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METODOLOGIA DA PESQUISA

TEOLÓGICA
AULA 1

Prof. Roberto Rohregger


CONVERSA INICIAL

A teologia já foi chamada de a rainha das ciências; mas, a teologia pode


ser chamada de ciência? O que é preciso para ser uma ciência? Toda ciência
deve ter um método de pesquisa e um objeto de pesquisa, e dessa forma as
perguntas ficam mais complexas, afinal, qual o método da teologia? Podemos
falar aqui de um objeto de pesquisa?
Nesta aula pretendemos discorrer sobre essas questões, em um primeiro
momento entendendo a importância da pesquisa teológica e procurando
compreender a necessidade da pesquisa na teologia, com vistas a contribuir com
a Igreja e a sociedade. Para isso, é essencial compreender e conhecer o mundo
que nos cerca; aqui, precisamos adentrar um campo da filosofia, que é a
epistemologia, que contribuirá na reflexão dos limites da pesquisa. Após
compreendermos o conceito de epistemologia, precisamos compreender a
história e os fundamentos do método científico, assunto dos Temas 3 e 4.
Finalizaremos com o quinto tema, em que iremos buscar compreender qual, ou
quais, são os objetos de pesquisa da teologia.
Dessa forma, teremos uma firme fundamentação sobre o conceito de
pesquisa teológica, para que possamos nos aprofundar no assunto
posteriormente.

TEMA 1 – IMPORTÂNCIA DA PESQUISA TEOLÓGICA

A teologia deve manter um diálogo constante com os problemas e


desafios da sociedade e da igreja. Para tanto, deve buscar compreender quais
são os desafios da modernidade, e aqueles que podem se apresentar em breve.
Sem compreender as mudanças sociais, econômicas, políticas, tecnológicas e
científicas, a teologia não pode realizar uma crítica com possibilidades e
alternativas. A teologia tem um olhar para o mundo e um olhar para a Igreja; é
ponte e é também aquela que aponta; aponta distâncias entre a fé e a práxis, e
pode ser ponte entre a sabedoria da espiritualidade e a racionalização de um
mundo que desaprendeu a transcender o imediatismo.
Segundo Boff (1999, p. 14),

Teologia não se faz de qualquer jeito. Fazer teologia tem algo a ver
com um processo judiciário. Há que seguir um procedimento definido.
Há um percurso a se obedecer. E, semelhante ao direito ao direito pode
se perder a causa porque não se encaminhou bem a questão, embora

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se tenha razão. Assim além dos erros teológicos de conteúdo, pode
haver erros teológicos de forma. E é justamente o caso quando não se
segue um método teológico.

A pesquisa teológica busca, através de metodologia própria, investigar os


mais diversos temas aos quais o saber da teologia possa contribuir, seja com
opinião fundamentada na espiritualidade e na tradição religiosa, ou com
indagações e problematizações, em novas perspectivas e desafios possam ser
levantados, viabilizando o debate e a interação entre os diversos saberes nos
campos da filosofia, da sociologia, da ciência, entre outros que sejam
necessários para a compreensão clara do assunto pesquisado, a partir da cultura
e da sociedade onde se está inserido.

Encarar a cultura ou a história cultural do ponto de vista social e coletivo


data da segunda metade do século XIX, época em que se produz o
avanço das ciências humanas: sociologia, etnologia etc. A contribuição
dos historiadores e filósofos alemães atuara igualmente nesse sentido.
Ademais, o desenvolvimento dos movimentos sociais no mesmo
período acentuava essa tomada de consciência, dando-lhe um sentido
reivindicativo. (Gritti, 1978, p. 59)

