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REDAÇÃO 15

PRODUÇÃO DE TEXTO

N
este módulo, iniciaremos a estrutura da Dissertação. No entanto, antes de iniciar-
mos este assunto, vamos lembrar das ações essenciais para a produção de um bom
texto.

1º. LER
LEITURAS ORIENTADAS

Após o conhecimento dos itens que formas para sobreviver. ra que se estabelece de indivíduo
podem garantir a elaboração de textos A primeira editora sobre cuja ati- para indivíduo e que, apenas em al-
bem escritos, sugerimos exercícios com vidade se tem notícias, através das car- guma época e em algum momento,
leituras orientadoras, que devem prece- tas de Cícero, é a fundada em Roma, pode ver-se amplificada em comu-
der ao ato de produção de textos. En- por volta do ano 50 antes de Cristo, nicação maciça. Saber que Petrarca
tende-se por leituras orientadas aquelas por Tito Pomponio Actico, para a di- e Boccaccio trocaram entre si per-
que, pertencendo a um mesmo campo fusão dos clássicos gregos e das novi- gaminhos, em que haviam copiado,
do conhecimento humano, fornecem dades latinas; estava organizada de de seu próprio punho e letra e com
subsídios para o leitor desenvolver seu forma não muito diferente das edito- fina elegância, suas próprias obras
texto e, por outro lado, apresentam vi- ras de nossos dias, exceto que, em lu- ou as de Dante, dá-me a convecção
sões diferentes criadas por seus autores. gar dos tipógrafos, se utilizava um de que períodos de esplendor para
Ao lê-las, o estudante estará recebendo grande número de escribas. a literatura podem surgir sejam quais
informações, que poderão ser refutadas, Por certo que, então, o número forem as condições exteriores.
criticadas ou enriquecidas com sua argu- de leitores não era o das tiragens dos Sabemos que a forma dos livros
mentação crítica, baseada em conheci- “best-sellers” de hoje, mas, se pensar- mudou muitas vezes na história e
mentos prévios sobre o assunto. mos que tantos livros fundamentais que, seguramente, continuará mu-
Assim, não se faz necessário o recur- têm, ainda em nossos dias, uma circu- dando. Claro que isto não me ale-
so às “fórmulas mágicas” e “aos macetes”, lação limitada, damo-nos conta de que, gra, porque me atraem os livros tam-
pois, como já ficou demonstrado, ler e ainda na comparação numérica, há bém como objetos, na forma que
escrever constituem os dois lados de certa similitude. O importante é que têm hoje, se bem que seja cada vez
uma mesma moeda. o fio que corre através da escritura na mais raro ver edições que expressem
se interrompa. Pensar que, também o amor pelo livro-objeto, que, para
EXERCÍCIOS SOBRE RELAÇÕES durante os séculos de ferro e fogo acompanhar nossa vida, deveria ser
INTERTEXTUAIS do período medieval, os livros tenham feito segundo as regras da arte.
encontrado nos conventos um espa- É claro que mudarão muitas coi-
A necessidade-prazer da leitura ço onde conservar-se e multiplicar-se sas, se é certo que, com as processa-
Agora talvez devesse ocupar-me de me reconforta, por um lado, e me pre- doras de palavras, nossos livros se-
uma pergunta que hoje é feita com mui- ocupa, por outro. Poderia inclusive rão compostos por nossas próprias
ta freqüência, quando se fala dos livros ocorrer-me a idéia de nos retirarmos mãos, sem necessidade de passar
como de algo que sempre existiu e que to do s em con ve ntos dotados de pela tipografia. Assim, como muda-
sempre existirá: mas que segurança exis- todo conforto, abandonando as me- rão as bibliotecas, que talvez ve-
te de que o livro tenha um futuro pela trópoles às invasões bárbaras dos ví- nham conter apenas microfilmes.
frente? Que sobreviva à concorrência deo-casetes; mas sentiria pelo resto Isto me entristece um pouco por-
dos meios de comunicação eletrônicos? do mundo, que ficaria sem livros, pri- que deixamos de ouvir o agradável
Como se transformará e em que se con- vado de seu silêncio cheio de sussur- ruído das páginas.
verterá o escritor? ros, de sua calma reconfortante ou de Mudará o nosso modo de ler?
E, aí, minha resposta só pode ser sua inquietude sutil. Pode ser sim, mas não podemos pre-
uma: de fidelidade ao livro, aconteça o Há uma continuidade na solidão ver de que maneira. Podemos dizer
que acontecer. Ponhamo-nos na pers- que o escritor arrasta atrás de si como que temos um testemunho direto
pectiva dos séculos. um destino inerente a sua vocação, de uma revolução importante no
Os livros circularam por muitos sécu- mas desta solidão assoma uma vonta- modo de ler ocorrida no passado,
los antes da invenção de Gutemberg, e, de e uma capacidade de comunicação: porque Santo Agostinho nos con-
nos séculos futuros, encontrarão novas esta comunicação especial da literatu- tou com estupor o momento em

