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1 APRESENTAÇÃO
2 PARTE I
O contexto familiar no qual faço parte se caracteriza por pais que completaram o
Segundo Grau e tiveram uma pequena formação profissionalizante para se inserirem no
mercado de trabalho na década de 80, meu pai, fez um curso de torneiro mecânico e minha
mãe, de secretariado. Ambos conseguiram empregos em suas respectivas áreas, que
naturalmente com a atualização de cargos e evolução no que se diz respeito aos cursos
técnicos profissionalizantes, tornaram-se obsoletos no período contemporâneo no qual
nos encontramos.
Meus avós paternos e maternos não terminaram o Segundo Grau, meu avô
paterno não terminou sequer o Primeiro Grau. Forçados a trabalhar para ajudar a família
desde cedo, tiveram que escolher entre os estudos ou uma condição de vida um pouco
melhor. Minhas avós, sempre cuidaram da casa, as experiências de trabalho foram no
inicio da juventude para a minha avó paterna (boia fria) e à minha avó materna nunca lhe
foi permitido trabalhar.
Até os meados de 2015, minha família tinha, mesmo com todas as dificuldades e
pouca escolarização, uma condição de vida estável. Eu estudei em escolas particulares
quase minha vida toda, e iniciei o primeiro ano de Biomedicina numa instituição
particular da cidade de Araraquara, mas com os problemas financeiros aparecendo e a
chamada “Crise Econômica Brasileira”, larguei o curso privado e busquei alternativas
para me inserir no mercado de trabalho o mais rápido possível.
Tenho memórias de alguns professores durante minha vida escolar. Uma delas,
foi a minha professora da Terceira Série, Silviane, uma professora incisiva, tradicional,
fazia uso de aulas expositivas, mas promovia concursos com prêmios para quem soubesse
mais da matéria, acredito que ela foi uma das principais formadoras do meu conhecimento
escolar, como um todo, lembro muito bem de suas aulas de língua portuguesa, geografia
e história do Brasil.
Na Sexta Série, quando as matérias começaram a ser divididas entre diferentes
professores, conheci Gisele, professora de matemática, que perceptivelmente não gostava
do que fazia, e corria de todas as formas da frente da sala de aula, dando listas de exercício
para nós, alunos, sem uma explicação do conteúdo e nem ao menos ficava na sala durante
a resolução dos exercícios, desconfio de que esse tenha sido o inicio dos meus problemas
em entender o pensamento matemático.
No Ensino Médio, tive vários professores que me marcaram positivamente.
Marcus, de História, fazia a magica acontecer dentro da sala de aula, e não existia um
aluno que não tivesse tido aula com ele que não gostasse de história. Marcus era professor
de História do Brasil, e dividia a matéria com o professor Breno, que dava aula de História
Mundial, no terceiro ano do Ensino Médio.
Também me lembro do Fernando, professor de Literatura, e o culpado pelo meu
gosto por leitura. Me recordo que Fernando, dizia que poderíamos, no auge dos nossos
17 anos, sermos quem quisermos e fazer/trabalhar com o que queríamos, sem
necessariamente depender de um diploma universitário. Essa fala se refletiu mais tarde
quando decidi adiar o meu sonho de cursar um curso superior numa Universidade Pública.
2.4 Vivências Escolares
2.5 Avaliações
Tive, na minha vida escolar inteira, provas escritas individuais, da forma mais
tradicional possível. Acredito que o método avaliativo de todas as escolas que eu estudei
eram o mesmo, avaliação individual do aluno, avaliar não só o conhecimento em si, mas
o quanto de matéria/conteúdo aquele aluno conseguia armazenar em seu cérebro,
memorização.
Essa metodologia se refletiu na pessoa que eu sou hoje. Tive os primeiros contatos
com dinâmicas em grupo na universidade, avaliações em grupos, etc. Não me acostumei
ainda a dedicar um esforço e debater em equipe uma solução para um problema, e esse
problema vem a ser a prova, o trabalho, a atividade dentro ou fora da sala de aula.
