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Publicado em NOVA ESCOLA 05 de Março | 2024

Anos Finais

Dia da Mulher: como


trabalhar o tema nos
diferentes componentes
curriculares
Professoras dos Anos Finais da rede pública sugerem
atividades de Ciências, Geografia, História, Linguagens e
Matemática
Carol Firmino

É possível alinhar o debate sobre a participação da mulher na sociedade ao


desenvolvimento de habilidades da BNCC. Foto: Getty Images
O Dia da Mulher tem origem no século 19, quando operárias se organizaram
em busca de igualdade e melhores condições de trabalho e salário em fábricas
dos Estados Unidos e da Europa. Esses movimentos se espalharam pelo planeta
e superaram fronteiras de espaço, tempo e ideologia. Assim, o 8 de março se
tornou uma data mundial para refletirmos sobre a participação feminina na
sociedade, suas conquistas e desafios.
Pensando nisso, NOVA ESCOLA convidou professoras dos Anos Finais do Ensino
Fundamental, de diferentes lugares do Brasil, para sugerir atividades que
trabalhem a questão de gênero nos principais componentes curriculares dessa
etapa: Ciências, Geografia, História, Linguagens e Matemática. Todas as
propostas estão alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Confira a
seguir:
Ciências, meninos e meninas
Esta sequência didática foi elaborada por Heide Maria Rodrigues Rocha
Perdigão, professora de Ciências da EE Padre Paulo, em Santo Antônio do
Monte (MG). “O objetivo das atividades é estimular o aluno a repensar sua
postura e conduta em relação às meninas e às mulheres, além de construir a
ideia de unidade e respeito mútuo dentro e fora do ambiente escolar”, comenta
a professora.
Habilidades da BNCC trabalhadas
EF08CI08 - Analisar e explicar as transformações que ocorrem na puberdade
considerando a atuação dos hormônios sexuais e do sistema nervoso.
EF08CI11 - Selecionar argumentos que evidenciem as múltiplas dimensões da
sexualidade humana (biológica, sociocultural, afetiva e ética).
Orientações gerais
Reunir informações e embasamento teórico para abordar o tema de maneira
imparcial e democrática, preparando-se para possíveis questionamentos.
Desenvolvimento
1ª etapa: brainstorming
O professor introduz o assunto e estimula os alunos a falarem o que sabem ou
já ouviram a respeito do tema. Esse é um momento de escuta, em que a turma
deve se sentir à vontade para se expressar. Faça algumas perguntas como:
O que é diversidade?
O que é gênero?
Por que meninos e meninas são diferentes?
Homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas?
2ª etapa: fundamentação teórica
Com base na participação dos alunos, o professor deve fazer a mediação dos
comentários e complementar com informações sobre a constituição biológica
que diferencia homens e mulheres. Em seguida, ele pode abordar a questão da
diversidade de gêneros.
O foco é mostrar que existem diferenças físicas, mas, emocionalmente e
cognitivamente, homens e mulheres são iguais, independentemente de raça,
crença ou gênero. Apresente materiais impressos ou digitais de fontes
confiáveis, como infográficos, imagens e textos baseados em pesquisas
científicas e fatos.
3ª etapa: prática
A sugestão é desenvolver a atividade em local aberto, como quadra ou pátio da
escola. Para garantir a boa distribuição e aproveitamento do tempo, o
professor deve organizar previamente todo material que será utilizado.
Posicione duas mesas de frente uma para outra. Coloque vários tipos de
miçangas de diferentes tamanhos em duas bandejas e deixe cada uma em cima
de uma mesa. Também disponha sobre as mesas linha, agulha e durex para
cada grupo.
Separe a turma em duplas só de meninos e só de meninas, dividindo-os
também em dois grupos (cada grupo só com um tipo de dupla). Peça que duas
duplas por vez (uma de meninos e outra de meninas), usando apenas a ponta
da agulha, selecionem as menores miçangas da mesma cor e formem uma
pulseira (cerca de 20 miçangas) com a linha.
Após finalizarem, as duplas devem colar a pulseira acima do quadro (se a
atividade acontecer na sala) ou em outro lugar determinado (se for realizada
fora da sala).
Depois, repita a prática, agora trocando os pares, sendo que cada grupo terá
duplas de meninos e meninas.
