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METODOLOGIA DA PESQUISA

TEOLÓGICA
AULA 1

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

A teologia já foi chamada de a rainha das ciências; mas, a teologia pode


ser chamada de ciência? O que é preciso para ser uma ciência? Toda ciência
deve ter um método de pesquisa e um objeto de pesquisa, e dessa forma as
perguntas ficam mais complexas, afinal, qual o método da teologia? Podemos
falar aqui de um objeto de pesquisa?
Nesta aula pretendemos discorrer sobre essas questões, em um primeiro
momento entendendo a importância da pesquisa teológica e procurando
compreender a necessidade da pesquisa na teologia, com vistas a contribuir com
a Igreja e a sociedade. Para isso, é essencial compreender e conhecer o mundo
que nos cerca; aqui, precisamos adentrar um campo da filosofia, que é a
epistemologia, que contribuirá na reflexão dos limites da pesquisa. Após
compreendermos o conceito de epistemologia, precisamos compreender a
história e os fundamentos do método científico, assunto dos Temas 3 e 4.
Finalizaremos com o quinto tema, em que iremos buscar compreender qual, ou
quais, são os objetos de pesquisa da teologia.
Dessa forma, teremos uma firme fundamentação sobre o conceito de
pesquisa teológica, para que possamos nos aprofundar no assunto
posteriormente.

TEMA 1 – IMPORTÂNCIA DA PESQUISA TEOLÓGICA

A teologia deve manter um diálogo constante com os problemas e


desafios da sociedade e da igreja. Para tanto, deve buscar compreender quais
são os desafios da modernidade, e aqueles que podem se apresentar em breve.
Sem compreender as mudanças sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e
científicas, a teologia não pode realizar uma crítica com possibilidades e
alternativas. A teologia tem um olhar para o mundo e um olhar para a Igreja; é
ponte e é também aquela que aponta; aponta distâncias entre a fé e a práxis, e
pode ser ponte entre a sabedoria da espiritualidade e a racionalização de um
mundo que desaprendeu a transcender o imediatismo.
Segundo Boff (1999, p. 14),

Teologia não se faz de qualquer jeito. Fazer teologia tem algo a ver
com um processo judiciário. Há que seguir um procedimento definido.
Há um percurso a se obedecer. E, semelhante ao direito ao direito pode
se perder a causa porque não se encaminhou bem a questão, embora

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se tenha razão. Assim além dos erros teológicos de conteúdo, pode
haver erros teológicos de forma. E é justamente o caso quando não se
segue um método teológico.

A pesquisa teológica busca, através de metodologia própria, investigar os


mais diversos temas aos quais o saber da teologia possa contribuir, seja com
opinião fundamentada na espiritualidade e na tradição religiosa, ou com
indagações e problematizações, em novas perspectivas e desafios possam ser
levantados, viabilizando o debate e a interação entre os diversos saberes nos
campos da filosofia, da sociologia, da ciência, entre outros que sejam
necessários para a compreensão clara do assunto pesquisado, a partir da cultura
e da sociedade onde se está inserido.

Encarar a cultura ou a história cultural do ponto de vista social e coletivo


data da segunda metade do século XIX, época em que se produz o
avanço das ciências humanas: sociologia, etnologia etc. A contribuição
dos historiadores e filósofos alemães atuara igualmente nesse sentido.
Ademais, o desenvolvimento dos movimentos sociais no mesmo
período acentuava essa tomada de consciência, dando-lhe um sentido
reivindicativo. (Gritti, 1978, p. 59)

A contribuição da teologia a tais pesquisas é apresentar a perspectiva da


sabedoria espiritual, desenvolvida no decorrer da história através da
interpretação de textos das Sagradas Escrituras. A espiritualidade enquanto
reflexão sobre o divino possibilita compreender a dimensão humana, que é tão
importante quanto as demais que compõem a complexidade do ser humano em
seu desenvolvimento, seja no âmbito social, psicológico, biológico etc. Todo
saber é um saber humano; a própria ciência é um saber humano, no sentido de
que traduz fenômenos da natureza para a linguagem humana, possibilitando
uma sistematização desse conhecimento, e assim a compreensão, mediação e
aplicação de tais descobrimentos para o viver humano.
A teologia nesse aspecto também é um saber humano, que a partir da
Revelação Divina procura sistematizar e compreender suas implicações para a
vida dos homens. Assim, a pesquisa teológica sempre busca compreender os
desafios da sua época e suas implicações para o ser humano, a partir da
dimensão da espiritualidade, nunca separada de sua dimensão material – isto é,
das implicações para o humano no aqui e agora.

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TEMA 2 – EPISTEMOLOGIA

O termo epistemologia significa “estudo do conhecimento”, ou “ciência do


conhecimento”; ou, de uma forma mais específica:

Termo de origem grega que apresenta duas acepções de fundo. Num


primeiro sentido (como no inglês Epistemology), é sinônimo de
gnosiologia ou de teoria do conhecimento. Num segundo sentido, é
sinônimo de filosofia da ciência. Os dois significados estão
estreitamente interligados, pois o problema do conhecimento na
filosofia moderna e contemporânea, entrelaça-se (e as vezes se
confunde) com o da ciência. (Abbagnano, 2012, p. 392)

Podemos compreender dessa forma que a epistemologia é um ramo da


filosofia que está interessada em compreender como podemos conhecer, ou
melhor ainda, como ter uma crença verdadeira e justificada. Segundo Moreland
e Graig (2005, p. 98),

Epistemologia é o ramo da filosofia que tenta explicar a natureza do


conhecimento, da razão e das crenças justificadas e injustificadas. O
termo epistemologia origina-se da palavra grega epistêmê, que
significa conhecimento. Portanto epistemologia é o estudo do
conhecimento e da crença justificada ou garantida.

Pela compreensão moderna da própria ciência, todo conhecimento é um


conhecimento provisório, isto é, um conhecimento que obtemos em determinado
momento de acordo com as possibilidades técnicas e o desenvolvimento
científico acumulado até um certo momento histórico, que pode ser aprofundado,
melhorado ou até mesmo descartado por pesquisas científicas posteriores.

2.1 As condições do conhecimento

Dizemos que o conhecimento é tudo aquilo que sabemos, de forma geral


ou de forma mais específica. Ele pode ser um conhecimento superficial ou
profundo, especializado. Porém, podemos ter conhecimento sobre determinado
assunto, mas como podemos garantir que ele é correto? Como podemos afirmar
que ele corresponde à realidade?
Vivemos em nosso dia a dia com muitas crenças1 que adquirimos no
decorrer da vida, que possibilitam a convivência em sociedade, e que explicam
de forma geral o mundo que nos cerca. Tais crenças podem estar corretas ou

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Nos referimos, com a palavra crença, a um conhecimento adquirido, seja pela observação ou
pelo conhecimento obtido de forma de alguma tradição, seja familiar ou social, ou ainda do senso
comum. Desta forma, não se faz um juízo de valor, se ela está correta ou não, mas se explica
em determinado nível um evento ou fenômeno de forma razoavelmente suficiente.
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não. Normalmente, na nossa vida cotidiana não nos preocupamos em saber em
detalhes tudo o que nos cerca; aceitamos alguns fenômenos sem grandes
questionamentos. Por exemplo, sei que no meu carro, a chave, ao ser girada em
local específico, vai acionar um mecanismo que liga e faz funcionar o motor. Boa
parte das pessoas não saberia explicar como isso ocorre, mas temos a fé de que
isso irá ocorrer todas as vezes que fizermos tal procedimento, pois a experiência
nos mostrou que isso é verdade. Quando este procedimento não dá resultado,
ficamos muito decepcionados, mas não sabemos a razão do erro; ao refletir,
podemos relacionar o ocorrido ao fato de, no dia anterior, termos mudado de
posto de combustível, onde costumávamos abastecer, e assim podemos pensar
que de certa maneira isso possa ser o motivo do não funcionamento do carro.
Porém, a crença só poderá ser validade ao levar o carro a um mecânico.
Esse exemplo simples serve para compreendermos que a crença que
tenho sobre o problema do carro somente poderá ser compreendida como
verdadeira se for justificada, isto é, se ao examinar o motor o mecânico afirmar
que a gasolina do posto em que abasteci não tinha condições de efetuar o
acionamento do motor de forma eficiente. Assim, a concepção de verdade está
envolvida na concepção de conhecimento; assim, para validar a minha crença
de que o problema foi a gasolina, preciso adquirir o conhecimento sobre o
funcionamento do motor e verificar a pureza do combustível, ou confiar em
alguém preparado tecnicamente para verificar se a minha crença está correta ou
não. Comprovando-se tecnicamente que minha crença é verdadeira, posso
afirmar que tenho uma opinião justificada.

TEMA 3 – ORIGENS DO MÉTODO CIENTÍFICO

Podemos dizer que o método científico foi desenvolvido no século XVI,


quando alguns pensadores, entre eles Copérnico e Galileu, começaram a usar
uma metodologia, ainda que incipiente, para averiguar seus experimentos e
teses. Porém, a reflexão sobre como se obter conhecimento, e verificar sua
veracidade, já era uma preocupação que ocupava a mente dos filósofos da
Grécia antiga.
Sócrates já refletia sobre o que seria a verdade. Não que ele tenha sido o
primeiro, pois outros antes dele já refletiam sobre a própria representação do
mundo e a forma de obter conhecimento. Platão, pupilo de Sócrates,
desenvolveu uma compreensão sobre as formas de conhecimento:
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Platão na antiga Grécia, já fazia distinção entre três tipos de
conhecimento: doxa (opinião, saber não provado, saber do povo),
episteme e sofia (saberes especiais dos homens mais refletidos e
estudados, correspondentes, o primeiro ao conhecimento tido naquele
tempo como científico, o segundo a toda a sabedoria dos “primeiros
princípios” acumulados pela filosofia). Afirmava Platão que o que há de
específico na doxa é o poder conter verdades também; no entanto, ela
se distingue da filosofia e da ciência especial em não poder dar o
fundamento do que diz ou pensa. (Morais, 1997, p. 27)

Podemos perceber que Platão já fazia uma distinção entre o


conhecimento do senso comum e o conhecimento que era buscado de uma
forma mais sistemática, buscando uma fundamentação do que se pretende
conhecer; ainda assim, não descartava a doxa como possibilidade de conter a
verdade.
Aristóteles procurou uma forma de compreender como se alcança o
conhecimento a partir da sistematização de um relacionamento entre causa e
efeito. Essa é apresentada como uma forma de compreender a realidade, e não
somente obter conhecimento, pois trata também da previsibilidade, da repetição
de determinados experimentos ou fenômenos.

De Aristóteles a Bacon ensinou-se que o conhecimento científico é


aquele que visa relacionar cada efeito a uma causa. Mais do que
simples curiosidade o homem de ciência teria necessidade de
investigar as relações entre causa e efeito, a fim de esclarecer a
dinâmica universal e conseguir alguma possibilidade de fazer seguras
previsões sobre os eventos futuros. Explicá-los desde as suas raízes,
podendo antecipar algo nas suas consequências. (...) Já o filósofo
escocês David Hume, no século XVIII, investiu rigorosamente contra a
noção de relacionamento entre efeitos e causas em sua argumentação
contra a causalidade. Para Hume, nos conhecemos um fenômeno e
outro que o antecede com sugestiva proximidade. O conhecimento
sensível nos põe dois fenômenos que guardam entre si a relação de
antecedente e consequente; mas dizer que entre eles há uma relação
e produção (o primeiro produziu o segundo) isto é uma construção da
mente humana. (Morais, 1997, p. 27)

David Hume questionou a inter-relação automática entre causa e efeito,


que para ele poderia ser apenas uma interpretação humana. Essa teoria fez com
que houvesse um aprofundamento no desenvolvimento do método científico. Foi
com Bacon e Descartes que o método científico teve início efetivamente; os
autores sublinhavam a necessidade da investigação científica para o domínio da
natureza. Nesse sentido, é fundamental que se parta de uma posição cética para
buscar a compreensão do mundo. Descartes, em sua obra O discurso do
Método, lançou os fundamentos do método científico, questionando os sentidos
como forma direta de conhecimento da realidade, pois deveriam estar sob o crivo
da razão. Seu questionava a forma como se poderia elaborar uma declaração

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que fosse verdadeira, inequivocamente, considerando que seus próprios
sentidos poderiam enganá-lo. Dessa reflexão, surge uma das afirmações mais
conhecidas da filosofia:

Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar


que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava,
fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo
existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes
suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que
poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia
que procurava. (Descartes, 1987, p. 46)

Descartes instituiu o que viria a ser uma das bases do método científico:
para se compreender o todo, bastaria compreender as partes. Essa forma de
pensar acabou abrangendo todas as áreas do saber humano, o que de certa
forma possibilitou o desenvolvimento das ciências. Porém, aqui também há um
problema, pois limita-se por vezes a compreensão do todo pelas suas partes, o
que direcionou a uma especialização do estudo das partes, que por vezes se
desconectam do todo, impossibilitando a percepção de que o relacionamento
entre as partes também é importante para o conhecimento do todo. Assim,
muitas vezes, quando se foca na especificidade das partes, não se compreende
as inter-relações entre elas, e suas consequências para o todo.

TEMA 4 – FUNDAMENTOS DO MÉTODO CIENTÍFICO

Para que um conhecimento ou saber seja entendido como científico, ele


deve ser fundamentado em um método. O método deve existir para que se possa
averiguar a forma como o conhecimento foi adquirido e para poder testá-lo e
repetir a experiência, de modo a obter os mesmos resultados, ou seja, a
desejada previsibilidade. Assim, uma das bases do método científico é que se
possa testar, avaliar a experiência ou tese, a partir de método próprio.
Podemos, de uma forma geral, afirmar que os passos básicos de um
método científico se compõem por:

1. Primeiramente, temos a observação. É neste momento que o cientista


observa o fenômeno, procurando isentar-se de qualquer conceito prévio
ou, como poderíamos dizer, de pré-conceito sobre ele. Dessa forma, o
que se pretende é observar suas características.
2. O segundo passo seria a elaboração do problema ou a problematização,
isto é, o questionamento sobre o problema. Aqui cabe as perguntas:

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Como? Por quê? etc. Ainda não se oferece uma resposta, pois é
importante elaborar bem o problema.
3. A partir dos questionamentos, inicia-se os estudos para a busca de
hipóteses, isto é, a resposta ou as respostas para o problema. Na ciência,
por vezes pode-se ter mais de uma resposta; porém, a princípio apenas
uma é correta. E como descobrimos qual delas é certa? Através do
próximo passo.
4. É através da experimentação e das pesquisas que se busca compreender
qual a resposta correta, isto é, quais hipóteses são mais consistentes.
5. Terminada a fase de experimentos, procede-se à análise dos resultados
que se mostraram eficientes quanto à consistência das hipóteses, isto é,
que respondem, de forma eficiente, os questionamentos.
6. Pode-se obter a conclusão apresentando as hipóteses mais consistentes
para a explicação do fenômeno observado. Porém, a princípio as
hipóteses devem ser continuamente submetidas a novos
questionamentos, pois, como já afirmamos, todo conhecimento, ainda que
científico, é provisório.

Esses são os passos necessários para o desenvolvimento científico, e


para que um conhecimento obtenha a característica de científico. Podemos
aplicar este método, com determinados ajustes, para a pesquisa teológica,
compreendendo que cada ciência tem um método que é mais próprio para o seu
objeto de estudo. Veremos com um pouco mais de detalhes o método da teologia
no próximo tema.

TEMA 5 – A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA: O OBJETO DA TEOLOGIA

Poderíamos chamar a teologia de ciência? Se sim, qual seria o seu objeto


de estudo? Primeiro, já vimos a fundamentação do método científico e a
fundamentação da epistemologia; desta forma, podemos afirmar que a teologia
é uma ciência. Porém, é necessária uma distinção: ela não é uma ciência no
sentido das ciências da natureza ou da matemática. A teologia faz parte das
ciências humanas, ou das humanidades, isto é, das áreas que pretendem
compreender as características do ser humano e seus relacionamentos.
Segundo Tillich (2005, p. 21), “A teologia, como função da igreja cristã, deve
servir às necessidades desta igreja. Um sistema teológico deve satisfazer duas

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necessidades básicas: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a
interpretação desta verdade para cada nova geração”. Desta forma, a teologia
procura compreender a relação do ser humano com a espiritualidade, com Deus,
e consequentemente a relação com o outro, agora mediada pela revelação e
pela interpretação das Escrituras. Segundo Murad, Gomes e Ribeiro (2010, p.
16), “A teologia cristã só pode ser compreendida a partir da fé de que Deus
mostrou quem ele é, manifestando seu projeto de salvação para a humanidade.
É o que nós cristãos chamamos de revelação”. Procurando aprofundar a
definição sobre o termo teologia, Champlin elucida (2001, p. 357):

O termo teologia vem do grego theós, “deus” e logos, “estudo”,


“discurso”, “raciocínio”. Assim, esta palavra indica o estudo das coisas
relativos a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc.
Uma definição léxica diz “... um corpo de doutrinas estabelecido por
alguma igreja ou grupo religioso em particular. Essa é uma definição
restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral:
“O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da
religião; além disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da
religião cristã.

