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na sociedade contemporânea:
olhares discentes
Paulo Fossatti
Professor do Curso Mestrado em Educação do Centro
Universitário La Salle de Canoas/RS - UNILASALLE.
irpaulo@unilasalle.edu.br
Henrique Guths
Professor, Pesquisador e Coordenador do Curso de
Graduação em Fisioterapia do Centro Universitário La Salle
de Canoas/RS - UNILASALLE.
hguths@unilasalle.edu.br
Resumo A discussão sobre os saberes docentes tem como centralidade a ideia de que o pro-
fessor, em sua prática pedagógica, articula-os em diversos tipos. Com base no que discutem
Pimenta, Tardif, Lessard e Lahaye, o artigo analisa os saberes docentes, considerados ne-
cessários para o exercício da docência, a partir das concepções de alunos do ensino médio
de três escolas (duas situadas no Brasil e uma em Moçambique). Os dados foram coletados
por meio de questionário, oficinas e diário de campo. Os saberes que os alunos possuem,
relativos ao ser professor, são fundamentais para se refletir e planejar seu processo de for-
mação, pois, das três turmas, duas estão direcionadas para a formação de futuros docentes.
O processo formativo constitui-se numa relação dialógica entre os diversos atores que nele
atuam e em seus contextos sócio-histórico, cultural e econômico. Os achados do estudo
indicam que, além dos saberes já analisados por Pimenta, Tardif, Lessard e Lahaye, foram
identificados dois outros tipos de saberes, ora denominados saberes de humanização e sa-
beres criativos. A identificação de tais saberes contribui para o avanço da discussão nessa
área, conferindo importância ao estudo realizado.
Palavras-chave saberes docentes, práticas pedagógicas, formação de professores.
Comunicações • Piracicaba • Ano 19 • n. 1 • p. 71-85 • jan.-jun. 2012 • ISSN Impresso 0104-8481 • ISSN Eletrônico 2238-121X 71
Abstract On discussing the teaching knowledge, the central idea is that teachers articulate
different types of knowledge in their pedagogical practice. Based on discussions by Pi-
menta, Tardif, Lessard and Lahaye, this paper analyzes the teaching knowledge considered
necessary for the teacher’s practice based on the conceptions of high school students from
three schools (two of them from Brazil and one from Mozambique). Data were collected
through questionnaire, workshops and field journal. The students’ knowledge of the teach-
ing profession is basic to reflect and plan their training process, because two of these three
classes are directed towards the training of future teachers. The training process is a dialogi-
cal relationship between the several actors and their socio-historical, cultural and economic
context. The study’s findings indicate that, in addition to the knowledge already analyzed
by Pimenta, Tardif, Lessard and Lahaye, there are two other types of knowledge: creative
knowledge and humanization knowledge. The identification of such teaching knowledge
contributes to enhance discussions in this area and gives importance to this study.
Keywords teaching knowledge, pedagogical practices, teacher training.
Introdução
A discussão sobre os saberes docentes tem se acentuado nas últimas décadas, tendo
como centralidade a ideia de que o professor, em sua prática pedagógica, articula e mobiliza
diversos tipos de saberes, que constituem foco de estudo de Pimenta, (2002, 2011), Tardif,
Lessard e Lahaye (1991), cujos pressupostos fundamentam as reflexões ora apresentadas.
Tardif salienta que, no exercício da docência, os saberes dos professores
são mobilizados, utilizados e produzidos por eles no âmbito de suas tarefas coti-
dianas […] o que se propõe a partir desse postulado é considerar os professores
como sujeitos que possuem, utilizam e produzem saberes específicos ao seu
ofício, ao seu trabalho”. (2002, p. 113).
