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Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores

ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GEOGRAFIA:


OPORTUNIDADE DE REFLEXÃO SOBRE O ESPAÇO ESCOLAR

Maria Edivani Silva Barbosa


Departamento de Geografia. Universidade Federal do Ceará (UFC)
Luzianny Borges Rocha
Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos. Universidade Estadual do Ceará
(Fafidam/Uece)

RESUMO
O Estágio Supervisionado em Geografia, componente curricular da licenciatura,
constitui etapa fundamental na formação do profissional de Geografia, pois no transitar
entre a universidade e a escola, o estagiário, o professor-orientador e o professor-regente
desempenham papéis importantes na troca de experiências e construção de
conhecimentos, compreensão e busca de alternativas para melhoria do ensino na
educação básica. Este trabalho é resultado de nossa reflexão sobre o estágio curricular
ministrado no curso de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Campus
Fortaleza-CE e da Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (Fafidam-Uece),
Campus Limoeiro do Norte-CE. Como professoras-orientadoras de estágio, nossa
atenção esteve focada na importância do estágio como espaço de reflexão da prática
docente e na análise do espaço escolar identificando suas potencialidades para
desenvolver um ensino de Geografia consoante às atuais propostas didático-
pedagógicas. O aporte teórico está fundamentado em autores que discutem sobre
estágio, prática de ensino e formação docente, com destaque para os trabalhos de Lima
(2012), Pimenta e Lima (2009), Passini (2007) e Tardif (2012). Avaliamos os relatos
dos estagiários nos encontros de mediação e nos relatórios de estágios. Estes expressam
preocupação com o ambiente escolar da escola pública caracterizado por salas quentes,
apertadas, com infiltração, deterioradas, barulhentas e abafadas; excesso de alunos por
sala (em média de 35 a 40 alunos); quadra descoberta; salas inadequadas para o
planejamento do trabalho docente; presença de espaço multifuncional (biblioteca/sala de
informática/sala de multimeios, sala dos professores/sala de coordenadores, sala de
aula/refeitório); arquitetura inadequada; ausência de espaço para desporto, recreação e
sociabilidade dos discentes; ausência de refeitório ou refeitório pequeno; corredores
estreitos; iluminação e ventilação inadequadas; dificuldade na acessibilidade dos
recursos didáticos. Concluímos que o espaço escolar é inadequado às propostas
didático-pedagógicas ousadas, o que desmotiva o ensino de Geografia.

Palavras-chave: Estágio. Geografia Escolar. Formação Docente.

INTRODUÇÃO

O Estágio Supervisionado em Geografia, componente curricular da licenciatura,


constitui etapa fundamental na formação do profissional de Geografia, pois no transitar
entre a universidade e a escola, o estagiário, o professor-orientador e o professor-regente
desempenham papéis importantes na troca de experiências e construção de

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conhecimentos, compreensão e busca de alternativas para melhoria do ensino na


educação básica.
O estágio à luz de uma fundamentação teórica nos permite analisar vários
aspectos da formação docente, dentre os quais destacamos a relação teoria e prática, a
construção da identidade docente, as políticas de educação, os desafios da profissão
docente e os saberes necessários à prática, o uso das metodologias e dos recursos
didáticos, enfim, diversos aspectos são problematizados via estágio, uma vez que este se
constitui espaço aberto para a pesquisa, o diálogo, a reflexão e intervenção sobre o
espaço escolar. Pimenta e Lima (2009, p. 100) asseguram que o estágio “[...] pode não
ser uma completa preparação para o magistério, mas é possível, nesse espaço,
professores, alunos e comunidade escolar e universidade trabalharem questões básicas
de alicerce, a saber [..] a realidade dos professores nessas escolas, [...]”.
Neste trabalho, nos atemos à análise do espaço escolar identificando suas
potencialidades para desenvolver um ensino de Geografia consoante às propostas
didático-pedagógicas e ao perfil do novo professor. Ao intervir no espaço concreto da
escola, os estagiários refletem sobre as ações realizadas e, assim, vão ressignificando
suas práticas, considerando as condições reais das escolas. Nosso objetivo principal com
os estágios é educar o(a) professor(a) em formação para a prática da pesquisa, no
sentido de propiciar oportunidade de reflexão crítica da prática docente. O aporte
teórico está fundamentado em autores que discutem sobre estágio, prática de ensino e
formação docente, a pesquisa na formação docente, com destaque para os trabalhos de
Lima (2012), Pimenta e Lima (2009), Passini (2007) e Tardif (2012).
Os licenciandos do curso de Geografia da UFC, Campus Fortaleza-CE e da Uece
- Fafidam, Campus Limoeiro do Norte–CE, ao vivenciarem a escola mediante os
estágios supervisionados, sob nossa orientação, mobilizam os diversos saberes
adquiridos no decurso da formação, têm a oportunidade de avaliar a sua própria
formação, os conteúdos estudados, especialmente, os saberes disciplinares, curriculares
e profissionais (incluindo os das ciências da educação e da pedagogia). Na confluência
desses saberes no momento da prática, o conflito se estabelece quando estes deparam o
distanciamento entre o que é proclamado nos textos acadêmicos e nos documentos
oficiais que regem a educação com a realidade da escola, um espaço desafiante, árido e
cheio de obstáculos, que coloca em xeque os saberes adquiridos.
Os licenciandos são orientados a realizar um estudo, mediante a pesquisa, onde
problematizam o espaço escolar, observando sua estrutura física e pedagógica;