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que se deu conta do acontecimen- que é errado o critério de considerar que ela tem um ritmo que é governado
to. Indo ao encontro de Santo com desprezo as novidades tecnológi- pela vontade do leitor; a leitura abre espa-
Ambrósio, Agostinho soube que o cas, em nome de valores humanísticos ços de interrogação, de meditação e de
Bispo de Milão estava lendo, mas em perigo. Penso que cada novo meio exame, isto é, de liberdade; a leitura é uma
de um modo que ele não havia vis- de comunicação e difusão das palavras, correspondência não só com o livro, mas
to antes: silenciosamente, só com das imagens e dos sons pode propiciar também com nosso mundo interior, atra-
os olhos e com a mente, sem emi- novos desenvolvimentos criativos, no- vés do mundo que o livro nos abre.
tir som algum, sem sequer mover vas formas de expressão. E creio que Pode ser que o tempo que poderia
os lábios. Agostinho havia passado uma sociedade mais avançada tecnolo- ser destinado à leitura seja cada vez mais
por escolas importantes e ambien- gicamente poderá ser mais rica em es- ocupado por outras coisas; isto é certo já
tais de estudo, mas nunca havia sus- tímulos, em escolhas, em possibilida- hoje, mas era ainda mais certo no passado
peitado que se pudesse ler como des, e haja cada vez mais necessidade para a maior parte dos seres humanos. De
o fazia Ambrósio, sem pronunciar de ler, de coisas para ler e de pessoas qualquer forma, quem tenha necessida-
as palavras. que leiam. de de ler, quem tenha o prazer de ler (e
E pode ser que, no futuro, ve- Tenho certeza de que a leitura não ler é, sem dúvida, uma necessidade-prazer),
nha a haver outros modos de lei- é comparável a nenhum outro meio de continuará recorrendo aos livros, aos do
tura de que não suspeitamos. Creio aprendizagem e de comunicação, por- passado e aos do futuro.

(Ítalo Calvino. In: Leia. Fevereiro de 1986, p.13.)

2º. INTERPRETAR
01. De forma resumida indique o núcleo temático do texto.

02. O texto levanta a questão da possibilidade de continuidade do livro em nossa futura sociedade. Qual a opinião do
autor e qual a sua argumentação?

03. Contrariando opinião muito divulgada, para Calvino as novas tecnologias não destruirão a escrita, embora possam
mudá-la. Justifique.

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3º. PENSAR SOBRE O USO DA LÍNGUA PORTUGUESA

PEGADINHA VERBAL
Quando você quiser deixar PROF. SÉRGIO NOGUEIRA
boa impressão com o uso das
palavras, é melhor que esteja
prevenido. O português, muitas
vezes, nos prega peças. Pegadinha
Verbal mostra alguns dos enganos
mais freqüentes do nosso idioma.

ERRADO: “Saiu a convocação da nossa seleção de so do lado de fora”, “Ele é o protagonista secundário
júniors.” desta história”, “Aqui está o segundo protótipo”, “O
anexo segue em separado”, “Me inclua fora disso”,
CERTO: “Saiu a convocação da nossa seleção de juni- “Havia duas lésbicas e um homossexual”, “Uma vítima
ores.” fatal foi o saldo do acidente”.
Segundo a gramática da língua portuguesa, as pala-
vras terminadas em r fazem o plural com es: repórte- A PEGADINHA: Com muita freqüência, ouvimos nos-
res, revólveres, mártires, flores, açúcares. É como en- sos locutores esportivos dizerem que o time, após so-
sinou Pasquale Cipro Neto, o professor que deu sabor frer um gol, deverá correr atrás do prejuízo. Eu, par-
especial ao Big Mac: o plural de hambúrguer é ham- ticularmente, jamais correria atrás do prejuízo. Pre-
búrgueres, pois a palavra já está devidamente aportu- firo fugir do prejuízo. Mas, como todo chavão espor-
guesada. Deve, por isso, seguir as normas gramati- tivo, correr atrás do prejuízo é mais um que veio e
cais da língua portuguesa. ficou. Espero que por pouco tempo. Já estamos can-
Para quem acha a pronúncia juniores esquisita ou feia, sados de tantos “monstros sagrados”, “lutas do sécu-
o melhor é construir a frase de modo a evitar o plural: lo” e do duvidoso “administrar o resultado”.
“Saiu a convocação da nossa seleção de futebol jú-
nior” ou “categoria júnior”. ERRADO: “Na última novela, seu personagem era um
alcólatra.”
A PEGADINHA: Responda rápido: qual é o plural de
sênior? Como foi explicado acima, segundo as regras CERTO: “Na última novela seu personagem era um al-
da língua portuguesa, o certo é seniores. Sênior é uma coólatra.”
palavra de origem latina, da qual se derivam senhor, A palavra alcoólatra é composta por aglutinação híbri-
senil e senador. Curiosidade: todo senador romano da: álcool, do árabe, e latria (= adoração); do grego.
devia ter “idade avançada”, o que significava conheci- Embora alguns pronunciem como se houvesse ape-
mento e experiência. Já a túnica branca representava nas uma vogal o, o certo é pronunciar e escrever oo:
a pureza, daí a palavra candidato, derivada de cândido. alcoólatra.
Graças a Deus, o ideal romano está vivo entre nós até
hoje! A PEGADINHA: Certa vez li numa placa na cidade de
Piracicaba, interior de São Paulo: Alcóolicos Anôni-
ERRADO: “Tiramos a despesa e, depois, dividimos o mos. Pela posição do acento agudo, era bastante alto
lucro em três metades.” o teor alcoólico de quem escreveu a placa.
CERTO: “Tiramos a despesa e, depois, dividimos o lu-
cro em três partes.” ERRADO: “É grande o tráfico aéreo sobre Congonhas.”