A perspectiva de mobilização de saberes remete à ideia de que estes são (re) constru-
ídos continuamente e se apresentam de forma integrada. Para o autor, os saberes docentes
podem ser categorizados em: a) saberes da formação profissional, constituídos na forma-
ção inicial do professor nas instituições que têm por finalidade a formação docente; b) sa-
beres disciplinares, “que correspondem aos diversos campos do conhecimento, aos saberes
de que dispõe a nossa sociedade tais como se encontram hoje integrados à universidade sob
formas de disciplinas” (TARDIF, 2010, p. 38); c) saberes curriculares, referentes aos “dis-
cursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza
e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados” (idem); e d) saberes expe-
rienciais ou práticos, decorrentes das aprendizagens oriundas das experiências vivenciadas
pelo professor no percurso de suas práticas pedagógicas cotidianas.
No estudo realizado por Pimenta (2002) com seus alunos, provenientes de diversos
cursos de licenciatura, a autora identifica três tipos de saberes: a) da experiência, construí-
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dos pelo professor a partir de sua própria trajetória como aluno, em seu processo formativo,
assim como aqueles que “os professores produzem em seu cotidiano docente, num proces-
so permanente de reflexão sobre sua prática, mediatizada pela de outrem” (ibid., p. 20); b)
do conhecimento, que dizem respeito aos conhecimentos específicos de uma determinada
área com a qual o professor irá atuar (por exemplo, conhecimentos específicos de mate-
mática); e c) pedagógicos, que se referem ao “saber ensinar”, a didática. Assim, conforme
Pimenta, “há um reconhecimento de que para saber ensinar não basta a experiência e os
conhecimentos específicos, mas se fazem necessários os saberes pedagógicos e didáticos”
(ibid., p. 25). Para a autora, os saberes docentes são oriundos das próprias experiências dos
professores em suas trajetórias como alunos, dos processos de formação (inicial e continu-
ada) e de suas práticas cotidianas (cf. PIMENTA, 2002).
A reflexão sobre as tipologias apresentadas pelos autores supracitados viabiliza o es-
tabelecimento de algumas aproximações entre eles. Ou seja, aquilo que Pimenta (2002)
chama de “saberes da experiência”, os preconizados por Tardif (2010) como “saberes da
formação profissional” e os “saberes experienciais ou práticos” guardam similaridades in-
terpretativas entre si. Igualmente, é possível estabelecer a mesma relação entre os “sabe-
res disciplinares” e os “saberes curriculares”, apresentados por Tardif, e os “saberes do
conhecimento”, propostos por Pimenta. Parece que, mais importante do que a discussão
sobre a tipologia adotada por cada um desses autores, é constatar que ambos identificaram
tais saberes em estudos, populações e contextos socioculturais diferenciados, o que pode
ser um referencial de confirmação de seus pressupostos. Corroborando tal convicção, os
achados do estudo que serão apresentados em outra seção também possibilitam identificar
alguns desses saberes.
Com base em tal pressuposto, o artigo discute os saberes docentes considerados ne-
cessários para o exercício da docência, tendo como referência as concepções de alunos do
ensino médio de três escolas de educação básica. A escuta dos alunos fundamenta-se no
fato de que eles possuem saberes relativos ao ser professor, que foram sendo construídos
no decorrer de suas experiências como discentes. Tais saberes, denominados por Pimenta
(2011) saberes da experiência, são fundamentais para refletir e planejar o processo de for-
mação desses alunos, pois, das três turmas participantes do estudo, duas estão direcionadas
à formação de futuros docentes. Eles refletem aquilo que os alunos pensam sobre o ser
professor, o que, de certa forma, poderá influenciar suas futuras práticas pedagógicas. A
partir do pressuposto de que o processo formativo constitui uma relação dialógica entre os
diversos atores que nele atuam, a escuta do outro, seja ele professor ou aluno, pode ser um
dos diferenciais para a problematização dos saberes no processo de constituição docente.
