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Instituto Superior Politécnico Católico de Benguela

Licenciatura em Ciências da Educação

Psicologia Educacional

2.º Ano, 1.º Semestre

Ano Lectivo 2020

Metodologia e investigação em Psicologia da Educação

Método - Provém do grego methodos: odos (caminho) e meta (para). Procura,


busca (no domínio do saber).

Método = Caminho a seguir para alcançar um determinado fim.

Sistema de regras que nos serve para alcançar um determinado objectivo e


que também persegue os melhores resultados.

Conjunto de meios preparados racionalmente para a obtenção de um resultado


determinado. “Método de trabalho, de leitura, de explicação, etc.” Folquié
(1971).

Parte dos manuais de Psicologia da Educação trazem na sua primeira parte


uma abordagem sobre requisitos fundamentais da metodologia da investigação
científica e em particular da investigação em Psicologia (Almeida e Freire,
2003: Pinto, 1990).

Diga-se desde já que os métodos quantitativos não esgotam toda a


metodologia de investigação: aos métodos qualitativos também deve ser
reconhecido o seu lugar.

Há autores que criticam a “ilusão do rigor quantitativo” como se fosse possível,


particularmente no campo da Psicopedagogia, medir tudo a metro ou tudo a

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avaliar com número da estatística (Lourenço, 1994, citado por De Oliveira,
2010:30).

O Método Científico é um procedimento complexo que permite conhecer a


realidade, predizer os acontecimentos e de qualquer forma controlá-los.

Para isso é necessário que se articule a teoria com a realidade empírica, de


acordo com uma série de requisitos, procedimentos e técnicas, segundo
passos bem definidos.

É possível aplicar o método científico a Psicologia da Educação, apesar das


dificuldades de planeamento da investigação, no controlo e análise de
variáveis.

Dizer que, a Psicologia da Educação possuí um objecto específico (o acto ou


processo educativo ensino-aprendizagem).

Como nas ciências sociais e/ou humanas (e educativas) há dificuldades em


usar o método estritamente experimental ou laboratorial, mas podem usar-se
métodos quase-experimentação e correlacionais, a investigação na acção, as
diversas classes de observação(externa), a introspecção (observação interna),
o método clínico, a análise de casos, a análise de conteúdos, as escalas e
questionários estandardizadas.

Beltran et al (1990) citados por De Oliveira (2010), apresentam a teoria de


Delclaux (1995) sobre as diferenças de focagem metodológica entre as
ciências naturais ou físicas e as sociais.

Uma das dificuldades na interpretação dos resultados da investigação depende


dos métodos usados: transversais (sujeitos ao efeito de “coorte” ou geracional)
ou longitudinais (mais fiáveis mas mais custosos e com outros inconvenientes).

Melhor é usar métodos transverso-longitudinais ou sequenciais, mas também


podem acumular-se os defeitos e as dificuldades de ambos.

Apesar de ser possível e necessária a investigação em Psicologia da


Educação, frequentemente os resultados são decepcionantes, particularmente
quando se pretende aplicá-los na prática.

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Muitas vezes assiste-se a uma cisão entre a investigação teórica e as
aplicações concretas. Pior ainda quando a investigação escasseia ou os
resultados são inconsistentes.

Os especialistas dedicam-se mais a prática educativa do que a teoria por


menosprezo pela investigação ou dada a complexidade dos fenómenos
educativos com muitas variáveis difíceis de explorar e de controlar, capazes de
desencorajar os investigadores.

Seja como for, a investigação, apesar de não constituir uma panaceia ou


varinha mágica capaz de resolver todos os problemas educativos, é caminho
seguro de progresso.

O pesquisador deve proceder com humildade, evitando a euforia que


caracterizou alguns autores nos primórdios da investigação neste domínio,
como é o caso de Thorndike (muitas vezes, mesmo em medicina/farmácia
sonega-se a informação, só se publicando os resultados que interessam).