Não existem três metades. Metades são sempre duas. CERTO: “É grande o tráfego aéreo sobre Congonhas.”..
No ano passado, o repórter de um bom telejornal nos Tráfico se refere sempre a comércio ilegal. Já ouvi-
disse que havia um pedaço de terra dividindo o Mar mos falar de tráfico de drogas, de crianças, de mulhe-
Morto em duas metades. Isso é pleonasmo. Dividir em res, de escravos, de influência... Em relação a trânsi-
metades iguais também é redundante. “Dividir uma cir- to, a movimento, devemos usar tráfego. Grandes “en-
cunferência em duas metades iguais é a redundância garrafamentos” ocorrem em cidades, como São Pau-
da redundância. E pedir a metade maior é incoerente, lo, onde o tráfego é intenso.
é “coisa de criança”.
Frases incoerentes não faltam em nossos meios de A PEGADINHA: Aqui vai um teste para os cariocas
comunicação. Observe alguns exemplos: “Estou pre- que conhecem bem a Rua São Clemente no bairro de

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Botafogo. Responda rápido: “São Clemente é uma rua Há muitos erros quanto ao uso da vogal i.
de muito tráfego ou de muito tráfico?” Se você res- Observe alguns casos: O certo é manteigueira, e não
pondeu “depende”, parabéns. “mantegueira”; aleijado, e não “alejado”; bandeja, e
não “bandeija”, beneficente, e não “beneficiente”, ca-
ERRADO: “Ela foi no cabelereiro.” ranguejo, e não “carangueijo”; freada, e não “freia-
da”; prazerosamente, e não “prazeirosamente”; pri-
CERTO: “Ela foi ao cabeleireiro.” vilégio, e não “previlégio”, verossimilhança, e não
Já vimos que quem vai vai a algum lugar. A regência do “verossemelhança”.
verbo ir exige a preposição a, e não a preposição em.
Portanto, ninguém vai “em Brasília”, “na praia” ou “no A PEGADINHA: “Meritíssimo juiz” é a forma correta.
banheiro”. Meritíssimo é uma palavra derivada de mérito. “Mere-
O certo é irmos “a Brasília”, “à praia” ou “ao banheiro”. tíssimo”, portanto; está errado.
Outro erro é cabelereiro. O certo é cabeleireiro, pa- Pior mesmo é dirigir-se ao juiz e chamá-lo de “mere-
lavra derivada de cabeleira. tríssimo”. O juiz é capaz de não gostar e dizer que
“meretríssima” é a mãe.

Bem, ao terminar este processo, vamos ler o texto “Poética” de Vinícius de Moraes e acompanhar a interpretação
de Dilson Catarino.

Poética, de Vinícius de Moraes.

POÉTICA
De manhã escureço
De dia tarde
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem


Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço
- Meu tempo é quando.

Análise Por Dílson Catarino


Na primeira estrofe, o poeta estabeleceu uma conexão estar aceso). É a ambigüidade da vida: no início, a inexpe-
lógica entre os espaços de tempo que instituem o dia (ma- riência marca nosso viver; na adolescência, a ignorância,
nhã, tarde, dia e noite), a fim de caracterizar a passagem ou seja, o início do aprendizado; na fase adulta, a sabedo-
do tempo. Trabalhou com a antítese, demonstrando que a ria, a habilidade, a prática da vida.
seqüência temporal que forma a vida é cheia de contras- Já na segunda estrofe, o poeta trabalhou com os pon-
tes, de negação: manhã x escureço, talvez por interpre- tos cardeais, elementos fixos, contrastando com a dinami-
tar manhã como o início, a inexperiência; tarde x anoite- cidade do tempo (tempo = dinâmico x espaço = fixo).
ço, talvez por interpretar anoiteço, como cobrir de tre- Ao dizer O este é meu norte, empregou o verbo nortear,
vas (um dos significados, figurado, de trevas é estupi- cujo significado é dirigir, orientar, guiar, então ele diz
dez, ignorância); noite x ardo (perceba que arder, além que se guiava pelo este (leste), local em que o Sol nasce,
de significar consumir-se em chamas, também significa ou onde está o oceano, que representa a saída para a Eu-