A identificação de tais saberes contribui para o avanço da discussão nessa área, conferindo
importância ao estudo realizado. Feitas tais considerações, o artigo apresenta, na sequência,
a abordagem metodológica do estudo. Na seção seguinte, discute os principais achados
do estudo e, por fim, tece algumas considerações finais, sinalizando para novas questões
investigativas que possam auxiliar no avanço das discussões no que se refere aos saberes
docentes e sua importância para a formação dos professores.
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Metodologia
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aproximadamente 600 alunos de todos os níveis da educação básica. A Escola C localiza-se
no interior da província de Sofala, Moçambique, região central do país. Cerca de 60% da
população de Moçambique é analfabeta. A escola possui 2.049 alunos matriculados da 1ª
à 12ª classes. A inclusão da escuta dos alunos, em sua totalidade, independente de serem
do curso normal magistério ou ensino médio; fundamenta-se no fato de que as práticas pe-
dagógicas direcionam-se e concretizam-se na relação professor-aluno. Desta forma, tanto
professor quanto aluno são protagonistas na ação educativa e, assim, também o aluno busca
espaços e tempos para expor suas concepções. Assim como Pimenta, entende-se que:
Considerando que, do cômputo total dos alunos participantes, 147 estão em processo
formativo para se tornarem professores, a convicção da necessidade de escuta desses sujei-
tos se reafirma. Neste sentido, é oportuno salientar a circularidade dos processos formati-
vos ao considerar que os
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Para análise destes dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, proposta por
Bardin (1988). Tal análise integra um conjunto de técnicas que possibilitam, por procedi-
mentos sistemáticos de descrição do conteúdo, a realização de inferências acerca da produ-
ção e/ou recepção de determinada mensagem. O processo da análise de conteúdo observou
as três etapas da técnica. Na fase de pré-análise, realizou-se uma leitura flutuante das res-
postas dos alunos estabelecendo o primeiro contato com os conteúdos coletados, tendo-se
presente as seguintes regras: i) exaustividade; ii) representatividade; iii) homogeneidade; e
iv) pertinência. Na fase de exploração foram definidas as categorias em eixos temáticos por
ser considerado o mais adequado para o tipo de estudo proposto (BARDIN, 1988). No tra-
tamento dos resultados, inferência e interpretação, procedeu-se à interpretação dos dados,
procurando não perder a visão de conjunto, considerando elementos contextuais relevantes
e identificando possíveis lacunas, contradições ou avanços. A análise teve por base um
diálogo com os pressupostos de Tardif, Lessard e Lahaye (1991), Tardif (2010) e Pimenta
(2011). Vale ressaltar que, apesar de o referencial teórico que sustenta o estudo apresentar
tipologias de saberes, os pesquisadores não utilizaram tais tipologias como categorias pré-
vias com o intuito de confirmar ou não sua existência. Ou seja, na análise, os pesquisadores
adotaram a postura de ter um olhar reflexivo para os dados e analisar o que deles emergia.
Assim, a próxima seção terá como foco os resultados e a discussão dos dados.
Apesar de neste texto não se aprofundar a discussão sobre as questões relativas ao gê-
nero, raça, etnia, cultura e condição socioeconômica, dentre outras variáveis, é possível an-
tecipar que as respostas dos sujeitos participantes da pesquisa denotam similaridades com
o que é defendido por Tardif, Lessard e Lahaye (1991), Tardif (2010) e Pimenta (2002). Ou
seja, tanto o conjunto de respostas dos estudantes que objetivam o exercício da docência
quanto daqueles que não têm por meta tornar-se professor apresentam similaridades no que
se refere ao modelo de um bom professor e dos saberes que este precisa mobilizar para ter
êxito em seu fazer pedagógico. Desse conjunto de respostas, além dos saberes já discutidos
pelos autores supracitados, os resultados da pesquisa apontam outros dois tipos de saberes:
saberes de humanização e saberes criativos. Entende-se que na identificação destes dois
saberes reside o avanço dos achados do estudo da pesquisa ora em discussão, conferindo
relevância ao trabalho realizado. Tais saberes apontam para a necessidade de se (re)pensar
os processos e práticas de formação docente que se direcionem para formar o professor em
sua totalidade, considerando o eu pessoal-profissional. Nesta compreensão, é necessário
ter-se uma visão unitária do professor, que se constitui a partir de sua trajetória de vida e das
relações que estabelece com os outros e com seu meio circundante. Portanto, é necessário
também contribuir para o desenvolvimento e formação da pessoa do professor.
Dito isto, a seguir são apresentadas reflexões atinentes às respostas do conjunto dos
estudantes que foram categorizadas nos seguintes eixos temáticos e que serão trabalhados
de forma inter-relacionada, a saber: a) a docência requer o domínio de conhecimentos es-
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pecíficos; b) a docência demanda modos de saber-fazer em termos didático-pedagógicos;
c) a docência requer um professor humanizado e humanizador; e d) a docência requer
saberes criativos.
Neste estudo emerge, das respostas dos alunos, a necessidade de que, para ensinar, os
professores precisam de saberes do conhecimento, isto é, domínio do “conteúdo” e “saber
a matéria”. No entender dos alunos, o conhecimento é uma das condições necessárias para
uma educação de qualidade. Tais concepções convergem com o já assinalado por Pimenta
(2002, 2011) e por Tardif, Lessard e Lahaye (1991). Para Pimenta (2011), o saber do conhe-
cimento é saber específico ligado à área de conhecimento do professor. Este conhecimento
vai muito além da mera informação, que se dá articulada com a produção da vida humana
em suas diversas expressões. Já para Tardif, Lessard e Lahaye (1991), os chamados sabe-
res disciplinares são os saberes específicos de que dispõe nossa sociedade, sob a forma de
disciplinas. Estes saberes estão relacionados aos diversos campos do conhecimento, inte-
grados nas universidades e incorporados na prática docente.
Os alunos querem professores competentes que auxiliem na construção de uma for-
mação que viabilize a inserção no mercado de trabalho. Almejam se tornar profissionais ca-
pazes de exercer, com qualidade, suas funções, independentemente da profissão escolhida.
Da mesma forma, identificam em suas escolas, professores que ainda não estão capacitados
para aprofundar os conteúdos lecionados. De acordo com o aluno 18 da EA, “já era o tempo
em que o professor sabia tudo e o aluno não sabia nada. Na verdade, um ensina ao outro
no dia a dia”. Essa relação entre o ensinante e o aprendente pressupõe um jeito de ensinar
pautado pelo diálogo, pela abertura e pela convicção de que o professor tanto ensina quanto
aprende. Apesar de haver uma compreensão de que “um ensina ao outro no dia a dia” é
possível perceber que a responsabilidade pelo processo de ensino-aprendizagem ainda é
delegada apenas ao professor. Além de o aluno ser responsável por sua aprendizagem, é
fundamental lembrar Cunha (1989) quando a autora enfatiza que o conhecimento ocorre
dentro de circunstâncias histórico-sociais nas quais vários fatores intervêm neste complexo
processo. Sendo assim, a díade professor-aluno é apenas um dos elementos que interferem
nele. Os alunos das escolas B e C dizem que o professor com formação específica na área
que leciona e com identificação com a disciplina interfere positivamente na aprendizagem
e na formação dos alunos. A seguir fragmentos das respostas dos alunos:
Acredito que, se um professor é formado naquela área é porque ele está capaci-
tado para ensinar melhor para aqueles que realmente querem aprender. (A1, EB).
Acredito que o professor deva ter principal e necessariamente a qualificação que
o curso exige. E como acréscimo, seja verdadeiramente um professor de qualida-
des éticas, morais, religiosas e não um professor de inutilidades. (A7, EB).
Gostaria de ter um professor bem formado com uma boa categoria competente
a aquele nível que ele possa dar matérias compreensíveis. Como professor da-
quela disciplina sabendo planificar bem as aulas, bem preparado antes de dar a
matéria. (A21, EC).
