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Currículo: concepções e teorias.

PRINCÍPIOS DO PROJETO DE CURRÍCULO (PRINCIPLES OF CURRICULUM DESIGN) - EDU500 - 1.5


Currículo: concepções e teorias. • 2/18

Currículo: concepções e teorias.


Conteúdo organizado por Natasha Young Buesa em 2022 do livro
Convergências entre Currículo e Tecnologias, publicado em 2019 por Siderly
do Carmo Dahle de Almeida.

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender quais são e a importância das Teorias do Currículo.
• Conhecer as tendências pedagógicas liberais ou conservadoras
• Estudar as diferenças entre a teoria tradicional, crítica e pós-crítica da
educação.
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Introdução
Já estudamos os conceitos de currículo, aprendemos sobre a dificuldade de chegar
a um consenso nessa definição, caminhamos pela origem e trajetória do currículo e
agora devemos nos perguntar: que conteúdos devem ser ensinados nas escolas?
Como identificar qual a prioridade? Esses conteúdos devem guardar relações, devem
estar associados de alguma forma? Deve haver algum vínculo entre o que é ensinado
na escola e o que acontece na vida em sociedade? O que os discentes precisam ter
de conhecimento quando se encerra um período letivo, ou mesmo um curso? Qual o
conteúdo que precisamos passar aos nossos alunos para que estejam aptos a adentrar
no mercado de trabalho e serem profissionais de sucesso?
É sobre tudo isso que os estudiosos dos currículos têm procurado refletir e debater
ao longo dos anos. Os estudiosos enfatizam que os currículos, ao menos, devem
acompanhar o que acontece no ambiente político, social, cultural e econômico do país,
como sendo um reflexo da sociedade, ou a sociedade sendo o reflexo do currículo
estabelecido, sistematizado e desenvolvido pelas instituições de ensino.
Precisamos então compreender as diferentes perspectivas de estudo dos currículos,
como a sua função social, seu campo teórico e prático e como o resultado de um
plano de educação.
Vimos, com o estudo dos conceitos de currículo, que ele não é fixo, imutável, estagnado,
inerte ou concluído, pelo contrário, está sempre aberto a alterações, acompanhando
as transformações que ocorrem em sociedade e as novas necessidades que surgem,
adequando-se constantemente, influenciando e sendo influenciado pela sociedade.
A verdade é que a mais correta concepção de currículo surge com a necessidade de
escolha do conteúdo que será ministrado pela escola, observando os impactos que
ele poderá causar no desenvolvimento da sociedade. (Almeida, 2019)
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Saviani (2005, como citado em Eyng 2012) comenta que, levando em consideração
a perspectiva histórica do currículo, ele abrange os conhecimentos, as ideias, os
hábitos, os valores e convicções, as teorias, técnicas e recursos, e ainda os artefatos,
ferramentas, procedimentos, competências e habilidades, dentre outros, dispostos em
um conjunto de disciplinas escolares, em seus respectivos programas, com o detalhe
das atividades a serem realizadas e avaliadas. Para alguns, pode ser considerado como
mera transposição dos conhecimentos para a sala de aula, mas devemos reconhecer
que a forma como os elementos culturais vão sendo inseridos na realidade educacional,
cria o chamado ‘saber escolar’. Podemos dizer, então, que o currículo tem se revelado
um tipo de reinvenção da cultura.
Ao longo da história, algumas teorias pedagógicas foram surgindo e dando origem
a outras posteriores a elas. Podemos dizer que tivemos as tendências pedagógicas
liberais ou conservadoras, a perspectiva tradicional, a escolanovista, e tecnicista e temos
as tendências atuais. Façamos, então, uma viagem no tempo para compreendermos
as bases de cada uma delas. (Machado & Soares, 2020)

Teorias do Currículo

Vimos que a concepção de currículo vem da necessidade de escolher o conteúdo


que deverá ser ministrado na escola, portanto, a primeira teoria desenvolvida sob
essa ótica foi chamada de teoria tradicional, seguida das teorias crítica e pós-crítica.
A primeira tem como base os princípios da administração científica. Por outro lado,
as teorias crítica e pós-crítica surgem por questionarem a inclusão ou não de certos
conteúdos aos currículos, tentando aproximar as ideias de conhecimento, ideologia e
empoderamento dos indivíduos que serão formados por aquele currículo.
É importante que o professor ou gestor de uma entidade escolar conheça as diferentes
teorias para conseguir reconhecer os distintos aspectos que caracterizam cada uma
delas, não apenas para diferenciá-las, mas para poder transpô-las para a sua própria
prática docente, caso contrário, poderá se enganar ao elaborar e executar propostas
pedagógicas causando uma prática confusa e não efetiva. Então, vamos a elas.
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As tendências pedagógicas liberais ou conservadoras

Nesta tendência, a manifestação da prática pedagógica ocorre até 1930. Vale relembrar
que até 1759 tem-se a hegemonia jesuítica da igreja católica, e de 1759 a 1930 as
questões leigas do liberalismo clássico.

