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Licenciatura em Património Cultural e Arqueologia

INTRODUÇÃO À HISTÓRIA CULTURAL

«Literatura de cordel»

Vasile Ioan Bilan


N:79566
19 de dezembro 2022
Capítulo VI- Textos e edições: “Literatura de cordel»

O capítulo VI corresponde a perspetiva sobre o livro «popular» no Antigo regime na


França, publicada sobe a coordenação de Roger Chartier e H.J Martin, em Paris,
Promodis no ano de 1984.

Este capítulo parte de uma abordagem introdutória do que os camponeses franceses


tinham como hábitos literários na altura, que através dos correspondentes do Abade
Gregório foi possível chegar a conclusão de que os camponeses optavam por uma
literatura Cordel (os títulos da Bibiothéque bleue).
Abade Gregório quem foi?
Henri Grégoire, também conhecido como o abade Gregório,
foi uma figura muito carismática, pois durante o Período do
terror na França, foi o abade Gregório que «lutou», através
dos seus discursos na assembleia nacional Francesa, contra
a destruição do passado Francês do Antigo regime.

(1750-1831)

Figura 1. Henri Grégoire

Bibiothéque bleue, uma forma editorial, que foi inventada em Troyes pelos Oudut no
seculo XVII. Permitia uma maior circulação de livros a baixo preço pelo Reino Francês,
eram impressos numa grande escala e eram vendidos por vendedores ambulantes esta
fórmula editorial teve o seu apogeu durante o reinado do apelidado «Rei Sol» Luís XIV.

Figura 2. Exemplo de Literatura Cordel

Huon of Bordeaux,

impresso em Troyes pela Viúva Oudot

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O corpus de Cordel
Esta formula editorial não é um fenómeno exclusivamente Francês, pois já existia na
Espanha e na Inglaterra e é também que no seculo XVII e XVIII que se começa a
observar uma maior circulação dos pequenos livros que eram destinados a um publico
mais «popular» .Na Inglaterra estes pequenos livros eram conhecidos com
Chapbooks ,também eram os vendedores ambulantes que se dedicavam a sua
venda ,eram vendidos a preços muito baixos (entre dois e quatro pence) e eram
produzidos em grande escala ,temos o exemplo do livreiro londrino Charles Tia que em
1664 tinha cerca de 1000 000 exemplares .Na Espanha estes pequenos livros eram
designados por pliegos de cordel e é só no seculo XVIII é que eles ganham a sua forma
de pequenos livros de uma ou duas folhas ,tinham uma grade difusão que era assegurada
pelos vendedores ambulantes ,que cantavam os seus textos antes de os vender .

O corpus de Troyes, na primeira Geração de estudos sobre o assunto, foi considerado


pela identificação do seu publico rural e popular. Quanto ao seu inventario de textos
observou-se estava dividido entre textos de ficção de entretimento, conhecimentos uteis
e exércitos de devoção. Os textos editados pelo Corpus de Troyes não foram escritos
com o objetivo de acabarem por ser textos editados a baixo preço e com capa azul.
A pratica dos Oudot e dos seus rivais, era pegar em textos já editados, textos que
visavam agradar ao publico alvo , dai existirem vastas coleções do repositório de Troyes
, que tem elementos de todos os géneros ,de vários períodos . Logo o repositório dos
pequenos livros de Troyes não era visto como algo «popular”, pois o repositório possui
vários textos de origens diferentes, o que visava um publico em particular. Para
demostrar como um repositório possuía textos de origens diferentes, temos o exemplo
do inventario do fundo de Etiene Garnier (família Garnier é rival a família Oudut), que
possuía cerca de 443 069 livros sendo que os livros sobre a religião representavam cerca
de (42.7%); os textos de ficção (28%); publicações para aprendizagem, (26.8%).

