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TEMA COMENTADO – MEIO AMBIENTE: ARGUMENTAÇÃO

ESSENCIAL PARA QUALQUER TEMA DO EIXO

INTRODUÇÃO AO TEMA

Nesse momento, precisamos lançar mão de uma das estratégias, talvez,


mais rápidas para o desenvolvimento de repertório dentro da sua redação. Nada
mais é do que levantar uma macroárea de conhecimento que te dê bagagem
para escrever sobre qualquer tema específico. Assim, você terá um repertório
legitimado, forte e teses de fácil uso para qualquer tema que apareça.

Afinal de contas, é mais fácil desenvolver uma argumentação abrangente


assim do que uma argumentação específica para cada um dos milhões de

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problemas com os quais nós convivemos todos os dias, não é? Então, trate de
fazer o seu bom caderninho de eixos temáticos, com pelo menos duas ou três
teses que caibam para qualquer tema. Combinado?

Hoje, nós precisamos estudar com cuidado o eixo Meio Ambiente. Você
precisa ter uma boa argumentação para discutir desde poluição sonora até
plástico.

Vamos lá?
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SOCIEDADE GLOBAL DE RISCO - ULRICH BECK

No que diz respeito ao eixo Meio Ambiente, creio que uma das teses mais
versáteis é a que está relacionada à sociedade global de risco ou aos fatores
principais que nos colocaram nessa enrascada de uma crise múltipla, conjuntural
e praticamente insolúvel em que todos nós estamos. Afinal, na realidade do
planeta, não há nada favorável e estamos dentro de um abismo já há muito
tempo.

Então, você há de convir que a nossa situação, em termos ambientais, nem


é a de estar na ponta do abismo. Nós já caímos, estamos em queda livre.
Entender a situação de risco em que nós estamos é fundamental para o
desenvolvimento de qualquer tema que diga respeito ao meio ambiente.

Na verdade, essa é uma tese múltipla, na qual você pode desdobrar


inúmeras áreas para discutir. Segundo Ulrich Beck, estamos em um contexto de
risco em função de quatro razões. O ideal na sua redação é que você escolha
um desses fatores para justificar o nosso contexto de risco de extremo impacto
ambiental e provavelmente de uma situação trágica, apocalíptica para os
próximos anos.

PRIMEIRA RAZÃO - DANOS IRREPARÁVEIS JÁ CAUSADOS

A primeira grande razão para nós sermos uma sociedade de risco dentro
do contexto ambiental é o fato de já termos causado danos irreparáveis ao
espaço natural. Bastam umas três ou quatro aulas de biologia ou de geopolítica
para você entender bem sobre que tipo de dano é esse. Já destruímos, pelo
menos em territórios brasileiros, boa parte dos biomas que compunham o nosso
sistema natural. Sabemos que a maioria já não está completa. A nossa água
potável, por exemplo, já não consegue abastecer mais um século de vida neste

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planeta e nós sabemos que o impacto climático já devastou boa parte da vida
que existe por aqui – tanto da flora quanto da fauna. Então, já existem, vamos
dizer, arrastões em termos de espaço natural que tornam boa parte dos
problemas ainda mais graves.

Mesmo que haja boa vontade, recursos, enfim, políticas públicas, seja lá o
que for, determinados danos não podem ser recuperados. A quantidade de
plástico jogada nos oceanos não pode ser recolhida a essa altura do
campeonato, espécies já extintas não podem ser ressuscitadas, assim como a
nossa saúde e os riscos da nossa sobrevivência já não podem ser evitados.

Nós somos, portanto, uma sociedade de risco em termos de sobrevivência,


permanência, perpetuação – seja lá o termo que você queira usar –, porque os
danos que nós causamos ao espaço natural já não podem mais ser consertados.
Não dá para pôr um band-aid, não dá para consertar, plantar meia dúzia de
árvores na beira do rio. Não significa mais absolutamente nada, considerando o
nível de colapso que nós já provocamos.
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SEGUNDA RAZÃO - FALTA DE MEDIDAS PRECAUCIONAIS

