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Introdução aos Estudos da Educação I


História das ideias pedagógicas:
destaques do panorama mundial e brasileiro

Alessandra Bizerra
Suzana Ursi

2.1 Introdução
2.2 O que é pedagogia, afinal?
2.3 A Educação da Grécia Antiga à Idade Média
2.4 A Educação no Renascimento
2.5 O Nascimento da Pedagogia
2.6 O século das Luzes e Rousseau
2.7 Da Pedagogia Tradicional à Pedagogia Nova
2.8 Uma breve história da Pedagogia no Brasil
2.9 Making Off
Referências

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2.1 Introdução
Com frequência, questionamos o motivo de estudar
determinados assuntos. Isso ocorre durante toda nossa vida,
não é mesmo?
Iniciamos a presente aula justamente com alguns questio-
namentos relacionados a essa reflexão mais geral:
1. Será que todos os professores que entram em sala de
aula possuem conhecimento sobre a história das ideias
pedagógicas?
2. As ideias sobre pedagogia mantiveram-se constantes
no decorrer da história?
3. Realmente é importante estudar essa temática?
Figura 2.1: Qual o motivo de estudar
Quanto às questões 1 e 2, podemos afirmar que não. Nem determinados assuntos?
todo professor que entra em uma sala de aula está ciente da
história da pedagogia, nem as ideias pedagógicas foram constantes ao longo do tempo.
Se mesmo sem ter conhecimento sobre as variações das ideias pedagógicas os professores são capazes
de exercer seu ofício, faz-se necessário refletir sobre a terceira questão: por que estudar esse assunto?

Reflexão
Antes de prosseguir, veja o famoso vídeo “Brick in the wall” de 1978 mas,
que ainda continua muito atual.
Tente estabelecer uma relação entre este vídeo e o poema “The little boy
(O menininho)” de Hellen Buck.

Vamos retomar nosso raciocínio tentando justificar nosso posicionamento a favor do


conhecimento da história da pedagogia. O modelo de nosso sistema educacional faz parte
de um extenso processo histórico de mais de dois mil anos. Nesse processo histórico, muitas
ideias foram desenvolvidas e defendidas pelos mais distintos pensadores e, mesmo sem saber, o
professor e as características de sua atuação são produtos de todo esse processo.

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Em sua profissão, o professor se depara com inúmeros desafios que, muitas vezes, parecem
Clique nos nomes
obstáculos quase instransponíveis.
dos pensadores para Uma das importantes motivações para o estudo da história é
saber mais sobre eles.
compreender como
Clique nesteproblemas
balão para similares aos enfrentados hoje em dia foram encarados no passado.
fechá-lo.
O estudo em uma perspectiva histórica nos permite elucidar quais foram as estratégias utilizadas
e quais os resultados que nossos antepassados obtiveram ao tentar resolver seus problemas. Para
Augusto Comte, por exemplo, um processo só pode ser compreendido por meio de sua
história, e é o que nos permite, inclusive, compreender o contexto do qual fazemos parte, o modo
como chegamos ao modelo que hoje vivenciamos. Esse tipo de conhecimento é fundamental
para conseguirmos desenvolver ações efetivas nos mais diferentes campos de atuação.
No caso da atividade docente, compreender as influências históricas que definem o modelo
que seguimos pode nos ajudar a incrementá-lo ou até mesmo combatê-lo com maior eficiência,
seja qual for a nossa intenção.
Nesta aula, estudaremos, primeiramente, a definição do termo “pedagogia” para, em seguida,
darmos início ao estudo do surgimento das primeiras ideias pedagógicas das quais possuímos
registro histórico, chegando até as mais recentes. Daremos ênfase ao desenvolvimento dos
pensamentos ocidentais, que influenciaram mais significativamente a formação dos sistemas
educacionais vigentes no Brasil e em outros países.
Antes de prosseguirmos, dê sua opinião sobre a importância (ou não) de estudar as principais
ideias pedagógicas ao longo do tempo para a formação inicial de um professor.

Agora é a sua vez...


Antes de prosseguirmos, dê sua opinião sobre a importância (ou não)
de estudar as principais ideias pedagógicas ao longo do tempo para a
formação inicial de um professor, realizando a atividade 2.1.

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2.2 O que é pedagogia, afinal?


A palavra “pedagogia” tem raiz grega: paidós (criança)
e agogé (condução). Então, em termos literais, podemos
dizer que a palavra significa “a condução da criança”.
Entretanto, dizer que a pedagogia é a condução da
criança seria vago, pois a “condução” não acontece
de forma semelhante em todos os lugares, e podemos,
inclusive, dizer que em um mesmo lugar ela se modifica
no decorrer do tempo. Concluímos, dessa forma, que o
momento histórico define o significado dessa palavra e Figura 2.2: Pedagogia é a condução da criança.
suas implicações educacionais.
Em cada autor que estudarmos poderemos encontrar uma interpretação diferente dada ao
termo. Entretanto, podemos afirmar que através da própria definição a palavra remete a uma
metodologia, ou seja, a um modo de operar ou um modo de realizar o ato educativo.
Para Durkheim (1858-1917), sociólogo, pedagogo e filósofo, pai do realismo sociológico,
a pedagogia é a “teoria prática da educação”. Ele enxergava a educação como um esforço
contínuo de preparação das crianças para a vida em comum. Durkheim tinha a intenção de
estabelecer a pedagogia como uma teoria que se estrutura em função da ação, ou seja, que
é construída a partir de exigências práticas, reais, e que, por consequência, se interessa pela
execução de ações e seus resultados.
Por toda esta variedade de sentido, alguns autores têm dado preferência a utilizar o termo
“Ciência da Educação”. Contudo, esse termo já compreende uma maior extensão de significados
que não estão, necessariamente, restritos à prática e à metodologia educativa, mas englobam
uma diversidade de vertentes.
No decorrer da história da pedagogia, trataremos o termo sob o ponto de vista metodoló-
gico, daremos ênfase às práticas utilizadas e ao significado das mesmas para os pensadores que as
utilizavam ou defendiam. É interessante verificar, também, que a mudança de paradigmas de uma
sociedade tem influência direta sobre seu modo de conduzir a educação dos jovens. O processo de
construção do conhecimento pedagógico é, portanto, longo e complexo, além de ser, ao mesmo
tempo, muito revelador.

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2.3 A Educação da Grécia Antiga à Idade Média


Cerca de 2.500 anos atrás, os primeiros esboços de uma reflexão
sobre educação começaram a aparecer. Nesse período, uma intensa crise
começou a se perpetuar na Grécia, resultando em uma lenta dissolução
de modelos tradicionais gregos, abarcando também a religião e a política.
Diante de tal crise, houve a instauração de um novo modelo
cultural, por meio do qual a formação seria baseada no racionalismo
e no humanismo. Esse novo modelo foi contemporâneo ao nasci-
mento da democracia, que permitiu ao povo grego a descoberta do
pluralismo e do relativismo.
Foi nesse contexto de intensa reforma social que novos modelos
educacionais foram propostos., principalmente, pelos sofistas e Figura 2.3: Há 2.500 anos começaram a
aparecer os primeiros esboços de uma
também por Sócrates e por Platão (embora outros nomes reflexão sobre educação.
importantes tenham contribuído para a formação deste cenário).
Os novos modelos educacionais fundaram as raízes da cultura clássica, com a valorização de
elementos como a retórica, a filosofia e o discurso racional, entre outros. Entretanto é impor-
tante ressaltar que os principais fundamentos faziam parte de um ideal educativo, uma vez que
a educação era privilégio da elite.
Apesar de, entre os gregos, ter havido grandes educadores, eles não são considerados os
criadores da escola (mesmo tendo criado valores e pressupostos que se tornariam coerentes
com esta instituição). A civilização romana também introduziu diversos elementos importantes
para o contexto educacional, como a noção de justiça e a noção utilitarista dos conhecimentos.
Entretanto, para os estudiosos da área, o nascimento da escola só teria sido possível a partir
de um conjunto de pré-requisitos que apenas o cristianismo seria capaz de proporcionar.
O cristianismo, resultado da reunião de três grandes culturas (grega, romana e judaica), deu
origem à igreja que, com o apoio do império, teve função importante no fortalecimento da
coesão política. O crescimento do papel da igreja na sociedade pode ser responsabilizado pelo
nascimento da escola na Idade Média.

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Afirma-se que o nascimento da escola só se deu na


Idade Média porque a escola cristã uniu a instrução
literária com a formação religiosa, o que fez dela um meio
moral organizado. Entretanto, não podemos afirmar que,
assim como gregos e romanos, a escola na Idade Média não
possuía uma preocupação verdadeiramente pedagógica. Tal
afirmação se sustenta pelas características necessárias a um
professor, relacionadas, basicamente, à retidão moral.
Com Carlos Magno, podemos dizer que a Idade
Média começou a delinear um sistema escolar que tinha
ênfase na razão e nos estudos formais. Esta construção do
sistema escolar anunciava o início do renascimento, porém,
sem uma preocupação pedagógica aprofundada. Figura 2.4: Carlos Magno.

2.4 A Educação no Renascimento


O nome “renascimento” vem da vontade de buscar
novos valores com o intuito de alterar a sociedade a partir
de novas condutas para fundar uma nova era. A fonte de
valores e condutas passa a ser a cultura greco-romana
apresentada no item anterior.
Com grande valorização dada à cultura, a educação tor-
nou-se prioridade para os mais esclarecidos.
A crise, que orientou a mudança de paradigma da Idade
Média para o Renascimento, gerou profundos questiona-
mentos sobre quase todos os aspectos da educação, o que
resultou em diversas doutrinas das quais destacamos duas
grandes correntes: a enciclopédica e a humanista.
Com a chegada dessas novas doutrinas educacionais, a
educação escolástica foi deixada de lado. A doutrina enci-
clopédica foi representada por Rabelais, e tinha um ideal
Figura 2.5: A fonde de valores e condutas passa a
erudito; o estudante deveria aprender tudo e a disciplina ser a cultura greco-romana com o surgimento do
renascimento.
não era bem vista por limitar e oprimir o ser.

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A doutrina humanista, por sua vez, foi representada por Erasmo e tinha por característica a
busca de um refinamento de espírito, por meio do qual se deve ter domínio das boas maneiras;
o mestre deveria ter um vasto conhecimento para poupar seu aluno de ter que aprender tudo.
Em suma, podemos dizer que o renascimento marcou a valorização de um discurso pedagó-
gico pautado, principalmente, na crítica à escolástica (movimento intelectual dos séculos XII ao
XIV centrado no raciocínio - e apenas nele). A crítica ao formalismo exagerado é tão intensa
que o discurso educacional renascentista apresenta, prioritariamente, reflexões sobre a educação,
com poucas acepções realmente metodológicas. No que se refere à organização dos estudos, à
“educação das massas”, às práticas pedagógicas, os ideais renascentistas não podem ser creditados
como grandes contribuintes. Entretanto, a educação humanista tem grande importância para a
construção de valores e pressupostos das ideias e práticas educativas.
Devido a este caráter altamente não utilitarista do discurso renascentista, podemos dizer que
a pedagogia de fato só surgiu posteriormente.

2.5 O Nascimento da Pedagogia


No século XVII, a educação ganhou uma nova perspectiva ao inserir em sua discussão o
método, ou seja, a pedagogia. Entendemos a pedagogia por um conjunto de metodologias e saberes
docentes que não se referem a conteúdos específicos, mas que são formulados pelo educador a fim
de aumentar a eficácia do ensino e, consequentemente, a aprendizagem do aluno.
Entre os fatores que influenciaram o aparecimento da pedagogia podemos citar a reforma
protestante que, liderada por Lutero, enfatizou a necessidade de educar a população e ampliar
o acesso da mesma às instituições de ensino.

Figura 2.6: A reforma protestante


liderada por Lutero foi um dos
fatores que influenciaram o
aparecimento da pedagogia.

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Citamos aqui também a Contrarreforma católica, que surgiu como uma resposta à
Reforma protestante. A Igreja viu-se obrigada a fundar escolas para doutrinar um maior
número de fiéis. O exemplo mais conhecido da resposta da igreja é a formação da instituição
jesuítica, que também faz parte da história da pedagogia brasileira.
Outros dois fatores que contribuíram para o aparecimento da pedagogia foram uma
nova visão da infância e o problema da delinquência nos centros urbanos. Considerava-se
que a infância seria uma época de leviandade, e isso deveria ser curado, o que justifica por si
só a existência de um método corretivo. Para corroborar com isso, a delinquência intercede
pelo argumento anterior.
Os fatores citados acima tiveram como
consequência um aumento do número de
alunos nas escolas, o que exigiu a criação de
uma metodologia específica para que os mestres
fossem capazes de lidar com a nova realidade. Por
esse motivo, no século XVII surgiram diversos
tratados sobre pedagogia, e o que os diferencia
das obras dos períodos anteriores é o nível de
detalhamento alcançado pelos pedagogos já
experientes, o que necessariamente afasta esses
tratados da nobreza.
Os Jesuítas, tão conhecidos entre os
brasileiros, surgiram nesse contexto, pela
necessidade de consolidar o poder católico, com
a nítida missão de catequizar. O objetivo claro
da doutrina cristã influencia estas obras, pois,
para serem realmente eficazes, elas necessitam
de clareza e detalhamento de métodos.
Assim ocorre a construção da pedagogia
como um “saber-fazer” do professor em relação
Figura 2.7: A contrarreforma católica surgiu como uma resposta
ao aluno, para conseguir atingir o seu objetivo. à Reforma protestante e a Igreja viu-se obrigada a fundar escolas
para doutrinar um maior número de fiéis.

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2.6 O século das Luzes e Rousseau


O século XVIII apresentou inúmeras mudanças políticas, sociais e
culturais realmente significativas. Houve nesse século uma radicalização
das mudanças que começaram no Renascimento e continuaram até
então. Conhecido como o “Século das Luzes”, o século XVIII possui
inúmeros filósofos de renome, como Montesquieu, Voltaire,
Newton, Locke, Kant etc.
Nesse período houve também um grande desenvolvimento de
diversos domínios do saber. Entre eles podemos destacar a ciência, as
Figura 2.8: Filósofo do século XVIII,
artes e a tecnologia. E nesse novo contexto a crença geral é a de que conhecido como o “Século das Luzes”.
a felicidade e o progresso podem ser construídos pelos homens se guiados pela razão.
Entre todos os pensadores, Rousseau se destaca por ser um crítico extremamente original
e severo, cujo pensamento parece influenciar ainda hoje a pedagogia. A visão de Rousseau sobre
a educação é fundamentada em alguns princípios:
1. A prática pedagógica deve ser baseada na observação das crianças e ligada a uma teoria
que se aplique a toda a natureza humana.
2. É preciso distinguir quais as etapas existentes no desenvolvimento.
3. A educação pelas palavras deve dar lugar à educação pelas coisas, portanto, tudo aquilo
que for sensitivo, intuitivo e ativo deve ser priorizado.
4. A aprendizagem só é válida se despertar o interesse da criança.
5. Existe uma natureza própria à alma da criança.
6. Não é possível realizar qualquer revolução de costumes e
instituições sem que seja feita uma revolução da educação.
A obra Émile, de Rousseau, é revolucionária, pois inverte
significativamente a ideia da infância e a educação que deve ser dada
à criança. Contudo, a teoria de Rousseau não explicita como seria
a aplicação dos conhecimentos por ele delineados em uma escola
urbana, ao contrário, apenas explica a relação entre um mestre e seu
discípulo (o preceptorado). Figura 2.9: Rousseau.

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Por este motivo, mesmo sendo de suma importância, o pensamento de Rousseau não teve
grande impacto nas práticas pedagógicas dos séculos seguintes (XVIII e XIX).
Podemos dizer que apenas no século XX as ideias de Rousseau foram realmente retomadas,
no século XIX as preocupações foram mais voltadas para o âmbito legal.

2.7 Da Pedagogia Tradicional à Pedagogia Nova


Estudamos resumidamente as mudanças
ocorridas em relação às ideias pedagógicas
no decorrer de muitos séculos. Agora,
entraremos nas questões relacionadas ao
século XX, marcadamente caracterizado
pela passagem de uma pedagogia tradicional
para uma pedagogia nova.
Esse século se diferencia dos demais
pela conscientização da existência de
uma história pedagógica pelos edu-
Figura 2.10: Século XX - caracterizado pela passagem de uma pedagogia
cadores; a importância da psicologia tradicional para uma pedagogia nova.
aflora como principal componente do discurso pedagógico. Temos, neste momento, o
início da escola nova.
A Pedagogia Nova se opõe drasticamente à Pedagogia Tradicional, com o objetivo de fazer
com que todos os dons inatos das crianças frutifiquem a partir do estímulo correto. A escola
passa a se ocupar com a totalidade dos aspectos que constituem os seres humanos, e não mais
apenas com o que diz respeito ao seu intelecto.
Os educadores passam a ter uma postura que inspire a confiança da criança para que, assim,
consigam fazer-lhe desabrochar.
Diversos autores têm sua importância reconhecida nesse momento histórico, entre eles
podemos destacar Montessori, Freinet e Freire, sem deixar de citar Vygosky e Piaget,
que podem ser considerados os responsáveis pelas abordagens construtivistas.

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2.8 Uma breve história da Pedagogia no Brasil


A pedagogia em nosso país só teve início em 1549
com a chegada do primeiro governador geral, Tomé de
Souza, trazendo consigo os jesuítas, que vieram com a
missão de converter os gentios, como vimos no item
2.5. No contexto da Contrarreforma, a Igreja se viu per-
dendo um número vertiginoso de fiéis e logo precisou
tomar medidas para isso evitar.
Podemos dizer que o processo de ocidentalização
do Brasil dependeu de três aspectos muito fortes: a
colonização, a educação e a catequização.
Com o advento do nepotismo esclarecido,
Marquês de Pombal ordenou o fechamento das
escolas jesuítas, fase que ficou conhecida como
Figura 2.11: Processo de ocidentalização do Brasil:
pombalina e foi marcada por um ideário iluminista. colonização, educação e catequização.
Com a vinda da família real para o Brasil, uma
nova ruptura do sistema educativo aconteceu, no entanto, a educação brasileira continuou
tendo importância secundária.
Mais tardiamente, com a declaração da independência do país, houve a necessidade de se delinear
um tratado que cuidasse das questões educacionais brasileiras. E em meio a essa discussão mostrou-se
urgente a necessidade de organizar um sistema público de escolas a ser implantado em todo o novo
Estado. Nesse contexto uma versão laica de escola começou a ser apropriada pela elite do país.
Acreditava-se na necessidade da instrução para que o povo pudesse atingir uma real
independência, pois aquele que é ignorante sempre se encontra em um estado de dependência.
Com a promulgação da constituição brasileira em 1824, tornou-se oficial o intuito de
fornecer uma educação básica e gratuita para todos. Contudo, até a proclamação da república
em 1889 nada de concreto se fez pela educação brasileira.
A adoção de um sistema presidencialista trouxe ao Brasil uma influência nitidamente positivista.
Na escola brasileira começou a nascer uma tendência cientificista. E não muito tempo depois, com
a capitalização do país e os novos investimentos em seu crescimento industrial, uma demanda para
mão de obra foi criada, o que gerou, por consequência, uma demanda educacional profissionalizante.

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No período do Estado Novo, uma nova constituição foi outorgada (1937), desta vez
refletindo claramente as tendências fascistas e dando uma maior valorização ao ensino pré-
vocacional e vocacional, que fica oficializado no documento constitucional. Tal fato torna
nítida a transferência da preocupação de um ensino colegial propedêutico e preparatório para
o ensino superior, para um ensino voltado para uma formação geral, preparatória, para um
ensino profissionalizante.
Com o fim do Estado Novo, entre as décadas de 40 e 60, ocorreu a adoção de uma nova
constituição, por sua vez, mais democrática e liberal, fato que gerou uma enorme gama de
discussões em torno do cenário educacional, resultando na promulgação da primeira Lei de
Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB).
Contudo, o impulso de mudança do cenário educacional brasileiro foi abortado pelo golpe
militar em 1964, com o pretexto de que a proposta educacional seria subversiva e teria um
caráter comunista. Nesse período houve a expansão universitária e a criação de um vestibular
classificatório para o ingresso nas instituições de ensino superior.

