O historiador Roger Chartier afirma que:
1) A leitura se popularizou no século 19 com a emergência de novos públicos como crianças, mulheres e trabalhadores.
2) A internet pode ser uma aliada para a cultura escrita ao facilitar a circulação dos textos de forma ampla e universal.
3) A fragmentação dos conteúdos na internet pode afetar negativamente a formação de novos leitores se não ensinarmos formas tradicionais de leitura também.
O historiador Roger Chartier afirma que:
1) A leitura se popularizou no século 19 com a emergência de novos públicos como crianças, mulheres e trabalhadores.
2) A internet pode ser uma aliada para a cultura escrita ao facilitar a circulação dos textos de forma ampla e universal.
3) A fragmentação dos conteúdos na internet pode afetar negativamente a formação de novos leitores se não ensinarmos formas tradicionais de leitura também.
O historiador Roger Chartier afirma que:
1) A leitura se popularizou no século 19 com a emergência de novos públicos como crianças, mulheres e trabalhadores.
2) A internet pode ser uma aliada para a cultura escrita ao facilitar a circulação dos textos de forma ampla e universal.
3) A fragmentação dos conteúdos na internet pode afetar negativamente a formação de novos leitores se não ensinarmos formas tradicionais de leitura também.
REVISTA NOVA ESCOLA vai criar um novo tipo de obra literária ou
histórica. Dispomos hoje de três formas de
https://novaescola.org.br/conteudo/938/roger- produção, transcrição e transmissão de texto: a chartier-os-livros-resistirao-as-tecnologias-digitais mão, impressa e eletrônica - e elas coexistem." Jornalismo No fim de junho, Chartier - esteve no Brasil Roger Chartier: "Os para lançar seu livro Inscrever & Apagar, em que discute a preservação da memória e a livros resistirão às efemeridade dos textos escritos. Nesta entrevista, ele conta como a leitura se tecnologias digitais" popularizou no século 19, mas destaca que bem antes disso já existiam textos circulando pelos lugares mais remotos da Europa na forma de literatura de cordel e de bibliotecas Especialista em história da leitura ambulantes. Confira os principais trechos da afirma que a Internet pode se conversa.
transformar em aliada dos textos
Como era, no passado, o contato das crianças por permitir sua divulgação em e dos jovens com a leitura? grande escala ROGER CHARTIER A literatura se restringia às Por Cristina Zahar peças teatrais. As representações públicas em 23/11/2010 Londres, como podemos ver nas últimas cenas do filme Shakespeare Apaixonado, e nas arenas O francês Roger Chartier - é um dos mais da Espanha são exemplos disso. Já nos séculos reconhecidos historiadores da atualidade. 19 e 20, as crianças e os jovens conheciam a Professor e pesquisador da Escola de Altos literatura por meio de exercícios escolares: Estudos em Ciências Sociais e professor do leitura de trechos de obras, recitações, cópias e Collège de France, ambos em Paris, também produções que imitavam o estilo de autores leciona na Universidade da Pensilvânia, nos antigos, como as famosas cartas da escritora Estados Unidos, e viaja o mundo proferindo Madame de Sévigné (1626-1696) e as fábulas de palestras. La Fontaine (1621-1695).