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conversam com os professores-regentes, no sentido de que estes venham partilhar suas


experiências e ajudar na realização das atividades de observação, participação e
regência, fazendo-os mobilizar estes saberes experienciais como forma de superar os
desafios a serem enfrentados.
Neste sentido, o estágio ministrado por nós durante os últimos três anos (2011-
2013), nos ofereceu um espaço de aprendizado, reflexão e avaliação dos nossos saberes
a respeito da escola e do ensino de Geografia ali realizado. Tal empreendimento
pareceu-nos o caminho mais adequado para pensarmos em qualquer proposta de
reforma no ensino de Geografia e de transformação da escola pública.
O trabalho está organizado em dois tópicos: no primeiro, trazemos à tona o papel
dos professores (regentes e orientadores) na formação dos licenciandos; no segundo,
refletimos sobre as experiências dos estagiários no espaço concreto da sala de aula, com
base nos relatos apresentados nos encontros de mediação e relatórios de estágio.

O PAPEL DOS PROFESSORES NA FORMAÇÃO DOS ALUNOS


ESTAGIÁRIOS

A percepção do espaço escolar, vivenciada durante os estágios, propicia aos


licenciandos e professores formadores problematizarem este espaço e dialogarem, no
sentido de levantar questões acerca da prática de ensino de Geografia, reveladas no
contexto interno das escolas e suscitadas no contexto mais geral da sociedade. Segundo
Passini (2007, p. 14), “o olhar sobre a prática da sala de aula, e mesmo – de forma mais
ampla – sobre o espaço escolar, leva-nos a pensar em inúmeras possibilidades
desafiadoras para provocar mudanças”. Assim, o estágio supervisionado apresenta-se
como uma possibilidade de busca por soluções para a escola e para o ensino que nela se
realiza por meio da leitura e do diálogo. Neste sentido, Lima confirma a importância do
professor da escola para assegurar este diálogo:

O papel formador do professor da escola de ensino fundamental e médio


junto aos estagiários é de essencial importância. Estes profissionais, em seu
trabalho solitário, muitas vezes se apoiam nos estagiários e assim
estabelecem com eles uma relação de troca, que favorece ao diálogo sobre o
ensinar e o aprender a prática profissional, ao mesmo tempo em que
assumem seu papel formador de novos professores. (2012, p.74).