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O domínio dos conhecimentos específicos, na docência, é visto como um ganho para
além da sala de aula:
quando temos um bom professor, que domina o conteúdo que leciona, teremos
também um bom estudante capaz de estancar a pobreza em Moçambique e,
assim, não só o estudante será apreciado por outros países de fora, mas criará
mais ganho para o país. (A2, EC).
Os estudantes ressaltam ainda que o bom professor e uma boa aula são identificados
com metodologias acessíveis e significativas para o processo ensino-aprendizagem: “nas
minhas aulas gostaria um bom professor que, na verdade, soubesse conduzir os seus estu-
dantes” (A2, EC). A pesquisa desenvolvida por Cunha (1989) sob o título “O bom professor
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e sua prática” mostra que é fundamental considerar o contexto vivido pelo professor. Neste
contexto, os valores institucionais, a análise da realidade, as relações sociais, as condições
históricas, dentre outras, precisam ser levados em consideração na projeção feita pelos
alunos sobre seus professores. Portanto, para a autora, “o bom professor” sempre deve ser
problematizado dentro de uma determinada concepção de sociedade, de escola e de ensino-
-aprendizagem. Os dados mostram que a docência se dá pelas relações que envolvem os
processos educativos e seus atores. Muitos dos problemas que envolvem as pessoas, em
geral, inclusive os professores, estão na falta de qualidade dos relacionamentos entre estes
consigo mesmos, com seus pares e com seus alunos.
A educação é um processo de humanização e, desta forma, para humanizar e huma-
nizar-se é necessário haver uma integração pessoal, pois a pessoa é um todo indissociável.
A forma como o professor cuida de si é uma das bases e/ou condições para cuidar do outro
que lhe é confiado para educar, ou seja, o aluno. Desse modo, é possível identificar o que os
pesquisadores ora chamam de saberes de humanização. Estes saberes dizem respeito a todos
os saberes implicados e necessários na relação entre professor-aluno. Essa atitude diante da
vida diz da ordem do ser, do saber, do fazer e do conviver num todo integrado da pessoa. Os
processos de humanização, que se mostram no colocar-se à disposição do outro, na postura
de dar atenção, no manifestar empenho e interesse pelo bem comum, enfim, estar por inteiro
diante do outro, aparecem com destaque. Percebe-se, pelas respostas dos alunos, que o mais
importante do relacionamento em si é a realidade de ele demarcar a qualidade dos processos
de humanização das pessoas. Para Tardif (2000), os saberes dos professores carregam as
marcas de seres humanos, de cada aluno em particular, objeto de seu trabalho. Como conse-
quência, o componente ético e emocional sempre se fará presente na trama experiencial da
pessoa docente, levando o professor a um conhecimento de si. A escola também pode dar sua
parcela de contribuição para professores e alunos ao considerar que a
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as interações sociais no contexto educativo, considera-se a relevância das interações como
elemento mobilizador do desenvolvimento e aprendizagem humanos; a necessidade de o
contexto educativo constituir-se num espaço propício para as interações sociais e a função
do professor no planejamento e organização de espaços e situações de aprendizagem que
viabilizem as interações sociais entre professor-aluno e entre pares com diferentes níveis
de experiências. Assim, as respostas dos alunos sinalizam para o que passa a se denominar
saberes de humanização. Ou seja, cabe ao professor saber se relacionar com seus alunos
e entre pares. Esta relação tem como alicerce, no dizer dos alunos, o respeito, o diálogo, a
paciência, a acolhida, a compreensão, dentre outros. Assim sendo, a pessoa do professor
educa muito além do seu fazer profissional. O modo de ser do professor, dentro e fora da
sala de aula, é muito reclamado pelos alunos envolvidos na pesquisa. Estes acreditam que
a conduta de um bom professor passa pela transparência, honestidade e objetividade em
seus pedidos e ações. Ao professor é solicitado que respeite cada aluno em suas diferenças:
É como dizem: professor não faz, se conquista. Para mim, o professor deve ser
como pai e mãe. Se ele quer que haja uma boa educação, primeiramente tem de
vir dele, da mesma forma é o respeito […] jamais confundir amizade com traba-
lho, pois, vem a prejudicar tanto o aluno quanto o professor. O aluno por se dar
mal no final do ano, e o professor por ser mal visto pela sociedade. (A73, EB).