A contribuição da teologia a tais pesquisas é apresentar a perspectiva da


sabedoria espiritual, desenvolvida no decorrer da história através da
interpretação de textos das Sagradas Escrituras. A espiritualidade enquanto
reflexão sobre o divino possibilita compreender a dimensão humana, que é tão
importante quanto as demais que compõem a complexidade do ser humano em
seu desenvolvimento, seja no âmbito social, psicológico, biológico etc. Todo
saber é um saber humano; a própria ciência é um saber humano, no sentido de
que traduz fenômenos da natureza para a linguagem humana, possibilitando
uma sistematização desse conhecimento, e assim a compreensão, mediação e
aplicação de tais descobrimentos para o viver humano.
A teologia nesse aspecto também é um saber humano, que a partir da
Revelação Divina procura sistematizar e compreender suas implicações para a
vida dos homens. Assim, a pesquisa teológica sempre busca compreender os
desafios da sua época e suas implicações para o ser humano, a partir da
dimensão da espiritualidade, nunca separada de sua dimensão material – isto é,
das implicações para o humano no aqui e agora.

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TEMA 2 – EPISTEMOLOGIA

O termo epistemologia significa “estudo do conhecimento”, ou “ciência do


conhecimento”; ou, de uma forma mais específica:

Termo de origem grega que apresenta duas acepções de fundo. Num


primeiro sentido (como no inglês Epistemology), é sinônimo de
gnosiologia ou de teoria do conhecimento. Num segundo sentido, é
sinônimo de filosofia da ciência. Os dois significados estão
estreitamente interligados, pois o problema do conhecimento na
filosofia moderna e contemporânea, entrelaça-se (e as vezes se
confunde) com o da ciência. (Abbagnano, 2012, p. 392)

Podemos compreender dessa forma que a epistemologia é um ramo da


filosofia que está interessada em compreender como podemos conhecer, ou
melhor ainda, como ter uma crença verdadeira e justificada. Segundo Moreland
e Graig (2005, p. 98),

Epistemologia é o ramo da filosofia que tenta explicar a natureza do


conhecimento, da razão e das crenças justificadas e injustificadas. O
termo epistemologia origina-se da palavra grega epistêmê, que
significa conhecimento. Portanto epistemologia é o estudo do
conhecimento e da crença justificada ou garantida.

Pela compreensão moderna da própria ciência, todo conhecimento é um


conhecimento provisório, isto é, um conhecimento que obtemos em determinado
momento de acordo com as possibilidades técnicas e o desenvolvimento
científico acumulado até um certo momento histórico, que pode ser aprofundado,
melhorado ou até mesmo descartado por pesquisas científicas posteriores.

2.1 As condições do conhecimento

Dizemos que o conhecimento é tudo aquilo que sabemos, de forma geral


ou de forma mais específica. Ele pode ser um conhecimento superficial ou
profundo, especializado. Porém, podemos ter conhecimento sobre determinado
assunto, mas como podemos garantir que ele é correto? Como podemos afirmar
que ele corresponde à realidade?
Vivemos em nosso dia a dia com muitas crenças1 que adquirimos no
decorrer da vida, que possibilitam a convivência em sociedade, e que explicam
de forma geral o mundo que nos cerca. Tais crenças podem estar corretas ou

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Nos referimos, com a palavra crença, a um conhecimento adquirido, seja pela observação ou
pelo conhecimento obtido de forma de alguma tradição, seja familiar ou social, ou ainda do senso
comum. Desta forma, não se faz um juízo de valor, se ela está correta ou não, mas se explica
em determinado nível um evento ou fenômeno de forma razoavelmente suficiente.
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não. Normalmente, na nossa vida cotidiana não nos preocupamos em saber em
detalhes tudo o que nos cerca; aceitamos alguns fenômenos sem grandes
questionamentos. Por exemplo, sei que no meu carro, a chave, ao ser girada em
local específico, vai acionar um mecanismo que liga e faz funcionar o motor. Boa
parte das pessoas não saberia explicar como isso ocorre, mas temos a fé de que
isso irá ocorrer todas as vezes que fizermos tal procedimento, pois a experiência
nos mostrou que isso é verdade. Quando este procedimento não dá resultado,
ficamos muito decepcionados, mas não sabemos a razão do erro; ao refletir,
podemos relacionar o ocorrido ao fato de, no dia anterior, termos mudado de
posto de combustível, onde costumávamos abastecer, e assim podemos pensar
que de certa maneira isso possa ser o motivo do não funcionamento do carro.
Porém, a crença só poderá ser validade ao levar o carro a um mecânico.
Esse exemplo simples serve para compreendermos que a crença que
tenho sobre o problema do carro somente poderá ser compreendida como
verdadeira se for justificada, isto é, se ao examinar o motor o mecânico afirmar
que a gasolina do posto em que abasteci não tinha condições de efetuar o
acionamento do motor de forma eficiente. Assim, a concepção de verdade está
envolvida na concepção de conhecimento; assim, para validar a minha crença
de que o problema foi a gasolina, preciso adquirir o conhecimento sobre o
funcionamento do motor e verificar a pureza do combustível, ou confiar em
alguém preparado tecnicamente para verificar se a minha crença está correta ou
não. Comprovando-se tecnicamente que minha crença é verdadeira, posso
afirmar que tenho uma opinião justificada.