Textos Letrados
Os textos do corpus de Troyes, acabam por ser textos antigos com 20 ou 30 anos desde
a sua 1ªedição, já com uma grande circulação pelas cidades de Lyon ou Paris, que
acabam por ser republicados de uma forma diferente. Temos como exemplo os contos
de fada em que o corpus de Troyes acaba por procurar material literário dos anos 1690 -
1715, em circulação de edições isoladas e acabam por ser republicados, após 1730,
numa nova forma de edição.
Esta estratégia de reaproveitar edições antigas de textos irá continuar durante a
Revolução Francesa até ao seculo XIX e é graças a Madame Garnier e a Baudot que vão
entrar nas edições de Troyes, contos que foram anteriormente deixados de lado.
1 «Os livros de práticas da coleção de livros de cordel são, do mesmo modo, edições

sob uma nova forma e para um publico alargado de textos editados inicialmente para a
clientela habitual dos livreiros parisienses ou da província»

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Grande parte das rubricas do catálogo de Troyes, são rubricas criadas a partir dos textos
disponíveis no repositório, as vezes existe uma grande diferença temporal entre a 1ª
edição de um texto e a sua inclusão na coleção de livros de cordel. Os editores de
Troyes apoderam-se com uma grande facilidade dos textos cujo 1º editor já perdeu o
direito porque já se passaram 10 anos
Temos o exemplo do livro Cuisinier François, enseignat la maniére d`apprêter et
assaisonner toutes sortes de viandes grasses et maigres, legumes er pâtisseries en
perfection, etc., de la Varene. Este livro foi publicado em 1651 e o Nicola II de Oudot
acaba por se apoderar pelo título do livro em 1661, visto que passaram dez anos e o
primeiro editor (Pierre David) do livro acaba por perder o privilegio obtido por dez
anos. Foi devido aos editores de Troyes que esta obra acaba por ter uma segunda «vida»
mais duradora.

A marca dos Editores


Os livros presentes no catálogo Cordel, não são escolhidos ao acaso, há sempre uma
seleção por parte do editor, que acaba por selecionar os livros que a seu ver, a população
tem posses para comprar. Na área de ficção acabam por ser escolhidos os livros que
contem histórias, romances ou contos, aqueles que tem uma estrutura narrativa definida,
ao mesmo tempo descontinuas e repetitivas.
Os editores de Troyes acabam por aconselhar aos seus leitores textos que originam
series, quer pela sua identidade do género, quer pela sua temática, quer pela unidade de
campo de práticas em que são utilizáveis. É assim que acabam por se criar redes de
textos que acabam por se interligar entre si. O editor tem três tipos de intervenção ao
editar um livro.
1ª intervenção passa por o editor remodelar a apresentação do texto, isto é aumentar o
número de parágrafos e multiplicar o número de capítulos, sendo que ao aumentar o
número de parágrafos torna a densidade de um texto numa página muito menor.
2ª intervenção passa por ser uma redução e simplificação dos textos, os editores de
Troyes acabavam por encurtar o texto que reproduziam. era possível encurtar os textos
de duas maneiras. A primeira consistia em abreviar os episódios, as vezes ocorriam
cortes radicas nos episódios do texto. A segunda consistia em reformular as frases,
modernizar as frases, contrair certas frases, visto que como os textos eram de edições
mais antigas e as vezes de outras épocas, acabavam por ter palavras «mais difíceis» de
compreender, frases muito compridas. No âmbito de simplificar o texto era visível
também uma redução dos adjetivos e advérbios.
3ªIntrevenção era vista como um tipo de censura, já que em muitos textos onde estava
explicitas atividades sexuais ou vestígios de cultura da zona do baixo-ventre, eram
censurados. Esta censura tinha como marca uma censura religiosa. Logo se pode dizer
que os editores de Troyes acabaram por contribuir para a reforma católica, editado
textos de devoção religiosa, mas também censurando vários textos (Romances) que
retratavam sacrilégios.

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O trabalho do editor tinha como objetivo de criar um livro de cordel, com uma fórmula
mais simplificada do texto original e apagar as «impurezas» do texto original.

