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DIDÁTICA

AULA 1 – RAÍZES DA
DIDÁTICA

Olá,
A didática está presente na vida de qualquer professor: estratégias de
sala de aula, formação teórico-prática, metodologias, posturas e atividades
diversificadas. Esses e tantos outros fatores importantes constituem o fazer
pedagógico e desenham os caminhos do conhecimento, que procura
realizar a mediação entre as teorias educacionais e as práticas em sala de
aula.
Nessa aula, você terá a oportunidade de navegar e construir
conhecimentos sobre a trajetória histórica da didática, bem como conhecerá
diferentes pensadores e as suas teorias educacionais. Nessa perspectiva,
poderá reconhecer os principais marcos históricos de constituição da didática
e, ainda, ponderar sobre as transformações e os avanços dos estudos e das
práticas didáticas na atualidade.
Bons estudos!
Ao final desta aula, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• aula,
Nesta você vaiaconferir
Reconhecer os contextos
trajetória conceituais
histórica da didática, da psicologia entenderá
observando os
como ela alcançou o seu estatuto
seus diferentes de cientificidade.
pressupostos teóricos,Além disso,eterá
filosóficos a oportunidade
sociais.
• as
de conhecer três grandes
Identificar doutrinas da
os principais psicologia,
marcos behaviorismo,
históricos psicanálise
fundamentais na e
Gestalt, e as áreas de atuação
constituição do psicólogo.
da didática.
• Analisar as mudanças e os avanços da didática nos dias atuais.
▪ Compreender o conceito de psicologia
▪ Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia
▪ Conhecer as áreas de atuação do psicólogo.
1. A TRAJETÓRIA A HISTÓRICA DA DIDÁTICA: PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIAIS

Não é incomum ouvirmos, quando o assunto é escola ou educação, falas como


“esse professor sabe muito, mas não sabe ensinar”, ou “essa professora não tem
didática”, ou, ainda, “a didática desse professor é muito ruim”. São inúmeras as
expressões relacionadas às práticas da sala de aula que reafirmam a sua importância
e necessidade para o processo de construção do conhecimento. É nesse cenário que
emerge a didática como o caminho para o saber, ou seja, a consumação da
teorização. Vale ressaltar que a palavra didática surge do grego didaktiké, com o
abrangente significado de “a arte de ensinar tudo a todos”. O termo foi empregado
pela primeira vez por Ratke, em 1629, e por Comenius, em 1657. Foi a partir de
Comenius que a didática ganhou força e notoriedade. Também foi o grande pensador
Comenius quem escreveu, entre diversas outras obras, a “Didática Magna”, uma das
mais importantes escritas do cenário educacional mundial. Portanto, ele trouxe a
prática do ensinar e aprender como pauta fundamental para esse contexto,
imaginando ter descoberto um método eficaz para se chegar à aprendizagem, de
modo ágil e prazeroso. Comenius (2001, p. 13) ressalta que:

Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de
ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo para obter resultados; de
ensinar de modo fácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem
ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo
sólido, não superficialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à
verdadeira cultura, aos bons costumes, a piedade mais profunda
(COMENIUS, 2001).

No século XVIII, surgiu outro importante expoente que trouxe conhecimentos


revolucionários para a didática: Rousseau. Ele não pode ser considerado um
sistematizador da educação, porém a sua obra apresenta algo que se tornaria
fundamental para compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem: um
novo e inovador conceito de infância. Rousseau surgiu como um continuador das
ideias dos didatas, no entanto, com os seus estudos e pesquisas, certamente deu um
passo muito mais além, colocando em evidência a condição do ser criança. Assim, ele
transformou o que era método em um processo natural, que aconteceria de maneira
tranquila, sem excessos, sem livros e sem nenhuma pressa.
Na tentativa de percorrer o conceito e o histórico da didática, faz-se
imprescindível considerar os aspectos políticos, sociais e culturais, bem como as
percepções e construções de alguns pensadores e pensadoras a respeito desse
conceito em diferentes momentos da história. Inicialmente, Pestalozzi (1826), nos
seus escritos e na sua atuação, deu dimensões sociais à problemática educacional.
O aspecto metodológico da didática encontra-se sobretudo em princípios, e não em
regras, transportando-se o foco de atenção às condições para o desenvolvimento
harmônico do aluno.
Para Candau (1986, p. 12), a “[...] didática deve ser compreendida como
reflexão sistemática em busca de alternativas para os problemas da prática
pedagógica”. Nessa perspectiva, pode-se dizer que ela compõe a pedagogia. Outro
importante autor que traduz, no decorrer da história, a sua percepção sobre a didática
é Libâneo (1992, p. 26):

A didática é o principal ramo de estudos da Pedagogia. Investiga os


fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino.
Segundo essa ideia, a ela cabe converter objetivos sociopolíticos e
pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e métodos em
função desses objetivos, estabelecendo os vínculos entre o ensino e a
aprendizagem (LIBÂNEO, 1992).