Crescendo com afirmativas individualistas na minha infância e adolescência
inteiras, me fizeram uma pessoa individualista na hora de fazer as avaliações, me fizeram
boa em memorizar conteúdos sem realmente entende-los, e fizeram com que eu
conseguisse copiar durante a aula, numa velocidade frenética, tudo o que o professor
transmite, para que então, antes da prova eu consiga ter um panorama geral da matéria e
alcance resultados eficiente.
As escolas mencionadas acima, sem exceção, sempre foram rígidas a respeito da
disciplina dos alunos, manter os alunos sentados, prestando o máximo de atenção possível
no regente da aula, fazendo listas intermináveis de exercício. Por uma falha no meu
sétimo ano (antiga sexta série), no qual eu basicamente não tinha aulas de matemática,
como descrito anteriormente, mantive minha dificuldade com números durante a minha
vida escolar inteira, não entendendo conceitos matemáticos básicos, eu também não
conseguia consolidar conceitos de química e física na minha cabeça.
O que levou, acredito, consequentemente, a uma maior aptidão com as disciplinas
de humanas. Já citei meus antigos professores Marcus e Fernando, que adoçaram meu
interesse em História e Literatura, mas eu conseguia tirar notas boas em todas as ciências
ditas humanas, Gramática, Redação, Geopolítica, Geografia Física, Sociologia e
Filosofia, ao contrário das disciplinas de exatas, onde no auge do meu terceiro ano ficava
de “recuperação” todo semestre, de Química, Física e Matemática.
A relação entre minhas antigas escolas e minha família era boa, no geral. Meus
pais iriam nas reuniões, havia um diálogo e uma preocupação com o meu
desenvolvimento escolar por ambas as partes. Lembro de um episódio em que, na Oitava
série, meus pais foram chamados para falar sobre uma prática (minha) que andava
“atrapalhando” meus estudos.
Meu pai chegou na escola e ao se encontrar com o coordenador, e com mais um
pai de outro aluno, ouviu a reclamação de que eu, e meu amigo Renato, conversávamos
muito durante a aula, sem prestar atenção nos professores. O interessante era que as notas
de ambos, minhas e do Renato, eram ótimas, inclusive em matemática naquela época,
apesar de não entender nada dos conceitos, eu decorava equações inteiras e conseguia
tirar boas notas.
A reclamação do “é boa aluna, mas conversa muito” permeou minha vida escolar
inteira. Hoje vejo que aqueles que não entendiam a aula que estava sendo ministrada se
juntavam para falar sobre outras coisas, e compensavam as notas através da memorização
das apostilas escolares.
Outro episódio, mas na minha Quinta Série, minha mãe foi chamada até a escola
para discutir uma circunstância de bullying. Eu, vítima do bullying na escola na qual eu
era novata, entre meus 11 e 12 anos, frequentemente pedia intervenção dos meus pais e
coordenadores para com as brincadeiras ofensivas que sofria.
Começando pelo pior da escola, os piores anos da minha vida escolar foram
permeados de gordofobia e muitas outras ofensas feitas de crianças para com crianças.
Eu mudei de escola após estudar até a quarta série na rede municipal da minha cidade,
passando para uma instituição particular na cidade vizinha. Tinha 11 anos, me vestia
como uma criança deveria se vestir, não depilava minhas pernas nem outras partes do
corpo porque não havia necessidade de uma criança aos seus 11 anos fazer isso, eu estava
vivendo minha infância, enquanto as outras garotas da escola viviam a pré-adolescência,
e isso foi motivo suficiente para eu virar chacota na época.
