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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ABAETETUDA


FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS SOCIAS
LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA

JOÃO VITOR DE JESUS RIBEIRO

MEMORIAL SOBRE A TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL ATÉ O


CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

TOMÉ-AÇU/PA

2023
JOÃO VITOR DE JESUS RIBEIRO

MEMORIAL SOBRE A TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL ATÉ O


CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Memorial sobre a trajetória pessoal e profissional até o


curso de formação de professores, apresentado à
professora Luciane Teixeira Silva, como parte final da
avalição da disciplina Didática e Formação Docente.

TOMÉ-AÇU/PA

2023
Me movo como educador porque primeiro me movo como gente (Freire 1996). Inicio
este memorial com essa frase de Paulo Freire para adiantar que a jornada aqui descrita trata-se
de uma jornada de humanidade, ou mesmo de educação para a humanidade.

Me chamo João Vitor de Jesus Ribeiro, tenho 22 anos e sou natural do município de
Tomé-Açu. Desde que eu me lembre a minha vida sempre foi impactada direta ou
indiretamente pela educação, Carlos Rodrigues Brandão afirma que ninguém escapa da
educação em casa, na rua na igreja, ou na escola de um modo ou de muitos, todos nós
envolvemos pedaços da vida com ela. Desde a infância consigo perceber o mover da educação
na minha vida, em todos os aspectos descritos por Brandão, devo isso ao ambiente em que fui
criado, afinal, venho de uma família de professores, educadores de primeira que são
referências no município. Como é natural de toda criança, sempre admirei minha família e
quis participar daquilo que considerava glorioso.

No ano de 2011 a escola onde eu estudava no Ramal e Ipitinga, foi contemplada


através do programa Mais Educação com uma série de recursos que trouxeram vida nova à
escola; eram computadores instrumentos musicais, projetores, jogos etc. tudo novinho, aquilo
me deslumbrou, no entanto a escola não tinha mão de obra para usufruir dos recursos
materiais, Diante disso, o então diretor e até hoje meu amigo, me convidou a ser instrutor no
laboratório de informática, e assim aos 10 anos me sentia responsável por ensinar outras
crianças e colegas a fazerem coisas básicas no computador. Conto esse fato pois considero
como primordial para minha jornada profissional foi algo como “o primeiro chamado”.

Segui minha jornada escolar sendo ativo e até tomando liderança, eu simplesmente
amava a forma como a educação era feita ali, naquela escola do interior. No 5° ano cheguei
até a dar uma entrevista para a TV Gazeta onde eu falava da importância de ter uma escola
perto de casa, no campo mesmo. Infelizmente tal experiência seria encerrada no mesmo ano,
pois já não havia minha série na escola.

Chegando para cursar o 6° ano em uma escola da cidade, sofri os impactos das
mudanças; a pedagogia diferente, turmas lotadas, professores não tão atenciosos quanto eu
estava acostumado. Tive boas notas, mas me considerava com baixo rendimento e implorava
para voltar para a minha antiga escola. Foi então que surgiu a oportunidade de implantar o
SOMEF (Sistema Modular do Ensino Fundamental) lá no interior. Assumi a responsabilidade
de convencer os colegas a voltarem, e assim iniciamos a primeira turma do SOMEF na escola
Presidente Médici, com 4 alunos.
Foram os meus melhores anos, aprendi a ser professor lá, decidi com certeza o que
gostaria de ser no futuro, escrevi projetos, assumir o protagonismo, vi humanidade em tudo o
que fazíamos e me apaixonei por aquilo que meus professores chamavam de Educação do
Campo. Infelizmente em 2013 perdi meu pai para o câncer e tive que deixar definitivamente
aquela escola, porém por onde segui continuei levando a criatividade e humanidade que
aprendi no SOMEF.

No ensino médio não foi diferente trabalhava e estudava mas conseguia deslumbrar
meus objetivos comecei a trabalhar em um sebo vendia e trocava livros, Era muito cansativo
mas acreditava estar trabalhando com o que gostava. Até que fui demitido, e com o dinheiro
que a mim era devido comprei lotes e lotes de livros e passei a guardá-los em casa.

Neste meio tempo, em 2018, fiz o ENEM e consegui uma boa nota, mas já sabia que
não seria possível cursar a licenciatura que eu gostaria; Ciências Sociais, minha mãe já havia
esclarecido que não havia condições financeiras para tal, mas a mesma sempre me incentivou
a ser professor, dizia que eu seria um ótimo professor e que facilmente conseguiria uma
oportunidade de atuar no município. No ano de 2018 eu estava com 17 anos e fui aprovado no
Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela UFPA, juntamente com minha irmã, foi uma
festa enorme e muito emocionante.

Ainda assim eu precisava me sustentar com trabalho. Trabalhei por um curto período
em vários lugares; armarinho, papelaria, farmácia, até que tive a ideia de iniciar meu próprio
Sebo e vender os livros que eu havia adquirido. E assim aconteceu, passei a vender livros na
feira livre e em outros lugares, como na frente dos bancos. A venda era um sucesso, e passei a
ser conhecido pelas pessoas da feira como Livreiro Viajante, devido à mala que usava para
carregar os livros. Eu adorava fazer aquilo, mas o que mais gostava mesmo era de ver os
locais mais aleatórios se tornando locais de leitura. Foi neste ambiente que um representante
da Secretaria de Educação me perguntou se eu tinha interesse em ser professor de leitura no
programa Novo Mais Educação, fiquei tão contente e lógico que aceitei, e foi assim que eu
primeiro pisei na sala de aula como professor do que na universidade.

Infelizmente a vaga para a Leitura já havia sido preenchida e tive que assumir
Matemática. Com 18 anos eu era professor de reforço de matemática na maior escola de
ensino fundamental I do município. Usei essa oportunidade para mostrar minha paixão e me
dedicar à educação, ganhei espaço, passei a assumir turmas inteiras de 3° a 5° ano, e também
elaborei o projeto de Matemática e Tecnologia chamado MATTEC. Infelizmente no primeiro
corte da educação do governo Bolsonaro, o programa em que eu trabalhava foi encerrado.
Mas com muita força de vontade e para culminar o projeto continuei trabalhando sem
remuneração na escola.

Nesta mesma época cursei o meu primeiro período do curso de Pedagogia na UFPA, e
foi tudo tão surpreendente, os fundamentos teóricos me deixaram encantado, foi lá que tiver
certeza de que estava no lugar certo.

Desde então sigo exercendo o meu primeiro chamado, até que no ano de 2020, fui
enviado para uma escola no interior, onde estou indo para o meu terceiro ano fazendo
Educação do Campo da mesma forma que outrora eu fazia enquanto aluno.

A minha trajetória se faz a partir desse misto de experiências; pessoais, profissionais e


acadêmicas, uma completa e leva a outra. O curso de formação de professores na UFPA além
de garantir que eu serei um profissional capacitado também garante que eu tenha emprego e
que busque qualidade de vida. Neste ano que passou também garantiu que o sonho da casa
própria fosse realizado. A educação me deu tudo e por ela estarei a serviço da humanidade.

REFERÊNCIAS

FREIRE, 1996 Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e
Terra, 1996., p.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Editora Brasiliense, 2002. 117 p.

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