Figura 2.12: Adoção de uma nova constituiçãomais democrática e liberal


gerou uma enorme gama de discussões em torno do cenário educacional.

Ao fim do período militar, a discussão educacional já havia perdido seu enfoque pedagógico
para dar lugar ao enfoque político. Uma nova LDB, no entanto, só foi aprovada em 1996.
Atualmente, o ensino nacional tem como diretriz principal os Parâmetros Curriculares
Nacionais. Infelizmente, mesmo após mais de 10 anos de seu lançamento, ainda enfrentamos
graves problemas educacionais.

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2.9 Making Off


Elaboramos as diversas aulas dessa disciplina, procurando auxiliar você, professor em formação,
na ampliação de seus conhecimentos e, consequentemente, em sua futura atuação profissional.
Já na próxima aula, focamos nosso estudo mais diretamente no Ensino de Ciências da Natureza.
Para tanto, teremos os Parâmetros Curriculares Nacionais de Ciências Naturais como um dos
documentos de referência.

Agora é a sua vez...


Você já teve contato com esses documento? O que conhece sobre ele? Responda uma
pequena enquete no ambiente virtual. Realize também as atividades propostas.

Após responder a enquete, você já pode começar a se familiarizar com o material,


acessando o endereço: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencias.pdf.

Para saber mais


Embora tenhamos realizado um apanhado global que julgamos conter o conteúdo
essencial para uma compreensão introdutória sobre as transformações das ideias
pedagógicas ao longo do tempo, é importante ressaltar que abordamos a temática de
forma bastante simplificada na presente aula.
Dessa maneira, é interessante ampliar ainda mais seus conhecimentos. Para tanto,
recomendamos o conteúdos dos links abaixo, que trazem materiais bastante interessantes.
1. Material organizado pelo Centro de Referência em Educação - C R E (Secretaria
de Estado da Educação de São Paulo) sobre alguns “Mestres do pensamento
pedagógico” <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/grp_l.php?t=033>.
2. Edição especial da Revista Nova Escola sobre os “Grandes pensadores” da educação.
Vale a pena conferir o interessante esquema de uma árvore evolutiva das ideias
pedagógicas. <http://revistaescola.abril.com.br/edicoes-especiais/022.shtml>.

Referências
Gauthier, C.; Tardif, M. A Pedagogia: Teorias e Práticas da antiguidade aos Nossos Dias.
Petrópolis:Vozes, 2010.
Saviani, D. A pedagogia no Brasil: história e teoria. Campinas: Autores Associados, 2008.