De acordo com Masetto (1997), vemos em ensinar, instruir e fazer aprender


uma reflexão sistemática sobre o processo de ensino e aprendizagem que ocorre na
escola (na sala de aula), buscando alternativas para os problemas da prática
pedagógica — portanto, tentativas de aproximação ao sentido da didática. Nesse
cenário, é possível perceber que o processo de reflexão sistemática visa ao estudo
das teorias de ensino e de aprendizagem associadas ao processo educativo realizado
no contexto escolar (escola e sala de aula), bem como aos resultados obtidos, em
busca de alternativas para a teoria e a prática. Como processo de ensino e
aprendizagem, a didática atua em três dimensões: humana, político-social e técnica.
Para Anastasiou e Pimenta (2002), a didática é vista como uma ação de ensinar
que está inteiramente ligada às relações entre os mais velhos e os mais jovens, entre
crianças e adultos, na família e nos demais espaços sociais e públicos. Já para Martins
(2008), a didática é a disciplina que busca compreender o processo de ensino em
suas múltiplas determinações, para intervir nele e reorientá-lo na direção política
almejada. Portanto, a didática recebe influências dos direcionamentos políticos, mas
tem o poder de atuar sobre eles. Por fim, Morandi (2008), apoiado em Chavellard,
afirma que a didática descreve as modalidades do trabalho pedagógico sobre e com
o saber. Esse trabalho transforma um objeto–saber a ser ensinado em um objeto de
ensino.
Considerando as diferentes concepções defendidas por esses e diversos
outros autores e autoras, encontramos na história da educação períodos históricos
nos quais emergiram novas tendências educacionais, que foram se sustentando e se
materializando como importantes correntes didático-pedagógicas. Entre elas,
destacam-se a pedagogia tradicional, a pedagogia renovada, a pedagogia tecnicista
e a pedagogia crítica.
Nessa perspectiva, para pensarmos as novas práticas educativas e
vislumbrarmos as novas possibilidades didático-pedagógicas, é fundamental que
façamos um paralelo da didática com essas teorias. Dessa forma, trazer as diferentes
concepções e os períodos históricos nos ajuda a perceber os processos de mudanças
e transformações, bem como todos os atravessadores que influenciaram — e
influenciam — a educação e a didática.
É fundamental, também, problematizar todas essas teorias de modo a refletir
sobre a necessidade de diálogo entre elas. Além disso, é importante termos a
possibilidade de visualizar as tantas oportunidades de apoio e intervenção ao sujeito
no processo de ensino e aprendizagem, inclusive às crianças.

1.1 O processo histórico da didática no Brasil

Compreende-se que, a partir da década de 1980, mais enfaticamente nos anos


1990, foi iniciada uma nova fase na educação, com a perspectiva de uma ruptura que
favorecesse a urgência em interpretar e compreender a dinâmica de ensino e
aprendizagem em sua vasta dimensão, integrando, ainda, os seguintes aspectos:
técnico, humano e político. Vale ressaltar que esse movimento teve estreita relação
com a modificação da perspectiva nos estudos sobre o currículo (especialmente nos
Estados Unidos e na Europa). Nesse contexto, o currículo constitui um dispositivo no
qual que se concentram as relações entre a sociedade e a escola, assim como entre
os saberes, as práticas socialmente construídas e os conhecimentos escolares.
Podemos dizer, então, que os primeiros constituem as origens dos segundos. Em
outras palavras, os conhecimentos escolares provêm de saberes e de conhecimentos
socialmente produzidos nos diversos espaços de referência do currículo.
Desse modo, é de máxima importância que você compreenda o processo
ocorrido na segunda metade do século XX, que reflete na prática de ensino dos
docentes até os dias atuais. Entre 1960 e 1970, eram sinônimos de qualidade na
prática de ensino:

• Abordagem tecnicista;
• Construção de planejamentos rígidos;
• Domínio da sala de aula;
• Enorme valorização das técnicas;
• Valorização enfática nos recursos didáticos, etc.

Em 1980, ocorreu um grande marco no desenvolvimento da didática:

• Ocasião do Encontro de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE);


• Enorme produção acadêmica;
• Professores discutindo a sua própria prática;
• O aluno é visto como um ser historicamente concebido, etc.

