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DIDÁTICA
GUARULHOS – SP
Sumário
1. A TRAJETÓRIA A HISTÓRICA DA DIDÁTICA: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS,
FILOSÓFICOS E SOCIAIS ......................................................................................................3
1.1 O processo histórico da didática no Brasil ...............................................................................5
1.2 Principais marcos históricos que foram fundamentais para a constituiçãoda didática ........7
1.3 Mudanças e avanços da didática na atualidade ....................................................................10
2. CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO PROFESSOR - ALUNO.................................................12
2.1 O professor mediador .............................................................................................................15
2.2 Relações professor–aluno: situações concretas de ensino e aprendizagem .......................18
3. A PEDAGOGIA LIBERAL E SUAS RAMIFICAÇÕES...............................................................22
3.1 Tendências pedagógicas........................................................................................................23
Tendência pedagógica liberal renovada progressivista................................................................24
Tendência pedagógica liberal renovada não diretiva....................................................................25
Tendência pedagógica liberal tecnicista........................................................................................25
3.2 A pedagogia progressista e suas tendências ........................................................................26
Tendência pedagógica progressista libertadora ...........................................................................27
Tendência pedagógica progressista libertária...............................................................................28
Tendência pedagógica progressista crítico-social dos conteúdos ...............................................29
3.3 As teorias pedagógicas e a escola atual................................................................................29
4. O CONCEITO DE ENSINO .......................................................................................................34
4.1 O conceito de aprendizagem..................................................................................................38
4.2 Os quatro pilares da educação e o ensino e a aprendizagem ..............................................41
5. PLANEJAMENTO EDUCACIONAL...........................................................................................46
5.1 Fundamentos democráticos do planejamento .......................................................................47
5.2 Formas de Planejamento .......................................................................................................50
5.3 O planejamento educacional e a práxis docente ...................................................................51
6. CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHOESCOLAR ......52
6.1 Elemento norteadores do contexto educacional ....................................................................54
6.2 O Projeto Político Pedagógico e as suas diferentes instâncias.............................................56
7 DIDÁTICA NA FORMAÇÃO DOCENTE ...................................................................................58
7.1 Processo histórico da Didática ...............................................................................................58
7.2 Didática e suas implicações na formação do professor.........................................................61
7.3 Desafios da docência .............................................................................................................62
8. PROCESSOS DE DIDATIZAÇÃO: UMA REFLEXÃO GERAL ................................................65
8.1 Elementos que influenciam os processos de didatização dos textos ...................................67
8.2 Relações entre elementos de didatização e propósitos educativos ......................................68
8.3 Sequências didáticas: etapas que guiam os processos de didatização ...............................70
8.4 Usos dos textos didatizados ...................................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................75
1. A TRAJETÓRIA A HISTÓRICA DA DIDÁTICA: PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS, FILOSÓFICOS E SOCIAIS
Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de
ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo para obter resultado s; de
ensinar de modo f ácil, portanto sem que docentes e discentes se molestem
ou enf adem, mas ao contrário, tenham grande alegria; de ensinar de modo
sólido, não superf icialmente, de qualquer maneira, mas para conduzir à
verdadeira cultura, aos bons costumes, a piedade mais prof unda
(COMENIUS, 2001).
• Abordagem tecnicista;
• Construção de planejamentos rígidos;
• Domínio da sala de aula;
• Enorme valorização das técnicas;
• Valorização enfática nos recursos didáticos, etc.
De várias maneiras, a didática pode ser vista nas práticas sociais: como
disciplina, como campo de conhecimento, como ação humana, como organização
institucional, etc. Segundo Araújo (2008), a didática como disciplina é desenvolvida
nos cursos de graduação, formação de professores e licenciaturas com o objetivo de
fornecer as ferramentas teóricas e práticas necessárias para que um futuro professor
possa ensinar em sala de aula. Como campo de conhecimento, indica os grupos que
investigam e criam conhecimento especializado naquele campo. A didática, como
ação humana, traduz a preocupação do ser humano em planejar o ensino, montar
aulas e selecionar estratégias de ensino adequadas para determinado conteúdo. A
didática busca técnicas e metodologias que organizem os processos institucionais de
aprendizagem e ensino como forma de facilitar o processo de construção do
conhecimento.
