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LICENCIATURA EM HISTÓRIA
Diário etnográfico
Estágio Supervisionado I
Cajazeiras-PB
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Professora orientadora:
Período: 5º período
Cajazeiras, PB.
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SUMÁRIO
Apresentação.............................................................................................4
A Escola.....................................................................................................
Referências...............................................................................................
Anexos......................................................................................................
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APRESENTAÇÃO
Meu nome é Vitória Moreira Rolim, sou aluna do curso de Licenciatura em História,
me encontro no momento cursando o 5º período, e nessa circunstância, inicia-se mais uma
fase do curso, os Estágios Supervisionados.
Resumidamente, o estágio supervisionado atua como uma das atividades fundamentais
para a formação inicial docente, através dele o licenciando experimenta a vivência escolar,
supervisionado pelo professor da universidade e recebendo a colaboração do professor da
escola. Através disso, no contato com o espaço escolar e a prática do ensino, o licenciando
passa a refletir as instâncias escolares, suas vivências quando estudante naquele espaço, a
relação professor e aluno, o lugar da docência e do outro, assim como podemos observar que
a construção dos saberes docente é adquirida no âmbito da prática docente, ou seja, das
experiências práticas que decorrem no seu campo de trabalho. Dessa forma, estamos
construindo uma personalidade docente. Em suma, são sobre essas colocações desenrolar-se-á
meu diário etnográfico.
Diante disso, torna-se importante descrever as minhas vivências sobre a observação
dos moldes organizacionais e funcionais de uma escola, como funciona a relação professor-
professor, professor-diretor, professor-aluno, como também refletir sobre as mudanças que eu
sinto experienciando esse ambiente não mais como uma estudante, mas como estagiária e
futura professora. Pretendo descrever nas linhas que seguirão minhas reflexões, paixões,
análises e os aspectos positivos e negativos que vivenciei.
Por conseguinte, meu Estágio Supervisionado I realizou-se na EMEIEF Maria
Cândido de Oliveira no Município de Cachoeira dos Índios – PB, na turma de História do 8º
ano B. Nesse processo, dispus da orientação de minha professora de Estágio Rosemere
Olimpo de Santana, como também da companhia de meu supervisor de estágio Tiago
Lourenço de Almeida qual construí uma incrível relação.
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A ESCOLA
Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos
sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar,
com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem (Carlos
Drummond de Andrade).
grande, fechado e abertura no meio. Bem como eu me recordava, e odiava, me sentia presa, e
por incrível que pareça ainda me sinto.
As turmas são divididas por blocos, cada bloco da escola contém um ano e suas
subdivisões, por exemplo, 6ª 6b 6c etc. Isso vai se repetindo em todo o fundamental II.
Acredito que essa forma organizacional se torna melhor administrada e facilita a relação dos
alunos com seus colegas de ano. Esse modo era igualzinho quando eu estudava, acredito que
em todas as escolas são assim, até na faculdade os blocos de cada curso são para melhor
socialização.
O Espaço da alimentação fica ao lado da sala dos professores, que, aliás, está
localizado perto da entrada, o que permite uma melhor visão sobre quem entra e quem sai. O
que também permite, como citado anteriormente, maior observação dos alunos, quando
estiverem comparecendo para se alimentar. Para chegar à sala dos professores, há uma rampa,
percebi que é o local mais alto da escola, o que nos dá uma breve percepção de hierarquia. O
ambiente que se deve acima de tudo temer e respeitar. Eu, particularmente, temia.
Na minha percepção, as relações professor-diretor são complacentes, assim como a
relação professor-aluno. Pelo que pude observar, parece que devido o distanciamento social,
no qual as únicas pessoas das quais os alunos viam e conversavam eram seus pais, e por
encontro remoto, seus professores; os alunos acabaram por ficarem mais próximos dos
professores, visto que, os estudantes demonstram muito afeto agora no presencial. É possível
que tenha se criado um laço, o que é compreensível.
Outra mudança significativa na escola é que hoje em dia ela tem acompanhamento
psicológico disponível para os alunos, porém no momento a vaga está em aberto, com isso, os
professores só orientam e encaminham para o município da cidade, no caso, para o CAPES.
Em companhia com a professora de Ed. Física começamos a falar a respeito da BNCC.
A visão dessa professora era de tamanha frustração para com o que pedia a BNCC.
