Você está na página 1de 10

Relações Interpessoais e Dinâmica de Grupos

II. Dinâmica de Grupos: o estudo do grupo e das pessoas em interação

ENQUADRAMENTO CONCEPTUAL DE GRUPO

Grupo: “Dois ou mais indivíduos que estão ligados entre si por relações sociais”.

 O tamanho do grupo influencia a sua natureza de diversas maneiras. Um grupo


com apenas dois ou três membros, é o único grupo que se dissolve se um dos
membros sair e é também o único grupo que nunca vai ser destruído pela
formação de subgrupos. Um grupo com mais elementos, apresenta menos
hipóteses de cada membro ter uma conexão com todos os membros, mas
torna-o mais complexo e com uma melhor estruturação.
 Os membros de um grupo estão interligados entre si. Essas ligações podem ser
laços emocionais fortes, como é o caso das relações familiares ou do grupo de
amigos mais íntimo, ou podem ser relativamente fracas sendo quebradas
facilmente pela passagem do tempo ou pela ocorrência de eventos que façam
com que isso aconteça.
 Grupo vs. categoria. Se as categorias criam uma conexão interpessoal entre
os membros, então a categoria pode ser transformada num grupo, mas se a
categoria não tem implicações sociais ou psicológicas, então a categoria
descreve apenas indivíduos que são semelhantes de alguma forma.

O que descreve e carateriza um grupo?

 Interação: comportamentos sociais dos indivíduos no grupo, em particular


aqueles que são influenciados direta e indiretamente pelo grupo.

 Interdependência: caraterística estrutural do grupo que se atualiza nas relações


instrumentais entre os seus elementos quando têm de partilhar recursos, como
materiais, informação ou conhecimento, para alcançar os objetivos a que o
grupo se propõe (tarefa e resultados).
o Sequencial: um elemento influencia outro, que por sua vez influencia
um terceiro;
o Recíproca: dois ou mais elementos influenciam-se mutuamente;
o Multinível: interdependência entre diferentes grupos situados em
diferentes níveis.

 Estrutura: normas, papéis e padrões estáveis de interação e relacionamento


partilhados pelos elementos de um grupo e que regulam o seu funcionamento.
o Norma: padrão consensual (muitas vezes implícito) que descreve os
comportamentos adequados e desadequados num determinado
contexto;
o Papel: conjunto coerente de comportamentos esperados em relação aos
membros do grupo por ocuparem determinadas posições no grupo.

 Coesão: refere-se à intensidade dos vínculos dos membros do grupo ao grupo,


à unidade de um grupo, aos sentimentos de atração dentro do grupo e ao grau
de coordenação de esforços entre os membros para o alcance de objetivos.

 Objetivos: objetivos e tipo de tarefa grupal.


o Modelo das tarefas grupais de McGrath
 4 objetivos: criar, decidir, negociar, executar – 8 tarefas;
 2 dimensões: cooperação/competição;
conceptual/comportamental).

Abordagens teóricas

 Modelos motivacionais: o que move os elementos de um grupo para a ação?


o Teoria do nível de aspiração de K. Lewin

 Abordagem comportamentalista: porque é que certos comportamentos num


grupo são adquiridos e persistem e outros desaparecem?
o Teoria da troca social de J. Thibaut & H. Kelley

 Teoria sistémica: que sistemas se relacionam com o sistema grupo e que


subsistemas interagem dentro do sistema grupo? Que inputs, processos e
outputs caraterizam o grupo?

2
 Abordagens cognitivas: que informação disponível no grupo é importante para
a perceção dos seus elementos?
o Teoria das expetativas de J. Berger

 Modelos biológicos: que comportamentos são adaptativos à sobrevivência dos


indivíduos e dos grupos?
o Psicologia evolucionista e sociobiologia

Questões metodológicas

 Observação: observar e registar comportamentos individuais e grupais.


o Participante: o observador/investigador faz parte do contexto social
onde decorrem os processos interpessoais.
o Estruturada: envolve o registo de comportamentos com base num
sistema de categorias nas quais são classificadas/codificadas as ações
dos indivíduos em interação.
 Exemplos:
 Sistema de análise do processo de interação: orientação
para a tarefa vs. relações interpessoais.
 Observação sistemática e multinível de grupos:
dominância vs. submissão; amigabilidade vs. não
amigabilidade; aceitação vs. não aceitação da
autoridade.
 Sistema de análise de interações verbais.

 Medidas de autorresposta
o Questionários/entrevista: os indivíduos são questionados acerca dos
seus sentimentos, atitudes e/ou crenças.
o Sociometria – sociograma.

3
COESÃO

Clarificação conceptual: “Refere-se à intensidade dos vínculos dos membros do


grupo ao grupo, à unidade de um grupo, aos sentimentos de atração dentro do grupo e
ao grau da coordenação de esforços entre os membros para o alcance de objetivos”.

 Conceitos-chave:
o Atração: “atitudes positivas recíprocas”;
o Unidade: “sentimento de pertença”;
o Trabalho de equipa: “alcance de objetivos comuns” (construto
multidimensional).

 Consequências:
o Satisfação: os elementos dos grupos coesos revelam maior satisfação
que os dos grupos não coesos;
o Dinâmica e influência: nos grupos coesos, os seus elementos mostram
maior aceitação dos objetivos, das normas e das decisões, maior
pressão para a conformidade e menos resistência individual a essas
pressões, podendo reagir de forma negativa quando um elemento se
insurge contra o grupo.
o Desempenho: relação causal ou correlacional?
 O que torna os grupos coesos mais eficazes?
 Implicação com a tarefa;
 Interdependência e interação;
 Normas pró-produtividade.

FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Desenvolvimento grupal – estádios (Tuckman)

1. Orientação (forming): conhecimento, familiarização, aceitação, inclusão,


redução de ambiguidades, consenso, líder ativo, envolvimento dos membros.

4
2. Conflito (storming): discordância, manifestação de insatisfação, tensão, crítica
de ideias, hostilidade, polarização, formação de coligações, não
reconhecimento do líder.
3. Estrutura (norming): coesão, unidade, estabilidade de papéis, normas e
relações, confiança, proximidade, concordância, redução de ambiguidades,
cooperação.
4. Tarefa (performing): alcance de objetivos, orientação para as tarefas,
produtividade e eficácia, tomada de decisão, resolução de problemas,
cooperação.
5. Dissolução (adjourning): finalização das tarefas e dos papéis, redução da
dependência, mágoa.

Modelo do Equilíbrio

 Os membros do grupo esforçam-se por manter um equilíbrio entre o


cumprimento das tarefas e a promoção da qualidade das relações interpessoais
dentro do grupo.
 O grupo tende a oscilar entre esses dois objetivos:
o Coesão social (estrutura) ou coesão centrada nas tarefas (tarefas).

Modelo de Desenvolvimento Grupal

 Grupo
o Dois subsistemas fundadores em interdependência – socioafetivo e
de tarefa;
o Presença de um conjunto de condições – forças impulsoras de base
necessárias e suficientes para a sua génese:
 Perceção de, pelo menos, um alvo comum mobilizador;
 Interdependência;
 Relações entre as pessoas em função do alvo comum.

 Desenvolvimento grupal
o Sucessão de quatro estádios – estruturação, reenquadramento,
reestruturação e realização;

5
o Lógica linear e cíclica de desenvolvimento – desenvolvimento linear
ao longo dos estádios e possibilidade de avanços, atrasos e recuos
nesse processo, assim como a estabilização numa dessas fases;
o A maturidade grupal assume um caráter transitório que se distancia da
ideia da sua inevitabilidade e perenidade.

6
Implicações práticas

 Equipas de trabalho (“unidades coesas”)


o Teambuilding: planear, desenvolver, melhorar
 Conjunto de intervenções com os seguintes objetivos gerais:
 Avaliar o estádio de desenvolvimento do grupo;
 Clarificar objetivos e definir prioridades;

7
 Promover a coesão do grupo;
 Aumentar a sua produtividade.

 Técnicas de intervenção: definição de objetivos, clarificação de papéis, análise


de processos interpessoais (comunicação, liderança, conflitos, tomada de
decisão), desenvolvimento da coesão, resolução de problemas.

 Aprendizagem experiencial em grupos de trabalho: articulação entre a


componente experiencial (realização de atividades) e a componente conceptual
(reflexão).
o 3 momentos: (1) briefing para enquadramento dos exercícios; (2)
realização dos exercícios; (3) debriefing de exploração, reflexão e
avaliação dos exercícios.
o Refere-se ao envolvimento dos sujeitos-alvo em atividades concretas
que permite “experienciar” o que estão a aprender e à oportunidade
para refletir essas atividades. Pode basear-se em atividades reais e em
experiências estruturadas que procuram recriar e simular atividades da
vida/trabalho real. Pode ser dirigida para a aprendizagem de
competências técnicas ou de natureza interpessoal.
 Competências cognitivas (compreensão de
conceitos/informação); competências comportamentais
(comportamentos); competências afetivas (reavaliação de
crenças).

Conflitos

 Um conflito representa incompatibilidade, irreconciliação, discordância,


divergência de objetivos, interesses e perspetivas, mas também um motor de
mudança, debate e criação de ideias, de envolvimento nas decisões e de
integração de diferentes perspetivas.

 Tipos de conflito:

8
o Conflito de tarefa: englobam situações de tensão vividas no grupo
devido à presença de diferentes perspetivas em relação à execução de
uma tarefa quanto à melhor forma de alcançar os objetivos comuns.
o Conflito afetivo: envolve situações de incompatibilidade interpessoal
entre os membros do grupo.
 Dimensões interdependentes e dinâmicas: a sua relação com a
eficácia grupal – qualidade das decisões, níveis de inovação e
criatividade e coesão do grupo – depende do momento de vida
do grupo e do modo como o grupo gere esses conflitos.

 Processo de conflito:
o Incerteza → Comprometimento → Comunicação
o Perceção da situação → Erros de atribuição → Cooperação
o Reciprocidade negativa → Espirais de conflito → Reciprocidade nas
respostas
o Poucos → Muitos (coligações) → Mediação
o Irritação → Raiva/agressividade → Controlo emocional

 Abordagens de resolução de conflitos:


o Nível interpessoal: reações individuais à perceção de que existem
ideias, opiniões e/ou objetivos divergentes entre as partes envolvidas
numa interação.
o Nível intragrupal: conjunto de respostas dadas pelos membros de um
grupo com o fim de reduzir ou solucionar um determinado conflito.

o Integração: partilha de informação entre as partes envolvidas com


vista a uma solução aceitável para todos (confrontação e resolução de
problemas).

9
o Acomodação: as diferenças existentes são minimizadas e os pontos de
concordância são sobrevalorizados, tendo em vista a satisfação dos
objetivos da outra parte.
o Domínio: o alcance dos objetivos de uma das partes é considerado
prioritário face aos interesses da outra parte.
o Evitamento: atitude de fuga, adiamento ou negação do problema.
o Compromisso: procura de solução de meio-termo em que ambas as
partes cedem para alcançar uma resposta para o conflito aceite
mutuamente.

10

Você também pode gostar