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Jornada Acadêmica

Problematizando o decolonial e as epistemologias do Sul


na Linguística Aplicada
30 de setembro de 2022
Das 9h30 às 11h30 e das 13h00 às 15h00

Um dia de encontro para discutir, conversar e aprender sobre diferentes questões


advindas das pesquisas que desenvolvemos em nossos contextos e espaços em
Linguística Aplicada no Brasil, voltadas aos estudos de decolonialidade e
epistemologias do Sul.

As atividades da Jornada foram planejadas com o objetivo de promover


problematização e integração entre os diferentes momentos do dia.
Ressaltamos, assim, a importância da participação de vocês em todo o evento -
das 9h30 às 11h30 e das 13h00 às 15h00.

Pedimos aos/às apresentadores/as, por gentileza, que permaneçam na sala em que


realizarão suas apresentações e auxiliem na construção de conexões entre as diferentes
apresentações e suas perspectivas a partir do decolonial e das epistemologias do Sul.

Da mesma forma, pedimos aos/às demais participantes que também escolham uma
única sala para assistir as apresentações, bem como identificar e comentar a conexão
entre diferentes aspectos do decolonial e das epistemologias do Sul que emergem dos
trabalhos.

Programação

9h30 às Boas vindas e abertura Lynn Mario Menezes de Souza


10h10

10h15 às Apresentações - Sala 1 1. Pesquisar, amar, escrever, viver – o que pode


11h30 Mediação: Gabriel tese…? - Guilherme Adami
Nascimento e Juliana
Martinez 2. Linguagem, espiritualidade e os jogos de poder da
modernidade nas Américas - Simone Batista da Silva

3. Insurgências decoloniais nas aulas de língua


inglesa em um curso de Letras: Português/Inglês -
Ricardo Regis de Almeida

4. Invisibilidades e antirracismo - Clarissa Menezes


Jordão, Eduardo Henrique Diniz de Figueiredo e
Juliana Zeggio Martinez
10h15 às Apresentações - Sala 2 5. Os Cursos de Letras Libras na Pan-Amazônia: um
11h30 Mediação: Luiz Henrique estudo de caso sob lentes decoloniais - Paulo
Magnani Jeferson Pilar Araújo

6. Pensando a (de)colonialidade no Sul Global: o


lugar da pessoa com deficiência - Luciana Ferrari

7. Problematizando português de “acolhimento” e


aprendendo-o com recursos decoloniais - Nara
Hiroko Takaki, Francisco Leandro Oliveira Queiroz e
Rosana Iriani Daza Garcia

10h15 às Apresentações - Sala 3 8. Formação de professores de inglês e


11h30 Mediação: Lynn Mario de internacionalização: entre tensões e conflitos -
Souza Nayara Stefanie Mandarino Silva

9. Epistemologia das feiras: trocando e partilhando


os saberes - Tarcilio Roberto Lima Neto e Marcos
Flávio Barbosa da Silva

10. Filosofias do sul e periféricas e linguagem


(de)colonial - Simone Tiemi Hashiguti

10h15 às Apresentações - Sala 4 11. Tentativas e processos decoloniais no Estágio


11h30 Mediação: Tânia Rezende Supervisionado em Língua Portuguesa: outra
agência, práticas outras - Rosivaldo Gomes

12. ‘Potenciais Decoloniais’ nos currículos de


Letras-Inglês - Isabella Moreira Barros Costa

13. Provocações decoloniais à Linguística Aplicada:


territórios e comunidades - Eric Chen

Intervalo para Almoço

13h00 Retomada das atividades Orientações e divisão de grupos

13h10 às Discussão em grupos Problematizando o decolonial e as epistemologias do


13h50 Sul – Parte 1

13h50 às Plenária Problematizando o decolonial e as epistemologias do


15h00 Sul – Parte 2
Informações Importantes
 Haverá lista de confirmação de presença no dia da Jornada para futura
emissão de certificados.
 Não será possível participar da Jornada sem inscrição prévia, portanto, não
compartilhe links de acesso com colegas sem inscrição.
 Os certificados de participação e de apresentação serão emitidos pelo
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Paraná
e enviados aos/às participantes por e-mail.
 Se possível, mantenha sua câmera aberta para ajudar na construção de uma
rede de trabalho. Lembre-se também de manter seu microfone fechado para
não atrapalhar outras pessoas.