De 1990 até os dias atuais, o processo didático e a prática de ensino e


aprendizagem se fortaleceram:

• A didática passa a ser tema de interesse de grandes pesquisas;


• Busca-se a compreensão do cotidiano e do fazer pedagógico;
• O professor é visto como agente reflexivo, pesquisador e transformador;
• A didática é assumida como disciplina prática, etc.

Enfim, a didática — e tudo o mais que a atravessa — busca a compreensão, a


análise e o entendimento dos fatos associados ao campo dos conhecimentos
pedagógicos. Com isso, à medida que a história avança, ela crescerá e mudará devido
aos inúmeros estudos e à ampla gama de pensadores que são instigados a debater,
problematizar e desenvolver novos métodos de ensino e aprendizagem.
A didática é considerada uma ciência que estuda os saberes necessários à
prática docente e é um dos principais instrumentos para a formação do professor. É
nela que os docentes se baseiam para adquirir os ensinamentos necessários à
prática. De acordo com Libâneo (1992, p. 26), “[...] a didática trata da teoria geral do
ensino”. Como disciplina, é entendida como um estudo sistematizado, intencional, de
investigação e de prática. Como importante área da pedagogia, a didática procura
pesquisar e estudar o fenômeno do “como ensinar”. As recentes modificações nos
sistemas escolares, especialmente na área de formação de professores, configuram
uma “explosão didática”. A ressignificação da didática aponta para um balanço do
ensino como prática social, ou seja, essas modificações têm provocado consideráveis
transformações na prática social de ensinar.

1.2 Principais marcos históricos que foram fundamentais para a constituição


da didática

De várias maneiras, a didática pode ser vista nas práticas sociais: como
disciplina, como campo de conhecimento, como ação humana, como organização
institucional, etc. Segundo Araújo (2008), a didática como disciplina é desenvolvida
nos cursos de graduação, formação de professores e licenciaturas com o objetivo de
fornecer as ferramentas teóricas e práticas necessárias para que um futuro professor
possa ensinar em sala de aula. Como campo de conhecimento, indica os grupos que
investigam e criam conhecimento especializado naquele campo. A didática, como
ação humana, traduz a preocupação do ser humano em planejar o ensino, montar
aulas e selecionar estratégias de ensino adequadas para determinado conteúdo. A
didática busca técnicas e metodologias que organizem os processos institucionais de
aprendizagem e ensino como forma de facilitar o processo de construção do
conhecimento.
É importante compreender que, apesar de muitos filósofos terem discordado
uns dos outros sobre a educação em geral, os primeiros tratamentos sistemáticos dos
processos de ensino e aprendizagem não apareceram até o século XII. Isso é
importante para entender os principais precedentes históricos que serviram de base
para o desenvolvimento da didática. Segundo Araújo (2008), são exemplos de
relevantes:
• “Eruditio didascalia”, de Hugo de San Victor, no século XII;
• “De disciplinis”, de Juan Luis Vives, no século XVI;
• “Aporiam didactici principio”, de Wolfgang Ratke, no século XVII.
Seguramente, cada uma dessas obras serviu de base para entendimentos,
mudanças e evoluções em suas respectivas épocas. Mas é importante reiterar que
nenhuma delas exibe a fama e a grandeza da “Didática Magna” de João Amós
Comenius, publicada em 1657. Tal impacto pode ser atribuído à complexidade e
ousadia da proposta, bem como a abordagem que sugere de ensinar tudo a todos,
que ali se apresenta.
Comenius, através de seus estudos, refletiu sobre a divisão social do trabalho,
que se tornou uma marca forte de sua época. Segundo ele, existem quatro tipos
diferentes de escolas: a escola do regaço materno, a escola da língua nacional, a
escola latina e a academia ou universidade.
As teorizações de Rosseau, sem dúvida, também devem ser elencadas como
marco histórico para a formação da didática. O pensador deu uma contribuição
significativa para definir os rumos da didática ao propor algo que influenciaria todos
os estudos posteriores. Ele defendia que o valor da infância tem implicações de longo
alcance para a pesquisa e a ação educacional, mas que ainda levarão décadas para
se materializar.
Em contraste com Comenius, que acreditava em "dominar as paixões das
crianças ", Rousseau partiu da premissa da bondade natural do homem corrompido
pela sociedade. Ele discute como a reforma social é tão necessária quanto a reforma
da educação em seu livro “O contrato social”. Ele participou da renovação ideológica
que antecedeu a Revolução Francesa como resultado desse aspecto de seu
pensamento. Para Damis (1988, p. 13):

Há uma evolução da Didática em paralelo com a história da educação, visto


que, desde os jesuítas, passando por Comênio, Rousseau, Herbart, Dewey,
Snyders, Paulo Freire, Saviani, dentre outros, a educação escolar percorreu
um longo caminho do ponto de vista de sua teoria e prática. Vivenciada
através de uma prática social específica – a pedagogia –, esta educação
organizou o processo de ensinar-aprender através da relação professor aluno
e sistematizou um conteúdo e uma forma de ensinar (transmitir-assimilar) o
saber erudito produzido pela humanidade (DAMIS, 1988).

