Análise Fílmica da Obra Cinematográfica “O Sorriso de Monalisa”
O filme se passa na década de 50 no tradicional e renomado colégio do ensino secundário, Wellesly College, na pequena cidade de Nova Inglaterra aos arredores de Boston, no Estado de Massachusetts. Esse colégio mantinha por muitos anos, o ensino centrado na formação de moças das classes: média e alta em preparação ao exercício do casamento e o desenvolvimento das tarefas domésticas. O enredo desta obra cinematográfica do diretor Mike Newell, tendo como interprete do papel principal no filme, a atriz hollywoodiana, Julia Roberts, que interpreta a professora Katherine Watson da disciplina de História da Arte. Que ao deparar-se com uma classe constituída só de moças percebe a compreensão e percepção de mundo que essa escola impunha como formação voltada exclusivamente para a submissão da mulher em relação ao homem dentro de uma sociedade machista, conservadora e autoritária, que na qual, o Wellesly College era uma unidade de ensino voltado para este modelo conservador e tradicional de educação. A professora Kathy Watson volta a sua análise em relação ao comportamento destas moças ao contexto real que lhe fora apresentado conforme visto nas primeiras cenas do filme, aonde é identificado com a proposta pedagógica que rege o colégio pelo o modelo tradicional, caracterizando-se, dentre outro pontos, por não privilegiar a livre expressão das alunas, por desconsiderar as vivências pessoais e emocionais, bem como incentivar a reprodução do conhecimento. Tal afirmação pode ser observada na cena em que a Prof.ª Watson, ao chegar para ministrar sua primeira aula na classe, é surpreendida por todas as alunas quando lhes "apresentam" a lição previamente decorada da apostila (exigência do colégio), como prova de que o conhecimento foi absorvido. O filme também nos traz uma revelação quanto aos desafios da professora Watson no início de sua carreira docente dentro de uma situação que ainda conta com as suas inexperiências, as suas expectativas e as suas dificuldades nesta fase inicial. Tudo isso, aliado, as descobertas em que a professora se sente entusiasmada, comprometida e satisfeita por esta lecionando dentro desta renomada instituição de ensino, mas diante desta realidade que vai confrontar o cotidiano escolar com os seus ideais educacionais. A partir disso, a professora busca lutar por uma maior liberdade de escolha para as moças, mesmo havendo grande resistência na escola e entre as próprias alunas, visto que tal comportamento era o modelo ideal daquela sociedade. O método de ensino do colégio era bastante tradicional centrado no professor e na sequência pré-estabelecida dos conteúdos. Já para as alunas cabia a tarefa de memorizar e acumular informações, sem expressar alguma crítica, dessa forma, perdendo sua autonomia de pensamento. No qual, a Psicologia do Aprendizado apresentada no enredo da obra cinematográfica como método comportamental no Wellesly College era o modelo ideal dentro da “Concepção Ambientalista” na qual defendida por B. F. Skinner, a “Concepção Ambientalista” atribui grande poder ao ambiente no desenvolvimento do homem. Essa concepção, também chamada de comportamentalista e Behaviorista, trata o homem como ser moldável. Tendo, na aprendizagem, que a visão comportamentalista é defendida quanto ao comportamento, modificado com o meio condicionante ao ser humano. Então, a própria professora decide criar uma estratégia de ensino-aprendizagem que condiz com sua prática enquanto docente, que visa despertar nas alunas, a consciência crítica, considerando-as, sujeitos ativos no processo de construção do conhecimento. Após a professora se posicionar contrária à proposta didática tradicional que o colégio a impõe, passando a atuar de acordo com a prática, na qual acreditava ser adequada à realidade da turma, ela é advertida pela direção para que suas aulas sejam ministradas dentro dos padrões exigidos e perpetuados há mais de 100 anos pela instituição. Mesmo assim, a Prof.