É importante compreender que, apesar de muitos filósofos terem discordado
uns dos outros sobre a educação em geral, os primeiros tratamentos sistemáticos dos
processos de ensino e aprendizagem não apareceram até o século XII. Isso é
importante para entender os principais precedentes históricos que serviram de base
para o desenvolvimento da didática. Segundo Araújo (2008), são exemplos de
relevantes:
• “Eruditio didascalia”, de Hugo de San Victor, no século XII;
• “De disciplinis”, de Juan Luis Vives, no século XVI;
• “Aporiam didactici principio”, de Wolfgang Ratke, no século XVII.
Seguramente, cada uma dessas obras serviu de base para entendimentos,
mudanças e evoluções em suas respectivas épocas. Mas é importante reiterar que
nenhuma delas exibe a fama e a grandeza da “Didática Magna” de João Amós
Comenius, publicada em 1657. Tal impacto pode ser atribuído à complexidade e
ousadia da proposta, bem como a abordagem que sugere de ensinar tudo a todos,
que ali se apresenta.
Comenius, através de seus estudos, refletiu sobre a divisão social do trabalho,
que se tornou uma marca forte de sua época. Segundo ele, existem quatro tipos
diferentes de escolas: a escola do regaço materno, a escola da língua nacional, a
escola latina e a academia ou universidade.
As teorizações de Rosseau, sem dúvida, também devem ser elencadas como
marco histórico para a formação da didática. O pensador deu uma contribuição
significativa para definir os rumos da didática ao propor algo que influenciaria todos
os estudos posteriores. Ele defendia que o valor da infância tem implicações de longo
alcance para a pesquisa e a ação educacional, mas que ainda levarão décadas para
se materializar.
Em contraste com Comenius, que acreditava em "dominar as paixões das
crianças ", Rousseau partiu da premissa da bondade natural do homem corrompido
pela sociedade. Ele discute como a reforma social é tão necessária quanto a reforma
da educação em seu livro “O contrato social”. Ele participou da renovação ideológica
que antecedeu a Revolução Francesa como resultado desse aspecto de seu
pensamento. Para Damis (1988, p. 13):
século XIX por meio das ideias de John Dewey e no século XX pelas ideias de Freinet
(ROMANELLI, 2012; GIRALDELLI JUNIOR, 2001).
Na segunda metade do século XX, o movimento tecnicista, influenciado pela
aceleração da industrialização no Brasil, passou a orientar os modelos de formação
de professores, as práticas pedagógicas e as políticas de educação. Nesse
movimento, os processos metodológicos eram extremamente importantes para que
se formassem alunos produtivos e capazes de atuar nas grandes indústrias que se
criavam ou se instalavam no País. Assim, os professores não eram responsáveis pelo
próprio planejamento, pois uma equipe técnica era quem o realizava. A avaliação era
feita por meios sofisticados e técnicos (ROMANELLI, 2012; GIRALDELLI JUNIOR,
2001). Nessa perspectiva tecnicista, o professor assumia o papel de um técnico da
educação, devendo aplicar avaliações para verificar a produtividade do aluno, que,
por sua vez, precisava ser produtivo e reproduzir, em uma avaliação, todos os
conhecimentos adquiridos em aula.
A partir da década de 1980, com a redemocratização do Brasil, surge um
movimento relacionado com as teorias críticas e progressistas que contestava o
sistema capitalista e apresentava o educador como agente de transformação, além de
orientador e interventor do conhecimento. A prática educativa estava alicerçada noseu
contexto social. Nessa perspectiva, o aluno tem o papel ativo e construtivo na
elaboração de seu conhecimento, além de ser um agente propositor de mudanças.
Essa perspectiva educacional tem como influenciadores teóricos Paulo Freire, Piaget
e Vygostsky (GIRALDELLI JUNIOR, 2001; ROMANELLI, 2012).
Paulo Freire foi um educador brasileiro que se preocupou com a educação das
classes populares. Ele tinha como princípio valorizar o cotidiano dos alunos e, por
meio do diálogo problematizador, buscava despertar a consciência crítica deles,
tornando-os sujeitos de sua própria história e possíveis transformadores da sua
realidade (FREIRE, 1996).
