Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
CAMPUS FAE BELO HORIZONTE
OS PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO
BELO HORIZONTE
2023
Introdução
Invenções de novas teorias não são os únicos acontecimentos científicos que tem
um impacto revolucionário sobre os especialistas do setor em que ocorrem. Os
compromissos que governam a ciência normal especificam não apenas as
espécies de entidades que o universo contém, mas também, implicitamente,
aquelas que não contém (KUNH, 1997, p.26).
A história que estudamos na escola não aborda o passado recente e pode parecer
aos olhos do aluno uma sucessão unilinear de lutas de classes ou de tomadas de
poder por diferentes forças. Ela afasta, como se fossem de menor importância, os
aspectos do quotidiano, os microcomportamentos, que são fundamentais para a
Psicologia Social.
Perguntas trabalhadas:
1- O grupo gostaria que a Senhora (o), relatasse como era a educação e a escola em seu
tempo. Qual a sua importância social (social e político- aberturas, dificuldades)? Como era
a escola em sua época de formação escolar? A escola era acessível a todos?
3- Poderia dizer algo, do que se recorda, sobre a questão didática dos professores e o
comportamento dos alunos, ou seja, os professores preocupavam-se com as crianças e
adolescentes? Incentivavam a continuação aos estudos em sua época, tanto de meninas,
quanto de meninos? Havia integração da família nas festas da escola? De que forma era
essa participação das famílias na escola?
Desenvolvimento:
Joaquim Silva, sua infância foi marcada pela alfabetização em uma escola rural,
atingindo o segundo ano na chamada escola casa Anita Garibaldi, com poucos alunos,
diversificadas idades, em meados de 1955. Como a escola não tinha prioridade em
continuidade de estudos, este alcançou o grau inicial de leitura e escrita não priorizando
seus estudos, com uma família de ainda 6 irmãos, 2 irmãs e 4 irmãos. Foi trabalhar com
12 anos de idade serrando madeira em uma infância já esquecida, para ajudar sua mãe,
já que o pai nesse período esteve recluso, numa casa de detenção, pagando sua pena
perante a sociedade e nisso, somente 10 anos depois com o êxodo rural no final da
década de 60, foi para o meio urbano , na tentativa de encontrar melhores condições de
trabalho e formação.
No questionamento sobre gênero, Joaquim num momento da entrevista, exalta o
feminino de maneira machista de época, não por rebaixar as mulheres no contexto de
desejos corporais, por conviver com quantitativo expressivo naquele período, nada
comprometendo em sua identidade, segundo Guacira Louro (2000), designando uma
citação indireta livre de Stuart Hall (1997):
É bem claro que Joaquim Silva, não distinguia a questão de gênero nos anos
iniciais de seus estudos e no período de 1968 em plena ditadura, com isso, o respeito foi
sempre acometido de maneira espontânea, esse mútuo gesto se fazia entre os colegas ,
ao relatar que existia cinquenta por cento de mulheres e homens em sua escola,
destacamos então o discurso político desse tema, já que é um aspecto em que se iniciava
a dialética para os que chegavam do interior na perspectiva do êxodo rural desse
momento de repressão. De acordo com Scott (2017):
Nesse período, conseguiu matricular na Escola Estadual Pedro II, próximo de seu
local de trabalho, sem nenhum traço de incentivo, no período noturno e seu objetivo era
terminar o quarto ano, como adulto que conseguiu perceber que sua leitura necessitava
de ajustes. Nesse ambiente de estudos relatou que valorizava os estudos e todos seus
colegas eram tratados de maneira igual na escola, no sentido mecanicista de ensinar e
aprender, era tudo na base de decorar os conteúdos e sobre a questão de gênero não
havia muita diferença eram todos tratados de maneira igualitária. Já em relação aos
incentivos, afirmou que não tinha um determinado incentivo, nem uniforme tinha a escola,
o único objetivo era a formação do quarto ano, para melhoria na posição do trabalho. E
assim foi a história desse estudante que conquistou a formação até o quarto ano.
Joaquim Silva hoje possui diagnóstico de grau inicial de Alzheimer e demência, no
primeiro momento foi cogitado a não realizar a entrevista, devido a sua condição e
comprometer o relato de sua vida estudantil em memória, no sentido de buscar esses
relatos dos fatos de seu passado escolar; mas no decorrer da entrevista piloto foi
demonstrando uma consistência em sua denotação linear de sua história. Por isso foi
mantido seus depoimentos. Ainda segundo Bosi (1994) a respeito da memória dos velhos:
Minhas lembranças escolares parecem menos duras. Mas hoje tenho consciência
de que a escola também deixou marcas expressivas em meu corpo e me ensinou
a usá-lo de uma determinada forma. Numa escola pública brasileira
predominantemente feminina, os métodos foram outros, os resultados
pretendidos eram diversos. Ali nos ensinavam a sermos dóceis, discretas, gentis,
a obedecer, a pedir licença, a pedir desculpas. Certamente também nos
ensinaram, como a Corrigan, as ciências, as letras, as artes que deveríamos
manejar para sobreviver socialmente. Mas essas informações e habilidades foram
transmitidas e atravessadas por sutis e profundas imposições físicas. Jovens
escolarizados, aprendemos, tanto ele quanto eu, a suportar o cansaço e a prestar
atenção ao que professores e professoras diziam; a utilizar códigos para debater,
persuadir, vencer; a empregar os gestos e os comportamentos adequados e
distintivos daquelas instituições. Os propósitos desses investimentos escolares
eram a produção de um homem e de uma mulher "civilizados", capazes de viver
em coerência e adequação nas sociedades inglesa e brasileira, respectivamente
(LOURO, 2000, p.11).
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança dos Velhos / 3° Edição - São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
BOSI, Ecléa. O tempo vivido da Memória. Ensaios de Psicologia social. 4.ed. Ateliê, s/d.
LOURO, Guacira Lopes. Pedagogias da sexualidade. Introdução. In: LOURO, Guacira Lopes.
Org. O corpo educado. Autêntica, 2000.
SCOTT, J. (2017). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Amp;
Realidade, 20(2).