Parafraseando suas palavras, pra ela, a base nacional curricular comum não foi feita para o
nordeste, nem para as escolas públicas, pois como ela pode ser compelida a elaborar o que
está pedindo no papel, sem que a escola ao menos tenha o ambiente apropriado para a
execução do que demandem. Ela ainda disse que teve que modificar e mudar todos aqueles
verbos que constituem as habilidades, para que conseguisse aplicar sua disciplina. E olha que
isso é na disciplina de Ed. Física, imagina as outras. É um contraste da sociedade à qual
fazemos parte. Para ser professor, percebi que é preciso não se martirizar, aprender que aquilo
era o que eu podia fazer, e fiz da melhor forma possível, adiante é fazer melhor do que agora.
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vida a sua família e assim o fizeram. No presente ainda sonha com o mestrado, no passado
passou em várias seleções, mas não obteve bolsa, o que o fez desistir. Mas hoje, apesar disso,
é um ótimo professor e continua apaixonado pelo ensino.
Ouvi seu relato me deixou com frio na barriga, pois também desejo realizar um
mestrado, mas sinto o medo de não conseguir uma bolsa. Não sei se eu teria a mesma força
que ele, e ainda ser feliz no que faz, pois sei que a decepção pode muitas das vezes nos mudar
e começarmos odiar aquilo que antes mais amávamos. Espero se caso for, me tornar alguém
resiliente como ele, pois o vejo como um exemplo a ser seguido.
A única parte engraçada desse diálogo é que eu ficava lembrando quando ele me
ensinava, nunca trocamos uma palavra que não cumprimentos, mas isso não era só comigo e
sim com todos os alunos. Agora tenho o prazer de conhecê-lo como pessoa, de uma maneira
muito diferente. Não o vejo mais como um professor mal humorado e antipático (risos), mas
como uma pessoa que possui uma força imensa e que sua personalidade advém das vivências
de sua vida. Nisso, eu percebi algo que às vezes esquecemos que os professores já passaram
por todo esse processo do qual estamos transitando, são seres humanos cheios de experiências
e ensinamentos que merecem serem ouvidas suas falas.
Andando pelos corredores e conversando com a diretora, ela parecia estar exausta; a
responsabilidade e pressão sobre estão enormes. E parece que os alunos estão mais elétricos
do que nunca, ao mesmo tempo em que, de acordo com as falas dos professores, encontra-se
com demasiada dificuldade. Ouvi muitos professores relatando que o desempenho e
aprendizagem dos alunos baixaram muito devido às aulas remotas, e isso implica muitas
questões, falta de acesso à internet; indisponibilidade de aparelhos tecnológicos; saúde mental
abalada; acompanhamento dos pais... Diversos outros. A vista disso, no momento, os
professores de cada disciplina estão realizando com suas turmas exames diagnósticos para
compreenderem a que nível encontram-se, e através disso, segundo eles, poderão tentar fazer
algo a respeito.
Eu notei demais nas mudanças estruturais, lembro que no meu tempo de aluna, até a
entrada da escola era outra, ela foi toda modificada; aumentou muito a quantidade de sala; os
espaços de convivência; os corredores; o espaço dos banheiros; a direção; o uso do portão e
uma única janelinha nele. Acho que a única coisa que permanece igual, é o refeitório, está do
jeitinho que eu lembro.
Diante toda essa minha fala, parece que a verdadeira mudança se encontra em mim. A
escola foi para mim um ambiente de descoberta, crescimento e inseguranças. As experiências
de aprendizagem, de descobrimento, vieram também acompanhadas do medo de não me
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adequar, de não conseguir me destacar, assim como o receio de estar longe de casa, de ser
zuada por alunos. Tudo isso fez parte das minhas experiências. Os pontos positivos diante
tudo isso veio à construção de alguém mais resiliente; às amizades que construí; o carinho dos
professores. Os negativos, que agora com uma nova percepção enxergo foram os moldes
disciplinares do qual fui integrada; o receio de fazer algo errado e ser repreendida; sentir-me
presa num espaço onde eu deveria sentir-me livre; também trago comigo, a preocupação sobre
as crianças que vivem algumas situações ruins que não deveriam conhecer.
Portanto, esses pontos negativos são mecanismos já enraizados nas instituições de
ensino público brasileiro, principalmente das escolas municipais e estaduais. Sobre o Bullying
é preciso à elaboração de políticas públicas; palestras; aulas sobre respeitar o outro, respeitar
suas diferenças e seu corpo. No que tange os moldes disciplinares, cabe a nós, como futuros
professores fazermos nossa parte, não prosseguir nessa linha de doutrinação, mas ensinar à
futura geração a importância da história; da inclusão do outro, e da sala de aula como um
espaço de acolhimento não de disputas.