Já Lev Vygotsky foi o teórico inspirador do sociointeracionismo, que postula que
a construção do conhecimento se dá por meio das interações sociais. Dois dos
conceitos mais importantes desenvolvidos por ele foram o da zona de
desenvolvimento proximal e o de mediação simbólica, que você conhecerá melhor
mais adiante (VYGOSTSKY, 1986; 1993).
Por fim, Jean Piaget foi o pesquisador e teórico que postulou o construtivismo,
que postula que a construção do conhecimento ocorre quando o sujeito interage com
o seu meio. Ele propôs a existência de estágios de desenvolvimento cognitivo no ser
humano e influenciou a educação de maneira profunda (CASTORINA, 1990).
Nos últimos anos, houve o advento da sociedade da informação e das
tecnologias de informação e comunicação (TIC). Nesse cenário, modificaram-se as
exigências do mercado de trabalho e os modos de atuação nessa sociedade dinâmica,
conectada e complexa. Assim, faz-se necessário um processo educativo que prepare
o indivíduo para as constantes transformações. Nesse contexto, as metodologias
ativas têm sido retomadas e ganhado destaque, colocando o aluno como centro do
aprendizado. Nessas metodologias, o papel do professor é o de mediador (orientador,
facilitador) da aprendizagem do aluno, que, por sua vez, tem o papel de ser o principal
agente de sua aprendizagem.
O Quadro 1 demonstra como a relação professor - aluno se deu em cada um
dos momentos históricos da educação no Brasil.
Paulo Freire (1996) defendia que, para substituir o pensamento ingênuo pelo
pensamento crítico, seria necessário o diálogo problematizador em sala de aula. Para
que esse tipo de diálogo seja possível, os educadores precisam instigar e possibilitar
a formação de estudantes ativos e participativos, ou seja, estudantes que participem
do seu processo de ensino e aprendizagem por meio do diálogo com o outro (que
pode ser outro aluno, professor ou outros profissionais). Dessa forma, o aluno não age
como um mero receptor de conhecimento, pois pode construir, produzir, compartilhar
e divulgar o saber.
Freire compreendia o diálogo como um elemento muito importante para
problematizar o conhecimento. Contudo, é fundamental observar que não se trata de
um diálogo para nada ou uma simples conversação, mas sim uma modalidade que
questiona os saberes mútuos (professor e aluno) e que pode resultar na compreensão
da realidade e na sua transformação.
Para isso, o professor precisa atuar em uma realidade escolar que favoreça o
diálogo com o aluno e com a comunidade à qual ele pertence. O educador também
deve ter possibilidades de refletir sobre a sua prática e sobre o conteúdo que ensina,
para que possa propor transformações. Além disso, ele deve realizar o trabalho
coletivo, mediar as relações de grupo, lidar com conflitos, trabalhar com ajuda mútua
e incentivar o respeito à diversidade dos membros de cada grupo (FREINET, 1996).
Portanto, o professor tem a missão de agir buscando uma ação e um pensamento
críticos, e não como mero reprodutor de conteúdo.
Na relação de ensino em que o professor tem o papel de detentor do
conhecimento, e o aluno, o de receptor, podem ser encontradas as seguintes
situações.
1. O professor solicitar cópias de palavras ou textos aos alunos de séries
iniciais (1º ao 5º ano) por meio de um quadro, uma lousa ou mesmo um
livro. Nesse caso, a função do aluno é copiar da melhor forma possível e,
depois, mostrar ao professor como realizou o trabalho. A habilidade de cópia
das palavras ou textos do aluno será avaliada pelo professor.
2. O professor solicitar a leitura e, a seguir, a interpretação de um texto de
literatura a uma turma de adolescentes do ensino médio, mas não dar
oportunidades para os alunos expressarem suas reais interpretações.
Nesse caso, as interpretações são centradas na visão do professor; é ele
quem diz quais são as interpretações corretas do texto.
Como visto, em ambos os casos, não foram dadas chances aos alunos de
elaborar hipóteses sobre o objeto de conhecimento, de modo que a sua curiosidade
não foi instigada e eles não expressaram suas reais opiniões. Foi dada a eles apenas
a função de escutar, ouvir as instruções do professor e realizar as atividades
solicitadas. Claro, isso não significa que não possam existir situações de
aprendizagem em que os alunos necessitem copiar palavras ou textos, tampouco que
o professor não possa expor suas próprias interpretações sobre um tema ou texto.