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ropa, o berço da civilização e da cultura (Vinícius viveu seis va com o espaço em se encontrava. O que importa é viver o
anos na Inglaterra). presente, independentemente do lugar em que se encontra.
A oeste a morte contra quem vivo: O oeste, onde o Meu tempo é quando pode representar o eterno, ou
sol se põe, representa o fim, a morte, contra a qual ele seja, também não importa a época em que se vive. O que
vivia, ou seja, não desejava a morte, diferentemente dos importa é viver, enfrentando as vicissitudes, as contradi-
poetas românticos e simbolistas. ções, as negações que se nos apresentam durante a vida.
Do sul cativo pode significar que ele se sentia seduzi-
Como se trata de análise de texto, evidentemente há
do pelo sul, talvez pelo hemisfério sul, onde se situa o
Brasil. várias maneiras de se interpretar o que o autor escreveu. A
Outros que contem passo por passo, ou seja, os intenção da Gramática On-line é promover a discussão
outros é que possuem a responsabilidade de se preocupar acerca de textos variados, é levar o internauta a raciocinar
com a sucessão de dias; a ele cabia o ato de renovar-se sobre diversos pensamentos de autores diferentes. Em
constantemente (Eu morro ontem / Nasço amanhã), sem nenhum momento, intencionou-se apresentar a interpreta-
se inquietar com os acontecimentos cotidianos. ção oficial do texto. Cada um tem sua própria maneira de
Ando onde há espaço, ou seja, ele não se preocupa- ‘enxergar’ as mensagens pretendidas pelo autor.

DISSERTAÇÃO

RACISMO E IDENTIDADE NACIONAL: PARADOXOS E UTOPIAS


(Giralda Seyferth) Departamento de Antropologia – Museu Nacional / UFRJ

Mestiçagem e imigração tencimento nacional, uma vez que as ideologias na-


cionalistas costumam dar um sentido primordial à
O termo minoria supõe grupo organizado e, na idéia de nacionalidade. Existe, pois, uma semelhan-
maior parte dos casos, uma organização de nature- ça entre a natureza étnica e a nacional que, no caso
za étnica. Assim, as minorias podem ser definidas brasileiro, levou à condenação explícita de qualquer
por si mesmas, construindo limites que refletem o identidade respaldada na noção da etnicidade.
reconhecimento de seus membros como perten- Apesar das diversas correntes nacionalistas que
centes a uma unidade, e pelos outros, que impõem se desenvolveram no Brasil após a independência,
sua exclusão de certas áreas da vida social. a tendência predominante no pensamento brasi-
leira privilegiou o ideário das três raças formadoras
o colonizador português, o escravo negro e o indí-
gena – e da mestiçagem étnica e cultural como base
da formação nacional, que resultou na concepção
de uma sociedade racialmente democrática. Esse
ideário foi uma resposta aos imperativos de uma
concepção homogênea de nação, que implicava o
futuro brasileiro unívoco, superando as diversida-
des étnicas através da assimilação e da mestiçagem.
A assimilação dos alienígenas é um tema recor-
rente nos discursos nacionalistas sobre a questão
imigratória desde meados do século XIX, quando se
estruturou uma política consistente de colonização
com imigrantes europeus. Até a década de 40 o Bra-
A resposta mais comum a essa exclusão (que cos- sil recebeu quase 5 milhões de imigrantes. Mais de
tuma envolver questões de cidadania) é a mobiliza- dois terços deles vieram da Itália, Portugal e Espa-
ção em defesa de interesses próprios e a constru- nha, mas os japoneses, alemães, russos, poloneses,
ção de limites inclusivos, cujas bases são, em geral, austríacos e sírio-libaneses também aparecem com
crenças sobre nacionalidade comum, mesma etnia destaque nas estatísticas oficiais. Com raras exce-
ou religião. ções (a presença de japoneses em projetos de colo-
Tais limites apontam para a formulação de iden- nização no Pará e de sírio-libaneses em diversas ci-
tidades fundamentadas na noção de pertencimen- dades do Norte e Nordeste), esses imigrantes se es-
to a um grupo étnico e significam a classificação dos tabeleceram no Sul e no Sudeste do país.
membros do grupo, a partir de critérios que enfati- Por muito tempo, apesar da naturalização geral
zam características culturais, objetivamente identi- concedida pela primeira Constituição republicana,
ficáveis, assim como elementos de natureza simbó- a maior parte dessa população de imigrantes ficou
lica, que remetem a uma origem comum. à margem da cidadania.
A crença no parentesco étnico e em um proces- Mesmo assim, o conceito de minoria nunca es-
so histórico compartilhado, elementos que emba- teve presente nas discussões públicas sobre os pro-
sam a construção de limites inclusivos de pertenci- blemas de assimilação, porque a sociedade nunca
mento étnico, se aproxima das concepções de per- admitiu a existência de minorias no Brasil.

In: Revista de divulgação científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, vol. 1, n° 109, maio 1995. p. 41.

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20 REDAÇÃO

ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Uma dissertação geralmente se divide em três partes:

01. Releia o primeiro parágrafo do texto e aponte: 1. introdução;


2. desenvolvimento;
a) qual é o pressuposto de que parte a autora para 3. conclusão.
definir “minoria”;
A introdução
b) quais são os limites sociais impostos às minorias. É onde se anuncia o assunto.