FOTOGRAFIAS
Imagem 2 – Entrada da escola. Fora da escola há uma quadra e campo municipal, no qual os
alunos só a utilizam nas aulas práticas de Ed. Física.
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Imagem 3 - Quando eu estudei na escola, a entrada era aqui. Não havia essa estrutura que
hoje, continha somente o portão.
Imagem 4 - Essa é a visão da chegada da escola. Podemos observar uma pequena parte do
refeitório, e logo adiante a rampa que dá acesso à direção.
Imagem 5 - Refeitório.
No primeiro dia de observação na sala de aula no 8b, confesso que senti um pouco de
desconforto, no sentido de tem muito olhar sobre mim, o que é compreensível tendo em vista
que eu era uma estranha para os alunos. Para quebrar um pouco o gelo, o professor explicou
resumidamente o que era um estagiário e o porquê estava ali, em seguida me apresentei e tudo
voltou ao normal.
Então, foi bem interessante a dinâmica da aula, como eles estão voltando às aulas
presenciais, achei pertinente o professor ter optado por trazer um apanhado do conteúdo, ou
seja, um resumo sobre os conteúdos do sétimo ano para ativar o conhecimento prévio dos
alunos. Um dos pontos altos da aula do professor foi sua maneira de falar sobre a história, ele
particularmente não é um reprodutor da História tradicional, ou seja, que vê os europeus
somente como descobridores do Brasil, assim como brasileiro somente como fator importante
para a evolução humana e tecnológica.
O professor de História mostrou crítica frente à frase “Descobrimento do Brasil”, ele
expôs a vida indígena; o preconceito dos europeus com o outro, no caso os indígenas; a
presença de um olhar de superioridade racial; o apagamento de valores, crenças, culturas; a
destruição de vilas, famílias. Ele foi explicando ponto por ponto.
Sobre os alunos, é algo que já sabemos os mesmos não demonstram interesse pelas
aulas de História, durante toda a explicação, que alias muito boa, eles ficavam conversando e
rindo. O professor teve de parar o conteúdo muitas vezes para pedir que prestassem atenção.
Apesar dos percalços, o professor conseguiu trabalhar, mesmo que em pouco tempo, um
conteúdo bem importante e de maneira bem sucinta. Relembrei o meu período de estudante no
qual adorava as aulas de História, e esse professor em específico é o mesmo que no ensino
médio me fez amar a disciplina de História.
Então, resumidamente, ser apresentada a turma como futura professor, fez eu me sentir
muito bem. É uma sensação que é difícil de explicar; tem nervosismo, há os olhares
penetrantes dos alunos, ou seja, é uma mistura de sentimentos novos. Nesse mesmo dia,
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está no currículo pelo simples motivo de ser obrigatório e faz parte da história do Brasil, não
porque é preciso falar sobre o outro lado da história.
Além disso, participei junto da turma de uma palestra que estava sendo ministrada
pelas orientadoras educacionais. Resumidamente, elas falaram sobre a formação representante
do aluno. Eu anotei os seguintes pontos: o que é representação; o que um representante de
turma faz e a importância do mesmo. Para se ter ideia, elas falaram tanto que os alunos devem
ser protagonistas de suas vidas, e no momento eu só conseguia lembrar da BNCC e identificar
o quanto aquilo estava errado, ou seja, o que realmente está sendo fornecido àqueles alunos?
Além da presença de textos motivacionais num único encontro, em que eles só sentam e
escutam.
Sabemos que termos como protagonismo e autonomia é bem presente na BNCC, e as
falas das orientadoras batia muito de frente com essas duas palavras “Vocês devem ser
protagonistas, devem ser ativos e participativos no seu aprendizado”. O que sabemos ser
contraditório, na medida em que são estabelecidos na escola pelo currículo os saberes a serem
aprendidos e como cada pessoa deve ser formada. Então, é muito sobre isso, ser autônoma,
mas, olha, tem de aprender assim e agir dessa forma. “A gente te aceita, entende sua escolha,
mas não podemos falar sobre”. Isso bate muito sobre a discussão de gênero e sexualidade,
então, como um adolescente se sentirá protagonista de seu aprendizado, de sua vida, se essas
diferenças não são incluídas na sua aprendizagem. Ou seja, é uma inclusão mascarada.
Portanto, é como se o currículo preparasse o aluno somente para o mercado de
trabalho, ou seja, falta a crítica, a análise, o diálogo. É um retrocesso na educação.
É como dizem, quem tem boca vai a Roma (risos)... Eu estava sentada no meio do
corredor, daí mais adiante havia uma sala na minha frente e eu curiosa pra saber de que era.
Eu pensei, irei perguntar a próxima monitora que passar por aqui; veja só, eu morria e não
sabia que aquela sala era para alunos especiais, ou seja, que possuem alguma deficiência
física. Aí para essa sala em específico, são professores mais capacitados para ensiná-los e
orientá-los. Eu particularmente achei isso demais. É uma inclusão que, no meu tempo de
aluna aqui, não havia. Dessa forma, demonstra que, de certa forma, está havendo mudanças
significativas, e é um fato que merece ser agraciado nessa sociedade que as pessoas costumam
estar nem aí para as outras.
Quando as aulas encerram, eu costumo ficar sentada na ponta do corredor, escrevendo
alguma coisa, mexendo no celular, e aí nesse tempo eu escuto muita coisa, sejam conversas de
alunos, diálogo entre os monitores. Enfim, eu fico com a cabeça abaixada, mas sempre
prestando atenção às coisas ao meu redor. Num momento desses, eu fiquei só prestando
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atenção nos monitores indo e vindo porque alguns alunos estavam pulando o muro. Sério, eu
voltei no momento, assim como eles, fazia essas traquinagens, não lembro bem o porquê, mas
fazia. Uma coisa certa é que eu odiava o portão, pelo fato de me sentir presa. Então, não só
eu, mas todos nós vivenciamos as experiências escolares sempre em volta de regras, de
moldes. Para ir ao banheiro, só íamos se o professor permitisse, assim como para sair da sala
também.
Isso é tão enraizado na nossa mentalidade que quando comecei na faculdade, lugar
onde não há essas regras absurdas, eu ficava no início me sentindo culpada e mal educada
pelo simples fato de ir ao banheiro. Ou seja, toda essa disciplina é bem pesada, e pular o muro
é um sentimento de liberdade.
Entrando nessa última semana de estágio, sinto como se os dias tivessem passado
muito depressa e que ainda há muita coisa para descrever. Por muito tempo eu senti medo
dessa experiência, imaginava como seria e pensava se a escola e os professores abririam
espaço para me conhecer. Imaginava principalmente a recepção dos alunos, acho que todos os
professores, em sua formação inicial vive esse sentimento. Em muitos casos o choque de
realidade é intenso, o que acarreta nas primeiras frustrações profissionais. O professor de
História que me recebeu disse que sempre gostou de ensinar, foi sua primeira escolha e nunca
se arrependeu. Não há arrependimento quanto a sua formação, ele está onde quer estar,
mesmo com toda desvalorização da sua profissão. É incrível, não é? As pessoas costumam
estar sempre falando que ensinar é fácil demais, mas só quem vive o processo de ensino
entende a complexidade e dificuldade existente.
Para ser professor é preciso amar o que faz. Ser aquela pessoa que não tá ali pra te
criticar caso a resposta esteja errada, mas para te ajudar a corrigir e a crescer com os erros.
Devido a alguns professores bem carrascos no meu passado, hoje trago comigo muita timidez
para debater, responder perguntas ou dar minha opinião em voz alta, justamente por receio de
ser repreendida. Sobre esse ponto, o professor de História é maravilhoso. Sei que estou
tecendo inúmeros elogios ao meu professor, mas é merecido, ele me fez amar história e o vejo
como um exemplo de profissional.
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FOTOGRAFIAS
Imagem 2 – Professor de História qual observei suas aulas, juntamente com outra
estagiária.
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MEUS DESEJOS:
experiência refere-se a um saber docente ou um saber precedente na docência, mas que nela
se apresenta. Ou seja, durante minha fase de aluna eu vivenciei o ser professor na figura dos
meus professores, experimento na formação, experienciei no PIBID e agora vivo isso no
estágio mesmo ainda não ministrando. Portanto, ainda tenho muito conhecimento para somar
na minha prática, mas no momento, estou onde deveria estar.
Na reflexão de Paulo Freire, um dos mais notáveis educadores brasileiros, ele permeia
a imagem de que não é a educação que transforma o mundo; a educação modifica pessoas, e
estas é que transformam o mundo. Logo, a educação, ela necessita de profissionais
comprometidos a transformar – e não apenas propagar informações. Esse é meu principal
objetivo como profissional, igualmente, buscar visibilidade à fala de professores em
formação, componentes importantes no desenvolvimento do país.
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REFERENCIAS
PIMENTA, Selma. Formação de professores: Identidade e saberes da docência. In:
_________. (Org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez Editora,
1999. (p. 15 a 34)
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ANEXOS: