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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPUS FAE BELO HORIZONTE

DENISE APARECIDA FERREIRA VIEGAS


ISABELA MARIA GUALBERTO
MARCOS ANTONIO PEREIRA DE MOURA

DIÁLOGO ENTRE FILOSOFIA, EPISTEMOLOGIAS E


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO.
Professora: Magda Guadalupe dos Santos
Professor: Leandro Catão

OS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO

BELO HORIZONTE
2023
Introdução

Os paradigmas da educação é uma proposta que se refere aos modelos


pedagógicos, estabelecidos no decorrer das décadas passadas, numa visão diversificada,
seja por parentesco ou conhecimento por parte dos alunos do núcleo formativo IIC,
vespertino; como forma de compreender o pensamento histórico-conceitual filosófico dos
entrevistados.
Tratamos como objetivos gerais, a busca e a compreensão do valor do
pensamento por meio da abordagem de paradigmas (modelos) cognitivos eleitos
historicamente como válidos. Como objetivos específicos relacionamos: problematizar o
alcance dos paradigmas formativos ao longo da história; pesquisar os conceitos inerentes
aos paradigmas como modulação do pensamento histórico; aguçar o senso crítico de
estudantes de Pedagogia para que o lugar da pesquisa esteja sempre no meio formativo;
pensar formas de trabalhos que intensifiquem a participação de alunas e alunos e que
possam lhe fornecer subsídios conceituais para repensar o processo de formação escolar
e de vida. Assim, é preciso entendermos primeiramente o conceito de paradigma,
conforme Bartelmebs (2012):

Ou seja, o paradigma é um conjunto de saberes e fazeres que garantam a


realização de uma pesquisa científica por uma comunidade. O paradigma
determina até onde se pode pensar, uma vez que dados e teorias, sempre que
aplicados a uma pesquisa, irão confirmar a existência desse paradigma.
(BARTELMEBS, 2012, p.353).

Esse paradigma está demasiadamente ligado aos fatores sociais e econômicos da


época relatada pelo entrevistado. O momento em que encontraremos, numa primeira
rodada de discussões entre o grupo de pesquisa, podemos perceber que existe em
comum, a relação ao tempo histórico, o período da ditadura militar no Brasil, na década
de 60 e 70. Os entrevistados estudaram nesse período, porém em condições, regiões e
fatores filosóficos diferentes. Dessa forma, será que podemos questionar o valor da
educação o mesmo para todos?

Segundo Kuhn (1997) a metodologia (representada pela ciência) pode estar


relacionada com a coleta de informações; em nosso caso, baseadas em entrevista de
cunho documental. Através dessa coleta verbal e expressiva, realizamos uma análise de
maneira qualitativa, buscando nos autores do universo da educação, reunindo conceitos
nas áreas de filosofia e história no intuito de aprendermos melhor o retrato dessa vivência
a qual os entrevistados nos relataram e assim percebemos qual é o condicionante para a
educação em aspectos positivos ou negativos no decorrer desse tempo estudado.

Invenções de novas teorias não são os únicos acontecimentos científicos que tem
um impacto revolucionário sobre os especialistas do setor em que ocorrem. Os
compromissos que governam a ciência normal especificam não apenas as
espécies de entidades que o universo contém, mas também, implicitamente,
aquelas que não contém (KUNH, 1997, p.26).

Neste ensaio, “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada em uma


ou mais realizações passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum
tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os
fundamentos para sua prática posterior (KUNH, 1997, p.29).

Foi nos apresentado parâmetros de questões para entrevista, com valores e


padrões diferenciados de questões. Essas questões elencam e reforçam interesse em
percorrer sobre pautas relativas na educação que reforce a história e a filosofia no
contexto abordado, segundo Bosi (1994):

A história que estudamos na escola não aborda o passado recente e pode parecer
aos olhos do aluno uma sucessão unilinear de lutas de classes ou de tomadas de
poder por diferentes forças. Ela afasta, como se fossem de menor importância, os
aspectos do quotidiano, os microcomportamentos, que são fundamentais para a
Psicologia Social.

Especificamente para tomada de nossa entrevista em formato de documentário,


escolheu-se como referência três questões fundamentais para designar os paradigmas da
educação: escola, gênero e incentivo. A primeira é a escola em seu contexto de época, ou
seja, como era a construção da instituição escolar? O período tratava por igual os alunos?
Como eram os diálogos do período estudado? O segundo é o gênero nesse contexto
escolar; existia diferenciação entre os meninos e as meninas? Como eram tratados em
relação a família? E por fim, a terceira questão: existia algum tipo de incentivo? Do
governo, da família, dos próprios professores?

Conforme Kuhn (1997), a ciência compreende em resolver problemas através da


sua “ciência normal”. Apesar da metodologia delimitar problemas em determinado campo
científico, os cientistas avançam dentro de um problema que o paradigma escolhido
permite detectar.

As realizações científicas universalmente reconhecidas, realizadas por Kuhn, estão


ligadas a embasamentos experimentais, altamente investigado, analisado e
experimentado, e estes paradigmas precisam de ser sempre revisados.
Nesse sentido, o grupo definiu problemas para a investigação. A metodologia e
técnica utilizada para a solução prevista dentro do paradigma, foi a entrevista. Este,
apesar de sua suficiente abertura, delimita os problemas a serem resolvidos em nosso
campo científico a educação. No entanto, o paradigma não foi abandonado, porém
chegou em um ponto que não é mais possível resolver anomalias na ciência, e isso leva a
uma revolução científica, assim começa um novo paradigma, e esse paradigma não é
melhor que o anterior, apenas é uma melhor opção para o período histórico em que os
cientistas estão inseridos.

A metodologia da presente pesquisa baseia-se em uma pesquisa bibliográfica,


podendo ser compreendida como um estudo sistematizado desenvolvido com base em
materiais já publicados para fundamentar a temática abordada. Através da revisão de
literatura, é possível reportar e avaliar o conhecimento produzido em pesquisas prévias,
destacando conceitos, procedimentos, resultados, discussões e conclusões relevantes.

Portanto, nós professores em formação, devemos buscar a formação visando nos


preparar para os novos currículos, paradigmas da educação e os desafios das políticas
públicas, e neste trabalho escolhemos as perguntas que trazem o paradigma da
educação na escola em uma determinada época; trouxemos também a discussão sobre a
questão de gênero nas escolas e finalizamos com os incentivos ao estudo.

Perguntas trabalhadas:

1- O grupo gostaria que a Senhora (o), relatasse como era a educação e a escola em seu
tempo. Qual a sua importância social (social e político- aberturas, dificuldades)? Como era
a escola em sua época de formação escolar? A escola era acessível a todos?

2- Este acesso histórico-social era igualitário a meninas e meninos? Ambos os gêneros


eram igualmente acolhidos e incentivados na escola, em termos de brincadeiras,
interlocução em sala de aula?

3- Poderia dizer algo, do que se recorda, sobre a questão didática dos professores e o
comportamento dos alunos, ou seja, os professores preocupavam-se com as crianças e
adolescentes? Incentivavam a continuação aos estudos em sua época, tanto de meninas,
quanto de meninos? Havia integração da família nas festas da escola? De que forma era
essa participação das famílias na escola?
Desenvolvimento:

Apresentamos assim os entrevistados e suas condições para que fossem


realizadas as entrevistas. Escolhemos o quantitativo numérico de 3 (três) entrevistados,
no sentido de obtermos uma variação de opiniões e levantamentos de fatos, em que
enriqueceria o tema e também ao universo das questões que nortearam as entrevistas,
cujo resultado dessa escolha culminou em 2 (duas) representatividades do gênero
feminino e 1 (um) do masculino, alternando a análise do tema, cujo nomes em ordem de
entrevista foi: Vilma Gualberto, Maria Joaquina e Joaquim Silva.

Vilma Gualberto, iniciou seus estudos no jardim da infância, no chamado


internato, cujo público era restrito somente ao universo feminino e condições de renda
compatíveis para o estudo. Contudo, por advento de uma bolsa conseguiu iniciar o
período escolar. Na fase pós jardim da infância, estudou em um grupo de escola pública,
alcançando a 4º serie de sua formação. Nesse período não existia distinção de gênero,
todos tinham o mesmo tratamento. Em relação a família, havia um respeito de seus país
no caso de disciplinar e que independente do gênero a punição era aplicada conforme a
gravidade da situação e excessos apresentados. Já na questão do incentivo, afirmou que
era visível que os filhos das classes chamadas profissionais liberais e outros cargos de
prestigio escolar (medicina, advocacia e engenharia) designavam um certo incentivo nos
estudos para perpetuar os ofícios familiares. Já os de classe menos abastada, essa
motivação era dada até o quarto ano para melhorar o grau de operacionalidade e
assegurar uma boa colocação no mercado de trabalho.

Maria Joaquina, passou sua infância no interior e imediações da cidade de


Mariana (MG); a escola ficava longe de sua moradia e percorria um extenso caminho para
estudar. Ao longo de sua trajetória escolar, apesar das dificuldades, houve incentivo tanto
por parte da família quanto dos professores. O respeito entre professores e alunos era
algo vivenciado naturalmente e não se “percebia”, segundo ela, preconceito em relação a
raça ou gênero.
Nesse contexto, não podemos deixar de mencionar, que a educação na época (e
ainda “hoje”), era de cunho tradicionalista, marcada por quem detinha e quem recebia o
conhecimento e que a cultura escolar reconhecida como “legitima”, moldava o indivíduo
de acordo com seus “paradigmas”. Assim, levando em consideração as ideias de LOURO
(2000); a cultura por meio das instituições (mídia, igreja, família, escola entre outros) vão
nos formandos e nos “modelando” como devemos ou não nos portar e acabam por
constituir-se como potentes pedagogias culturais.
Para Maria Joaquina, a vivência escolar foi um período “tranquilo”; ao contrário do
momento atual vivido na universidade, onde “impera” a exclusão sútil, mascarada como
algo natural. O incentivo até então vivenciado dá lugar a “falta” de interação entre discente
e docente e o preconceito da idade; como se existisse limite para o conhecimento.

Joaquim Silva, sua infância foi marcada pela alfabetização em uma escola rural,
atingindo o segundo ano na chamada escola casa Anita Garibaldi, com poucos alunos,
diversificadas idades, em meados de 1955. Como a escola não tinha prioridade em
continuidade de estudos, este alcançou o grau inicial de leitura e escrita não priorizando
seus estudos, com uma família de ainda 6 irmãos, 2 irmãs e 4 irmãos. Foi trabalhar com
12 anos de idade serrando madeira em uma infância já esquecida, para ajudar sua mãe,
já que o pai nesse período esteve recluso, numa casa de detenção, pagando sua pena
perante a sociedade e nisso, somente 10 anos depois com o êxodo rural no final da
década de 60, foi para o meio urbano , na tentativa de encontrar melhores condições de
trabalho e formação.
No questionamento sobre gênero, Joaquim num momento da entrevista, exalta o
feminino de maneira machista de época, não por rebaixar as mulheres no contexto de
desejos corporais, por conviver com quantitativo expressivo naquele período, nada
comprometendo em sua identidade, segundo Guacira Louro (2000), designando uma
citação indireta livre de Stuart Hall (1997):

As muitas formas de fazer-se mulher ou homem, as várias possibilidades de viver


prazeres e desejos corporais são sempre sugeridas, anunciadas, promovidas
socialmente (e hoje possivelmente de formas mais explícitas do que antes). Elas
são também, renovadamente, reguladas, condenadas ou negadas. Na verdade,
desde os anos sessenta, o debate sobre as identidades e as práticas sexuais e de
gênero vem se tornando cada vez mais acalorado, especialmente provocado pelo
movimento feminista, pelos movimentos de gays e de lésbicas e sustentado,
também, por todos aqueles e aquelas que se sentem ameaçados por essas
manifestações. Novas identidades sociais tornaram-se visíveis, provocando, em
seu processo de afirmação e diferenciação, novas divisões sociais e o nascimento
do que passou a ser conhecido como "política de identidades" (LOURO,2000, p.4).

É bem claro que Joaquim Silva, não distinguia a questão de gênero nos anos
iniciais de seus estudos e no período de 1968 em plena ditadura, com isso, o respeito foi
sempre acometido de maneira espontânea, esse mútuo gesto se fazia entre os colegas ,
ao relatar que existia cinquenta por cento de mulheres e homens em sua escola,
destacamos então o discurso político desse tema, já que é um aspecto em que se iniciava
a dialética para os que chegavam do interior na perspectiva do êxodo rural desse
momento de repressão. De acordo com Scott (2017):

O tema da guerra, da diplomacia e da alta política surge com frequência quando


os/as historiadores/as da história política tradicional põem em questão a utilidade
do gênero para seu trabalho. Mas, também aqui, devemos olhar para além dos
atores e do valor literal de suas palavras. As relações de poder entre nações e a
posição dos sujeitos coloniais têm sido compreendidas (e então legitimadas) em
termos das relações entre homem e mulher. A legitimação da guerra - sacrificar
vidas de jovens para proteger o Estado - tomou fonas diversificadas, desde o
apelo explícito à virilidade (a necessidade de defender mulheres e crianças que de
outro modo seriam vulneráveis), até à crença no dever que teriam os filhos de
servir a seus dirigentes ou ao rei (seu pai), e ainda as associações entre a
masculinidade e o poderio nacional.(SCOTT, 2017, p.92).

Em 1968, conseguiu exercer a função operacional de faxineiro e porteiro no


período da madrugada no mesmo condomínio Edifício Zaíra Pacheco, localizado na rua
Ceará, bem no centro da capital mineira. Nessa altura não conhecia ninguém no centro de
Belo Horizonte, mais devido a sua postura de infindáveis voltas, conseguiu uma palavra
de confiança e com isso, conquistou um lugar para morar. Nesse meio, tempo em plena
ditadura, cuidava do prédio como se fosse sua casa e por isso impediu uma diligência
policial de averiguar uma suspeita de conduta duvidosa, condenáveis pela época, devido
alguns moradores estarem em contato com estudantes universitários de diversas áreas
na região. Com isso, por defender sua função, foi fichado no Departamento de Ordem
Política e Social sob o crime de subversão, estando aliado a um movimento de extrema
esquerda. Contudo seus acusadores mal sabiam que ele era um semianalfabeto e nem
ideal político tinha e assim que devemos perceber a memória de acordo com Bosi (1994),
explanando a ideia de Bergson:

A posição introspectiva de Bergson em face do seu tema leva-o a começar a


indagação pela auto-análise voltada para a experiência da percepção: – o que
percebo em mim quando vejo imagens do presente ou evoco as do passado?
Percebo, em todos os casos, que cada imagem formada em mim está mediada
pela imagem, sempre presente, do meu corpo. O sentimento difuso da própria
corporeidade e constante e convive, no interior da vida psicológica, com a
percepção do meio físico sou social que circunda o sujeito (BOSI, 1994, p.6).

Nesse período, conseguiu matricular na Escola Estadual Pedro II, próximo de seu
local de trabalho, sem nenhum traço de incentivo, no período noturno e seu objetivo era
terminar o quarto ano, como adulto que conseguiu perceber que sua leitura necessitava
de ajustes. Nesse ambiente de estudos relatou que valorizava os estudos e todos seus
colegas eram tratados de maneira igual na escola, no sentido mecanicista de ensinar e
aprender, era tudo na base de decorar os conteúdos e sobre a questão de gênero não
havia muita diferença eram todos tratados de maneira igualitária. Já em relação aos
incentivos, afirmou que não tinha um determinado incentivo, nem uniforme tinha a escola,
o único objetivo era a formação do quarto ano, para melhoria na posição do trabalho. E
assim foi a história desse estudante que conquistou a formação até o quarto ano.
Joaquim Silva hoje possui diagnóstico de grau inicial de Alzheimer e demência, no
primeiro momento foi cogitado a não realizar a entrevista, devido a sua condição e
comprometer o relato de sua vida estudantil em memória, no sentido de buscar esses
relatos dos fatos de seu passado escolar; mas no decorrer da entrevista piloto foi
demonstrando uma consistência em sua denotação linear de sua história. Por isso foi
mantido seus depoimentos. Ainda segundo Bosi (1994) a respeito da memória dos velhos:

