Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE HISTÓRIA
História Cultural
Prof. Dr. Fernando Perli

GABRIEL DA SILVA SANTOS


JOÃO FELIPE RAMOS TELES
JACQUES JOSEPH NEMR
MILENA LEITE DE ALMEIDA PRATI
ROCHELLEN DE SOUZA ARAUJO

A AVENTURA DO LIVRO: DO LEITOR AO NAVEGADOR

Trabalho escrito sobre o livro “A aventura do


livro: do leitor ao navegador”, de Roger
Chartier, para a disciplina de “História
Cultural” no curso de História da Universidade
Federal da Grande Dourados – UFGD.

Prof. Dr. Fernando Perli

DOURADOS
2022
O livro se trata da história da evolução da leitura, do livro (tanto na questão da produção,
direitos autorais e as novas maneiras de leitura que evolui junto a tecnologia) e os
questionamentos que o autor irá fazer a si mesmo durante a leitura. Chartier vai dar ênfase em
como a tecnologia e o homem vão mudando e com isso todo o processo de escrita e leitura
acabam tendo que evoluir e acompanhar essas mudanças, além de nos dar uma boa noção
histórica daquele momento e do nosso presente.
Em meados de 1450 a única forma de produzir textos era reescrevendo-os a mão,
processo esse que tornava os livros muito caros, porém uma nova técnica de reescrita surgiu,
baseada nos tipos de moveu e prensa, mudou a relação com a cultura da escrita.
Existe uma continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a cultura do
impresso, embora por muito tempo se acreditou numa ruptura entre uma e outra. Mesmo com
a criação dos escritos impressos, os manuscritos perduraram por muito tempo, até o século
XVIII. Para textos proibidos, cujo o conteúdo deveria permanecer em segredo, o manuscrito
era uma regra.
A impressão se impôs de maneira mais lenta pois acreditavam que essa forma de escrita
romperia com a familiaridade entre o autor e seus leitores. Os ocidentais também não
conseguiam reconhecer que a impressão não era universal pois a xilografia para os povos
orientais proporcionou um outro signo. Quando o historiador do livro olha para trás, deve-se
permanecer prudente ao definir transformações passadas. O objeto onde o livro se encontra
pode mudar a experiência do escritor e do leitor, ou seja, dependendo por qual meio se tem
acesso à leitura (texto eletrônico, livro ou papiro) a experiência muda.
O texto eletrônico permite que a edição e distribuição se tornem uma coisa só, ou seja,
um produtor de texto pode imediatamente se tornar o editor. Algo parecido ocorre no papel do
crítico pois no final do século XVII nasce a ideia de que cada leitor pode ter sua opinião própria
a respeito do livro.
‘’Afigura do “autor oral” é uma figura de longa duração.’’
No final da idade média, Chartier afirma: quando se esboça a personalidade do autor
moderno, cujo texto é, sob sua autoridade, fixado pela cópia manuscrita e depois pela edição
impressa, o “autor oral” está sempre ali. Um exemplo é Calvino, pois ele sempre mostrou
reticencias sobre a transcrição escrita e depois impressa de seus sermões.
Da Idade Média à Idade Moderna o escritor apenas transcrevia livros já existentes. Antes
do século XVII, algumas figuras da França e Itália, alguns autores viram-se dotados de tributos
que antes eram reservados os autores clássicos da tradição antiga ou aos Padres da Igreja. Para
que exista autor existem critérios a seguir. Os ingleses separam e definem esses critérios de
duas maneiras: writer, aquele que escreve alguma coisa e o author aquele cujo o próprio nome
da identidade ao texto.
No século XVI, encontramos o processo de Étienne Dolet. O fato dele ser autor de textos
que se tornaram prefácios ou prólogos de autores protestantes. Dolet foi queimado em uma
fogueira junto de seus livros. A igreja criou ferramentas para poder censurar.
Com a censura forte na França, os livros proibidos eram impressos em outras partes da
Europa e entrava de maneira clandestina na França. Com isso havia um grande lucro sobre esses
livros. Em 1750, Malesherbes foi nomeado diretor da Librairie, estabeleceu uma diferença entre
os textos de denúncia violenta da fé e da autoridade do rei (deveriam ser caçados e proibidos)
e os textos permitido que tinham autorização da monarquia impressa no livro.
Para evitar o fracasso da edição francesa, sem a autorização explícita da monarquia, ele
inventa a Autorização Tácidas que são definidas como: “isto é, um esquema de autorização
específico em nome do qual se finge acreditar que tais livros são impressos no estrangeiro e sua
distribuição permitida na França, embora sejam, de fato, livros publicados na França sob este
regime específico de autorização”.
Desse modo chega dar autorizações verbais, assegurando-se os livreiros-editores que
não serão perseguidos.
É importante afirmar que tolerância não é liberdade, não basta o autor escapar da
censura, ele precisa se apoiar em um estatuto jurídico particular que reconheça sua propriedade.
Em 1830 o editor já é aquele do qual nós estamos familiarizados, que é uma profissão
de natureza intelectual que visa buscar textos, encontrar autores, liga-los ao editor, controlar o
processo que vai da impressão da obra até a sua distribuição. Ele pode possuir uma gráfica ou
não, pois isso não o define, o mesmo vale pra ter uma livraria ou não. Eles imprimem uma
marca muito pessoal à sua empresa, seu sucesso depende de sua inventividade pessoal, as vezes
do apoio do Estado, como no caso de Hachette com livros escolares, e, outras vezes, da invenção
de novos nichos como no caso de Larousse. Do fim do século XIX até hoje, essas casas de
edição foram frequentemente marcadas por personalidades desse tipo. E até o momento, tudo
gira em torno deste empreendedor singular, que se vê também como intelectual, cuja a atividade
se faz em igualdade com a dos autores, o que acaba trazendo difíceis relações entre os mesmos.
Já o livreiro-editor do século XVI ao XVIII é definido pelo comercio. Ele vende, edita
os livros que obtém através de troca entre seus colegas. Ele possui uma gráfica ou faz com que
uma trabalhe pra ele, ou seja, através da atividade da livraria que se organiza a atividade
editorial. O que explica que algumas dessas livrarias, por proteção ou por posição tenham
dominado uma grande parte do mercado do livro. Proteção: como no caso dos Plantin, que
haviam obtido o monopólio da venda das obras ligadas a Reforma Católica que representavam
um enorme nicho para os cristãos. Posição: como os livreiros parisienses, que a monarquia
favorece a partir da metade do século XVII, esperando lealdade dos mesmos. O que deixava o
controle mais fácil devido a produção mais concentrada.
Os livreiros parisienses tinham um quase-monopólio sobre o mercado de novos
lançamentos e os privilégios concedidos para as peças de teatro, os romances, os livros da nova
ciência, em troca da fidelidade prometida ao monarca. Esses privilégios impediam que houvesse
um domínio público do livro. A atividade de livraria comandava a atividade de edição, seus
mecanismos e seus limites.
Na Inglaterra a monarquia encarregou à comunidade, à corporação dos livreiros-gráficos
de Londres. De um lado o poder de censura e exame prévio dos livros, e de outro, o controle
dos monopólios sobre as edições. Funcionava assim: um livreiro ou um gráfico londrino
adquiria um manuscrito, ele o registrava pela comunidade e, a partir desse registro, pretendia
possuir esse manuscrito de maneira perpetua e imprescritível, tendo, portanto, o direito
exclusivo de editá-lo e reeditá-lo indefinidamente. Já o sistema francês, era muito mais estatal,
já que os privilégios ou permissões de livraria são concedidos pela monarquia através do
chanceler e da administração da Libraire.
Um livreiro ou um gráfico que adquiriu um manuscrito o deposita nos escritórios do
chanceler, que o faz examinar por censores para saber se está conforme à ortodoxia política,
religiosa ou moral. Depois de solicitado, o mesmo recebe um privilegio sobre a publicação
desse título, por um prazo que pode variar entre cinco e quinze anos, em geral. Isso significa
que nenhum de seus colegas pode publicar este material. Os livreiros parisienses tem o poder
de renovar esses privilégios indefinidamente, desde que a monarquia decida isso. Como se pode
ver, o sistema inglês é comunitário, enquanto o francês é um mecanismo estatal.
Na França, muitas falsificações são feitas pelos livreiros-editores da província que se
sentem excluídos do mercado de novos lançamentos a partir da metade do século XVII, quando
se é centralizado o poder real sobre a edição. Em Lyon e em outros lugares, a falsificação se
torna uma atividade essencial para esses livreiros-editores. Esses problemas com os privilégios,
só acontecem dentro do território francês, já em outros territórios a falsificação é algo comum,
violando o privilegio de um livreiro ou gráfico. A luta é constante entre os falsificadores e
livreiros-editores parisienses, que estão geralmente na Europa do Norte em países como a
Holanda, Países Baixos, principados alemães e cidades da Suíça. Os livreiros desses países
citados anteriormente não se sentem nenhum pouco constrangidos pelos privilégios obtidos
pelos seus colegas parisienses.