Saiba Mais
Quer conhecer mais sobre o período de estudo embasado nos jesuítas?
Veja o seguinte vídeo:
Vital, Ana. (2015) História da Educação: educação jesuítica: https://
www.youtube.com/watch?v=VMa-KHM8hlI Acessado em 06 de
outubro de 2023.
Para aprender mais sobre as diferentes tendências pedagógicas leia o
seguinte texto:
6 tendências pedagógicas que todo estudante deve ficar de olho. (2020)
https://blog.pitagoras.com.br/tendencias-pedagogicas/#:~:text=A%20
Pedagogia%20liberal%20acredita%20que,considerado%20algo%20
aberto%20ou%20democr%C3%A1tico. Acessado em 06 de
outubro de 2023.

Nesse período, o papel da escola era o de transmissora de conhecimentos,


impossibilitando qualquer tipo de mobilidade social, sendo a educação um
privilégio para as classes mais favorecidas. Nesse modelo, o discente deveria
reproduzir, de forma integral, mediante a memorização, o que lhe era ensinado, na
realização de provas, avaliações orais, exercícios de fixação e trabalhos de casa.
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Aqui, o vínculo entre professores e alunos é vertical, ou seja, o professor é o centro


do processo, o detentor do conhecimento, autoritário, e ao aluno cabe a postura
passiva, submissa, de receptor do conhecimento e sujeito a castigos. Quem não se
lembra de já ter visto em filmes, séries, ou histórias em quadrinhos a figura de um
aluno sentado em um banquinho, em um canto da sala de aula, de costas, e com um
chapéu de burro na cabeça? Talvez os mais jovens nem saibam que isso acontecia em
um passado não tão distante, mas acontecia. (Machado & Soares, 2020)

A Teoria Tradicional

Esta teoria, imersa no campo das teorias não-críticas, nasceu dos princípios da
Administração Científica, na década de 1920, nos Estados Unidos, focada na população
que ia à escola, buscando a sua formação. Era necessário que o sujeito que frequentava
a escola pudesse usar tudo aquilo que estava explicitado no currículo.
A máxima expressão desse grupo é John Franklin Bobbitt (1876-1956), com seu
livro ‘The Currículum’, de 1918, em cujo modelo de currículo os alunos deveriam
ser processados como um produto fabril. Para Bobbitt, o currículo representava a
especificação precisa de objetivos, de procedimentos e de métodos para obter
resultados que pudessem ser mensurados com bastante precisão.
Pouco depois, Ralph Tyler (1902-1994) disse que a escola deveria constituir seus
objetivos, propor as formas como atingi-los e avaliar os alunos, para identificar se os
objetivos tinham sido, deveras, alcançados.
Em 1930, John Dewey (1859-1952), filósofo e pedagogo, declarou que a instituição
escolar era o melhor lugar para o aprendizado, entre outras coisas. Para ele, o currículo
precisava estar voltado para a vivência dos alunos.
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Figura 1 – Elementos das Teorias do Currículo

Fonte: adaptado por Silva, 2010, p. 7 como citado em Almeida, 2019, p. 43

A teoria tradicional apresenta um currículo com uma formatação com conteúdos


individualizados e voltados para disciplinas específicas, visto que a ideia central é
preparar o aluno para sua atuação em sociedade, apreendendo um conteúdo
particionado, enciclopédico e interdependente entre disciplinas sem conexão.
Portanto, o currículo, neste caso, está voltado para a quantidade de conteúdos e
não para a sua qualidade.
Vale ressaltar, que nesta teoria a função do discente é passiva, apenas como um
recebedor dos conteúdos transmitidos, trabalhando a memorização por meio da
repetição. (Machado & Soares, 2020)
A partir das décadas de 1920 e 1930, com o processo de urbanização, o currículo
passou por mudanças que refletiram na forma de pensar a escola. São nomes
importantes Fernando Azevedo e Anísio Teixeira.
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Teoria Crítica

