- Conceitos de inconsciente, transferência, identificação, complexo de Édipo e complexo de castração
servirão de base para uma análise da relação entre o saber psicanalítico e o contexto ensino-aprendizagem. - Pág. 53 (primeira e segunda tópicas) - Não é possível considerar o desenvolvimento adulto sem considerar o percurso histórico do desenvolvimento psicossocial, bem como o funcionamento psíquico inconsciente. - Sexualidade presente desde o início da vida, sendo presente nos mais distintos acontecimentos da vida do sujeito, evidenciando seu caráter cultural. - Libido se organiza em torno do corpo e cada momento específico do desenvolvimento (psicossexual) direciona-se a uma zona erógena particular (fases oral, anal e fálica, pág. 55 e 56). - Complexo de Édipo: - por meio da identificação, a criança elege seus primeiros objetos de amor (mãe e pai respectivamente), ou quem os represente; - intenso investimento afetivo; - intercâmbio familiar em que surgem sentimentos ambivalentes da criança em relação aos pais e vice-versa; - momento fundamental para a constituição psíquica. - Complexo de castração: - posiciona a criança de forma decisiva em relação à situação edípica; - a experiência inconsciente da castração inicia-se com a percepção, pela criança, de uma diferença sexual anatômica (ausência do pênis na figura feminina); - castração em meninos e meninas (pág. 57). - A criança sai da situação edípica graças à introjeção de leis de convivência social, da proibição do incesto, que a impedem de permanecer num investimento de amor em relação aos pais, levando-a a direcionar sua libido para fora da relação familiar (triangular). Graças ao superego, ocorre, psiquicamente, a censura a determinados desejos. - Fase da latência: - fase em que há a interrupção parcial ou total do desenvolvimento da atividade sexual infantil; - ocorre o deslocamento da energia libidinal para atividades de caráter não sexual (sublimação = processo cuja origem é sexual, mas o fim não o é). É quando brincadeiras, esportes, atividades intelectuais são promotores das mais variadas formas de aprendizagem e desempenham papel relevante na vida infantil. - Fim da latência é marcado pela puberdade. - Psicanálise e o contexto de ensino-aprendizagem - Freud acreditava ser possível à Psicanálise contribuir com a sociedade de um modo geral, incluindo a Educação. - Criticava a excessiva rigidez presente na educação moral da época, tinha esperança em uma educação menos repressora, na qual o ato de educar implicasse também a realidade do desejo. - Referencial de compreensão do ser humano que traz importantes contribuições teóricas para a área educacional e promove uma reflexão crítica em torno da prática pedagógica. - A educação não pode se limitar a um conjunto de prescrições, procedimentos, técnicas e de ações pedagógicas, pois entende o processo de ensino e aprendizagem como construído nas relações do ser com o meio, em um complexo contexto intersubjetivo. - A subjetividade do aprendiz, o papel do professor e a relação entre ambos são elementos essenciais. - Na escola atual, negligenciam-se os aspectos afetivos implicados na situação ensino-aprendizagem, tendo como foco a aprendizagem intelectual de aquisição de conteúdos, com ênfase no aluno, em seu comportamento, em vez de perceber também a importância da relação pedagógica. - A afetividade só é levada em consideração quando algo não é alcançado, quando a aprendizagem não ocorre. - Não se deve associar toda dificuldade de compreensão dos conhecimentos por parte dos alunos apenas com questões de ordem psicossocial. Também deve ser levado em consideração que a mudança na aprendizagem depende apenas da vontade do aluno, sem considerar que a situação pedagógica implica uma relação, e que o não-saber também traz uma realidade, uma sobredeterminação, que remete à esfera inconsciente. - A leitura psicanalítica do aprender não pode ser desvinculada da sua concepção de sujeito do inconsciente. - As dificuldades de aprendizagem devem ser compreendidas em uma totalidade que considere os aspectos cognitivos e a história desejante do sujeito. - A possibilidade de aprender não pode ser pensada apenas sob a perspectiva de um arranjo de condições externas ideais (métodos, técnicas etc), pois ela não está desconectada da compreensão de que existe uma subjetividade, uma história particular para cada sujeito em sua trajetória na construção de conhecimentos. - O aprender traz, assim como qualquer atividade humana, a marca de um sujeito permanentemente atravessado pela dimensão inconsciente. - Desejo de aprender - A aprendizagem ocorre graças ao desejo de aprender, que se constitui na relação com o outro. Há sentimentos direcionados ao professor pelo aluno em que figuram também desejos não conscientes. Nesta relação, podem surgir sentimentos que favorecem o processo de aprendizagem ou que são contrários ao mesmo. Pode-se dizer que a relação professor-aluno é marcada pela situação transferencial. - A transferência: - Refere-se à atualização, na pessoa do analista, de experiências afetivas ocorridas na vida do analisando. Não é um fenômeno exclusivo da clínica, podendo ocorrer em diversos contextos interpessoais, incluindo a situação pedagógica. - Na situação transferencial, o aluno revive inconscientemente sentimentos significativos experimentados no passado, na relação que trava com o professor. Para Freud, a relação com o professor mesclava simpatias e antipatias, crítica e respeito, tendo surgido, nesse intercâmbio, sentimentos contraditórios. Isso remonta ao início de nossas relações com pais, irmãos e irmãs nos primeiros anos da infância. - O lugar do mestre atualiza vivências no aluno com protótipos infantis e com lugares de autoridade, podendo surgir sentimentos amigáveis, de respeito, direcionados ao professor, bem como sentimentos hostis. Em ambas as situações o professor, que também está submetido às leis do inconsciente, pode também ter sentimentos perante o aluno e se colocar em uma posição que fuja ao seu papel de docente, colocando-se em uma relação de sedução (que suprirá o outro inteiramente com o conhecimento, ou de um autoritarismo extremo); seria uma situação de contratransferência, que pode acarretar problemas no processo ensino-aprendizagem. - Para que haja transferência, o professor precisa ser investido pelo aluno de uma importância, pois só é possível ensinar na medida em que houver transferência, ou seja, uma suposição de saber. É uma posição de saber/poder (imaginária) necessária a fim de que o interesse do aluno pelo conhecimento se efetive. O professor não deve abusar deste poder, devendo permitir que o conhecimento seja o motor que influenciará a aprendizagem. O aluno deve ter um lugar de escuta em sala de aula, que é o lugar de linguagem por excelência, devendo haver diálogo e respeito mútuo, no qual o professor entenda este aluno como sujeito de sua aprendizagem. - O desejo de aprender move o aluno em direção ao conhecimento, à busca constante de um saber. Esse caminho inclui uma história subjetiva, um passado implícito num momento presente, mas também uma atualidade, que é a relação com o professor.