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ARTIGO DE REVISÃO
DA AUTONOMIA E DA CRIATIVIDADE
O DESENVOLVIMENTO DA CRIATIVIDADE E DA
AUTONOMIA NA ESCOLA: O QUE NOS DIZEM
PIAGET E VYGOTSKY
Ana Luisa Manzini Bittencourt de Castro
A função básica (essencial) da inteligência não existia. Quem inventa não pode ter medo de
humana é entender e inventar, em outras pala- errar, pois vai se meter em terras desconhecidas,
vras, construir estruturas (enquanto) estrutu- ainda não mapeadas. Há um rompimento com
rando a realidade. velhas rotinas, o abandono de maneiras de fazer
Jean Piaget e pensar que a tradição cristaliza. Pense, por
Há um tipo de inteligência criadora. Ela exemplo, no milagre do iglu. Como terá aconte-
inventa o novo e introduz no mundo algo que cido?... A gente encontra o mesmo tipo de
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inteligência no artista que faz uma obra de arte, plenamente da construção do conhecimento que
no cientista que visualiza na imaginação uma os rodeiam ou do entendimento das regras que
nova teoria científica, no político-sonhador que lhes são impostas.
pensa mundos utópicos... Segundo Vygotsky2, a imaginação não pode
Já o mecânico pensa diferente. Tudo está bem. ser considerada um divertimento caprichoso do
Foi apenas um pequeno defeito. Trocar uma peça, cérebro, mas sim uma função vitalmente neces-
fazer um ajustamento... Fazer como sempre se sária, que se encontra em relação direta com a
fez, de acordo com o manual de instruções. Há riqueza e a variedade da experiência acumulada
receitas para tudo. Há respostas certas para tudo. pelo ser humano, porque esta experiência é o
Claro que estes dois tipos de inteligência se material com que se constróem os edifícios da
aplicam a situações diferentes. Acontece que a fantasia2. A partir desta afirmação, o autor
inteligência se parece com sementes. Não basta conclui sobre a necessidade pedagógica de se
que a semente seja boa. Ela precisa de terra para ampliar a experiência da criança, a fim de que
germinar, brotar e crescer. uma base suficientemente sólida para a atividade
A questão que se coloca é se no nosso sistema criadora seja construída. A função imaginativa
educacional tem lugar para a inteligência cria- depende da experiência, das necessidades e
tiva... Negativo. interesses daqueles nos quais se manifesta2.
Tudo é preparado como se houvesse somente Quanto mais ricas e diversificadas forem as
mecânicos nesse mundo. Não há lugar para o experiências, as interações da criança com o
desenvolvimento da capacidade de perguntar - mundo (outros sujeitos e objetos) e as atividades
o fator mais importante no desenvolvimento da que ela é incentivada a realizar, maiores serão
inteligência e da ciência. O aluno aprende que suas possibilidades criadoras e mais rica será sua
existe sempre uma resposta certa entre as alter- criatividade, porque maior será o material de que
nativas apresentadas, e que precisa apenas dar sua imaginação poderá dispor na construção de
a solução para determinada questão preparada algo novo.
por outro... Quanto mais vê, ouve e experimenta, quanto
Rubem Alves mais aprende e assimila, quanto mais elementos
A situação descrita por Rubem Alves1 sobre o reais dispõem em sua experiência, tanto mais
nosso sistema educacional parece ser uma das considerável e produtiva será a atividade de sua
razões para a existência de crianças consideradas imaginação2.
fracassadasi na escola: a postura de treinamento Imaginação e criatividade não são atividades
da educação escolar na qual apenas a repetição, a a serem postas num segundo plano, que possam
cópia e as soluções prontas parecem ser incenti- ser consideradas como de importância inferior à
vadas em sala de aula. Tal postura da escola faz razão ou à memória. Ao contrário, são atividades
com que as crianças, muitas vezes, percam um que alimentam ambas - a razão e a memória -
universo todo de possibilidades - a possibilidade interagem com elas, realizando novas combi-
do uso da imaginação e da criatividade, a nações de elementos e, possuindo, assim, impor-
possibilidade de agir no mundo, de perguntar e tância inegável na vida humana.
de buscar respostas. Essa mesma postura também A imaginação, como base de toda a atividade
deixa de lado os pressupostos básicos para que criadora, se manifesta por igual em todos os
tais indivíduos se desenvolvam de maneira aspectos da vida cultural, possibilitando a cria-
autônoma, na medida em que não participam ção artística, científica e técnica. Neste sentido,
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Termo usualmente atribuído a crianças com baixo desempenho escolar, seja no que se refere às notas atribuídas aos
trabalhos por elas realizados na escola, seja em relação a comportamentos que geram distúrbios em sala de aula.
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absolutamente tudo o que nos rodeia e que foi vimento e aquisição de conhecimentos, ativi-
criado pela mão do homem, todo o mundo da dades cooperativas, descentração e entendimento
cultura, em diferenciação ao mundo da natu- dos pontos de vista de outros sujeitos, o que signi-
reza, tudo é produto da imaginação e da criação fica que tais atitudes são adquiridas através da
humana, baseados na imaginação2. experiência com os outros sujeitos e da relação
Ao olharmos as atividades desenvolvidas na dos sujeitos com o mundo a sua volta.
escola, porém, constatamos que o ensino em geral A criança, para Piaget3, não é um ser passivo
está pautado essencialmente no verbalismo3. cujo cérebro deve ser preenchido, mas um ser
Ouvir o que o professor fala, copiar o que ele escre- ativo, cuja pesquisa espontânea necessita de
ve, responder ao que ele pergunta, eis o signi- alimento. Esta idéia vem ao encontro da idéia
ficado de estar na escola. Piaget, contudo, afirma de cooperação, na medida em que o trabalho
em algumas de suas obras que este ensino é, no em grupo e a pesquisa são atividades que permi-
mínimo, insuficiente. tem colaboração e troca. Recepção passiva de
Somos freqüentemente vítimas da mesma informações, memorização de dados, cópias de
ilusão em todos os campos de ensino: toma-se atividades são atividades que isolam inte-
como ponto de partida o que é ponto de chegada lectualmente os alunos.
e considera-se como sendo o método mais simples A cooperação pode ser considerada como
aquele que é o mais natural para a inteligência atividade efetivamente criadora, na medida em
verbal do adulto, quando, para a criança, a que ela é condição indispensável para a consti-
ordem a ser seguida tem de ser a inversa3. tuição plena da razão.
Imaginação e criatividade, portanto, não são
E ainda complementa: instâncias circunscritas apenas ao trabalho
Toda aula tem de ser uma resposta3. artístico. São fundamentos do desenvolvimento
A demonstração pelo adulto não dá mais que a do homem completo. São pressupostos para a
simples percepção, o que vem a mostrar que, ao se ação do homem sobre o mundo e para a análise,
fazer experiências diante da criança em vez de fazê- construção e modificação das coisas que o
las ela própria, perde-se todo valor de informação rodeiam.
e formador que apresenta a ação como tal4. As possibilidades de agir com liberdade que
A relação ativa da criança com o mundo a surgem na consciência do homem estão intima-
sua volta e com os outros é o ponto de partida mente ligadas à imaginação, ou seja, à tão pecu-
para o desenvolvimento da criatividade e da liar disposição da consciência para com a realidade
autonomia. A interação da criança com este que surge graças à atividade da imaginação2.
mundo que a rodeia permite que ela desenvolva Criatividade e autonomia andam de mãos
sua imaginação e criatividade, na medida em que dadas na medida em que alguns pressupostos
possibilita que ela formule perguntas, busque para o desenvolvimento de ambas são os mesmos.
respostas, descubra e construa o conhecimento. A experiência do mundo, a interação entre sujeitos
E esta relação é também, segundo Piaget 3-7, e a construção ativa do conhecimento podem
pressuposto básico para o desenvolvimento do proporcionar impulso criador e questionador,
indivíduo autônomo, tanto moral, quanto além de levar a criança a um desenvolvimento
cognitivamente, na medida em que permite que do sentido de cooperação e de diálogo.
a criança se desloque de sua própria perspectiva, Educar é adaptar a criança ao meio social
colocando-se na perspectiva dos outros e perce- adulto, isto é, transformar a constituição
bendo a existência de vários pontos de vista e psicobiológica do indivíduo em função do conjunto
da necessidade de troca e cooperação. de realidades coletivas às quais a consciência
A possibilidade de agirmos de modo autô- comum atribui algum valor. Portanto, dois termos
nomo, segundo Piaget3,4,6,7, pressupõe desenvol- na relação constituída pela educação: de um lado
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Esquemas, para Piaget10-13, são padrões de comportamento ou ações ordenadas e coerentes que descrevem um tipo
regular de ação aplicada a vários objetos.