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Informações Complementares
Carlos Magno: Carlos Magno foi rei dos francos e depois imperador do ocidente. Era filho de Pepino, o
Breve (dinástica carolíngia). Foi conhecido por sua arte de guerrear, além de suas habilidades políticas.
Ambicionava a reunificação do ocidente europeu sob sua autoridade. Em seus últimos anos de vida,
houve a consolidação do Estado.
Comte: Augusto Comte é o filósofo francês considerado fundador da Sociologia e do Positivismo. Ele
nasceu em Paris e lá estudou enquanto desenvolvia sua teoria. Seus pensamentos ganharam grande
importância no cenário mundial e chegaram a influenciar também o Brasil, durante a República.
Durkheim: Émile Durkheim pode ser considerado um dos fundadores da sociologia moderna. Sua
pesquisa de doutorado foi sobre a divisão do trabalho social. Para ele a existência de uma sociedade
só é possível quando existe um acordo entre os indivíduos que a compõem. Entretanto, este consenso
se apoia na solidariedade, que pode ser mecânica ou orgânica.
Erasmo: Nascido em uma pequena família burguesa na Holanda, provavelmente em 1466. Ficou órfão
com 17 anos e entrou para um mosteiro poucos anos depois. Após ser ordenado sacerdote, iniciou
uma vida errante cosmopolita e humanista. Escreveu “Apologia contra os Bárbaros”, obra na qual
considera bárbaros aqueles incultos e deformados, resultantes de uma formação escolástica tradicio-
nalista. Para Erasmo, o sistema educativo deveria ter um mestre onisciente para poder poupar o aluno
de ter que aprender tudo.
Freinet: Celestine Freinet foi um pedagogo anarquista francês. Em sua infância, sua estada na escola
foi extremamente desagradável e tal experiência influenciou seu pensamento. Freinet afirmava a
existência de uma dependência entre a escola e o meio social de forma a concluir que não existe
educação ideal, mas uma educação de classes. Em seu livro, “Educação para o Trabalho”, apresentou
um confronto entre a escola tradicional e a escola proposta por ele, onde o trabalho tinha a posição
central como metodologia.
Freire: Paulo Reglus Neves Freire destacou-se por seus estudos na área da educação. Educador e filósofo
brasileiro, nascido em 1921, é considerado um dos pensadores mais notáveis da história da pedago-
gia mundial. Autor de “A Pedagogia do Oprimido”, um método de alfabetização dialético, sempre
defendeu o diálogo com as pessoas simples como um método realmente democrático, destacando-se
dos métodos propostos pela vanguarda esquerdista de sua época.
Kant: Immanuel Kant foi um filósofo influente e considerado um dos últimos grandes filósofos do
princípio da era moderna. Nasceu em 1724, na Prússia, e durante sua vida lecionou geografia e
ciências naturais. Por muito tempo lecionou em universidade, tendo uma vida tranquila. Sua fama
advém principalmente do idealismo transcendental, e também é conhecido por sua filosofia moral.
Para Kant, o conhecimento permitiria ao homem atingir a “maioridade”, ou seja, emancipar-se; e a
menoridade seria a incapacidade de fazer uso do seu próprio entendimento.
Locke: John Locke, considerado artesão do pensamento político liberal, fundou a moderna educação
inglesa, cuja influência ultrapassou as barreiras geográficas de sua pátria. A maior parte de sua obra
se caracteriza por ter uma forte oposição ao autoritarismo. Locke, com suas obras, é considerado o
precursor do pensamento iluminista. E, sem dúvida alguma, influenciou os pensadores de seu tempo,
além de ser referência teórica para as reformas que surgiriam mais tarde.

