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Elisângela Fernandes
Nessa fase, mesmo antes de falar e pensar, a criança consegue realizar condutas
consideradas lógicas, ligadas à ação sobre objetos concretos. Um bebê de 8 meses, por
exemplo, pode afastar um brinquedo para pegar outro de seu interesse. "Nesse caso, ele
coordena dois esquemas: um esquema meio (afastar) e outro esquema fim (pegar). Trata-
se de uma integração recíproca entre duas ações e não só uma associação mecânica",
afirma Adrian Oscar Dongo Montoya, professor da Unesp, campus de Marília.
O que marca a entrada no quarto período, o operatório formal, a partir dos 12 anos, é a
capacidade de pensar por hipótese. O indivíduo pode agir não só sobre o real mas também
sobre o possível, criando teorias. Por exemplo, pode imaginar que, se não houvesse a
Revolução Francesa, a monarquia seria o sistema de governo predominante até hoje. Essa
hipótese não é real, mas é possível.
Trecho de livro
"Conhecer um objeto implica a sua incorporação a esquemas de ação, e isto é verdade
desde os comportamentos sensóriosmotores elementares até as operações lógico
matemáticas superiores."
Jean Piaget no livro Biologia e Conhecimento.
Comentário
Na citação, Piaget aponta para o processo pelo qual as pessoas passam de um
conhecimento mais simples a outro mais complexo. Nessa trajetória, os esquemas de ação
se ampliam, expandem e incorporam novas informações com base na interação com o meio
e de acordo com o período de desenvolvimento do indivíduo. É o que ocorre no esquema de
reunião. No período sensóriomotor, o bebê é capaz de brincar reunindo cubos. Uma criança
um pouco mais velha irá classificar esses cubos segundo suas qualidades, como cor,
tamanho, formas, peso etc. Finalmente, ao atingir o patamar formal, conseguirá reunir
formas incontáveis, como aspectos comuns a diferentes teorias.
Essa postura pode gerar dois problemas. O primeiro é considerar apenas o ensino do
conteúdo sem notar os conhecimentos e as habilidades de que o aluno dispõe para
compreendê-lo. No outro extremo, está o comportamento de ficar apenas focado no que o
aluno consegue fazer e não atentar para ensinar outros conteúdos mais complexos. "Um
bom trabalho deve congregar os dois pontos de vista: enxergar as potencialidades das
crianças e também aonde se quer chegar, tendo claros os conteúdos que não devem ser
deixados de ensinar", explica Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP). O próprio Piaget refutava a ideia de que é necessário
esperar passivamente que as estruturas mentais se formem. Ao contrário, a ação educativa
favorece fortemente essa construção.
Para cumprir esse objetivo, vale sempre favorecer uma atitude inquiridora, com a
utilização, por exemplo, de situações-problema (leia a última página). "Em qualquer
idade, a criança precisa ser provocada", afirma Cilene. Para ela, um dos grandes desafios
do professor é gerar interesse pelo que deve ser ensinado. "Não existe uma criança que
não tenha vontade de aprender. O problema é que muitas vezes as condições ofertadas
nas aulas não são favoráveis."
Questão de concurso
Prefeitura Municipal de Parauapebas, PA, 2006
Processo seletivo para professor do Ensino Fundamental
Comentário
Para responder à questão, é preciso saber que a metodologia de resolução de problemas
compartilha muitos preceitos da perspectiva construtivista. Entre eles, a necessidade de considerar
o que os alunos sabem e como cada um evolui para criar as condições de avanço. O objetivo deve
ser associar (e não sobrepor) os conteúdos às expectativas dos alunos, de forma que eles se
sintam motivados a aprender o que precisam. Além disso, a interação (e não a segregação) entre
estudantes auxilia o aprendizado por favorecer o intercâmbio de conhecimentos para resolver
desafios.
Resumo do conceito
Esquemas de ação
Elaborador : Jean Piaget (1896-1980)
Esquemas de ação são as formas como o ser humano interage com o mundo. Nesse
processo, ele organiza mentalmente a realidade para entendê-la, desenvolvendo a
inteligência. As formas de interação evoluem progressivamente conforme a faixa
etária e as experiências individuais. Segundo Piaget, o desenvolvimento se dá em
quatro períodos: sensório-motor (até 2 anos), pré-operatório (de 3 a 7 anos),
operatório concreto (de 8 a 11 anos) e operatório formal (a partir de 12 anos).
BIBLIOGRAFIA
A Construção do Real na Criança, Jean Piaget, 392 págs., Ed. Ática, tel. 0800115152, esgotado
A Epistemologia Genética, Jean Piaget, 136 págs. Ed. Martins Fontes, tel. (11) 32938150, 30,10
reais
Biologia e Conhecimento, Jean Piaget, 423 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 22339000, 65,90 reais
O Construtivismo na Pesquisa Vol. 2 Alternativas Metodológicas, Cilene Ribeiro de Sá Leite
Charkur, Ed. CRV, 191 págs., tel. (41) 30396418, 32,13 reais
O Nascimento da Inteligência na Criança, Jean Piaget, 382 págs, Ed. LTC, tel. (11) 50800780, 98
reais