambivalência no envolvimento
emocional com pais, irmãos e colegas, com clima emocional frio e assimétrico. As relações de desigualdade de poder na família revelam um lar
com cotidiano hostil e permissivo em que há uso de violência como forma de disciplina, sem quaisquer habilidades para resolução de conflitos,
o que leva as crianças e adolescentes reproduzirem tais condutas com colegas e professores.

Portanto, o que se passa no ambiente escolar é reflexo de suas vivências familiares ou do ambiente socioeconômico em que se
encontram. Entretanto, a falta de afeto e ausência dos pais também influencia o comportamento dos filhos.

A falta de afeto e de valores está relacionada com a frequente ausência dos pais, que, em busca da sobrevivência diária para a família, deixam
seus filhos com irmãos mais velhos ou babás, o que reduz cada vez mais o tempo de convívio familiar entre pais e filhos. Essa mudança nas
relações familiares tem várias implicações. O abandono pode decorrer tanto da necessidade de trabalho dos pais, quanto do total despreparo
por parte dos mesmos no trato com a criança, e ainda pela inversão de valores com relação ao papel da escola (Souza, 2008, p. 127).

Por outro lado, quando os alunos não se sentem representados, não gostam das aulas e/ou presenciam abusos de poder por parte dos
docentes e do setor pedagógico, tendem a encontrar maneiras de implicar com os mesmos, fazendo com que os professores se sintam
constantemente atacados por parte dos estudantes, levando ao desanimo e até mesmo problemas psicológicos, já que vivem em
constante estado de alerta, com medo de serem alvos.

A violência dentro do contexto escolar se manifesta entre os estudantes pelas agressões físicas, verbais, materiais, cyberbullying, social e
psicológica, essas comumente são ações que perpetram o bullying. O cyberbullying éuma violência praticada por ambientes virtuais, o
indivíduo utiliza o meio de comunicação para ridicularizar e agredir o outro.

Conforme a Lei de Diretrizes e Bases (nº 9.394/96), no seu Art.12, “IX - promover medidas de conscientização, de prevenção e de combate
a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática (bullying), no âmbito escolar” (Brasil, 1996). São institucionalizados
por lei, a fim de determinar os princípios da educação e os deveres do Estado diante o processo educacional, porém são direitos violados
aos alunos, não colocados em prática, visto que o Brasil continua com altos índices referentes à violência. Uma pesquisa feita pela Unicef
demostra que,
no Brasil, 37% dos respondentes afirmaram já ter sido vítima de cyberbullying. As redes sociais foram apontadas como o espaço online em que
mais ocorrem casos de violência entre jovens no País, identificando o Facebook como a principal. Além disso, 36% dos adolescentes brasileiros
informaram já ter faltado à escola após ter sofrido bullying online de colegas de classe, tornando o Brasil o país com a maior porcentagem nesse
quesito na pesquisa (Unicef, 2019, s/p).

O bullying é caracterizado por agressões intencionais, perseguições, apelidos depreciativos e a humilhação diante a um público, seus atos
podem ser maléficos e acarretar problemas psicológicos e emocionais, além das mudanças de comportamento e até o suicídio.

Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) realizada com 2.702 adolescentes do 9º ano em 119 escolas
públicas e privadas da capital paulista, revelou que 29% deles relataram ter sido vítimas de bullying no ano passado e 23% afirmaram ter sido
vítimas de violência. Além disso, 15% disseram ter cometido bullying e 19% ter cometido violência (Boehm, 2020, s/p).

Um fator muito comum em escolas públicas é a utilização de ferramentas que oferecem perigo, como armas, facas e estiletes, entre
outros. Souza (2008) fala que a pluralidade das armas e objetos que danificam e machucam o outro, em muitos casos, está atrelada à
estrutura familiar; a criança e o adolescente levam à escola para mostrar aos colegas ou utilizam para se defender de conflitos, com a
intenção de ferir e vingar-se no momento de raiva. Situações de hostilidade que trazem consequências na vida de todos os estudantes
afetam a ordem, motivação, provocam a baixa autoestima, ansiedade, estresse, transtornos emocionais e a perda de interesse nas
atividades escolares. Para Abramovay (2015, p. 7),

diversas violências, utiliza-se no plural para mostrar os diferentes significados da violência e como afetam a ordem, a motivação, a satisfação e
as expectativas de todos os que frequentam a escola, têm efeitos relacionados com a repetência, a evasão, o abandono escolar.

Souza (2008) relata que muitos alunos apresentam desinteresse nas aulas e possuem dificuldades em relacionar-se com a turma,
adquirindo comportamentos antissociais, inclusive faltas constantes nas aulas, repetência, fracasso escolar, a evasão caracterizada
como abandono escolar. O discente que é vítima de alguma violência passa a demonstrar desinteresse nas atividades pedagógicas, o
mesmo não atinge seus objetivos em uma formação integral, abalando seu processo de ensino-aprendizagem e por consequência
encontrará dificuldades em ingressar no mercado de trabalho.