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Lutero: Martinho Lutero teve extrema importância no cenário histórico por ter dado início à Reforma
protestante. Foi ordenado sacerdote, porém, rompeu com a Igreja quando testemunhou a venda de
indulgências. Nesse momento, Lutero negou a autoridade papal e foi excomungado, queimando
a bula papal em praça pública, em 1520. Posteriormente, Lutero traduziu a bíblia para o Alemão,
colocando-a ao alcance dos menos letrados.
Montesquieu: O Barão de Montesquieu, Charles-Louis de Secondat, foi considerado um dos grandes
filósofos do período iluminista. Escreveu um relatório no qual discorria sobre as formas de poder e
explicava como os governos poderiam ser preservados da corrupção. Montesquieu também idealizou
um Estado regido por três poderes: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Esta divisão do poder
influenciou drasticamente a política moderna. A Igreja católica colocou seu livro “Espírito das Leis”
entre os livros proibidos, mas mesmo com essa medida o sucesso da obra não foi impedido.
Montessori: Maria Montessori nasceu italiana, em 1870. Foi a primeira mulher a se formar em medicina
na Itália. Após sua formatura iniciou um trabalho com crianças portadoras de necessidades especiais
e depois utilizou os métodos experimentados nessas crianças em crianças sem qualquer comprome-
timento de aprendizagem. Sua metodologia propunha despertar a atividade infantil a partir do estí-
mulo, e promover uma autoeducação da criança, por meios adequados de trabalho a sua disposição.
O educador, nesta visão, não atuaria diretamente sobre a criança, mas ofereceria a possibilidade de
autoformação. Seu trabalho exigia um abundante material que possuía caráter autocorretivo.
Newton: Nascido em 1642, na Inglaterra, Newton destacou-se no cenário mundial por suas contri-
buições em cálculo e física. Sua obra é considerada uma das mais influentes da história da ciência.
Suas descobertas culminaram numa revolução científica que influenciou o período em que vivia de
forma intensa.
Piaget: Jean Piaget, suíço, foi um dos expoentes do estudo do desenvolvimento cognitivo. Estudou os
processos de construção do pensamento das crianças e dividiu os períodos de desenvolvimento
humano de acordo com o aparecimento de novas qualidades de pensamento. A divisão das faixas
etárias propostas por Piaget é uma referência, mas não uma norma rígida. A crítica de Piaget à escola
tradicional é acida, pois, segundo ele, os sistemas educacionais objetivavam mais acomodar a criança
aos conhecimentos tradicionais do que formar inteligências inventivas e críticas.
Platão: Platão foi um filósofo grego de extrema importância na história. Discípulo de Sócrates, com
ele muito aprendeu. Para Platão a educação substitui a política, e teria o poder de refazer a história.
No plano político, entretanto, pode ser considerado um reacionário, se comparado com os sofistas.
Sua maior obra, “A República”, possui múltiplos significados que são suscetíveis também a múltiplas
interpretações.
Rabelais: François Rabelais, nascido na França, provavelmente em 1484. Começou seus estudos para a
vida religiosa, porém, os interrompeu para se dedicar à medicina.Viveu em um período conturbado
pelas reformas protestantes e escreveu diversos livros que refletiam sua vida inapreensível, misteriosa
e desconcertante. Fervoroso iluminista, era contra e educação escolástica e lançou seu ataque contra
os métodos e o formalismo da mesma.

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Rousseau: Jean-Jaques Rousseau nasceu na Suíça em 1712, foi um importante filósofo, teórico
político, escritor e compositor autodidata. Pode ser considerado o Copérnico da educação, pois
suas ideias modificaram a história da educação de uma forma muito intensa. Sua pedagogia
representou a primeira tentativa radical e apaixonada de oposição fundamental à pedagogia da
essência e de criação de perspectivas para uma pedagogia da existência. A educação, segundo
Rousseau, não deveria ter por objetivo a modelação da criança com vista ao futuro nem para fins
pré-determinados. Ele se mostrava contrário à educação precoce.
Sócrates: Sócrates pode ser considerado o primeiro mestre que defendeu sua própria ignorância. Grego,
era considerado pelos demais gregos uma espécie de sofista, porém, não considerava que dava lições, e
procurava mais aprender do que ensinar através de suas discussões. Uma de suas frases mais famosas é:
“Conhece a ti mesmo”. Teve Platão como discípulo, outro filósofo grego extremamente importante.
Sofistas: A palavra “sofista” significa “erudito”. Os sofistas eram homens cultos que, alfabetizados,
brilhavam por seu espírito e por saber usar a palavra. Geralmente, eram estrangeiros que viajavam
entre as cidades para vender seu talento. Atenas era o local predileto dos sofistas, e lá eram conhe-
cidos como mestres do “saber-falar”.
Voltaire: O nome Voltaire era apenas pseudônimo de François-Marie Arouet. Ele nasceu em Paris, em
1694, e dentre outras atividades que exerceu foi poeta, ensaísta, dramaturgo, filósofo e historiador
iluminista. Voltaire defendia a liberdade de pensar diferente. Uma célebre frase de Voltaire era:
“Devemos julgar um homem mais pelas suas perguntas do que pelas suas respostas”.
Vygotsky: Lev Semenovitch Vygostky, russo, nascido em 1896, foi pioneiro na noção de que o desenvol-
vimento intelectual das crianças ocorria em função das interações sociais, as quais estavam submeti-
das às condições de vida. Seus estudos só ficaram conhecidos no ocidente depois de muitos anos de
sua morte, que ocorreu em 1934, aos 37 anos, por advento de uma tuberculose.

Introdução aos Estudos da Educação I

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