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Conhecer o conhecimento
Agora, duas palavras sobre o problema do conhecimento. O poeta Eliot dizia "que
conhecimento perdemos na Informação e que sabedoria perdemos no Conhecimento?",
querendo dizer com isso que o Conhecimento não é harmonia e comporta diferentes
níveis que se podem combater e contradizer. Conhecer comporta "informação", ou
seja, possibilidade de responder a incertezas, mas o conhecimento não se reduz a
informações; ele precisa de estruturas teóricas para dar sentido às informações;
percebemos, então, que, se tivermos muitas informações e estruturas mentais
insuficientes, o excesso de informação mergulha-nos numa "nuvem de
desconhecimento", o que acontece freqüentemente, por exemplo, quando escutamos
rádio ou lemos jornais. Muitas vezes a concepção de mundo do cidadão do século 17
opôs-se à do homem moderno; aquele tinha limitado estoque de informações sobre o
mundo, a vida, o homem; tinha fortes possibilidades de articular essas informações,
segundo teorias teológicas, racionalistas, céticas; tinha fortes possibilidades reflexivas
porque dispunha de tempo para reler e meditar. No século 20, o cidadão ou
pretendente a tal categoria depara incrível número de informações que não pode
conhecer e nem sequer controlar; suas possibilidades de articulação são
fragmentárias ou esotéricas, ou seja, dependem de competências especializadas; sua
possibilidade de reflexão é pequena, porque já não tem tempo nem vontade de refletir.
Portanto, levanta-se uma questão: o excesso de informações obscurece o
conhecimento; o excesso de teoria, entretanto, também o obscurece. O que é a má
teoria? A má doutrina? É aquela que se fecha sobre si mesma porque julga que possui
a realidade ou a verdade. A teoria fechada tudo prevê antecipadamente. A leitura de
certos jornais de partidos bem exemplifica esse fato: os acontecimentos confirmam
sempre a linha política do jornal e, quando não a confirmam, não são mencionados.
Em outras palavras, a teoria que tudo sabe detesta a realidade que a contradiz e o
conhecimento que a contesta. Assim, temos no Conhecimento a mesma ambigüidade,
a mesma complexidade presente na idéia de progresso.
Além disso, há outro problema: os conhecimentos e o Conhecimento não se
identificam. O progresso dos conhecimentos especializados que não se podem
comunicar uns com os outros provoca a regressão do conhecimento geral; as idéias
gerais que restam são absolutamente ocas e abstratas; temos, portanto, que escolher
entre idéias especializadas, operacionais e precisas, mas que não nos informam sobre
o sentido de nossas vidas, e idéias absolutamente gerais, que já não mantêm,
entretanto, nenhum contato com o real. Assim, o progresso dos conhecimentos
provoca o desmembramento do conhecimento, a destruição do conhecimento-
sabedoria, ou seja, do conhecimento que alimente nossa vida e contribua para nosso
aperfeiçoamento.
O conhecimento unidimensional, se cega outras dimensões da realidade, pode
causar cegueira. Em outras palavras, uma visão da sociedade que observasse na
sociedade apenas os fenômenos econômicos, por exemplo, seria unidimensional,
esquecendo outros problemas sociais, de classe, de Estado, psicológicos e
individuais. Por outro lado, há diferentes ordens de conhecimentos (filosóficos,
poéticos, científicos) ou um só Conhecimento, uma só ordem verdadeira? Durante
séculos, a ordem verdadeira do Conhecimento era a Teologia; hoje, chama-se Ciência;
é por isso que toda vontade de monopolizar a Verdade pretende deter a "verdadeira"
ciência