Uma fórmula editorial


O livro de cordel é uma fórmula editorial que organiza os seus textos com normas
tipográficas especificas. Para compreendermos melhor este tipo de livro temos de voltar
ao próprio texto antes de se tornar no produto final (Livro de cordel). Para o leitor o que
torna o livro de cordel como algo recente, não é o texto em si que é uma adaptação de
um texto antigo, mas sim a forma que o livro de cordel é impresso.
Os livros de cordel quando eram impressos não tinham uma extensão muito homogenia,
isto é, os livros da Bibliothéque bleue variam muito de um título para o outro em
número de páginas. Temos o exemplo destes dois romances («Histoire de Pierre de
Provence e Calais» «Innocence reconnue»), enquanto o romance «Histoire de Pierre de
Provence» tem 48 paginas e foi editado in-octavo (3 folhas de tipografia), o romance
«Innocence reconnue» também editado no formato in-octavo tem 80 paginas.
O que varia também muito nos livros de cordel são a colocação das imagens. Eram
colocadas ilustrações nas capas dos livros de modo a substituir as marcas dos impressos
encontrados em edições passadas. As ilustrações tinham os seus objetivos, a ilustração
servia para diminuir a parte da página onde estava o título destacada a identidade
editorial. Outro local onde eram colocadas ilustrações eram nas últimas páginas, de
modo a estabelecer uma relação entre o texto todo e a imagem, colocada uma imagem
que retrate uma pessoa no fim do texto, fornece ao leitor uma ideia da figura que o texto
deve ser compreendido. Temos o exemplo do livro «Le jargon ou Langage de l´Argot
reforme», onde a ilustração desse livro isola a personagem Grande Coesre, que da á
entender que a historia do livro se passa ao redor dele.
Outras características das edições de Troyes são a aparência e o custo dos livros. Mutos
dos livros da edição de troyes tinham uma capa de cor azul, através desta marca (a cor
azul da capa) logo os livros de capa azul eram logo associados pelo leitor ao catálogo de
troyes. Contudo os livros não eram só encadernados em papel azul, também podiam ter
outras cores, por exemplo os abecedários eram encadernados em papel vermelho, os
livros de horas na maior parte das vezes eram encadernados em carneira. Os preços dos
livros eram baixos, em 1789 foi feito um inventario a loja dos livros brochados da viúva
Garnier, através do inventario foi possível verificar que dos 199 títulos calculados ,66
deles tinham o preço inferior a 5 soldos cada dúzia, o preço desses livros aumentava
ligeiramente quando eram revendidos pelos vendedores ambulantes ou pelos livreiros,
mas mesmo assim o livro de cordel não deixa de ser extremamente barato.

Figura 3. Exemplo de livros de Cordel


encadernados em papel azul

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O papel da Viúvas
Há que exaltar o papel das Viúvas no que diz respeito na continuidade da edição destes
livros de cordel, pois após a morte dos seus maridos eram elas que continuavam o
legado dos seus falecidos maridos, temos o exemplo de Anne Havard viúva de Jaques
Oudot, Jeanne Royer viúva de Jean IV ou Elisabethe Guilleminot que foi viúva de
Pierre Garnier.

Monopólio dos Livros de Cordel


Ao longo deste trabalho referiu-se muito sobre os editores de Troyes, apesar de serem
dominantes, não são os editores de Troyes que dominam o monopólio de vendas dos
livros de Cordel, no reino da França muitos observaram o que os editores de Troyes
faziam e decidiram copiar a sua fórmula, de seguida tornaram-se concorrentes dos
editores de troyes temos o exemplo o fundo Oursel em Rouen; o fundo Behourt em
Rouen; o fundo Chalopin em Limoges, etc.
Assim foi necessário estabelecer uma partilha de zonas, cada editora tinha uma clientela
regional.

Leitores
No início da divulgação das edições de Troyes o publico é um publico mais citadino.
sobretudo um publico de paris, e não de uma forma exclusiva um publico popular, do
século XVII até ao século XIII, há uma popularização deste tipo de textos de preços
reduzidos.
Com o início da revolução francesa no ano de 1789. os correspondentes do abade
Gregório fizeram duas observações, a primeira é de que houve uma grande difusão dos
livros de cordel por todo o reino francês e a segunda é que, apesar de haver uma grande
difusão dos livros de cordel, a maioria da população só tinha livros de cordel com temas
como romance, ficção, contos e histórias.
Esta popularização dos livros de cordel foi possível através dos vendedores ambulantes
,que iam a troyes abastecerem-se de livros de cordel ,porem nem todos os revendedores
de livros se abasteciam em Troyes (outros iam a Besaçon e a Dole) e nem todos os
revendedores são vendedores ambulantes .há vendedores que são livreiros ,outros são
comerciantes ,temos o exemplo de um comerciante Jacques Considérant , vendia ferro-
velho em Salins e também vendia livros .Num inventario feito ao seu estabelecimento
encontraram 180 brochuras de livros de cordel .

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Em suma
A venda dos livros de cordel ao publico geral é feita por revendedores ,que
podem ser vendedores ambulantes ou também comerciantes ,estes livros
tem uma dimensão reduzida e tem um preço acessível para a população em
geral .Desde 1660 até 1780 houve uma grande evolução, podemos dizer
que os Livros de cordel passaram a fazer parte da cultura Francesa

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