TEMA 3 – ORIGENS DO MÉTODO CIENTÍFICO

Podemos dizer que o método científico foi desenvolvido no século XVI,


quando alguns pensadores, entre eles Copérnico e Galileu, começaram a usar
uma metodologia, ainda que incipiente, para averiguar seus experimentos e
teses. Porém, a reflexão sobre como se obter conhecimento, e verificar sua
veracidade, já era uma preocupação que ocupava a mente dos filósofos da
Grécia antiga.
Sócrates já refletia sobre o que seria a verdade. Não que ele tenha sido o
primeiro, pois outros antes dele já refletiam sobre a própria representação do
mundo e a forma de obter conhecimento. Platão, pupilo de Sócrates,
desenvolveu uma compreensão sobre as formas de conhecimento:
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Platão na antiga Grécia, já fazia distinção entre três tipos de
conhecimento: doxa (opinião, saber não provado, saber do povo),
episteme e sofia (saberes especiais dos homens mais refletidos e
estudados, correspondentes, o primeiro ao conhecimento tido naquele
tempo como científico, o segundo a toda a sabedoria dos “primeiros
princípios” acumulados pela filosofia). Afirmava Platão que o que há de
específico na doxa é o poder conter verdades também; no entanto, ela
se distingue da filosofia e da ciência especial em não poder dar o
fundamento do que diz ou pensa. (Morais, 1997, p. 27)

Podemos perceber que Platão já fazia uma distinção entre o


conhecimento do senso comum e o conhecimento que era buscado de uma
forma mais sistemática, buscando uma fundamentação do que se pretende
conhecer; ainda assim, não descartava a doxa como possibilidade de conter a
verdade.
Aristóteles procurou uma forma de compreender como se alcança o
conhecimento a partir da sistematização de um relacionamento entre causa e
efeito. Essa é apresentada como uma forma de compreender a realidade, e não
somente obter conhecimento, pois trata também da previsibilidade, da repetição
de determinados experimentos ou fenômenos.

De Aristóteles a Bacon ensinou-se que o conhecimento científico é


aquele que visa relacionar cada efeito a uma causa. Mais do que
simples curiosidade o homem de ciência teria necessidade de
investigar as relações entre causa e efeito, a fim de esclarecer a
dinâmica universal e conseguir alguma possibilidade de fazer seguras
previsões sobre os eventos futuros. Explicá-los desde as suas raízes,
podendo antecipar algo nas suas consequências. (...) Já o filósofo
escocês David Hume, no século XVIII, investiu rigorosamente contra a
noção de relacionamento entre efeitos e causas em sua argumentação
contra a causalidade. Para Hume, nos conhecemos um fenômeno e
outro que o antecede com sugestiva proximidade. O conhecimento
sensível nos põe dois fenômenos que guardam entre si a relação de
antecedente e consequente; mas dizer que entre eles há uma relação
e produção (o primeiro produziu o segundo) isto é uma construção da
mente humana. (Morais, 1997, p. 27)

