Você está na página 1de 3

VELHO, G. Memória, identidade e projeto.

In: Projeto e metamorfose: Antropologia das


sociedades complexas. Zahar, 1994.
Até que ponto a participação em um estilo de vida e em uma visão de mundo implica uma
adesão que seja significativa pata a demarcação de fronteiras e elaboração de identidades
sociais?
Questionar “identidade gay” e como isso impacta na visão de mundo dos interlocutores. Até que
ponto essa identidade constitui parte da sua identidade.
Persistência das tradições e das instituições “encompassadoras” na modernidade. Tensão
permanente entre hierarquia e processos de individualização, entre diferentes configurações
de valores.
A memória significativa para os interlocutores é uma memória com caráter mais social ou
individual? Uma memória que associa ou desassocia, em que grau, o indivíduo das instituições.
A sexualidade impacta nesse processo de individualização? Ao mesmo tempo que indivíduo se
emancipa da “família”, ou da “religião”, pode colar sua identidade à uma identidade mais
abrangente: ideia de “comunidade gay”.
A casa seria uma categoria mais associada a valores e a instituições encompassadores, como a
família ou a igreja e, por isso, mais distantes ou com menor capacidade de articular os projetos
de pessoas não-heterossexuais?
Reflexão sobre a própria natureza da metodologia da pesquisa - entrevistas individuais, que é
individualizada e individualizadora.
Toda a noção de projeto está indissoluvelmente imbricada à ideia de indivíduo-sujeito, como
uma de suas características suficientes: indivíduo-sujeito é aquele que faz projetos.
Necessariamente? Um indivíduo que elabora projetos estando atravessado e que atravessam
instituições encompassadoras estaria reforçando ou diluindo o seu caráter de “indivíduo”?
Segundo Velho, a própria existência de projeto é a afirmação de uma crença no indivíduo-
sujeito.
Ênfases maiores ou menores no indivíduo enquanto unidade básica significativa estão mais
ou menos coladas a fenômenos como estratificação social, grupo de status, orientação
religiosa, grupo etário e, como é a hipótese, orientação sexual.
Velho enfatiza a articulação de memória e projeto, como elementos que dão significado à vida e
às ações dos indivíduos, em suma, à própria identidade. Mas não poderia haver, também, um
caráter conflitivo entre os dois? Se o “presente” é o elemento que articula as duas operações
cognitivas, um “rompimento” com o presente não poderia contrapor as formulações da memória
(não necessariamente se atualiza) e do projeto?
DAMATTA, R. Espaço: casa, rua e outro mundo, o caso do Brasil. In A casa e a rua.
Guanabara, 1987.
No caso do tempo, o contraste mais abrangente talvez seja o que pode ser estabelecido entre
as rotinas diárias e as situações extraordinárias. [...] modificações concomitantes no espaço.
[...] tais mudanças certamente correspondem a uma dinâmica dos grupos sociais que estão
implicados em cada forma de temporalidade. Pode-se até mesmo dizer que a temporalidades e
a “espacialidades” diversas corresponde a atuação de unidades sociais diferentes e até
mesmo opostas. [...] Mas o momento ritual exige a transformação da família ou até mesmo a
sua substituição por um outro grupo da mesma sociedade. (p. 40-41)
[...] a história somente faz viver essa comunidade utópica porque o diabo no campanário
engendra com sua ação a possibilidade de cada burguês desenvolver sua perspectiva
diferenciada das coisas, das atividades que perfazem as rotinas diárias e, naturalmente, do
espaço. (p. 43)
Ver o contraste entre sociedades “frias” e “quentes” em Lévi-Strauss e explorar relação entre
história e individualismo.
Mas é importante constatar como o momento extraordinário nos transforma em seres
exemplarmente coletivos: ou somos dupla ou somos torcida, partido, público, multidão. (p.
44)
Momentos como “se descobrir gay”/“se assumir gay”/sair de casa constituem momentos
extraordinários? Implicam novas temporalidades e espacialidades? Tem caráter coletivizador?
Associar com a ideia a respeito de casa e seu caráter coletivo ou individual.
