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I.

Introdução: Abertura e Definição

SOCIALIZAÇÃO EDUCACIONAL

Definição de socialização

 “Integração social da criança durante o seu desenvolvimento, em que lhe são


fornecidos os meios de comunicação da linguagem e das séries de conhecimentos, e
em que ela é levada a adquirir regras de vida, hábitos, modos de pensamento, quadros
espácio-temporais, crenças e ideais conformes com o meio social em que é educada.”

 “Génese contínua, regulada, inscritível num continuum psicossocial em que intervêm


a família, a escola, mass media e meio ambiente, contribuindo cada um destes meios
para o processo de adequação recíproca pessoa/sociedade.”

A socialização educacional: A socialização como função do professor. Principais aspetos


dessa função

 Cada comunidade estabelece a escola como um sistema para educar as novas


gerações numa série de conhecimentos académicos e competências e para socializar
as suas atitudes, crenças e comportamento.
o Difere de acordo com as religiões adotadas e com as ideologias políticas.

 Curriculum formal e curriculum oculto – suscetível de refletir os valores da Nação, da


região, da comunidade local, e até os seus próprios valores, enquanto indivíduos.

 Para além de instruir, de conduzir a turma e de intervir disciplinarmente, o professor


detém uma função socializadora.
o “As ações tomadas com a intenção de influenciar as atitudes, crenças,
expetativas ou comportamentos dos alunos no que se refere a aspetos
pessoais e sociais incluindo os morais e políticos”.
o Ações levadas a cabo com a turma inteira – articulação de ideias e
comunicação de expetativas, bem como a modelação, ensino e reforço de
comportamentos e atributos pessoais desejáveis.
o Ações socializadores levadas a cabo com os alunos considerados
individualmente – conselhos, a modificação do comportamento ou trabalho
reparador com aqueles que mostrem um ajustamento pessoal ou social pobre.

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o Ações guiadas pela preocupação de desenvolver nos alunos qualidades
positivas de autoafirmação e não por preocupações de os constranger à
conformidade das exigências através das ameaças e sanções.

 Os professores devem agir apenas como especialistas de um determinado ramo dos


conteúdos, preocupando-se apenas com a instrução dos alunos no âmbito dos
programas formais de ensino ou a instrução dos alunos constitui apenas uma das
funções do professor, devendo este agir também como substituo paterno, socializador
e até como psicoterapeuta dos seus alunos?
o O suporte emocional e a assistência por parte dos professores ajuda os alunos
não só na perspetiva da sua sanidade mental, mas também na perspetiva da
realização académica;
o A ajuda de um professor que consegue fornecer um certo apoio, constitui,
muitas vezes a única ajuda por parte de um adulto ao alcance de
determinados alunos;
o Os professores detêm um conhecimento único acerca dos seus alunos, ao qual
não têm acesso nem os pais, nem os terapeutas e dispõem ainda de
oportunidades únicas de proceder a sua socialização.

 A função socializadora é sempre secundária. Os professores não podem envolver-se


em ações que de alguma forma possam pôr em causa a sua figura de autoridade na
turma, nem poderão intervir de forma sistemática nos problemas individuais, de
maneira e envolver custos para a turma como um todo.

 Base conceptual coerente, suscetível de informar a própria formação dos professores


quantos as estratégias de socialização dos alunos (literatura):
o Educação infantil e orientações e comportamentos parentais relacionados
com o desenvolvimento de traços pessoais e sociais desejáveis nas crianças;
o Ensino através da modelação e atributos dos modelos que são admirados e
imitados pelos outros;
o Expectação e efeitos da etiquetagem social, particularmente no que se refere
ao desenvolvimento de atributos pessoais e sociais desejáveis;
o Modificação do comportamento e estratégia cognitiva de treino, com a sua
ênfase nos mecanismos de autocontrolo e auto-orientação nos alunos;
o Sugestões de psicólogos clínicos que adaptam as ideias usadas no contexto
terapêutico ao uso na sala de aula.

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 Elementos chave para uma abordagem sistemática da socialização na turma como um
todo:
o Modelação;
o Comunicação de expetativas e atributos positivos aos alunos;
o Reforço do comportamento desejável.

 O papel do professor é, para todos os efeitos, um papel de autoridade na turma. O


professor não pode esquecê-lo, e ao mesmo tempo deve evitar assumi-lo de forma
autoritária ou, pelo contrário, de forma laissez-faire.

O CONCEITO DE CONTRATO PSICOLÓGICO

 O encontro inicial entre professores e alunos revela uma interação exploratória que
implica alunos e professores e através da qual sobressai um complexo de relações e
interações mais ou menos permanente, que se repete e é suscetível de ser previsto.

 Existem duas fases na relação dos alunos com os novos professores:


o Os alunos fazem observações para obter um conjunto de hipóteses sobre o
género de professor com o qual se defrontam;
o Os alunos põem as suas hipóteses à prova, utilizando os resultados dessas
experiências para orientar as suas futuras atitudes e comportamentos.

 O contrato psicológico – formado implicitamente entre o indivíduo e os grupos de


que faz, ou passa a fazer parte – joga com as expetativas do grupo acerca do
indivíduo e com as possíveis contribuições deste para as satisfazer, assim como
também joga com as expetativas do indivíduo acerca do grupo e com as possíveis
contribuições deste para as satisfazer. Este contrato assemelha-se a um contrato legal,
na medida em que defina uma relação dinâmica e variável que é continuamente
renegociada.

 O efeito das profecias de autorrealização – a variável crítica é a expetativa do


professor: expetativas altas andam associadas com o êxito na aprendizagem.

 A investigação tem demonstrado a importância da experiência inicial no desempenho


futuro, o que não quer dizer que a experiência posterior não tenha nenhum ou pouco
impacto.

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 Quando se entra numa turma pela primeira vez, geralmente o sentido de orientação é
unilateral – a comunicação na escola circula do professor para o aluno.
o Um efeito deste processo unilateral é causar no novo aluno um sentimento de
que a escola é muito mais poderosa que ele como indivíduo, o que cria um
situação na qual o novo aluno, quando interrogado acerca das suas
expetativas, tenta adivinhar as expetativas da organização;
o Outro efeito consiste na tendência da organização para socializar
excessivamente os novos membros.

 A decisão de se juntar
o Não voluntariamente – quando existe esta condição, a organização muitas
ve4zes age com firmeza controlando o processo de socialização e o contrato
psicológico torna-se extremamente estruturado e limitador no sentido de que
o comportamento legítimo por parte dos membros da organização é
claramente pré-determinado;
o Voluntariamente – verifica-se que os fatores que levam a pessoa a tomar a
decisão de se juntar não estão relacionados com metas mais elevadas a longo
prazo que possa ter.

 A decisão de participar – acontece após o indivíduo ter decidido juntar-se


(voluntariamente ou não) sendo levado a agir de uma determinada maneira no seio do
grupo ou organização, no dia a dia.
o No caso da escola, os alunos sentam-se passivamente na sala de aula, sem se
envolverem no seu trabalho de aprendizagem. As suas expetativas acerca da
aprendizagem, envolvimento e estímulo não se concretizam, em grande
medida porque nunca foram tornadas explícitas. Os alunos estão muito mais
habituados a que o professor assuma toda a responsabilidade.
o As expetativas são mais facilmente satisfeitas quando um conjunto de metas
concretas e realistas podem ser desenvolvidas.

O QUE É PSICOLOGIA SOCIAL?

A psicologia social é o estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam e se


relacionam umas com as outras.

 Situa-se na fronteira da psicologia com a sociologia.

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o Comparada com a sociologia (o estudo das pessoas em grupos e sociedades),
a psicologia social focaliza mais nos indivíduos e usa mais experimentação;
o Comparada com a psicologia da personalidade, a psicologia social focaliza
menos nas diferenças individuais e mais em como os indivíduos, em geral, se
veem e se influenciam uns aos outros.