Entretanto, a tradição, provinda dos grandes pedagogos, deve continuar a ter


uma palavra complementar para além da investigação.

MÉTODO DE EXPERIMENTAÇÃO

O objectivo da experimentação é descobrir o factor ou factores que produzem


ou alteram um certo comportamento.

O cientista que aplica este método busca estabelecer uma relação entre o
comportamento e os possíveis factores que lhe deram origem.

COMO PROCEDER UMA EXPERIMENTAÇÃO

1- Seleccionar a variável dependente, o comportamento a ser estudado;


2- Seleccionar as condições antecedentes que podem ter influência em tal
comportamento;
3- Seleccionar entre essas condições aquela que será modificada;

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4- Estipular como será variada essa condição e como será medida a
alteração na variável dependente;
5- Seleccionar o grupo de controlo e o grupo experimental;
6- Realizar o experimento;
7- Verificar o resultado.

MÉTODO DE OBSERVAÇÃO

Método de análise qualitativa do comportamento que ocorre em contexto


ecológico ou laboratorial e pode ser de dois tipos: Naturalista e Laboratorial.

Observação Naturalista = Constatação ou apreciação sistemática de um


fenómeno que se realiza no seu meio natural, visando analisá-lo e descrevê-lo
cientificamente. É a mais usada em psicologia e pode ser:

Participante = O pesquisador observa o fenómeno em estudo, envolvendo-se


directamente com o observado ou com a situação.

Não Participante = O pesquisador observa o fenómeno em estudo, demarca-


se da mesma, exercendo apenas o papel de mero observador.

Observação Laboratorial = Constatação ou apreciação sistemática de um


fenómeno que acontece num meio ou contexto criado pelo pesquisador.

REQUISITOS DO MÉTODO DE OBSERVAÇÃO

A observação deve ser exacta, precisa, registada e objectiva para que possam
ser úteis as pesquisas e estudos.

A observação deve ser exacta: imagine que esteja a observar uma aula de
matemática numa escola e vê dois alunos imóveis em suas carteiras. Você não
pode afirmar que os dois alunos estão atentos à aula.

Essa informação pode não ser exacta, pois só uma informação mais cuidadosa
poderia determinar se estavam acompanhando o texto do livro ou se o que liam
era uma revista sobre desportos.

A observação deve ser precisa: Você está no pátio e vê duas crianças


brincando. A observação precisa anota se ocorrem os comportamentos de
arranhar, apertar, dar socos, dar tapas, etc.

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A observação deve ser registada: a observação deve ser imediatamente
registada, com o máximo cuidado, para evitar as deformações que o tempo
pode provocar nos factos que guardamos na memória.

A observação deve ser objectiva: Geralmente, temos tendências de ver ou


ouvir somente os factos que estão de acordo com nossas preferências e omitir
os demais. Dois psicólogos norte-americanos mostraram a observadores um
quadro em que um homem branco e mal vestido, segurando uma navalha,
discutia violentamente com um homem preto e bem vestido, de aspecto
conciliador.

Ao registarem o que viram, alguns observadores escreveram que a navalha


estava na mão do preto!

A objectividade na observação pode ser aumentada com treinamento.

Assim, para que haja maior grau de objectividade, as observações devem ser
seguidas de registos, comparações das anotações entre si, afim de estabelecer
as diferenças.

MÉTODO CLÍNICO

Usa-se com pessoas desajustadas, isto é, que apresentam problemas de


comportamento.

Consiste em reunir maior número de informações sobre cada caso.

Procedimento para o uso de Método Clínico

Entrevistas com o paciente, procurando construir sua vida passada;

Histórico do caso realizado por meio de entrevista com familiares, amigos;

Testes psicológicos;

Debate com outros profissionais como médico, assistente social, etc.

Com todas essas informações, o psicólogo poderá traçar um quadro completo


do problema e iniciar uma terapia.

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Método que permite abordagem do outro (pessoa) nas relações inter-
individuais e nas relações sociais. Também conhecido como método de estudo
de caso.