A entrada desses livros falsificados no reino é proibida, mas são introduzidos no país
por diversos caminhos e através de alianças com livreiros da província que se interessam por
essas obras. Não tendo que pagar privilégios nem o manuscrito, os falsificadores podem vender
os livros a um preço mais acessíveis. É assim que, entre o século XVI e a época das Luzes, a
falsificação de livraria tornou-se, pouco a pouco, uma atividade econômica muito importante.
Em lugares onde os Estados são numerosos e pequenos, como na Itália ou na Alemanha,
a situação é mais intensa, pois, os privilégios valem apenas para uma cidade-Estado ou para um
principado, fazendo com que a falsificação seja mais presente, devido a distancia entre os que
receberam o privilégio da publicação de uma obra, e sua publicação que será feita somente em
territórios próximos. Nos anos 1780, os maiores autores alemães entram numa luta para
estabilizar um direito supraestatal que protegesse os livreiros-editores, portanto, protegesse eles
próprios, na medida que cedem seus textos àqueles que os transformam em livros.
O livreiro-editor que tinha o privilégio de impressão, também tinha o privilégio de
receber os primeiros exemplares falsificados, antes do exemplar ter saído da impressora. Já no
teatro a falsificação era feita através dos manuscritos que os espectadores produziam enquanto
assistiam a obra. Esses espectadores eram mandados pelos concorrentes daquele que detinha o
privilégio, e trabalhavam por conta própria. O autor cita Sganarelle ou le Cocu imaginaire, que
foi uma obra da qual ocorrera uma falsificação, onde o falsificador satiriza Molière (criador da
obra), no prefácio, dizendo que escreveu a obra pra um amigo e que sem querer caiu nas mãos
de livreiros-editores. Na Inglaterra, as primeiras edições de As bodas de Fígaro foram
publicadas contra a vontade de Beaumarchais (autor), que procedem de dois indivíduos que
assistiram a obra várias vezes, e o reconstruiu pela memória, notas, editando-o e pondo em
circulação.
Ben Jonson vendia suas peças para as companhias que as encenavam, além de manter e
reter a propriedade sobre seus manuscritos, assim ele mesmo negociava a venda de suas obras
para os livreiros-editores para a edição de seus escritos. Ele foi o primeiro dramaturgo a publicar
em vida uma coletânea de suas peças em grande infólio, em 1616, com o título “works”,
emprestados aos clássicos. É um gesto muito forte de autoafirmação. Talvez os autores de teatro
sofressem uma perda ainda maior que os outros, quando o texto se tornava um livro impresso.
Talvez, também, habituados a receber uma porcentagem sobre as entradas, dispusessem de uma
espécie de modelo para definir a ideia de direitos de autor proporcionais às vendas dos livros.
Era muito difícil o autor se rebelar com os livreiros, pois a existência do material do
mesmo dependia das gratificações, proteções que lhes eram dadas pelo soberano, mas também
pelos ministros, pelas elites, pelos aristocratas. Esses elementos contribuíam para que não
houvesse “brigas” entre ambos os lados. Do contrario do que a gente pensa, foram os livreiros-
editores, no século XVIII, que para defender seus privilégios, seja no sistema corporativo
inglês, seja no sistema estatal francês, inventam a ideia de autor proprietário. O interesse do
livreiro-editor, vem de que se o autor se torna proprietário, o livreiro também se torna, uma vez
que o manuscrito for cedido a ele. Isso acaba levando à invenção do direito do autor.
Tanto na Inglaterra, depois de 1709, quanto na França, depois de 1777, torna-se possível
para os autores reivindicar privilégios, com alguns se tornando seus próprios editores.
Em 1709, a monarquia inglesa quer acabar com seu sistema corporativo, fazendo isso,
iria limitar a propriedade sobre os títulos registrados pelos livreiros e gráficos, que
anteriormente possuía direito perpetuo sobre as obras que lhes foram cedidas. Na França, é
sobretudo com as discussões das assembleias revolucionarias que o Estado vai intervir na
legislação com o proposito de proteger o publico e o autor. Proteger o autor: impõe-se que a
ideia de ver composições literárias como um trabalho; a retribuição desse trabalho é, portanto
legitima, justificada. Mas, por outro lado, é preciso fazer que o público não seja lesado. Pode-
se dizer que a legislação das assembleias revolucionarias é a base para o direito moderno, que
vão se tornando mais complexas, numerosas e precisas nos séculos XIX e XX. Esse direito se
trata do reconhecimento da propriedade literária, mas que com um limite de prazo, quando
expirado o prazo a obra se torna “pública”. Quando é dito que uma obra caiu em domínio
público, significa que qualquer um pode publicá-la, enquanto antes o autor e os herdeiros eram
seus proprietários exclusivos. Esta concepção é herdeira direta da reflexão revolucionaria do
século XVIII e se opõe a todas as reinvindicações que pretendiam a imprescritibilidade e a
perpetuidade da propriedade sobre as obras.