 É uma ciência jovem.


o 1898 – Primeiros experimentos nesta área;
o 1900 – Primeiros textos de psicologia social;
o Somente a partir da década de 1930 é que assumiu a sua forma atual, e
apenas a partir da Segunda Guerra Mundial começou a emergir como o
campo de vulto que é hoje.

 Os psicólogos sociais estudam atitudes e crenças, conformidade e independência,


amor e ódio.
o Quanto do nosso mundo social está só nas nossas cabeças? As pessoas
seriam cruéis se assim ordenássemos? Ajudar ou servir-se?

GRANDES IDEIAS DA PSICOLOGIA SOCIAL

Construímos a nossa realidade social

 Os humanos têm um irresistível desejo de explicar o comportamento, atribuí-lo a


alguma causa e, assim, fazê-lo parecer organizado, previsível e controlável. Podemos
reagir de maneira diferente a situações semelhantes porque pensamos de maneira
diferente.
 A realidade é objetiva, mas enxergamo-la sempre pelas lentes das nossas crenças e
dos nossos valores.
 Somos “cientistas intuitivos”. Explicamos o comportamento das pessoas, geralmente
com rapidez e precisão para atender às nossas necessidades diárias. Quando o
comportamento de alguém é coerente e distintivo, atribuímos aquele comportamento
à sua personalidade.
 As nossas crenças a nosso próprio respeito também importam.

As nossas intuições sociais são frequentemente poderosas, mas às vezes perigosas

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 As intuições instantâneas moldam os nossos medos, as impressões e os
relacionamentos.

 O pensamento, a memória e as atitudes operam em dois níveis – um consciente e


deliberado, o outro inconsciente e automático (processamento dual).

 A cognição social importa. O nosso comportamento é influenciado não apenas pela


situação objetiva, mas também pelo nosso modo de a interpretar.

 Mesmo as intuições sobre nós mesmos com frequência são falhas. Intuitivamente
confiamos nas nossas memórias mais do que deveríamos. Interpretamos
erroneamente as nossas próprias mentes; em experimentos, negamos a influência de
coisas que de facto nos influenciam. Prevemos erroneamente os nossos próprios
sentimentos.

 As intuições sociais são dignas de nota tanto pelos seus poderes como pelos seus
perigos. Os psicólogos sociais procuram fortalecer o nosso pensamento. Na maioria
das situações, juízos fáceis, “rápidos e simples” são suficientes. Mas em outras,
quando a precisão importa é melhor restringirmos as nossas intuições impulsivas com
pensamento crítico.

Influências sociais moldam o nosso comportamento

 Somos “animais sociais”. Falamos e pensamos com palavras que aprendemos com os
outros. Ansiamos conectar-nos, pertencer e ser estimados. Os relacionamentos
representam uma parte considerável do ser humano.

 Como seres sociais, respondemos aos nossos contextos imediatos. Às vezes, a foça de
uma situação social leva-nos a agir de modo contrário às nossas posições expressas
em palavras.
 A nossa cultura também ajuda a definir as nossas situações (e.g, os nossos padrões
sobre prontidão, franqueza e vestuário variam conforme a cultura).
o Preferir um corpo esbelto ou voluptuoso depende de quando e onde vivemos
no mundo;

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o Definir justiça social como igualdade ou como equidade, depende de a
ideologia ter sido mais moldada pelo socialismo ou pelo capitalismo;
o Tender a ser expressivo ou reservado, causal ou formal, depende em parte da
cultura e da etnia;
o Focar-se principalmente em si mesmo – nas suas necessidades pessoais,
desejos e moralidade – ou na família, no clã e em grupos comunitários
depende do quanto somos produto do individualismo ocidental moderno.

 “As pessoas são, acima de tudo, maleáveis.” Por outras palavras, adaptamo-nos ao
nosso contexto social. As nossas atitudes e os comportamentos são moldados por
forças sociais externas.

Atitudes e disposições pessoais também moldam o nosso comportamento

 As nossas atitudes internas afetam o nosso comportamento, o que nos leva a acreditar
fortemente nas coisas com as quais nos comprometemos ou pelas quais sofremos.

 Disposições da personalidade também afetam o comportamento. Diante da mesma


situação, pessoas diferentes podem reagir de uma maneira diferente.

O comportamento social é biologicamente enraizado

 A natureza (inata) e a experiência (adquirida) formam, juntas, quem somos. A nossa


natureza humana predispõe-nos a comportarmo-nos de modos que ajudaram os
nossos ancestrais a sobreviverem e a se reproduzirem. Assim, os psicólogos
evolucionistas indagam como a seleção natural poderia predispor as nossas ações e
reações ao namorar e acasalar, odiar e magoar, cuidar e compartilhar. A natureza
também nos dota de uma enorme capacidade de aprender e se adaptar a ambientes
variados. Somos sensíveis e responsivos ao nosso contexto social.

 Neurociência social – que áreas cerebrais permitem as nossas experiências de amor e


desprezo, ajuda e agressão, perceção e doença?

 Para compreender o comportamento social, devemos considerar tanto as influências


sob a pele (biológicas) como aquelas entre as peles (sociais). A mente e o corpo são

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um grande sistema. Somos organismos biopsicossociais – interação das influências
biológicas, psicológicas e sociais.

Os princípios da psicologia social são aplicáveis à vida cotidiana

 Os princípios do pensamento social, da influência social e das relações sociais têm


implicações para a saúde e o bem-estar humanos, para procedimentos judiciais e
decisões de jurados em salas de audiência e para influenciar comportamentos que
permitirão um futuro ambientalmente sustentável.

 A psicologia social oferece-nos um método para formular e responder algumas


questões muito interessantes e importantes. A psicologia social trata da vida – as suas
crenças, as suas atitudes, os seus relacionamentos.

PSICOLOGIA SOCIAL E VALORES HUMANOS

Quando os valores influenciam a psicologia

 Os valores ganham importância quando os psicólogos selecionam temas para a


pesquisa. A psicologia social reflete a história social.

 Os valores diferem não apenas ao longo do tempo, mas também entre as culturas (e.g,
a Europa deu-nos uma teoria importante da “identidade social”, ao passo que os
psicólogos sociais norte-americanos focaram mais nos indivíduos – como uma pessoa
pensa sobre as outras, é influenciadas por elas e se relaciona com elas).

 Os valores também influenciam os tipos de pessoas que são atraídas às diversas


disciplinas.

 Os valores têm importância como objeto da análise sociopsicológica. Os psicólogos


sociais investigam como se formam os valores, porque mudam e como influenciam
atitudes e ações. Contudo, nada disso nos diz quais estão “certos”.

Quando os valores influenciam a psicologia sem que percebamos

Aspetos subjetivos da ciência

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 A ciência não é totalmente objetiva. Os cientistas interpretam a natureza, usando as
suas próprias categorias mentais. Nas nossas vidas diárias, também vemos o mundo
através das lentes das nossas pressuposições.

 A tendência a prejulgar a realidade com base nas nossas expetativas é um facto básico
da mente humana.

 Uma vez que os estudiosos em qualquer área científica muitas vezes compartilham de
um ponto de vista comum ou são provenientes da mesma cultura, as suas
pressuposições podem não ser questionadas. O que tomamos por garantido – as
crenças compartilhadas que alguns psicólogos sociais europeus chamam de
representações sociais – são com frequência as nossas convicções mais importantes,
porém menos investigadas.

Conceitos psicológicos contêm valores ocultos

 A compreensão de que os próprios valores dos psicólogos podem desempenhar um


papel importante nas teorias e nos juízos que eles apoiam está implícita no nosso
entendimento de que a psicologia não é objetiva. Os psicólogos podem falar com se
estivessem a afirmar factos, quando o que estão de facto a fazer é juízos de valor.
o Definindo a vida boa – os valores influenciam a nossa ideia da melhor forma
de viver as nossas vidas;
o Aconselhamento profissional – também reflete os valores pessoais do
conselheiro (e.g., nas culturas ocidentais, esses valores geralmente são
individualistas – incentivando o que é melhor “para mim”, ao passo que as
culturas não ocidentais encorajam com mais frequência o que é melhor “para
nós”);
o Formando conceitos – os valores ocultos infiltram-se até nos conceitos da
psicologia baseados em pesquisa. O rótulo reflete o juízo.
 Rotulação – os juízos de valor estão muitas vezes ocultos na
linguagem sociopsicológica, mas também na linguagem cotidiana.

 A questão nunca é que os valores implícitos são necessariamente ruins. A questão é


que a interpretação científica, mesmo ao nível dos fenómenos de rotulação, é uma

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atividade humana. Portanto, é natural e inevitável que as crenças e os valores prévios
influenciem o que os psicólogos sociais pensam e escrevem.

Devemos desconsiderar a ciência porque ela tem um lado subjetivo?

A compreensão de que o pensamento humano envolve interpretação é precisamente a razão


pela qual necessitamos de pesquisadores com vieses diferentes para realizar a análise
científica. A observação e a experimentação sistemáticas ajudam-nos a limpar as lentes
através das quais vemos a realidade.

A PSICOLOGIA SOCIAL É SIMPLESMENTE SENSO COMUM?

 A psicologia social enfrenta duas críticas contraditórias: primeiro, que ela é trivial
porque documenta o óbvio; segundo, que ela é perigosa porque as suas descobertas
poderiam ser usadas para manipular as pessoas.

 Um problema com o senso comum é que o invocamos depois de conhecer os factos.


Os eventos são muito mais “óbvios” e previsíveis em retrospetiva do que de antemão.
Experimentos revelam que quando as pessoas são informadas sobre o resultado de um
experimento, aquele resultado de súbito parece não ser surpreendente – certamente
menos surpreendente do que o é para pessoas às quais apenas se relata o
procedimento experimental e os possíveis resultados.
 Viés de retrospetiva – a tendência a exagerar, depois de saber de um desfecho, a
nossa capacidade de ter previsto como algo aconteceria.
o O viés de retrospetiva muitas vezes torna as pessoas excessivamente
confiantes sobre a validade do seus juízos e previsões.

 O ponto não é que o senso comum está previsivelmente errado, mas que o senso
comum em geral está certo – depois dos factos. Portanto, nós facilmente nos
ludibriamos a pensar que sabemos e sabíamos mais do que de facto sabemos e
sabíamos. E é exatamente por isso que precisamos da ciência para nos ajudar a
separar a realidade da ilusão e as previsões genuínas da retrospetiva fácil.

II. Cognição Social

A avaliação de uma situação social exige a consideração de processos cognitivos, a formação


de conceitos e ainda as nossas capacidades sensoriais e percetivas. No âmbito da psicologia

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social, usa-se o conhecimento disponível sobre estes processos básicos para compreender a
cognição social, isto é, a forma como as pessoas dão atenção, percebem, interpretam e
respondem à informação social.

ESQUEMAS E COGNIÇÃO SOCIAL

 É habitual formarmos impressões acerca de todas as pessoas com as quais nos


cruzamos. Como se formam essas impressões é uma das questões às quais pretende
responder a psicologia social.
o A formação de impressões acerca dos outros obedece a um processo bastante
mais complexo do que a simples soma aritmética de caraterísticas que
habitualmente usamos para descrever os outros.

 Conceito de esquema – oriundo da psicologia cognitiva, podemos definir como “o


quadro mental ou corpo de conhecimento que organiza, e sintetiza a informação
acerca de uma pessoa, lugar ou coisa”.

 Ao descrevermos uma pessoa, apresentamos seguramente uma lista de caraterísticas


gerais – traços que nos podem parecer representativos da personalidade dessa pessoa.
o Traços centrais – caraterísticas que parecem ser mais representativas; são
estas caraterísticas específicas que nos permitem distinguir uns indivíduos
dos outros; os traços centrais resumem e sintetizam toda a informação que
obtivemos sobre as outras pessoas ao interagirmos com elas.

 Efeito de primazia – tendência forte que consiste em formar uma impressão sobre
outra pessoa com base na informação inicial que aprendemos sobre ela.

AUTOCONCEITO E COGNIÇÃO SOCIAL

 Autoconceito – conhecimentos, sentimentos e ideias sobre nós próprios.

 Self – individualidade que distingue uma pessoa.

 Self-schema – quadro mental que representa e sintetiza a informação sobre cada um,
a estrutura cognitiva que organiza o conhecimento, sentimentos e ideias que
constituem o autoconceito.

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 O autoconceito é dinâmico (working self-concept), uma vez que muda à medida que
nos envolvemos em novas experiências ou recebemos feedback acerca do nosso
comportamento. Como resultado cada um de nós tem muitos selves potenciais, cuja
efetivação depende da experiência.

 Aquilo que pensamos sobre nós próprios no presentes, não equivale aquilo em que
nos tornaremos no futuro.

 A cultura desempenha um papel importante na formação do autoconceito, na


perceção que fazemos dos outros e na forma como os outros influenciam o
desenvolvimento do nosso autoconceito (e.g., a cultura ocidental muitas vezes
enfatiza a qualidade de ser único inerente ao indivíduo, e a diferença relativamente ao
outro, enquanto que a cultura oriental, tem tendência a enfatizar a atenção a dar e a
ligação do indivíduo aos outros.

 Dois construtos sobre o self que refletem as diferenças culturais encontradas:


o Self independente – enfatiza a natureza única do self, a sua autonomia face
aos outros e a sua autoconfiança;
o Self interdependente – enfatiza a interconexão entre as pessoas e o papel que
os outros desempenham no desenvolvimento do autoconceito.

HOLOFOTES E ILUSÕES

 Efeito holofote – a crença de que os outros estão a prestar mais atenção na nossa
aparência e comportamento do que realmente estão.
 Ilusão de transparência – a ilusão de que as nossas emoções escondidas transparecem
e podem ser facilmente identificadas pelos outros.
 O efeito holofote e a ilusão de transparência são apenas dois dos muitos exemplos da
interação entre o nosso self e os nossos mundos sociais.
o O ambiente social afeta a nossa autoconsciência;
o O interesse próprio tinge o nosso juízo social;
o Os relacionamentos sociais ajudam a definir o nosso self.

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 As nossas ideias e sentimentos a nosso respeito afetam como respondemos aos outros,
e os outros ajudam a moldar o nosso self.
 O nosso senso de identidade permite-nos lembrar o nosso passado, avaliar o nosso
presente e projetar o nosso futuro – e assim comportarmo-nos adaptativamente.
 Grande parte do nosso comportamento não é controlado conscientemente, sendo
automático e não autoconsciente. Contudo, o self permite o planeamento a longo
prazo, o estabelecimento de metas e moderação. Ele imagina alternativas, compara-se
com outros e administra a sua reputação e os seus relacionamentos. Além disso, o self
pode ser um empecilho para um vida gratificante.

AUTOCONCEITO: QUEM SOU EU?

No centro dos nossos mundos: nosso self

 Os neurocientistas estão a explorar a atividade cerebral que subjaz o nosso constante


senso de sermos nós mesmos. Alguns estudos sugerem um papel importante para o
hemisfério direito. O córtex pré-frontal medial, uma rota neuronal localizada na fenda
entre os hemisférios cerebrais, parece ajudar a costurar o nosso senso de identidade.

 Autoesquema – crenças sobre si mesmo que organizam e guiam o processamento de


informações relacionadas ao self.
o Os esquemas são modelos mentais pelos quais organizamos os nossos
mundos e que afetam poderosamente o nosso modo de perceber, recordar e
avaliar as outras pessoas e nós mesmo.
o Os autoesquemas que constituem os nossos autoconceitos ajudam-nos a
organizar e recordar as nossas experiências.

Selves possíveis

 Os selves possíveis incluem as nossas visões de quem sonhamos tornar-nos e


também o que tememos tornar-nos. Esses selves possíveis motivam-nos com uma
visão da vida pela qual ansiamos.

Desenvolvimento do self social

 O autoconceito tornou-se um foco psicossocial importante porque ajuda a organizar o


nosso pensamento e guiar o nosso comportamento social.

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o Papéis que desempenhamos;
o Identidades sociais que formamos;
o Comparações que fazemos com os outros;
o Nossos êxitos e fracassos;
o Como outras pessoas nos julgam;
o Cultura circundante.

Papéis que desempenhamos

 Quando representamos um novo papel, inicialmente sentimo-nos autoconsciente.


Gradativamente, contudo, o que começa como uma atuação no teatro da vida é
absorvido no nosso self. O desempenho de papéis torna-se realidade.

Comparações sociais

 Comparação social – avaliar as próprias capacidades e opiniões comparando-se com


os outros.

 As comparações sociais podem aumentar ou diminuir a nossa satisfação. Quando


experimentamos um aumento de determinadas caraterísticas, elevamos os padrões
pelos quais avaliamos as nossas realizações. Ao enfrentar concorrência, com
frequência protegemos o nosso instável autoconceito percebendo o competidor como
favorecido.

Sucesso e fracasso

 O autoconceito não é alimentado somente pelos nossos papéis, a nossa identidade


social e as nossas comparações, mas também pelas nossas experiências diárias.

 O princípio de que o sucesso alimenta a autoestima levou à conclusão de que a


autoestima não provém somente de dizer às crianças o quão admiráveis elas são, mas
também de realizações obtidas com esforço. Os sentimentos seguem a realidade.

 Problemas e fracassos podem causar baixa autoestima.

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Juízo de outras pessoas

 Self do espelho – usamos o que achamos que os outros pensam de nós como um
espelho para nos percebermos a nós mesmos.
o O que importa para os nossos autoconceitos não é como os outros realmente
nos veem, mas o modo como imaginamos que eles nos vejam. Considerando
que as pessoas se sentem mais livres para expressar os elogios, podemos
concluir que superestimamos a avaliação dos outros, inflando as nossas
autoimagens.
 A auto inflação está visivelmente mais presente nos países
ocidentais.

 O destino dos nossos antepassados dependia do que os outros pensavam deles. Como
seus herdeiros, tendo uma necessidade arraigada de pertencer, sentimos a dor da
baixa autoestima quando enfrentamos exclusão social. A autoestima é uma medida
psicológica pela qual monitoramos e reagimos a como os outros nos avaliam.

Self e cultura

 Individualismo – o conceito de dar prioridade aos seus próprios objetivos e não aos
objetivos do grupo e definir a sua identidade em termos de atributos pessoais mais do
que de identificações de grupo.
o Self pessoal independente.
o A psicologia das culturas ocidentais presume que a vida será enriquecida
acreditando no seu poder de controlo pessoal – indivíduo autossuficiente.
o O individualismo floresce quando as pessoas experimentam riqueza,
mobilidade, urbanismo e comunicação de massa.

 Coletivismo – dar prioridade às metas dos grupos (com frequência a nossa família
extensa ou o grupo de trabalho) e definir a nossa identidade de acordo.
o Self interdependente – interpretar a nossa identidade em relação aos outros.
o A maioria das culturas nativas da Ásia, da África e das Américas Central e do
Sul dão maior valor ao coletivismo.

 Em qualquer cultura, o individualismo varia de uma pessoa para outra, assim como
também varia entre as regiões e conceções políticas do país.

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Individualismo crescente

 As culturas também podem mudar no decorrer do tempo, e muitas parecem estar a


tornar-se mais individualistas (e.g., a escolha de um nome para um filho).

Cultura e cognição

 O coletivismo também resulta em modos diferentes de pensar.

 Com um self interdependente, as pessoas têm um maior senso de pertencimento e


estão embutidas em afiliações sociais. A conversa é menos direta e mais polida e as
pessoas concentram-se mais na obtenção de aprovação social. A meta da vida social é
harmonizar-se e apoiar a nossa comunidade, e não – como acontece nas sociedades
mais individualistas – realçar a nossa identidade individual.
 Mesmo dentro de uma cultura, a história pessoal pode influenciar a visão de si
mesmo. Os nossos autoconceitos parecem adaptar-se à nossa situação.

Cultura e autoestima

 A autoestima nas culturas coletivistas correlaciona-se de perto com “o que os outros


pensam de mim e do meu grupo”. O autoconceito é mais maleável (específico ao
contexto) do que estável (duradouro entre situações).

 Para os que vivem em culturas individualistas, a autoestima é mais pessoal e menos


relacional.

 O conflito nas culturas coletivistas com frequência ocorre entre grupos; culturas
individualistas geram mais conflito (e crimes e divórcios) entre indivíduos.

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Autoconhecimento

Até que ponto realmente nos conhecemos?

Explicando o nosso comportamento

 Indagados sobre porque nos sentimos ou agimos da forma como fizemos, produzimos
respostas plausíveis. Contudo, quando as causas são sutis, as nossas autoexplicações
muitas vezes estão erradas. Podemos desconsiderar fatores que importam e exagerar
outros que não importam.

 Somos notavelmente maus previsores do que nos vai fazer feliz.

Prevendo o nosso comportamento

 As pessoas também erram quando preveem o seu comportamento.


 Falácia do planeamento – a tendência de subestimar quanto tempo vai levar para
completar uma tarefa.

 A melhor forma de aprimorar as autoprevisões é ser mais realista sobre quanto tempo
as tarefas levaram no passado. Ao que parece, as pessoas subestimam quanto tempo
alguma coisa vai levar porque se lembram erroneamente do tempo que levaram para
concluir tarefas anteriores.

Prevendo os nossos sentimentos

 Estudos de “previsão afetiva” revelam que as pessoas têm maior dificuldade para
prever a intensidade e a duração das suas futuras emoções.

 Viés de impacto – superestimar o impacto duradouro de eventos causadores de


emoção.
o Somos especialmente propensos ao viés de impacto após eventos negativos.
o O viés de impacto é importante porque as “previsões afetivas” das pessoas –
as suas previsões das suas futuras emoções – influenciam as suas decisões.

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 Negligência da imunidade – a tendência humana de subestimar a rapidez e a força do
“sistema imune psicológico”, o qual permite a recuperação e a resiliência emocional
despois que as coisas ruins acontecem.
o Eventos negativos importantes (que ativam as nossas defesas psicológicas)
podem ser menos aflitivos do que irritações menores (que não ativam essas
defesas). Somos, na maioria das circunstâncias, incrivelmente resilientes.

Sabedora e ilusões da autoanálise

 As nossas intuições muitas vezes estão totalmente erradas em relação ao que nos
influenciou e ao que iremos sentir e fazer. Quando as causas do comportamento são
conspícuas e a explicação correta se encaixa com a nossa intuição, as nossas
autoperceções são precisas.

 Estudos da perceção e da memória mostram que temos mais consciência dos


resultados do nosso pensamento do que do seu processo.

 Os processos mentais que controlam o nosso comportamento social são diferentes dos
processos mentais pelos quais explicamos o nosso comportamento. As nossas
explicação racionais pode, portanto, omitir as atitudes inconscientes que realmente
guiam o nosso comportamento.

 Atitudes duas – atitudes implícitas (automáticas) e explícitas (conscientemente


controladas) diferentes ante o mesmo objeto. As atitudes explícitas verbalizadas
podem mudar com educação e persuasão; atitudes implícitas mudam lentamente, com
prática que forma novos hábitos.