Para Cunha (1989), a sociedade é dinâmica em suas relações. Neste contexto, o dever-
-ser das pessoas (e neste caso dos professores) sofre alterações ao longo dos tempos. Esse
dever-ser pode colocar os professores em conflito na busca por nova relação que implique
a redefinição de seu papel. Assim, “os professores estão fazendo a sua própria história, mas
a partir de condições dadas, concretas do cotidiano” (CUNHA, 1989, p. 140). Essa leitura
social contextualizada parece não fazer parte do olhar dos alunos que, a partir de um de-
terminado contexto histórico, social, descrevem e exigem postura dos professores, tendo
como único referencial os modelos que já possuem internalizados sobre eles.
No dizer dos alunos, nas atividades diárias do professor são necessárias muita alegria
e disposição para estar com eles e paciência na hora de ensinar. Os dados mostram ainda
alunos que não conseguem olhar criticamente para sua condição de estudantes num contex-
to local, regional e nacional. Projetam no professor uma gama de capacidades exigidas para
a docência sem nunca mencionar as condições sócio-históricas em que estes e a instituição
escolar estão inseridos. Desta forma,
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Professores que encontram maior dificuldade em lidar com suas questões pessoais são
percebidos por seus alunos como professores que, na maioria das vezes, não conseguem
estabelecer vínculos saudáveis com seus alunos, dificultando o processo ensino-aprendi-
zagem. A paciência, outra característica da ordem pessoal, é salientada pelos alunos das
três escolas por considerarem que cada aluno aprende o conteúdo no seu tempo próprio,
e a devida paciência, por parte do professor, favorece o aprendizado. No entender destes
alunos, o desejo de aprender e estudar determinado conteúdo tem grande relação com o
vínculo que o professor estabelece com seus alunos, com seus processos de humanização,
com a expressão de que é uma pessoa feliz, adulta e integrada na vida e na docência. Dito
de outro modo: “As relações devem ser entendidas pelo lado afetivo, ainda que não apareça
como desejável para o aluno o professor “bonzinho”. O que eles querem é um professor
intelectualmente capaz e afetivamente maduro” (CUNHA, 1989, p. 141). Os fragmentos a
seguir ilustram o entendimento dos alunos:
Eu gosto dos professores que conversam com os alunos […] isto é fundamental
na relação professor-aluno. (Aluno 11, EC).
Eu me sinto alegre e capaz de exercer qualquer trabalho com os professores que
tem boa relação comigo. (Aluno 14, EC).
É importante o professor, ao entrar na sala de aula, não ficar zangado, ter tam-
bém oportunidade de rir com os alunos para que a gente não tenha medo do
professor […] o aluno vai aprendendo com simpatia e amor. (Aluno 20, EC).
A postura dos professores é uma referência para os alunos. Eles destacam que se
inspiram em seus professores no entendimento de que o exemplo educa e seu modo de ser
influencia os futuros professores em suas escolhas e em seu fazer.
Amizade e respeito mútuo são citados pelos alunos da escola C ao afirmar que a
amizade do professor com seu aluno favorece a aprendizagem, bem como a qualidade da
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aula se dá a partir do bom relacionamento e do respeito mútuo. O mesmo entendimento se
encontra nos alunos da escola B. No dizer do aluno 55, desta escola:
Um professor amigo que saiba dialogar em sala de aula presta atenção no que
vai falar, não traz suas amarguras para descontar nos alunos, enfim, um profes-
sor que seja não um professor, mas sim um amigo e também, que tenha moral
para exercer bem a sua profissão.