Em resumo, o copyright não se trata mais sobre a propriedade do físico, como o livro, o
CD, entre outras mídias, mas em si, sobre o próprio texto definido de maneira mais abstrata
pela unidade e identidade de sentimentos que aí se exprimem, do estilo que tem, da
singularidade que traduz e transmite. A revolução do texto eletrônico, é nada mais que uma
desmaterialização e descorporização da obra. Os processos modernos sobre a propriedade
literária, em torno da noção de imitação, plagio, empréstimo, estão ligados a critérios que
caracterizam a obra independentemente de suas diferentes materializações e a de sua identidade
especifica.
O autor coloca em pauta todos os tipos de mídia, até mesmo as que se transformam,
como livros que se tornam CD-ROM, e CD-ROM que se tornam filmes, e que todas elas têm o
mesmo valor “artístico”, e que as categorias jurídicas também promovem esse trabalho de
desmaterialização, aplicando-se a uma realidade construída, abstrata, a uma obra que existe
como categoria, como ficção. E que o leitor pode ter um vinculo afetivo ou intelectual com uma
obra não importando o objeto e a circunstância. O trabalho consiste em constituir noções ou
conceitos capazes de englobar todas as formas para unificá-las ainda que as desmaterializando.
A obra não é jamais a mesma quando inscrita em formas distintas, ela carrega, a cada vez, um
outro significado.
O autor contemporâneo, pode pensar os seus textos hoje em dia, em uma forma mais
voltada pra multimidia, tanto cinematográfica, como televisiva. A consciência dos autores entre
o século XVI e XVIII e até mesmo o XIX, eram mais sensíveis a “tipografia”, em como os
textos iriam ficar nas formas impressas, em como queriam subvertê-la ou revolucioná-la. Pela
analogia, a “analogia multimidia” poderia se aparentar com essa tipografia, pode se pensar essa
concepção do texto que vai ser modificado e que desde o momento da sua criação, estaria aberto
a diversas formas de interpretações.
A leitura no período entre o século XVI e XVIII era bem regrada. Com exemplos vindo
do medievo, como o silêncio nas bibliotecas, espaços fechados para a leitura e inclusive a
dificuldade de acesso a esses materiais. Depois do século XVIII há mais liberdade, e o leitor
permite-se mais comportamentos e, contudo, mais liberdade.
Durante muito tempo, o leitor deveria seguir à risca o código atribuído à leitura legitima,
que era como uma espécie de etiqueta que o leitor deveria ter. Lembrando que isso não era
forçado, mas uma leitura feita de outra maneira era considerada ilegítima ou que simplesmente
o mesmo não estava lendo. Depois do século XVIII, o autor passa a se colocar numa liberdade
maior de leitura, ou seja, passa a quebrar alguns desses códigos de conduta. Com a aparição dos
jornais, fotografia e cinema, essa maneira mais informal do leitor passa a ter mais espaço. Isso
ocorre porque a leitura deixa de ser um nicho dos nobres e a população tem mais acesso a essas
mídias.
Imagens e pinturas representando o leitor completamente parado, imóvel em seus
gabinetes, passaram a ser substituídas pelos mesmos estando em movimento, andando e lendo
na cama. O que pode nos demonstrar a relevância dessa mudança de caráter desse leitor antigo.
Além de que, com as novas tecnologias o mesmo já não precisa mais do papel, e simplesmente
ele opte pela leitura na tela, e pode mudar a composição e mudar a maneira de como o texto
pode ser lido, revelando novos sentimentos durante a leitura.
O autor se preocupa com o “iletrismo” das novas gerações e como essas mudanças
tecnológicas fazem parte disso. A complexidade dessa evolução, pode e acaba afastando os
mais jovens dessa atividade. É usado como exemplo o retorno da profissão de escrevente
público, que não está mais a serviço do iletrado, mas sim dos fóruns e sociedades burocráticas.
Isso não significa que a sociedade atual é mais analfabeta e sim que interiorizam as leituras
mais complexas aos burocratas.