Sua especialidade é a leitura, com ênfase nas
práticas culturais da humanidade. Mas ele não Quando a leitura se tornou popular? se debruça apenas sobre o passado. Interessa- se também pelos efeitos da revolução digital. CHARTIER No século 19, surgiu um novo "Estamos vivendo a primeira transformação da contingente de leitores: crianças, mulheres e técnica de produção e reprodução de textos e trabalhadores. Para esses novos públicos, os essa mudança na forma e no suporte influencia editores lançaram livros escolares, revistas e jornais. Porém, desde o século 16, existiam o próprio hábito de ler", diz. livros populares na Europa: a literatura de cordel na Espanha e em Portugal, os chapbooks Diferentemente dos que preveem o fim da (pequenos livros comercializados por leitura e dos livros por causa dos vendedores ambulantes) na Inglaterra e a computadores, Chartier - acha que a internet Biblioteca Azul (acervo que circulava em pode ser uma poderosa aliada para manter a regiões remotas) na França. Por outro lado, cultura escrita. "Além de auxiliar no certos leitores mais alfabetizados que os aprendizado, a tecnologia faz circular os textos demais se apropriaram dos textos lidos pelas de forma intensa, aberta e universal e, acredito, elites. O livro O Queijo e os Vermes, do italiano Carlo Guinzburg, publicado em 1980, relata as leituras de um moleiro do século 16. Muitos dizem que desenvolver o gosto dos As práticas atuais de leitura têm relação com jovens pela leitura é um desafio. as práticas do passado? CHARTIER Certamente. Mas é papel da escola CHARTIER É claro. Na Renascença, por incentivar a relação dos alunos com um exemplo, a leitura e a escrita eram acessíveis a patrimônio cultural cujos textos servem de poucas pessoas, que utilizavam uma técnica base para pensar a relação consigo mesmo, conhecida como loci comunes, ou lugares- com os outros e o mundo. É preciso tirar comuns, ou seja, exemplos a serem seguidos e proveito das novas possibilidades do mundo imitados. O leitor assinalava nos textos trechos eletrônico e ao mesmo tempo entender a lógica para copiar, fazia marcações nas margens dos de outro tipo de produção escrita que traz ao livros e anotações num caderno para usar essas leitor instrumentos para pensar e viver melhor. citações nas próprias produções. No século 16, editores publicaram compilações de lugares- O senhor quer dizer que a internet pode comuns para facilitar a tarefa dos leitores, ajudar os jovens a conhecer a riqueza do como fez o filósofo Erasmo de Roterdã (1466- mundo literário? 1536). CHARTIER Sim. O essencial da leitura hoje Em que medida compreender essas e outras passa pela tela do computador. Mas muita práticas sociais de leitura pode transformar a gente diz que o livro acabou, que ninguém mais relação com os textos escritos? lê, que o texto está ameaçado. Eu não concordo. O que há nas telas dos CHARTIER Os estudos da história da leitura computadores? Texto - e também imagens e costumam esquecer dois importantes jogos. A questão é que a leitura atualmente se elementos: o suporte material dos textos e as dá de forma, fragmentada, num mundo em que variadas formas de ler. Eles são decisivos para a cada texto é pensado como uma unidade construção de sentido e interpretação da separada de informação. Essa forma de leitura leitura em qualquer época. Dom Quixote de La se reflete na relação com as obras, já que o livro Mancha, de Miguel de Cervantes (1547-1616), impresso dá ao leitor a percepção de era lido em silêncio, como hoje, mas também totalidade, coerência e identidade - o que não em voz alta, capítulo por capítulo, para plateias ocorre na tela. É muito difícil manter um de ouvintes. Todas as pesquisas nessa área contato profundo com um romance de formam um patrimônio comum com o qual os Machado de Assis no computador. professores podem construir estratégias pedagógicas, considerando as práticas de Essa fragmentação dos conteúdos na internet leitura. não afeta negativamente a formação de novos leitores? Que papel a literatura ocupa na Educação atual? CHARTIER Provavelmente sim. Na internet, não há nada que obrigue o leitor a ler uma obra CHARTIER A escola se afastou da literatura, inteira e a compreender em sua totalidade. Mas principalmente no Brasil, porque está cabe às escolas, bibliotecas e meios de preocupada em oferecer ao maior número comunicação mostrar que há outras formas de possível de crianças as habilidades básicas de leitura que não estão na tela dos leitura e escrita. Mas acredito que os computadores. O professor deve ensinar que professores devem acolher a literatura um romance é uma obra que se lê lentamente, novamente, da alfabetização aos cursos de de forma reflexiva. E que isso é muito diferente nível superior, como mostram várias de pular de uma informação a outra, como experiências pedagógicas. Na França, por fazemos ao ler notícias ou um site. Por tudo exemplo, um filme recém-lançado exibe uma isso, não tenho dúvida de que a cultura peça do dramaturgo Pierre de Marivaux (1688- impressa continuará existindo. 