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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

A.A. ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 1


PROF. SUZANA MOREIRA PACHECO
ACADÊMICA: JÚLIA ISADORA LASSAKOSKI
15/06/2023

TEXTO ANALÍTICO SOBRE O FILME: “SER E TER”

O filme documentário “Ser e ter” é uma produção francesa dirigida por


Nicolas Philibert, foi lançado em agosto 2002, o filme retrata a rotina de uma
pequena turma e de seu professor Georges Lopez, a turma é multisseriada e tem
alunos com idades entre 4 e 11 anos, a escola tem uma única sala e uma única
turma gerenciada por ele, localizada em uma região rural no centro da França.

É perceptível durante todo o filme o amor e dedicação de Lopez pelo seu


trabalho, desempenhando um papel formador não só em “questões de sala de
aula”, mas também em pontos mais pessoais, compreendendo o entrono que
rodeia o desenvolvimento de cada um, acompanhamos sua turma durante um ano
letivo completo e percebemos diversos aspectos sobre a convivência e o
crescimento individual dos alunos. Vemos acontecer desde o ensino dos numerais
aos mais novos até os dilemas das equações com aqueles que logo entraram no
“curso médio” como diz a tradução da legenda. Dilemas entre a falta de atenção
dos pequenos, brigas entre os colegas, problemas pessoais e de desempenho são
acompanhados durante os aproximados 100 minutos de filme, o arremate final é
simples, mas comovente aos olhos de quem já esteve acompanhando uma turma
durante um tempo.

O filme foi produzido depois de uma grande seleção entre escolas francesas,
rendendo mais de 600 horas de gravação, foi muito bem editado para se tornar um
micro recorte da realidade social de um professor, sua turma e seus pais, a edição
do filme foi premiada com um César um dos maiores prêmios do cinema francês,
assim como foi indicado como melhor filme e melhor diretor para o European Film
Awards, o qual recebeu o prémio por melhor documentário. Sua estruturação não
tem efeitos mirabolantes e mostra-se simples e objetiva, porém compreendemos
ao assisti-lo que o simples bem-feito é digno de respeito.
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O título “Ser e ter” foi um dos conceitos que sinceramente foi difícil
compreender qual seria a profundidade da discussão que poderia possível com ele,
compreender que o “Ser” pode corresponde a cada aluno, a sua vivência e
essência, suas características e questões individuais, faz pensar sobre o papel
social da escola uma vez que muito mais do que ensinar conteúdos os educadores
são responsáveis pelo desenvolvimento dos seus alunos como integrantes de uma
sociedade, já o “Ter” compreenderia as habilidades e competências a serem
adquiridas durante o período escolar, relembrando aquilo que é o obvio, o papel
formador conteudista da instituição escolar, o ter aqui relaciona-se com a língua
escrita. O enredo do documentário retrata um cotidiano como já mencionado, mas
o pensamento mais forte em relação aos aspectos abordados foi ter a possibilidade
de observar as interações mais “sociais” do professor com seus alunos e com
familiares.

Compreendendo a análise do espaço constituinte da sala de aula,


percebemos como todos os materiais são simples, porém, bem cuidados e bem-
organizados. A organização da turma é visivelmente padronizada, os alunos estão
organizados por faixa etária e consequentemente por área de estudo (aqueles que
estavam aprendendo os números ou trabalhando com as expectativas para o curso
médio), estes espaços são organizados com a junção de classes em grupos de
aproximadamente seis alunos, podemos ver contribuições artísticas e ate mesmo
mais padronizadas em alguns espaços da sala, assim como discutido em aula na
apresentação dos ambientes alfabetizadores estas organizações fazem com que

‘‘A ausência de intervenção das crianças acaba fazendo com que elas se
tornem hóspedes e não as habitantes desse espaço. Como hóspedes,
elas até podem se sentir acolhidas no espaço e usufruir de certa
hospitalidade, mas não será correto dele se apropriar, porque será como
tomar posse de algo que fora apenas emprestado ou concedido.’’
(NORNBERG, PACHECO, 2010, p. 71)

A presença de uma antessala para organização de roupas e sapatos antes


de adentrarem o espaço de referência, auxiliando na organização, livros colocados
na altura adequada de alcance das crianças deixando com que possam ser
explorados, materiais do cotidianos como lápis, borrachas, tesouras e canetas em
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cima das mesas montadas trazem também um boletim da concepção de aluno que
habita aquele espaço diariamente.

O ambiente alfabetizador tem diversos pontos constituintes, mas é possível


ver que as crianças têm acesso a vários materiais diferentes da sala e até a própria
copiadora, a cena de duas crianças de cinco anos fazendo copias de um livro e
tentando compreender os lados da folha, assim compreendemos que se sentem
pertencentes a um grupo que se estabelece naquele ambiente, potencializando
suas experiencias.

Percebemos contextos de organização espacial, assim como percebemos a


conduta do professor frente seus alunos, é inegável que sua postura precisa se
modificar em diferentes momentos, alunos de 5 anos não tem as mesmas questões
daqueles que tem 10 anos e a relação entre estas duas faixas etárias com certeza
demandam mudanças nas interações.

Percebemos que a ordem é um dos princípios da sala, estes princípios ficam


claros em alguns momentos rotineiros da organização do grupo como o fato dos
alunos deverem pôr-se em frente a cadeira antes de receberem a ordem de
sentarem-se logo no início da manhã, o fato do professor insistir em ser chamado
de senhor fazendo assim que os alunos tenham uma construção sólida da figura
de “dominante” e de referência dentro de sala, outro ponto é seu comprometimento
com o correto ou com combinações, reforçando o entendimento de que há limites
a serem estabelecidos e que mesmo havendo direitos os alunos também estão
vinculados com seus deveres, compreendo que mesmo que com estas questões,
as crianças entendem quem tem oportunidades de se organizarem e colocarem-se
em lugar de críticos nas interações dentro de sala, resolvendo algumas de suas
questões de forma autônoma ou entendendo o professor como uma figura de
segurança.

O relacionamento entre a família dos alunos e o professor que, nesse caso,


se referência a escola como todo é muito íntimo e interessante de ser observado,
o modo como os pais compreendem a figura do professor como alguém que quer
o melhor para o desenvolvimento de seus filhos faz com que seja possível
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estabelecer falas abertas sobre as necessidades e sobre as vivencias das
crianças dentro e fora de sala de aula, há um respeito mútuo entre as partes que
sempre buscam compreender os comportamentos do aluno em ambos os espaços
de convivência, compreendendo qual será a melhor abordagem a ser tomada pelas
duas partes. Todas as discussões reforçam a importância do diálogo sincero e
respeitoso com os responsáveis das crianças, pois dessa forma é possível
compreender as perspectivas de desenvolvimento deles, como são vistos pelo
professor, pela turma, seus responsáveis e a partir de conversas mais intimistas
também é possível compreender como veem a si próprios em relação ao
desenvolvimento escolar.

O filme demostra algumas questões bem atuais pensando que em algumas


turmas os princípios e valores que são defendidos são muito parecidos, perceber a
centralidade do professor como referência adulta é um dos pontos, mas a parte
mais importante é compreender o protagonismo do aluno em seu processo
formativo, compreender a autonomia delas é o que faz com que se desenvolvam
integralmente como cidadãos do mundo.

Referência

PACHECO, Suzana Moreira. NORNBERG, Marta. Sobre o ambiente


alfabetizador. In. DALLA ZEN, Maria Isabel H.; XAVIER, Maria Luisa M. (orgs).
Alfabeletrar: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Mediação, 2010. p.67-82

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