Um verdadeiro teste para hipótese psicossocial da memória encontra-se


no estudo das lembranças das pessoas idosas. Nelas é possível verificar
uma história social bem desenvolvida: elas já atravessaram um
determinado tipo de sociedade, com características bem marcadas e
conhecidas; elas já viveram quadros de referência familiar e cultural
igualmente reconhecíveis : enfim , sua memória atual pode ser desenhada
sobre um pano de fundo mais definido do que a memória de uma pessoa
jovem, ou mesmo adulta, que , de algum modo, ainda está absorvida nas
lutas e contradições de um presente que a solicita muito mais
intensamente do que a uma pessoa de idade (BOSI, 1994, p.23).

No decorrer dos textos, é interessante atentar, que os três entrevistados em


períodos de tempos diferentes e também em espaços diferentes em continuações de
estudos diferentes, no meio rural ou urbano, porém tendo em comum a mesma década.
Trata-se de uma educação num período cujos objeções são outras, as certezas eram
tidas como algo inquestionável, independente da visão de gênero, interpretação de
sexualidade, está sendo algo a não ser discutido ou até mesmo assunto reservado. As
tecnologias de comunicação eram muito limitadas e ao mesmo tempo o compartilhamento
das informações eram restritos a instituição familiar e escolar. Conforme as entrevistas o
acesso era realizado facilmente, as condições para se manter na escola é que se
tornavam difíceis. Enquanto aos incentivos, estes estavam mais voltado para o intangível
do que o tangível, sendo que a desigualdade é a herança educacional deste período
histórico e pano de fundo para a futura constituinte, mesmo que registrada no papel o qual
período democrático não tem e não terá interesse de resolver.
Conclusão

A educação, no ponto de vista científico, segundo Bartelmebs (2012), deve levar o


participante do processo de ensino a entender sua própria existência, e causas de suas
demandas e as necessidades ao seu arredor. Nas entrevistas realizadas, percebemos
que o grau do estudo em seu tempo era regido por prioridades, sejam de sobrevivência
ou para melhorar a condição de trabalho e vida, no período histórico comum a ditadura
militar. Entretanto, deveria se levar essa educação a alcançar a mesma visão em conviver
em sociedade, propiciando coesão e identidade entre os aspectos sociais, evoluindo ao
patamar de perspectivas coletivas, construindo os elos de igualdades, etapa principal para
a manutenção e sobrevivência de uma sociedade. Nesse viés de pensamento,
Bosi(1994), conceitua a educação como instrumento de permanência dessas memórias,
um processo que não muda sendo sistemático o trabalho educacional, tecnicista,
destacando a memória como imutabilidade cultural, uma fonte primária de conhecimento
e enriquecimento individual e coletivo. Assim, a ligação de educação e conservação do
enriquecimento científico do paradigma dessa educação, segundo Kuhn (1997), é
fundamental para a formação do indivíduo, onde a escola como instituição que propaga o
conhecimento é indispensável para a concretização desta formação, pois ela permite
socializar com os alunos o conhecimento e a valorização dos elementos que compõem
este patrimônio cultural, de oportunidades no intuito de crescimento humano e reduzindo
as desigualdades.