1763) encenada por jovens moradores de bairros pobres. As novas tecnologias não comprometem o entendimento e o sentido completo de uma Qual foi a mais radical? obra literária? CHARTIER Sem dúvida, a transmissão CHARTIER Sim e não. A pergunta que devemos eletrônica. E por uma razão bastante simples: nos fazer é: o que é um texto? O que é um nunca houve uma transformação tão radical na livro? A tecnologia reforça a possibilidade de técnica de produção e reprodução de textos e acesso ao texto literário, mas também faz com no suporte deles. O livro já existia antes de que seja difícil apreender sua totalidade, seu Guttenberg criar os tipos móveis, mas as sentido completo. É a mesma superfície (uma práticas de leitura começaram lentamente a se tela) que exibe todos os tipos de texto no modificar com a possibilidade de imprimir os mundo eletrônico. É função da escola e dos volumes em larga escala. Hoje temos no mundo meios de comunicação manter o conceito do digital um novo suporte, a tela do computador, que é uma criação intelectual e valorizar os e uma nova prática de leitura, muito mais dois modos de leitura, o digital e o papel. É rápida e fragmentada. Ela abre um mundo de essencial fazer essa ponte nos dias de hoje. possibilidades, mas também muitos desafios para quem gosta de ler e sobretudo para os professores, que precisam desenvolver em seus O novo suporte tecnológico pode auxiliar a alunos o prazer da leitura. leitura, mas não necessariamente o desempenho escolar. É muito fácil publicar informações falsas na Internet. Como evitar isso? CHARTIER Pesquisas realizadas em vários países mostram que o uso do computador na CHARTIER A leitura do texto eletrônico priva o Educação, quando acompanhado de métodos leitor dos critérios de julgamento que existem pedagógicos, melhora, sim, o aprendizado, no mundo impresso. Uma informação histórica acelera a alfabetização e permite o domínio das publicada num livro de uma editora respeitada regras da língua, como a ortografia e a sintaxe. tem mais chance de estar correta do que uma É preciso desenvolver políticas públicas que que saiu numa revista ou num site. É claro que tenham por objetivo a correta utilização da há erros nos livros e ótimos artigos em revistas tecnologia na sala de aula. e sites. Mas há um sistema de referências que hierarquiza as possibilidades de acerto no O senhor acha que o e-paper (dispositivo mundo impresso e que não existe no mundo eletrônico flexível como uma folha de papel) é digital. Isso permite que haja tantos plágios e o futuro do livro? informações falsas. Precisamos fornecer instrumentos críticos para controlar e corrigir CHARTIER Os textos eletrônicos são abertos, informações na internet, evitando que a maleáveis, gratuitos e esses aspectos são máquina seja um veículo de falsificação. contrários aos da publicação tradicional de um texto (que pressupõe a criação de um objeto de negócio). Para ser publicado, um texto deve ser Quer saber mais? estável. Na internet, os textos eletrônicos continuaram protegidos, ou seja, não podem Bibliografia A Aventura do Livro, Roger Chartier, 160 págs., Ed. Unesp, ser alterados, e têm de ser comprados e tel. (11) 3661-2881, 53 reais descarregados no computador do usuário História da Leitura no Mundo Ocidental, vol. 2, Roger integralmente. Para mim, a discussão sobre o Chartier e Guglielmo Cavallo, 248 págs., Ed. Ática, tel. (11) futuro dos livros passa pela oposição entre 3990-2100, 35,50 reais Inscrever & Apagar, Roger Chartier, 336 págs., Ed. Unesp, 35 comunicação eletrônica e publicação reais eletrônica, entre maleabilidade e gratuidade. O Queijo e os Vermes, Carlo Ginzburg, 256 pág., Ed. Cia. das Letras, tel. 0800-014-2829, 19,50 reais Ao longo da história da humanidade, Práticas da Leitura, Roger Chartier, 268 págs., Ed. Estação acompanhamos a passagem da leitura oral Liberdade, tel. (11) 3661-2881, 42 reais