Quando o professor assume o papel de orientar e estimular o aluno na
construção do seu conhecimento e o aluno possui o importante papel de ser ativo e
participativo na elaboração da sua própria aprendizagem, é possível encontrar
situações como a seguinte: um professor de ciências busca apresentar aos seus
alunos de 13 e 14 anos, do ciclo II do ensino fundamental, o princípio de Arquimedes
de forma menos abstrata. Para isso, ele traz aos alunos a reflexão sobre a matéria
sem fazer referência à fase líquida. Então, pergunta a eles: entre o pão e o açúcar,
qual é o mais pesado? Entre o ferro e o plástico, qual é o mais pesado? A madeira ou
o concreto, qual é o mais pesado? Possivelmente, as primeiras respostas serão as de
senso comum: “o plástico é mais leve”, “a madeira é mais leve”, sem que um conceito
tenha sido construído. Posteriormente, constata-se que não se pode saber, pois
depende de quanto de matéria se toma (PERRENOUD, 2000).
Como o professor pode levar os alunos a construir esse conhecimento? Ele
pode pôr à disposição dos alunos pedaços de madeira, ferro e plástico de volumes,
formas e pesos diversos. Tais materiais não se prestam nem a uma comparação direta
por peso nem a um recorte fácil em volumes iguais, são apenas utilizados para
construir o conceito de peso da unidade de volume (PERRENOUD, 2000).
Em outro momento, o professor pode dividir a classe em grupos e dar a cada
um deles um pedaço de massa de modelar, pedindo que os alunos meçam a massa
e o volume, tendo à disposição balanças e tubos de ensaio graduados cheios de água,
nos quais podem mergulhar os pedaços. Após a pesagem e a mensuração do volume
por imersão, pode-se chegar ao Quadro 2:
Paulo Freire trabalha com duas ideias potentes ao produzir as bases dessa
pedagogia: a educação bancária e a educação libertadora ou problematizadora. A
educação bancária seria aquela na qual o professor, detentor de todo o conhecimento,
é central no processo de ensino. O professor irá transmitir ou “depositar” o
conhecimento que possui no aluno, que, por sua vez, recebe esses conhecimentos,
que passam a compor o seu repertório de conhecimento e cultura. Nesse tipo de
educação, não há espaço para que se dialogue ou se exerça a percepção das
realidades ou das críticas sobre elas, pois
[...] o educador aparec e como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito ,
cuja taref a indeclinável é ‘encher’ os educandos de conteúdos de sua
narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da
totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam signif icação
(FREIRE, 1987, p. 57).
Já a educação problematizadora parte da análise da realidade social em que o
aluno se encontra envolvido, possibilitando, a partir de problematizações, em um
processo dialógico entre professor e aluno, a aprendizagem crítica dos conteúdos que
precisam ser desenvolvidos. Paulo Freire (2003, p. 47) comenta que “[...] ensinar não
é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção
ou sua construção”. Nessa pedagogia, alunos e professores são sujeitos do processo
de ensino e aprendizagem, e ambos aprendem a partir de suas experiências em sala
de aula, quebrando a ideia de verticalidade e imposição do ensino tradicional.
[...] a pedagogia cultural está estruturada pela dinâmica comercial, por f orças
que se impõem a todos os aspectos de nossas vidas privadas e das vidas de
nossos/as f ilhos/as. Os padrões de consumo moldados pela publicidade
empresarial f ortalecem as instituições comerciais como os prof essores do
nosso milênio. (Steinberg, 1997)
Nós ousamos prometer uma didática magna, ou seja, uma arte universal de
ensinar tudo a todos: de ensinar de modo certo, para obter resultados, de
ensinar de modo f ácil [...] de ensinar de modo sólido, não superf icialmente,
de qualquer maneira, massa para conduzir à verdadeira cultura, aos bons
costumes [...] (COMENIUS, 1976, p. 13).