Além desses danos irreparáveis, quase sempre ignorados diante da


hipocrisia chamada economia sustentável, há ainda a falta de medidas
precaucionais; principalmente pós-crises, pós-colapsos, pós-tragédias, ou seja,
nós não desenvolvemos com muita frequência medidas que possam evitar
novas tragédias. Você já percebeu isso? Basicamente, em quase todos os
níveis de tragédia – não só ambientais, mas sociais também –, a tragédia
comove e mobiliza a população, gera debate e indignação, mas não gera
medidas de precaução para evitar que novas tragédias ocorram, não há, de fato,
ação para a resolução do problema..
Recentemente, por exemplo, você viu o grande colapso ambiental e social
que o rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, causou, o estrago
que fez, o trauma que provocou as inúmeras mortes e os danos irreparáveis no
ecossistema, mas não houve medidas para evitar que novos danos ocorressem.
Há uma comoção momentânea, que comumente desaparece depois de uns dias
dos desastres.

Dentro da sua tese, o fato de sermos uma sociedade de grande risco


envolve, inevitavelmente, a falta de medidas precaucionais, a falta de
medidas que evitem novos colapsos e, quanto menos medidas, mais
próximos ficamos, de fato, de colapsos ainda mais profundos.

TERCEIRA RAZÃO - AUSÊNCIA DE ESPECIALISTAS DE RISCO

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Talvez a falta de medidas preventivas se justifique pela ausência de
especialistas em risco. Nós não temos quem diga o que fazer. Você já
percebeu? O que, de fato, deve ser feito diante desse colapso iminente, diante
da fronteira do apocalipse que está se abrindo sobre os nossos pés, diante da
quantidade de danos que nós causamos e que não podem ser reparados? Nós
não temos especialistas. Nós temos palpiteiros, não é? Há muita gente com
muita opinião e pouco conhecimento a respeito do que de fato fazer, de como
unir as instituições, por exemplo, em torno desse problema.

Essa união, inclusive, é o que o Wikipédia chama de cosmopolitismo.


Essa união toda, como é que faz? Como é que opera? Como é que funciona?
Nós não sabemos como fazer. Como unir instituições? Como unir estados?
Como unir setores do governo? Como unir Poderes? Como unir dinheiro? Como
unir iniciativas? Como unir desespero? O que eu faço? O que eu começo a fazer
hoje? O que tenho que fazer?

Que risco realmente eu corro? Que risco a minha família hoje sofre? De
que maneira atenuar? Porque evitar, nós não vamos evitar, mas como eu posso
atenuar? Como eu posso tornar a vida um pouquinho menos trágica? Não tem.
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QUARTA RAZÃO - DILUIÇÃO DO TEMPO-ESPAÇO

Como último ponto, há a diluição da nossa percepção, ou mesmo, das


fronteiras reais do espaço-tempo.

Hoje, nós temos uma dificuldade gigante de perceber que grandes


colapsos ambientais ou grandes transformações sociais são parte da vida atual.
Nós temos uma dificuldade absurda de perceber, por exemplo, que as
Revoluções Industriais começadas no século XVIII são a vida que nós levamos
agora e que praticamente tudo o que nós colocamos com uma distância histórica
e gigantesca é o nosso presente.

Da mesma forma, nós não conseguimos perceber o nível da


interdependência em que todos nós estamos. Afinal de contas, o que acontece
em qualquer ponta do planeta reverbera na minha vida e dentro da minha casa.

Tudo está intimamente conectado em termos de espaço. Tudo está


próximo de mim mesmo que os anos digam que gera distância. Tudo está
intimamente vinculado em termos ambientais. Eu não posso ignorar o que
acontece do outro lado do planeta, porque diz respeito à minha vida.

Eu não consigo ignorar o que aconteceu há dois ou três séculos atrás,


porque isso é a síntese do meu presente. Da mesma forma, eu preciso entender
que o meu presente é a matriz do que será gerado para o futuro. Então, temos
uma diluição completa das fronteiras de espaço e de tempo e a ausência de
percepção desse fluxo contínuo, desse continuum (como muitos dos
especialistas dizem). Isso faz com que nós nos tornemos mais arriscados ainda,
nos coloquemos num contexto mais grave ainda, que nos insere em um cenário
de colapso a qualquer momento. Faz sentido para você?