Dessa forma, percebe - se que a educação se fortaleceu e que a pedagogia


mantém seu status de ciência particular, distanciando - se gradativamente da filosofia
e da teologia e reafirmando seu lugar no contexto educacional. Já as histórias da
pedagogia e da didática, no entanto, vão se misturando ao longo do tempo. Às vezes,
quando você registra os estudos que compõem a história da pedagogia, muitas vezes
você se refere, entre outras coisas, a teólogos e filósofos. Algo semelhante acontece
quando falamos da história da didática.
Vários pontos de inflexão históricos ajudaram a didática a avançar e chegar
onde chegou. Alguns nomes merecem destaques:

▪ Jean-Jacques Rousseau (1712–1778): Foi um pensador que tentou interpretar


essas aspirações e propôs um novo conceito de educação baseado nas
necessidades da criança e em seus interesses imediatos.
▪ Henrique Pestalozzi (1746–1827): Considerava o ensino um meio muito
importante de educação e desenvolvimento das habilidades humanas.
▪ Johann Friedrich Herbart (1766–1841): Educador alemão teve grande
influência e importância na didática e na prática docente. Na opinião dele a
moralidade é o objetivo da educação, e a instrução é a introdução de ideias
corretas na mente humana.
▪ A. Diesterweg (1790–1866): Educador alemão que pesquisou e estudou o
desenvolvimento de professores.
▪ John Dewey (1859–1952): Destacou - se como representante de uma das
tendências do pragmatismo didático. Na didática, suas principais contribuições
são para a educação profissional e a relação entre educação e vida.
▪ Paulo Freire (1921–1997): Considerado por alguns estudiosos um dos maiores
educadores do século XX. Como ocorreu em outras épocas, grandes
pedagogos se converteram também em grades didatas — ou, ao contrário,
grandes didatas se tornaram grandes pedagogos.

Em se tratando de Freire é válido observar que, a então presidente Dilma


Roussef, em 2012, reconheceu suas ideias ao designá-lo como patrono do da
educação brasileira. Segundo pesquisadores como Thomas Giulliano, historiador,
autor e escritor de “Desconstruindo Paulo Freire”, a ineficácia e a bagagem ideológica
da pedagogia freireana é um dos grandes problemas da educação brasileira. Essa
ideia é compartilhada por Vitor Haase e Henrique Simplício, autores da obra
“Pedagogia do Fracasso”. Eles argumentam que a pedagogia de Paulo Freire dificulta
o aprendizado das crianças e se torna cada vez mais ineficaz à medida que as
pesquisas em neurociência avançam.
A didática é uma disciplina obrigatória no currículo dos cursos de licenciatura
no Brasil desde o início do século XX — um marco para os processos de formação de
professores e para a educação brasileira. De acordo com Libâneo (1992), a disciplina
de didática investiga os fundamentos, as condições e os modos de realização da
instrução e do ensino. Assim, busca-se revelar, no decorrer da história, elementos e
características que marcaram formas de se pensar o ensino e a aprendizagem no
âmbito dessa disciplina, principalmente no que se refere às questões relacionadas a
como ensinar e ao trabalho docente.