Mas, quando há um evento em que não temos mais esse controle, então podemos dizer que
estamos diante do novo ou da situação que pode desencadear um processo histórico inovador.
(p. 44)
Esse evento extraordinário implica desconhecer os grupos sociais que serão seu ponto central?
É porque vivemos de fato entre e na passagem de um grupo social para outro que podemos
sentir o tempo como algo concreto e a transformação do espaço como um elemento
socialmente importante. (p. 44)
A casa deixa de ser um espaço relevante?
Nas sociedades tribais, entretanto, nos sistemas tradicionais e semitradicionais, onde o
indivíduo é muito menos visível e a relação, o par, a família, o grupo e o parentesco é que são
os sujeitos das rotinas sociais mais importantes, é o estado individual que engendra essas
fases fora do comum. (p. 46)
Diferentes sistemas de “sujeitos sociais” podem conviver em sociedades complexas
(comunidades ligadas a instituições encompassadoras, por exemplo). Nesses casos, o “sair de
casa” assume um caráter “fora do comum”, o extraordinário?
Para os sistemas tradicionais, porém, esses sistemas onde o coletivo é mais importante que o
individual, o problema seria muito mais os estados de individualização, que o sistema não
consagra como normais ou rotineiros. (p. 46)
Associar com o problema da individualização em Simmel.
Ver mais detalhadamente conceito de “éticas dúplices” em Weber: códigos de interpretação e
norteamento da conduta que são opostos e valem apenas para certas pessoas, ações e
situações (p. 50).
O que estou tentando fazer aqui é justamente ampliar o quadro de referência de Weber, para
mostrar que tais “éticas” não se situam somente na esfera econômica, mas que são
DAMATTA, R. Espaço: casa, rua e outro mundo, o caso do Brasil. In A casa e a rua.
Guanabara, 1987.
contaminadoras de outras áreas da conduta social. E mais: que elas podem perfeitamente
conviver numa mesma sociedade, como julgo ser o caso do Brasil. (p. 51)
Seria o caso da esfera familiar? Existiriam diferentes “éticas” para a família “institucional” e
para outros tipos de “arranjos familiares”, como amigos ou parceiros?
Espaços, esferas de significação social – casam rua e outro mundo – que fazem mais do que
separar contextos e configurar atitudes. É que eles contêm visões de mundo ou éticas que são
particulares. (p. 51)
Crítica de DaMatta a Goffman e à ideia de “máscaras sociais” e de estratégias. A “rua”, ou o
“morar sozinho”, mesmo que futuramente, contém outra visão de mundo? O “morar sozinho”
pode ser associado à “rua”?
[...] temos dentro da própria casa uma rigorosa gramática de espaços e, naturalmente, de
ações e reações. (p. 55)
Há conflito entre a gramática “oficial” da casa dos pais e o que os entrevistados projetam como
a gramática desejável? Há dificuldade de formular uma gramática própria?
De fato, na rua pode-se admitir contradições que são próprias deste espaço. Mas na casa as
contradições devem ser banidas. (p. 60)
Rua associada a valores como os da individualização e da subversão.
O ponto crítico da identidade social no Brasil é, sem dúvida, o isolamento (e a
individualização), quando não há nenhuma possibilidade de definir alguém socialmente por
meio de sua relação com alguma coisa (pessoa, instituição ou objeto ou atividade). (p. 64)
Questionar essas ideias a partir de Simmel. O indivíduo homossexual enfrenta esse suposto
processo de “isolamento” e esse constitui um ponto crítico? Isso afeta a elaboração de seus
projetos, em particular elementos coletivos, como a casa (falta de referencial, como aponta
DaMatta)?
[...] possibilidade de “ler” a sociedade brasileira com seu extensivo sistema de rituais como
uma sociedade que se debate em torno de visões diferenciadas de si mesma. (p. 67)
Velho desloca essa constatação de categorias mais sociológicas para categorias mais
antropológicas, cujo foco recai sobre os indivíduos e as suas subjetividades: diferentes ethos e
visões de mundo de indivíduos ou de grupos sociais convivem, constituem e disputam, por meio
de sua elaboração discursiva, legitimidade em uma mesma sociedade.

Você também pode gostar