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AUTARQUIA EDUCACIONAL DE SERRA TALHADA

FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SERRA TALHADA


DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL
DOCENTE: JOSICLÉIA GOMES DE SOUZA
DISCENTE: SARA MIKAELE DA SILVA LIMA

MEMORIAL ESCOLAR
Sara Mikaele da Silva Lima

Minha jornada escolar iniciou em um sítio do município de Calumbi, em


uma escolinha chamada Escola Municipal Senhor José Gomes da Costa, com
uma estrutura muito simples, a escola tinha um total de três sala, mas só uma
delas era usada, já que era uma só professora para todas as séries, desde a
alfabetização até a quarta série, ou seja, uma só professora para todo o ensino
fundamental I.

A minha primeira professora foi tia Zilda, uma senhora muito dedicada
aos seus alunos e que sempre dava o seu máximo para nós alunos daquela
pequena escola. Lembro que tia Zilda era bem vaidosa, ela chegava à escola
quando todos já estávamos lá e sempre com uma flanela na mão para sacudir o
tênis empoeirado, além de sempre estar bem perfumada. Quando entrávamos
na sala era uma bagunça, já que era muitas séries juntas e consequentemente
as idades eram diferentes, eram públicos diferentes para lidar. Nessa época
minha mãe era merendeira da escola e eu ia com ela, lembro que bem no início,
quando comecei a frequentar a escola, eu queria ir embora com minha mãe
sempre que ela terminava os afazeres da escola e isso me fez levar boas
palmadas.

Eu gostava da escola, gostava de estudar, mas não queria ficar sem ela,
enquanto ela estava na escola estava tudo bem, mas como na sala tinha uma
janela que dava acesso ao corredor em que ela passava para sair da cozinha,
eu sempre a via sair e era inevitável eu não chorar querendo ir com ela. No início
ela me deixava chorando até não aguentar mais, o que hoje é engraçado para
mim, mas na época não era nada bom. Depois de uns dias ela percebeu que
não estava certa em me deixar chorando e atrapalhando quem estava lá
estudando, e foi nesse momento que ela decidiu me levar para casa e no
caminho da escola até em casa ela brigava comigo e até me batia.

Tal realidade mudou quando um dia a vizinha da gente, que era filha da
prima do meu pai, pediu para que minha mãe me deixasse na casa dela para
que conversasse comigo. Nessa conversa que hoje não lembro mais como foi
exatamente, ela me falou para não continuar com aquilo, me explicou a
importância de estudar, me convenceu de alguma forma, muito convincente por
sinal, que eu tinha que frequentar a escola, e digo convincente porque depois
desse dia eu nunca mais quis faltar aula alguma, não quis mais ir embora no
horário em que a minha mãe ia e até chorava quando não tinha aula, o que
parece até mentira quando se compara a criança que chorava para ir embora
antes de terminar a aula.

Vivi muita coisa boa durante a infância nessa escolinha, lembro até hoje
dos livros do Castelo Rá-Tim-Bum, do cheiro dos livros novos, tenho também
memória olfativa forte quanto ao mimeógrafo, eu sempre brigava com meu primo
para rodar as cópias das atividades e a professora sempre fazia acordo para que
todos participassem, já que era uma coisa que todos queriam.

Depois de um tempo, tia Zilda precisou sair porque havia chegado o tempo
dela se aposentar, nesse momento a irmã dela, tia Deusimar, passou a nos dar
aula, ela era tão incrível quanto tia Zilda, até levava a gente para dormir na casa
dela nos finais de semana. Lembro que quando fui estava acontecendo a festa
da padroeira da cidade, então além de ir para a casa dela na cidade, ainda fui
passear nos parques. Até hoje lembro que fui de saia e deu trabalho brincar no
touro elétrico. Lembro também que brincava de tiro ao alvo com os filhos dela na
porta da geladeira.

Fiquei na escolinha até a quarta série, a partir da quinta fui estudar na


Escola Estadual em Calumbi, chamada de Escola Antônio Gomes de Lima. Era
o máximo estudar lá, já que na cidade só tinha ela e uma municipal. Sempre fui
muito tímida, mas muito estudiosa, fazia todas as atividades, estudava muito
para as provas e me dedicava bastante aos estudos. Estudava com o meu primo
que tinha a mesma idade que eu, desde a escolinha até o ensino médio, tenho
apenas 8 dias de diferença de idade, quase nascemos no mesmo dia. Eu e ele
passávamos os recreios em uma escada ao lado de um aquário, éramos
extremamente tímidos.

Nessa escola eu tinha uma professora preferida, que era Nilva, ela era
professora de português e tinha uma didática ímpar, eu era apaixonada por
português, acho que por influência dela, que me fez acabar gostando mais ainda
da disciplina. Lembro que em uma prova, ela prometeu à turma que quem tirasse
a melhor nota, ganharia um prêmio, foi nessa fase da minha vida que eu percebi
o quanto era apaixonada por desafios e decidi então estudar para conseguir
vencer esse desafio. Eu já tirava boas notas, mas dessa vez decidi que precisava
dar o meu melhor para conseguir a melhor nota, e assim fiz, tirei 9,8, lembro que
errei um pequeno detalhe e por isso não tirei 10,0, mas mesmo assim minha nota
foi a melhor da turma. Ela me parabenizou muito, mas não me deu prêmio algum,
confesso que fiquei até chateada por isso, mas depois nem liguei tanto, só de ter
conseguido a melhor nota da turma me senti vitoriosa.

Para irmos até a cidade, tinha toda uma logística, já que o sítio ficava a
uns 6km da cidade e eram muitos alunos. Meu pai e meu avô eram os motoristas
que levavam os estudantes por um tempo, por isso tínhamos que sair de casa
cedo para pegar os outros estudantes e chegarmos à escola a tempo. Era na
D20 do meu avô que íamos, quando era meu avô quem levava, minha avó
sempre dizia para ele dar dinheiro a mim, a minha irmã e a minha prima, e assim
ele fazia, antes de sairmos ele dava moedas para a gente lanchar.

Terminei o fundamental II na Escola Antônio Gomes de Lima em Calumbi


e no ano seguinte vim morar em Serra Talhada com meus pais para estudar em
uma escola de Referência, que foi na Escola de Referência em Ensino Médio
Professor Adauto Carvalho (EREMPAC), onde no ano que saí da escola de
Calumbi a nossa diretora também foi transferida para a EREMPAC, ou seja, eu
e meu primo saímos da escola juntos com a diretora e fomos para outra escola
junto com ela. Como meu primo morava no sítio, minha mãe o convidou para
morar com a gente em Serra para facilitar a locomoção.

No nosso primeiro dia de aula, papai foi levar a gente na escola na D-20
do meu avô e quando chegamos lá, a diretora nos recebeu abrindo a porta do
carro para nós descermos, me senti especial, era muita gentileza da parte dela
abrir a porta para a gente. Me sentia bem naquela escola por tê-la lá e por ter
comigo meu primo que sempre estudou comigo.

Entrei na EREMPAC em 2012 e no ano de 2014 concluí o ensino médio.


Decidi que queria fazer faculdade de Direito, mas depois quis Psicologia. Na
época não havia o curso de Psicologia aqui e o de Direito só havia na Faculdade
de Integração do Sertão (FIS), então decidi fazer cursinho para tentar Direito pelo
PROUNI aqui na cidade, já que era inviável para mim estudar fora, meus pais
não tinham condições de me bancar fora daqui. Fiz cursinho em 2015, mas não
consegui entrar para Direito, então teria que fazer algo da minha vida no ano
seguinte que não fosse o cursinho novamente. Entre os cursos que tinha na
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE- UAST) eu decidi que
queria fazer Ciências Biológicas, eu sei que é uma mudança meio radical abrir
mão do curso de Direito para ir para uma área totalmente diferente, Ciências
Biológicas.

Iniciei o curso no segundo semestre de 2016, não iniciei no primeiro


porque era pela manhã, e eu preguiçosa que era para acordar cedo, decidi
estudar no turno da tarde. Entre greves e paradas consegui terminar meu
Bacharelado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal Rural de
Pernambuco, tenho muito orgulho disso, de ter terminado o Ensino Superior em
uma Universidade Federal. Nela conheci muita gente, fiz amigos, colegas de
profissão, professores com doutorado, pós-doutorado, histórias inspiradoras,
conheci lugares que não conheceria se não por meio dessa instituição
maravilhosa.

Um dos lugares que conheci foi a Base de Piscicultura Ornamental e


Pesquisa Marinha- POPMar, que é um Campus Avançado da UFRPE, onde
acontecem aulas práticas da sede de Recife e das demais unidades acadêmicas
da Universidade. Ingressei como aluna do projeto, que visa ensinar os alunos a
nadarem e terem noção acerca da Piscicultura, além de oferecer mergulhos nos
finais de cada projeto, já que os alunos são treinados para isso durante as aulas
de natação. Nesse projeto temos a oportunidade de mergulhar próximos aos
currais de pesca, onde ficam variadas espécies de fauna e flora marinha. No final
do projeto que fui como aluna, o professor Ricardo Gama, coordenador do
projeto, me convidou para ser monitora do projeto voluntariamente para
posteriormente conseguir uma bolsa como monitor remunerado, aceitei o convite
e desde então passei todas as férias em Itamaracá como monitora do projeto.

Embora pareça algo simples e apenas de lazer, o projeto não era só tinha
partes boas, estar longe de casa era difícil. Os projetos aconteciam durante todo
o período de férias, então viajamos para lá um dia após o término do período e
voltávamos um dia antes das aulas do próximo semestre iniciar. Nesse projeto
pude aprender muito, pessoalmente e profissionalmente falando, errei, acertei,
cai e levantei, mas sempre disposta a ser melhor. Posso dizer sem dúvida
alguma que foi uma das melhores experiências da minha vida, e que levarei para
sempre comigo.

Conclui o Bacharelado no segundo semestre do ano passado, onde minha


monografia foi na área da Parasitologia, intitulada “Perfil Epidemiológico dos
casos de Leishmaniose Tegumentar Americana e Leishmaniose Visceral no
Sertão do Pajeú”, orientada pela Professora Doutora Marilene Lima. Foi incrível
trabalhar com ela, aprendi muito com ela e aprendemos muito juntas também.
Não foi fácil, mas hoje é muito bom olhar para trás e ver o quanto aprendi e cresci
profissionalmente nessa fase.

Decidi cursar a Licenciatura para complementar minha formação em


Ciências Biológicas e estou muito feliz por isso, já que quando finalizar poderei
também lecionar. Me imagino daqui a 10 anos sendo professora, olhando para
trás e me orgulhando da Sara que batalhou muito para conseguir realizar seus
sonhos e que saiu de uma escolinha de um sítio no interior de Pernambuco e
conseguiu ir longe por meio dos estudos. Sei que não foi e não é fácil, mas sei
que com a força e o amparo de Deus chegarei longe e darei orgulho aos meus
pais, que infelizmente não tiveram as mesmas oportunidades que eu tive.

Seguem algumas lembranças...

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