1.3 Mudanças e avanços da didática na atualidade

Quando falamos em mudanças e avanços na didática moderna, devemos levar


em consideração o fato de que com a redemocratização do Brasil tornou-se
necessária uma formação diferenciada do corpo docente. Assim, passou-se a buscar
a formação política do professor, percebendo a educação como ato político e social.
Nesse novo cenário da educação e da didática, o professor passou a ser visto como
agente intelectual transformador, cujo trabalho deveria ser orientado por determinada
ética valorativa e cuja prática precisaria ser abrangente e eficaz.
Pensar na didática para a atualidade requer pensar nos diferentes movimentos
que a sociedade produz e nas diversas demandas que emergem a todo tempo.
Requer, também, compreender as muitas dimensões que atravessam os sujeitos, bem
como os múltiplos contextos nos quais eles estão inseridos. São características dos
novos tempos: o ensino e aprendizagem e a prática educativa vistos como prática
social. Desse modo, a didática precisa se reinventar e propor novos alcances, novas
propostas e novos vieses.
Nesse novo cenário, a didática é convocada a debater a formação dos
professores, com questões que giram em torno da discussão sobre como se ensina a
ensinar, ou mesmo sobre quais são os saberes necessários ao exercício da docência.
Nessa perspectiva, é importante considerar o que dizem Marin, Penna e Rodrigues
(2012):
A Didática não é um receituário que deve informar a prática de ensino, mas
uma área de conhecimento para a compreensão dessa prática, valendo-se
da teoria como hipóteses de análise e compreensão. Trata-se de
compreender as situações de ensino, não para prescrever a prática, mas para
ampliar o domínio sobre ela, e assim contribuir nos processos de formação
dos professores em todos os âmbitos (MARIN, PENNA E RODRIGUES,
2012).

Hoje, no processo educacional, o professor não é mais o eixo da ação


educativa, como se pensava anos atrás. Na contemporaneidade, concebe-se o
educando como ser ativo, procedente das experiências vivenciadas em seus múltiplos
aspectos de conhecimento, tornando-se, assim o centro da prática pedagógica. Ao
professor cabe o papel de mediar a cultura elaborada.
Em suma, o ensino e aprendizagem é uma atividade dinâmica e criativa, um
acontecimento eminente, interpessoal e social que ocorre na mobilização mental da
subjetividade e da experiência sociocultural concreta, como sugere Libâneo (1992).
Na perspectiva de se pensar os processos inovadores da didática na atualidade,
emerge uma proposta que tem se firmado cada vez mais como transformadora e
eficaz junto à prática docente e à construção do conhecimento: as metodologias
ativas.
As metodologias ativas se configuram como uma inovadora prática docente, a
qual consiste em um processo amplo cuja principal característica é a inserção do
estudante como agente principal e responsável pela sua aprendizagem. É necessário
ressaltar que o processo de construção do conhecimento, devido a diversos fatores
(p. ex., a agilidade na produção de conhecimento, a provisoriedade das verdades
construídas no saber científico e, principalmente, a facilidade de acesso à vasta gama
de informação), deixou de ser baseado na mera transmissão de conhecimentos.
Nesse contexto, as metodologias ativas surgem como proposta para focar o
processo de ensino e aprendizagem na busca da participação ativa de todos os
envolvidos, centrados na realidade em que estão inseridos. Assim, o estudante torna-
se protagonista no processo de construção de seu conhecimento, sendo responsável
pela sua trajetória e pelo alcance de seus objetivos. Portanto, ele deve ser capaz de
autogerenciar e autogovernar o seu processo de formação.
Os avanços na área da didática têm contribuído muito para a transformação do
currículo escolar. Este, por sua vez, para ser eficaz e ter qualidade, deve possibilitar
a formação continuada dos professores, perceber o aluno como principal agente no
processo de aprendizagem e fazer uso inteligente das novas tecnologias. Além disso,
o currículo escolar deve estimular a utilização de metodologias que sejam
significativas e que alcancem os diferentes tipos de alunos, de modo a proporcionar a
participação destes como sujeitos do processo educativo. Não basta incluir algumas
aulas de informática e vídeo, é preciso criar situações de aprendizagem em que o
aluno construa autonomia e motivação na sua utilização. Finalmente, para que isso
seja possível, faz-se necessário um planejamento de ensino que una os profissionais
da educação nesse processo (professores, coordenadores, agentes educacionais,
diretores), ou seja, um trabalho em equipe, para que as novas propostas didáticas
sejam compreendidas e se construa uma educação para os novos tempos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANASTASIOU, L. G. C.; PIMENTA, S. G. Docência no ensino superior. São Paulo:


Cortez, 2002. v. 1.

ARAÚJO, C. B. Z. M. (Org.). Educação sem fronteiras: pedagogia. 2. ed. Campo


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DAMIS. O. T. Arquitetura da aula: um espaço de relações. In: DALBEN. S. I. L. F. et


al. (Org.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho. Belo
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LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.

MARIN, A. J.; PENNA, M. G. O.; RODRIGUES, A. C. C. A Didática e a Formação de


Professores. In: Rev. Diálogo Educacional, Curitiba, v. 12, n. 35, p. 51-76, 2012.

MARTINS, P. L. O. Didática. Curitiba: Ipebex, 2008.

MASETTO, M. Didática: a aula como centro. 4. ed. São Paulo: FTD, 1997.
MORANDI, F. Introdução à pedagogia. São Paulo: Ática, 2008.

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