Tenho a visão hoje de que essas meninas que me insultavam verbalmente, e
chegaram a ameaçar de exercer danos físicos sobre mim, tiveram suas infâncias
interrompidas, foram obrigadas a virarem mulheres antes do tempo, e na consciência
delas faria sentido sujeitar uma garota que não compartilhava dessa necessidade de se
tornar mulher aos 11/12 anos a hostilidades diárias.
Esse pesadelo durou dois anos, quando meus pais resolveram me tirar da escola
que foi palco do único episódio de bullying que presenciei na minha vida escolar. Ao
mudar de escola, aos 13 anos, fui melhor aceita pelos outros alunos, fiz mais amizades, e
apesar de ainda não ser o maior exemplo de performance de feminilidade da escola, ainda
consegui me juntar à uma “tribo” de garotas que não se encaixavam ainda no papel de
mulheres, mas sim de meninas que ainda estavam descobrindo quem eram e do que
gostavam.
Acredito que essa foi a melhor parte da escola, encontrar amigas que até hoje,
depois de 12 anos, ainda são minhas melhores amigas. Encontrar o tipo mais puro de
amizade nessa nova escola foi inimaginável na época para uma garota que pouco se
relacionava na escola anterior, eu me senti acolhida, e pertencente de algo.
O meu Ensino Médio foi na mesma instituição privada na qual meus pais
decidiram me matricular após os anos sofrendo bullying na antiga escola particular.
Apesar de ser na mesma instituição (COC Araraquara), o Ensino Médio ficava disposto
em outro prédio, apenas para o ensino colegial e cursinhos Pré-Vestibulares, um deles,
inclusive focado na aprovação no vestibular de Medicina.
O meu primeiro ano no Ensino Médio foi bom, cheio de lembranças positivas,
professores apaixonados pelo que faziam, eu adorava as aulas de Inglês em que o
professor trazia músicas de rock para discutirmos e aprendermos as pronuncias certas das
palavras na língua inglesa. Adorava a aula de História da Arte e com a ajuda da lousa
digital, visualizar as diversas obras clássicas era um verdadeiro deleite para mim.
No segundo ano do Ensino Médio eu comecei a me desinteressar pelos estudos,
havia começado a namorar, aos meus 16 anos. A maioria dos outros alunos também
deixava um pouco de lado os estudos para focar na vida amorosa, seja ela com vários ou
um parceiro(a) só. Eu não só deixei de lado como tirei toda a importância da escola como
transmissora de conteúdos científicos relevantes para minha vida.
Esse cenário se intensificou no terceiro ano, onde a pressão para obter uma
aprovação em universidade pública era imensa. A maioria dos alunos estudava
exaustivamente para poder pintar o rosto no começo do próximo ano com as palavras
UNESP, USP, UNICAMP. Eu estava preocupada com meu, até então relacionamento de
um ano, e como fazer ele virar um casamento nos anos seguintes, sem me preocupar muito
com o curso superior que eu faria.
Na tentativa de me provar ser a mulher que todas aquelas garotas aos 11 anos não
acreditavam que eu fosse, perdi talvez, a melhor oportunidade da minha vida de estudar
e conseguir uma aprovação. Eu prestei Biomedicina na Unesp de Botucatu, e não passei.
Não me frustrei, pois achava que o meu relacionamento amoroso compensava tudo.
Comecei aos 17 anos, depois da formatura do Ensino Médio a fazer Biomedicina em uma
rede universitária privada da cidade de Araraquara, o que não durou nem dois semestres
completos, já que com o fim do relacionamento veio o fim dos meus outros interesses na
vida.
Sem estudar e sem dinheiro para fazer qualquer coisa, aos 19 anos decidi prestar
um “vestibulinho” para um curso de Técnico em Enfermagem, e passei. Eu não era
apaixonada pela profissão, nem ao menos interessada, eu só queria arrumar um emprego
o mais rápido possível, e ao final dos 2 anos de curso e com o interesse na Enfermagem
aflorados, eu consegui o meu primeiro emprego CLT.