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que possui como propriedades a composição, a a partir de esquemas menos elaborados, como os
associatividade, a identidade e a reversibilidade. simbólicos, sensório-motores e operatórios
O reticulado é uma estrutura que se refere à concretos.
classificação. Ele é definido por um limite superior Outra característica que identifica a inteli-
mínimo e um limite inferior máximo para cada gência humana se refere à gênese e ao desen-
par de classes. O limite superior mínimo é a menor volvimento das estruturas. Para Piaget10:
classe que inclui o par de classes que dela se origi- O conhecimento não procede, em suas
na. E o limite inferior máximo se refere à menor origens, nem de um sujeito consciente de si
classe do par que ainda comporta as características mesmo, nem de objetos já constituídos (do ponto
daquela que a origina. O agrupamento, por sua de vista do sujeito) que se lhe imporiam: resul-
vez, é uma estrutura híbrida e complexa criada taria de interações que se produzem a meio cami-
por Piaget, oriunda dos conceitos acima e que nho entre sujeito e objeto, e que dependem,
possui a característica mais importante de ambos, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em
o que lhe confere o caráter operatório: a reversi- virtude de uma indiferenciação completa e não
bilidade. É uma estrutura que comporta tanto as de trocas entre formas distintas. Por outro lado,
características do grupo, como as do reticulado. O e por conseqüência, se não existe no começo nem
agrupamento operatório é um sistema de opera- sujeito, no sentido epistêmico do termo, nem
ções com composições isentas de contradição, objetos concebidos como tais, nem, sobretudo,
reversível e que conduz à conservação das totali- instrumentos invariantes de troca, o problema
dades. É uma estrutura que comporta as capaci- inicial do conhecimento será, portanto, o de
dades de seriação, classificação, compensação, construir tais mediadores.
combinação, que permite o desenvolvimento do O instrumento de troca inicial é a própria
pensamento hipotético-dedutivo, do pensamento ação em sua plasticidade muito maior10.
proposicional, do pensamento proporcional e do O processo psicológico da gênese e estru-
estabelecimento de vínculos lógicos entre os turação da inteligência se dá através da interação
diversos tipos de pensamento (tais como impli- ativa entre sujeito-objeto e se caracteriza por ser
cação, conjunção, disjunção, análise combinató- um processo que tem por finalidade última a
ria, indução e probabilidade). Os agrupamentos, equilibração de suas estruturas. Equilibração,
tais como os reticulados, são possíveis apenas a para Piaget, caracteriza-se por ser um estado de
partir do estágio das operações concretas. No equilíbrio dinâmico que atinge as estruturas em
estágio das operações formais, o sujeito já é capaz seu desenvolvimento. Tal equilíbrio é considerado
de pensar em termos de matriz, tendo como dinâmico na medida em que o desenvolvimento
elementos das classes, proposições verbais e não das estruturas intelectuais não cessa nunca no
mais objetos palpáveis e concretos. Neste estágio, indivíduo, ou seja, é sempre passível de novas
já são resolvidos problemas de análise combi- assimilações e acomodações. Através dos proces-
natória, de conservação de volume e de lógica sos de assimilação e acomodação, a inteligência
abstrata. caminha em direção à adaptação, construindo
No desenvolvimento da inteligência na crian- estruturas cada vez mais estáveis. Para Piaget, a
ça, estruturas vão se formando e compondo rela- inteligência é a forma de equilíbrio para a qual
ções entre si, possibilitando a formação de novas tendem todas as estruturas (cognitivas).
estruturas que, aos poucos, terão características A finalidade da atividade intelectual, como já
como as descritas acima (grupo, reticulado e foi dito, é atingir um estado de equilíbrio ou equili-
agrupamento), atingindo sua forma máxima na bração. Tal finalidade pode ser chamada também
estrutura do agrupamento. As características do de adaptação. O auge da equilibração intelectual
agrupamento são as mesmas da estrutura de se dá a partir da aquisição das estruturas formais
pensamento formal, que por sua vez foi construído de pensamento - o desenvolvimento de atividades
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plano das idéias, embora já seja capaz de realizá- testagens, perguntas, dúvidas e curiosidades dos
las no plano concreto. A décalageiii entre a ação alunos e não no próprio discurso.