O autor entende que além das situações didáticas, existem outras situações
que podem proporcionar aprendizado e destacam algo muito importante que
demonstra o aprendizado: a mudança de comportamento. Portanto, se você deseja
verificar se seus alunos aprenderam algum conteúdo ou informação, você também
deve pensar em um formato de avaliação que permitam verificar se o comportamento
anterior deles mudou ou não. Vejamos um exemplo bem típico de instituição de ensino
contemporânea: as medidas educativas voltadas para a prevenção do preconceito, da
discriminação ou do bullying nas escolas. O professor se prepara para essa atividade
e planeja as atividades e métodos mais versáteis que podem levar ao fim de tal
situação na escola. Depois de implementá-lo com seu grupo de alunos, verificará se
eles aprenderam o que foi sugerido para mudar o comportamento em relação ao
assunto. Entretanto, se a ação evidenciar atitude preconceituosa e discriminatória ou
bullying em si, então é muito provável que o aprendizado não chegue a todos como
deveria, pois não atingiu seu objetivo original.
Logo, pode-se perceber que desenvolver a aprendizagem não é uma tarefa
simples, uma vez que:
[...] aprendizagem não é somente um processo de aquisição de
conhecimentos, conteúdos ou inf ormações. As inf ormações são importantes,
mas precisam passar por um processamento muito complexo, a f im de se
tornarem signif icativos para a vida das pessoas (PILETTI, 2010, p. 29).
A ação de planejar está presente nos mais variados âmbitos de nossa vida, até
mesmo em ações cotidianas e de dispor momentos para enumerarmos nossas ações
diárias como ir ao mercado e buscar os filhos na escola. No campo educacional, há
uma série de críticas quanto ao que se idealiza nos atos envolvendo planejamento e
a falta de foco para a realidade concreta da prática docente que desconsidera o
contexto em que está inserida. Desde muito tempo encontramos registros que
comprovam que já havia a preocupação de se pensar em estratégias educacionais
com a finalidade de adaptar-se aos objetivos almejados em diferentes épocas,
relacionando-os a fatores históricos, sociais e econômicos.
De acordo com Coombs et al. (1981 p. 10), o planejamento educacional:
Com ef eito, sabe-se que, dif erentemente dos outros animais, que se adaptam
à realidade natural tendo a sua existência garantida naturalmente, o homem
necessita produzir continuam ente sua própria existênci a. Para tanto, em lugar de
se adaptar à natureza, ele tem que adaptar a natureza a si, isto é, transf ormá-
la. E isto é f eito pelo trabalho. Portanto, o que dif erencia o homem dos outros
animais é o trabalho. E o trabalho instaura-se a partir do momento em que seu
agente antecipa mentalmente a f inalidade da ação. Consequentemente, o
trabalho não é qualquer tipo de atividade, mas uma ação adequada a
f inalidades. É, pois, uma ação intencional.
No entanto, para que a escola cumpra a sua função, não basta que a instituição
realize suas atribuições tendo como pressuposto o princípio do trabalho, cabe à
instituição escolar seu aprimoramento, pois Ihe é destinado o desenvolvimento do
trabalho educativo, isso significa que a escola, por meio de atividades intencionais,
deve permitir o ser humano acesso à cultura acumulada historicamente, a fim de
possibilitar o meio de produção de sua própria cultura (SOARES, 2014).
Para tanto, cabe à escola, no momento de elaboração de seu Projeto Político
Pedagógico (PPP), a escolha dos elementos culturais que serão priorizados em cada
uma das etapas do trabalho desenvolvido no ambiente escolar e, consequentemente,
da melhor forma de fazê-lo. Conforme Saviani (2003, p. 13-14):
Ao realizar a elaboração do seu PPP, a escola deve ver com clareza o projeto
de sociedade que pretende construir. Para isso, é fundamental que as pessoas e os
profissionais que ali trabalham se disponham a refletir sobre todas as ações
executadas e a entender que os passos trilhados possuem um objetivo explícito a ser
alcançado.
Definir o conteúdo a ser trabalhado requer desses profissionais uma atenção
redobrada, pois o conjunto de conhecimentos escolhido exige dos alunos um
repertório de habilidades a serem desenvolvidas. Elas irão formar um cidadão que se
adapte à realidade existente ou, quem sabe, com base na compreensão desta
realidade, traçar conscientemente um caminho diferenciado que possibilite a
transformação social, mesmo que em pequenas doses (SOARES, 2014).