Entre outras consequências de afastamento, professores e alunos traumatizados, desenvolvem sérios problemas psicológicos como a
depressão, síndrome do pânico, ansiedade e até o suicídio, além dos impactos negativos no ensino-aprendizagem e nas suas relações
diárias. De acordo com Paixão (2019, s/p), “por dia, 111 professores da rede estadual de São Paulo foram afastados por transtornos
mentais ou comportamentais. Na ponta do lápis, o ano de 2019 já soma 27 mil licenças médicas por esses motivos até o mês de agosto”.

A violência verbal e psicológica pode ser tão ruim quanto a física, visto que demora mais a apresentar sinais, dificultando assim que outras
pessoas identifiquem o problema, ou é visto como brincadeira – até mesmo se passa por frescura por muitos.

No Brasil, dados [...] mostram que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002
para 5,6 em 2014 - um aumento de quase 10%. Em números absolutos, foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos em 2014, um dado que
costuma desaparecer diante da estatística dos homicídios na mesma faixa etária, cerca de 30 mil (Escóssia, 2017, s/p).

Normalmente, as vítimas de bullying acumulam uma carga emocional negativa, devido à sequência de violências sofridas e presenciadas,
que acarretam problemas emocionais capazes de levar à reclusão e até mesmo ao suicídio.

Um estudo [...] mostrou que 20% dos adolescentes corriam risco de suicídio, 15,2% tinham história de tentativa de suicídio, 35,3% tinham desejo
passivo de morrer e 13,2% planejaram suicídio em algum momento da vida. A literatura revela que a prevalência de ideação suicida em
adolescentes avaliados em uma unidade de emergência pediátrica é maior, chegando a 68,9%. O suicídio é uma das principais causas de morte
na faixa etária entre 15 e 19 O alto índice de suicídio em adolescentes justifica-se pela pressão psicológica por eles sofrida nesta fase. Muitos
deles acreditam que tirar a vida é a única forma de aliviar o sofrimento (Pimentel; Mea; Patias, 2020, p. 212).

Deve-se assim buscar ajuda profissional a partir da presença dos primeiros sintomas, entre eles, desânimo, choro repentino, sensação de
pânico ou até mesmo autodepreciação, depressão, ansiedade, mudanças de comportamento, aflição e tristeza.

Considerações finais
Este trabalho visa aprofundar e ampliar os conhecimentos sobre a violência no ambiente escolar, além dos motivos de sua existência e as
consequências dos envolvidos. Os pesquisadores analisados serviram de arcabouços teóricos para o desenvolvimento e familiaridade
sobre a temática.

A violência está presente no ambiente escolar em ações corriqueiras, como apelidos, interrupções na fala, conversas paralelas, risadas e,
em casos mais extremos, partindo para agressões físicas, porém estamos constantemente cercados pela violência simbólica, a qual por
vezes não é percebida ou é tratada como algo natural, pelo fato de já ter-se enraizado em nossa sociedade.

As razões desses atos violentos são representadas pelas possíveis indisciplinas e incivilidades, essas que não estão presentes apenas no
ambiente escolar, mas sim na sociedade como um todo, de modo com que os profissionais da educação e a própria instituição de ensino
não tenham mais controle do comportamento dos alunos. Mesmo com imposições de regras e punições, esses atos acarretam em mais
violência. Desse modo, ações que atacam a lei por meio da força e ameaças, sendo prejudiciais à saúde física e psicológica de todos os
submetidos.

Essa violência é o reflexo da vida social, contudo acreditam-se que situações violentas são a única forma de resolver seus problemas,
como se já fosse um cenário natural, uma cena da vida cotidiana de milhares de crianças e adolescentes que apenas reproduzem aquilo
que está presente em sua realidade, essa normalizações fazem com que os sujeitos não enxerguem a violência como algo ruim ou não
percebam que a praticam. Por mais que tardem, a violência, em todas as suas faces, provoca consequências, tanto para os que foram
vítimas quanto para os autores. Desse modo, os resultados levam à depressão, suicídio e distúrbios comportamentais; por outro lado,
pode ser prejudicial no desenvolvimento nas atividades em sala de aula, acarretando ao fracasso e abandono escolar.
Para minimizar o impacto da violência no âmbito escolar, tendo como proposto atividades e projetos que envolva artes visuais, música,
dança, teatro, esporte e lazer, a fim de trazer para instituição a arte-educação, com estratégias para que o discente participe no campo
educacional e obter um desenvolvimento integral.

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Publicado em 02 de março de 2021

Como cit ar est e art igo (ABNT)


BARBIERI, Bianca da Cruz; SANTOS, Naiara Ester dos; AVELINO, Wagner Feitosa. Violência escolar: uma percepção social. Revista Educação Pública, v. 21, nº
7, 2 de março de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/7/violencia-escolar-uma-percepcao-social

Cre a t ive Commons - At ribuiç ã o-Nã oCome rc ia l 4.0 Int e rna c iona l (CC BY-NC 4.0)

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