ª Watson concerne que as suas idéias para ter êxito quanto a sua metodologia de ensino precisará ser implantada num determinado momento que será preciso romper com as tradições, estagnações e ideologias que lhe são impostas. Ainda, vimos que no decorrer do filme, a intervenção pedagógica que concerne à didática realizada pela professora contribui para despertar o pensamento reflexivo das alunas em relação à sociedade, fazendo com que as mesmas se reconhecessem como integrantes do processo de aprendizagem. Essa afirmativa pode comprovar na cena em que a professora apresenta um conteúdo que não estava na apostila, incentivando a classe a formular perguntas e a emitir opinião sobre o que lhes era exibido. Assim, a Professora Katherine Watson sente-se tentada a desafiar todo o currículo. As apostilas prontas não deixam espaço para inovação. Sendo assim, a profissional precisará minar algumas ideias pré-concebidas, sem desperdiça-las, mas relacionando-as com outras formas de ver a arte. Em certo momento, ao expor a sua segunda aula, coloca uma obra de arte considerada grotesca por uma das estudantes. Quando questionada, responde: “Não, não está! Não é uma boa obra? Hum? Vamos lá garotas, não há livros dizendo-lhes o que achar, por isso, não é tão fácil, correto?”. Ainda neste diálogo, a estudante confronta a professora, apontando que “arte só é arte até as pessoas certas dizerem que é”. Empolgada com o desafiador debate, a professora rebate: “E quem são essas pessoas?”. A esta proposta a cena descrita acima talvez seja uma das melhores do filme no que diz respeito aos aspectos didáticos da obra. Revelando, a questão comum no aprendizado, principalmente, pelas as ideias próprias, defendidas com embasamento teórico que revela no tocante do enredo que a professora abre a mente das suas alunas para melhor refletirem sobre as suas respectivas existências em uma época específica, período em que as mulheres são treinadas para exercerem as funções do casamento: lavar, passar, cozinhas e fornecer filhos aos seus esposos. Diante deste panorama, haverá conflitos, pois Mrs. Watson oferecerá novas possibilidades, o que não será bem visto por outros colegas, por algumas estudantes (e por seus membros familiares ligados ao conservadorismo na sociedade)... Contudo, o filme revela, neste trecho, a necessidade de textos, reflexões e posturas mais críticas, seja qual for o ambiente de circulação de conhecimento. Haja vista, que a professora Katherine Watson revela-se como defensora da tendência pedagógica progressista, que na própria obra cinematográfica é capitaneada pelas ações solitárias da docente da disciplina, que tem também seus momentos marcantes. Talvez o mais simbólico desses momentos tenha sido a aula realizada em um depósito, fora do ambiente escolar tradicional, onde as alunas foram estimuladas a construírem suas próprias opiniões sobre arte moderna, sem a influência de livros e mestres. Ainda, podemos ver quanto à abordagem trazida em sala de aula pela a professora Watson através do método na psicologia do desenvolvimento e aprendizagem reforçada pela a teoria do pesquisador Vygotsky, propondo sobre o desenvolvimento cognitivo que se da por meio da interação social, em que, no mínimo, duas pessoas estão envolvidas ativamente trocando experiência e ideias, gerando novas experiências e conhecimento. Que em dos capítulos do filme mostra um diálogo interessante sobre a simbologia por detrás do sorriso na pintura de Da Vinci. “Mona Lisa sorri no quadro, mas ela está feliz?” O questionamento nos leva a pensar sobre a subjetividade da arte e a possibilidade de múltiplas interpretações. Sob essa visão, a aprendizagem é uma experiência social, mediada pela utilização de instrumento e signos. Um signo, de acordo com a teoria de Vygotsky, é algo que significa alguma coisa, como a linguagem falada e a escrita. Nesse sentido, a aprendizagem é uma experiência social de interação pela linguagem e pela ação. Sendo a interação social a origem e motor da aprendizagem e do desenvolvimento intelectual. Que no caso, nesse momento a Prof.ª Watson teve a certeza de que a sua prática contribuiu para que houvesse de fato aprendizado significativo, transformando a turma feminina da disciplina de História da Arte, em cidadãs com capacidade para desenvolver posicionamento crítico-reflexivo perante a sociedade. Conclui-se, que após a análise do filme a partir do viés educacional. O professor deve saber escutar o ambiente que o envolve, interagindo-se frente aos alunos na elaboração de sua proposta pedagógica, pois estão em constante interação com a sua sala de aula. E parece que, no filme, tal lição começou a ser aprendida...