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Resumo - Este trabalho enfoca dois aspectos fundamentais na interação professor-aluno: a sintonia entre o professor e sua
turma, e a expectativa do professor quanto ao desempenho dos alunos. Cruzando-se informações de diferentes instrumentos
contextuais, aplicados aos professores e alunos, com os resultados dos testes cognitivos dos alunos, pôde-se identificar os
fatores que distorcem a percepção do professor acerca da turma e influenciam sua expectativa. Constatou-se que a expectativa
do professor é influenciada por suas percepções em relação ao ambiente escolar e pelas características sociodemográficas dos
alunos. Observou-se que a expectativa do professor provoca um impacto positivo na proficiência do aluno, mesmo considerando-
se o efeito de variáveis sociodemográficas tradicionalmente associadas ao desempenho. Essas conclusões foram obtidas a partir
da construção de modelos hierárquicos.
Palavras-chave: avaliação educacional; expectativa do professor; desempenho do aluno; modelos de regressão hierárquicos.
ABSTRACT - This work focus on two basic aspects on teacher-student interaction: the tune between teacher and their class,
and teacher’s expectation with regard to students’ performance. When cross analyzing the information of different contextual
instruments, applied to teachers and students, with results of the students’ cognitive tests, it was possible to identify the
factors that distort the teacher’s perception about the class and influence his/her expectation. It was noticed that the teacher’s
expectation is influenced by his/her perceptions in relation to the school environment and the students’ social-demographic
characteristics. It was observed that the teacher’s expectation provokes a positive impact on the student’s proficiency, even
when it is considered the effect of social-demographic variables, which are traditionally associated to the performance. All
these conclusions were obtained by constructing hierarchical models.
Keywords: educational evaluation; teacher’s expectation; student’s performance; hierarchical linear modeling.
As “Avaliações em Larga Escala” são um dos elementos Teoria da Resposta ao Item (TRI) (Lord, 1980), de forma a
importantes na busca de soluções para se garantir o acesso se poder compará-los com os resultados de outras avaliações.
dos alunos a um ensino de qualidade nas diferentes redes de Esse tipo de escala é, genericamente, denominado de escala
ensino. O Ministério da Educação, por meio do Sistema de de proficiências. A utilização da Teoria da Resposta ao Item
Avaliação da Educação Básica (SAEB), avalia a qualidade permite, ainda, a produção de uma escala única para os di-
nacional do ensino a cada dois anos. Alguns estados como versos níveis de aprendizado (cf. Klein, 1997), viabilizando
Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul a comparação do desempenho dos alunos de diferentes séries
e Ceará, entre outros, possuem programas específicos como e sistemas educacionais.
o Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado Em Minas Gerais, a Secretaria de Estado da Educação ins-
de São Paulo (SARESP) e o Sistema Mineiro de Avaliação tituiu, no ano de 2000, o (SIMAVE), que realiza, anualmente,
da Educação Pública (SIMAVE), de onde são extraídos os o Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB). No
dados usados nesta pesquisa. Para uma discussão mais abran- PROEB, como no SAEB e na maior parte dessas avaliações,
gente das finalidades, objetivos e demais características das os testes são aplicados aos alunos da 4ª e 8ª séries do Ensino
Avaliações em Larga Escala, pode-se consultar, por exemplo, Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio.
Bonamino (2002) e Penna Firme (1982). Além dos testes, no PROEB são aplicados questionários
Os resultados dos alunos que participam das Avaliações contextuais específicos. Alunos respondem a um questionário
em Larga Escala são apresentados segundo uma escala com perguntas relacionadas ao padrão de vida, às caracte-
contínua de desempenho, com nível de mensurabilidade rísticas culturais, aos hábitos de estudo, às características
intervalar, construídos a partir de modelos psicométricos da familiares, ao apoio familiar e ao ambiente escolar. No ques-
tionário dos professores, são apresentadas questões relativas
às características sociodemográficas, à formação profissional
1 Endereço para correspondência: Centro de Políticas Públicas e Avalia-
ção da Educação – CAEd. Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF.
e a práticas pedagógicas. O questionário do diretor, do mesmo
Av. Dr. Deusdedith Salgado, 1311 – B, Cascatinha. Juiz de Fora, MG. modo, é aplicado para apurar dados referentes às característi-
CEP 36033-000. E-mail: tufi@caed.ufjf.br. cas sociodemográficas, bem como titulação e características
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do exercício profissional, além de uma avaliação geral das O presente trabalho tem como objetivo geral estudar a
condições da escola e do trabalho dos professores. relação da “expectativa” do professor, quanto ao desempenho
Todas essas informações são coletadas com o objetivo de da sua turma em um subconjunto específico de questões do
explicar as proficiências dos alunos e de encontrar fatores teste do PROEB – 2006, com o resultado em todo o teste e
associados à eficácia e à equidade da educação fornecida com variáveis contextuais, como a condição socioeconômi-
pelas escolas. ca dos alunos, obtidas por meio de questionários aplicados
A maior parte dos trabalhos de análises contextuais das a alunos e professores. Um objetivo adicional é estudar a
Avaliações em Larga Escala tem como propósito explicar a relação da “sintonia” entre o desempenho e a expectativa,
proficiência dos alunos com base em fatores intra e extraes- com as variáveis contextuais e o resultado no teste. Espera-
colares. Entretanto, o inter-relacionamento entre tais fatores se que o professor seja capaz de diagnosticar, pelo menos
é colocado em segundo plano, fazendo com que não sejam em parte, o desempenho de seus alunos no teste com base
estudadas as condições que os afetam e, consequentemente, no que é ensinado e no conhecimento prévio que ele tem da
não sejam concebidas estratégias de intervenção a partir situação de aprendizado de sua turma. Entretanto, podem
desses inter-relacionamentos. ocorrer, em parte, desvios na percepção dos professores,
O impacto da expectativa do professor no desempenho provocando erros nesse diagnóstico. Este trabalho busca
do aluno vem sendo estudado na literatura sistematicamente mapear quais variáveis podem provocar tais desvios e de que
ao longo de, pelo menos, 40 anos. Em um dos trabalhos pio- forma influenciam o diagnóstico, tanto aquele que subestima
neiros, Rosenthal e Jacobson (1968) realizaram um estudo quanto aquele que superestima o desempenho dos alunos.
controlado em uma escola pública nos Estados Unidos, em Também procura avaliar o efeito líquido da expectativa sobre
que alunos foram apontados aos professores como sendo de a proficiência, após o controle das variáveis que alteram a
alto potencial (growth spurters), teoricamente a partir de percepção do professor.
resultados de testes cognitivos. No entanto, os alunos foram
escolhidos aleatoriamente, e sequer fizeram o teste cognitivo
apontado pelos pesquisadores. Após um ano, o resultado Método
encontrado foi de que os alunos, apontados aos professores
como sendo de alto potencial, acabaram apresentando um Participantes
crescimento em suas proficiências, em média, 50% maior
que a dos demais. Fica subentendida, no estudo de Rosenthal
e Jacobson, a interação entre a expectativa e o desempenho Este estudo levou em consideração informações de 4.749
do aluno, com efetiva intervenção do professor no processo escolas de Minas Gerais que participaram do Programa de
de aprendizado. Avaliação da Educação Básica (PROEB/2006), das quais
Por outro lado, Clifford e Walster (1973) realizaram um 2.185 pertenciam à Rede Estadual de ensino e 2.484, à
estudo em que as fotos de um grupo de alunos eram apre- Municipal. Foram utilizados dados obtidos a partir de ques-
sentadas a dois grupos de professores: o primeiro julgou tionários aplicados a 258.670 alunos da 4ª série do Ensino
a aparência física dos alunos (attractiveness) e o segundo Fundamental, além dos resultados do teste do PROEB.. Além
julgou o provável desempenho acadêmico, o relaciona- das informações prestadas pelos alunos, foram utilizadas
mento social e as perspectivas de promoção acadêmica. informações fornecidas por 11.153 professores em um ques-
Os autores mostraram a existência de correlação entre os tionário próprio. As respostas de todos alunos e professores
dois julgamentos. Os autores concluíram que os professores foram incluídas neste estudo.
constroem sua expectativa, em parte, pela característica
física dos alunos. Instrumentos
Mais recentemente, Alvidrez e Weinstein (1999) estu-
daram a associação entre a avaliação da inteligência e per-
sonalidade, por parte dos professores, de um grupo de 110 Questionário do professor. Esse questionário continha
alunos na Pré-Escola, com 4 anos de idade, e o desempenho três partes. A primeira abordava características sociodemo-
dessas crianças em dois testes realizados no final do Ensino gráficas, disciplina lecionada e participação em programas
Médio (Scholastic Aptitude Test - SAT e Grade Point Ave- de formação continuada.
rage - GPA). Além da avaliação dos professores, os alunos A segunda parte abordava temas variados como “rela-
tiveram, ainda, uma medida de inteligência obtida por um cionamento com os colegas e com o diretor”, “motivação
teste objetivo. Crianças com maior condição socioeconômica pessoal”, “relação com os pais dos alunos”, “indisciplina
e percebidas como independentes foram avaliadas como dos alunos”, “disponibilidade de materiais didáticos” e
mais inteligentes pelos professores do que foi apontado no “instalações da escola”, entre outros. Para abordar esses
teste objetivo. Por outro lado, crianças com menor condição temas, solicitou-se ao professor que fornecesse seu nível de
socioeconômica e percebidas como imaturas foram avaliadas concordância com o conteúdo de determinadas expressões
como menos inteligentes do que apontado no teste. Após o associadas. Para cada tema (e.g., relacionamento com os co-
controle pela condição socioeconômica do aluno, a sub ou legas) eram apresentadas algumas assertivas (e.g., O projeto
superestimação da inteligência relativamente à medida obtida educacional desta escola é consequência da troca de ideias
no teste objetivo previram significativamente os resultados entre os professores), sendo solicitado ao professor que ex-
no SAT e no GPA. pressasse sua concordância com o conteúdo da asssertiva por
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Expectativa do Professor
meio de uma escala Lickert com cinco níveis (1 – discordo Análise de dados
plenamente; 5 – concordo plenamente).