Ao realizar suas escolhas coletivamente, é preciso que a escola organize
metodologias que possibilitem a apreensão do conteúdo, característica fundamental
da instituição de ensino. Como é de nosso conhecimento, os alunos não aprendem
todos da mesma forma, e muito menos todos ao mesmo tempo. Isso demanda dos
Essas palavras são quase que integralmente reproduzidas pelo art. 2º da Lei
nº 9.394/1996, mas como uma diferença fundamental, como veremos a seguir:
para formular objetivos, elaborar planos e provas, bem como para trabalhar com aulas
expositivas, uma vez que se acreditava que o professor enquanto detentor de todo o
conhecimento, transmitia o mesmo para os alunos através de uma relação vertical.
A didática assumiu então um conceito instrumental, que enfatizava tão somente
a elaboração de planos de ensinos, elaboração de objetivos, seleção de conteúdos e
técnicas de ensino, confundindo-se assim com a metodologia de ensino. (GIL, 2008;
FIORE FERRARI; LEYMONIÉ SÁEN, 2007). Dessa forma, o professor era formado
para ensinar bem, porém ele não se questionava a serviço do quê e de quem se
estaria trabalhando e nem porque ensinava.
Por muitos anos, a didática foi compreendida como um conjunto de técnicas,
com o principal objetivo de garantir um ensino de qualidade, pois acreditava-se que
técnicas pedagógicas eficientes e bem desenvolvidas culminariam na eficácia
educativa. Porém, do final da década de 70 até o início da segunda metade da década
de 80, começaram a emergir discussões sobre o objeto de estudo e a metodologia de
investigação da área da didática, onde passou -se a criticar o caráter ideológico da
área e à sua funcionalidade em relação ao papel do ensino e da escola naquele
período (FIORENTINI et al.,1998).
A didática então, passou a receber aportes significativos de outras ciências
como a Biologia e a Psicologia, impulsionando muitos movimentos de reforma escolar
que admitiam a falência do modelo tradicional e buscavam um modelo de educação
que levasse em consideração os aspectos psicológicos relacionados ao processo de
ensino-aprendizagem.
Os adeptos do movimento da chamada Escola Nova ou Escola Renovada se
apresentaram criticamente, contestando e se contrapondo às concepções que
apoiavam a escola tradicional, considerada por eles como antiga e advogando em
favor de uma pedagogia decorrente de escolas pautadas em uma experiência aberta,
em termos de programas e métodos, mas centrada em torno do ideal de uma atividade
espontânea, pessoal e produtiva (CASTRO, 1991).
Sendo assim, Candau (2002) afirma que nesse período ficou evidente a
necessidade de se superar a visão instrumental e pretensamente neutra da didática,
desenvolvendo-se assim, uma nova configuração para a área, ao se pensar uma
prática pedagógica concreta e articulada com a perspectiva de transformação social.
Para a autora, tornava-se necessário repensar a “razão-teórica” e a “razão-prática” da
Enf atizar o processo didático da perspectiva relacional signif ica analisar suas
características a partir de quatros dimensões: ensinar, aprender, pesquisar e
avaliar. O processo didático, assim, desenvolve-s e mediante a ação recip ro c a
e interdisciplinar das dimensões f undamentais. Integram-se, são
complementares. (VEIGA, 2004, p.13)
Sabe-se que atuar como docente no ensino superior não é tarefa fácil, uma vez
que além da necessidade de se ambientar a toda uma cultura institucional e se
envolver com as atividades de pesquisa e extensão, o mesmo precisa enfrentar vários
desafios para desenvolver suas atividades de ensino, já que o processo formativo dos
docentes, em sua grande maioria, está vinculado à aquisição de conhecimentos
específicos em detrimento dos pedagógicos.
Considerando as diferentes mudanças provocadas na sociedade e no sistema
educacional, devido aos avanços da ciência, tornou-se um consenso entre os vários
autores que se dedicam a estudar a educação, principalmente a formação de
professores, que as instituições de ensino superior ainda não estão dedicando a
devida atenção ao desenvolvimento profissional de professores que atuam nesse
nível de escolarização, sendo este fundamental para a melhora da qualidade
educacional (GATTI, 2010; SAVIANI, 2011; REIS; ANDRÉ; PASSOS, 2020).