Pelas definições, poderíamos afirmar que a teologia tem como objetivo o


“estudo” de Deus; porém, com isso estaríamos cometendo um erro grave, pois
Deus somente pode ser o estudo da teologia de forma indireta, e a partir daquilo
que lhe aprouve revelar à humanidade. Logo, a busca da teologia é compreender
e interpretar a revelação divina, e para isso o objeto de estudo da teologia é as
Sagradas Escrituras, a fé, a Igreja e os impactos e relacionamentos entre tais
elementos e a própria sociedade. E como pretende-se ciência, isto é, provar-se
como uma forma de compreender o mundo e a realidade e seus fenômenos,
necessita de um método. Segundo Clodovis Boff (1999, p. 16), temos na
metodologia teológica quatro níveis de profundidade crescente:

1. Nível das técnicas: Os recursos usados pela pesquisa e reflexão


teológica, isto é, os meios e modos que contribuem para seu exercício,
como o método para a pesquisa, a leitura, a interpretação dos textos, a
análise e o aprofundamento das questões, a organização do material, a
elaboração das ideias etc. Essas são as exigências básicas, comuns da
chamada metodologia teológica enquanto aplicação da ciência teológica.
2. Nível do método: Compreende as etapas pelas quais passa o processo
da prática teológica, isto é, a articulação com as questões da vida e da
prática. Para isto, é preciso escutar a Palavra, com sua compreensão

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voltada para o sentido da comunidade de fé original, com uma
interpretação crítica, com direcionamento para a vida, e assim por diante.
3. Nível da epistemologia: É a busca por fundamentação crítica, com
justificação racional, passando pela compreensão de seus alcances e
limites. Aqui, cabe atenção, pois é importante compreender que a teologia
tem seus limites epistemológicos, pois como sabemos a revelação Divina
é limitada pela autorrevelação de Deus, de modo que não podemos saber
mais de Deus do que a sua revelação apresenta. Ela pode se dar tanto
pela revelação natural quanto pela revelação no decorrer da história, que
se mantém preservada nas Escrituras.
4. Nível do espírito teológico: Por trás da prática teológica, existe um
espírito que atravessa e sustenta tudo. É a busca por entender o mistério.
É no fim, a “vontade de conhecer” Deus que se confunde com a própria fé
em sua dinâmica interna. É a paixão por buscar compreender qual é a
largura, o comprimento, a altura e a profundidade do mistério divino (Ef.
3,18).

Como pudemos perceber, o método teológico implica um processo de


pesquisa a partir do próprio texto das Escrituras, que possui um método
exegético, alinhado com a contribuição de outras ciências, como filosofia,
sociologia, história etc., que dialogam com a fé e com a realidade do mundo de
forma crítica e reflexiva.

NA PRÁTICA

A teologia tem um papel extremamente importante para a Igreja, pois é


através da reflexão teológica das Escrituras que podemos compreender todas
as implicações da ação de Deus no decorrer da história, e também a importância
da sua Revelação para a o ser humano. A pesquisa teológica tem como fim
contribuir para a compreensão de problemas que surgem na sociedade e que
têm um impacto direto na comunidade de fé, possibilitando uma compreensão
vasta e apresentando respostas através da cosmovisão cristã. Além desta
contribuição vital para a Igreja, a teologia também pretende ser ouvida na
sociedade, contribuindo para o debate público. Para tanto, é preciso que seja
compreendida como uma ciência que apresenta um método investigativo; trata-
se de uma ciência estruturada, que consegue dialogar com as demais ciências,

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oferecendo alternativas que levam em consideração a espiritualidade e as
peculiaridades humanas, bem como a sua fé em Deus. É extremamente
importante que a teologia possa se fazer ouvida na sociedade, e que sua
contribuição seja considerada relevante para a reflexão humana, considerando
que o ser humano é dotado de uma espiritualidade que deve ser respeitada na
busca de respostas para os dilemas humanos da modernidade.

FINALIZANDO

Pudemos compreender, no decorrer desta aula, que a pesquisa teológica


tem uma importância muito grande, tanto para o desenvolvimento da Igreja,
quanto para o debate de grandes questões sociais, pois a teologia se alinha com
a epistemologia, observando-se que apresenta um método próprio de
investigação, isto é, de pesquisa. Pudemos ainda compreender um pouco da
origem e do desenvolvimento do método científico, com seus fundamentos
básicos. Por fim, compreendemos que o objeto da pesquisa científica teológica
parte de um método próprio de pesquisa, fruto da característica do seu objeto de
estudo, Deus. Assim, a pesquisa é realizada sempre de forma indireta, através
da sua autorrevelação, contida nas Escrituras, da fé e dos relacionamentos
humanos.

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REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,


2012.

BOFF, C. Teoria do método teológico. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 5. ed. Dutra:


Hagnos, 2001. v. 6.

DESCARTES, R. Discurso do método: As paixões da alma - Os Pensadores.


4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

GRITTI, J. Expressão da fé nas culturas humanas. 1. ed. São Paulo: Paulinas,


1978.

MORAIS, R. D. Filosofia da ciência e da tecnologia. 6. ed. Campinas: Papirus,


1997.

MORELAND, J. P.; GRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. 1. ed. São


Paulo: Vida Nova, 2005.

MURAD, A.; GOMES, P. R.; RIBEIRO, S. A casa da teologia: introdução


ecumênica à ciência da fé. 1. ed. São Leopoldo: Paulinas/Sinodal, 2010.

TILLICH, P. Teologia sistemática. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal/Est, 2005.

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METODOLOGIA DA PESQUISA
TEOLÓGICA
AULA 2

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, pretendemos aprofundar a compreensão da pesquisa


teológica entendendo quais são suas bases e de que forma elas se articulam. A
Teologia é uma das ciências mais antigas, e a teologia cristã tem um rico
passado do qual retira seus fundamentos. Tanto as reflexões encontradas nas
epístolas sobre as implicações da morte e ressureição de Cristo como as
questões doutrinárias mais básicas sobre como viver a fé cristã contribuem para
a construção do pensamento teológico, pois não há religião sem teologia. Da
mesma forma, a reflexão cristã é necessariamente a construção teológica.
Porém, é preciso que essa reflexão seja bem fundamentada, buscando sempre
a compreensão correta da revelação divina, pois é possível construir uma
teologia frágil, sem uma real vinculação e compromisso com a palavra de Deus.
Por isso, é importante que todo pastor seja um bom teólogo, não há como ser
um sem ser o outro.
Podemos compreender, dessa forma, que a pesquisa teológica contribui
substancialmente para o trabalho pastoral, e a práxis pastoral auxilia a reflexão
teológica. Para que esse diálogo entre a prática e a reflexão seja frutífero,
veremos nesta aula que a principal fonte da pesquisa teológica são as Sagradas
Escrituras, e não poderia ser diferente.
A pesquisa teológica ou começa pelas Escrituras ou termina nela, será
sempre o fundamento de uma teologia genuinamente cristã. Ainda
compreenderemos que a contribuição dos debates e escritos dos pensadores e
teólogos cristãos são extremamente importantes para a pesquisa teológica, pois
temos mais de dois mil anos de estudos que podem nos auxiliar nos problemas
atuais.
No terceiro tema desta aula, vamos nos debruçar sobre o estudo teológico
e como devemos nos preparar academicamente e metodologicamente para sua
eficácia; no quarto tema, veremos a importância da teologia e da pesquisa
teológica para a Igreja. Finalizaremos com uma reflexão de outro campo vital
para a construção teológica, o campo da vida. Uma teologia comprometida com
as Sagradas Escrituras não pode ignorar o ser humano, na sua fragilidade e
complexidade, tampouco sua dependência do ambiente que o cerca. Ao final
desta aula, teremos aprofundado os principais aspectos e objetos da pesquisa
teológica, percebendo suas inter-relações e dependências.

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TEMA 1 – BASE TEOLÓGICA – ESCRITURAS SAGRADAS

O trabalho da pesquisa teológica pode e deve se alimentar das mais


variadas fontes na problematização, isto é, levantado perguntas sobre questões
as quais sejam importantes para o indivíduo, quanto para obter algumas
respostas. Assim, todas as áreas do viver e saber humano podem ser objeto de
avaliação de um teólogo, e também podem apresentar contribuições na
construção de respostas às perguntas teológicas. Porém, a base de qualquer
trabalho teológico será sempre as Escrituras. Será nela que o teólogo terá sua
fonte de reflexão e de compreensão pelo prisma da Revelação sobre a vontade
de Deus para a humanidade, e assim sua orientação e veredito final.
Clodovis Boff aprofunda essa compreensão afirmando:

Deve-se, contudo, observar que quando se diz fé-palavra, referimo-


nos, em primeiro lugar, não à palavra da doutrina, mas à palavra do
testemunho. Essa passa através do querigma1, que é anúncio e
proclamação, cujo portador é o Apóstolo ou Missionário […]. Todavia,
este é o lado subjetivo ou antropológico da fé-palavra. Precisamos
recuar e ver qual é o correlato objetivo ou teologal desta fé. Pois a fé-
palavra, antes de ser palavra humana, é Palavra de Deus. Dizer que “a
teologia parte da fé do Povo de Deus” só vale se entender o Povo de
Deus como constituído pela Palavra, não constituinte da mesma. Ele é
medido por ela, não a mede. (Boff, 1999, p. 111)

O discurso da fé sempre deve ser submisso à palavra de Deus, as


Escrituras, pois a fé não é nada mais que crer nas Escrituras. Qualquer fé
manifestada pelo povo que não tenha como origem a correta compreensão das
Escrituras não pode constituir uma fé cristã. Assim, a fé, para o teólogo, é objeto
de seu estudo quando for derivada das Escrituras. Por consequência, a base
para a pesquisa teológica é a Bíblia. Essa é a base da pesquisa teológica, todas
perspectivas que o campo da pesquisa teológica terá sempre sua avaliação
criticada pelo prisma da interpretação dos conceitos das Escrituras. Por isso,
afirmamos que a pesquisa teológica não precisa necessariamente começar
pelas Escrituras, mas elas sempre terminarão nela.

A matéria-prima da teologia consiste naquilo que pode ser


transformado em produto teológico. O grande teólogo medieval Tomás
de Aquino dizia que o objeto material da teologia é Deus. Isso é
pertinente, pois a teologia estudo sobre quem Deus é e como ele se
manifesta na história de seu povo. Assim, é necessário ir à Bíblia, o
livro revelado que narra as ações e as palavras divinas. A revelação
contou com a participação humana, em um longo movimento de
interpretação, leituras e releituras. Assim, a matéria-prima da teologia

1
Querigma é o anúncio da Palavra de Deus, inicialmente realizado pelos apóstolos.
3
é Deus, como se revelou na história e é narrada na Bíblia. (Murad;
Gomes; Ribeiro, 2010, p. 29)

Como podemos perceber, o conhecimento de Deus para a teologia se dá


de forma indireta, isto é, por meio daquilo que aprouve a Deus revelar-se para a
humanidade, e que está registrado nas Escrituras. Assim, quando dizermos que
“estudamos” Deus, o que de fato fazemos é compreender sua revelação que
está nas Escrituras, e cabe avaliar a implicação dessa revelação para o ser
humano nos mais diversos aspectos da vida.
O teólogo Wayne Grudem afirma:

É importante perceber que a forma final na qual a Escritura é cheia de


autoridade é a forma escrita. Foram as palavras de Deus escritas em
tábuas de pedra que Moisés depositou na arca da aliança. Mais tarde,
Deus ordenou a Moisés e subsequentemente aos profetas para
escreverem suas palavras em um livro. Foi a palavra de Deus escrita
que Paulo disse ser “inspirada” (gr. Grafe em 2 Tm 3.16). Isso é
importante porque as pessoas à vezes (de forma intencional ou não)
tentam substituir as palavras escritas da Escritura por algum outro
padrão final. (Grudem, 2001, p. 49)

Esta é a fonte primária da pesquisa teológica: a Bíblia. Tanto no Antigo


quanto no Novo Testamento o pesquisador obterá o direcionamento para o viver
humano. Para isso, o teólogo deverá ter um conhecimento profundo do Livro
Sagrado, deverá compreender claramente a mensagem geral das Escrituras,
tanto no contexto do Antigo quanto do Novo Testamento, e buscar o sentido
orientativo da Palavra de Deus para o viver e proceder humano.

TEMA 2 – CONHECIMENTO CONSTRUÍDO – HISTÓRIA TEOLÓGICA

Como já afirmamos, a teologia cristã tem mais de 2.000 anos, é uma


ciência milenar, e abandonar esse conhecimento acumulado é tratar com
desprezo o esforço e a dedicação que grandes pessoas tiveram para
compreender e desenvolver a compreensão das Escrituras. Nesse
conhecimento acumulado, há o debate e a reflexão sobre as grandes discussões
e embates doutrinais, bem como a defesa da fé em períodos de profundo
questionamento do sentido e validade da Bíblia perante outros saberes. Muitos
desses teólogos, pessoas dotadas de uma fé profunda, dedicaram sua vida ao
estudo das Escrituras e não raras vezes pagaram com a própria vida o privilégio
de compreenderem e ensinarem mais sobre a palavra de Deus. É impossível
pensar em pesquisa teológica sem buscar os clássicos do pensamento teológico
dos pais da Igreja, quando dos teólogos da modernidade. Não podemos

4
esquecer que a Igreja não saltou dos escritos apostólicos para a Reforma
Protestante. A igreja primitiva se deparou com profundos questionamentos, e a
Igreja ainda em formação dos primeiros líderes que receberam a mensagem da
salvação após a morte dos apóstolos também passou por profundos debates,
sejam internos, da comunidade de fé, sejam externos, enfrentando ataques e
doutrinas estranhas que necessitavam serem debeladas. É preciso compreender
que a igreja, desde o seu início, enfrentou desafios e havia uma diversidade de
pensamento que necessitava de reflexão e compreensão, mesmo de questões
que para nós hoje possam parecer simples.

Comparadas com o que se tornariam por volta da metade do século,


as águas romanas estavam bem calmas nos tempos de Clemente. A
incorporação de um número crescente de gentios nas comunidades
judeu-gentia-cristãs levantou mais rapidamente outras questões de
identidade e adaptabilidade. Por essa época, algumas comunidades já
tinham provavelmente crescido bastante para necessitarem de locais
específicos para o uso litúrgico. Sem dúvida cada uma experienciou
um aumento nas tensões paralelo á incorporação de convertidos [...].
Apareceram sérios conflitos relativos à questão do arrependimento de
pecados graves (possivelmente de apostasia, adultério ou
assassinato), cometidos após o batismo. [...] A constante modificação
da membresia dessas comunidades sem dúvida esquentou o clima de
discussões sobre todos os tipos de questões morais e doutrinárias,
fazendo necessária, portanto, a configuração de procedimentos
disciplinares e catequéticos mais definidos, tais como aqueles
apresentados por Hipólito e Tertuliano na primeira parte do terceiro
século. (Hinson; Siepierski, 1990, p. 82)

Podemos ver, por intermédio desse cenário apresentado por Hinson e


Siepierski, a complexidade de problemas que a igreja cristã já estava passando
nos meados do século II e III. Como poderíamos deixar de fora da reflexão cristã
contemporânea as contribuições dos teólogos da igreja primitiva para a solução
de problemas que, de certa maneira, não mudaram tanto assim? Como podemos
tapar nossos ouvidos para suas palavras de sabedoria? Definitivamente não
podemos. Necessitamos reler os clássicos da patrística, bem como os teólogos
da modernidade. Segundo Christopher Hall:

Os próprios pais [da igreja] insistem que a igreja é responsável perante


a Escritura. Ao mesmo tempo, Sola Scriptura nuca significou que as
únicas fontes de que o cristão necessita para compreender bem a
Palavra de Deus são a Bíblia e o Espírito Santo. O ideal do intérprete
autônomo pode mais facilmente ser colocado nas pegadas do
iluminismo do que na Reforma. Ao contrário, os reformadores como
Lutero e Calvino, consideraram sabiamente que a história, os concílios,
os credos e a tradição da igreja, inclusive os escritos dos pais, eram
um fértil recurso ignorado somente pelos tolos ou arrogantes. (Hall,
2007, p. 20)

5
Podemos compreender a importância, na pesquisa teológica, de visitar os
clássicos, sejam da teologia patrística, sejam da reforma protestante, bem como
os grandes pensadores da atualidade. Porém, devemos compreender que suas
concepções teológicas também estavam ligadas a um momento da história. É
preciso compreender esse pano de fundo: o contexto histórico do pensador e,
principalmente, como futuros teólogos, devemos saber que todo teólogo e suas
reflexões devem estar submissos à Escritura. A Bíblia é o parâmetro também
para separarmos boa teologia de uma teologia frágil.

TEMA 3 – ESTUDO TEOLÓGICO

O estudo teológico deve começar pela fé; para o teólogo cristão, a fé em


Cristo é essencial. Quem estuda as Escrituras sem fé, isto é, sem crer que ela é
a revelação de Deus para a humanidade, estudará a Bíblia como o resultado de
um fenômeno religioso e buscará as motivações humanas para a elaboração
desse livro e suas implicações. Poderá ainda pesquisar seus reflexos éticos e
morais no decorrer da história, mas não considerará que, em tais escritos, possa
haver um imperativo ético, mas uma sabedoria humana sendo construída no
decorrer da história; poderá ser um pesquisador teólogo ou estudioso das
Ciências das Religiões. Também vimos que a base para a pesquisa teológica é
a Escritura, mas vamos deixar um pouco mais claro o material, ou o caminho
para a pesquisa teológica.
Toda pesquisa nasce de uma problematização, isto é, de uma questão
que percebemos que precisa de uma resposta, ou de uma questão que
aparentemente havia concordância, mas, ao refletirmos sobre ela, percebemos
que há uma pergunta, uma dúvida que merece ser explorada. Essa
problematização pode ser uma questão bíblica/teológica, que tenha nascido de
uma reflexão de um texto bíblico ou de uma doutrina, mas também pode ser de
outra fonte, por exemplo, da igreja, alguma questão relacionada à condução da
igreja, do culto, de algum ministério. Pode ser da própria fé, de como ela opera
no cristão, de como deve ser a vida cristão, ou de algum problema da sociedade
de forma geral, que também pode afetar a igreja, como o aborto, a justiça social,
a dignidade humana, a própria tecnologia etc. Como podemos perceber, o
campo de atuação para a pesquisa teológica é enorme.