e o pensamento é incessante. Apenas quando As melhores aulas continuarão sendo letra
toma consciência de seu próprio pensamento, morta se não se apoiarem sobre a própria
quando é capaz de regular os mecanismos de experiência, assim como a inteligência das leis
construção da realidade, quando é capaz de criar da física é impossível sem a manipulação de um
conscientemente implicações entre juízos, é que material concreto3.
o sujeito domina a lógica formal (adolescente) e, Quanto à segunda questão, é necessária a
portanto, é capaz de tornar as experiências percepção de que o erro é parte do processo de
mentais reversíveis. conhecimento e não um desvio do processo. Quan-
Partindo do pressuposto da décalage entre ação e do partimos de nossas idéias em busca de um
pensamento e do pressuposto da irreversibilidade e conhecimento ou da criação de algo novo, estamos
incoerência do pensamento infantil, surge uma sujeitos a cometer erros no meio desse caminho e
questão pedagógica importante: a criança precisa de estes erros não podem ser considerados como
espaço para testar suas hipóteses, para agir sobre o problemas, mas sim como etapas necessárias para
objeto, para fazer perguntas e interpretar a realidade. aquisição das respostas às perguntas desejadas
Ela primeiro precisa agir sobre a realidade e os objetos ou mesmo na criação do novo. A atividade de
para posteriormente reelaborar mentalmente tais pesquisa não pressupõe apenas acertos, mas idas
ações, reinventá-las. Precisa de espaço também para e vindas, aquisições e reavaliações, ensaios e erros
se relacionar em grupos e partilhar experiências e e nada disso pode ser desprezado nessa busca do
conhecimentos com seus pares. conhecimento.
Ao afirmar isso, trago duas outras questões: a Um erro revelador de uma verdadeira pes-
crítica ao verbalismo escolar e a necessidade da quisa é freqüentemente mais útil que uma
não condenação dos erros das crianças. verdade simplesmente repetida, porque o método
A primeira questão é fortemente enfocada por adquirido durante a pesquisa permitirá corrigir
Piaget3, a crítica ao ensino escolar pautado na a falta inicial e constitui um verdadeiro progresso
fala do professor, nos seus conhecimentos e na intelectual, ao passo que a verdade meramente
passividade dos alunos e aceitação desses conhe- reproduzida pode ser esquecida e a repetição é
cimentos. O professor como aquele que domina em si mesma desprovida de valor3.
o conhecimento e não permite que haja espaço Quando se fala em olhar a criança em termos
para dúvidas, para perguntas, para a imaginação de suas potencialidades, não se quer dizer sim-
e para a busca e construção de respostas dos alunos, plesmente ignorar seus erros, mas sim dar impor-
para o trabalho em grupo e as trocas sociais está tância adequada a eles. Quando um aluno é
supondo ser ponto de partida para a aprendi- condenado por seus erros, exagera-se a impor-
zagem o que é ponto de chegada e acaba por tância destes mesmos erros. Quando, por meio dos
considerar o conhecimento e sua aquisição sob o erros, verifica-se qual o processo que a criança
ponto de vista do adulto e não da criança. Se o está adotando na busca pelo conhecimento e adap-
professor considerar a aquisição de conheci- tam-se os métodos às capacidades cognitivas da
mentos sob o ponto de vista do desenvolvimento criança, tem-se uma atitude pedagógica coerente
infantil, terá que agir de modo inverso. Assim, com uma postura preocupada com um desenvol-
ele terá que partir da experiência concreta para vimento infantil pleno e rico. Olhando para esses
chegar ao conhecimento das coisas e não o contrá- erros como etapas necessárias na construção
rio. Terá que se apoiar nessas experiências, nas do conhecimento e tentando superá-los a partir
iii
Termo usado por Piaget referente à defasagem entre a realização de uma ação e sua compreensão pelo indivíduo.
Também se refere a disparidades encontradas num mesmo nível operatório.