A introdução encerra, implicitamente, toda a


02. Exclusão é o antônimo de inclusão. De que forma as exposição. A introdução é o espaço onde se anun-
minorias reagem à exclusão social? cia, se coloca, se promete, se desperta...

BOAVENTURA, Edvaldo. Como ordenar as idéias. São Paulo,


Ática; 1988. p. 11.

São requisitos importantes de uma introdução:


03. Verifique, no terceiro parágrafo, alguns critérios de “in-
 Definir a questão, situando o problema.
clusão” adotados pelas minorias para formular as suas
O termo minoria supõe grupo organizado e, na
identidades.
maior parte dos casos, uma organização de nature-
za étnica.
 Indicar o caminho a seguir.
Assim, as minorias podem ser definidas por si mes-
04. Segundo o texto, o pertencimento étnico aproxima-se mas, construindo limites (...), e pelos outros, que
do pertencimento nacional. Por quê? impõem sua exclusão de certas áreas da vida social.
Indicar o caminho a seguir também é fundamen-
tar o assunto com alguma teoria, modelo ou raciocí-
nio e fornecer idéias diretrizes.
A resposta mais comum a essa exclusão (que costu-
05. Qual é a tendência predominante no pensamento bra- ma envolver questões de cidadania) é a mobilização...
sileiro sobre a nossa formação étnica? Como se cos- Tais limites apontam para a formulação de identi-
tuma analisar essa formação? dades...

O desenvolvimento
O desenvolvimento é a análise da introdução, e é
06. Você concorda com a análise mencionada no exercí- ancorado pela argumentação.
cio anterior? Nessa parte da dissertação, cabe defender a idéia
proposta na introdução. Devem ser apontadas semelhan-
ças de idéias, divergências, devem ser feitas comparações,
ligações, buscas, enfim, comprovações da idéia inicial.
Note como a autora realiza a análise da introdução no
07. Apesar do discurso nacionalista de assimilação alieníge- texto Mestiçagem e imigração:
na, qual foi, segundo o texto, a reação dos imigrantes a) aproxima o “pertencimento étnico” do “pertencimen-
europeus que passaram a ocupar terras no Brasil a partir to nacional”;
da política de imigração do século passado? Explique. b) privilegia o caso brasileiro em sua exemplificação;
c) esmiúça o caso brasileiro, aprofundando-se na aná-
lise da emigração nos anos 40.

08. Qual foi a postura da sociedade brasileira quanto à A conclusão


existência de minorias no Brasil?
O encerramento de uma dissertação deve ser breve e
marcante.

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REDAÇÃO 21

A brevidade no concluir exige fórmulas precisas que


começam com:
É assim que... Em suma...
Vê-se por isso que... Resumindo tudo...
Pode-se dizer que... Todos concordam...
Em poucas palavras... Somos de opinião...
Ninguém negará que... Em conclusão...
Para terminar... Em resumo...
Por fim... Em conseqüência...
Concluímos que... Parece que há interesse...

Não basta que a conclusão tenha os argumentos maci-


ços; é preciso saber nela plantar o ponto de vista.

BOAVENTURA, Edvaldo. Op. cit. p. 45.

Exercícios e propostas de produção textual


Acompanhe os dois textos sobre televisão, a seguir, e responda às questões propostas.

TEXTO 1 (...) A televisão, pelo contrário, faz irrupção; ela


“explode” em casa de todos os que – única condi-
A televisão transforma, desfaz e cria hábitos. Os ção – dispõem dum aparelho e dos quais se requer,
arquitetos já precisam prever, em seus projetos, um não uma iniciação como nu comunicação escrita,
espaço especial para os receptores de TV. A classe mas tão-só a “iniciativa”, caso mesmo seja, de girar
média se orgulha de exibir seus aparelhos, a alta um botão.
burguesia e a possível aristocracia os escondem: a Neste terceiro nível, recente, da comunicação,
escolaridade é inversamente proporcional à televi- as mensagens já não têm verdadeiro destinatário; o
sualidade... Os espetáculos e os eventos são monta- par autor-leitor se dissolve. A ele se substituem (ha-
dos tendo em vista o olho grande da TV: este foi um veria ainda como falar em par?) dum lado a emisso-
dos ponderáveis motivos por que os imponentes ra, geralmente monopolista, do outro o público,
espetáculos dos funerais dos papas Paulo VI e João tão acertadamente dito: público-alvejado. Ao con-
Paulo I e da sagração desse último foram montados trário das mensagens escritas, cuja distribuição se
na Praça de São Pedro e não no interior da basílica... vincula ao palmilhar relativamente lento das mensa-
E seria um não mais acabar de exemplos e conside- gens-objetos que são os livros e outros impressos, a
rações, sendo suficiente que se diga, enfim, que a televisão difunde maciçamente, instantaneamente,
própria noção de cultura não pode hoje ser debati- em toda a parte, franqueando fronteiras nacionais
da sem levar-se em conta a presença dos mass me- e fronteiras lingüísticas.
dia – a televisão, em especial. (...)
Mas é por outro ponto que eu desejaria chamar
PIGNATARI, Décio. Signagem da televisão. São Paulo, Brasilien- a atenção. De fato, pela vez primeira, difundem-se
se, 1984.
mensagens maciçamente sem que haja sido previs-
TEXTO 2 ta e organizada uma verdadeira formação crítica dos
receptores, como aquela que a sociedade instituiu
para a cultura livresca por meio da organização es-
colar.