Em uma construção de redação, portanto, você pode usar qualquer um


desses fatores como tese, o Ulrick Beck como repertório e o exemplo vem do
recorte específico do seu tema, ou seja, é um mega coringa, super prático de

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usar e maravilhoso para as suas redações.
CONCEITO DE EXTERIORIDADE - SR NICHOLAS STERN

Aproveitando essa última questão que eu levantei sobre a diluição do


espaço-tempo, creio que a ausência de nexo de causalidade seja uma matriz
de tese para a sua redação, ou pelo menos para a discussão sobre o meio
ambiente, simples e extraordinária. Sabe por quê? Porque nós, de fato, não
temos a noção de que hoje as nossas ações determinam tudo o que vai existir
nesse planeta daqui a um ano ou dez ou cem anos.

Da mesma maneira que nós não temos nenhuma noção de que a forma
como nós lidamos com o consumo, com o lixo, com os recursos naturais, com o
espaço antropogênico, com a nossa realidade e com as nossas vivências
determina a nossa saúde, o acesso ao alimento, quem vive e quem morre de

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causas naturais, de arboviroses ou de pandemia. Portanto, nós não temos muita
noção daquilo que Max Weber chama de Ação Social, de existir no mundo
interferindo na vida dos outros, na vida do planeta, ou seja, da relação de causa
e consequência que existe infinitamente interligada em relação a tudo que está
nesse planeta.

Achamos que os colapsos não têm nada a ver conosco, bem como as
tragédias, e que a extinção de espécies não vai nos afetar, que o aumento das
temperaturas do planeta é algo que a gente tem que conviver e não há o que
fazer. Enfim, colocamos tudo dentro de uma dimensão de exterioridade. Esse
conceito é discutido pelo grande Sir Nicholas Stern, ou seja, de uma noção de
vida, de fenômeno, de existência meio desconectada. Como se a nossa vida não
fosse minimamente afetada pelos grandes fenômenos, pelos grandes colapsos e
pelas tragédias do mundo.

É como se a nossa vida não afetasse o planeta drasticamente, como se


nós não estivéssemos levantando tijolinho sobre tijolinho dos grandes colapsos
que o mundo ainda vai viver, como se nós não estivéssemos construindo as
tragédias que os nossos filhos e netos vão sofrer e que nós, inclusive, já
sofremos e estamos sofrendo.
Na verdade, esse nexo de causalidade tem dependido cada vez menos da
evolução do tempo, tem sido rápido. O carma vem e não demora a vir, é tempo
de um ou dois anos e nós já colhemos as consequências. Velocidade é a marca
desse planeta.

Então, a ausência disso acaba sendo a marca da alienação, que é a


principal matriz da sua tese, e é justificada por essa exteriorização, por essa
ausência de causalidade. Nós somos um bando de bobos que não percebemos
o quão graves são as nossas ações em relação ao planeta e à forma como nós
impactamos o espaço natural. Além dessa ausência do nexo de causalidade, da
percepção da gravidade das nossas ações sobre o mundo e que as ações do
mundo estão sobre nós nessa interdependência (inclusive, Zygmunt Bauman
defendeu bastante como uma das marcas da ultramodernidade), uma tese
superinteressante é a negligência dessa sustentabilidade. A sustentabilidade,

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na verdade, virou uma bolha dentro dos movimentos sociais, concorda? Não é
algo amplamente discutido, não é marca dos governos nacionais e nós vivemos
uma espécie de retomada daquele pensamento lá de atrás: do milagre da
industrialização. O que significa isso?

RETOMADA DO MILAGRE DA INDUSTRIALIZAÇÃO

Os riscos todos apontados pelo debate sobre sustentabilidade,


preservação do espaço ambiental e manutenção das espécies foram rejeitados
em uma bolha de hippies desocupados e nós voltamos com a ideia de que é
preciso colocar a economia e o desenvolvimento do mercado acima de tudo:
acima da preservação ambiental, acima da noção de sustentabilidade, acima da
relevância do clima, do ecossistema e de qualquer outro aspecto que diga
respeito ao meio ambiente.