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deles mesmos e não apesar deles (ignorando-os Assim, todos os objetos da vida diária, sem
ou condenando-os), os professores podem ser excluir os mais simples e habituais vêm a ser
capazes de inferir sobre os processos de maturação algo como fantasia cristalizada2. Vygotsky2,
que ainda estão em desenvolvimento na criança e portanto, não se limita a considerar criativas
de ajudá-las a amadurecer e a se desenvolver. apenas as invenções e obras dos grandes gênios,
Essa é uma das abordagens do conceito de zona artistas e cientistas reconhecidos, mas enfatiza a
de desenvolvimento proximal introduzido por enorme criação anônima coletiva de inventores
Vygotsky, que se refere à diferença entre o nível anônimos2.
de desenvolvimento real do sujeito, determinado Para Vygotsky2 (assim como uma das premis-
pela capacidade de resolver problemas de forma sas do movimento da Gestalt), a base da criação
independente e o nível de desenvolvimento poten- se refere à capacidade de combinar elementos já
cial do mesmo, caracterizado pela capacidade de conhecidos com novos elementos, compondo um
solucionar problemas com ajuda de outros sujeitos. novo conjunto, um todo com eles. Tal capacidade
A zona de desenvolvimento proximal define, criadora não se encontra desvinculada da reali-
portanto, as funções cognitivas (ou estruturas) que dade cotidiana, restrita a um universo apenas
ainda estão em processo de maturação: o que é fantasioso, mas resulta de interações contínuas
zona de desenvolvimento proximal hoje, será nível entre o sujeito e o mundo que o rodeia, assim como
de desenvolvimento real amanhã. de interação entre os sujeitos (partilhando histó-
A zona de desenvolvimento proximal permi- rias, desejos, etc). Fantasia e realidade compõem
te-nos delinear o futuro imediato da criança e um conjunto estruturado que serve de base para
seu estado dinâmico de desenvolvimento, propi- a criação. Para Vygotsky, tal composição pode
ciando acesso não somente ao que já foi atingido ocorrer de várias formas diferentes2. Uma das
através do desenvolvimento, como também àqui- maneiras se refere ao fato de que toda imaginação
lo que está em processo de maturação14. se compõe sempre de elementos tomados da
Esta é uma maneira de olhar a aprendizagem
realidade, da experiência do homem no mundo.
e o desenvolvimento infantil em termos prospec-
A imaginação e a criação não surgem do nada,
tivos. É um pressuposto do trabalho de pesquisa,
mas são frutos de experiências anteriores do
que é um trabalho caracteristicamente ativo.
sujeito, nas quais os elementos que as compõem
Invenção, criatividade e verificação são os pressu-
são recombinados e reelaborados formando um todo
postos desse trabalho.
novo. Assim, a primeira lei sobre a função imagi-
A atividade criadora e seu desenvolvimento nativa é descrita pelo autor:
Chamamos atividade criadora a toda reali- A atividade criadora da imaginação se encon-
zação humana criadora de algo novo, quer se trate tra em relação direta com a riqueza e a variedade
de reflexos de algum objeto do mundo exterior, da experiência acumulada pelo homem, porque
quer de determinadas construções do cérebro ou esta experiência é o material com que ele ergue
de determinados sentimentos que vivem e se os edifícios da fantasia. Quanto mais rica for a
manifestam somente no próprio ser humano2. experiência humana, tanto maior será o material
A atividade criadora para Vygotsky2 engloba de que dispõe sua imaginação. Por isso, a
toda criação do novo, seja esta criação artística, imaginação da criança é mais pobre que a do
científica ou técnica. Para ele, tudo a nossa volta adulto, por ser menor sua experiência2.
que foi criado por mãos humanas, todo o mundo Ao fazer tal afirmação sobre a relação entre a
da cultura (em oposição ao mundo da natureza), riqueza da experiência humana com a imaginação
tudo é produto da imaginação e da criação do e a capacidade criadora, Vygotsky conclui pela
homem. necessidade pedagógica de ampliação da expe-
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A impressão externa é considerada um todo complexo. A dissociação consiste na separação deste todo em suas partes,
comparando tais partes umas com as outras, conservando alguns elementos e descartando outros. É considerado pelo autor
um processo de extraordinária importância no desenvolvimento mental, servindo de base para o pensamento abstrato e
para a compreensão figurada.
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Combinações formadas entre os elementos dissociados do todo são chamadas associações. Tais combinações não são
estanques, mas se modificam e se reelaboram continuamente.
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DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA E DA CRIATIVIDADE
SUMMARY
The development of creativity and autonomy at school:
what Piaget and Vygotsky say
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