Resumos das Apresentações


1. Título: Pesquisar, amar, escrever, viver – o que pode tese…?

Autor: Guilherme Adami (Pesquisador Independente)

Resumo: Partindo do entendimento de que a opção decolonial visa uma reconstituição de formas
de pensar, linguagens e modos de vida violentados pela colonialidade, a partir de um
desprendimento de estruturas hegemônicas de conhecimento reforçadas pela retórica da
modernidade (MIGNOLO, 2017), a comunicação deseja problematizar a normatividade que
circunda o tema da metodologia de pesquisa e do gênero da tese acadêmica, debruçando-se
especialmente sobre o objeto das relações afetivas entre humanos e textualidades diversas,
encenadas sobre os suportes materiais da linguagem (ADAMI, 2022). O recorte busca evidenciar
a força de comodificação que atua sobre o trabalho pedagógico da ciência, o qual, em vez de
provocar, encorajar e facilitar a construção de conhecimentos (WALSH, 2018), tem efetivamente
criado ambientes politicamente hostis dentro da academia. Assim, a análise apontará para
exclusões abissais (SANTOS, 2018) no campo das textualidades que (não) habitam o espectro
acadêmico, ressaltando sua implicação nos processos coloniais de epistemicídio (ibid.) e de
repressão do potencial erótico-vivencial (HAN, 2017) de pesquisas científicas.

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2. Título: Linguagem, espiritualidade e os jogos de poder da modernidade nas Américas

Autora: Simone Batista da Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Resumo: A espiritualidade na constituição dos sujeitos vem ganhando relevância em diversas


áreas científicas tais como Ética (COMPARATO, 2016), Antropologia (VIVEIROS DE
CASTRO, 2018), Medicina (LUCCHESE, 2013) e Enfermagem (KRIPPNER, 2007); e, em 1998,
foi incluída pela Organização Mundial da Saúde – OMS como elemento integrante do conceito
de saúde (WHO, 1999). Há séculos, porém, as instituições religiosas vêm se apropriando da
necessidade espiritual dos humanos para transformarem-na em reserva de poder e espaço de
manipulação, embaçando as fronteiras entre fé, religião e espiritualidade. A língua, em sua
propriedade de acordo coletivo (NIETZSCHE, 2012), medeia e ratifica essas construções e jogos
de poder, sendo, assim, um elemento importante e basilar na construção das espiritualidades. Em
nossa trajetória como povo brasileiro fomos nos acomodando a um estado de “infantilidade
espiritual” (KRENAK, 2020, p.59), que, em atendimento ao discurso religioso, perpetua a
colonialidade entre nós. Intelectuais da contemporaneidade vêm afirmando que a espiritualidade
é uma necessidade para a reconstrução da humanidade com outros paradigmas e com modos de
viver que incluam o cuidado da Terra, condição já definida como essencial para evitar a iminente
extinção dos humanos (BOFF, 2017; COMPARATO, 2006). O objetivo desta comunicação é
discutir caminhos e resultados de pesquisa em andamento sobre as relações entre linguagem e
espiritualidade. O foco da pesquisa tem sido 1) investigar as diversas construções discursivas das
espiritualidades autóctones, apagadas para atender ao projeto de poder colonialista moderno; e 2)
repensar a educação linguística para criar possibilidades e propostas pedagógicas que incluam a
espiritualidade para um empreendimento coletivo de justiça, diversidade e sustentabilidade.

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3. Título: Insurgências decoloniais nas aulas de língua inglesa em um curso de Letras:


Português/Inglês

Autor: Ricardo Regis de Almeida (Universidade Federal de Goiás)

Resumo: Esta comunicação foi idealizada a partir da minha tese de doutoramento, ainda em
andamento, e tem por objetivo problematizar as praxiologias de oito professoras/es-
licenciandas/os e da professora da turma de um curso de Letras: Português/Inglês na disciplina de
Inglês V, com vistas a compreender de que modos as aulas e as discussões ocorridas em um
bimestre durante a pandemia do novo coronavírus viabilizaram possíveis insurgências decoloniais
nas aulas de língua inglesa. Inspirado nas praxiologias das/os articuladoras/es do estudo e nas
praxiologias acadêmicas inscritas nas searas da Linguística Aplicada Crítica e do Pensamento
Decolonial, a construção do material empírico se deu por meio de: um formulário de identificação
inicial, narrativas pessoais, sessões de planejamento das aulas, interação nas aulas, material
audiovisual produzido para as aulas e conversas individuais com as/os articuladoras/es do estudo.
A partir da leitura e organização do material empírico, apresento e discuto as seguintes perguntas
suleadoras: Em que medida praxiologias docentes pautadas pelo pensamento decolonial podem
viabilizar insurgências decoloniais na academia, mais especificamente, nos cursos de Letras –
Português/Inglês? Que sentidos outros podem ser forjados para a educação linguística em língua
inglesa em cursos de Letras se pautados em uma interpretação decolonial? As problematizações
realizadas até então com base nesses questionamentos me auxiliaram a pensar o lugar da
Educação Linguística e da Decolonialidade nas nossas praxiologias locais e também viabilizaram
leituras outras a respeito de temas vivenciais como avaliação, língua inglesa e a própria noção de
bem-estar.

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4. Título: Invisibilidades e antirracismo

Autores: Clarissa Menezes Jordão, Eduardo Henrique Diniz de Figueiredo e Juliana Zeggio
Martinez (Universidade Federal do Paraná)

Resumo: Neste trabalho, nós, autoras e autor, apresentaremos reflexões construídas


coletivamente sobre as maneiras pelas quais podemos lidar com a invisibilidade na educação
superior, particularmente através de olhares da Linguística Aplicada e da decolonialidade. Mais
especificamente, discutiremos como o nosso engajamento com teorias/práticas decoloniais
(MIGNOLO; WALSH, 2018) e epistemologias do Sul (SOUSA SANTOS, 2018) tem sido um
ponto crucial para que possamos: a) tornar visíveis linhas abissais que separam seres e saberes
considerados válidos daqueles que são tidos como não existentes em nossos contextos
acadêmicos; e b) identificar, interrogar e tentar interromper (MENEZES DE SOUZA, 2019)
nossas próprias cumplicidades com a criação e perpetuação da invisibilidade. Também
abordaremos como nossas discussões reiteram (ao menos para nós) a necessidade de lembrar e
recontar as narrativas que nos constituem, assim como a importância de tentarmos entender como
essas narrativas estão muitas vezes imbricadas em histórias de violência epistêmica colonial. Para
tanto, apresentaremos um diálogo construído entre nós refletindo sobre situações envolvendo
questões de raça, racismo, colonialidade e decolonialidade que vivenciamos na academia. A
primeira dessas narrativas lida com a participação de uma de nós (mulher branca) em uma
comunidade de maioria negra e como tal participação trouxe para essa autora, pela primeira vez,
a percepção de sua branquitude naturalizada. Através dessa narrativa, percebemos a urgência de
escrutinar os privilégios de ser branca em uma academia e um mundo desiguais. A segunda
narrativa é sobre como o autor passou a perceber a invisibilização do corpo em sua pesquisa, o
que consequentemente levou à pouca problematização sobre questões de raça, classe e
sexualidade em seus estudos. A terceira narrativa traz uma situação no âmbito da publicação: a
autora discorre sobre como os critérios de avaliação de um de seus artigos científicos submetidos
a uma revista no Norte global estavam enraizados em discursos que buscam apagar ontologias e
epistemologias do Sul global. Ao discutirmos essas narrativas, prestamos atenção a como
questões envolvendo o corpo (físico, disciplinar e epistêmico) são muitas vezes invisibilizadas
em contextos acadêmicos e apresentamos possibilidades de trazer esse corpo de volta para a
academia.

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5. Título: Os Cursos de Letras Libras na Pan-Amazônia: um estudo de caso sob lentes


decoloniais

Autor: Paulo Jeferson Pilar Araújo (Universidade Federal de Roraima)

Resumo: Faz-se neste trabalho um panorama histórico da criação dos cursos Letras Libras nos
estados brasileiros da Pan-Amazônia, tomando como estudo de caso o curso de Letras Libras
Bacharelado da Universidade Federal de Roraima, pelas particularidades da sua situação de
tríplice fronteira e de estado mais indígena do Brasil em números absolutos da população, da
presença da Língua de Sinais Venezuelana naquele estado e no referido curso, além da existência
de possíveis línguas de sinais indígenas de diferentes etnias, como também na fronteira. Como
objetivo, busca-se contrapor a formatação dos chamados cursos de Letras Libras no contexto
amazônico e suas demandas locais que, em certa medida, contrastam com os mesmos cursos nos
outros estados brasileiros não amazônicos. Foram elencadas as diferentes ações promovidas para
as comunidades surdas da Pan-Amazônia decorrentes da implementação dos cursos de formação
de professores de Língua Brasileira de Sinais-Libras e de Tradutores e Intérpretes de Línguas de
Sinais-TILS em Instituições Federais de Ensino Superior-IFES. Os resultados indicam uma
diversificação no modelo do curso de Letras Libras originado na Universidade Federal de Santa
Catarina que busca inserir nas políticas acadêmicas dos Cursos Letras Libras, sejam eles
licenciaturas ou bacharelados, aspectos sociais específicos dos contextos locais amazônicos para
dar conta de comunidades surdas de migrantes e refugiados ou de populações indígenas, para isso,
são apontados alguns possíveis (re)direcionamentos decoloniais para esses contextos.

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6. Título: Pensando a (de)colonialidade no Sul Global: o lugar da pessoa com deficiência

Autora: Luciana Ferrari (Universidade Federal do Espírito Santo)


Resumo: Recentemente temos observado um aumento de pesquisas em Linguística Aplicada
(LA) relacionadas aos estudos decoloniais, buscando problematizar estruturas coloniais
encontradas no Sul Global. Esses estudos têm se dedicado a denunciar as opressões sofridas por
grupos historicamente posicionados à margem da sociedade como mulheres, pessoas negras,
indígenas, LGBTQIAP+ e suas interseccionalidades, buscando romper com formas de
pensamento patriarcais, brancas, europeias, universais, que constroem nossas ontoepistemes
(MIGNOLO, 2017; GROSFOGUEL, 2010; QUIJANO, 2010). Na esteira dessa perspectiva, este
trabalho tem como objetivo apresentar e discutir as opressões sofridas por outro grupo
marginalizado: as pessoas com deficiência (PCDs). Relatos dos participantes do projeto de
extensão intitulado Trajetórias de Vida e Aprendizagem com e na Deficiência serão apresentados
e problematizados, a partir dos estudos críticos sobre a deficiência (critical disability studies)
(DIRTH, ADAMS, 2019; SANDOVAL-REED, 2019; GOODLEY, 2017), como forma de
denunciar o capacitismo, o silenciamento e as violências sofridas por este grupo não somente nas
escolas, mas na sociedade em geral. Espera-se, a partir do conhecimento das opressões sofridas
pelas PCDs, contribuir para o processo de identificação, interrogação e interrupção (MENEZES
DE SOUZA, 2019) da colonialidade.

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7. Título: Problematizando português de “acolhimento” e aprendendo-o com recurso


decoloniais

Autores: Nara Hiroko Takaki, Francisco Leandro Oliveira Queiroz e Rosana Iriani Daza Garcia
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)

Resumo: Ao longo dos séculos, a realidade social brasileira tem sido marcada por uma forte
negação dos(as) outros(as) minoritarizados(as), seja por meio de genocídios e escravizações, seja
por meio de violências contemporâneas de toda espécie, fundamentalmente as que afrontam o
direito a uma vida digna. No campo da ontoepistemologia, as ciências humanas positivistas ainda
atuam fortemente para encobrir tal violência, negando a dominação moderna sobre todos os
domínios das vidas dos sujeitos do Sul. Nesse sentido, as perspectivas decoloniais latino-
americanas (MIGNOLO, 2017; DUSSEL, 2016; QUIJANO, 2007, WALSH, 2013;
MALDONADO-TORRES, 2007) podem favorecer os processos de desaprendizagem e
reaprendizagem de questões locais apreendidas a partir da “história única”, que pouco se preocupa
com o status quo. Para interromper a história única, a tradução intercultural (SANTOS, 2018) de
quem habita ou reconhece as fronteiras/margens, construída na parcialidade de uma dada situação,
fundamental. Essa percepção pode ser a das pessoas que continuam subjugadas por invenções que
as classificaram como não brancas, não heterossexuais, não cristãs, destituídas de almas, de
religião, de saberes de poder e capacidade de se relacionarem com autonomia e criatividade, no
caso das mulheres imigrantes (DAZA, 2021, p. 52), e ética que não as do euronortecêntricos. Dito
isso, objetivamos problematizar língua portuguesa de “acolhimento”, acentuando também, o
lócus de enunciação (BHABHA, 1988), de uma professora e pesquisadora inmigrante, que
objetiva interpretar e analisar a construção de sentidos autoetnográficos críticos (SHORT;
TURNER; GRANT, 2013, ONO, 2017, TAKAKI, 2020), já que existe a aparente noção de que a
comunidade que acolhe a pessoa migrante nada aprende ou não precisa aprender com a que chega.
É preciso considerar perspectivas inspiradas em Freire (2001, 2011) e translinguagem
(CANAGARAJAH, 2013, 2017, GARCÍA, 2009, GARCÍA; WEI, 2014, WEI, 2018, YIP;
GARCÍA, 2018), que permitam interrogar que corpos estão decidindo quem são ou quem estão
sendo os aprendizes, com que acesso e participação politizada junto às instituições, em vez de
simplesmente ouvir os/as acolhedores(as) e (i)migrantes.

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8. Título: Formação de professores de inglês e internacionalização: entre tensões e conflitos

Autora: Nayara Stefanie Mandarino Silva (Universidade Federal do Paraná)

Resumo: As discussões acerca do processo de internacionalização no Brasil foram intensificadas


em 2011, com o lançamento do programa Ciência sem Fronteiras (BRASIL, 2011), que ocasionou
o surgimento de programas como o Inglês sem Fronteiras (BRASIL, 2012), posteriormente
Idiomas sem Fronteiras (IsF) (BRASIL, 2014; 2016). Este vem realizando um processo de
formação, especialmente por meio de núcleos locais em instituições de ensino superior.
Atualmente, configurado como Rede Andifes Idiomas sem Fronteiras (ASSOCIAÇÃO..., 2019),
o IsF propôs um curso de especialização ‘em línguas estrangeiras para internacionalização’,
abrangendo idiomas como alemão, espanhol, italiano, francês, português e inglês. Considerando
que a colonialidade constitui relações, formas de ser/saber (MALDONADO-TORRES, 2007),
entendo, em acordo com Martinez (2017), que a globalização e a internacionalização são
atravessadas por ela. Além disso, compreendo que não há verdade absoluta, mas leituras
diferentes sobre a internacionalização, o papel da língua inglesa e a formação de professores;
portanto, esses processos são marcados por desigualdades, violências, tensões e conflitos. Nesse
sentido, busco, com este estudo, apresentar uma pesquisa de mestrado atualmente sendo
desenvolvida a fim de analisar a proposta do curso mencionado, considerando as tensões e
complexidades da colonialidade no ensino superior e nos processos de formação de professores
de inglês e da internacionalização. O objetivo do estudo é de analisar a proposta de formação de
professores de língua inglesa para fins de internacionalização no curso de especialização,
considerando as três dimensões mencionadas: formação de professores, internacionalização e o
papel da língua inglesa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, documental e de campo, cuja análise
envolve o uso de estratégias de categorização e de conexão, sendo caracterizada como cartografia
social (ANDREOTTI et al., 2016; RUITENBERG, 2007). A pesquisa, ainda em desenvolvimento
inicial, indica complexidades e contradições em afastamentos e aproximações de noções
(de)coloniais nas três dimensões.

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9. Título: Epistemologia das feiras: trocando e partilhando os saberes

Autores: Tarcilio Roberto Lima Neto e Marcos Flávio Barbosa da Silva (Universidade Federal
de Goiás)

Resumo: O colonialismo benzido pelas teologias políticas judaíco-cristãs monoteístas sustenta


os alicerces dominantes e as subjetividades do chamado Novo Mundo. O projeto “Novo Mundo”
são esforços monoculturais, monolíngues, epistemicidas, de desmantelo das memórias alcançado
pela violência geo-ontoepistêmica, essa que padroniza, homogeneíza e universaliza as
pluriversidades. Diante disso, Antonio Bispo (2015) estabelece um comparativo entre cosmovisão
dos colonizadores e dos contracolonizadores para entender os processos de apagamento de
memórias e identidades coletivas. Partindo daí, pensando e vivenciando as feiras, entendemos que
as trocas e partilhas de saberes são modus operandi contra-coloniais divergentes do que se entende
como ensino-aprendizagem, colonialista. Para tanto, a tradução intercultural é um processo que
media e conflitua esses modos de construção de saberes. Nesse sentido, a epistemologia das feiras
é entendida como um conjunto de conhecimentos compartilhados entre corpos em trânsito num
lugar expresso pela “confluência” (SANTOS, 2015) de mundos que compõem o cosmos de
existências contracoloniais. Com esta discussão, objetivamos chamar a atenção para os processos
de trocas e partilhas de saberes existentes no que entendemos como epistemologia das feiras,
sendo uma tradução intercultural entre os mundos em conflito, o mundo colonialista e os mundos
contracoloniais. A construção dos conhecimentos aqui partilhados se desenvolveu por meio de
uma tradução intercultural que estabelece um conflito dialógico de percepções, colonial e
contracolonial. Assim sendo, partimos de observações e interpretações das feiras livres de Goiânia
e Aparecida de Goiânia e de contextos educativos e temáticas em conformidade com as nuanças
existentes nas relações de corpo-língua-saberes.

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10. Título: Filosofias do sul e periféricas e linguagem (de)colonial

Autora: Simone Tiemi Hashiguti (Universidade Federal de Uberlândia)

Resumo: Deve acontecer com várias de nós, que acolhemos a proposta de uma decolonização
epistêmica, de nos darmos conta de que, no processo de nos descolonizarmos, por vezes nos
faltam palavras, termos e conceitos que possibilitem a liberação intercultural e teórica necessária
para a reconstituição epistemológica, tal como proposta por Aníbal Quijano, nos anos de 1990. O
português, assim como outras línguas ocidentais que participaram da expansão europeia nas
Américas, tem mantido tradições expressivas, dentro e fora da academia, que enunciam o peso da
lógica moderna/racional/colonial descrita pelo próprio Quijano e demais autoras da virada
decolonial. Neste trabalho, baseando-me na questão da centralidade da linguagem na e para a
(de)colonialidade, já apontada nesses textos de referência, reviso conceitos de algumas “filosofias
do sul” ou periféricas para refletir sobre possibilidades não-ocidentais de conceituação de sujeito,
que têm consequências para a noção de linguagem.

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11. Título: Tentativas e processos decoloniais no Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa:


outra agência, práticas outras

Autor: Rosivaldo Gomes (Universidade Federal do Amapá)

Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar e discutir resultados de uma pesquisa que trata
sobre educação linguística e ensino de língua portuguesa por professoras/es em formação inicial
de uma universidade pública situada no norte do Brasil. De forma mais específica analisarmos, à
luz de aportes teórico-metodológicos do Interacionismo Sociodiscurso (BRONCKART, 2006,
2008; COUTINHO, 2021; MACHADO; BRONCKART, 2009; Leurquin; Dodó; 2020),
representações do agir professoral (CICUREL, 2020, LEURQUIN, 2013; GOMES; LEURQUIN.
2021), de três professores sobre a mobilização de saberes, esforços (SILVESTRE, 2016,
(BORELLI, 2018; PESSOA, 2018; SILVESTRE, 2017) e tentativas de práticas decoloniais
(GOMES, 2022) no ensino de língua portuguesa durante a experiência de estágio supervisionado
em escolas públicas, tendo por base práticas de linguagem que tratam sobre temas e questões
sociais como violência contra mulher, racismo, forme, direitos humanos e diversidade cultural e
linguística. A pesquisa configura-se como qualitativa-interpretativista (BORTONI-RICARDO,
2008) e a análise parte de um conjunto de textos-fontes (diários autorreflexivos) do agir linguaeiro
e professoral de três professoras/es que desenvolveram seus estágios nos anos de 2018, 2021 e
2022. Os resultados demonstram que em suas narrativas de experiências esses atores apresentam
representações que demonstram que a construção de saberes, por eles mobilizados sobre temas
sociais para/no ensino de língua portuguesa, ainda se apresenta de forma desafiadora e isso se
deve em função de determinantes externos e que estão ligados também a representações sobre seu
papel social e profissional, sobre quais saberes são legítimos de serem ensinados na escola e
também com que configuração didática devem ser trabalhados em sala de aula.

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12. Título: ‘Potenciais Decoloniais’ nos currículos de Letras-Inglês

Autora: Isabella Moreira Barros Costa (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)

Resumo: Este trabalho pretende mostrar resultados de pesquisa de Mestrado recém defendida,
com base teórica nos estudos decoloniais. Especificamente, investigou as possibilidades de
empreender o processo de "identificar, interrogar, interromper" as colonialidades que nos
atravessam face aos currículos de Letras - Inglês, ainda muito ligados à tradição eurocêntrica de
currículo. O currículo sendo um documento de identidade (SILVA,2005) que propõe os saberes
a serem contemplados no decorrer da formação dos profissionais precisa ser construído a partir
das percepções da decolonialidade para que os preceitos de ética, pluralidade, justiça social e
democracia coexistam nesses documentos e, assim, possibilitem uma formação menos
eurocêntrica. Nas investigações, constatei que os currículos podem apresentar o que eu chamo de
‘potenciais decoloniais’ nas disciplinas atuais forem compreendidos para além da ótica da
colonialidade a partir de um olhar localizado e de constantes reflexões e observações acerca de
nossas práxis enquanto profissionais de línguas. Nesse sentido, nos apoiamos no processo
“identificar, interrogar e interromper” como um caminho contínuo de reflexão com os currículos
de Letras-Inglês.

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13. Título: Provocações decoloniais à Linguística Aplicada: territórios e comunidades

Autor: Eric Chen (Universidade Federal do Paraná)

Resumo: Em suas buscas por descrever e intervir nas práticas de linguagem em sociedade, a
Linguística Aplicada Indisciplinar (MOITA LOPES, 2006) viu-se intensamente mobilizada pelo
campo dos Estudos Decoloniais. Nesta oportunidade, apresentamos os conceitos de “território” e
de “comunidade” a partir duma visada decolonial como provocações que auxiliam a área de
Linguística Aplicada a reconfigurar pressupostos e objetivos. Habitar a Terra nesta era sob o
regime de emergência climática (KUANA, 2021) lança imperativos de transformação social --
tais como a superação do impasse energético (SZEMAN, 2016) -- à ordem vigente e para tanto
vemos os povos originários de Abya Yala como referências importantes para rearticularmos
práticas sociais. Entendemos aqui a sala de aula de línguas como espaço de agência e construção
de sentidos (JORDÃO, 2013) e, possivelmente, de diálogo de saberes (CASTRO-GOMEZ, 2007),
sendo assim um tipo de local que pode funcionar como um dentre outros tantos espaços
laboratoriais para imaginar o otherwise (ESCOBAR, 2007). Em um exame conceitual ainda em
estágios iniciais, parte de pesquisa doutoral, o presente trabalho associa fenômenos
espaciais/territoriais de (des)territorialização de povos originários (PORTO-GONÇALVES,
2012) com o começo da modernidade/colonialidade que se deu na emergência da América
(QUIJANO, 2000) e experimenta fenômenos de produção de conhecimento acadêmico como
esforços em direção a outras composições sociais, as quais concebem outras dinâmicas de autoria
e parentalidade (SEGATO, 2021). Propomos dessa forma um exercício que não busca encerrar
nenhuma questão, mas sim desprender-se da gramática moderno-colonial (MIGNOLO, 2007) e
produzir a partir de nossa posição na geopolítica do conhecimento (MIGNOLO, 2002).

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Nossos contatos
Gabriel Nascimento – gabriel.santos@csc.ufsb.edu.br
Juliana Martinez – jumartinez@ufpr.br
Luiz Henrique Magnani – henriquemagnani@gmail.com
Lynn Mario Menezes de Souza – lynnmario@gmail.com
Tânia Rezende – taferez@ufg.br

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