Essa retomada ao milagre da industrialização está combinada com a


marginalização dos movimentos ambientais, os quais surgiram, na verdade, lá
pelo início do século XX e ganharam grande força nos anos 1960/1970 com os
grandes debates ambientais. E olha que esses movimentos ambientais geraram
grandes encontros, grandes conferências, a exemplo do Protocolo de Kyoto e
ECO-92.

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Enfim, esses movimentos ambientais já foram o centro das discussões. No
entanto, hoje, são assuntos marginais e essa marginalização está relacionada às
bolhas de debate. Você sabe muito bem como essas bolhas funcionam. Afinal,
você deve ter alguma rede social (Twitter, Instagram, Facebook, TikTok) e sabe
que chega até você somente os conteúdos vinculados ao que você realmente
consome ou gosta. Você não tem acesso ao que o mundo todo discute ou àquilo
que é mais relevante para o planeta. Você tem acesso àquilo que combina mais
com as suas preferências (bolhas, tribos de discussão).

Logo, o meio ambiente virou uma bolha, por exemplo, do vegano, do


ambientalista, e não necessariamente uma discussão de pautas de Estado. A
retomada do milagre da industrialização é uma espécie de pós-ambientalismo,
é como se o ambientalismo, com a força que existiu, já tivesse passado. Esses
movimentos sociais, ou, como chamados na época, movimentos verdes, são de
gente lunática e nós ressuscitamos aquele velho neoliberalismo – não o
neoliberalismo discutido lá atrás, por Abraham Smith, pois aquele já está longe
da nossa realidade, mas, aquele neoliberalismo colocado em prática a partir do
Consenso de Washington, em 1989, em uma confabulação de Margaret
Thatcher e Ronald Reagan, os grandes donos do mercado internacional, as
grandes potências econômicas do planeta na época e até agora, trazendo a
questão do mercado como soberana.

É esse mercado soberano, é o lucro como valor fundamental ou, como diria
Kant, a Lei Régia, o valor régio, o valor áureo, que está acima de tudo:
mercado, lucro e desenvolvimento. E, abaixo do mercado, sofrendo o que for
necessário para o mercado prosperar, estão o meio ambiente, a cidadania, os
valores sociais, os valores históricos, seja lá o que for, mercado e lucro
preponderantes. Nós vivemos essa realidade e basta que você abra suas redes
sociais para você ter provas disso.

Não importa se vidas são sacrificadas, não importa se pessoas são


escravizadas, não importa que tipo de dano moral, de abuso ou de assédio
ocorra, não importa quantas florestas e quantos animais precisam ser mortos,

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não importa quantos rios precisam ser drenados, não importa quantas florestas
precisam ser asfaltadas. Importa que o mercado prospere.

Não há uma noção de Sistema de Protocooperação. Não, nós não


vivemos, hoje, nas nossas relações interespecíficas, um processo de
protocooperação, de comensalismo, em que todos nós poderíamos compartilhar
os mesmos recursos sem que ninguém fosse afetado. Não, nós vivemos uma
realidade de predatismo, o mercado é o grande predador, e, para nós, restam
duas opções: nos aliamos ao mercado nesse predatismo ou somos as vítimas
dele no grande rolo compressor do mercado. Não sobra muito no meio dessa
jogada.

Essa dinâmica vem crescendo desde 1989 e quanto mais esses valores
ganham espaço, menos espaço sobra para o ambientalismo, menos
credibilidade os movimentos verdes têm, menos ações reais esses grandes
encontros e conferências geram. Cada vez mais eles só são plásticos, só de
aparência mesmo, só para falar que existem. As grandes metas de preservação
e de redução de CO2 apenas ficam no papel, para fazer bonito.

Dito isso, não temos um Estado que garanta a preservação do mercado


soberano e que comande tudo. É a lei do lucro e o resto que lute para
sobreviver. Obviamente, dentro dessa discussão, desse eixo, existem milhares
de outras teses que envolvem a ação dos movimentos da Revolução Verde, das
Revoluções Industriais, de ambientalistas, de Chico Mendes. No entanto, minha

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intenção com você não é esgotar o assunto, é te dar uma primeira linha de teses
para você usar, para você aplicar e testar se funciona. Funcionou? Maravilha,
salvou sua vida nos temas ambientais.

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