O tempo da atividade deve ser cronometrado, e ganha a dinâmica quem
concluir a tarefa mais rápido. Também é possível determinar um limite de
tempo para a execução da atividade.
4ª etapa: reflexão e avaliação
A partir do resultado da prática, o professor deve evidenciar que cada pessoa
(menina ou menino) possui aptidões que o outro pode não ter. Mas, quando se
trabalha em conjunto, habilidades inerentes a cada um (independentemente do
sexo) podem se mostrar, levando a diferentes resultados.
Heide considera que os alunos das gerações Z (nascidos entre 1996 e 2010) e
alfa (a partir de 2010) têm todas as informações disponíveis e debatidas nas
redes sociais. Diante disso, o papel da escola é mostrar ao aluno o que é
correto e aceitável e o que é fake news, discurso de ódio e preconceito. “Eles
gostam de temas como esse e, em geral, adoram expressar suas opiniões”, diz.
Geografia e mulheres latinas
Esta atividade foi elaborada por Jéssica Machado dos Santos, professora de
Geografia dos Anos Finais da rede pública de Ribeirão Preto (SP). Ela participou
da websérie ProfessoreZ, da NOVA ESCOLA.
Habilidade da BNCC trabalhada
EF08GE03 - Analisar aspectos representativos da dinâmica demográfica,
considerando características da população (perfil etário, crescimento vegetativo
e mobilidade espacial).
Orientações gerais
O plano foi desenvolvido para uma aula de, aproximadamente, duas horas, e a
metodologia escolhida foi a rotação por estações, visando diferentes tipos de
aprendizagens. A qualidade da bibliografia é determinante para o melhor
aproveitamento da atividade.
Desenvolvimento
1ª etapa: contato com o material
Imprima fotos e uma biografia breve de quatro mulheres importantes em
processos de independência na América Latina e exponha-as em pontos
distintos da sala. Divida a turma em quatro grupos para fazerem leituras e
anotações sobre cada uma. Nesse processo, cada grupo deve ficar cerca de 10
minutos em uma estação.
Sugestões de mulheres para a atividade:
Micaela Bastidas, líder indígena e revolucionária peruana que desempenhou
papel significativo durante o processo de independência do Peru, no século 18.
Maria Quitéria de Jesus, brasileira de Feira de Santana (BA) que participou
ativamente da luta pela independência do Brasil, no século 19.
Juana Azurduy de Padilla, líder indígena boliviana conhecida por sua coragem
e liderança durante as lutas pela independência contra o domínio espanhol na
América do Sul.
Marie-Jeanne Lamartinière, mulher negra que se destacou durante a
Revolução Haitiana, um dos eventos mais importantes da luta pela liberdade e
emancipação dos escravos.
2ª etapa: exposição
Cada grupo escolhe uma mulher da América Latina para apresentar à sala.
3° etapa: arguição
O professor faz perguntas à turma sobre cada uma das quatro
mulheres. Exemplos de questões gerais (comuns a todas):
Quem foi ela?
Ela teve papel de destaque no processo de independência? Por quê?
Exemplos de questões específicas (para cada mulher):
Por qual motivo Micaela Bastidas foi condenada à morte?
Por qual motivo Maria Quitéria de Jesus foi condecorada pelo imperador Dom
Pedro I?
Por qual motivo Juana Azurduy de Padilla teve o reconhecimento de Simón
Bolívar, um dos libertadores da América?
Por que Marie-Jeanne Lamartinière é considerada uma heroína da Revolução
Haitiana?
4° etapa: finalização
Solicite que o grupo indique no mapa da América Latina (que pode estar
impresso e colado na parede em versão ampliada) o país que cada uma
representa. Jéssica explica que a atividade mostra que as mulheres sempre
estiveram inseridas em todos os contextos, inclusive geopolíticos. “A tentativa
de invisibilizar essas personagens, negras e latinas em especial, é enorme. Por
isso, é tão importante fazer um resgate histórico, geográfico e olhar os
processos de independência que estavam acontecendo”, reforça.
História e direitos das mulheres
As atividades foram elaboradas por Sandra Balbueno de Oliveira de Vargas,
professora da rede municipal e estadual do município de Caarapó (MS), com
experiência em Educação escolar indígena e do campo.
Para tornar a discussão sobre gênero mais inclusiva, Sandra acredita que é
necessário haver adesão de toda a equipe docente, além de abordar as
diferentes realidades das mulheres, como daquelas que estão em situação de
risco e vulnerabilidade.
Habilidade da BNCC trabalhada
EF05HI02 - Identificar os mecanismos de organização do poder político com
vistas à compreensão da ideia de Estado e/ou de outras formas de ordenação
social.
Orientações gerais
As atividades podem ser desenvolvidas em vários encontros e com turmas
distintas simultaneamente.
Desenvolvimento
1ª etapa: roda de conversa
Converse com os alunos em sala de aula sobre a importância da data a partir
de um texto que resgate a história dos direitos das mulheres no Brasil. Ao final
da roda de conversa, cada turma escolherá uma aluna representante que vai
listar o que foi sugerido como ação para um tratamento com respeito e
humanidade às mulheres.
2ª etapa: elaboração de cartazes
As turmas devem utilizar sua criatividade na elaboração de cartazes com frases
e desenhos sobre os direitos das mulheres, que serão apresentados ao final de
toda a ação. A sugestão é dividir os alunos em quatro grupos.
3ª etapa: protagonismo
Estudantes do 6º ao 9º Ano do Ensino Fundamental se reúnem no dia 8 de
março para apresentar o que fizeram nas duas etapas anteriores. Cada aluna
representante da turma irá ler aos seus colegas o resultado do que construíram
juntos, e é feita a exposição dos cartazes.
4ª etapa: considerações finais
Finalizada as apresentações, o professor de História reforça a importância
desses momentos de estudos e reflexão sobre a presença da mulher na
sociedade e a sua luta por direitos.
Sandra sugere ainda que todos plantem girassóis nas imediações da escola,
como símbolo do combate à violência e à discriminação contra as mulheres.
“Todas essas atividades visam oportunizar espaço para debater o tema,
mobilizar ações e desafiar os estudantes na sua formação pessoal e humana,
bem como em sua autonomia e protagonismo no aprendizado”, defende.
Linguagens e narrativas de ficção
Esta sequência foi desenvolvida pela professora Ana Cláudia Santos, que atua
nos Anos Finais do Ensino Fundamental na rede estadual de Minas Gerais.
Colunista de NOVA ESCOLA, ela pontua que a ficção é um dos instrumentos
usados para debater e discutir temas sociais contemporâneos.
Habilidades da BNCC trabalhadas
EF89LP33 - Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando
procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e
levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos
contemporâneos, minicontos (...), dentre outros, expressando avaliação sobre o
texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.
EF89LP35 - Criar contos ou crônicas (em especial, líricas), crônicas visuais,
minicontos, narrativas de aventura e de ficção científica, dentre outros, com
temáticas próprias ao gênero, usando os conhecimentos sobre os constituintes
estruturais e recursos expressivos típicos dos gêneros narrativos pretendidos,
e, no caso de produção em grupo, ferramentas de escrita colaborativa.
EF89LP37 - Analisar os efeitos de sentido do uso de figuras de linguagem como
ironia, eufemismo, antítese, aliteração, assonância, dentre outras.
Orientações gerais
A professora sugere utilizar a Taxonomia de Bloom para iniciar a atividade. Ou
seja, retomar os objetivos educacionais e colocar a aprendizagem como um
processo em etapas. A taxonomia organiza habilidades que vão desde as mais
simples até as mais complexas. Os seis níveis, em ordem crescente de
complexidade, são: lembrar, compreender, aplicar, analisar, avaliar e criar.
Desenvolvimento
1ª etapa: apresentação do tema
Contextualize a turma sobre a presença das mulheres na literatura. Lembre os
alunos que a primeira cronista e novelista brasileira foi Ana de Barandas, que
teve seu desejo de igualdade entre os sexos externando na obra O Ramalhete,
publicada durante o Romantismo.
Se julgar necessário, faça a análise de alguns trechos, resgate ainda nomes de
pioneiras, como Nísia Floresta e Maria Firmina dos Reis, e pergunte se lembram
de outras referências.
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2ª etapa: estimulando a reflexão
Para compreender melhor como a figura feminina transita pela literatura e
deixa seu legado, proponha a leitura e a análise de alguns contos, como D.
Benedita, Clara dos Anjos e outras mulheres, de Machado de Assis, e O conto da
mulher brasileira, coletânea organizada por Edla Van Steen.