 A pesquisa sobre os limites do nosso autoconhecimento tem duas implicações


práticas:
o Autorrelatos com frequência não são confiáveis. Erros na autocompreensão
limitam a utilidade científica de descrições pessoais subjetivas;
o A sinceridade com que as pessoas relatam e interpretam as suas experiências
não é garantia da validade desses relatos.

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Autoestima

 Autoestima – autoavaliação global ou senso de valor próprio de uma pessoa.

 É a autoestima a soma de todos os nossos autoesquemas e selves possíveis? Sim,


quando nos sentimos bem a respeito dos domínios importantes para a nossa
autoestima.
 Pessoas que se valorizam de um modo geral – as que possuem alta autoestima – são
mais propensas a valorizar a sua aparência, as suas habilidades e assim por diante.
 Autoperceções específicas têm realmente alguma influência. Se queremos encorajar
alguém, é melhor se o elogio for específico do que geral e se as palavras gentis
refletirem real capacidade e desempenho em vez de um otimismo irrealista. O retorno
é melhor quando é verdadeiro e específico.

Motivação da autoestima

 O subjaz a motivação para manter ou aumentar a autoestima? Os relacionamentos


permitem sobreviver e prosperar. Assim, o medidor de autoestima alerta-nos para
uma ameaça de rejeição social, motivando-nos a agir com maior sensibilidade às
expetativas dos outros. Estudos confirmam que a rejeição social diminui a nossa
autoestima e nos trona mais ávidos por aprovação. Desprezados ou largados, sentimo-
nos pouco atraentes ou inadequados. Como uma luz a piscar num painel, essa dor
pode nos motivar à ação – autoaperfeiçoamento e busca de aceitação e inclusão
noutro lugar.

 Se a autoestima dependesse apenas de aceitação, porque é que “as pessoas se


esforçam para serem grandes e não apenas para serem aceites?”. A realidade da nossa
própria morte, motiva-nos a obter reconhecimento do nosso trabalho e valores. Para
sentir que as nossas vidas não são triviais, precisamos continuamente de perseguir a
autoestima satisfazendo os padrões da nossa sociedade.

O “lado escuro” da autoestima

 Pessoas com baixa autoestima frequentemente têm problemas na vida – ganham


menos dinheiro, abusam de drogas e são mais propensas à depressão. Contudo, uma
correlação entre duas variáveis às vezes é causada por um terceiro fator.

19
 Uma boa autoestima certamente tem alguns benefícios – promove a iniciativa, a
resiliência e os sentimentos agradáveis.

Narcisismo: o irmão convencido da autoestima

 A alta autoestima torna-se especialmente problemática caso se transponha para o


narcisismo ou para uma consideração enfatuada de si mesmo. Os narcisistas
geralmente possuem alta autoestima, mas carecem da parte de se importar com os
outros.

 Alguns estudos constataram pequenas correlações entre baixa autoestima e


comportamento antissocial, mesmo quando o QI e a renda familiar foram tidos em
conta.

Narcisismo em ascensão

 Depois de rastrear a autoimportância durante as últimas décadas, a psicóloga Jean


Twenge relata que os jovens da atual geração expressam mais narcisismo. A
concordância com itens narcisistas correlaciona-se com o materialismo, o desejo de
ser famoso, as expetativas exageradas, menos relacionamentos sérios e mais sexo
casual, mais jogos de apostas e mais traição, todos os quais aumentaram com o
aumento do narcisismo.

 Outro conjunto de dados sobre o narcisismo mostrou a influência do tempo e da etnia.

Autoestima baixa versus segura

 Os achados que ligam um autoconceito altamente positivo a um comportamento


negativo existem em tensão com os achados de que as pessoas com baixa autoestima
são mais vulneráveis a diversos problemas clínicos, incluindo ansiedade, solidão e
transtornos de alimentação.
 A autoestima segura – mais enraizada em sentir-se bem por se ser quem é do que no
desempenho académico, no dinheiro ou na aprovação dos outros – é conducente ao
bem-estar a longo prazo. Aqueles cuja autoestima era mais frágil – mais dependente
fontes externas – experimentaram mais stress, raiva, problemas de relacionamento,

20
uso de drogas e álcool e transtornos da alimentação do que aqueles cujo senso de
valor próprio estava mais enraizado em fontes internas, tais como virtudes pessoais.

 Se nos sentirmos bem a nosso próprio respeito é o nosso objetivo, então podemos
tornar-nos menos abertos a críticas, mais propensos a culpar do que nos identificar
com os outros e mais pressionados a ter êxito em atividades do que em desfrutá-las.
No decorrer do tempo, essa perseguição de autoestima pode não conseguir satisfazer
as nossas profundas necessidades de competência, relacionamento e autonomia. Focar
menos na nossa autoimagem e mais no desenvolvimento dos nossos talentos e
relacionamentos leva por fim a um maior bem-estar.

Autocontrole percebido
 O autocontrole que requer esforço esgota as nossas reservas de força de vontade
limitada. Portanto, opera de modo semelhante à força muscular: ambos são mais
fracos após o esforço, reabastecidos com repouso e fortalecidos pelo exercício.
 Embora a energia do self possa esgotar-se temporariamente, os nossos autoconceitos
influenciam o nosso comportamento (e.g., perante tarefas desafiadoras, as pessoas
que se imaginam trabalhadoras e bem-sucedidas superam o desempenho daquelas que
se imaginam fracassadas).

Autoeficácia

 A autoeficácia corresponde ao senso de que somos competentes e eficazes,


distinguido da autoestima, que é o nosso senso de valor próprio (e.g, um bombardeiro
poderia sentir alta autoeficácia e baixa autoestima).
 O psicólogo Albert Bandura captou o poder do pensamento positivo na sua pesquisa e
teorização sobre a autoeficácia (o quanto nos sentimos competentes numa tarefa).
Crianças e adultos com fortes sentimentos de autoeficácia são mais persistentes,
menos ansiosas e menos deprimidas. Para além disso, vivem de forma mais saudável
e são academicamente mais bem sucedidas.
 Na via quotidiana, a autoeficácia leva-nos a fixar metas desafiadoras e a persistir.
Competência mais persistência é igual a realização, e com a realização, cresce a
autoconfiança. Assim como a autoestima, a autoeficácia cresce com realizações
adquiridas com esforço.
 Manipulações sutis da autoeficácia podem afetar o comportamento.

21
 Muitas pessoas confundem autoeficácia com autoestima. Um estudo mostrou que o
retorno de autoeficácia (e.g., esforçaste-te muito) acarretou melhor desempenho do
que retorno de autoestima (e.g., és realmente esperto).

Locus de controle

 Locus de controle: o grau em que as pessoas percebem os seus resultados como


internamente controláveis por seus próprios esforços ou como externamente
controlados pelo acaso ou por forças externas.
 A quantidade de controle que sentimos está relacionada com o nosso modo de
explicar contratempos.
 Contudo, algumas pessoas levaram essas ideias muito longe. Evidentemente, existem
limites para o poder do pensamento positivo.

Desamparo aprendido versus autodeterminação

 Desamparo aprendido: o senso de desesperança e resignação adquirido quando um ser


humano ou um animal percebe que não tem controle sobre maus eventos repetidos.
 O pesquisador Martin Seligman observou semelhanças de desamparo aprendido com
animais em situações humanas. Pessoas deprimidas ou oprimidas, por exemplo, se
tornam passivas porque acreditam que os seus esforços não têm efeito. Em
contrapartida, as pessoas beneficiam-se quando treinam os seus “músculos” de
autocontrole. Se desenvolvermos a autodisciplina numa área da nossa vida, ela pode
refletir-se também em outras áreas.
 Estudos confirmam que os sistemas de governo ou o gerenciamento de pessoas que
promovem o controle pessoal promoverão sem dúvida a saúde e a felicidade.