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O estudo teológico começa ao entender qual é o problema que há no
campo em que se está pesquisando. Podemos descrever os principais passos
desse estudo da seguinte forma.

1. Problematização: compreender qual é o problema que visualizamos em


determinada questão, ou texto bíblico ou ação na igreja etc. Isso não quer
dizer que o fato em si seja um problema, mas que há uma pergunta que
se faz para aprofundar o entendimento. Nesse momento, não temos a
resposta nem devemos procura tê-la, pois precisamos compreender todas
as nuances e questões envolvidas.
2. Compreensão do assunto: podemos não dominar determinado assunto,
ou mesmo que tenhamos certo conhecimento, é preciso aprofundar o
tema para entendermos com maior profundidade a fim de percebermos
todas as implicações que possa haver. Por exemplo, se resolvo pesquisar
a clonagem humana, a pergunta que poderia fazer, isto é, a
problematização seria: quais as implicações teológicas da clonagem
humana? Para poder começar a compreender melhor essas implicações,
é preciso aprofundar o entendimento sobre o que é a clonagem, DNA etc.
para entender realmente as implicações que isso possa ter. Então, é
preciso estudar o assunto.
3. Pesquisa sobre o pensamento cristão: podemos dizer que esta é a
pesquisa teológica do assunto. O que os teólogos cristãos já escreveram
sobre o assunto, como a compreensão destes podem contribuir para o
problema levantado?
4. Resposta bíblica: nesse momento, realizamos a pesquisa bíblica
procurando compreender o conceito que as Sagradas Escrituras nos
fornecem sobre o assunto. Para isso, é preciso compreender bem o texto,
o seu contexto, e realizar uma exegese sobre o texto ou os textos bíblicos
que podem nos orientar.
5. Apresentar uma resposta: essa é a parte final, em que se apresenta uma
resposta por meio da pesquisa teológica ao problema levantado. Observa-
se que essa resposta sempre será parcial e nunca encerra o assunto de
fato.

Claro que esses pontos ainda são uma visão macro e simplificada da
pesquisa teológica, mas já nos possibilita ter uma visão sobre o procedimento
da pesquisa de forma prática.
7
TEMA 4 – PESQUISA TEOLÓGICA, IGREJA E PASTOR TEÓLOGO

A pesquisa teológica tem importância para a Igreja? A resposta para essa


pergunta é sim e muita. Os desafios para o cristão na sociedade moderna são
vários e, para isso, é preciso que se tenha respostas bíblicas que sejam
relevantes para sua vida, e para que possa compreender melhor sua fé e as
implicações desta. A igreja não deve se afastar da teologia, pois a teologia
fornece elementos que podem fortalecer a fé, e a própria teologia pode ser
enriquecida pela práxis da comunidade de fé.

“Todo pastor tem chamado para teologia” essa pode ser uma afirmação
que cause surpresa a alguns pastores que vem a teologia somente
como uma disciplina acadêmica. A saúde da igreja depende que seus
pastores permaneçam como que teólogos ensinando, pregando,
defendendo e aplicando a doutrina da cristã. O fato de muitos pastores
não verem a teologia como vocação tem causado muitos danos a
igreja. Em muitos casos o conteúdo teológico foi varrido do ministério
do pastor, e alguns pastores por sua vez parecem ter pouca conexão
com a vocação teológica. A vocação do pastor é inerentemente
teológica. Pois, pelo fato de que o pastor precisa ser o professor da
Palavra de Deus. (Almeida; Rohregger, 2017)

A teologia é uma segurança para a igreja, pois uma teologia


comprometida com a palavra é um forte guardião da sã doutrina, e ainda pode
ser a vigia de problemas futuros que são antecipados pela pesquisa teológica. A
teologia deve ser usada na igreja com humildade, ela é serva do evangelho,
dessa forma, o teólogo ou o pastor teólogo deve ser humilde e submisso à
palavra de Deus, ele foi colocado por Deus para servir a sua comunidade de fé
por meio de uma teologia cristã.

O que torna o papel do pastor ainda mais desafiador é a existência de


três diferentes grupos de pessoas, três públicos, cada um com a
própria forma de pensar. Quando falo de três públicos, refiro-me a três
realidades sociais, três ambientes em quem os pastores podem falar
de Deus e de Jesus Cristo: (1) a academia (2) a igreja e (3) a sociedade
em geral. Porque Deus é o Criador de tudo o que existe, seja visível
seja invisível, e porque as boas-novas do amor sacrificial de Deus
dizem respeito a todo mundo, não há um único centímetro quadrado
no universo nem um único aspecto da existência humano que, de
alguma forma não esteja relacionada com Deus ou o evangelho.
(Vanhoozer; Strachan, 2016, p. 20)

O teólogo-pastor tem um compromisso com a teologia pública, que


necessita dialogar com a sociedade tanto para compreender o momento
histórico-social quanto para contribuir com soluções para os dilemas da
modernidade. Para isso, precisa estar bem preparado, deve buscar sua
formação acadêmica como uma ferramenta essencial para o seu ministério, e ter
8
nos livros um apoio para o desenvolvimento pessoal e ministerial, e
principalmente para o crescimento espiritual e intelectual da comunidade de fé a
qual pastoreia.

TEMA 5 – PESQUISA TEOLÓGICA E CAMPO DA VIDA

A teologia, tendo um comprometimento com a Escritura, tem por


consequência um comprometimento com a vida. Podemos dizer que o campo da
vida é um dos mais significativos interesses que a teologia pode ter, uma vez
que a criação é um interesse e obra de Deus. O ser humano é colocado como
responsável pelo cuidado na manutenção da criação, pela manutenção da vida.
Nesse aspecto, podemos entender que, nessa área, a pesquisa teológica
pode se voltar para o ser humano, suas características como indivíduo biológico
e social, no sentido de compreender a implicação relacionada a ser criado à
imagem e semelhança de Deus, e em outro aspecto, a criação de Deus, a própria
natureza, porém não alienado da condição humana inserida nessa criação.
A teologia tem uma preocupação com a dignidade humana. Considerando
o ser humano criado, como já dito, à imagem e semelhança de Deus, as ações
que ferem o ser humano maculam essa característica peculiar da criação. Ao
removermos do indivíduo seus direitos, manchamos sua característica de
imagem e de semelhança a Deus. Dessa forma, um ataque à dignidade humana
é um ataque a Deus. Isso não nos faz pequenos deuses, uma vez que somos
criaturas e há um único criador, porém a forma especial pela qual fomos criados
é que nos dá uma característica que nos diferencia de toda a criação. Lewis
(2006, p. 50) afirma:

A relação entre o Criador e a criatura é, evidentemente, única e não


encontra par em nenhuma relação entre uma criatura e outra. Deus
está mais distante de nós e também mais próximo que qualquer outro
ser. Está mais distante mais distante de nós porque a mera diferença
entre aquilo a que tem o Seu princípio de existência em Si Mesmo e
aquilo a que a existência é comunicada é tal que, comparada a ela, a
diferença entre um arcanjo e um verme é de todo irrelevante. Ele cria,
nós somos criados. Ele é original, nós, originários. Ao mesmo tempo,
contudo, e pela mesma razão, a intimidade entre Deus e até mesmo a
mais vil das criaturas é maior que qualquer intimidade que criaturas
possam alcançar uma com a outras. Nossa vida é, a todo instante,
abastecida por Ele. (Lewis, 2006, p. 50)

Essa dependência de Deus nos coloca em nosso devido lugar na criação.


Somos criaturas e não o criador, toda a tentativa de domínio de um ser humano
sobre o outro é a tentativa de recriar a cena do pecado original no Éden, é a

9
tentativa de assumirmos a posição de Deus, de sermos iguais a Ele. Podemos
perceber a importância que o campo da vida tem para a teologia, e
consequentemente, como campo de sua pesquisa, é extremamente relevante
compreender que todos somos iguais e portadores de dignidade estabelecida na
criação. De forma semelhante, sendo a vida a expressão máxima da criação, o
cuidado para a manutenção desta é essencial, isto é, a manutenção da natureza
como elemento necessário para o desenvolvimento de toda a vida e, em
especial, da vida humana. A ecologia deve ser um campo de especial atenção
para a pesquisa teológica, e por vezes é relegada a segundo plano, permitindo
que a humanidade avance na destruição de áreas imensas de florestas, de
poluição de rios e do ar de forma alarmante, sem a preocupação com as
consequências que essa exploração tem para o futuro da humanidade. Rollo
May (2016), um dos maiores psicanalistas do século XX, faz uma descrição
perturbadora do ser humano contemporâneo:

Pode surpreender que eu diga, baseado em minha prática profissional,


assim como na de meus colegas psicólogos e psiquiatras, que o
problema fundamental do homem, em meados do século XX, é o vazio.
Com isso quero dizer não só que muita gente ignora o que quer, mas
também que frequentemente não tem uma ideia nítida do que sente.
Quando falam sobre a falta de autonomia, ou lamentam sua
incapacidade para tomar uma decisão – dificuldades presentes em
todas as épocas – torna-se logo evidente que seu verdadeiro problema
é não ter uma experiência definitiva de seus próprios desejos e
necessidades. Oscilam desse modo para aqui e para ali, sentindo-se
dolorosamente impotentes porque [estão] ocas, vazias. (May, 2016, P.
14)

Essa descrição do ser humano não somente ainda é válida como


podemos afirmar que está ainda mais problemática atualmente. A pesquisa
teológica tem no campo da vida uma área imensa para desenvolver suas
pesquisas e apresentar respostas para as inquietações da modernidade, bem
como proporcionar um diálogo com as demais ciências da vida para, em
conjunto, poderem resgatar valores e ações éticas no relacionamento humano.

NA PRÁTICA

A pesquisa teológica pode se debruçar em vários aspectos. Por acaso


podemos buscar compreender as consequências do desenvolvimento
tecnológico da sociedade, como esse desenvolvimento pode facilitar a
propagação do Evangelho? Ou como as redes sociais podem afetar o ser
humano na sua espiritualidade e amor ao próximo? Como nossa sociedade

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consumista afeta nosso relacionamento com o próximo? E como essas questões
afetam a Igreja?
O desenvolvimento das técnicas de manipulação genética pode alterar a
concepção de ser humano? O que as Escrituras podem nos orientar com relação
à manipulação genética? Como deve ser o posicionamento político de um
cristão? Todas essas questões e muitas outras podem e são objeto da pesquisa
teológica. É necessário articular os conceitos teológicos extraídos das Escrituras
com os saberes de outras ciências para apresentar uma resposta que seja
relevante e que confronte por vezes as concepções já dadas como certas da
sociedade.

FINALIZANDO

Nesta aula, pudemos compreender que a base da pesquisa teológica são


as Escrituras. A pesquisa não precisa necessariamente se iniciar nela, mas
obrigatoriamente termina com a confrontação da Bíblia. Identificamos a
importância de consultar os pensadores clássicos da teologia. A catedral da
teologia cristã tem milênios de laboriosa construção que não pode ser ignorada,
e por meio dessa compreensão pudemos avançar para entendermos como se
procede o estudo teológico, o caminho para desenharmos a reflexão teológica
sobre qualquer assunto. Com base nessa compreensão, passamos a verificar a
importância da pesquisa teológica para a Igreja, na contribuição para a
construção de uma comunidade de fé consciente dos grandes desafios da fé e
da sociedade contemporânea na qual está inserida. Por último, mas não menos
importante, avaliamos como a pesquisa teológica está profundamente vinculada
com o campo da vida, e como esta deve ser um dos assuntos de maior
importância para a teologia.

11
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. R.; ROHREGGER, R. A importância da formação teológica para o


ministério pastoral. Teologia, Sociedade & Espiritualidade, Curitiba, v. 1, n. 2,
p. 51-67, abr. 2017. Disponível em: <https://teologiaesociedade.weebly.com/uplo
ads/1/4/1/2/14122108/importancia_formação_teologica.pdf>. Acesso em: 29 set.
2019.

BOFF, C. Teoria do método teológico. Petrópolis: Vozes, 1999.

GRUDEM, W. Manual de teologia sistemática: uma introdução aos princípios da


fé cristã. São Paulo: Vida, 2001.

HALL, C. A. Lendo as escrituras com os pais da igreja. 2. ed. Viçosa: Ultimato,


2007.

HINSON, G. E.; SIEPIERSKI, P. Vozes do cristianismo primitivo. São Paulo:


Sepal, 1990.

LEWIS, C. S. O problema do sofrimento. São Paulo: Vida, 2006.

MAY, R. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis: Vozes, 2016.

MURAD, A.; GOMES, P. R.; RIBEIRO, S. A casa da teologia: introdução


ecumênica à ciência da fé. São Leopoldo: Paulinas; Sinodal, 2010.

VANHOOZER, K. J.; STRACHAN, O. O pastor como teólogo público:


recuperando uma visão perdida. São Paulo: Vida Nova, 2016.

12
METODOLOGIA DA PESQUISA
TEOLÓGICA
AULA 3

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

A pesquisa teológica é extremamente importante para o desenvolvimento


da cosmovisão cristã, e é necessária para o diálogo com a comunidade na qual
está inserida, além de contribuir para o crescimento da Igreja. Para aprofundar
esse entendimento, veremos nesta aula a importância da pesquisa teológica
para a teologia pública, bem como a necessidade de compreender os aspectos
desta para construir o diálogo com a sociedade. Na sequência, veremos como
proceder a uma leitura crítica, parte importante para construir a pesquisa
teológica e a argumentação, essencial para a escrita científica. Por fim,
aprofundaremos mais a compreensão da necessidade da pesquisa científica
para formar a cosmovisão cristã.

TEMA 1 – PESQUISA TEOLÓGICA: A TEOLOGIA PÚBLICA

A pesquisa teológica pode contribuir com o debate de questões


importantes que se fazem urgentes na sociedade contemporânea, isto é,
contribuir para a construção de uma teologia pública. Esse termo, “teologia
pública”, não é muito antigo; surge da percepção de que a teologia de alguma
maneira tenha que proporcionar uma reflexão voltada para o mundo de forma
geral, e não somente para as cercanias da Igreja. Porém, para entrar nos
debates que ocorrem nos mais diversos âmbitos da coletividade, é preciso estar
bem preparado. A voz da teologia deve ser ouvida pela percepção da sua
relevância, sua articulação com as ideias e teorias das outras ciências,
construindo um diálogo colaborativo, e não simplesmente impositivo.
Não se trata de uma tarefa simples. Ao contrário, apresenta um grande
número de desafios que o pesquisador deve suplantar, mantendo sempre a sua
fé em perspectiva da sua experiência pessoal, tendo como balizadora e fonte
primária a correta interpretação das Escrituras. Outro desafio é compreender que
se deve dominar os conceitos, métodos e reflexões teológicas. Porém, como
adentrará outras áreas, terá que conhecer e aprofundar-se nos aspectos sobre
os quais refletirá. Por exemplo, ao participarmos de debates referentes à
manipulação genética dos seres humanos, teremos que ter uma boa base bíblica
que nos oriente sobre essa questão, porém também deveremos compreender
como a manipulação genética ocorre, quais são as técnicas e suas
consequências.

2
Segundo Rudolf von Sinner,

No âmbito da língua alemã, o cientista político Hans Maier


recomendou, já em 1969, a “teologia pública” como alternativa à
“teologia política”, embora não tenha aprofundado o conceito. Poucos
anos mais tarde, o especialista protestante em ética social Wolfgang
Huber publicou sua tese de pós-doutorado sob o título “Igreja e esfera
pública”, mas preferiu o conceito de teologia política ao de teologia
pública. O que estava por trás disso era, entre outras coisas, a
mudança da esfera pública e do lugar das igrejas cristãs nela. Vinte
anos mais tarde, contudo, Huber criou uma coleção intitulada “Teologia
pública”, junto com o teólogo reformado sul-africano John de Gruchy.
Segundo Huber, essa teologia assinala justamente “a passagem para
a era ecumênica da cristandade”, acrescentando: “Numa época em
que a consciência da pluralidade social está aumentando, é preciso
colocar novamente a pergunta a respeito do que a teologia, como
explicação cientificamente refletida da fé cristã, pode contribuir em
termos de orientação nas grandes questões públicas do presente”.
Num verbete de dicionário mais recente, Huber diz ainda que “a
formação da esfera pública na acepção moderna do termo [reforça] a
percepção de que a pregação da igreja tem o caráter de comunicação
pública. Ela enseja a percepção de que a ação da igreja não pode se
limitar ao âmbito intraeclesiástico. […] neste horizonte [sc. da
mensagem da justificação do pecador e da orientação pela fé,
esperança e amor no horizonte do senhorio de Deus], porém, a defesa
da verdade, o engajamento em prol da justiça melhor e a cultura da
misericórdia aparecem como diretrizes importantes da atuação pública
dela”. (2011, p. 333-334)

Este é um dos principais objetivos da teologia pública: contribuir com o


debate público sobre questões urgentes na sociedade, isto é, fazer com que a
Igreja esteja presente, participativa e atuante, inclusive dentro da academia. A
teologia tem a grande vantagem de propiciar uma formação mais generalista,
que possibilita uma visão mais ampla e com vários aspectos. Isso é muito
importante, pois o ser humano é multifacetado, não é apenas um sistema
biológico, mas sim um ser biopsicossocial e espiritual, apenas para ficar em
algumas faces da sua complexa constituição. Vanhoozer e Strachan afirmam
que, em primeiro lugar, “pastores têm de ser teólogos; em segundo lugar, que
cada teólogo é em certo sentido um teólogo público: e em terceiro, que um
teólogo público é um tipo muito particular de generalista” (2016, p. 21).
A teologia pública está necessariamente vinculada à pesquisa teológica,
pois suas argumentações precisão estar fundamentadas em uma metodologia
clara, habilitando-a a dialogar de igual com as demais ciências, para ser ouvida
e respeitada.

3
TEMA 2 – LEITURA CRÍTICA

A leitura é parte essencial da pesquisa teológica, uma vez que grande


parte do fazer teológico tem como base a pesquisa bibliográfica, tanto para a
fundamentação teórica quanto para o embasamento de novas propostas e
concepções. Dessa forma, o material básico de pesquisa do teólogo são os livros
e artigos científicos.
A leitura desse material difere da leitura de um livro de literatura, que
também pode ser objeto de uma leitura crítica, mas não é o material corriqueiro
de pesquisa teológica. Na maior parte dessas leituras, o material é técnico, isto
é, relativo à ciência teológica, ou da área de pesquisa. Sendo assim, a leitura
desse material tem exigências próprias, tanto para sua compreensão quanto
para que possa ser avaliado. A leitura para a pesquisa teológica não é recreativa,
mas ativa. O leitor deve questionar e avaliar o texto de maneira a compreendê-
lo de forma plena e para enxergar alguma possível falha na argumentação ou da
apresentação de dados pelo autor.
A leitura de um material de pesquisa não deve ser feita apenas uma vez,
pois é bem provável que apenas a leitura de um único material teológico ou de
outra ciência possa deixar passar pontos importantes que não foram bem
compreendidos com relação à construção do texto.
Vamos procurar descrever um pequeno roteiro para efetuar a leitura
crítica de um texto técnico. Primeiro, é importante entender que a leitura de um
material técnico exige uma atenção muito grande, por isso é importante um local
silencioso para leitura. Também é interessante ter material para anotar questões
ou dúvidas com relação ao texto; considere usar uma caneta marca-texto para
evidenciar suas partes mais importantes. Porém, é preciso usá-lo com bastante
controle, evitando ter muitas partes do texto marcadas, pois isso não contribui
para uma leitura fluida.
Em muitos casos, a leitura deve ser feita mais de uma vez. Na primeira,
recomenda-se uma leitura mais “corrida”, isto é, ler o texto de uma vez, tanto
para se habituar ao escrito como para já perceber quais os pontos a que deverá
se reter na segunda leitura. Esta deve ser feita de forma mais lenta, detendo-se
nos pontos em que há dúvidas ou nos trechos cujo entendimento não foi muito
claro, inclusive relacionado a termos técnicos não compreendidos. Nessa fase,
um dicionário de termos da área de pesquisa seria interessante.

4
Vários autores consideram o comportamento de ler criticamente como
uma aplicação do pensamento crítico, e descrevem esta habilidade
como relacionada com três fatores: a) questionamento; b) funcional; c)
avaliativo. O questionamento leva o leitor a verificar os pressupostos
de um texto. O fator funcional ou conotativo leva o leitor a usar métodos
de inquisição lógica e de solução de problemas, a selecionar palavras
ou frases significantes em uma afirmação, a identificar aspectos
emocionais e a levantar os vieses do texto. O fator avaliativo, que
requer padrões fornecidos pelas experiências anteriores e inclui a
distinção entre o relevante e o irrelevante, a avaliação do mérito de um
texto e a apresentação de justificativas baseadas em evidências.
(Hussein, 1987)

Nessa fase, seria importante avaliar alguns pontos:

• Existem trechos confusos? Marque estes e qual a dúvida que deixam;


• As assertivas são válidas? Esse ponto é extremamente importante, pois
é parte fundamental da leitura crítica perceber se as afirmações estão
bem fundamentadas, se há questões abertas, se a argumentação é lógica
e o resultado é conclusivo;
• É necessário acrescentar algo? Ficaram questões em aberto no texto? As
perguntas foram devidamente respondidas?
• As conclusões encontradas são relevantes?
• A ordem dos capítulos está coerente?

Podemos perceber que a leitura crítica é parte fundamental da pesquisa


teológica. É necessário que esse momento da pesquisa seja organizado com
bastante cuidado e diligência, a fim de que, com a leitura, possamos construir os
conceitos e a argumentação que devem conduzir a elaboração da pesquisa
teológica.

TEMA 3 – CONSTRUINDO A ARGUMENTAÇÃO

A leitura crítica é o primeiro passo para nos capacitarmos e construirmos


uma boa argumentação, uma vez que, quanto mais conhecimento detemos de
uma área, mais aprimoramos nossa construção lógica e nosso vocabulário. A
argumentação é essencial para a defesa de uma tese, isto é, precisamos
desenvolver uma linha de pensamento em que as ideias estejam concatenadas,
formando uma linha argumentativa lógica que comprove a tese levantada, da
qual a pesquisa bibliográfica servirá de fundamentação.
É preciso fundamentar a linha de raciocínio com base na construção de
diálogos entre os autores pesquisados, que contribuem para dar credibilidade e
comprovar nossa argumentação. Por isso, deve-se evitar a todo custo usar
5
termos que generalizem alguma ideia ou impressão, como dizer que “todas as
igrejas têm problemas com relação a fazer obras sociais”. Essa afirmação
generalizada não pode ser comprovada, não há estudos que provem isso. Então,
apesar de você ter percebido isso em uma, duas ou dez igrejas, não se pode
afirmar que essa amostra comprove algo sobre “todas as igrejas”. Caso tenha
acesso a algum estudo científico sobre o tema, você pode usá-lo para apresentar
alguma evidência, porém, não se esqueça que ele também é limitado. Dessa
forma, apresente os números esclarecendo que se trata de uma probabilidade,
e não de uma afirmação categórica.
Novamente, a título de exemplo, se uma pesquisa nos EUA apresentou
que 60% das igrejas (de uma amostra de mil) não têm preocupação social, isso
pode ser usado de forma bem parcial. Assim, deve-se verificar:

• Se a amostra de igrejas pesquisadas é efetivamente significativa dentro


do total de igrejas nos EUA;
• Se essa pesquisa foi realizada apenas em uma região, que pode também
ser tendenciosa, pois ela pode não ter problemas sérios de necessidade
de assistencialismo e, dessa forma, as igrejas entendam que não devem
investir nessa área;
• Que a realidade norte-americana é bem diferente da brasileira, assim, a
conclusão dessa pesquisa provavelmente não é relevante para as igrejas
no Brasil.

Perceba que devemos ser críticos com nossa argumentação. Para que
ela seja considerada eficiente, não devemos fazer generalizações que não
podem se provadas. Muitos trabalhos são bastante prejudicados por apresentar
informações cuja realidade não se pode comprovar.
Outro ponto importante na construção da argumentação é o uso da lógica.
A escrita teológica deve ter uma construção racional, isto é, perceber que as
premissas de uma argumentação devem levar racionalmente a uma conclusão
comprovada. Segundo Moreland e Graig:

Um bom argumento dedutivo será aquele que é formal e informalmente


válido, que apresenta premissas verdadeiras e cujas premissas são
mais plausíveis do que suas contradições. […] Um bom argumento
deve ser formalmente válido. Quer dizer, a conclusão deve advir das
premissas de acordo com as regras da lógica. (2005, p. 47)

Os mesmos autores fornecem um exemplo bem simples de


argumentação lógica (p. 41):
6
1. Se hoje for domingo, a biblioteca estará fechada;
2. Hoje é domingo;
3. Logo, a biblioteca está fechada.

As afirmações 1 e 2 são premissas do argumento, e a sentença 3 é a


conclusão. Entendendo 1 e 2 como verdadeiras, consequentemente a conclusão
é verdadeira. Não é apenas uma opinião de que a biblioteca está fechada; há
um argumento que promove essa conclusão. Dessa forma, podemos conduzir a
argumentação no sentido de comprovar a tese que levantamos para a pesquisa
que estaríamos realizando.

TEMA 4 – A ESCRITA CIENTÍFICA E TEOLÓGICA

Uma boa escrita deve se basear em uma boa leitura crítica e na


construção de uma argumentação sólida. Vimos esses dois pontos
anteriormente.
Apesar de a escrita teológica poder seguir o método da escrita científica,
ambas diferem no seu modo, isto é, na sua expressão, uma vez que há uma
linguagem específica da teologia.
Segundo Boff:

Qual é a linguagem da teologia? É naturalmente aquela que


corresponde à sua racionalidade. E esta depende de seu tema: a
realidade de Deus. Pois há uma correspondência entre: Realidade,
Racionalidade e Linguagem. Uma coisa remete a outra. Mais, uma
coisa está enlaçada na outra. […] Ora, todo o pensamento vem à
linguagem. Esta perfaz o pensamento. Sem a linguagem, o
pensamento permanece im-per-feito, incompleto e inarticulado. E isso
vale mais ainda se pensarmos no pensamento que envolve uma
experiência, como é o da fé. Ora, a experiência busca necessariamente
sua linguagem, como o amor, que procura sempre “se declarar”. (1999,
p. 297)

A escrita científica tem seu método, assim como a escrita teológica. É


preciso se adaptar para conseguir elaborar uma boa escrita em um trabalho
acadêmico. Nesse caso, precisamos dominar a forma de expressão acadêmica,
que é formal e tem uma estrutura própria, além das expressões técnicas da
ciência que se está pesquisando.
No caso da pesquisa teológica, espera-se que o escritor/pesquisador
tenha um bom domínio das expressões teológicas. O texto de uma pesquisa
nesse ramo difere de um blog, de uma revista destinada ao público geral etc. É
importante entender que cada público tem uma linguagem, e o teólogo deve

7
saber transitar entre esses dois mundos, pois a comunicação requer a
compreensão de como se expressar em cada um deles.
Não é uma questão de elitismo; pelo contrário: é respeito ao público para
quem se está escrevendo. Se estamos escrevendo para a academia, a escrita,
além de mais formal, é mais técnica, pois os termos usados devem ser de
domínio dos leitores e expressar com mais clareza os conceitos do que se está
argumentando. Já o público leigo não tem a obrigação de conhecer expressões
teológicas complexas, e usá-las nesse caso confundiria a todos e traria
desinteresse pelo assunto. Por isso, textos mais técnicos da academia devem
passar por uma reescrita, e alguns termos podem ser substituídos ou mais bem
explicados no próprio texto.
Outro ponto muito importante: tenha cuidado ao citar um texto no seu
trabalho. Todo texto citado, isto é, copiado de alguma fonte, seja bibliográfica ou
não, deve ser devidamente referenciado, caso contrário, podemos incorrer em
plágio, que além de ser uma ação ilegal, desqualifica o trabalho (veremos esse
assunto com mais detalhes futuramente).
Para um bom texto, é preciso saber usar conectivos, isto é, palavras que
possibilitem sua fluidez. Seguem a seguir conceitos que podem ajudá-lo na hora
da escrita (Massêo, 2019).

4.1 Ideia de soma

Caso seu intuito seja acrescentar informações, ideias ou argumentos ao


texto, você pode utilizar os conectivos que representam soma. Alguns exemplos:
e; mais; nem; também; não só… mas também; assim como; como também;
ademais; outrossim; além disso; em adição.
Para simplificar, vamos aplicar alguns conectivos com essa ideia:

• “É importante não só a sua presença nesse evento, como também a do


seu colega de trabalho”;
• “Maria foi professora da Faculdade de Direito em 2019. Além disso, foi
coordenadora do curso no mesmo período”.

4.2 Ideia de conclusão

Esse tipo é usado principalmente na hora de concluir um parágrafo, dando


maior clareza para as ideias apresentadas. Alguns exemplos: logo; portanto;

8
então; assim; enfim; por isso; por conseguinte; de modo que; dessa forma;
em resumo; em síntese; assim sendo.
Colocando em prática, temos algumas aplicações desse tipo:

• “Em resumo, podemos notar o aumento da taxa de suicídio devido aos


dados apresentados”;
• “Pelé fez muitos gols quando era jogador de futebol. Por isso, hoje é um
dos jogadores mais renomados”.

4.3 Ideia de contraposição

Se você quer contrapor uma ideia em relação a outra, é bom utilizar


conectivos como estes: mas; porém; todavia; contudo; entretanto; no
entanto; senão; embora; ainda que; mesmo que; mesmo quando; apesar de
que; se bem que; não obstante.
Confira os exemplos a seguir:

• “A aprovação da Lei Maria da Penha foi um grande avanço, porém ela não
surtiu todos os efeitos esperados”;
• “Thiago conseguiu tirar uma nota muito boa na prova. Entretanto, não foi
o suficiente para atingir a média em matemática”.

4.4 Ideia de alternância

Como o próprio nome diz, esse conectivo acrescenta ideias alternadas.


Confira alguns exemplos: ou… ou; ora… ora; já… já; não… nem; quer… quer;
seja… seja; talvez… talvez.
Se você ainda está na dúvida de como utilizá-los, saiba como aplicar na
prática:

• “Ou ela estuda ou trabalha”;


• “Ora ele se prepara para a apresentação, ora estuda para a prova”;
• “Joana não conseguiu estudar para a prova nem fez o trabalho para hoje”.

4.5 Ideia de comparação

Para comparar ideias e estabelecer uma relação com o que já foi dito,
você pode usar os conectivos a seguir: que; do que; mais que; menos que;

9
tão… quanto; tão… como; tanto… quanto; tão… como; tal qual; da mesma
forma; da mesma maneira; igualmente; bem como.
Confira os exemplos a seguir:

• “Aquele garoto é mais estudioso do que o restante dos alunos”;


• “Da mesma forma que Lucas não teve tempo de ler os livros, Maria
também não teve”.

4.6 Ideia de explicação

Se você quer esclarecer as causas ou consequências de algum fato


anterior, use conectivos como estes: pois; porque; que; porquanto; por isso;
assim; visto que; já que; uma vez que; por conseguinte; por causa de; em
virtude de; de tal forma que.
Veja exemplos na prática:

• “É importante estudar, já que as provas começam na próxima semana”;


• “Uma vez que os alunos já estudaram previamente, será mais fácil todos
atingirem a nota máxima”.

4.7 Ideia de conformidade

Para expressar conformidade, você pode utilizar estes conectivos:


conforme; como; segundo; consoante; de acordo com; de conformidade
com.
Veja os exemplos a seguir:

• “Segundo o prefeito da cidade, as obras estão prestes a acabar”;


• “Conforme dito pela professora, as aulas foram suspensas na próxima
semana”.

4.8 Ideia de condição

Esse tipo de conectivo expressa circunstâncias hipotéticas em relação a


uma situação futura: se; caso; desde que; contanto que; exceto se; salvo se;
a menos que; a não ser que.
Veja os exemplos práticos:

• “Você consegue sua aprovação no vestibular, desde que estude com


antecedência”;
10
• “A menos que você mude sua postura, você não conseguirá estudar todo
o conteúdo necessário”.

4.9 Ideia de proporção

Utilize os conectivos a seguir para indicar proporcionalidade: à medida


que; à proporção que; ao passo que; quanto mais; quanto menos.
Exemplos:

• “Quanto mais você estudar, mais chances de conseguir a nota 1000”;


• “À medida que você se prepara mais para a prova, suas chances de
passar aumentam”.

4.10 Ideia de finalidade

Para mostrar um propósito definido na sua oração, utilize conectivos como


estes: a fim de que; para que; com o fito de; com a finalidade de; ao
propósito; com o objetivo de; com a intenção de.
Confira alguns exemplos:

• “Com a intenção de passar no vestibular, Mariana escreve três redações


por semana”;
• “Luís escreve três redações por semana a fim de que consiga alcançar a
nota 1.000 no Enem”.

Enfim, quando for elaborar seu texto, tenha em mente: ele é o resultado
de uma pesquisa elaborada e, dessa forma, deve apresentar todo seu trabalho,
possibilitando ao leitor uma compreensão clara, que o conduza a conclusões
baseadas em premissas consistentes.

TEMA 5 – A PESQUISA TEOLÓGICA E A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO


CRISTÃO

Partimos da pressuposição de que o cristianismo é uma cosmovisão que


exibe elementos comuns a outras cosmovisões. Como outras, ele fornece uma
abordagem inclusiva às preocupações essenciais da vida. É ponto pacífico que
a Bíblia é o ponto central para formar a cosmovisão cristã, uma vez que o
conteúdo do Livro Sagrado sempre foi considerado como a história dos
procedimentos de Deus para com a humanidade no decorrer do tempo. Mesmo
11
uma leitura superficial das Escrituras permitirá perceber que a cosmovisão
contida em suas páginas difere de outras visões de mundo da sociedade
moderna.
Podemos citar como exemplo três visões de mundo da atualidade que
diferem consideravelmente da visão cristã: o naturalismo, o panteísmo e o
deísmo. É preciso compreender que vivemos em um tempo de constantes
mudanças e reinterpretações de significados.
Apenas por meio de uma articulação bem elaborada do pensamento
cristão poderemos apresentar respostas para as questões postas em nossa
sociedade. Porém, o mundo contemporâneo é resultado de movimentos no
decorrer da história que têm no iluminismo um ponto de reflexão e alteração na
forma de a sociedade compreender o mundo.
A pesquisa teológica deve contribuir com a construção da cosmovisão
cristã sobre as principais questões que a sociedade (em geral) e a Igreja (em
particular) estão debatendo. Segundo Soares e Passos,

No decorrer dos tempos modernos a teologia se tornou cada vez mais


coisa da Igreja, restrita aos muros eclesiais e destinada ao consumo
interno dos sujeitos religiosos. Seu caráter acadêmico e público vai
perdendo a visibilidade, enquanto as ciências ganhavam força e se
institucionalizavam no âmbito das universidades, nas suas mais
variadas especializações e aplicações técnicas. (2011, p. 11, grifo
nosso)

Fica claro que a pesquisa teológica é fundamental para avançar no


diálogo da cosmovisão cristã com a sociedade e contribuir com os desafios
contemporâneos.

NA PRÁTICA

Podemos verificar que é com a pesquisa teológica que a Igreja pode


contribuir para o debate de questões importantes na sociedade em geral. As
Escrituras têm algo a dizer sobre a forma como o sistema econômico se
estabelece e como a sociedade pode ter uma distribuição mais justa das
riquezas produzidas. Também pode participar de questões relacionadas ao
aborto, ou como o desenvolvimento tecnológico pode afetar os relacionamentos.
Porém, para se fazer ouvida, é preciso trabalhar com pesquisas argumentativas,
que observem e apresentem argumentos lógicos relacionados aos
ensinamentos de sabedoria da Bíblia.

12
FINALIZANDO

Nesta aula procuramos aprofundar alguns aspectos que fundamentam a


pesquisa teológica. É preciso uma maior inserção nos debates acadêmicos da
teologia e, para isso, é precioso que sua metodologia tenha rigor e estrutura para
se apresentar em termos de igualdade perante as outras ciências.

13
REFERÊNCIAS

BOFF, C. Teoria do método teológico. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

HUSSEIN, C. L. Leitura crítica: revisão do conceito. Arquivos Brasileiros de


Psicologia, v. 39, p. 108-115, 1987. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/article/view/20235/18975>.
Acesso em: 7 out. 2019.

MASSÊO, A. 18 tipos de conectivos para redação que vão te ajudar a


desenvolver sua escrita. Imaginie, [S.l.], 13 set. 2019. Disponível em:
<https://blog.imaginie.com.br/conectivos-para-redacao/>. Acesso em: 7 out.
2019

MORELAND, J. P.; GRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. 1. ed. São


Paulo: Vida Nova, 2005.

SINNER, R. Teologia pública: novas abordagens numa perspectiva global.


Numen – Revista de Estudos e Pesquisa da Religião, Juiz de Fora, v. 13, n.
1-2, p. 326-357, 2011. Disponível em:
<https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/21825>. Acesso em: 7
out. 2019.

SOARES, A. M.; PASSOS, J. D. Teologia pública: reflexões sobre uma área de


conhecimento e sua cidadania acadêmica. 1. ed. São Paulo: Paulinas, 2011.

VANHOOZER, K. J.; STRACHAN, O. O pastor como teólogo público:


Recuperando uma visão perdida. 1. ed. São Paulo: Vida Nova, 2016.

14
METODOLOGIA DA PESQUISA
TEOLÓGICA
AULA 4

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

Desenvolver uma pesquisa acadêmica necessita de muito trabalho e


organização. É um momento bem importante, seja para a conclusão de seu
curso, seja para a apresentação de seu trabalho em eventos ou materiais
impressos. O importante é saber que será necessário dedicar tempo,
organização e disciplina para o trabalho a ser desenvolvido. Programe trabalhar
em seu texto um pouco a cada dia, a fim de que ele esteja sempre fresco em sua
mente. Principalmente, siga um método para que seu trabalho progrida de modo
a conclui-lo no prazo necessário.
Por esses motivos, nesta aula veremos alguns tópicos práticos para que
você, aluno, possa realizar seu trabalho de maneira mais organizada e tranquila.
Em um primeiro momento, vamos compreender como se constrói uma pesquisa
e de que modo delimitar o assunto a ser pesquisado. Em seguida, veremos
algumas formas de pesquisa, com suas vantagens e desvantagens. Também
abordaremos como funciona a pesquisa com o auxílio da internet, ferramenta
essencial ao pesquisador na atualidade. Depois, veremos como realizar uma
pesquisa bibliográfica, por meio de algumas orientações práticas. Para finalizar
a aula, vamos entender um problema bastante recorrente, o plágio, abordando
suas formas e os cuidados necessários para evitá-lo.
Boa aula!

TEMA 1 – CONSTRUÇÃO DA PESQUISA

A primeira pergunta que o pesquisador deve fazer é: “Qual o tema da


minha pesquisa?”. Muitos estudantes não têm uma ideia clara do que deseja
analisar, tampouco como iniciar o trabalho de pesquisa. Assim, é preciso refletir
sobre o assunto a ser pesquisado. Para tanto, algumas perguntas são cruciais
antes da elaboração da pesquisa. A saber:

 É um tema relevante?
 O assunto é importante para a comunidade cristã?
 O tema é importante para a sociedade?
 A pesquisa pode contribuir no sentido do avanço da igreja/sociedade?

Segundo Gerhardt (s/d), apud Quivy & Campenhoudt (1995, p. 10):

2
(...) no início de uma pesquisa ou de um trabalho, o cenário é
praticamente o mesmo: sabemos vagamente que queremos estudar tal
ou tal problema, por exemplo, o desenvolvimento de uma região, o
funcionamento de uma instituição, a introdução de novas tecnologias
ou as atividades de uma associação, mas não sabemos muito bem
como abordar a questão. Desejamos que o trabalho seja útil e que
possamos chegar ao fim, mas temos o sentimento de nos perder antes
mesmo de termos começado. O caos original não deve ser fonte de
preocupação; ao contrário, ele é a marca de um espírito inquieto, que
não alimenta simplismos e certezas já prontas. O problema é como sair
disso.
Assim, a pesquisa é definida “como uma forma de estudo de um objeto.
Estudo sistemático e realizado com a finalidade de incorporar os estudos obtidos
em expressões comunicáveis e comprovadas aos níveis do conhecimento
obtido” (Barros; Lehfeld, 2000, p. 30).
Segundo Mattar (2008, p. 158), “a escolha do tema é um dos primeiros
desafios com que o aluno depara no desenvolvimento de seu trabalho. Afinal de
que devo falar? Será que tenho condições de abordar um tema tão complexo?
Onde irei encontrar informações sobre esse assunto?”. Desse modo, verificar se
haverá condições de encontrar material de pesquisa é um ponto extremamente
importante. De nada adianta analisar um tema que você considere relevante se
não existem materiais (livros, artigos) necessários à pesquisa.
Um segundo ponto crucial é delimitar o tema. Isso significa selecionar um
aspecto do problema que seja bem específico, isto é, importante inclusive para
o foco e o desenvolvimento do trabalho. Segundo Mattar (2008, p. 158), “a
palavra que o aluno deve sempre associar à escolha do tema é delimitação. (...)
Nossa tendência é quase sempre a de escolher, num momento inicial, um tema
amplo é genérico”. Por exemplo, suponha que o tema de sua pesquisa seja os
problemas da Igreja. Esse assunto é vasto, portanto impossível de ser tratado
em um artigo ou somente em um livro.
Assim, para entender a amplitude do tema, devemos fazer algumas
perguntas. Considerando o exemplo citado, podemos questionar: Quais
problemas? Teológicos? Eclesiásticos? Doutrinários? Relacionais? Ou seja, é
necessário delimitar que tipo de problema será foco da pesquisa. Outras
perguntas nesse sentido são: De que igreja? De alguma denominação
específica? Da igreja do mundo todo?
Poderíamos inclusive delimitar um pouco mais o tema, com foco, por
exemplo, nos problemas teológicos da igreja brasileira. Mesmo assim, o assunto
seria bastante amplo, visto que existem muitos problemas teológicos e muitas
igrejas denominacionais no Brasil.
3
Então, seria possível delimitarmos mais ainda a pesquisa, considerando
inclusive determinado período histórico. Por exemplo, a análise poderia girar em
torno do tema “A discussão teológica sobre o batismo no século XIX na igreja
presbiteriana”1. Se necessário, poderíamos delimitar ainda mais, enfatizando a
pesquisa em relação a determinado país, como “A discussão teológica sobre o
batismo no século XIX na igreja presbiteriana na Inglaterra”.
Observe que, nesse exercício, delimitamos: 1. Qual o problema teológico
a ser pesquisado: a discussão teológica sobre o batismo; 2. Em qual período: no
século XIX; 3. Qual denominação: igreja presbiteriana; 4. Em que local: na
Inglaterra.
Assim, cabe ao pesquisador entender o quanto é necessário delimitar o
tema, a fim de que a pesquisa não se torne ampla e genérica, o que
impossibilitaria entender exatamente o que se está pesquisando. Por outro lado,
é necessário o cuidado no sentido de o tema se tornar tão específico ao ponto
de não haver muitos aspectos sobre os quais pesquisar ou refletir.

TEMA 2 – PESQUISA NA PRÁTICA

A leitura é parte essencial para a pesquisa teológica, uma vez que a


reflexão sobre a realidade ocorre por meio da publicação de textos em forma de
artigos ou livros. Porém, é possível também realizarmos uma pesquisa com base
na coleta de informações, usando questionários ou casos relatados. Esse
método é mais trabalhoso, pois, ao se tratar de uma pesquisa por meio de
questionários, é preciso fazer reflexões que necessitam da compreensão
estatística.
A seguir, vamos detalhar esse processo, conhecendo alguns dos tipos de
procedimento na pesquisa.

Tema 2.1 – Pesquisa de campo – entrevista/levantamento de dados

Esse modelo de pesquisa tem como característica realizar investigações


de coleta de informações junto a pessoas. O levantamento de dados pode ser
feito por meio de questionários ou entrevistas. Na elaboração do trabalho, existe

1
Perceba que esse tema de pesquisa é apenas a título de exemplo. Para que seja assim
considerado, é preciso entender primeiro se havia alguma disputa teológica relacionada a esse
tema na igreja presbiteriana.
4
ainda a necessidade de um levantamento bibliográfico sobre o assunto, a fim de
fundamentá-lo. Esse tipo de pesquisa exige também a análise dos dados
levantados por meio de cálculos estatísticos. Um ponto importante é que, por se
tratar de pesquisa com pessoas, o projeto da pesquisa precisa passar por um
comitê de ética, que vai avaliar os procedimentos a serem adotados. Ainda é
necessário que todo entrevistado concorde em realizar a pesquisa e assine um
termo de ciência e sigilo dos dados pessoais do entrevistado. Esse método de
trabalho é mais complexo e exige um mais tempo de preparo e execução, além
do levantamento bibliográfico.

Tema 2.2 – Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica é realizada por meio do levantamento de


materiais bibliográficos já publicados (livros, artigos). Exige-se, dessa forma,
uma seleção dos referenciais teóricos. Com base nessa listagem de material, o
pesquisador então vai elaborar, por meio de leitura crítica, uma explanação
relacionando e contrapondo as conclusões e informações. Desse confronto ou
complemento de informações será gerada a apresentação de novas
perspectivas sobre o assunto levantado ou serão feitas conclusões que
contribuem à compreensão mais ampla e aprofundada acerca do assunto.

TEMA 3 – INTERNET COMO FONTE DE PESQUISA

A internet possibilita uma fonte extremamente importante para a pesquisa


teórica, porém é necessário algum cuidado para usar materiais desse meio. O
primeiro ponto é compreendermos que, ao escrever um trabalho acadêmico, as
fontes, incluindo as captadas na internet, devem ser acadêmicas. Ou seja,
textos de sites ou blogs não são considerados materiais confiáveis ou
acadêmicos.
Para que o trabalho tenha relevância, é importante que as fontes também
sejam relevantes. Por esse motivo, é importante encontrar artigos em revistas
vinculadas a instituições de ensino superior. Normalmente essas publicações
têm um conselho científico. Isso significa que o texto foi avaliado por outros
pesquisadores antes de ser publicado. Segundo Mattar (2008, p. 179),

Torna-se essencial, neste sentido, avaliar as formas de acesso e as


fontes das informações obtidas na internet. No caso das fontes,
podemos utilizar como critérios de avaliação: quem se responsabiliza
por ou publica a informação, a reputação da instituição, as credencias
5
( se há indicações das fontes de onde o site tira suas informações)
etc.(...) Informações obtidas por meio de websites que por exemplo,
não consta o nome do autor nem de nenhum responsável pela página,
o valor da fonte é o mesmo de uma folha que cai, repentinamente,
numa sala de aula: nenhum.
É importante insistirmos na ideia de que a relevância da fonte é
fundamental para um trabalho de pesquisa bem-sucedido. A qualidade das
fontes pesquisadas sustenta a qualidade da pesquisa. Existem portais e sites
que veiculam artigos confiáveis e publicados por revistas científicas. Um deles é
o site Scielo (<www.scielo.org>), que disponibiliza gratuitamente artigos de
diversas áreas do conhecimento humano. Segundo declaração encontrada
nessa página eletrônica:

A Rede SciELO provê Acesso Aberto (AA) aos conteúdos de periódicos


científicos. Os periódicos são organizados em coleções nacionais e
temáticas. Cada coleção é gerida por uma organização científica
reconhecida nacionalmente. A seleção de periódicos a ser indexados
ou descontinuados em cada coleção é de inteira responsabilidade da
gestão de cada coleção usualmente com o apoio de um comitê
assessor científico. O conteúdo dos periódicos compreende artigos de
pesquisa, artigos de revisão, comunicações relacionadas à pesquisa,
estudos de caso, editoriais e outros tipos de texto que são geralmente
identificados como documentos dos quais a seleção e publicação são
de inteira responsabilidade dos periódicos. SciELO não assume
responsabilidade alguma sobre os conteúdos dos documentos.
(DECLARAÇÃO DE ACESSO ABERTO, 2019).

Observe a imagem da página inicial do site da Scielo:

Fonte: Scielo.

Acessando a página inicial, é possível realizar uma pesquisa avançada,


selecionando algumas opções de busca, como país das publicações, periódicos
e data.

6
Outro site bastante útil nesse sentido é o Google Acadêmico
(<https://scholar.google.com.br>), que também tem uma base de artigos
científicos indexados. A página eletrônica possibilita, inclusive, fazer pesquisas
avançadas, sendo possível encontrar artigos por palavras, frases etc.
Observe a página inicial do site Google Acadêmico:

Fonte: Google Acadêmico.

Outra ferramenta para pesquisa é o Google Livros


(<https://books.google.com.br>). No site é possível buscar por livros
digitalizados. Boa parte das obras não são digitalizadas na íntegra em razão dos
direitos autorais. No entanto, há muitas partes importantes de livros digitalizadas
e disponíveis para consulta.

TEMA 4 – PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Esse é o principal método de realizar trabalhos acadêmicos e pesquisas


teológicas. Já vimos que a leitura crítica é muito importante para a elaboração
do estudo e do texto a ser construído. Porém, antes da própria leitura, é
importante entendermos como começar a pesquisa bibliográfica. O que se
escreveu sobre o tema que será pesquisado? Que livros ou artigos devem ser
escolhidos? Como selecionar ou armazenar esses materiais?
Neste tópico, conheceremos algumas técnicas e procedimentos para
facilitar e organizar a pesquisa.

Tema 4.1 – Organização

Organização e metodologia são palavras-chave quando tratamos de


pesquisa, inclusive teológica. O primeiro passo é reservar um local para
guardar/arquivar o material físico de pesquisa. Ou seja, é importante manter um
espaço organizado, que transmita segurança e, mais importante, que possibilite

7
encontrar rapidamente o que for necessário. Também é fundamental criar pastas
no computador para salvar os materiais de pesquisa e, claro, o próprio texto do
trabalho. Não se deve esquecer de mantê-los salvos em outros meios, como em
um pen-drive e na chamada “nuvem”. Isso garante que os materiais não sejam
perdidos por algum motivo, o que poderia colocar em risco um trabalho de
meses.

Tema 4.2 – Pesquisa exploratória

Com base na escolha do tema do trabalho, é importante pesquisar o que


já foi escrito a respeito. Esse é o momento de explorar materiais que podem
contribuir para o desenvolvimento da pesquisa. Se você já tiver algum material
sobre o assunto, separe-o conforme as orientações sobre organização.
Sugerimos verificar se alguns teólogos ou pensadores clássicos já trabalharam
o assunto de sua pesquisa, inclusive se estudiosos contemporâneos
desenvolveram pesquisas mais aprofundadas ou com novas perspectivas. Use
os sites de pesquisa citados anteriormente e busque a respeito do tema por meio
de palavras-chave. Para ter uma visão mais geral, é possível pesquisar na
internet como um todo também. No entanto, não se esqueça da importância de
os materiais serem de fonte acadêmica.
Ao encontrar textos que julgar pertinentes, leia o resumo dos artigos ou a
introdução do livro, verificando títulos dos capítulos. Se considerar que o material
será útil para a pesquisa separe-o, salvando ou guardando conforme as
orientações anteriores. Após essa seleção inicial, você deverá verificar no
material separado quais realmente vai utilizar para a pesquisa. Desse modo,
selecione novamente para ficar apenas com aquilo que realmente será
importante para a elaboração do trabalho.

Tema 4.3 – Fichamento

Após selecionar o material, é importante fazer o fichamento. Ou seja,


anotar as partes mais importantes dos textos selecionados. Essa atividade pode
ser feita em anotações em fichas (como a da foto a seguir) ou no computador,
dependo do que for melhor para você.
Na ficha, você deve anotar os dados do livro ou artigo (autor; título;
editora; edição; ano e local) e pode fazer citações diretas. Ou seja, é possível

8
copiar determinados textos que considera importantes ou fazer um resumo do
assunto lido. Esse fichamento será útil quando for escrever o material.

Fonte: Roberto Rohregger.

Se o material for seu, é possível fazer algumas anotações no próprio livro,


conforme imagem na sequência. Outra ferramenta útil é usar post-its para indicar
os principais pontos da obra. A decisão de escrever no livro, porém, é pessoal.

Fonte: Roberto Rohregger.

Após esse exercício, você estará pronto para começar a elaboração do


trabalho. Com as dicas apresentadas neste material, possivelmente ocorrerá de
maneira mais fluente e tranquila.

9
TEMA 5 – PLÁGIO

Esse é um problema bastante sério. Muitos alunos e pesquisadores


podem incorrer em plágio com frequência sem se darem conta. Ele significa a
cópia parcial ou total de um texto2 de outro autor, apresentado como se fosse de
autoria própria. Muitos não sabem, mas o plágio é considerado crime, conforme
a lei do Código Penal Brasileiro em seu artigo 184: “Violar direitos de autor e os
que lhe são conexos: (Redação dada pela Lei n. 10.695, de 1/7/003) Pena –
detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa (Redação dada pela Lei n.
10.695, de 1/7/2003)”.
Conforme Garschagen Ramos, apud Silva (2006), pode-se incorrer em
plágio por três formas:

1. Integralmente: quando se copia um trabalho na íntegra, sem apresentar


créditos ao autor. Mesmo dando crédito ao autor, copiar um trabalho na
íntegra não é aceitável na academia.
2. Parcialmente: quando se copiam parágrafos ou frases de um autor ou de
mais autores, sem a citação das fontes.
3. Conceitualmente: quando se usam ideias ou de modo que a essência ou
a ideia esteja no texto mesmo com algumas mudanças do texto original,
sem citação da fonte original.

É preciso sempre tomar bastante cuidado para não incorrer nesses erros.
Por essa razão, o pesquisador/aluno deve informar a fonte do material, tomando
alguns cuidados durante sua escrita. Por exemplo, após finalizado o texto, deve-
se confirmar a inserção de referências nas citações diretas ou indiretas. É
necessário também verificar se todas as obras que constam no referencial
bibliográfico estão no texto. Caso alguma obra esteja nas referências e não no
texto, deve-se confirmar se alguma citação ficou sem referência. Caso a obra
realmente não apareça no texto, é necessário tirar seu título do referencial.

NA PRÁTICA

Para realizar um trabalho de pesquisa com sucesso, é preciso seguir um


método e ter disciplina. É impossível chegar ao fim de um trabalho sem esforço.

2
No caso, de trabalho escrito. No entanto, também pode ser de qualquer outro material, como
foto, música, obra de arte etc.
10
Porém, o resultado é compensador. Ao final, sua pesquisa terá contribuído para
aumentar a compreensão sobre o tema analisado. Além do ganho pessoal, seu
material pode e deve ser divulgado. Por esse motivo, é importante se aprimorar
no sentido de realizar um trabalho de qualidade. A pesquisa acadêmica tem a
função de servir a sociedade por meio da divulgação do conhecimento. Por isso,
a finalização do trabalho é mais um passo no aprofundamento do tema
selecionado.

FINALIZANDO

Nesta aula, procuramos aprofundar alguns aspectos que fundamentam a


forma de iniciar uma pesquisa. É preciso compreender que, para o
desenvolvimento do trabalho, são exigidas organização e disciplina. Isso inicia
antes da própria pesquisa, com a seleção e a forma como o material físico ou
virtual será guardado.
Como vimos, é preciso buscar fontes acadêmicas, de preferência
vinculadas a instituições de ensino, a fim de que as citações no corpo de seu
trabalho sejam relevantes.
Outro ponto importante é delimitação do tema. É bastante comum que
trabalhos precisem ser refeitos pelo fato de o tema ser muito amplo. Assim,
garanta que, antes de começar a pesquisa, o assunto esteja bem delimitado.
Reforçamos também o cuidado com as citações sem referência. O plágio
é um problema muito sério e, por vezes, pode inviabilizar seu trabalho.

11
REFERÊNCIAS

BARROS, A. D.; LEHFELD, N. D. Fundamentos de metodologia científica: um


guia para a iniciação científica. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2000.

DECLARAÇÃO de acesso aberto. Scielo. Disponível em:


<www.scielo.org/pt/sobre-o-scielo/declaracao-de-acesso-aberto/>. Acesso em:
2 out. 2019.

GERHARDT, T. E. A construção da pesquisa. s/d. Disponível em:


<wWW.cesadufs.com.br/orbi/public/uploadcatalago/09521120042012pratica_d
e_pesquisa_i_aula_3.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2019.

MATTAR, J. Metodologia científica na era da informática. 3. ed. São Paulo:


Saraiva, 2008.

SILVA, O. S. Entre o plágio e a autoria: qual o papel da universidade?


Disponível em: <http://29reuniao.anped.org.br/trabalhos/trabalho/gt10-1744--
int.pdf>. Acesso em: 2 out. 2019.

12
METODOLOGIA DA PESQUISA
TEOLÓGICA
AULA 5

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

Olá, caro aluno! Nesta aula, compreenderemos alguns tipos de escritos


acadêmicos, como artigo, paper, dissertação e tese, suas estruturas básicas e
formas de usá-los.
Aprofundaremos também nossos conhecimentos da estrutura do projeto
de pesquisa, que é normalmente exigido na academia antes do início do trabalho
acadêmico. Ela tem como objetivo estruturar a pesquisa antes de começá-la.
Veremos também o formato e a estrutura do artigo que é exigido,
inclusive, em muitas instituições como trabalho de final de curso. E, visando
agilizar o trabalho da produção da escrita científica, veremos uma ferramenta do
editor de textos Word que facilita a inserção de citações e referências de forma
automática.
Por fim, abordaremos um elemento importante no registro da vida
acadêmica do pesquisador: o Currículo Lattes, essencial para todos que
desejam seguir a carreira de pesquisador.
Boa aula!

TEMA 1 – ESCRITOS ACADÊMICOS

Há várias formas de apresentar trabalhos acadêmicos. É importante


compreender o formato de cada uma para a correta apresentação de sua
pesquisa, pois cada formato tem um objetivo e uma estrutura particulares. A
seguir, conheça alguns dos principais formatos de escrita acadêmica.

1.1 Artigo científico

O artigo científico, atualmente, é um dos mais importantes, se não o mais


importante, formato de divulgação de trabalhos de pesquisa. Segundo Cordeiro,
Molina e Dias (2014, p. 167), o artigo científico “pode ser caracterizado como um
texto científico, já que apresenta estilo acadêmico”, e quanto à motivação para
escrever um artigo científico, afirmam:

a) Para anunciar resultados de uma pesquisa científica, seja como


forma de trabalho de conclusão de curso, seja em formato de
divulgação de pesquisas de mestrado, doutorado, grupos de pesquisa,
entre outros.
b) Porque tais artigos podem ser enviados para publicações em
revistas/periódicos da área ou a eventos científicos com direito a
publicação de resumos e textos completos nos anais do evento após a

2
aceitação da produção textual por parte de avaliadores designados
(Cordeiro; Molina; Dias, 2014, p. 169).

Percebemos, dessa forma, a importância desse modelo de divulgação


científica e sua amplitude de utilização. Outra característica importante é que
esse modelo possibilita a divulgação dos resultados da pesquisa com mais
agilidade do que um livro, por exemplo. Também facilita o acesso aos demais
pesquisadores, uma vez que o artigo pode ser publicado em revistas eletrônicas,
com sua disponibilidade on-line e, de forma geral, gratuita. Isso é importante,
pois quanto mais pesquisadores e leitores tiverem acesso à sua pesquisa, mais
ela poderá ser comentada e criticada, além de aprovada pela comunidade
científica.
Cabe fazer uma distinção entre um artigo científico e um artigo a ser
publicado em revistas não científicas, ou em outro tipo de veículo, como blogs,
sites etc. O artigo científico, como vimos, exige uma estrutura e uma forma
acadêmicas, além de rigor no detalhamento. Ele passa pelo comitê científico da
publicação, que faz uma análise do material para que possa ser aprovado e
publicado. Um artigo a ser publicado em outros meios de divulgação não precisa
necessariamente passar por etapas tão rigorosas, o que não significa que possa
ser feito de qualquer maneira; ocorre apenas que não há tanto rigor, e em alguns
casos passa apenas por uma avaliação superficial. É também um ótimo meio de
divulgação, porém, justamente pelo fato de ser mais fácil de publicar, justamente
por não ter que passar por todas as fases da publicação em um periódico
científico, acaba não tendo o mesmo peso acadêmico.

1.2 Paper

Algumas instituições acadêmicas fazem diferenciação entre paper e artigo


acadêmico, sendo o paper um texto menor, em número de páginas e em
complexidade, sobre determinado assunto. O paper pode variar na quantidade
de páginas, mas como o que se pretende é apenas assumir uma posição ainda
inicial, ou uma visão mais pessoal do assunto abordado, muitos acabam ficando
com tamanho reduzido. Se um artigo teria em torno de 15 a 20 páginas, um paper
preencheria de 7 a 10 páginas, podendo ficar também menor que isso, porém,
com não menos que 3 a 6 páginas. Isso depende muito daquilo que a instituição
para a qual se está preparando o paper exige. Cabe lembrar que, mesmo sendo

3
um trabalho menor em termos de volume, deve-se observar as normas
acadêmicas para a publicação ou a submissão de material científico.

1.3 Resumo e resumo expandido

O resumo é uma publicação na qual você faz uma síntese de seu trabalho,
isto é, discorre sobre o objetivo da pesquisa, o método usado, os resultados que
foram obtidos ou que se pretendo obter. Normalmente, não passa de uma
página. Já no resumo expandido o pesquisador tem um espaço maior para
apresentar seu trabalho, mesmo que não da forma como ocorreria com um
artigo. A estrutura de um resumo expandido é parecida com a do resumo, porém,
normalmente há um espaço para que o pesquisador apresente com mais
detalhes o seu trabalho, os resultados e os principais pontos da discussão
teórica. O resumo expandido normalmente apresenta de 3 a 5 páginas.

1.4 Dissertação

Segundo o dicionário Houaiss, dissertação é “1. Exposição oral ou escrita.


2. Monografia; ensaio” (Houaiss, 2001). A dissertação acadêmica é normalmente
exigida para a conclusão do curso de mestrado nas instituições de ensino
superior. Espera-se que a dissertação seja uma pesquisa profunda sobre um
determinado tema bem delimitado na qual o pesquisador precisa realizar a
pesquisa apresentando uma ampla e profunda discussão relacionada ao tema
que está propondo. Não é esperado que o aluno ofereça uma abordagem
inovadora sobre o assunto, mas que solidifique uma visão ou uma perspectiva
nova sobre o tema.
Esse trabalho também é baseado em uma metodologia que deve ser
descrita e deve obedecer a todos os critérios da escrita científica. Normalmente,
a dissertação também é defendida perante uma banca, para que o aluno possa
obter o título de mestre. Dois caminhos podem ser tomados após a finalização
da dissertação: transformar a dissertação em artigos, dependendo de seus
capítulos, ou em um livro. A exigência com relação à quantidade de páginas de
uma dissertação pode variar de instituição para instituição, porém, como se trata
de um trabalho em que se pretende uma pesquisa ampla e profunda, geralmente
o número de páginas gira em torno de 100.

4
A dissertação é o resultado das pesquisas que o aluno realizou durante o
seu mestrado, que normalmente dura dois anos.

1.5 Tese

A tese é o trabalho de conclusão do doutorado. Nesse trabalho, espera-


se, além da demonstração da pesquisa, que o aluno elabore e defenda uma tese
sobre o assunto escolhido. Assim, o aluno deve, no decorrer de seu trabalho,
defender um argumento sobre o assunto abordado. Espera-se que o trabalho
tenha um certo nível de novidade e que contribua para aprofundar o
conhecimento sobre o tema proposto.
A defesa da tese também se dá diante de uma banca julgadora, em que
o pesquisador será inquirido sobre a forma de sua pesquisa e seus resultados.
A tese também pode ser transformada em artigos para publicação e/ou um livro.
Por ser um trabalho no qual são investidos em torno de quatro anos de
doutorado, normalmente é um trabalho de peso, alcançando um número de
páginas maior 100. É normal que chegue facilmente a 200 páginas, sendo que
muitas ficam entre 300 e 400 páginas.

TEMA 2 – PROJETO DE PESQUISA

O projeto de pesquisa é uma parte extremamente importante da pesquisa,


pois o desenvolvimento prático de uma metodologia de pesquisa inicia-se no
projeto de pesquisa.
Normalmente, no início dos trabalhos, temos uma ideia, um tanto vaga,
sobre o que vamos pesquisar. Tudo começa com a percepção pessoal de algum
assunto que nos chama a atenção, que compreendemos como importante e
sobre o qual desejamos saber mais. Porém, se começarmos a realizar a
pesquisa apenas levando em consideração essas percepções, provavelmente
teremos grande dificuldade em dar andamento ao projeto ou, pior, ele poderá se
mostrar totalmente impossível de ser realizado.
É nesse momento que percebemos a importância do projeto de pesquisa;
ele é necessário para planejarmos a pesquisa, e por isso é o primeiro passo que
devemos dar. É no projeto de pesquisa que buscamos compreender e
problematizar, isto é, elaborar uma frase que sintetize a questão para a qual
buscaremos respostas no decorrer dos trabalhos. Além disso, é nessa etapa que

5
fazemos uma reflexão sobre os pontos principais que nos levarão a atingir o
objetivo final da pesquisa.
Podemos fazer aqui uma analogia entre um projeto de pesquisa e um
projeto arquitetônico: nenhum engenheiro começa uma obra sem o desenho do
projeto; é preciso saber como construir um edifício antes de começar a construí-
lo. Segundo Mattar Neto (2008, p. 160), o projeto de pesquisa “[...] faz com que
o aluno tenha de visualizar seu trabalho no futuro em vários sentidos, além de
servir como uma forma padrão de comunicar seus objetivos”. O projeto de
pesquisa é um aliado e um grande facilitador da pesquisa, pois por meio dele
podemos evitar muitos erros que poderíamos cometer ao não planejar a
pesquisa a ser realizada.
Cada instituição elabora seu próprio modelo de projeto de pesquisa, o
qual o aluno deverá apresentar antes de iniciar a sua pesquisa propriamente dita.
Porém, alguns elementos sempre estão presentes. Detalharemos a seguir
alguns dos elementos de um projeto de pesquisa.

2.1 Título

O título do projeto de pesquisa não precisa ser o mesmo do final da


pesquisa, você pode usar um título provisório, porém, ele já deverá dar a ideia
do assunto. Apesar de não darmos muito valor para o título, seja o de um projeto
de pesquisa, seja o de um artigo, ele é fundamental, pois é o resumo de seu
trabalho em uma ou duas linhas, então, ele diz muito. Um título pouco elaborado
pode desinteressar o leitor quanto ao tema de sua pesquisa. Segundo Mattar
Neto (2008, p. 160), a elaboração do título é

[...] um exercício interessante, pois no trabalho pronto o título acaba


desempenhando um papel importante. [...] A proposição desse título
inicial faz com que o aluno o leia e o questione constantemente,
durante a redação, e fatalmente a versão do título que resistir até o fim
do trabalho mostrar-se-á pronta para ser adotada como seu título
definitivo. (Mattar Neto, 2008, p. 160).

Assim, o título deve ser pensado já na proposição do projeto, podendo


sofrer alterações no decorrer da pesquisa.

2.2 Tema

A definição do tema é outro passo sem o qual não se pode começar uma
pesquisa. E quando falamos de tema é importante fazer uma boa delimitação do

6
assunto para evitar que seja muito amplo, ou extremamente delimitado a ponto
de impossibilitar o desenvolver do assunto.
É importante também que seja um assunto sobre o qual o pesquisador
tenha interesse, curiosidade; isso contribui para que a pesquisa fique mais
agradável. Segundo Diez e Horn (2002, p. 29), o tema “descreverá o objeto do
estudo; deverá evidenciar qual a pesquisa pretendida, elucidando o assunto a
abordar [...]”. O tema deve ser bem elaborado, de forma clara, possibilitando a
compreensão de sua delimitação.

2.3 Problema ou problematização

Nesse ponto, o pesquisador descreve a questão levantada para a qual


buscará a resposta em seu trabalho. Mattar Neto (2008, p. 161) deixa clara a
definição do conteúdo do problema, afirmando que “um problema implica uma
ou mais dúvidas ou dificuldades em relação ao tema, que você se proporá a
resolver”. A declaração clara do problema facilitará a pesquisa, pois a solução
dessa questão é o caminho de seu trabalho.

2.4 Justificativa

Nesse item, o aluno/pesquisador deve apresentar o motivo pelo qual


deseja realizar a pesquisa. Deve demonstrar a importância do tema escolhido e
da problematização. É nesse momento que deve aparecer a relevância do
trabalho para o aprofundamento do conhecimento sobre o assunto e a resolução
da problematização.

2.5 Objetivos

Uma maneira de facilitar a elaboração dos objetivos é pensar sobre quais


questões são importantes para atingir a resolução do problema apresentado. Por
exemplo, se para responder ao problema de seu trabalho é importante
compreender o pensamento do teólogo Paul Tillich sobre a influência da cultura
na religião, você deverá colocar isso como um dos objetivos de seu trabalho. É
padrão que na declaração dos objetivos sejam utilizados verbos no infinitivo, por
exemplo: definir, demonstrar, descrever, aplicar etc.

7
2.6 Hipótese

A hipótese é a suposta resposta ao tema-problema que o pesquisador


levantou, e deverá ser comprovada durante a pesquisa. Cabe salientar que nem
todas as instituições pedem que no projeto de pesquisa conste a hipótese.

2.7 Fundamentação teórica

Nenhum pesquisador começa um trabalho sem conhecer o tema. É na


fundamentação teórica que se faz um levantamento bibliográfico inicial sobre o
assunto, e por isso a fundamentação teórica, em algumas instituições, se
apresenta com o título de revisão de literatura. É nesse espaço que o
pesquisador apresenta uma discussão inicial sobre o assunto. Normalmente, ele
não se aprofunda muito nesse momento, mas essa etapa possibilita ao
pesquisador desenvolver um levantamento do estado da arte,1 mesmo que
ainda incompleto e superficial.

2.8 Metodologia

É importante o pesquisador definir qual método empregará em sua


pesquisa acadêmica. Isso faz parte do próprio método de pesquisa. Segundo
Diez e Horn (2002, p. 31), a definição da metodologia facilita o cumprimento dos
objetivos, e “é preciso descrevê-lo, esclarecendo quais os caminhos escolhidos
para o estudo e sua sistematização, ou seja, projetando as possibilidades da
travessia pretendida”.
Outro fator importante para a definição da metodologia é que a sua
pesquisa deve ser possível de ser reproduzida, isto é, qualquer outro
pesquisador deve ser capaz de repetir o método que foi usado em sua pesquisa
e obter as mesmas conclusões. Mesmo em uma pesquisa bibliográfica é
importante deixar claro qual método de pesquisa foi utilizado.

2.9 Cronograma

Como em todo projeto, é preciso planejar fases e datas de conclusão do


trabalho. É importante estipular as datas de entrega dos capítulos ou das partes

1
Estado da arte é a denominação que se dá à apresentação do que se conhece do assunto
até o momento, ou a posição que se tem sobre o assunto na atualidade.
8
de seu trabalho e, principalmente, acompanhar o cronograma para saber se
serão necessários ajustes ou se você terá que disponibilizar de mais tempo para
cumprir os prazos informados.

2.10 Bibliografia

Essa é a parte final do projeto de pesquisa. Deve-se indicar a bibliografia


utilizada no projeto de pesquisa e aquela que se pretende utilizar para a pesquisa
em si. Segundo Mattar Neto (2008, p. 163), “é importante desde o início indicar
a bibliografia que se pretende utilizar. Essa lista será constantemente
modificada, pois alguns textos demonstrar-se-ão sem interesse para o trabalho”.
É bastante importante avaliar e atualizar a bibliografia levantada para a
pesquisa. No momento da confecção do projeto de pesquisa, essa bibliografia
ainda é um levantamento inicial, mas durante o trabalho de pesquisa muito
material pode ser acrescentado, ou excluído.

TEMA 3 – PARTES GERAIS DE ARTIGOS

Após finalizado e aprovado o projeto de pesquisa, e tendo-o como base


inicial, o pesquisador poderá iniciar o artigo científico, que deverá obedecer a
alguns critérios. O texto do artigo, como já vimos, deve atender aos critérios da
escrita científica e às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT), que serão vistas em um tema específico.
A seguir, abordaremos a estrutura que a composição deve ter.

3.1 Título

O título normalmente é um elemento de destaque. Fica centralizado em


um tamanho maior que o resto do texto e em negrito. O título pode ser o mesmo
usado no projeto de pesquisa, porém, normalmente, na elaboração do artigo, o
trabalho já está mais amadurecido e, possivelmente, o título fica mais claro. Não
se deve esquecer de que o título deve representar o conteúdo de seu trabalho e
chamar a atenção do leitor.

3.2 Autor(es)

É a identificação dos participantes do trabalho. Normalmente, usa-se o(s)


do(s) aluno(s) e o do orientador:
9
SOBRENOME, Nome do autor (aluno)1
SOBRENOME, Nome do orientador (professor)2

Os números após os nomes do autor e do orientador são notas de rodapé


em que se identifica a formação, a instituição e o curso a que os autores estão
vinculados. Trata-se de uma breve apresentação dos autores.

3.3 Resumo

No resumo, o autor deve procurar apresentar o seu trabalho de forma


sintética, em uma linguagem clara. Segundo Cordeiro, Molina e Dias (2014, p.
170): “[...] o resumo deve ressaltar o objetivo, o método, os resultados e
conclusões do trabalho. Deve ser composto de uma sequência corrente de
frases concisas, e não de uma enumeração de tópicos. Apresentando-se em
parágrafo único, e na terceira pessoa do singular”.
O resumo tem como objetivo apresentar o seu trabalho para que o leitor,
nesse momento, entenda se deve continuar a leitura ou não. Isso é muito útil
para os pesquisadores, que podem selecionar artigos que possam constar em
sua pesquisa; afinal, você tem um tempo limitado e não gostaria de ler um artigo
de 15, 20 páginas para chegar à conclusão de que não será útil para a sua
pesquisa. É por isso que a clareza do assunto, os objetivos e os resultados são
importantes. Procure elaborar o resumo com 150 a 400 palavras, mas não se
esqueça de observar as normas da instituição à qual você submeterá o artigo
quanto a esse volume.

3.4 Palavras-chave

Nesse item deverá constar alguns termos que possam facilmente


identificar o assunto tratado pelo trabalho. Isso contribui para a compreensão
sobre o que o autor está escrevendo e facilita a localização em sistemas
informatizados por busca de assuntos. Normalmente são solicitados três termos
chave, porém, esse número pode variar de acordo com as normas da instituição
à qual está sendo submetido o trabalho.

3.5 Introdução

Na introdução devem constar o problema a ser tratado pelo artigo, a


importância da reflexão que se está realizando a respeito dele, uma breve
10
apresentação do que se trabalhou no artigo, a metodologia utilizada e o resultado
a que se chegou. Segundo Fluck (2014, p. 51):

A introdução é a parte do texto onde o assunto é apresentado como


um todo sem detalhes. Ele deve conter a exposição dos objetivos,
formulação de hipóteses e delimitação do assunto tratado. Nela deve
constar a delimitação do tema, os objetivos do trabalho e outras
informações necessárias para o leitor entender qual problema vai ser
abordado e de que modo será feito isso.

Assim, a introdução deve ser escrita de forma a criar uma expectativa e


levar o leitor a desejar ler todo o trabalho.

3.6 Desenvolvimento

É nesse espaço que, efetivamente, o seu trabalho será desenvolvido. Ele


deve apresentar a pesquisa, o diálogo entre os autores pesquisados, isto é, as
argumentações que os autores apresentam sobre o assunto, de forma a
concatenar as ideias, seguindo os preceitos da escrita científica e, é claro,
observando as normas técnicas de citação e referências.

3.7 Considerações finais

Nesse momento, está-se chegando ao fim do artigo, e deve-se apresentar


um breve resumo sobre o assunto abordado para refrescar a memória do leitor
e apresentar os resultados obtidos com o seu trabalho. É importante lembrar que
não se trata de fechamento e conclusão do assunto, mas de sua contribuição
para compreender melhor o tema e, portanto, da possibilidade de que outros
pesquisadores possam continuar desse ponto em que você parou. Essa seção
também pode apresentar outros aspectos que seu trabalho não aprofundou e
que poderiam gerar novas pesquisas.

3.8 Referências

Esse item é muito importante no artigo. Nele é que devem constar todas
as fontes citadas, livros, artigos, endereços eletrônicos etc. Todo o material que
aparece em seu texto deve constar nas referências, em ordem alfabética e de
acordo com as normas da ABNT. Faça sempre uma revisão para garantir que
não se esqueceu de incluir alguma referência utilizada em seu texto, e que não
consta nas referências algum material que não foi utilizado ou citado no artigo.

11
TEMA 4 – INSERSÃO DE CITAÇÃO E REFERÊNCIAS DE FORMA
AUTOMÁTICA

O trabalho de escrita científica é muito complexo e bastante trabalhoso.


São citações, normas, referências e formatos que exigem a dispensa de bastante
esforço e tempo, além da própria pesquisa. Por isso é importante dominar o
editor de texto escolhido, para que seu trabalho seja mais eficiente. Neste tema,
entenderemos algumas funções no editor de texto Word, que poderão auxiliar
muito na escrita científica.
Um dos grandes trabalhos na escrita científica é o de citação e,
posteriormente, o da organização de tudo o que foi citado nas referências. Para
facilitar esse processo é possível usar uma funcionalidade do Word que
encontramos na opção Referências. Veja como proceder:
Acesse o item Referências, indicado na figura abaixo.

Nas opções do item Referências, clique no ícone Inserir Citação e,


depois, em Adicionar Nova Fonte Bibliográfica.

12
Após acessar esse ícone, selecione o formato do material (livro, artigo,
site etc.) e insira os dados necessários. Geralmente, basta inserir os dados
básicos, como Autor, ano, título e editora, e clicar em OK. Os dados inseridos
serão salvos.

Para usar a os dados do material na citação, basta deixar o cursor no


final da citação e clicar em Inserir Citação. Escolha o autor da citação, como
vemos na imagem a seguir:

A referência constará no final do texto, conforme exemplo destacado na


figura. Você também pode editar essa referência clicando sobre a própria
referência.

13
Outra vantagem é que todas as citações registradas ficam armazenadas,
podendo ser usadas para criar as referências no final do trabalho também de
forma automática. É só clicar no ícone Bibliografia, em Referências, e escolher
a forma como vai fazer isso. Veja na Figura 5:

Essa funcionalidade contribui em termos de agilidade e garante que todas


as citações constem nas referências de forma automática.

TEMA 5 – CURRÍCULO LATTES: REGISTRO ACADÊMICO

Todo aluno/pesquisador deve ter seu currículo disponibilizado para


consulta. Isso é importante para ajudar aqueles que lerem seu trabalho a
conhecer um pouco mais sobre sua vida acadêmica e compreender melhor sua
linha de pesquisa. A plataforma oficial para o registro das atividades acadêmicas
de pesquisadores é a plataforma Lattes (disponível em: <http://lattes.cnpq.br>),
vinculada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). Segundo o site da plataforma:

O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida


pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país, e é hoje
adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e
institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua
crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento
indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos
pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia (CNPq,
S.d.(c))

14
O nome da plataforma é uma homenagem ao físico brasileiro Césare
Mansueto Giulio Lattes por suas contribuições ao desenvolvimento da ciência no
Brasil e no mundo.
Para inserir seus dados na plataforma você deve primeiro fazer o cadastro
no site, escolhendo a opção Cadastrar novo currículo, como vemos na figura
a seguir:

Fonte: CNPq, S.d.(b).

Após selecionar o cadastro você será direcionado para a página na qual


deverá inserir os dados solicitados, seguindo o fluxo que o site indicará:

Fonte: CNPq, S.d.(a).

15
O preenchimento não é difícil, e, após a conclusão, você terá um endereço
virtual em que seu currículo poderá ser consultado. A seguir, a página com
opções de atualizações de informações acadêmicas:

No Currículo Lattes você pode inserir as atividades relacionadas à sua


vida acadêmica de que você possua documento (diploma, certificado ou
declaração). Lembre-se de que o Currículo Lattes é uma plataforma oficial e que
toda atividade acadêmica informada deve ser passível de ser comprovada. Por
isso é importante que você mantenha um arquivo físico e outro digital de toda a
documentação que comprove o término do curso ou a apresentação do trabalho,
pois caso apresente seu Lattes para alguma instituição ela poderá exigir a
apresentação dessa documentação. Você poderá encontrar bons tutoriais na
internet sobre as opções de informações que poderá cadastrar no seu Lattes
buscando por manual currículo lattes. Muitos tutoriais são bastante detalhados
e podem ajudar nesse primeiro momento de contato com a plataforma.

NA PRÁTICA

A metodologia da pesquisa teológica exige compreender os aspectos


práticos da produção científica. Por isso é necessário compreender bem as
formas de escrita científica, para poder corretamente divulgar e apresentar
trabalhos de pesquisa. Também é oportuno compreender que a participação em
eventos acadêmicos faz parte do desenvolvimento do saber teológico.

16
FINALIZANDO

Nesta aula, pudemos conhecer algumas formas de escrita científica. Entre


elas, a estrutura do artigo científico, o formato mais utilizado para a apresentação
e a divulgação do conhecimento. Trata-se de uma ferramenta essencial no uso
da metodologia da pesquisa teológica, assim como o uso de ferramentas para
facilitar a elaboração de artigos e da ferramenta de registro da vida acadêmica
do pesquisador, que é o Currículo Lattes.
Com essas informações, compreendemos que, além de facilitar a
produção do conhecimento teológico, também podemos contribuir com a
divulgação desse conhecimento.

17
REFERÊNCIAS

CADASTRAR-SE no Currículo Lattes. Conselho Nacional de


Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), S.d.(a). Disponível em:
<https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/pkg_cv_estr.inicio>. Acesso em: 18 out.
2019.

CORDEIRO, G. D.; MOLINA, N. L.; DIAS, V. F. Orientações e dicas práticas


para trabalhos acadêmicos. 1. ed. Curitiba: InterSaberes, 2014.

DIEZ, C. L. F.; HORN, G. B. A construção do texto acadêmico: manual para


elaboração de projetos e monografias. 1. ed. Curitiba: Livro de Areia Editora,
2002.

FLUCK, M. R. Manual de elaboração de TCC e dissertação. 1. ed. Curitiba:


Editora Cia De Escritores/Fabapar, 2014.

HOUAISS, A. Minidicionário Houaiss da Língua Portuguesa. 1. ed. Rio de


Janeiro: Objetiva, 2001.

MATTAR NETO, J. A. Metodologia científica na era da informática. 3. ed. São


Paulo: Saraiva, 2008.

PLATAFORMA LATTES. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico


e Tecnológico (CNPq), S.d.(b). Disponível em: <http://lattes.cnpq.br/>. Acesso
em: 18 out. 2019.

SOBRE a plataforma Lattes. Conselho Nacional de Desenvolvimento


Científico e Tecnológico (CNPq), S.d.(c) Disponível em:
<http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em: 16 out. 2019.

18
METODOLOGIA DA PESQUISA
TEOLÓGICA
AULA 6

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, vamos entender mais alguns aspectos práticos da vida


acadêmica na divulgação de trabalhos científicos: como é o processo para a
submissão e a apresentação de trabalhos científicos, e compreender um pouco
melhor as formas mais comuns de divulgação científica que são o formato de
apresentação em banner e a apresentação oral. Também faremos uma breve
reflexão sobre o progresso na carreira do pesquisador, bem como as
características que o pesquisador deve desenvolver para progredir como
teólogo. E por último, mas não menos importante, vamos apresentar as
principais características das normas da ABNT (Associação Brasileira de
Normas Técnicas), que é extremamente importante quando se trata da escrita
científica.
Espero que o conteúdo desta aula contribua para incentivar que você,
aluno, envolva-se cada vez mais com a pesquisa, contribuindo para o aumento
da reflexão e do conhecimento da ciência teológica.

TEMA 1 – SUBMISSÃO E APRESENTAÇAO DE TRABALHOS

O trabalho de pesquisa, depois de finalizado e até mesmo durante a sua


produção, deve ser divulgado. Esse é o objetivo final da pesquisa do trabalho
acadêmico: apresenta-lo à comunidade, tanto a científica quanto para a
sociedade de forma geral. A divulgação serve para que seu trabalho seja
conhecido, apreciado e criticado. A palavra criticado pode parecer estranha; não
gostamos de críticas, mas isso não é assim na academia, e a crítica é sempre
uma oportunidade de melhorar, isto é, pela crítica de outros pesquisadores é que
podemos perceber onde nosso trabalho está apresentando falhas, e onde pode
ser melhorado. O objetivo de um trabalho científico é proporcionar o debate de
ideias e o progresso do conhecimento em determinado campo científico, por isso
a divulgação é extremamente importante: como foi dito, a crítica é fundamental
para que o trabalho possa ser melhorado. Enquanto você está elaborando o seu
trabalho, ou seja, enquanto você ainda não o finalizou, pode divulgar sua
pesquisa. Para isso é importante aproveitar todas as oportunidades que
apareçam, por exemplo: semana acadêmica da instituição em que estuda que
abra espaço para apresentação de pesquisas, congressos e qualquer evento

2
que esteja aberto a submissão e aceitem artigos ou resumos de pesquisa.
Segundo Mattar (2008, p. 165):

Congressos, conferências, palestras, encontros, reuniões, jornadas,


simpósios, seminários, mesas-redondas, workshops, oficinas e
sessões de comunicações são também uma fonte muito rica para o
desenvolvimento de pesquisas. Normalmente, nesses eventos são
reunidos pesquisadores experientes, e é possível encontrar pessoas
que estejam se dedicando a temas semelhantes ou bastante próximos
do escolhido.

Não esqueça que normalmente esses eventos contam com uma comissão
científica que faz a análise dos trabalhos submetidos. Dessa forma, seu trabalho
pode ser aprovado, aprovado com correções ou reprovado. Se aprovado,
parabéns, você poderá apresentar seu trabalho na forma que submeteu. Caso
seja aprovado com correções, deverá providenciar as correções que foram
indicadas e submeter novamente, e caso não realize as correções seu trabalho
não será aprovado. E pode ocorrer que seu trabalho não seja aprovado; nesse
caso, você deverá verificar quais foram as objeções, e não desanime: faça as
correções e melhore o trabalho, sempre haverá algum outro momento que você
poderá submetê-lo novamente. O importante é que o trabalho está sendo
aprimorado, e devemos encarar esses reveses como oportunidades: é preciso
manter uma perspectiva otimista, nem todos os trabalhos submetidos são
aceitos, pois muitos fatores podem influenciar, desde o tema não estar alinhado
com a proposta do evento, ou o trabalho não estar maduro o suficiente, até
realmente haver algum problema que tenha passado despercebido e que foi
observado pela comissão avaliadora.

TEMA 2 – APRESENAÇÃO BANNER/APRESENTAÇÃO ORAL

Falamos um pouco sobre a apresentação de trabalhos e a importância


para a divulgação da pesquisa e para o próprio aprimoramento da pesquisa que
está sendo realizada. Mas quais são as formas mais comuns de apresentação
de trabalhos em eventos acadêmicos? Há duas formas mais comuns: a
apresentação de banner e a apresentação oral. Vamos ver um pouco mais
detalhadamente estas formas de apresentação.
Banner: normalmente, nesse modelo de apresentação é solicitado que se
apresente um resumo do seu trabalho contendo os principais pontos que
compõem o banner, como resumo, fundamentação teórica, metodologia e os
resultados esperados ou conclusões, bem como a bibliografia que compõe o
3
resumo que foi submetido. Caso seja aprovado, deve-se apresentar o banner
conforme a especificação do evento no dia indicado.

Figura 1 – Exemplo de banner

Apresentação oral: outra forma de apresentação bastante comum é a


apresentação oral. Nessa forma de apresentação o pesquisador deverá
apresentar oralmente a sua pesquisa para um grupo de outros pesquisadores.
Na submissão do trabalho para a modalidade de apresentação oral pode ser
solicitado um resumo expandido, que é praticamente um paper, ou o artigo do
seu trabalho para apreciação do comitê científico. Sendo aprovado, você deverá
fazer a apresentação do seu trabalho para outros pesquisadores que também
farão a sua apresentação. A condução da apresentação deve fazer com que os
assistentes mantenham o interesse no seu tema, por isso é importante realizar
a apresentação com calma, manter o foco e atentar para os elementos-chaves

4
para a comunicação oral: transmitir com eficiência (procure ser claro e didático
na apresentação, e se houver algum termo técnico procure explicar o seu
significado); conecte-se com o público; procure olhar para todos os participantes,
não foque em apenas um dos assistentes ou para um lado da sala onde está
apresentando, faça com que todos se sintam envolvidos com sua apresentação;
tenha fluidez na apresentação; tome cuidado com expressões repetitivas, por
exemplo usar o “né”, “entende” ou outro termo que seja muito coloquial; use um
linguajar mais sofisticado, mas sem querer demonstrar uma intelectualidade
forçada. O pesquisador tem um tempo para fazer a apresentação, por isso é
interessante preparar slides para conduzir a sua apresentação. Não ultrapasse
o tempo delimitado, pois isso pode atrapalhar os outros apresentadores. No final
da apresentação é aberto um período para perguntas sobre o seu trabalho –
esteja bem preparado para solucionar as dúvidas que possam surgir.

TEMA 3 – O PROGRESSO NA PESQUISA

Alguns passos são importantes para o progresso com pesquisador. A área


de pesquisa teológica apresenta muitas opções, por isso é importante definir o
tema que deseja pesquisar, qual a área que lhe chama atenção e, a partir dessa
definição, aprofundar seu conhecimento. Assim, é necessário que, além de
procurar estar atualizado no tema que está pesquisando por meio de leituras de
livros e artigos, se participe de eventos acadêmicos que sejam da área teológica.
Nesses eventos temos a oportunidade de estar em contato com outros
pesquisadores e com os palestrantes e pesquisadores que podem contribuir com
ideias e apresentar novas perspectivas que muitas vezes não havíamos
pensado.
O desenvolvimento da carreira de pesquisador está ancorado na sua
produção acadêmica, sem abrir mão do diálogo com a sociedade e a igreja. Para
tanto, o pesquisador deve compreender os conceitos pertinentes ao campo
específico do saber teológico, segundo sua tradição, e estabelecer as devidas
correlações entre estes e as situações práticas da vida. Segundo Boff (1999, P.
703), “o trabalho de pesquisa ou investigação, que pode ser mais ou menos
extensa, tem geralmente duas fases: a da investigação propriamente dita e a da
elaboração (à qual segue às vezes a apresentação) ”.

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O pesquisador teólogo deve saber integrar várias áreas do conhecimento
teológico para elaborar modelos, analisar questões e interpretar dados em
harmonia com o objeto teológico de seu estudo. Precisa também compreender
a construção do fenômeno humano e religioso sob a ótica da contribuição
teológica, considerando o ser humano em todas as suas dimensões, e refletir
criticamente sobre a questão do sentido da vida. É preciso compreender o ser
humano com suas especificidades e contextos culturais. Analise, reflita,
compreenda e descreva criticamente os fenômenos religiosos, articulando a
religião e outras manifestações culturais, apontando a diversidade dos
fenômenos religiosos em relação ao processo histórico-social e promovendo a
reflexão crítica, a pesquisa, o ensino e a divulgação do saber teológico. É
necessário compreender a dimensão da transcendência como capacidade
humana de ir além dos limites que se experimentam na existência. Assim, deve
buscar aprimoramento constante, prosseguindo em sua formação teológica na
perspectiva da educação continuada e participando de congressos e outros
eventos que tenham a teologia como foco, produzindo reflexões teológicas a
partir de problemas concretos e buscando o meio de divulgação das
apresentações em eventos e na publicação em revistas da área.

TEMA 4 – NORMAS ABNT – PARTE I

A apresentação de um artigo bem escrito e formatado dentro das normas


exigidas pela instituição em questão é de suma importância. Quando o orientador
ou mesmo o professor solicitante toma um trabalho para ler, somente ao olhar a
capa e observar a formatação do texto já lhe causa interesse ou não em dar
continuidade à leitura. Se ambos estão bem-estruturados, com todos os
espaçamentos e elementos devidos em seus lugares corretos, já inspira a prever
que vem coisas boas pela frente, e isso causa interesse ao leitor.
É obrigatório o artigo conter alguns elementos: resumo, palavras-chave,
introdução, desenvolvimento, conclusão, pós-texto, notas explicativas e as
referências. Vamos nos ater ligeiramente sobre cada um.
Algumas instituições podem solicitar a capa no artigo. Na capa, deve
conter nome da instituição, nome do curso, nome do autor, título do trabalho em
negrito e, se houver, subtítulo. Deve ser colocado na linha abaixo do título a
cidade e o ano vigente, todos em caixa alta e fonte Arial ou Times New Roman,
tamanho 12. Veja o exemplo a seguir:
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Figura 2 – Exemplo de capa

Fonte: Moretti, 2019.

• Resumo
O texto do resumo deve ter o alinhamento centralizado, em negrito, caixa
alta, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12. O texto deve ter alinhamento
justificado e caixa-baixa na língua vernácula e conter no máximo 250 palavras.
Normalmente, o resumo é escrito somente após finalizar o artigo. Deve-se
começar o texto falando sobre o tema principal de sua pesquisa e abordar assim
os principais pontos trabalhados ao longo do artigo. Devem ser usadas frases
objetivas e curtas.

• Palavras-Chaves
As palavras-chaves são as que identificam seu artigo. Elas aparecem logo
abaixo do resumo, somente o “assunto” em negrito, fonte Arial ou Times New
Roman, tamanho 12, caixa-baixa e justificado. Observe a figura abaixo.

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Figura 3 – Exemplo de resumo e palavras-chave

Fonte: Moretti, 2019.

• Introdução
Na introdução é apresentado o contexto da pesquisa e os temas que
serão tratados, além da justificativa e do objetivo do artigo. Aqui se faz uma
apresentação breve e clara do tema estudado, valorizando acima de tudo a
delimitação. Após, deve constar a justificativa, e o autor pode levantar
questionamentos para chegar até o problema da pesquisa feita.

• Desenvolvimento
É a principal parte do trabalho: é no desenvolvimento que se explana
detalhadamente sobre o assunto em questão de forma completa.

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O objetivo geral e os objetivos específicos devem ser bem claros para o
autor, para que, com base nesses tópicos, consiga formular e utilizar bem a
fundamentação teórica para expor os seus argumentos. É de suma importância
manter a coerência entre os assuntos tratados para que o leitor não perca o
interesse da leitura e tão pouco não se perca durante.

• Conclusão ou Considerações Finais


É o fechamento do trabalho, onde se revisa o assunto e fala-se um pouco
sobre os resultados encontrados da pesquisa, procurando enfatizar se foram
atingidos os seus objetivos, sempre usando suas próprias ideias e
resumidamente, deixando sempre aberto para novas pesquisas sobre o assunto
abordado.

• Pós-Texto (não é obrigatória)


Neste espaço deve conter o título, subtítulo, o resumo e as palavras
chaves em língua estrangeira.

• Notas Explicativas (não é obrigatória)


Numeradas consecutivamente, e reiniciada a cada página, possuem esse
espaço para serem explicadas.

• Referências
Devem conter todas as referências de pesquisa utilizadas no artigo
científico, como livros, revistas eletrônicas, sites consultados, artigos científicos
etc. Devem estar em uma folha separada do trabalho, e o alinhamento deve ser
à esquerda, o espaçamento entre linhas deve ser simples e separadas entre si
por espaçamento duplo. Por exemplo:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIBANIO, João Batista; Introdução a vida intelectual; 3 ª Edição, São Paulo,


SP., Ed. Loyola, 2006

ANAKIN, S. “Regras ABNT para trabalho acadêmico”. 2019. Disponível em:


https://cursoseempregos.com/regras-abnt-para-trabalho-academico-2019.
Acesso em: 15 jan. 2019. (Também pode usar no formato 15/01/2019.)

SILVEIRA, L.; ALMEIDA, R. R.; MACEDO, J. Como ler textos de ficção. In:
MADUREIRA, L. (Org.). Percursos da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cortez, 2017. p. 63-76.

Sempre devem estar em ordem alfabética (sobrenome) e deve conter:

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Sobrenome do autor em CAIXA ALTA, nome do autor, título em negrito,
edição, cidade, editora e ano de publicação.
Alguns exemplos abaixo:

• Livros
MATTAR, J. Metodologia Científica Na Era Da Informática. 3ª Ed. São Paulo:
Saraiva. 2008.

Deve constar o sobrenome do autor em MAIÚSCULAS; primeiro nome e


nomes do meio por extenso ou somente a letra inicial, título do livro em itálico ou
negrito, e a edição. Caso o livro tenha tido mais de uma edição, não informe a
primeira. Segue cidade, dois pontos (:) e ano de publicação.

• Site
Ao ser referir a sites, deverá conter na referência, segundo as regras 2019
da ABNT: Sobrenome do autor, nome do autor, título do texto, ano, link, data de
acesso. Exemplo:

ANAKIN, S. “Regras ABNT para trabalho acadêmico”. 2019. Disponível em:


https://cursoseempregos.com/regras-abnt-para-trabalho-academico-2019.
Acesso em: 15 jan. 2019. (Também pode usar no formato 15/01/2019.)
SOBRENOME, PRENOME abreviado do autor em CAIXA ALTA, título:
subtítulo (se houver) e data da publicação, “Disponível em: (link por extenso
aqui)”. “Acesso em:(data aqui)”.

• Capítulo de livro
Ao referenciar o capítulo do livro deve constar:
Sobrenome dos autores em MAIÚSCULAS, separados por ponto e vírgula
(;) (se houver mais de 1 autor), primeiro nome e nomes do meio por extenso ou
só a letra inicial, dados da obra organizada: Sobrenome do autor em
MAIÚSCULAS, depois da palavra “In” (In:) e seguido de “(Org.)”. Para obra
organizada em língua estrangeira, substitua “ (Org.) ” por “ (Ed.) ”, título do livro
em itálico ou negrito, cidade, editora, ano de publicação, página inicial do capítulo
no livro e página final, rigorosamente nessa ordem.
Quando os sobrenomes dos autores estão dentro dos parênteses fica
tudo em MAIÚSCULAS, separados por ponto e vírgula. Acrescente o ano da
publicação e página como no exemplo abaixo:
SILVEIRA, L.; ALMEIDA, R. R.; MACEDO, J. Como ler textos de ficção. In:
MADUREIRA, L. (Org.). Percursos da Literatura Brasileira. São Paulo:
Cortez, 2017. p. 63-76.

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• Artigo científico
O artigo científico deve constar da seguinte forma:
Sobrenome do autor do artigo em CAIXA ALTA, nome do autor, título do
artigo, nome da revista em negrito, volume, número, página inicial-final, mês
abreviado e ano.

PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia: Método Científico. Livro


Metodologia do Trabalho Científico, v. 1, n. 2, p. 14-20, jun, 2013.
• Anais eletrônicos de eventos
Nos anais eletrônicos de eventos é importante conter: Sobrenome do
autor em CAIXA ALTA, nome do autor, título. In: nome do evento em caixa alta
e sem negrito, mês, ano, local de realização. Escrever Anais em negrito, local,
ano. Escrever Disponível em: endereço eletrônico, acesso: mês abreviado e ano.

JORGEN, Karl. O uso das informações na rede sociais. In: RECURSOS


HUMANOS ATRAVÉS DAS REDES SOCIAIS, 032, 2018, Rio de Janeiro.
Anais […]. Rio de Janeiro: Faculdades Integradas de RJ, 2018. Disponível em:
http://www.pdfs.com.br/trabalhos/emprego.pdf. Acesso em 29 de jun. 2018.
• Reportagem de jornal
Deve constar na referência: Sobrenome do autor em CAIXA ALTA, título
da reportagem, nome do jornal em negrito, local, ano, número da publicação,
página, dia, mês e ano.

VASCONCELLOS, Maísa. Tecnologia AI aplicada em nossos dias. Central


Informativo. Rio Grande do Sul, ano 98, n. 320, p. 25, 1 mai. 2017.
Estes são apenas alguns exemplos para facilitar a sua vida na hora de
colocar as referências nos artigos científicos.

TEMA 5 – NORMAS ABNT – PARTE II

Aqui, abordaremos as normas para a formatação do trabalho científico e


como proceder no caso de citações, DEVENDO SEMPRE o aluno OBSERVAR
as normas da instituição à qual está submetendo o trabalho e segui-las à risca.

Formatação:
• Normalmente o formato da folha deve ser A4;
• Letra: Arial ou Times New Roman;
• Tamanho da fonte: 12 para o trabalho como um todo;
• Tamanho da fonte 10: Usadas para citações longas, notas de rodapé,
legendas de figuras e tabelas e paginação.

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• Margem superior e esquerda: 3 cm;
• Margem inferior e direita: 2 cm;
• Espaçamento entre linhas: 1,5 para todo corpo do texto e de 1,0 (simples)
para: Citações diretas (mais de 3 linhas); Notas de rodapé; Legendas dos
elementos especiais (gráficos, figuras, quadros e tabelas) e Referências
Bibliográficas;
• Títulos das seções e subseções: devem ser separados do texto que os
precedem e que os sucedem por 1 espaço de 1,5 e o destaque destes
elementos é feito utilizando-se negrito, itálico, CAIXA ALTA e sublinhado,
conforme as normas da instituição e o alinhamento deve seguir a posição
horizontal da 1º letra caso haja mais de 1 linha compondo o título ou
subtítulo;
• Alinhamento do texto: justificado;
• Parágrafo: com espaço de 2,0 cm (fazer tabulação);
• Paginação: em algarismos arábicos no canto superior direito e a posição
da paginação deve ser à 2cm da borda superior da folha;
• Notas de rodapé.
As notas são separadas do texto por uma linha de 5 cm, alinhada à
margem esquerda do documento.

Citações diretas
São partes copiadas do texto original ou de parte dele, permanecendo a
pontuação, a grafia e o idioma exatamente como aparecem no original. Após
uma citação direta, deve constar o sobrenome do autor e o ano de publicação
da obra, também é importante constar a página de onde foi copiada. As citações
diretas podem ser de duas maneiras:
• Até 3 linhas: citações diretas curtas, o corpo do texto permanece com a
mesma formatação do texto, porém deve constar entre aspas.
• De 4 a 18 linhas: com essa quantidade de linhas a citação deve aparecer
em um parágrafo distinto, com recuo de 4 cm da margem esquerda, letra
Arial 10, espaçamento simples e sem aspas.

Citações indiretas
É o texto que representa o conteúdo do texto pesquisado, porém, escrito
pelo autor do trabalho, isto é, o aluno. O sentido original do texto deve ser

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mantido. Da mesma forma como os demais tipos de citações a indireta também
deve constar a fonte de onde foram retiradas.

Citação de citação
É a transcrição ou conceitos de um autor sendo ditos em um livro de outro
autor. Usa-se para isso a expressão latina “apud”, em itálico (que significa: citado
por, conforme, segundo). A citação de citação pode ser direta ou indireta.

Citações da internet
As citações extraídas de textos da internet devem ser utilizadas com
cautela, dada a sua temporalidade e fidedignidade. Avaliar bem o material antes
de utilizá-lo, uma vez que a utilização de um site de má qualidade prejudica e
deprecia um trabalho de pesquisa. Dê preferência para sites reconhecidamente
conceituados.
As orientações para as citações da internet são as mesmas aplicadas nas
citações anteriores. Ressalta-se apenas que, nesse caso, nem sempre será
possível indicar todos os dados, pois nem sempre estão disponíveis, tais como:
número de página, ano da publicação etc. As citações da internet também podem
ser diretas.

Citações com 1 ou 2 autores


Os autores podem ser mencionados no texto, ou no final, entre
parênteses.

Citações com 3 autores


Dentro do parêntese, separar por ponto e vírgula. Incluídos na sentença,
utilizar vírgula para os dois primeiros autores e (e) para separar o segundo do
terceiro.

Citações com mais de 3 autores


Deve-se apenas citar o primeiro autor seguido pela expressão et al em
itálico.

Como já mencionado acima, devem ser OBSERVADAS as NORMAS da


instituição à qual está submetendo o trabalho e segui-las, pois, a formatação de
cada instituição de ensino pode ter suas variações.

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NA PRÁTICA

Para divulgar o seu trabalho científico, é importante participar de eventos


acadêmicos que possibilitem a apresentação de trabalhos. Dessa forma, é
possível submeter a avaliação do seu trabalho por seus pares, isto é, por
pesquisadores que fazem parte dos comitês científicos que normalmente
existem nesses eventos. Assim, é extremamente importante dominar as
principais formas de apresentação, seja no formato de banner ou em forma de
apresentação oral. O desenvolvimento do pesquisador passa pela constante
submissão de trabalhos em congressos e outros eventos científicos.

FINALIZANDO

Nesta aula priorizamos a apresentação de formas de trabalhos que


podem ser submetidos em eventos acadêmicos, bem como compreendermos
com um pouco mais de profundidade o desenvolvimento da carreira de teólogo
pesquisador. Importante na escrita científica é aplicar corretamente as normas
da ABNT: um trabalho apresentado fora das normas será certamente recusado
em qualquer apresentação.

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REFERÊNCIAS

BOFF, C. Teoria do método teológico Petrópolis: Vozes, 1999.

MATTAR, J. Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva,


2008.

MORETTI, I. Regras da ABNT para TCC 2019: as principais normas


(atualizadas). Via Carreira. 2019. Disponível em:
<https://viacarreira.com/regras-da-abnt-para-tcc-conheca-principais-normas/>.
Acesso em: 14 out. 2019.

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