David Hume questionou a inter-relação automática entre causa e efeito,


que para ele poderia ser apenas uma interpretação humana. Essa teoria fez com
que houvesse um aprofundamento no desenvolvimento do método científico. Foi
com Bacon e Descartes que o método científico teve início efetivamente; os
autores sublinhavam a necessidade da investigação científica para o domínio da
natureza. Nesse sentido, é fundamental que se parta de uma posição cética para
buscar a compreensão do mundo. Descartes, em sua obra O discurso do
Método, lançou os fundamentos do método científico, questionando os sentidos
como forma direta de conhecimento da realidade, pois deveriam estar sob o crivo
da razão. Seu questionava a forma como se poderia elaborar uma declaração

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que fosse verdadeira, inequivocamente, considerando que seus próprios
sentidos poderiam enganá-lo. Dessa reflexão, surge uma das afirmações mais
conhecidas da filosofia:

Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim pensar


que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava,
fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo
existo, era tão firme e tão certa que todas as mais extravagantes
suposições dos céticos não seriam capazes de a abalar, julguei que
poderia aceitá-la, sem escrúpulo, como o primeiro princípio da Filosofia
que procurava. (Descartes, 1987, p. 46)

Descartes instituiu o que viria a ser uma das bases do método científico:
para se compreender o todo, bastaria compreender as partes. Essa forma de
pensar acabou abrangendo todas as áreas do saber humano, o que de certa
forma possibilitou o desenvolvimento das ciências. Porém, aqui também há um
problema, pois limita-se por vezes a compreensão do todo pelas suas partes, o
que direcionou a uma especialização do estudo das partes, que por vezes se
desconectam do todo, impossibilitando a percepção de que o relacionamento
entre as partes também é importante para o conhecimento do todo. Assim,
muitas vezes, quando se foca na especificidade das partes, não se compreende
as inter-relações entre elas, e suas consequências para o todo.

TEMA 4 – FUNDAMENTOS DO MÉTODO CIENTÍFICO

Para que um conhecimento ou saber seja entendido como científico, ele


deve ser fundamentado em um método. O método deve existir para que se possa
averiguar a forma como o conhecimento foi adquirido e para poder testá-lo e
repetir a experiência, de modo a obter os mesmos resultados, ou seja, a
desejada previsibilidade. Assim, uma das bases do método científico é que se
possa testar, avaliar a experiência ou tese, a partir de método próprio.
Podemos, de uma forma geral, afirmar que os passos básicos de um
método científico se compõem por:

1. Primeiramente, temos a observação. É neste momento que o cientista


observa o fenômeno, procurando isentar-se de qualquer conceito prévio
ou, como poderíamos dizer, de pré-conceito sobre ele. Dessa forma, o
que se pretende é observar suas características.
2. O segundo passo seria a elaboração do problema ou a problematização,
isto é, o questionamento sobre o problema. Aqui cabe as perguntas:

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Como? Por quê? etc. Ainda não se oferece uma resposta, pois é
importante elaborar bem o problema.
3. A partir dos questionamentos, inicia-se os estudos para a busca de
hipóteses, isto é, a resposta ou as respostas para o problema. Na ciência,
por vezes pode-se ter mais de uma resposta; porém, a princípio apenas
uma é correta. E como descobrimos qual delas é certa? Através do
próximo passo.
4. É através da experimentação e das pesquisas que se busca compreender
qual a resposta correta, isto é, quais hipóteses são mais consistentes.
5. Terminada a fase de experimentos, procede-se à análise dos resultados
que se mostraram eficientes quanto à consistência das hipóteses, isto é,
que respondem, de forma eficiente, os questionamentos.
6. Pode-se obter a conclusão apresentando as hipóteses mais consistentes
para a explicação do fenômeno observado. Porém, a princípio as
hipóteses devem ser continuamente submetidas a novos
questionamentos, pois, como já afirmamos, todo conhecimento, ainda que
científico, é provisório.