A teoria tradicional começa a perder força e a ser questionada por volta da década de
1960, e assim o foco deixou de ser a forma como o currículo era feito para ser o que
ele, de fato, faz. Sob essa ótica o currículo precisa se voltar para o que está acontecendo
na sociedade, para os avanços científicos e questões políticas e ideológicas, além de
focar nos conteúdos específicos que serão ministrados por disciplina.
O filósofo francês Louis Althusser (1918-1990), autor da obra Ideologia e aparelhos
ideológicos do Estado, de 1970, pela primeira vez mostrou uma ligação entre a
educação e a ideologia, que constitui as bases da teoria crítica.
Para essa teoria, a sociedade capitalista não seria capaz de se manter se não houvesse
instituições que fossem capazes de reproduzir as suas ideias econômicas e ideológicas,
como a religião, as mídias, a escola e a família.
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron também são nomes reconhecidos nessa teoria,
e afirmavam que a escola é uma entidade fundamental na educação do cidadão, um
espaço de formação bem como de sociabilização.
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A partir de 1970, surgem ainda Henry Giroux e Michael Apple como grandes estudiosos
do currículo. O primeiro afirma que os alunos estão caracterizados como “técnicos
obedientes, executando os preceitos do programa curricular” (Giroux, 1997, p. 25,
como citado em Almeida, 2019, p.47) e as escolas são meros lugares de instrução e
reprodução da cultura dominante.
A pedagogia crítica, também chamada de progressista ou contra-hegemônica, tem
como base que o conhecimento e o poder precisam sempre estar sujeitos ao debate,
de forma que professores e alunos se transformem em agentes críticos, questionadores
da relação que deve existir entre a teoria e a prática, a análise crítica e o senso comum
e entre o aprendizado e a transformação da sociedade.
Apple, por outro lado, questiona qual o conhecimento que é verdadeiro, e quem
o escolhe como verdadeiro, enfatizando que o currículo não é um conjunto de
conteúdos neutros, mas faz parte da escolha de alguém, da visão de um grupo de
pessoas, produto de tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e econômicas
de um povo.
Paulo Freire (1921-1997), um dos maiores expoentes desta teoria, afirma que a simples
transmissão de conhecimento que ocorre na escola gera discentes passivos. Em suas
famosas obras ‘Pedagogia do Oprimido’, de 1974, e ‘Pedagogia da Autonomia’, de
1996, ele informa que o professor deposita conhecimentos em seus alunos, chamando
a prática de ‘educação bancária’.
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Saiba Mais
Para conhecer mais sobre este fantástico estudioso da Teoria Crítica leia
os seguintes livros:
Freire, Paulo. (2019) Pedagogia do Oprimido. Escrito enquanto o
escritor estava exilado no Chile, mostra as relações que sustentam uma
ordem injusta, responsável pela violência causada pelos opressores e
pelo medo que os oprimidos sentem da liberdade.
Freire, Paulo. (2019) Pedagogia da Autonomia. Neste livro publicado
em 1996 o autor reflete sobre o ato de ensinar e o que ele exige dos
educadores e dos educandos.

Freire pretendia divulgar uma educação na qual o professor não deveria ser apenas
responsável pela transmissão do conhecimento ao aluno, mas possibilitar que o
discente pudesse desenvolver uma consciência política sobre os protagonistas do
processo de ensino e aprendizado, mediante o diálogo. Para ele, a educação deve
partir da realidade do aluno, de suas vivências, questionando as relações desiguais e
injustas.
Nesta teoria, sobressai o currículo oculto, que é aquele que expõe as normas, princípios
e valores que são transmitidos de forma tácita pela escola.

Teoria pós-crítica

Esta teoria, que se espalhou pelos meios de comunicação em massa, observa o


currículo sob a ótica do multiculturalismo e presume que nenhuma cultura é melhor
(ou pior) do que outra. A teoria pós-crítica caracteriza a sociedade por sua leveza, a
sociedade em rede, cunhada por Manuel Castells em 1999, em que há uma ruptura
dos paradigmas, difundindo movimentos sociais como o feminismo, movimentos
ecológicos e contra os preconceitos raciais, ou seja, de defesa dos direitos humanos,
de forma a ressaltar a liberdade individual e a transformação social.
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Castells (2004 como citado em Almeida, 2019) afirma que essas mudanças estão
ligadas à revolução que ocorreu com o surgimento e desenvolvimento das Tecnologias
Digitais de Informação e de Comunicação (TDICs), cuja disseminação de informações
favorece a produtividade e o poder.
Quanto ao currículo, prega que o multiculturalismo mostra que a desigualdade, no
que se refere à educação e currículo, é causada pelos conflitos de gênero, etnia, raça
e sexualidade, portanto o currículo precisa contemplar a questão da diversidade.
Esta teoria visa possibilitar a ampliação dos debates políticos e sociais, dentro e fora
da escola, levando em conta as questões étnico-raciais, de sexo e de classe social.
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Quadro 1 - As Teorias do Currículo

Fonte: baseado em Silva, 2007, p. 17 como citado em Eyng, 2012, pp. 36-37
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Em Resumo

Então, podemos entender que, enquanto as teorias tradicionais se preocupam


com a organização do currículo, as teorias críticas e pós-críticas se preocupam com
as ligações entre o saber, a identidade e o poder dos agentes envolvidos. Também
vale ressaltar que as teorias pós-críticas não se opõem às críticas, na verdade elas
aumentam, ampliam a sua abrangência, enfatizando a cultura, superando os
estereótipos, a discriminação, incluindo a diversidade.
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Na ponta da língua

Referências Bibliográficas
Almeida, Siderly do Carmo Dahle de. (2019). Convergências entre currículo e
tecnologias. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.
Eyng, Ana Maria. (2012). Currículo escolar. [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes.
Machado, Dinamara Pereira & Soares, Kátia Regina Dambiski. (2020). Currículo e
sociedade. [livro eletrônico]. Curitiba: Contentus.
LIVRO DE REFERÊNCIA:

Convergências entre Currículo e Tecnologias


Siderly do Carmo Dahle de Almeida.
Intersaberes

Imagens: Shutterstock

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