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Viabilizar o diálogo entre a escola e a universidade sugere transpor a ideia da


formação técnica dos professores, compreendida muitas vezes como uma prática
apreendida através de modelos prontos e acabados, seja na universidade ou na escola.
Nossa responsabilidade na universidade é estabelecer estratégias que possam revitalizar
o diálogo. Neste sentido, Tardif afirma que

O relacionamento dos jovens professores com os professores experientes, os


colegas com os quais trabalham diariamente ou no contexto de projetos
pedagógicos de duração mais longa, o treinamento e a formação de
estagiários e de professores iniciantes, todas essas são situações que
permitem objetivar os saberes da experiência. Em tais situações, os
professores são levados a tomar consciência de seus próprios saberes
experienciais, uma vez que devem transmití-los e, portanto, objetivá-los em
parte, seja para si mesmos, seja para seus colegas. Nesse sentido, o docente é
não apenas um prático, mas também um formador. (2012, p.52)

O estágio que pretende ser espaço de investigação e reflexão estabelece em


primeiro lugar o diálogo entre os formandos e formadores. A aprendizagem da profissão
docente ocorre por meio da partilha dos saberes da experiência dos professores-regentes
e da prática reflexiva mediada pelos professores-orientadores de estágio.

O MOMENTO DA PRÁTICA E A LEITURA DO ESPAÇO ESCOLAR

Durante os encontros de mediação e em relatórios de estágio os licenciandos


falam sobre as principais dificuldades encontradas durante o estágio para desenvolver as
aulas planejadas. Os depoimentos expressam preocupação com o ambiente escolar da
escola pública considerado bastante precário. Podemos elencar os problemas mais
perceptíveis no que se refere à infraestrutura inadequada ao ensino e a aprendizagem
caracterizados por: salas quentes, sem forros, apertadas, com infiltração, deterioradas,
barulhentas e abafadas; excesso de alunos por sala (em média de 35 a 40 alunos);
quadra descoberta; salas inadequadas para o planejamento do trabalho docente; presença
de espaço multifuncional (biblioteca/sala de informática/sala de multimeios, sala dos
professores/sala de coordenadores, sala de aula/refeitório); arquitetura inadequada;
ausência de espaço para desporto, recreação e sociabilidade dos discentes; ausência de
refeitório ou refeitório pequeno; corredores estreitos; iluminação e ventilação
inadequadas; dificuldade na acessibilidade dos recursos didáticos. Para ilustrar,
apresentamos o relato de dois estagiários, os quais revelam a insatisfação com o
ambiente de trabalho na escola:

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A escola em questão apresentava uma problemática muito grande em relação ao seu


espaço físico, que é muito pequeno. Não há um espaço adequado para a recreação, os
corredores são muito estreitos e as salas de aula muito pequenas, barulhentas e
abafadas. Essas limitações estruturais acabam trazendo problemas para o processo de
ensino-aprendizagem, já que os problemas decorrentes, tais como calor excessivo e o
barulho em sala de aula, bem como a falta de espaços extra sala para recreações
acabam tornando o momento da aula um momento maçante para aluno e professor.
(Aluno do curso de Geografia, UFC).

Fico analisando a qualidade do ensino e da aprendizagem, quando vejo a professora


comprometer de 10 a 15 minutos do tempo de sua aula para que a merenda escolar seja
distribuída em sala, antes do recreio. A professora escolhe dois alunos para ir buscar,
na cozinha, a merenda escolar, que vem sendo transportada pelos mesmos dentro de
um balde. Quanta precariedade, quanta transferência de responsabilidade, quanto
descaso com a educação escolar! (Aluno do curso de Geografia, Fafidam).

Ao confrontarmos as experiências dos estagiários com o que é determinado


pelos documentos oficiais, para este nível de escolarização, verificamos o
distanciamento entre o discurso oficial e o que realmente as escolas vivenciam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitos são os fatores que contribuem para minar o trabalho dos professores nas
escolas, podemos lembrar aqui as políticas educacionais, as reformas que direcionam as
práticas dos professores, a formação do professor desqualificada. Some-se a isso,
também, a ausência de espaços adequados para o desporto, a recreação e as festividades;
ausência de salas de aula confortáveis e adequadas para o desenvolvimento de aulas
criativas e dinâmicas. O desconforto promove a indisciplina e a dispersão dos alunos na
sala de aula. Para mudar o ensino precisamos transformar a escola.

REFERÊNCIAS

LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Aprendizagem da profissão docente.


Brasília: Liber Livro, 2012.
PIMENTA, Selma Garrido & LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São
Paulo: Cortez, 2009.
PASSINI, ElsaYasuko. Prática de ensino de Geografia e estágio supervisionado. São
Paulo: Contexto, 2007.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 14 ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2012.

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