Esses são os passos necessários para o desenvolvimento científico, e


para que um conhecimento obtenha a característica de científico. Podemos
aplicar este método, com determinados ajustes, para a pesquisa teológica,
compreendendo que cada ciência tem um método que é mais próprio para o seu
objeto de estudo. Veremos com um pouco mais de detalhes o método da teologia
no próximo tema.

TEMA 5 – A TEOLOGIA COMO CIÊNCIA: O OBJETO DA TEOLOGIA

Poderíamos chamar a teologia de ciência? Se sim, qual seria o seu objeto


de estudo? Primeiro, já vimos a fundamentação do método científico e a
fundamentação da epistemologia; desta forma, podemos afirmar que a teologia
é uma ciência. Porém, é necessária uma distinção: ela não é uma ciência no
sentido das ciências da natureza ou da matemática. A teologia faz parte das
ciências humanas, ou das humanidades, isto é, das áreas que pretendem
compreender as características do ser humano e seus relacionamentos.
Segundo Tillich (2005, p. 21), “A teologia, como função da igreja cristã, deve
servir às necessidades desta igreja. Um sistema teológico deve satisfazer duas

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necessidades básicas: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a
interpretação desta verdade para cada nova geração”. Desta forma, a teologia
procura compreender a relação do ser humano com a espiritualidade, com Deus,
e consequentemente a relação com o outro, agora mediada pela revelação e
pela interpretação das Escrituras. Segundo Murad, Gomes e Ribeiro (2010, p.
16), “A teologia cristã só pode ser compreendida a partir da fé de que Deus
mostrou quem ele é, manifestando seu projeto de salvação para a humanidade.
É o que nós cristãos chamamos de revelação”. Procurando aprofundar a
definição sobre o termo teologia, Champlin elucida (2001, p. 357):

O termo teologia vem do grego theós, “deus” e logos, “estudo”,


“discurso”, “raciocínio”. Assim, esta palavra indica o estudo das coisas
relativos a Deus, à sua natureza, obras e relações com os homens, etc.
Uma definição léxica diz “... um corpo de doutrinas estabelecido por
alguma igreja ou grupo religioso em particular. Essa é uma definição
restrita. Mas esse vocábulo também é usado em um sentido mais geral:
“O estudo da religião, que culmina em uma síntese ou filosofia da
religião; além disso, uma pesquisa crítica da religião, especialmente da
religião cristã.

Pelas definições, poderíamos afirmar que a teologia tem como objetivo o


“estudo” de Deus; porém, com isso estaríamos cometendo um erro grave, pois
Deus somente pode ser o estudo da teologia de forma indireta, e a partir daquilo
que lhe aprouve revelar à humanidade. Logo, a busca da teologia é compreender
e interpretar a revelação divina, e para isso o objeto de estudo da teologia é as
Sagradas Escrituras, a fé, a Igreja e os impactos e relacionamentos entre tais
elementos e a própria sociedade. E como pretende-se ciência, isto é, provar-se
como uma forma de compreender o mundo e a realidade e seus fenômenos,
necessita de um método. Segundo Clodovis Boff (1999, p. 16), temos na
metodologia teológica quatro níveis de profundidade crescente:

1. Nível das técnicas: Os recursos usados pela pesquisa e reflexão


teológica, isto é, os meios e modos que contribuem para seu exercício,
como o método para a pesquisa, a leitura, a interpretação dos textos, a
análise e o aprofundamento das questões, a organização do material, a
elaboração das ideias etc. Essas são as exigências básicas, comuns da
chamada metodologia teológica enquanto aplicação da ciência teológica.
2. Nível do método: Compreende as etapas pelas quais passa o processo
da prática teológica, isto é, a articulação com as questões da vida e da
prática. Para isto, é preciso escutar a Palavra, com sua compreensão