Referenciando educação, memória, nas entrevistas em consonância a obra de Bosi


(1994), percebemos ainda que é importante entrelaçar situações de ensino e
aprendizagem com o que denomina-se de preservação do capital cultural, e para isso é
fundamental um incentivo, em que a noção de preservação do aspecto educativo surge
junto à movimentos sociais que buscam a autonomia e a valorização da cultura nacional.
Assim, o incentivo diz respeito às maneiras de o ser humano existir, pensar e se
expressar, bem como, as manifestações simbólicas dos seus saberes, práticas artísticas
e cerimoniais, sistema de valores e tradição. Essa perspectiva de capital cultural como
incentivo, atua enquanto suporte do imaginário e da memória social de uma localidade, ou
seja, os edifícios e áreas urbanas possuidores de valor patrimonial podem ser tomados
como um ponto de apoio da construção da memória social, onde a educação nesse
aspecto como incentivo positivo ou uma opção de suposta melhoria de vida.
Concluirmos que foi bem visível a tentativa de pensar o gênero de forma igualitária
na visão dos entrevistados, todos relataram que existia um certo respeito mútuo no que
tange ao homem e mulher. A impressão é que só existia dois gêneros naquela época, tal
situação nos faz pensar e questionar em nossa suma, que a escola em relação ao
gênero, é um instrumento de construção constante de pessoas civilizadas, o qual
coaduna nossas ideias semelhantes à de Guacira Louro:

Minhas lembranças escolares parecem menos duras. Mas hoje tenho consciência
de que a escola também deixou marcas expressivas em meu corpo e me ensinou
a usá-lo de uma determinada forma. Numa escola pública brasileira
predominantemente feminina, os métodos foram outros, os resultados
pretendidos eram diversos. Ali nos ensinavam a sermos dóceis, discretas, gentis,
a obedecer, a pedir licença, a pedir desculpas. Certamente também nos
ensinaram, como a Corrigan, as ciências, as letras, as artes que deveríamos
manejar para sobreviver socialmente. Mas essas informações e habilidades foram
transmitidas e atravessadas por sutis e profundas imposições físicas. Jovens
escolarizados, aprendemos, tanto ele quanto eu, a suportar o cansaço e a prestar
atenção ao que professores e professoras diziam; a utilizar códigos para debater,
persuadir, vencer; a empregar os gestos e os comportamentos adequados e
distintivos daquelas instituições. Os propósitos desses investimentos escolares
eram a produção de um homem e de uma mulher "civilizados", capazes de viver
em coerência e adequação nas sociedades inglesa e brasileira, respectivamente
(LOURO, 2000, p.11).

Enfim, esse trabalho, tratou-se de um processo permanente e sistemático de


ampliar os paradigmas da educação, reforçando em três aspectos: A memoria escolar, o
gênero e os incentivos na continuidade dos estudos em formato de entrevista, como fonte
primária de conhecimento individual e/ou coletivo. Dessa forma, a educação trabalhada
junto com o capital cultural que possibilita várias interpretações, tornando-se um
instrumento importante de promoção e vivência da cidadania, podendo defini-la, como um
ensino centrado nos bens culturais, onde a metodologia toma estes bens como ponto de
partida para desenvolver tarefas pedagógicas que consideram tais bens como fonte
primária do ensino consequentemente gerando a responsabilidade na busca, na
valorização e na preservação; onde a escola tem como objetivo levar os alunos a
utilizarem suas capacidades intelectuais para adquirirem o uso de conceitos e
habilidades, fugindo de preconceitos, principalmente no que tange a questão de gênero,
na prática, em sua vida diária e na própria escola.
Questão Proposta

Percebemos que na geração dos entrevistados, os paradigmas na educação estavam


“pautados” na preocupação com os estudos, num futuro promissor e diferenciado em
relação a status e acumulo de bens materiais, ou em outros aspectos como o de melhoria
na posição de trabalho, mesmo sem incentivo, para uma condição confortável de
sobrevivência. Como é visto o paradigma da educação no aspecto pós pandemia covid19,
principalmente no que tange a educação infantil?
Referências

BARTELMEBS, Roberta Chiesa. Resenhando as estruturas das revoluções científicas de


KUHN, Thomas S. Revista Ensaio | Belo Horizonte | v.14 | n. 03 | p. 351-358 | set-dez | 2012.

BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança dos Velhos / 3° Edição - São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.

BOSI, Ecléa. O tempo vivido da Memória. Ensaios de Psicologia social. 4.ed. Ateliê, s/d.

KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo:


Editora Perspectiva S.A, 1997.

LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. Introdução. In: LOURO, Guacira Lopes.
Org. O corpo educado. Autêntica, 2000.

SCOTT, J. (2017). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Amp;
Realidade, 20(2).

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