Viés de autosserviço

 Viés de autosserviço: tendência de perceber a si mesmo de modo favorável.


 As perceções tendenciosas são, então, apenas um erro percetual, um pequeno defeito
livre de emoção em como processamos a informação? Ou motivos autofavoráveis
também estão envolvidos?
o Em busca de autoconhecimento, somos motivados a avaliar a nossa
competência. Em busca de autoconfirmação, somos motivados a confirmar os
nossos autoconceitos. Em busca de autoafirmação, somos especialmente
motivados a realçar a nossa autoimagem. A motivação da autoestima então,
ajuda a acionar o nosso viés de autosserviço.

Eventos positivos e negativos

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 As pessoas atribuem o sucesso à sua habilidade e ao seu esforço, mas atribuem o
fracasso a fatores externos, tais como a má sorte ou a “impossibilidade” inerente ao
problema.
 O fenómeno de atribuições autofavoráveis (atribuir desfechos positivos a si mesmo e
desfechos negativos a outra coisa) é um dos vieses humanos mais potentes.
 Ajudamos a manter as nossas autoimagens positivas associando-nos com o sucesso e
distanciando-nos do fracasso. Atribuindo o fracasso ou a rejeição a algo externo, até
mesmo a outra pessoa, é menos deprimente do que nos vermos como
desmerecedores.
 As pessoas alegam que evitam o viés de autosserviço, mas reconhecem que os outros
cometem esse viés. Esse “ponto cego do viés” pode ter graves consequências durante
conflitos. Ao que parece, vemo-nos como objetivos e todos os outros como
tendenciosos.

É possível que todos sejam melhores do que a média?

 O viés autofavorável também aparece quando as pessoas se comparam com as outras.


Em dimensões subjetivas, socialmente desejáveis e comuns, a maioria das pessoas vê-
se como melhor do que um indivíduo mediano. Ao que parece, isso ocorre porque
temos mais conhecimento sobre o nosso comportamento do que sobre o de outra
pessoa, e presumimos que o comportamento de outras pessoas será menos extremo do
que o nosso. Quando as pessoas recebem mais informações sobre as ações dos outros,
a discrepância desaparece.
 Dentro de domínios comumente considerados, dimensões comportamentais subjetivas
(e,g., disciplinado) disparam um viés de autosserviço ainda maior do que dimensões
comportamentais observáveis (e.g., pontual). Qualidades subjetivas dão-nos
flexibilidade para construir as nossas próprias definições de sucesso.

Otimismo irrealista

 O otimismo ilusório aumenta a nossa vulnerabilidade. Acreditando-nos imunes ao


azar, não tomamos medidas sensatas. Embora mirar alto contribua para o sucesso,
aqueles que miram alto demais podem enfrentar depressão enquanto aprendem a
ajustar as suas metas a alturas mais realistas.
 O otimismo definitivamente derrota o pessimismo na promoção de autoeficácia,
saúde e bem-estar.
 Um traço de realismo – pessimismo defensivo – pode salvar-nos dos perigos do
otimismo irrealista. O pessimismo defensivo antecipa problemas e motiva o
enfrentamento. Também é importante ser capaz de ouvir críticas.

23
 Existe poder tanto no pensamento negativo quanto no positivo. Moral: o sucesso nos
estudos e na vida exige otimismo suficiente para manter a esperança e pessimismo
suficiente para motivar a preocupação.

Falso consenso e singularidade

 Efeito do falso consenso: a tendência de superestimar a semelhança das nossas


opiniões e dos nossos comportamentos indesejáveis ou mal sucedidos.
 Dawes (1990) propõe que o falso consenso pode ocorrer porque generalizamos a
partir de uma amostra limitada, a qual proeminentemente nos inclui. Além disso,
somos mais propensos a despender tempo com pessoas que compartilham as nossas
atitudes e comportamentos e, consequentemente, julgar o mundo com base nas
pessoas que conhecemos.
 Efeito de falsa unicidade: a tendência de subestimar a semelhança das nossas
habilidades e dos nossos comportamentos desejáveis ou bem sucedidos.

Reflexões sobre a autoestima e o viés de autosserviço

O viés de autosserviço como adaptativo

 O viés de autosserviço e as concomitantes desculpas ajudam a proteger as pessoas da


depressão. O viés autofavorável também ajuda a amortecer o stress. A autoestima
amortece a ansiedade, inclusive a ansiedade relacionada à certeza da nossa morte.
Greenberg e colaboradores argumentam que a autoestima positiva – ver-se a si
mesmo como bom e seguro – protege-nos inclusive de sentir terror em relação à
derradeira morte. A crença da nossa superioridade pode motivar-nos a realizar –
criando uma profecia autorrealizada – e pode manter a nossa esperança durante
épocas difíceis.

O viés de autosserviço como inadaptativo

 Embora o orgulho autocomplacente possa ajudar a proteger-nos da depressão, ele


também pode ser inadaptativo. As pessoas que culpam os outros pelas suas
dificuldades sociais são muitas vezes mais infelizes do que aquelas que reconhecem
os seus erros. As perceções autofavoráveis podem envenenar um grupo.
 Viés favorável ao grupo: invalidar (por meio de explicação) os comportamentos
positivos dos integrantes de outros grupos; também, atribuir comportamentos
negativos às suas disposições (ao mesmo tempo desculpando tal comportamento por
parte do seu próprio grupo).

24
CRENÇAS E JUÍZOS SOCIAIS

Quando observamos um determinado acontecimento ou comportamento, temos tendência


para fazer inferências acerca das causas ou das razões que o originaram.

 Processo de atribuição: a tendência para atribuir uma explicação de determinados


comportamentos.
 É importante conhecer a atribuição pois, uma vez conhecida a lógica atribuicional é
possível prever a capacidade de mudança que a pessoa poderá vir a ter relativamente
ao comportamento sobre o qual incidiu a atribuição.
 Atribuição: processo através do qual as pessoas inferem as causas do
comportamento.
o Fatores situacionais e fatores disposicionais (F. Heider)
 Internos (fatores disposicionais): caraterísticas individuais de
personalidade, que afetam o comportamento.
 Externos (fatores situacionais): estímulos ambientais que afetam o
comportamento.
 Estáveis: não mudam facilmente ao longo do tempo;
 Instáveis: mudam facilmente com o tempo.

Relação entre atribuição e autoestima

 O sujeito faz atribuições internas e estáveis, de insucesso: desenvolve uma baixa


autoestima e um autoconceito negativo, pois considera que não tem capacidade para
ter sucesso naquela situação, nem possibilidade de melhorar.
 O sujeito faz atribuições internas e estáveis, de sucesso: desenvolve uma alta
autoestima e um autoconceito positivo, pois considera que tem muitas capacidades e
que é capaz de ter sucesso.
 O sujeito faz atribuições externas, de sucesso: a autoestima não sairá beneficiada
porque ele transfere as causas do seu insucesso para fatores que lhe são alheios.
 O sujeito faz atribuições externas, de insucesso: a autoestima não será afetada
negativamente porque ele transfere as causas do seu insucesso para fatores que lhe
são alheios; responsabilizar outros pelo insucesso é uma forma de manter a
autoestima o mais elevada possível.

TEORIA DA ATRIBUIÇÃO DE KELLER

25
A atribuição do comportamento a causas externas ou internas faz-se com base em três fatores:

 Consenso: comportamento partilhado por um grande número de pessoas,


comportamento similar entre pessoas. Na medida em que as pessoas estão envolvidas
no mesmo comportamento, este é consensual (habitualmente atribuído a causas
externas).
 Consistência: medida em que o comportamento de uma pessoa é consistente ao
longo do tempo (habitualmente atribuído a causas internas).
 Distintividade: medida em que uma pessoa exibe um comportamento particular
numa situação, mas não em outras (habitualmente atribuído a causas externas).