Métodos Quase-Experimentais e Correlacionais

Procedimento científico de investigação através do qual o pesquisador cria


condições objectivas para testar a validade das hipóteses pré-definidas sobre
um determinado objecto de estudo.

Quase-Experimental por obedecer com todo rigor ao padrão adoptado nas


pesquisas das ciências exactas.

Método de Introspecção

Método através do qual, o investigador leva o investigando a fazer uma auto-


análise orientada sobre o seu estado psicológico (atitudes, emoções,
pensamentos, sensações, etc.) e verbalizá-los para seu enquadramento teórico
ou prático.

Método de Investigação na Acção

Estudo de todos os pressupostos colhidos durante o desencadeamento de um


processo, fazendo o levantamento das propriedades qualitativas do mesmo,
visando compreendê-lo sistematicamente.

Ex: durante a ministração da aula, analisa-se a forma como a aula decorre, a


postura do professor, dos alunos, a interacção professor-aluno, aluno-aluno,
etc

Análise de Conteúdo

Metodologia de pesquisa usada para descreve e interpretar o conteúdo de toda


classe de documentos e textos.

Conduz à descrições sistemáticas quantitativas ou qualitativas.

Ajuda a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus


significados num nível que vai além da leitura comum.

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Ex: o investigador pega num livro ou relatório de pesquisa, faz uma leitura e
interpreta profundamente o significado do seu conteúdo e descreve o
documento realçando suas características qualitativas e quantitativas.

Escalas e Questionários Estandardizados

Modelos concebidos à luz de algum referencial teórico que apresenta


subcategorias correspondentes à números sobre um item ou tema de estudo
ou de pesquisa.

São aplicados para medir o estado actual do grupo ou indivíduo quanto ao


tema seleccionado. ( ex: escala de medição da inteligência, da memória, da
percepção).

Da escala de medição da inteligência, o pesquisador coloca vários itens com


questões específicas que possam medir as diferentes aptidões (numérica,
espacial, verbal, artística, de entre outras), do indivíduo que aprende.

Distinção entre Metodologia Quantitativa e Metodologia Qualitativa

A investigação quantitativa actua em níveis de realidade na qual os dados se


apresentam aos sentidos e tem como campo de práticas e objectivos trazer à
luz fenómenos, indicadores e tendências observáveis.

A pesquisa quantitativa, é a mais comum no mercado, e prioriza apontar


numericamente a frequência e a intensidade dos comportamentos dos
indivíduos de um determinado grupo, ou população.

A investigação qualitativa trabalha com valores, crenças, hábitos, atitudes,


representações, opiniões e adequa-se a aprofundar a complexidade de factos e
processos particulares e específicos a indivíduos e grupos.

A abordagem qualitativa é empregue para a compreensão de fenómenos


caracterizados por um alto grau de complexidade interna.

Quando utilizar a abordagem quantitativa

1. Para avaliar resultados que podem ser contados e expressos em números,


taxas, proporções.

2. Para conhecer a cobertura e a concentração do programa.

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3. Para conhecer a eficiência do programa.

4. Para responder a questões relativas a quantidades.

5.Quando o objecto a ser avaliado possui diferenças de grau (exigindo uma


lógica de mais ou de menos).

6. Para avaliar actividades cujos objectivos sejam bastante específicos.

7. Quando se busca estabelecer relações significativas entre variáveis.

Quando utilizar a abordagem qualitativa

1. Para avaliar resultados individuais dos participantes de um programa,


serviço ou actividade.

2. Para responder a questões sobre como, o quê e por quê.

3. Para avaliar a dinâmica interna de processos e actividades.

4. Para avaliar actividades cujos objectivos são gerais e pouco específicos.

5. Quando se quer personalizar o processo de avaliação.

6. Quando a colecta de dados quantitativos é tão rotineira que não se presta


mais atenção ao significado expresso por elas.

7. Quando o objecto a ser avaliado possui diferenças de género.

Diversos Modelos

Beltrán (1995), citado por De Oliveira apresenta três modelos ou paradigmas


teóricos de investigação em Psicologia da Educação com a consequente
compreensão e aplicação.

1. Modelo Comportamentalista

2. Modelo Cognitivista

3.Modelo Interaccionista (psicossocial e ecológico).

Modelo comportamentalista

Tenta predizer, controlar e eventualmente modificar o comportamento. A


análise aplicada de comportamento é um método de mudança comportamental

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baseado em princípios de investigação laboratorial, avaliando
experimentalmente a eficácia da mudança. Inspira-se no modelo do
comportamento operante de Skinner (1968) que criticou com dureza os
modelos educativos tradicionais, discordando da maneira de explicar o
processo educativo através da maturação (a educação consistiria em favorecer
o desenvolvimento natural), da aquisição de conhecimentos do ambiente
(acentuando as estruturas internas) e da construção (a partir da qual se
configura a conduta do aluno). Skinner não aceita também as três explicações
sobre a aprendizagem: teoria do aprender fazendo (learning by doing), teoria
da experiência, e aprendizagem por tentativas e erros. Critica ainda alguns
erros da prática educativa: uso do controlo aversivo, não uso do reforço
positivo, uso do método socrático (O professor limita-se a ajudar ao aluno a
“dar à luz”. Critica a aprendizagem por descoberta, que significa um abdicar do
ensino.

Trata-se de um modelo mecanicista e reducionista que não explica toda a


complexidade do comportamento educativo, considerando antes a pessoa
humana como um “robot” ou um “rato” de laboratório.

Modelo Cognitivista

Tenta explicar o processo de aprendizagem considerando o sujeito activo. Os


seus antecedentes provêm da psicofisiologia ( o comportamento é algo mais do
que a simples resposta a estímulos), da cibernética e da teoria da informação (
o organismo é uma realidade activa que processa e age sobre a mensagem) e
ainda da psicologia cognitiva, já latente em Tolman, e desenvolvida na Gestalt
e no movimento New look, com autores como Piaget, Brunner, etc. O
cognitivismo procura não apenas predizer e controlar o comportamento, mas
sobretudo explica-lo ou interpretá-lo, não de um ponto de vista mecanicista,
como na corrente anterior, mas inspirando-se no processamento de
informação.

Na linha cognitivista são investigadas principalmente quatro grandes áreas:


aprendizagem (procurando formular uma teoria rigorosa sobre o modo como se
aprende); estrutura do comportamento (condições ambientais e processos

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cognitivos que estruturam o que se aprende); solução de problemas;
desenvolvimento cognitivo, servindo-se de testes (sobre estilos cognitivos,
diferenças individuais e dinâmica da mente), de objectivos bem definidos e da
análise de tarefas.

Modelo interaccionista (psicossocial e ecológico)

Visa interpretar a interacção educador-educando e a sua relação com o meio.


O ponto de vista psicossocial significa uma posição intermédia ou melhor
complementar, entre o comportamentalismo (aprendizagem como resultado de
uma correta programação de reforços) e o cognitivismo (aprendizagem como
um processo activo do sujeito).

Na realidade, as duas posições anteriores não consideram suficientemente o


sujeito em interacção com o meio (família, colegas, etc.) e com suas
experiências e normas, onde a aprendizagem é interpretada mas como um
processo interpessoal. Não se trata apenas de realçar a vertente social do
sujeito, individualmente considerado, mas a sua interacção com os outros. A
educação e a aprendizagem são fenómenos essencialmente interpessoais, na
interdependência entre professor e aluno, pais e outros agentes.

Referências Bibliográficas

Barros de Oliveira. Psicologia da Educação vol.1 Aprendizagem- Aluno, 3.ª


Edição actualizada. Porto: Livpsic (2010).

PILETTI, Nelson. (2006). Psicologia Educacional. 17ª ed. Editora Afiliada, S.


Paulo.

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