Sendo assim, a necessidade urgente de que esses docentes passem por
processos de qualificação profissional tem ficado cada vez mais evidente, uma vez
que a grande maioria dos docentes não são licenciados e, boa parte deles, não
possuem formação pedagógica para atuar como docentes em faculdades e
universidades, visto que são bacharéis. Essa baixa atenção dedicada a formação de
docentes universitários, para o desenvolvimento de uma docência em sintonia com os
desafios da contemporaneidade, motivou pesquisadores a realizarem estudos na
área, o que contribuiu para que essa temática fosse introduzida nos debates
educacionais.
A partir disso, observou-se certo investimento das instituições de ensino
superior na busca pela melhora do trabalho pedagógico. Entretanto, o viés que certas
ações de apoio ao desenvolvimento profissional docente têm assumido, acabam por
gerar preocupações, uma vez que tais ações têm apresentado aspectos de cunho
tecnicista, fazendo crer que a qualidade da docência se alcança de modo instrumental,
apartado dos referenciais teóricos que embasam as pequenas decisões pedagógicas
tomadas a partir destes (SORDI, 2019).
Em uma perspectiva conservadora, acredita-se que o domínio do conteúdo é o
suficiente para o exercício da docência no ensino superior, o que automaticamente,
coloca os saberes pedagógicos como aspecto irrelevante para a formação do
professor universitário, o que de acordo com Libâneo (2011) é um problema recorrente
no ensino superior.
Entretanto, devido à expansão desse nível de ensino e a diversidade de
estudantes, passou-se a exigir que o docente seja formado integralmente e detenha
o conhecimento do todo, sendo necessário que o mesmo compreenda o contexto em
que está inserido, para quem está ensinando, como está ensinando, além de
reconhecer a si mesmo como pessoa e profissional.
Quanto a valorização profissional, é possível observar que em algumas
instituições de ensino superior, o professor que se dedica parcialmente à docência, ou
seja, aquele que além de professor, atua na área específica de sua formação, como
advogados, administradores, engenheiros, entre outros, são valorizados por sua
competência e atuação fora do ambiente educacional.
A competência então, de acordo com Junges e Behrens (2015) é medida pelo
quanto o profissional é um bom advogado ou engenheiro e não o quanto ele é um
bom professor. No caso de professores universitários que se dedicam integralmente
à docência, a valorização profissional está atrelada às suas produções acadêmicas e
científicas e não pela sua atuação em sala de aula.
Em ambos os casos, as habilidades pedagógicas do professor ficam em
segundo plano, ressaltando mais uma vez a marginalização atribuída aos saberes
pedagógicos, quando se trata do desenvolvimento profissional desses docentes. Além
disso, é comum que os docentes universitários se identifiquem socialmente, mais no
campo da sua formação inicial como profissionais bacharéis, do que como docentes,
o que reforça o descaso referente aos saberes pedagógicos.
Essa falta de reconhecimento do profissional enquanto educador, acaba sendo
negativa para a sua atuação profissional, considerando que o próprio docente pode
acabar atribuindo pouco valor aos saberes pedagógicos. Dessa forma, as ações de
formação pedagógica do professor universitário, devem ser baseadas nas
necessidades de desenvolvimento individual do professor e nas necessidades
institucionais, além de integrar a motivação intrínseca do mesmo em participar de
processos formativos com o reconhecimento externo, como a avaliação institucional e
a valorização na carreira docente, uma vez que a docência exige uma preparação
específica como qualquer outra profissão (JUNGES; BEHRENS, 2015).
A formação docente então, deve ser compreendida como um processo
contínuo e sistematizado, com o intuito de buscar o aprimoramento constante dos
saberes didáticos, bem como a reflexão da prática pedagógica, para que o docente
seja capaz de acompanhar as mudanças da sociedade. Sendo assim, o processo de
ensino-aprendizagem, requer que o docente do ensino superior, além de dominar as
especificidades dos saberes específicos da área em que atua, domine também os
saberes pedagógicos, uma vez que esses saberes são a ponte para a construção do
conhecimento e saberes profissionais.
Para desenvolverem esse domínio, é fundamental que os professores
assumam o compromisso para com a formação pedagógica, passando a perceber o
processo formativo como parte importante para o trabalho docente. Ademais, o
trabalho docente também merece atenção, já que está intimamente relacionado com
a qualidade do ensino. Por isso, pensar a qualidade da formação de professores para
atuar no ensino superior, principalmente do que diz respeito aos saberes didáticos e
às metodologias de ensino, torna-se primordial.