BERGER, René. A telefissão alerta à televisão. São Paulo,


Loyola, 1 979. p. 15.

01. Destaque a introdução, o desenvolvimento e a conclu-


são nos textos I e II.

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22 REDAÇÃO

02. Aponte nos textos como foi feita a definição do assunto levará um jovem a atear fogo em um índio inofensi-
e como os autores indicaram caminhos. vo ou em um mendigo indefeso?
Já as cenas de sexo, sem a orientação devida,
levam os jovens iniciantes à busca desses prazeres
desconhecidos de forma equivocada, como indu-
zem os falsos ídolos. Desse modo, um poderoso
meio de comunicação que, se usado de forma res-
ponsável, pode ser a grande arma de educação e
libertação de um povo, desvirtuando essas patrióti-
cas finalidades termina sendo um instrumento de
banalização de violência e de estímulo à ignorância.

03. Como são os encerramentos? Você os considera mar- NÃO:


CARLOS LOMBARDI, Autor de novelas.
cantes?
A televisão influencia as crianças, como o céu
azul ou os hambúrgueres. São realidades, dados que
as crianças encontram no mundo ao nascer (a não
ser que sejam membros duma comunidade amish,
coisa que muita gente veio a conhecer depois de
assistir A testemunha na tevê). Seus pais assistem,
seus colegas assistem, seus professores assistem. Uma
situação importante de uma telenovela é discutida
com a mesma intensidade que uma decisão do Cam-
04. Monte um texto dissertativo em quê você mescle os peonato Nacional ou o destino do Rei Leão: Até aí,
pensamentos de Pignatari e de Berger. Você pode in- quase todo mundo concorda. O que ainda provoca
debate é a chamada influência perniciosa da televi-
cluir outros raciocínios sobre o tema “televisão” em seu são. São comuns as acusações de que a novela prega
texto. maus exemplos mostrando famílias em crise, filhos
desrespeitando autoridade paterna etc. O mesmo
tipo de acusação que envolveu a indústria dos qua-
drinhos americanos na década de 50 e os folhetins
de Charles Dickens no século passado.
05. POLÊMICA: Com certeza, o buraco é mais embaixo. A televi-
são não é perfeita. A erotização infantil através das
Você acha que as novelas prejudi- horríveis danças das garrafas é nefasta. Deve ser
combatida pelos pais, junto a seus filhos.
cam a formação das crianças? – Mas, na média, a tevê resume os valores apro-
vados pela sociedade do seu tempo.
SIM: – O desaparecimento do mal, a apresentação
de uma vida pela televisão onde tudo é harmonia,
SIRO DARLAN DE OLIVEIRA, Juiz da 1ª Vara da Infância
onde não existem ameaças nem sofrimento podem
e da Juventude.
causar tanto uma televisão sem graça como prepa-
rar erradamente uma criança. É ingênuo pensar que
A importância que os meios de comunicação
a televisão pode abrir mentes ou fechá-las entupin-
de massa adquirem na educação e formação de
do as pobres criancinhas com valores horrendos. A
opinião pública é cada dia maior. O legislador preo-
televisão tem muito poder – mas o limite desse po-
cupado com essa influência na formação das crian-
der sobre qualquer criança depende dos pais, que
ças recomenda que as emissoras de rádio e televi-
não podem se esquivar da função de ensinarem o
são somente exibam ao público infanto-juvenil pro-
que acreditam ser o certo e o errado.
gramas com finalidades educacionais, artísticas, cul-
turais e informativas (art. 76 do Estatuto da Criança e
do Adolescente). Não tem sido esse, contudo, o con- IstoÉ, n° 1444, 4 jun. 1997.
teúdo dos programas de televisão, sobretudo as
novelas e seriados, que têm abusado de temas que a) Reúna-se com alguns colegas para discutir o tema
desconsideram tais recomendações. que leva Siro Darlan de Oliveira a argumentar contra
A banalização das cenas de violência e sexo tem
conduzido os telespectadores-mirins a buscarem na
as novelas e Carlos Lombardi a favor:
vida real a imitação dos roteiros produzidos para b) O grupo deve eleger um responsável por mediar essa
seus ídolos televisivos. É comum ver crianças que discussão, dirigindo o debate.
nem sequer andam ou falam com perfeição posi- c) Outro membro do grupo deve tomar nota de tudo o
cionando-se como tais personagens. As cenas de
violência e crime praticados pelos personagens de
que for argumentado.
seriados de televisão, muitas vezes com final feliz, d) Produzam textos argumentativos a partir dessas
para esses agentes criminosos, têm estimulado a vi- anotações.
olência, sobretudo nas crianças e nos jovens. O que

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REDAÇÃO 23

ALUNO(A):
Nº:
SÉRIE: TURMA: DATA: / /

TEMA:

01.
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24 REDAÇÃO

A dissertação consiste na ordenação de um assun- FRASE E ESTRUTURA FRASAL


to sobre tema escolhido, selecionando dados e expondo
idéias. Estrutura frasal
Os requisitos para uma boa dissertação são:
Numa redação, seja descritiva, narrativa ou dissertati-
 Sistematizar os dados reunidos; va, a estrutura frasal é o ponto-chave de feição estilística.
 Ordená-los; Não se pode prescindir de uma correta elaboração, em
 Interpretá-los coerentemente. termos de estrutura sintática e sua correlação lógica co o
estilo, sem que o contexto apresente clareza, concisão e
Dependendo da eleição do autor e da natureza do tema, harmonia.
a dissertação pode ser exposta ou polêmica.
Sua estrutura básica é:
Conceito de frase
INTRODUÇÃO: Frase é, pois, “todo enunciado suficiente por si mes-
a) Apresentação do assunto proposto. mo para estabelecer comunicação”.1
b) Frase-ponte (de ligação).
Oração
DESENVOLVIMENTO: A oração encerra uma frase (ou segmento de frase),
várias frases ou um período, completando um pensamento
a) Elemento relacionador + pró (ou contra) + justifi- e concluindo o enunciado através de ponto final, interroga-
cativa. ção, exclamação e, em alguns casos, através de reticências.
b) Elemento relacionador + pró (ou contra) + justifi-
cativa.
c) Elemento relacionador + pró (ou contra) + justifi-
Tipos de frase
cativa. CLASSIFICAÇÃO TRADICIONAL
d) Frase-ponte (de separação).
e) Elemento relacionador + contra (ou pró) + justifi- Tradicionalmente, as frases são classificadas da se-
cativa. guinte forma:
f) Elemento relacionador + contra (ou pró) + justifi- Frase Interrogativa
cativa.
g) Elemento relacionador + contra (ou pró) + justifi- É aquela, através da qual, se pergunta algo, direta ou
cativa. indiretamente.
 Frase Interrogativa Direta
Com ponto de interrogação.
CONCLUSÃO :
Exemplos:
a) Frase-ponte (de ligação). Que horas são?
b) Conclusão propriamente dita. Por que chegaste tão tarde?
Como vais?

 Frase Interrogativa Indireta


Sem ponto de interrogação.
1. Para maior funcionalidade, não se devem misturar, Exemplos:
indiscriminadamente, os prós e os contras. Primei- Gostaria de saber que horas são.
ro, expõem-se todos os prós e, depois, todos os Perguntou-me quando vinha.
contras (ou vice-versa).
2. A técnica dissertativa é a empregada nos trabalhos Frase Declarativa
científicos, ensaios, reportagens, editoriais. É aquela, através da qual, se enuncia algo, de forma
afirmativa ou negativa.

Para a melhor produção dos parágrafos pertencentes  Frase Declarativa Afirmativa


a estrutura da dissertação, vamos rever:
Exemplos:
 FRASE Deus é bom.
 PARÁGRAFO Paulo parece inteligente.
1.
GARCIA, Othon M. op. cit., p.7.

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REDAÇÃO 25

 Frase Declarativa Negativa CLASSIFICAÇÃO DO PROFESSOR OTHON


Exemplos: M. GARCIA
Não gosto de pessoas mal-educadas
Nunca te esquecerei. No livro do prof. Othon Garcia Comunicação em prosa
moderna, as frases são classificadas, fugindo às conside-
Frase Imperativa rações tradicionais. Assim nos deparamos com uma ter-
minologia inusitada e criativa: frase de situação, frase no-
É aquela, através da qual, expressamos uma ordem, minal, frase de arrastão, frase entrecortada, frase de lada-
pedido ou súplica de forma afirmativa ou negativa. inha, frase labiríntica, frase fragmentária, frase caótica e
Exemplos: frase parentética.
Tende piedade de nós! (afirmativa) São padrões válidos na linguagem moderna, embora
Levanta-te! (afirmativa) nem sempre passíveis de uma classificação sintática.
Não corra, não mate, não morra. (negativa) Sua função restringe-se à feição estilística, e, se mal
Não cometa imprudências. (negativa) empregadas, poderão até vulgarizar o estilo. O uso
dessas frases é recomendado a quem realmente exer-
Frase Optativa cida a língua com facilidade.

É aquela, através da qual, se exprime um desejo.


Frase de Situação
Exemplos:
Desejo que sejas muito feliz. Nem sempre, no contexto da língua escrita ou na lín-
Bons ventos te levem! gua falada, os termos essenciais da oração estão presen-
tes. Quando isso acontece, diz-se que estamos frente a
Frase Exclamativa uma frase de situação.

É aquela, através da qual, externamos uma admiração. Exemplos:


Que calor!
Exemplos: Contramão.
Que calor! Que susto!
Bem feito! Ótimo!

Expressões como essas são integralmente gramati-


calizadas (Esta rua é contramão), baseadas no ambiente
Para fins de reconhecimento, é didaticamente acon- onde são emitidas e, só assim, assumem feição de frase
selhável, na classificação das frases, seguir a ordem (aspecto sintático).
em que as mesmas foram apresentadas neste capítulo.
1. Interrogativa Frase Nominal
2. Declarativa
3. Imperativa É constituída apenas por nomes sem a presença do
4. Optativa verbo que indique a ação do sujeito.
5. Exclamativa Exemplo:
“Muito riso, pouco siso”

Frase de Arrastão
As orações sucedem-se sem uma correlação expres-
Classificação as seguintes frases, de acordo com o
sa entre elas. É a frase utilizada na linguagem infantil e na
método tradicional:
das pessoas incultas ou imaturas.
a) Que sala suja!
b) Meia volta! Exemplo:
c) Iracema foi a heroína de Alencar. Então me levantei e me vesti e aí tomei café e então fui
d) Almejo que tenhas sucesso. trabalhar. Mas acontece que era feriado. E daí voltei
e) Gostaria de saber se ela voltará. para casa e então fui descansar.
f) Que a deixe, por quê?
g) Nada me convence.
h) Não espere muito de mim.
Frase Entrecortada ou Picadinha
i) Lindo! Frase breve, incisiva, geralmente constituída por ora-
j) Boa viagem! ções coordenadas. Esse tipo de frase é muito comum no

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26 REDAÇÃO

discurso indireto livre. Exemplo:


Exemplos: “Marcos olhou para cima. As galerias reservadas às mu-
O crânio seco comprimiu-se. Do olho amarelado, es- lheres estavam escuras. Vazias. Mas – e a sombra que ali
se movia? E os suspiros que dali se ouviam? E os soluços?
correu um líquido tênue. É o vento que sopra pelas frinchas do velho telhado? É
A boca tremeu, mas nada disse. Sentia-se cansado. mesmo o vento? Não são suspiros? E é a água que gor-
(Victor Giudice) goleja nas calhas? É mesmo água? Não é o choro de
alguém?”
Parece orgulhoso e mesquinho. Não só parece. É. (Moacyr Scliar)

Frase de Ladainha
Usada mais na linguagem coloquial; introduz orações
Frase Parentética
coordenadas ligadas por “e” ou subordinadas, que não se- É formada por orações justapostas e que não perten-
jam adjetivas, introduzidas por “que”. cem integralmente ao sentido lógico do período (são usa-
das para explicar, esclarecer, citar, advertir, opinar, exortar,
Exemplos: ressalvar e permitir).
“...e era uma tarde meio cálida e meio cinza e meio dou-
rada e estávamos alegres e o vento desenrolava nossos Exemplos:
cabelos e o ciciante mar estava da cor de um sabre...” Foi em outubro, se não me falha a memória, que
(José Carlos Oliveira, apud Othon M. Garcia, op. cit. p.91)
nos conhecemos.
É uma tristeza – livrai-nos, Deus! – o que eles fizeram!
“Mais tarde, não sei se sonhei ou se pensei realmente
que os aviões não caíam no meio das ruas, e que as ruas
não eram desertos, e que os portões brancos de quar-
téis não eram oásis”.
(Caio Fernando Abreu) A classificação feita a partir da frase de arrastão não é
uma classificação sintática, mas sim estilística.
Frase Labiríntica ou Centopéia
Frase confusa, sem clareza, período repetitivo, proli-
xo. São exemplos as frases usadas pelos escritores dos
séculos XVl e XVll, como Vieira e outros barrocos.
Exemplo: Identificar as frases que seguem de acordo com o pre-
“Mas também a vossa sabedoria e a experiência de to- sente estudo:
dos os séculos nos têm ensinado que depois de Adão
não criastes homens de novo, que vos servis dos que
tendes neste Mundo e que nunca admitis os menos a) Em 1974 – isso ocorreu num dia chuvoso – perdi
bons, senão em falta dos melhores”. uma das minhas maiores amigas
(Vieira)

Frase Fragmentária
Várias orações que se interligam sem sentido comple- b) Perigo.
to, formando um contexto. Isso acontece quando as ora-
ções subordinadas se desligam da principal, ou quando os
adjuntos, apostos e complementos se separam da expres-
são a que pertencem.
c) Dia de muito, véspera de nada.
Exemplos:
Há muito que ele se sentia doente. Doença cruel.
Ela o agredia sempre. Embora não houvesse moti-
vos para isso. d) “... e tudo era musicalidade, e tudo de certo modo era
triste como ficam tristes as coisas no momento mais
Frase Caótica agudo de felicidade e nós vimos sobre uma duna as
freiras e eram cinco freiras que usam chapeuzinho
Livre, fluente, sem racionalizar, como se o narrador, com uma borla ou bordado branco e vestido mar-
rom e eram cinco freiras alegres...”
através do fluxo de consciência, pusesse, às claras, seus (José Carlos de Oliveira)
mais íntimos sentimentos. Muito usada pelos modernos
escritores que utilizam a frase caótica para seus monólo- e) Ele quase morreu. De tédio.
gos interiores (reprodução da fala e do pensamento da per-
sonagem).
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