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em sua ação cotidiana, o que viabiliza (re)criar e encontrar novas e atraentes alternativas
para aprimorar o ensino e a aprendizagem. São saberes que possibilitam, também, a su-
peração de algumas dificuldades existentes em alguns contextos educacionais, sejam elas
de ordem estrutural, organizacional e/ou econômico-financeira. A conjuntura social atual
denuncia uma crise profunda vivida pela docência dentro de um contexto sócio-histórico.
Mesmo assim, é possível perceber professores voltados para a mobilização de saberes cria-
tivos que contribuem para que ele tenha uma atitude proativa perante as dificuldades e
situações adversas.
Observa-se que os alunos das três escolas destacam a importância de aulas criativas,
dispositivo que aciona a atenção e interesse do aluno, independentemente de a aula ser teórica
ou prática. Os saberes criativos inserem-se na lógica da diferença, da criação, das descober-
tas, da produção de conhecimento na docência. Ser criativo, no entendimento deles, exige do
professor práticas diversificadas. A pesquisa aponta para professores que também repetem
uma pedagogia tradicional, calcada no pressuposto da ação de ensinar, e não uma pedagogia
dialógica, voltada para a produção do aluno, a exemplo do que descobriu Cunha em suas
pesquisas. No dizer da autora, “para uma ação dialógica, transformadora, seria preciso des-
locar do professor para o aluno a produção do conhecimento. Seria necessário modificar o
paradigma que é presente historicamente nas concepções escolares” (CUNHA, 1989, p. 150).
Por fim, os achados da pesquisa sinalizam que os saberes docentes já identificados
por Pimenta (2002, 2011), denominados saberes do conhecimento, e por Tardif, Lessard e
Lahaye (1991), saberes “disciplinares” e “saberes curriculares”, fizeram-se presentes nas
concepções dos estudantes das três escolas. Isto remete à reflexão de que existem modelos
interiorizados, uma construção social sobre o ser professor e os saberes necessários para
o exercício da docência que tendem a ser reproduzidos pelos sujeitos. Nesse sentido, vale
retomar Tardif; Lessard e Gauthier, quando destacam que:
Essa noção de construção social significa que as profissões não são realidades
naturais mas sócio-históricas, por um lado, e por outro, que essas realidades
não são produzidas por qualquer determinismo […], mas sim pela acção dos
atores sociais que agem em contextos já condicionados, mas que oferecem aos
actores algumas possibilidades, algumas margens de manobra, espaços de jogo,
etc. (2001, p. 11).
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Sendo assim, existem elementos que emergiram no estudo e que permitem problema-
tizar a compreensão da profissão professor, sob alguns aspectos, de forma igualitária nos
dois países, nas escolas pesquisadas. Em relação aos saberes indicados pelos alunos do
ensino médio em processo de formação inicial para tornarem-se professores e por aqueles
que não objetivam ser professores, não se observa variações entre as escolas situadas nos
dois países, no que tange aos necessários para o exercício da docência. Ainda nesta dire-
ção, importa destacar que o conjunto de respostas dos alunos das três escolas viabilizou
aos pesquisadores identificar duas outras tipologias de saberes ainda não contempladas nos
estudos dos autores já referenciados: saberes de humanização e saberes criativos.
Considerações finais
Referências
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BORGES, C. Saberes docentes: diferentes tipologias e classificações de um campo de pes-
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Dados dos Autores
Paulo Fossatti
Doutor em Educação pela PUCRS e Pós-Doutorando em Ciências da
Educação pela Universidade do Algarve (Portugal).
Henrique Guths
Mestre em Ciências Cardiovasculares pela UFRGS.
Submetido em 19/12/2011
Aprovado em 21/9/2012
Comunicações • Piracicaba • Ano 19 • n. 1 • p. 71-85 • jan.-jun. 2012 • ISSN Impresso 0104-8481 • ISSN Eletrônico 2238-121X 85