Atribuição de causalidade Atribuição de causalidade


externa interna
Consenso Alto Baixo
e.g. empréstimo de moeda para e.g. recusa de moeda para
telefonar, comportamento telefonar, a pessoa parece
social aceitável avara ou mesquinha

Consistência Baixa Alta


e.g. uma pessoa habitualmente e.g. encontramos uma pessoa
carinhosa age de forma rude; descuidada e concluímos que é
ficamos a pensar o que terá má por natureza
provocado o seu
comportamento
Distintividade Alta Baixa
e.g. uma criança é agressiva e.g. uma criança diz grosserias
apenas quando brinca com e obscenidades a todos com
determinado amigo; quem se cruza; concluímos que
concluímos que o colega é uma a criança é rude
má influência

26
Erros de atribuição

 Erro fundamental de atribuição: quando uma pessoa atribui o comportamento de


outra pessoa a causas possíveis, tende a sobrestimar o significado de fatores
disposicionais e de fatores situacionais (e.g. a crença num mundo justo e que as
pessoas têm o que merecem);
 Efeito observador-ator: tendência para atribuir o nosso próprio comportamento a
fatores situacionais e o comportamento dos outros a fatores disposicionais;
 Enviesamento em proveito próprio: tendência para atribuir as nossas realizações e
sucessos a causas internas e os nossos fracassos a causas externas;
 Falso consenso: tendência para uma pessoa perceber a sua resposta ou o seu
comportamento como representativo de um consenso.

Causas para os erros de atribuição

 Foco de atenção: quando atuamos vemos melhor o mundo envolvente do que o


nosso comportamento;
 Diferentes tipos de informação (relativamente ao nosso comportamento e ao dos
outros);
 Necessidade de apresentar uma imagem positiva (aos outros e a nós próprios)
o Autoafirmação: comportamento e expressão de forma a criar uma impressão
favorável ou que corresponda aos ideais do sujeito.
 Processamento e recuperação da informação (acerca de nós próprios);
 Motivação de autoestima: motivação para proteger e realçar a nossa autoestima.

CRENÇAS SOBRE O CONTROLO PESSOAL

Locus de controlo (Rotter)

Medida em que as pessoas percebem as suas vidas como controladas pelos seus esforços ou
ações, ou pela sorte ou forças exteriores.

 Interno: crença de que controlamos o nosso próprio destino (maior eficácia em


domínios como rendimento académico, comportamentos preventivos, desporto, etc.);
 Externo: crença de que o destino é controlado pela sorte ou por forças externas.

Autoeficácia (Bandura)

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Traduz a crença da pessoa de que será bem-sucedida em algo que ela quer fazer. Esta crença é
adquirida através dos seus sucessos e fracassos, pela observação das experiências dos outros,
e pela avaliação das suas capacidades que as outras pessoas lhe comunicam.

 Sentimento de competência e efetividade;


 Sentimento fortemente adaptativo: e.g. as pessoas com forte sentimento de
autoeficácia tendem a ser mais persistentes, a manifestar menos ansiedade e
depressão e a obter mais êxito académico;
 Reações à perda de controlo: reactância, desânimo aprendido e dependência
autoinduzia.

Desânimo Aprendido (Seligman)

É o fenómeno psicológico através do qual os indivíduos são expostos a situações de


sofrimento sobre as quais não têm controlo.

 Sentimento de desânimo/desamparo/indefesa quando o indivíduo se apercebe


que não tem possibilidade de controlo sobre acontecimentos negativos;
 Atribuições feitas a causas externas.

 Exemplos:
o Relacionamentos abusivos: uma pessoa que passa anos a sofrer num
relacionamento abusivo, aprende o desânimo que pode estar associado a
transtornos como a depressão;
o No contexto escolar:
 Se um aluno sentir que o estudo não resulta num bom desempenho,
independentemente do seu esforço, leva ao desânimo;
 Atribui o fracasso à falta de capacidade;
 Sujeitos em desânimo têm um rendimento mais baixo e utilizam
estratégias menos adequadas na resolução de problemas; têm
expetativas pobres e batalham sobre assuntos irrealistas.
o Situações profissionais: por exemplo, casos em que as pessoas estão num
trabalho que odeiam apenas porque necessitam de sustentar a família, vão
aprender o desânimo, acabando por acreditar que não há nada que possam
fazer na vida profissional para encontrar um trabalho que as faça feliz.

Combater o desânimo aprendido passa por mudar as crenças individuais, uma vez que se trata
de um fenómeno cognitivo.

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 Treino de atributos:
o Mudar a maneira segundo a qual as pessoas explicam os maus
acontecimentos;
o Quando existe uma ambiguidade causal, alguém a deve preencher com uma
explicação otimista.
 Enriquecimento ambiental:
o Eliminar fatores situacionais e ter em consideração aspetos como a
disponibilidade de recompensas adequadas e contingentes ao que se faz.
 Treino da Autoeficácia:
o Insuficiência da simples persuasão;
o Necessidade de estabelecer metas realistas e desafiantes;
o Ter em conta o poder opressivo resultante de algumas situações sociais.
o Eficácia coletiva:
 Nem sempre as dificuldades provocam militância;
 Dificuldades sistemáticas geram com frequência apatia;
 Os membros do grupo de protesto têm mais orgulho próprio e
acreditam mais na sua capacidade para influir nos acontecimentos;
 As pessoas que têm um sentido de eficácia coletiva mobilizam os
seus esforços e recursos para enfrentar os obstáculos que dificultam
as mudanças que procuram.

ATITUDES

 É uma disposição/orientação duradoura, afetiva e cognitiva, com função motivante e


seletiva a respeito de um objeto predominantemente social.
 Estado mental e neurofisiológico, constituído pela experiência, que exerce uma
influência dinâmica sobre o indivíduo preparando-o para reagir de uma maneira
particular a um certo número de objetos e situações.
 Estado funcional de preparação, que não se limita a comportamentos verbais, mas que
se manifesta em todos os comportamentos expressivos.
 Conjunto de crenças, sentimentos e tendências de um indivíduo que dão lugar a um
determinado comportamento.

Medida das atitudes

 Análise de conteúdo;

29
 Item único;
 Distância social:
o Grau de distância que uma pessoa deseja manter nas relações pessoais de
outros grupos.
 Escalas;
 Medidas indiretas:
o Fisiológicas, comportamentais, projetivas.

Funções psicológicas das atitudes

A origem das atitudes

 Emergência no contexto social da interação social;


 Compreende processos de comparação, identificação e de diferenciação social;
 Permitem situar a posição do indivíduo face a outros num determinado momento.

Formação das atitudes

 Condicionamento clássico (Pavlov);


 Condicionamento operante (Skinner);
 Aprendizagem social (Bandura);
 A experiência e a observação do próprio comportamento.

Componente das atitudes

 Componente afetivo: o tipo de sentimentos despertados;


o Importância do efeito da mera exposição.

30
 Componente cognitivo: conjunto de crenças;
o Importância da imitação, da tendência à identificação como agregado familiar
e grupos de afinidade.
 Componente comportamental: tendência a agir de uma determinada maneira.

ATITUDE vs. COMPORTAMENTO

 Grau de especificidade: quanto mais específica for a atitude medida, mais previsível
é o comportamento da pessoa;
 Relevância motivacional: expressar uma atitude exige menos esforço do que exibir
um comportamento demonstrativo;
 Autoatribuição:
o Atribuições feitas sobre as causas do nosso comportamento baseadas nas
nossas auto-observações, acerca da maneira como agimos em diferentes
situações.
 A atitude desenvolvida a partir das opiniões ou argumentos
persuasivos de outras pessoas, é um fraco preditor comportamental;
 A atitude desenvolvida a partir da autoatribuição é um excelente
preditor comportamental.
 Constrangimentos situacionais para o comportamento: por vezes, a informação
colhida relativamente à atitude tem de ser complementada por informação adicional
relativa à situação.

Atitudes na predição do comportamento

Variáveis moderadoras influenciam a direção e a intensidade da relação entre uma variável


preditora e uma variável critério.

 Experiência direta;
 Fatores pessoais;
 Fatores situacionais;
 Diferenças individuais.

TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA (L. FESTINGER)

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Quando percebemos uma discrepância entre as nossas atitudes e o nosso comportamento, ou
entre o nosso comportamento e a nossa autoimagem, resulta um desagradável estado de
ansiedade ou dissonância.

 Redução da dissonância: forte motivação comportamental;


 Processos:
o Reduzir a importância de um dos elementos dissonantes;
o Acrescentar elementos consonantes;
o Mudar um dos elementos dissonantes.

Conformidade induzida

Em determinadas condições, quando as pessoas são levadas a exibir um determinado


comportamento (coagidas, pagas, etc.), o ato de conformidade (envolvimento num
determinado comportamento a pedido de alguém), provoca mudanças nas suas atitudes.

A teoria da dissonância cognitiva prediz que a dissonância ocorre quando o comportamento


de uma pessoa apresenta resultados nocivos para a autoestima.

 Um conflito entre a crença da pessoa no seu próprio valor e o facto de que fez algo
que fere essa crença. A pessoa procura então justificar o comportamento.
 Quando confrontados com a inconsistência entre o nosso comportamento e as nossas
atitudes, temos tendência a mudar as nossas atitudes, para as tornar conformes com o
nosso comportamento.

ATITUDES COMUNICACIONAIS – CLASSIFICAÇÃO DE PORTER

32
TEORIA DA AUTOPERCEÇÃO (DARYL BEM)

Entendemos as nossas atitudes, emoções e outros estados internos observando o nosso


comportamento e as circunstâncias em que ocorre.

 Quando as nossas motivações não são claras, procuramos na situação os estímulos e


os prováveis reforços e punições que nos levam a agir como agimos.

Um observador que procura fazer juízos acerca das atitudes, emoções e outros estados
internos de uma pessoa, examina o comportamento dessa pessoa à procura de pistas.

De maneira similar, as pessoas analisam os seus estados internos, fazendo atribuições acerca
das causas do seu próprio comportamento.

TEORIA DO COMPORTAMENTO PLANEADO (FISHBEIN E AJZEN)

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A teoria do comportamento planeado é utilizada para analisar fatores que predizem os
comportamentos.

 Esta teoria enfatiza o papel fundamental das cognições sociais, sob a forma de
normas subjetivas (crenças individuais sobre o seu mundo social) e inclui tanto as
crenças como as avaliações dessas crenças.

O modelo do comportamento planeado coloca o indivíduo no seu contexto social e sugere um


papel para os valores, contrastando com a abordagem mais tradicional e racional dos
comportamentos.

Põe em relevo as intenções do comportamento, resultado de uma combinação de diferentes


crenças. Esta teoria defende que as intenções deviam ser conceptualizadas como “planos de
ação atingir objetivos comportamentais” e que as mesmas resultam das seguintes crenças:

 Atitudes em relação aos comportamentos: compostas por avaliações positivas e


negativas num determinado comportamento e pelas crenças sobre o resultado desse
comportamento;
 Norma subjetiva: composta pela perceção das normas e pressões sociais para ter um
dado comportamento, assim como pela avaliação da motivação, ou não, do indivíduo
para se submeter a esta pressão;
 Controlo comportamental percecionado: crença de que o indivíduo consegue
manter um determinado comportamento, baseando-se na ponderação dos fatores
internos de controlo e dos fatores de controlo externos.

EMOÇÕES

“Sentimento e raciocínios derivados, estados psicológicos e biológicos, e o leque de


propensões para a ação.”

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 Raiva, tristeza, medo, prazer, amor, surpresa, aversão, vergonha.
o As expressões faciais de medo, raiva, tristeza e prazer são reconhecidas em
culturas de todo o mundo, incluindo povos pré-letrados.

III. Influência Social

PERSUASÃO

Processo pelo qual uma mensagem induz a mudança em crenças, atitudes ou


comportamentos.

Modelo da Elaboração Probabilística de R. Petty e J. Cacioppo

Existem duas vias de acesso para a persuasão:

 A mudança de atitude em persuasão pode tomar um itinerário central, quando o


sujeito pensa criticamente sobre um argumento e está motivado para tal, ou um
itinerário periférico, quando o sujeito associa o argumento com algo de positivo.

35
Os elementos do processo de persuasão

 O comunicador (fonte da mensagem)


o Credibilidade e atratividade.
 Estratégia e conteúdo da mensagem
o Razão (as pessoas mais educadas e analíticas respondem mais racionalmente)
vs. emoção (pessoas com menor nível de educação: maior peso das emoções
e agrado do comunicador);
o Um aspeto (quando a audiência sabe pouco acerca do assunto e tem uma
posição fortemente marcada) vs. vários aspetos (audiência bem informada);
o Apelos num sentido vs. apelos bidirecionais (com argumentos opostos)
 Se as pessoas estão sensíveis a diferentes argumentos uma
apresentação bidirecional é mais efetiva.
o Discrepância (as pessoas estão predispostas a aceitar aquilo que cai dentro
das suas possibilidades de aceitação; um desacordo maior provocará menos
mudança; importância da credibilidade do comunicador);

36
o Primazia vs. recência.
 Objetivos e canal de comunicação
o Experiência ativa ou comunicação passiva;
o Influência pessoal vs. influência dos media.
 A audiência, o público
o Idade, pensamento, género
o Envolvimento
 Argumentos centrais; menos propensão a mudanças por prazos
curtos, quando muda a mudança tende a durar mais tempo;
 Credibilidade e contexto, maior propensão a mudanças de curto
prazo.

Caso particular de persuasão: doutrinação nas seitas religiosas

 Atitudes na sequência de comportamentos


 Elementos persuasivos
o O comunicador: líder carismático, credível, atrativo
o A mensagem: centrada nas emoções e nos afetos e aceitação
o A audiência: pessoas com atitudes e valores pouco estabilizados, pouca
capacidade de argumentação, apreciam a simplicidade da mensagem,
deixam-se levar pelos ideais sem olhar a contradições, eventualmente
encontram-se num momento de crise pessoal
 Efeitos grupais
 Casos extremos mais conhecidos: Templo do Povo (Jim Jones); Ramo Davidiano
resultante de uma cisão da Igreja Adventista do 7ºDia (David Khoresh).

Como avaliar um culto (Neal Osherow, a partir de uma análise cuidadosa do Templo do
Povo)

 Existem alternativas ou elas são suprimidas? Tudo fora do Templo é considerado


como “o inimigo”. Seguir Jim é a única alternativa.
 É facilitado o acesso a nova e diferente informação ou ele é negado? Jim controla a
informação à qual os membros devem estar expostos.
 Assumem os indivíduos responsabilidade e controlo pessoal ou isso é usurpado pelo
grupo e pelo líder? A autonomia pessoal é trocada por segurança, a ilusão de milagres
e a promessa de salvação.

37
Resistência à persuasão: inoculação de atitude

 Compromisso público: assumir compromissos públicos com as nossas posições,


tornam-nos menos suscetíveis à influência dos outros.
 O poder da argumentação refutativa
 Desafio moderado das crenças: argumentos débeis estimulam contra-argumentos
(inoculação de atitudes – W. McGuire)
 Inoculação: exposição das atitudes das pessoas a ataques débeis de modo a que
perante ataque fortes disponham de argumentos fortes.

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