Na terceira parte do questionário foram inseridas 12 ima- O relacionamento entre as respostas atribuídas às asserti-
gens de itens pertencentes aos testes cognitivos do PROEB, vas pode ser conceitualmente explicado pela existência de um
para os quais se solicitou aos professores uma estimativa constructo ou fator latente, não observado diretamente. Para
da parcela da turma que acertaria o item, conforme mostra identificar os constructos, ou ainda, confirmar a existência
a Figura 1. daqueles que foram previamente concebidos, utiliza-se uma
Os temas abordados no questionário do professor foram série de técnicas estatísticas denominadas, genericamente,
escolhidos a partir de um estudo do referencial teórico de Análise Fatorial.
utilizado pelos especialistas em educação para explicar o Na Análise Fatorial, a variância – medida de variabilidade
desempenho dos alunos nos testes. As assertivas apresentadas observada para as diferentes respostas de uma assertiva –
aos professores se relacionavam a um ou a mais temas. Por pode ser decomposta em uma parte comum, ou seja, compar-
esse motivo, as respostas manifestadas para as diferentes tilhada com as respostas de outras assertivas, e teoricamente
assertivas apresentadas aos professores não são totalmente explicada pelos fatores (uma possível representação para o
independentes. As expressões, em diversos casos, foram, constructo latente), ou em uma parte específica, aquela ex-
propositalmente, construídas de maneira que estivessem clusiva à assertiva, e não explicada pelos fatores (cf. Johnson
associadas a um tema específico, e também porque determi- & Wichern (1992).
nadas associações poderiam ocorrer. A partir do modelo construído, pode-se: (i) definir o nú-
Questionário do aluno. Esse questionário foi dividido mero de fatores necessários para explicar, adequadamente,
em três partes. Na primeira parte, apresentaram-se questões as correlações observadas para as assertivas e, consequen-
sociodemográficas, abrangendo cor, gênero e idade. Na se- temente, o grau de explicação obtido com esse modelo; (ii)
gunda, foram abordadas questões acerca da posse de bens, observar quais as assertivas mais correlacionadas com cada
tanto de caráter de conforto, tais como o número de geladeiras fator. Essas assertivas podem ser utilizadas com o intuito de
e carros na residência, quanto de caráter cultural, tais como se interpretar e identificar o fator como a representação para
número de computadores e livros, e se a família do aluno a construção teórica, isto é, para o constructo.
recebia “Bolsa-Família”. Na solução do primeiro problema (i), pode-se utilizar
A terceira parte foi constituída por questões que expres- certas diretrizes, das quais algumas foram empregadas neste
savam a vivência escolar sob o enfoque do aluno. Foram in- trabalho, como identificar se o percentual da variância expli-
cluídas, nessa parte, frases que expressavam fatos associados cada pelo modelo com um determinado número de fatores
ao comportamento em sala de aula, ao empenho do professor é expressivamente maior que aquela explicada pelo modelo
e seu compromisso com o conteúdo (e.g., “O(A) professor(a) que inclui todos os fatores. Quanto ao segundo problema (ii),
se esforça para ajudar os alunos”). Solicitou-se que o aluno este pode ser resolvido pela inspeção das chamadas cargas,
marcasse a opção que refletisse a maior proximidade entre o que medem a associação entre um fator e cada variável.
número de vezes em que os fatos ocorriam em sala de aula e Variáveis com valores baixos para as cargas são candidatas
os pontos de uma escala Likert com quatro níveis ordinais. à eliminação na explicação de um fator determinado, ou, até
O primeiro nível correspondia ao fato percebido pelo aluno mesmo, do modelo. Uma solução útil, que facilita a análise e
“Em todas as aulas” e o quarto nível, ao fato “Nunca” per- a interpretação dos fatores, é um modelo em que as variáveis
cebido por ele. apresentam cargas elevadas para um único fator e cargas
Item 5
(M04032SI) Maria tem 30 chaveiros. Ela agrupou esses chaveiros de 3 em 3.
Quantos agrupamentos Maria fez?
A) 10
B) 13
C) 33
D) 90
1) Qual é a sua expectativa em relação à parcela de alunos que conseguirão responder a esta questão?
□ Todos. □ Mais da metade. □ Metade.
□ Menos da metade. □ Uns poucos. □ Nenhum.
Figura 1. Exemplo de item apresentado ao professor durante o ‘experimento’.
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pouco expressivas para os demais. Para se alcançar uma Varimax. A matriz de componentes rotacionados do modelo
configuração desse tipo, pode-se utilizar um procedimento de análise fatorial é mostrada na Tabela 2.
muito comum, que consiste na transformação dos fatores Os dois primeiros fatores podem ser denominados de
originalmente construídos. Esse procedimento é a rotação “Percepções acerca do Ano Passado” e “Perspectivas para
ortogonal pelo método Varimax. Este Ano” por terem cargas elevadas em frases que incluem
Os fatores são interpretados levando em consideração a a percepção de como a situação se encontrava no ano anterior
correlação de cada um deles com cada variável: quanto maior e de quais seriam as perspectivas para o ano corrente (2006).
a correlação, em valores absolutos, maior será a influência Tais fatores não foram utilizados em análise subsequente por
do fator na variável considerada, e o sinal indica se ambos não serem estatisticamente significantes. Os demais fatores,
aumentam na mesma direção ou na direção reversa. levados em consideração nas análises, estão enumerados a
Finalmente, a medida do fator, utilizada em análises seguir.
posteriores, como, por exemplo, na explicação das profici- A “Falta de Colaboração dos Pais” (3º fator) refere-se à
ências dos alunos, foi extraída a partir de um modelo uni ou falta de apoio dos pais na aprendizagem do filho, mas também
multidimensional. Na solução multidimensional, o modelo à falta de disciplina dos alunos e à frequência destes às aulas.
é construído, simultaneamente, com todos os fatores e to- Assim, na percepção dos professores, a falta de apoio dos pais
das as variáveis. Por outro lado, no caso unidimensional, na aprendizagem dos alunos está associada à indisciplina e
selecionam-se as assertivas mais correlacionadas com o fator à frequência irregular às aulas.
em questão, garantindo-se que a presença somente desse fator A “Indisciplina dos Alunos segundo os Professores” (4º
explique uma porcentagem expressiva da variância. fator) está relacionada, é claro, à assertiva sobre a falta de
A análise fatorial foi empregada na produção de medidas disciplina dos alunos, e também ao fato de que os alunos da
e interpretação dos constructos para os dados de ambos os escola desrespeitam o professor, à intimidação de colegas e,
questionários contextuais (professores e alunos). ainda, se há propensão ao uso de álcool e de drogas. Vale
destacar que os professores, cuja percepção é mais aguçada
em relação à indisciplina dos alunos, tendem a identificar a
Resultados e Discussão insensibilidade dos outros professores diante das necessida-
des individuais dos alunos.
Questionário do professor “Carência de Materiais e Instalações na Escola” (5º
fator) relaciona-se à assertiva sobre as más condições das
instalações da escola e àquela relacionada à carência de
Do universo de docentes estudado, 97% eram mulheres; materiais didáticos.
85% lecionavam Língua Portuguesa e Matemática, 8% ape-
nas Língua Portuguesa e 7% apenas Matemática; constatou- Questionário dos alunos
se, ainda, que 82% dos professores participaram de alguma
atividade de formação continuada nos últimos dois anos.
Das assertivas retiradas do questionário do professor, foram A população estudada conta com 50,4% de meninos. O
construídos sete fatores, dos quais quatro foram utilizados percentual de alunos pardos revelou-se o mais alto (42%), se-
em análises subsequentes por apresentarem comportamen- guido de brancos (33,5%), de pretos (15%) e de outros (9,5%).
to estatístico significante na explicação da expectativa do A defasagem do aluno foi calculada pela diferença entre a
professor quanto aos resultados dos seus alunos. São eles: sua idade e a idade recomendada para se cursar a série referida
“Coesão e Trabalho em Equipe”, “Indisciplina dos Alunos”, (neste caso, 10 anos de idade para a 4ª série), admitindo-se
“Falta de Colaboração dos Pais” e “Carência de Materiais e uma tolerância para aqueles que completassem 11 anos no
Instalações”. Não obtiveram comportamento estatisticamente segundo semestre. Vale ressaltar que o percentual de alunos
significante, neste trabalho, os seguintes fatores: “Percepções que se encontrava abaixo da idade recomendada (com 10
acerca do Ano Passado”, “Perspectivas para Este Ano” e anos incompletos) foi bastante expressivo, em torno de 31%,
“Influência do Diretor no trabalho do Professor”. Os fatores e o percentual de defasados foi de aproximadamente 24%.
“Coesão e Trabalho em Equipe” e “Influência do Diretor Cerca de 48% dos alunos responderam que recebiam
no trabalho do Professor” foram construídos por meio de “Bolsa-Família”, e, em uma análise específica, mostrou-se
soluções unidimensionais, e os demais, por meio de solu- que essa variável constituiu um melhor indicador da condição
ções multidimensionais. A seguir, serão descritos cada um socioeconômica do que os indicadores construídos a partir
desses fatores. dos itens de conforto (posse de bens materiais). Uma possível
O fator “Coesão e Trabalho em Equipe” reflete o planeja- explicação para esse fato é que esta se trata de uma variável
mento conjunto do conteúdo programático entre professores, categórica binária, menos sujeita a erros de coleta de dados.
a participação na discussão e na troca de ideias acerca do Portanto, essa variável foi preferida nos modelos de regressão
projeto pedagógico da escola, e em que medida a troca de construídos para explicar a expectativa do professor quanto
ideias influencia o ensino que a escola oferece aos seus alu- ao resultado do aluno.
nos. Na Tabela 1, são representados o fator e suas assertivas As respostas atribuídas às frases, na terceira parte do
mais associadas: questionário, foram recodificadas por um critério baseado
Os demais fatores foram extraídos por meio de um mo- no número aproximado de dias letivos, seguindo a regra:
delo multidimensional, obtido após procedimento de rotação à opção A - “Em todas as aulas”, atribuiu-se o valor 200
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Expectativa do Professor
Tabela 1. Matriz de componentes principais do fator coesão e trabalho em equipe – Questionário do professor.
Q.16 - O ensino que a escola oferece aos alunos é muito influenciado pela troca de ideias
0,74 0,55
entre os membros da equipe da escola
Q.37 - Nesta escola, tenho poucas oportunidades para discutir o conteúdo programático da
-0,70 0,48
minha turma com a equipe da escola
Q.21 - O projeto educacional desta escola é consequência da troca de ideias entre os profes-
0,68 0,46
sores
Q.17 - Os professores desta escola se esforçam para coordenar o conteúdo das matérias entre
0,66 0,44
as diferentes séries?
Q.34 - Nesta escola, tenho poucas oportunidades em discutir ideias sobre ensino-aprendiza-
-0,66 0,44
gem
Q.36 - O conteúdo programático entre diferentes séries não é planejado em equipe -0,62 0,38
Q.38 - Existem muitos projetos nesta escola e eu não consigo ter uma visão geral deles -0,51 0,26
(aproximadamente 200 dias letivos); à B - “Na maioria das O fator “Exigência do Professor” associa-se, na percepção
aulas”, o valor 140; à C - “Em algumas aulas”, o valor 60; do aluno, ao fato do professor exigir trabalhos bem feitos,
e à opção D - “Nunca”, valor 0. Excluindo-se a frase “O(A) estudo e atenção de seus alunos.
professor(a) ajuda mais a uns do que a outros”, foi realizada O fator “Falta de Compromisso dos Professores e Alunos
uma Análise Fatorial, obtendo-se uma solução de cinco fato- para com a Aula” engloba o compromisso do professor com
res, com explicação de 54% da variância. De forma a facilitar sua frequência às aulas e o hábito dos alunos saírem antes
a interpretação dos fatores, utilizou-se, também, a rotação do término das aulas.
seguindo o método Varimax. A matriz de componentes ro- O último fator, “Compromisso do Professor com o De-
tacionados é mostrada a seguir (ver Tabela 3) e, logo após, ver”, associa-se, na percepção do aluno, ao empenho do pro-
se faz uma interpretação dos fatores obtidos. fessor em mostrar, em discutir e em corrigir o dever de casa.
O primeiro fator, denominado de “Interesse e Dedicação Calcularam-se os valores dos escores de cada fator para
do Professor”, está associado às seguintes assertivas: “O(A) cada aluno e, posteriormente, a sua média nas respectivas
professor(a) está disponível para esclarecer as dúvidas dos alu- turmas. A média dos escores se constitui em um indicador
nos”, “O(A) professor(a) mostra interesse no aprendizado de mais fidedigno do perfil do professor e da atmosfera em
todos os alunos” e “O(A) professor(a) se esforça para ajudar”. sala de aula do que cada percepção individual dos alunos.
O segundo fator, “Barulho e Bagunça na Sala de Aula”, Também foi incluído, nas análises, o percentual de alunos
apresenta correlação com as frases que se referem à espera pretos (“Percentual de Pretos”), de meninos (“Percentual
do professor pelo silêncio, à ocorrência de barulho e desor- de Alunos do Gênero Masculino”) e de alunos que recebem
dem na sala de aula, bem como à saída dos alunos antes do Bolsa-Família (“Percentual de Alunos que Recebem Bolsa-
término das aulas. Família”), bem como a defasagem média (“Defasagem Média
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Componentes
Assertivas Comunalidade
1 2 3 4 5
Nota - Método de extração: componentes principais; rotação: método Varimax com normalização de Kaiser; os valores em
negrito se referem às cargas utilizadas para se interpretar os fatores.
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Expectativa do Professor
Q.27 - Professor esclarece as dúvidas 0,70 0,02 0,06 -0,07 0,07 0,50
Q.29 - Professor se esforça para ajudar 0,65 -0,03 0,12 -0,04 0,09 0,44
Q.26 - Alunos expressam opiniões 0,63 0,01 0,02 0,06 0,09 0,41
Q.22 - Professor tem que esperar silêncio 0,01 0,75 -0,07 0,06 -0,00 0,57
Q.31 - Barulho e desordem na sala 0,00 0,69 0,02 0,21 -0,00 0,52
Q.30 - Alunos atentos ao professor 0,23 -0,40 0,07 0,65 0,08 0,65
Q.23 - Professor exige estudo e atenção 0,14 0,01 0,81 -0,02 0,07 0,68
Q.21 - Professor corrige dever 0,07 -0,15 -0,02 -0,05 0,84 0,74
dos Alunos”), e a proficiência média em Língua Portuguesa aplicados aos alunos, no questionário aplicado aos profes-
e em Matemática na turma. As variáveis mais influentes são sores, das quais seis eram questões de Matemática e seis
representadas na Tabela 4. de Língua Portuguesa. Solicitou-se, então, ao professor a
sua estimativa acerca da parcela da turma que acertaria o
Expectativa do Professor com Relação ao Desempenho item (ver Figura 1).
do Aluno Tendo em vista uma aproximação das alternativas a uma
escala intervalar, atribuíram-se às respostas dos professores
os seguintes valores: todos (100%), mais da metade (75%),
Com o objetivo de aprofundar o conhecimento da metade (50%), menos da metade (25%) e uns poucos (10%).
“expectativa” e da “sintonia” do professor quanto ao Obteve-se, assim, a distribuição das expectativas dos pro-
desempenho de seus alunos e de estabelecer possíveis fessores acerca do acerto de cada item pela turma e o seu
relações dessas variáveis com as demais descritas an- percentual geral de acerto. Conforme se observa na Tabela
teriormente, foi realizado um ‘experimento’ no teste do 5, uma parte razoável dos professores tem uma ideia do re-
PROEB-2006. Esse ‘experimento’ consistiu na inserção sultado alcançado pela turma. Há, também, um subconjunto
de 12 imagens de itens, pertencentes aos testes cognitivos expressivo de professores que superestimam os resultados
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Tabela 5. Distribuição das expectativas do professor em relação ao percentual de alunos que responderão corretamente a cada
item apresentado.
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Expectativa do Professor
observados no teste.
-3,00
Para compor uma medida geral da Sintonia para cada Figura 2. Expectativa do professor quanto ao desempenho do
professor, tomou-se para cada item a diferença entre o per- aluno em função da diferença entre o desempenho esperado
centual de acerto esperado e o percentual de acerto observado e o observado.
na sua turma. A média dessas diferenças, utilizando-se todas
as questões, compôs uma medida geral denominada de “Di- individuais podem ser representadas por uma única medida
ferença Entre o Esperado e o Observado”. À medida que o denominada “Expectativa” do professor quanto ao desem-
valor absoluto dessa diferença se distancia de zero, menos penho do aluno, que foi ainda padronizada, isto é, extraída
o professor acerta o desempenho da turma nas questões com média igual a 0 e desvio padrão igual a 1.
selecionadas do teste. A “Diferença Entre o Esperado e o
Observado” pode ser considerada, então, uma forma de se A relação entre a sintonia e a expectativa
aferir a sintonia da expectativa do professor com o desem-
penho de sua turma.
Para efeito de análise, consideraram-se professores A relação entre as duas medidas é bastante relevante,
“sintonizados” aqueles que apresentaram valores para a como se pode ver por meio do coeficiente de correlação de
“Diferença Entre o Esperado e o Observado” entre -10% e Pearson, que apresentou um valor razoavelmente forte e
+10%, ou seja, apresentaram expectativas muito próximas do positivo (r = 0,62), mostrando que quanto maior é a “Expec-
desempenho efetivamente obtido. Esses professores, caracte- tativa” do professor quanto ao desempenho do aluno, maior
rizados dessa forma, correspondem a 47% do total. Aqueles
professores que erraram os resultados dividiram-se entre os Tabela 6. Matriz de cargas da Análise Fatorial da
que erraram por superestimar, apresentando diferença entre “Expectativa” do professor quanto à parcela de respostas
o esperado e o observado maior que 10%, e os que erraram corretas em 12 itens do PROEB-2006.
por subestimar, apresentando diferença menor que -10%.
A categoria denominada “sintonizados” foi colocada como Teste Item Componente Comunalidade
focal, recebendo valor igual a 1 e os “não sintonizados”,
como referência, com valor igual a 0.
1 0,75 0,57
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será a “Diferença Entre o Esperado e o Observado”. Ou seja, menos evidentes as relações existentes entre a expectativa e as
professores com alta expectativa tendem a superestimar os demais variáveis. Por esses motivos, foi realizada a seguinte
acertos dos alunos, e vice-versa. Na Figura 2 pode-se observar sequência de análises:
claramente essa relação. (i) Inicialmente, foram construídos modelos de Re-
Como um dos objetivos do presente estudo é identificar gressão Linear Simples com cada variável independente,
as variáveis contextuais dos alunos, professores, diretores a fim de se mensurar sua influência sem nenhuma forma
e escola associadas à “Sintonia” e à “Expectativa” do de controle;
professor acerca do desempenho dos alunos, construiu-se (ii) Num segundo momento, foram inseridas as variáveis
modelos de regressão específicos para identificar essas contextuais do professor e da turma para que fosse possível
relações. analisar suas relações com a expectativa do professor, tendo
sido controlado o efeito das demais, conforme apresentado
Um modelo explicativo para a “Expectativa” do no Modelo 1 da Tabela 8;
professor quanto ao resultado do aluno (iii) Por fim, as variáveis Sintonia do Professor e pro-
ficiências médias da turma em Língua Portuguesa e em
Matemática foram adicionadas no Modelo 2. O objetivo
Para uma análise preliminar de como a “Expectativa” era constatar a maneira pela qual o professor forma uma
se associa às demais variáveis, a variável original contínua expectativa acerca do desempenho de sua turma, em função
foi recodificada em uma variável ordinal com os seguintes das variáveis contextuais para alunos de mesma habilidade
níveis: baixo, quando a “Expectativa” apresenta valor cognitiva.
menor ou igual a -0,5; mediano, quando o valor situa-se Os resultados dos modelos indicados acima são apresen-
entre -0,5 e 0,5; e alto, se o valor é maior ou igual a 0,5. tados na Tabela 8.
Para cada nível da nova representação da “Expectativa” do Os coeficientes dos Modelos de Regressão Linear
professor, foram calculadas as médias e os percentuais das Simples foram sempre significantes. De fato, as variáveis
demais variáveis. A Tabela 7 apresenta esses resultados. escolhidas para a construção do modelo foram apontadas,
Essa tabela mostra, por exemplo, que maiores níveis de em estudos anteriores, como importantes para a explicação
“Expectativa” associam-se à maiores níveis de condição das proficiências individuais do aluno (Soares, 2003). É
socioeconômica da turma e maior nível de “Interesse e natural admitir que pelo menos parte delas tenha também
Dedicação do Professor”. importância na explicação da “Expectativa” do professor,
Porém, a análise pelas médias e percentuais da Tabela isso porque a expectativa está fortemente correlacionada
7 não é suficiente para compreender todas as associações com a proficiência média da turma. No entanto, a principal
existentes, muito menos separar o efeito “líquido” de cada informação é o valor apresentado pelos coeficientes nesses
variável, quando controlado o efeito das demais. A forma modelos de regressão simples e o grau de significância,
como se constrói a variável recodificada pode tornar mais ou pois são utilizados como base em comparações subse-
Tabela 7. Médias e percentuais das variáveis contextuais por cada nível de “Expectativa do Professor”.
Níveis de Expectativa
Variáveis Contextuais
Baixo Mediano Alto Total
Interesse e Dedicação do Professor -0,14 0,00 0,13 0,00
Exigência do Professor -0,07 0,00 0,06 0,00
Compromisso do Professor com o Dever -0,07 0,01 0,04 0,00
Barulho e Bagunça na Sala de Aula 0,15 0,00 -0,13 0,00
Falta de Compromisso dos Professores e
0,18 0,00 -0,16 0,00
Alunos para com a Aula
Percentual de Alunos do Gênero Masculino 53,0 51,0 50,0 51,0
Percentual de Pretos 17,0 15,0 14,0 15,0
Defasagem Média dos Alunos (anos) 1,73 1,57 1,50 1,59
Percentual de Alunos que Recebem Bolsa-Família 57,0 50,0 45,0 50,0
Indisciplina dos Alunos 0,06 0,00 -0,05 0,00
Falta de Colaboração dos Pais 0,21 -0,01 -0,18 0,00
Carência de Materiais e Instalações 0,10 -0,01 -0,08 0,00
Coesão e Trabalho em Equipe -0,17 0,04 0,13 0,01
Percentual de Professores em Sintonia 53 57 26 47
Proficiência em Língua Portuguesa 174,5 187,4 196,9 186,8
Proficiência em Matemática 179,5 193,2 203,6 192,6
Percentual sobre a população geral 26,1 44,5 28,4 100
Nota - Todos os fatores possuem média 0 e desvio padrão 1.
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Expectativa do Professor
quentes à medida que se introduzem as demais variáveis (iii) das atitudes do professor frente a algumas condições es-
de controle. colares, como a “Carência de Materiais e Instalações”, a “Falta
Como se pode observar no Modelo 1, apesar de na ava- de Colaboração dos Pais” e a “Coesão e Trabalho em Equipe”.
liação dos alunos o grau de “Exigência do Professor” e de Individualmente, a “Expectativa” está correlacionada
“Compromisso do Professor com o Dever” serem caracterís- ao desempenho da turma (r = 0,36 para Língua Portuguesa
ticas que em análises anteriores mostraram-se extremamente e r = 0,35 para Matemática), podendo, de certa forma, ser
relevantes para a explicação da proficiência dos alunos construída pelo professor também a partir de um diagnóstico
(Soares, 2005), essas características não apresentaram, aqui, do desempenho, com base no conhecimento de seus alunos.
impacto substancial na “Expectativa” do professor quanto Para entender como, além do diagnóstico do professor, outras
ao desempenho do aluno. A variável “Interesse e Dedicação variáveis contextuais afetam a expectativa do professor, no
do Professor” manteve-se significante (ao nível de 2%), Modelo 2 foram introduzidas as variáveis indicadoras da
porém foi observada uma queda considerável no valor de proficiência da turma e da “Sintonia” do professor.
seu coeficiente. Isso é um indicativo de que a expectativa No Modelo 2 proposto, reforça-se a constatação de que
independe do perfil do professor nesse nível de controle. as características do professor avaliadas pelos alunos, como
Por outro lado, foram relevantes as influências das variáveis o nível de “Exigência do Professor” e de “Compromisso
representativas: do Professor com o Dever”, não apresentam influências
(i) das características de turma, como “Percentual de significativas sobre a “Expectativa” e o nível de “Interesse
Alunos do Gênero Masculino”, “Percentual de Pretos”, de e Dedicação do Professor”. Entretanto, continuaram signifi-
alunos de baixa condição socioeconômica, representada pela cantes características da turma como “Percentual de Alunos
variável “Percentual de Alunos que Recebem Bolsa-Família” do Gênero Masculino”, “Percentual de Pretos” e “Percentual
e pela “Defasagem Média dos Alunos”; de Alunos que Recebem Bolsa-Família”, e algumas atitudes
(ii) da atmosfera em sala de aula, constituída pelo grau do professor frente às condições escolares como a “Carência
de “Barulho e Bagunça em Sala de Aula” e de “Descompro- de Materiais e Instalações”, a “Falta de Colaboração dos
metimento dos Alunos e do Professor para com as Aulas”; Pais” e a “Coesão e Trabalho em Equipe”. Deixaram de ser
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Tabela 9. Modelo de regressão linear hierárquico para as proficiências em língua portuguesa e matemática.
Língua Portuguesa Matemática
Variáveis do 1° Variáveis do
Nível 2° Nível Coeficientes p Coeficientes p
Gênero
Intercepto -6,54 0,00 2,32 0,00
Masculino
Defasagem do
Intercepto -3,91 0,00 -4,53 0,00
Aluno
Receber Bolsa-
Intercepto -5,79 0,00 -5,86 0,00
Família
que são demasiadamente moderados com relação a sua socioeconômicas dos alunos. Podemos, então, sugerir
expectativa e, por isso, subestimam os resultados. Muito que, de certa forma, o diagnóstico do professor e, con-
provavelmente, em parte, a sintonia entre o desempenho sequentemente, sua expectativa são influenciados por
esperado e o observado é um reflexo de um diagnóstico estereótipos. De fato, mesmo controlando-se pela sin-
baseado em algum conhecimento das capacidades cogniti- tonia e pelas proficiências dos alunos, a expectativa do
vas dos alunos, mas pode ser também, como demonstrado professor é modulada pelo perfil de sua turma. Variáveis
no estudo, uma construção baseada nas características como o “Percentual de Alunos do Gênero Masculino”,
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o “Percentual de Pretos” e o “Percentual de Alunos que Bonamino, A. M. C. (2002). Tempos de avaliação educacional.
Recebe Bolsa-Família”, e algumas atitudes do professor O SAEB, seus agentes, referência e tendências. Rio de Janeiro:
frente às condições escolares, como a “Carência de Ma- Quartet.
teriais e Instalações”, a “Falta de Colaboração dos Pais” e Clifford, M. M., & Walster, E. (1973). The effect of physical
a “Coesão e Trabalho em Equipe” estão associadas a uma attractiveness on teacher expectations. Sociology of Education,
menor expectativa, mesmo quando se considera alunos 46, 248 – 258.
com mesmas habilidades cognitivas. Franco, C., Ortigão, M. I. R., Albernaz, A., Bonamino, A. M. C.,
Por outro lado, o fato é que a expectativa do professor Aguiar, G., Alves, F., & Satyro, N. (2007). Qualidade e equidade em
continua tendo efeito positivo sobre a proficiência, mesmo educação: reconsiderando o significado de “fatores intra-escolares”.
quando se controlam os efeitos de todas essas variáveis. Ensaio. Avaliação e Políticas Públicas em Educação, 15, 277-297.
Como foi visto, o efeito líquido da expectativa é tal que Johnson, R. A., & Wichern, D. W. (1992). Applied multivariate
agrega em média 4,1 pontos na proficiência em Língua statistical analysis. Englewood Cliffs: Prentice Hall.
Portuguesa e 3,37 em Matemática, para cada unidade a mais Klein, R. (1997). Indicadores educacionais e disparidades
na escala da expectativa. Esse fato sugere que a expectativa regionais e socioeconômicas no Brasil. Em H. Bomeny (Org.),
tem efeito próprio. Avaliação e determinação de padrões na educação latino-
Também parece ser muito importante, na explicação da americana (pp. 47-86). Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
proficiência, o conhecimento pelo professor do nível de ha- Lee, V. L. (2001). What are multilevel questions, and how might
bilidades da turma. Isso fica sugerido pelo fato de a variável we explore them with quantitative methods? Estudos em Avaliação
sintonia ter um efeito líquido positivo sobre a proficiência, Educacional, 24, 31 – 68.
controlando-se todos os demais fatores. A variável “Sintonia” Lord, F., (1980). Applications of item response theory to
consegue agregar 5,26 pontos em média na proficiência dos practical testing problems. Hillsdale: Lawrence Erlbaum.
alunos em Matemática e 5,49 em Português. Penna Firme, T. (1982). Avaliação do professor. Tecnologia
Por uma série de razões sociais e econômicas, verifica- Educacional, ABT, 48, 10-11.
se que alunos do gênero masculino, de cor preta e baixa Rosenthal, R., & Jacobson, L. (1968). Pygmalion in the
condição socioeconômica, de fato, tendem a apresentar um classroom: Teacher expectation and pupil’s intellectual development.
desempenho inferior. Porém, o que este estudo mostra é que New York: Holt, Rhinehat & Winston.
se o professor apresenta uma boa expectativa do desempe- Soares, T. M. (2003). Influência do professor e do ambiente em
nho dos seus alunos, maiores proficiências são observadas sala de aula sobre a proficiência alcançada pelos alunos avaliados no
para todos os alunos, independentemente das características SIMAVE-2002. Estudos em Avaliação Educacional, 28, 103-123.
socioeconômicas. Por outro lado, o conhecimento da capaci- Soares, T. M. (2005). Modelo de três níveis hierárquicos para
dade cognitiva dos alunos também está associado a maiores a proficiência dos alunos de 4ª série avaliados no teste de Língua
proficiências. Isso sugere ser importante que o professor Portuguesa do SIMAVE/PROEB-2002. Revista Brasileira de
crie estratégias para buscar conhecer sua turma como meio Educação, 29, 73-87.
de produzir uma ação mais efetiva frente às necessidades
de seus alunos.
Referências
Recebido em 17.06.08
Alvidrez, J., & Weinstein, R. S. (1999). Early teacher Primeira decisão editorial em 10.09.08
perceptions and later student academic achievement. Journal of Versão final em 19.03.09
Education Psychology, 91, 731-746. Aceito em 02.04.09 n
170 Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, Jan-Mar 2010, Vol. 26 n. 1, pp. 157-170