De acordo com a maturidade da turma, analise como Machado de Assis
descreve a figura feminina: ora com ar de menina-mulher, ora como moça
dotada de grande pureza ou, ainda, com ironia, ao fazer referência às virtudes e
aos atributos físicos.
Outra sugestão é a coletânea Sete faces da mulher, que aborda a sensibilidade
da alma feminina, apresentando-a de forma caricata.
3ª etapa: prática
Peça aos alunos que relacionem, a partir das mulheres com as quais se
identificaram nos contos lidos, figuras reais que circulam em nosso meio, sejam
elas do convívio diário ou presentes na grande mídia. Organize um mural onde
possam expor o resultado da pesquisa e argumentar oralmente sobre as
escolhas feitas.
Analise letras de músicas e imagens veiculadas no cotidiano e como elas
valorizam, potencializam ou diminuem a figura da mulher. Sugira ainda que os
alunos apresentem perfis de mulheres que tenham relação com a emancipação
feminina na sociedade e justifiquem suas escolhas com base em pesquisas.
Oriente a criação de narrativas de ficção que serão roteirizadas e transformadas
em podcasts.
4ª etapa: avaliação
Crie rubricas que deixem claro como se dará o processo de aplicação da
atividade. Ao final, o professor vai avaliar se o aluno foi capaz de relacionar o
tema de estudo com o podcast ficcional produzido.
Matemática e as famílias lideradas por mulheres
Esta atividade foi elaborada por Audray Silveira, professora de Matemática dos
Anos Finais do Ensino Fundamental na EMEF Iraci Rodrigues de Farias Melo, em
Mogeiro (PB).
Habilidades da BNCC trabalhadas
EF08MA04 - Resolver e elaborar problemas, envolvendo cálculo de
porcentagens, incluindo o uso de tecnologias digitais.
EF08MA23 - Avaliar a adequação de diferentes tipos de gráficos para
representar um conjunto de dados de uma pesquisa.
EF09MA05 - Resolver e elaborar problemas que envolvam porcentagens, com a
ideia de aplicação de percentuais sucessivos e a determinação das taxas
percentuais, preferencialmente com o uso de tecnologias digitais, no contexto
da educação financeira.
EF09MA21 - Analisar e identificar, em gráficos divulgados pela mídia, os
elementos que podem induzir, às vezes propositadamente, erros de leitura,
como escalas inapropriadas, legendas não explicitadas corretamente, omissão
de informações importantes (fontes e datas), entre outros.
EF09MA22 - Escolher e construir o gráfico mais adequado (colunas, setores,
linhas), com ou sem uso de planilhas eletrônicas, para apresentar um
determinado conjunto de dados, destacando aspectos como as medidas de
tendência central.
Orientações gerais
O objetivo central da atividade, desenvolvida de forma interdisciplinar com
História, é a pesquisa sobre famílias monoparentais, em que a mulher figura
como chefe familiar.
Desenvolvimento
1ª etapa: apresentação do tema
Apresente aos alunos, por meio de recursos multimídia e reportagens
escolhidas junto ao professor de História, conteúdos que mostrem o
crescimento do percentual de mulheres como chefes de família. Proponha que
iniciem discussões em grupos, em que eles possam identificar essas situações e
comparar com a realidade deles.
2ª etapa: prática
Peça que realizem pesquisas em grupo sobre os percentuais de mulheres que
são chefes de família. Cada grupo deverá investigar uma região brasileira.
Depois, todos vão elaborar infográficos com os dados encontrados, que podem
ser feitos manualmente, utilizando cartolinas, recortes de revistas e canetas
coloridas.
3ª etapa: análise e reflexão
Os alunos apresentam suas pesquisas e, a partir de perguntas elaboradas pelo
professor, discutem os resultados com as demais equipes.
Audray destaca os números presentes nessa atividade: 48% dos lares
brasileiros têm famílias monoparentais, sendo as mulheres as principais
responsáveis pelo sustento da casa e dos filhos. Além disso, em se tratando de
lares de baixa renda no país, essa porcentagem chega a 81,6%. “Por meio da
interdisciplinaridade, os alunos conseguem enxergar a Matemática em todos os
outros componentes, assim como a real importância de conteúdos que, até
então, eram vistos como desnecessários”, conclui a professora.

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