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MEMORIAL ESCOLAR
Sara Mikaele da Silva Lima
A minha primeira professora foi tia Zilda, uma senhora muito dedicada
aos seus alunos e que sempre dava o seu máximo para nós alunos daquela
pequena escola. Lembro que tia Zilda era bem vaidosa, ela chegava à escola
quando todos já estávamos lá e sempre com uma flanela na mão para sacudir o
tênis empoeirado, além de sempre estar bem perfumada. Quando entrávamos
na sala era uma bagunça, já que era muitas séries juntas e consequentemente
as idades eram diferentes, eram públicos diferentes para lidar. Nessa época
minha mãe era merendeira da escola e eu ia com ela, lembro que bem no início,
quando comecei a frequentar a escola, eu queria ir embora com minha mãe
sempre que ela terminava os afazeres da escola e isso me fez levar boas
palmadas.
Eu gostava da escola, gostava de estudar, mas não queria ficar sem ela,
enquanto ela estava na escola estava tudo bem, mas como na sala tinha uma
janela que dava acesso ao corredor em que ela passava para sair da cozinha,
eu sempre a via sair e era inevitável eu não chorar querendo ir com ela. No início
ela me deixava chorando até não aguentar mais, o que hoje é engraçado para
mim, mas na época não era nada bom. Depois de uns dias ela percebeu que
não estava certa em me deixar chorando e atrapalhando quem estava lá
estudando, e foi nesse momento que ela decidiu me levar para casa e no
caminho da escola até em casa ela brigava comigo e até me batia.
Tal realidade mudou quando um dia a vizinha da gente, que era filha da
prima do meu pai, pediu para que minha mãe me deixasse na casa dela para
que conversasse comigo. Nessa conversa que hoje não lembro mais como foi
exatamente, ela me falou para não continuar com aquilo, me explicou a
importância de estudar, me convenceu de alguma forma, muito convincente por
sinal, que eu tinha que frequentar a escola, e digo convincente porque depois
desse dia eu nunca mais quis faltar aula alguma, não quis mais ir embora no
horário em que a minha mãe ia e até chorava quando não tinha aula, o que
parece até mentira quando se compara a criança que chorava para ir embora
antes de terminar a aula.
Vivi muita coisa boa durante a infância nessa escolinha, lembro até hoje
dos livros do Castelo Rá-Tim-Bum, do cheiro dos livros novos, tenho também
memória olfativa forte quanto ao mimeógrafo, eu sempre brigava com meu primo
para rodar as cópias das atividades e a professora sempre fazia acordo para que
todos participassem, já que era uma coisa que todos queriam.
Depois de um tempo, tia Zilda precisou sair porque havia chegado o tempo
dela se aposentar, nesse momento a irmã dela, tia Deusimar, passou a nos dar
aula, ela era tão incrível quanto tia Zilda, até levava a gente para dormir na casa
dela nos finais de semana. Lembro que quando fui estava acontecendo a festa
da padroeira da cidade, então além de ir para a casa dela na cidade, ainda fui
passear nos parques. Até hoje lembro que fui de saia e deu trabalho brincar no
touro elétrico. Lembro também que brincava de tiro ao alvo com os filhos dela na
porta da geladeira.
Nessa escola eu tinha uma professora preferida, que era Nilva, ela era
professora de português e tinha uma didática ímpar, eu era apaixonada por
português, acho que por influência dela, que me fez acabar gostando mais ainda
da disciplina. Lembro que em uma prova, ela prometeu à turma que quem tirasse
a melhor nota, ganharia um prêmio, foi nessa fase da minha vida que eu percebi
o quanto era apaixonada por desafios e decidi então estudar para conseguir
vencer esse desafio. Eu já tirava boas notas, mas dessa vez decidi que precisava
dar o meu melhor para conseguir a melhor nota, e assim fiz, tirei 9,8, lembro que
errei um pequeno detalhe e por isso não tirei 10,0, mas mesmo assim minha nota
foi a melhor da turma. Ela me parabenizou muito, mas não me deu prêmio algum,
confesso que fiquei até chateada por isso, mas depois nem liguei tanto, só de ter
conseguido a melhor nota da turma me senti vitoriosa.
Para irmos até a cidade, tinha toda uma logística, já que o sítio ficava a
uns 6km da cidade e eram muitos alunos. Meu pai e meu avô eram os motoristas
que levavam os estudantes por um tempo, por isso tínhamos que sair de casa
cedo para pegar os outros estudantes e chegarmos à escola a tempo. Era na
D20 do meu avô que íamos, quando era meu avô quem levava, minha avó
sempre dizia para ele dar dinheiro a mim, a minha irmã e a minha prima, e assim
ele fazia, antes de sairmos ele dava moedas para a gente lanchar.
No nosso primeiro dia de aula, papai foi levar a gente na escola na D-20
do meu avô e quando chegamos lá, a diretora nos recebeu abrindo a porta do
carro para nós descermos, me senti especial, era muita gentileza da parte dela
abrir a porta para a gente. Me sentia bem naquela escola por tê-la lá e por ter
comigo meu primo que sempre estudou comigo.
Embora pareça algo simples e apenas de lazer, o projeto não era só tinha
partes boas, estar longe de casa era difícil. Os projetos aconteciam durante todo
o período de férias, então viajamos para lá um dia após o término do período e
voltávamos um dia antes das aulas do próximo semestre iniciar. Nesse projeto
pude aprender muito, pessoalmente e profissionalmente falando, errei, acertei,
cai e levantei, mas sempre disposta a ser melhor. Posso dizer sem dúvida
alguma que foi uma das melhores experiências da minha vida, e que levarei para
sempre comigo.