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voltada para o sentido da comunidade de fé original, com uma
interpretação crítica, com direcionamento para a vida, e assim por diante.
3. Nível da epistemologia: É a busca por fundamentação crítica, com
justificação racional, passando pela compreensão de seus alcances e
limites. Aqui, cabe atenção, pois é importante compreender que a teologia
tem seus limites epistemológicos, pois como sabemos a revelação Divina
é limitada pela autorrevelação de Deus, de modo que não podemos saber
mais de Deus do que a sua revelação apresenta. Ela pode se dar tanto
pela revelação natural quanto pela revelação no decorrer da história, que
se mantém preservada nas Escrituras.
4. Nível do espírito teológico: Por trás da prática teológica, existe um
espírito que atravessa e sustenta tudo. É a busca por entender o mistério.
É no fim, a “vontade de conhecer” Deus que se confunde com a própria fé
em sua dinâmica interna. É a paixão por buscar compreender qual é a
largura, o comprimento, a altura e a profundidade do mistério divino (Ef.
3,18).

Como pudemos perceber, o método teológico implica um processo de


pesquisa a partir do próprio texto das Escrituras, que possui um método
exegético, alinhado com a contribuição de outras ciências, como filosofia,
sociologia, história etc., que dialogam com a fé e com a realidade do mundo de
forma crítica e reflexiva.

NA PRÁTICA

A teologia tem um papel extremamente importante para a Igreja, pois é


através da reflexão teológica das Escrituras que podemos compreender todas
as implicações da ação de Deus no decorrer da história, e também a importância
da sua Revelação para a o ser humano. A pesquisa teológica tem como fim
contribuir para a compreensão de problemas que surgem na sociedade e que
têm um impacto direto na comunidade de fé, possibilitando uma compreensão
vasta e apresentando respostas através da cosmovisão cristã. Além desta
contribuição vital para a Igreja, a teologia também pretende ser ouvida na
sociedade, contribuindo para o debate público. Para tanto, é preciso que seja
compreendida como uma ciência que apresenta um método investigativo; trata-
se de uma ciência estruturada, que consegue dialogar com as demais ciências,

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oferecendo alternativas que levam em consideração a espiritualidade e as
peculiaridades humanas, bem como a sua fé em Deus. É extremamente
importante que a teologia possa se fazer ouvida na sociedade, e que sua
contribuição seja considerada relevante para a reflexão humana, considerando
que o ser humano é dotado de uma espiritualidade que deve ser respeitada na
busca de respostas para os dilemas humanos da modernidade.

FINALIZANDO

Pudemos compreender, no decorrer desta aula, que a pesquisa teológica


tem uma importância muito grande, tanto para o desenvolvimento da Igreja,
quanto para o debate de grandes questões sociais, pois a teologia se alinha com
a epistemologia, observando-se que apresenta um método próprio de
investigação, isto é, de pesquisa. Pudemos ainda compreender um pouco da
origem e do desenvolvimento do método científico, com seus fundamentos
básicos. Por fim, compreendemos que o objeto da pesquisa científica teológica
parte de um método próprio de pesquisa, fruto da característica do seu objeto de
estudo, Deus. Assim, a pesquisa é realizada sempre de forma indireta, através
da sua autorrevelação, contida nas Escrituras, da fé e dos relacionamentos
humanos.

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REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,


2012.

BOFF, C. Teoria do método teológico. 1. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. 5. ed. Dutra:


Hagnos, 2001. v. 6.

DESCARTES, R. Discurso do método: As paixões da alma - Os Pensadores.


4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

GRITTI, J. Expressão da fé nas culturas humanas. 1. ed. São Paulo: Paulinas,


1978.

MORAIS, R. D. Filosofia da ciência e da tecnologia. 6. ed. Campinas: Papirus,


1997.

MORELAND, J. P.; GRAIG, W. L. Filosofia e cosmovisão cristã. 1. ed. São


Paulo: Vida Nova, 2005.

MURAD, A.; GOMES, P. R.; RIBEIRO, S. A casa da teologia: introdução


ecumênica à ciência da fé. 1. ed. São Leopoldo: Paulinas/Sinodal, 2010.

TILLICH, P. Teologia sistemática. 5. ed. São Leopoldo: Sinodal/Est, 2005.

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