RESENHA “INTERTEXTUALIDADE: CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO
DIALOGISMO”
O artigo “Intertextualidade: considerações em torno do dialogismo” escrito por
Ricardo Zani, publicado pela revista “Em questão”, volume 9, nº 1, em Porto Alegre/RS, no ano de 2003, fundamenta os conceitos relacionados ao tema proposto e traz exemplos consistentes referente a cada tópico, ressaltando de maneira didática e concisa os detalhes que envolvem o assunto.
O autor parte da definição de dialogismo, considerando os autores Bakhtin e
Kristeva. O primeiro, ainda no início do século XX, explica sobre as intersecções entre as obras artísticas, chegando a utilizar o termo “carnavalização”, fazendo referência às diversas maneiras de intervenção de uma obra sobre a outra. Já a estudiosa Kristeva coloca o dialogismo, ou seja, a relação entre manifestações artísticas, como intertextualidade, tratando as duas nomenclaturas como sinônimos. Os modernistas brasileiros como Mário de Andrade trouxeram o termo “antropofagia” para definir o mesmo fenômeno.
Haveria três formas de se promover estas intersecções. A primeira seria a
citação, quando traz parte do discurso ou da imagem para o seio da discussão abordada, seja para reafirmar um argumento, seja para exemplificar. A segunda reside na alusão, consiste no resumo de um conteúdo para enriquecer uma ideia. Além destas maneiras, a estilização representa a reprodução parcial de discursos já existentes.
O texto traz o exemplo de histórias consagradas como “O engenhoso fidalgo
Dom Quixote de La Mancha”, a fim de demonstrar o conceito de polifonia, a existência de várias vozes dentro de uma obra. No romance citado, há elementos da mitologia, da crença religiosa e outros fatores preexistentes. Esta conversão de diversos discursos que incidem sobre determinada arte seria a polifonia, Zani cita autores que trabalham este conceito como o escritor francês Rabelais. Concordando com o pensador Plaza, exemplificando com vários argumentos e trazendo fragmentos de autores como o filósofo Platão, o artigo expõe que a produção literária e artística se firma em pensamentos e crenças do passado, por esta razão, a ocorrência de uma variedade de vozes em uma arte é essencial para a sua profundidade e consistência argumentativa.
Considerando o fenômeno da polifonia como fundamental para basear a
produção intelectual e artística, o autor evolui em sua dissertação recorrendo ao teórico Calabrese que enxerga em Umberto Eco uma consonância na visão de que a apropriação de parte de um discurso para fortalecer a capacidade argumentativa de um artista ou escritor deve ocorrer de modo natural e incorporando as devidas contribuições de um discurso para outro. Desta forma, a intertextualidade ou dialogismo ou antropofagia seriam mecanismos que ocorreriam naturalmente de acordo com a intenção do autor e com a necessidade dissertativa, utilizando partes de fontes do passado para fortalecer e justificar determinado estilo ou pensamento.
A existência de vários discursos em uma obra caracterizando a polifonia pode
ser exemplificada no cinema, pois já na essência traz duas vozes coexistentes: o som e a imagem ou fotografia. Além destas expressões entrelaçadas, esta arte carrega em seu roteiro a possibilidade de utilizar diversas outras vozes, seja uma citação de alguma outra fonte, seja nos artifícios como luzes, cenários e outros.
A exposição didática e concisa apresenta uma lógica de explanação bastante
acessível e com uma gama de exemplos, demonstrando o conhecimento do autor e tornando a leitura agradável e de fácil compreensão.
Os termos em que o artigo se propõe a explicar são complexos e exigem um
aprofundamento do mérito. A redação em questão contemplou as necessidades existentes deste assunto, porém é evidente que havia a possibilidade de visitar os radicais das palavras para uma explanação mais aprofundada, no entanto, ao citar os teóricos que levantaram o referido tema, o autor conseguiu traçar a relação entre significado e significante de uma maneira satisfatória.
Considerando os argumentos expostos e a linguagem simples e culta, o
presente texto consegue comtemplar um assunto literário complexo de uma maneira a transmitir seu conteúdo para os estudiosos e curiosos que desejam compreender tal temática.