Os mais jovens se afastam cada vez mais das leituras. Eles leem, porém não o que é
considerado cânone escolar e não é definido como uma leitura legitima, principalmente pela
falta de cultura nas mesmas. O que vale se destacar é a falta de apoio das escolas nessa leitura,
que poderia sim atrair a atenção dos jovens e mudar a sua visão de mundo.
Seja uma visão construída com a leitura feita na escola ou uma construída fora dela,
uma cultura escrita já dominada pelo grupo social ou por uma conquista individual, que
geralmente é vivida fora do âmbito familiar, pode trazer a tona um mundo diferente para as
novas gerações.
O autor também vai tratar da Biblioteca e de sua função diante das transformações
ocorridas ao longo do processo histórico. Nesse sentido, o autor quando estabelece esse título
está fazendo referência sobre armazenamento dos textos (reunir) e divulgação (dispensar), além
de torná-los acessíveis aos leitores.
A Biblioteca universal é justamente o desejo de reunir o máximo de conhecimentos em
um espaço delimitado, ou seja, reunir o máximo de livros das mais diversas áreas de
conhecimento em um único espaço. E inclusive, essa noção vai levar ao nascimento do mito de
Alexandria, pois movida por esse desejo a biblioteca de Alexandria, chegou a possuir mais de
quinhentos mil rolos.
No entanto, nessas bibliotecas físicas é necessária sempre a existência de muitas pessoas
para fazer a triagem, gestão, organização, enfim, serviços que levem a conservação desses
livros.
Diante disso, a resposta foi procurada junto à eletrônica.
Com o texto eletrônico, tornou-se imaginável e até possível a existência da biblioteca
universal, sem que, para isso, todos os livros precisem estar reunidos em um só lugar. Evitando
também aquele trabalho manual que era um problema a que eu me referi a pouco.
Pois obviamente, com o texto eletrônico não precisara que alguém trabalhe para
conservar aquele livro, porém, falando assim, parece que isso é uma solução maravilhosa, mas
o autor traz que não é bem assim.
O autor enfatiza que nas bibliotecas pública de livre acesso, em que o leitor anda entre
as prateleiras, ele encontra muitas vezes livros que ele não estava à procura, como se os livros
o procurassem e fossem ao encontro dele; já nas bibliotecas de pesquisas só se encontra aquilo
que é procurado.
Chartier destaca também que a leitura pública supõe que a biblioteca saia dos seus
muros, no sentido de ir ao encontro dos leitores mesmo, através de ônibus-biblioteca, caixas-
estante em instituições, bibliotecas circulantes. As bibliotecas particulares, nos dias que se
passam, são cada vez mais inviáveis, pois além dessas ações citadas agora, há à publicação de
revistas, livros, artigos a todo momento na internet.
Cabe destacar, a importância do contexto para diferentes interpretações do texto. Ler
um artigo num banco de dados eletrônicos sem saber nada da revista na qual foi publicado, nem
dos artigos que o acompanham, dá uma ideia do texto; outra bem diferente tem o leitor quando
lê o artigo na própria revista em que apareceu. Nessa lógica, o sentido construído pelo leitor
depende não só do que está contido no texto do artigo, mas de elementos do contexto em que
ele foi inserido.
Com o texto eletrônico permitiu-se realizar dois sonhos antigos da humanidade: a
universalidade e a interatividade. O primeiro exemplo de busca da universalidade foi uma
realização do iluminismo: a Enciclopédia; o texto eletrônico permitiu também, pela primeira
vez, no mesmo suporte, a conservação e transmissão do texto, da imagem e do som.
E isso trouxe mudanças também nas práticas de leitura e na produção e edição de textos.
O leitor, condicionado ainda por um aparato tecnológico, precisou mudar sua forma de leitura.
Já o autor, por sua vez, pode agora tomar-se seu próprio editor e distribuidor.
O autor ressalta ainda a produção multimídia de textos e as empresas multimídia que os
controlam, onde é elaborado os produtos derivados: do livro ao filme, do filme ao CD-ROM,
do CD-ROM aos programas televisionados etc.
Chartier afirma que o texto vive uma pluralidade de existências e que a eletrônica é
apenas uma delas, mas Lebrun lembra que a relação da leitura com um texto depende não só do
texto lido, mas também do leitor, de suas competências e práticas e da forma na qual ele
encontra o texto lido ou ouvido.
Por fim, Chartier destaca que não existe livro sem o leitor.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS:
CHARTIER, Roger, 1945 A aventura do livro: do leitor ao navegador: conversações com Jean
Lebrun/Roger Chartier; tradução Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes — [São Paulo]:
Imprensa Oficial do Estado de São Paulo: Editora UNESP, {1998}.

Você também pode gostar