As universidades em geral, já tem se atentado para a efetividade de ações que
visam promover o desenvolvimento profissional dos docentes, entendendo que essas
ações, por vezes, afetam a motivação dos docentes e até mesmo contribui para que
eles construam formas de lidar com as problemáticas que emergem no ambiente
educacional. Contudo, é importante ressaltar, que essas ações devem estar alinhadas
às necessidades dos professores, bem como, com a realidade em que estão atuando,
pois percebe-se que frequentemente as formações são fragmentadas e pouco
contribuem para a atividade docente (JUNGES; BEHRENS, 2015).
São vários os elementos que podem fazer parte dos processos de didatização
de textos, elementos esses, é importante destacar, que variam conforme os contextos
e os propósitos educacionais, tais como, os critérios que orientam a escolha de um
texto, a sua apresentação gráfica, a adição ou não de imagens, as supressões feitas,
a inserção de glossários ou notas explicativas, as atividades de pré-leitura e de leitura
que guiam o trabalho de didatização, entre outros elementos. Contudo, antes de
apresentar tais elementos, é importante lembrar que o processo de didatização, de
maneira geral, é constituído por etapas, tais como, a definição do gênero que vai ser
didatizado, a escolha do texto que faz parte desse gênero escolhido, a exposição dos
objetivos que buscam ser alcançados pelos estudantes por meio da didatização do
gênero, a preparação de atividades tomando como base o texto do gênero abordado,
a execução das atividades planejadas e a avaliação (VIEIRA, 2012).
Primeiramente, é preciso que tenhamos em mente que os processos de
didatização são contextuais, por serem elaborados tendo em vista os propósitos
educativos estabelecidos pelo professor na sua relação com os seus estudantes, e
por usarem materiais que foram produzidos em situações sociais reais de
comunicação entre os sujeitos que se comunicam em uma determinada língua (textos
autênticos). A esse respeito, faz-se necessário pensar sobre a noção de didatização.
Segundo define Vieira (2012, p. 19–20):
Então, na esfera escolar o professor e o aluno fazem uso variado de uma certa
quantidade de gêneros que circulam nas esferas da comunicação humana. Contudo
estes, mesmo que trabalhados tendo em vista as suas condições de produção,
recepção e circulação do mundo, o contexto sociocomunicativo de uso e didatização
do texto será inevitavelmente um outro, com outras motivações, o que leva à
instauração de outras possibilidades comunicativas.
Assim, os processos de didatização do texto de um gênero, considerando os
eixos ou as unidades de oralidade, leitura e escuta, análise linguística e produção
escrita se constituem por meio de diferentes planejamentos, projetos e teorizações
postas em questão. Cada uma dessas unidades e as suas inter-relações, pedem
procedimentos distintos, procedimentos esses que são guiados pelos objetivos
educacionais em jogo. Além disso, se gêneros diferentes solicitam competências,
habilidades e ações também diferentes, um mesmo gênero não pode ser trabalhado
da mesma forma. Imagine, então, um texto de um gênero! A abordagem didática-
pedagógica dos textos autênticos que se realizam nos gêneros e que circulam nas
numerosas esferas da atividade humana como a jornalística, a literária, a científica, a
cotidiana, a musical, a humorística do cotidiano, etc., quando situada contextualmente,
e tendo em vista as necessidades e os interesses dos alunos, e as ações dos
professores, enriquece e possibilita uma compreensão ativa-responsiva das práticas
comunicativas que ocorrem no mundo.
Por fim, destacamos ainda que o ensino-aprendizagem e os usos dos textos
dos gêneros não devem apenas considerar a sua funcionalidade comunicativa, mas
as relações que esta estabelece com a sua estrutura linguística (estilo) e com os usos
feitos pelos sujeitos na relação (composição), elementos esses que são
caracterizados por Bakhtin (2003) como fundamentais para compreender o gênero
como uma atividade, um evento social e discursivo. Essa visão é a que se fundamenta
na língua/linguagem como atividade social, espaço axiológico de interação, cujas
práticas sociais de leitura, oralidade, escuta e escrita têm propósitos e são situadas
especificamente em determinados contextos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS