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RELATO DE EXPERIÊNCIA DO PROGRAMA RESIDÊNCIA

PEDAGÓGICA: PERCEPÇÕES DO COTIDIANO DA ESCOLA DE


ENSINO MÉDIO GOVERNADOR LUIZ GONZAGA DA FONSECA
MOTA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE

Nathália Késia Gomes de Souza 1


Mailson Almeida da Silva 2
Davi Lopes da Silva 3
Camila Freire Sampaio 4

Resumo: Este trabalho destaca a relevância do Programa Residência Pedagógica (PRP), coordenado
pela CAPES, na formação e desenvolvimento profissional de docentes, concentrou-se nas experiências
vivenciadas na Escola de Ensino Médio Gonzaga Mota da Fonseca, localizada em uma zona
periférica, caracterizada por desafios sociais como violência e desemprego. O objetivo principal é
descrever as experiências e reflexões do cotidiano escolar, abordando a relação entre teoria, prática e a
reflexão do papel docente. A metodologia adotada incorpora elementos subjetivos, como observação e
reflexão, enquanto a análise abrange fases como ambientação, observação, planejamento e regências.
O estudo destaca desafios enfrentados pelos licenciados, como a superlotação de salas e a falta de
recursos didáticos, ressaltando a importância do apoio ao preceptor. A regência emerge como um
treinamento prático crucial, permitindo ao residente aprender identidade pela experiência e moldar sua
profissional. Em suma, o trabalho enfatiza a formação de professores reflexivos, capazes de enfrentar
desafios com criatividade e adaptação, integrando e prática de maneira contínua.
Palavras-chave: Formação Docente; Residência Pedagógica; Ambiente escolar.

INTRODUÇÃO
A experiência vivenciada em um ambiente escolar é ponto de partida para este
trabalho, o qual destaca a importância do Programa Residência Pedagógica (PRP),
coordenado pela CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior, na
formação, desenvolvimento profissional e práxis docente, no qual o docente em formação,

1 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Quixadá,
nathalia.kesia.gomes08@aluno.ifce.com;
2 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Quixadá,
mailson.almeida.silva06@aluno.edu.br.com;
3 Professor de Geografia da Escola de ensino Médio Gonzaga Mota da Fonseca – Quixadá – CE,
davilopes@gmail.com;
4 Profª Drª do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Campus Quixadá, camila.sampaio@ifce.edu. br;
passa a vivenciar o cotidiano escolar, possibilitando que o residente faça uma análise entre
teoria, prática e a reflexão do papel docente.
Assim, o presente trabalho possui como principal objetivo realizar a descrição das
experiências e reflexões adquiridas através das percepções do cotidiano da Escola de Ensino
Médio Gonzaga Mota da Fonseca.
A escola em análise está situada na zona periférica do município de Quixadá, no
Bairro São João, o qual reflete a vulnerabilidade social da população, estando voltados e
submetidos a problemáticas sociais pertinentes, como violência, fome, prostituição,
marginalidade e desemprego (Projeto Político Pedagógico, 2021). Diante disso, é vivenciando
nestes espaços que é compreendido o papel do ensino de geografia diante questões sociais
hodiernas, cujo objetivo propõe realizar uma análise, interpretando e pensando criticamente a
realidade social (Zuba, 2006).
Assim, as vivências na escola campo possibilitaram diversas reflexões acerca de todos
desafios que estão inseridos no ambiente escolar, onde se apresentam muitas vezes como
obstáculos aos licenciandos, representados através de inseguranças e incertezas. Sobretudo ao
se deparar com um cenário complexo que é o espaço escolar (Souza e Lima, 2023). Desse
modo, este trabalho justifica-se por apresentar uma visão que propõe refletir as principais
inquietações e analisar como as vivências no espaço escolar contribuem na superação desses
desafios.
Portento, estes desafios fortalecem o processo de construção da práxis docentes,
tornando-se base para o entendimento da construção do ser professor reflexivo, que integra a
teoria e a prática em um processo contínuo de aperfeiçoamento e construção de identidade
profissional, auxiliando na melhor atuação em sala através da própria experiência (BEZERRA
et al., 2014).

METODOLOGIA
Para a construção deste relato, foram empregados métodos que incluíram elementos
subjetivos oriundos da experiência pessoal, tais como observação, reflexão e descrição dos
eventos formativos vivenciados na escola durante o programa. Adicionalmente, recorreu-se a
referenciais teóricos pertinentes para fundamentar os acontecimentos apresentados.
Desse modo, os procedimentos metodológicos deste trabalho condizem com o
levantamento bibliográfico prévio realizado durante os estudos teóricos. Tendo como
principal metodologia para coleta de dados, a descrição de diversos momentos, levando em
consideração as narrativas dos residentes, autores deste trabalho. Assim, delimitou-se por
narrativas de acordo com Bruner (2002), que uma narrativa deve ser composta por uma
sucessão única de eventos, estados mentais e incidentes que incluem seres humanos como
protagonistas ou autores.
Nesse sentido, foi realizada a descrição das percepções acerca dos momentos e
reflexões obtidas através das vivências na escola durante as etapas do programa. Dessa forma,
foi realizada a descrição geral das etapas de ambientação, observação, planejamento e
regências, e a reflexão crítica de cada etapa.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

O primeiro momento foi marcado pela ambientação na escola Governador Gonzaga


Mota da Fonseca, percebeu-se que a escola estava ainda caminhando para adequar-se ao novo
ensino médio. Apesar de, apresentar em sua estrutura física uma boa viabilização ao ensino
em tempo integral e contar com um amplo espaço de lazer. Porém, os espaços de salas de aula
não atendiam ao quantitativo de alunos, o que ocasionava em superlotação de salas.
Segundo Cunha et al. (2020), na condição de acadêmicos integrados ao PRP, percebe-
se que a familiarização é igualmente um procedimento de ajustes. A adaptação implica em um
processo mais amplo, que abrange a contextualização dos ambientes físicos da instituição
educacional, compreendendo a interação entre os indivíduos que contribuem para que esses
espaços se comuniquem mutuamente. Desse modo, o processo de ambientação mostra-se de
fundamental importância para que o residente sinta o conforto de estar inserido em um espaço
acolhedor, onde exista colaboração mútua entre todos que constituem o espaço escolar.
O período de ambientação foi responsável por colaborar com os momentos de
observação, sendo essa a ponte necessária para construção da prática profissional. As
observações da prática e posicionamento do preceptor possibilitaram refletir, que apesar de
cada sujeito possuir sua própria identidade, pode-se extrair diversas experiências e desse
modo espelhar-se, assim como Ferreira (2014) Apud Souza e Lima (2023) refletem que o "eu"
constituído está intrinsecamente ligado à presença do "outro", e que a concepção de mundo
não se dissocia em nenhum momento desse processo construtivo, e é nesse sentido que a
formação da identidade docente vai se construindo. Esse processo também permite analisar
com cautela os percursos didáticos para a execução do planejamento das aulas. Além disso, a
observação da postura do professor, discentes e dinâmicas em sala, é a principal prática que
prepara o residente para os momentos de regências, assumindo assim participação
fundamental na superação das inseguranças.
Durante os momentos de planejamento na escola, foi analisado os livros didáticos e
sugestões de atividades para serem executadas nas aulas. Ao longo das aulas, foi possível
perceber que o preceptor mantinha o cuidado de sempre seguir a proposta do planejamento
para a aula, para que todos os estudantes estivessem na mesma etapa dos conteúdos. Contudo,
isso se mostrou algo bem complicado, as especificidades dos estudantes e ritmo de
aprendizagem, por vezes alteravam a sequência didática que havia sido proposto para a aula.
O preceptor possui importante papel nesse momento, pois auxilia o residente no fazer
profissional e atuação em sala de aula, principalmente ao preparar diferentes aulas, complexas
e plurais. Além disso, as trocas de conversas e momentos de estudo, contribuem de modo
primordial para a profissão, pois o mesmo possibilita uma constante reflexão sobre o fazer
docente.
A prática de planejar torna-se ferramenta de fundamental relevância nos momentos de
regência, que impulsionam sua segurança diante todo desenvolvimento da aula. Apesar de
importante, esses momentos encontraram gigantescas limitações sobretudo pela carência de
recursos didáticos geográficos, como mapas, globo terrestre e materiais de papelaria,
reduzindo as aulas ao livro didático, e pesquisas externas para o desenvolvimento de
estratégias que tornassem as aulas mais atrativas para os estudantes. Mediante a falta de
materiais didáticos e o aparente desinteresse dos estudantes. Ao utilizar o princípio da
analogia para abordar os conteúdos, com exemplos do cotidiano e de seu espaço, as aulas
tornaram-se mais dinâmicas e objetivas, alcançando os objetivos das aulas e melhorando o
interesse e desenvolvimento dos discentes.
A regência é um treinamento prático, no qual o residente aprende pela própria
experiência, desconstruindo por vezes a ideia de que não basta ter o domínio do conteúdo. Na
realidade é apenas uma parte do ensino, pois quando se adentra o ambiente escolar são
encontradas situações complexas, percebendo o quanto é preciso aprender sobre a prática
pedagógica. De acordo Baccon (2005) na regência, o estagiário não apenas desempenha o
papel do professor, mas também tem a oportunidade de moldar e ocupar um espaço
significativo em sua interação com o aluno.
Ao adentrar a sala de aula, foi possível perceber desmotivação, desinteresse e
indisciplina de parte dos estudantes. Entretanto, foi levado em consideração o contexto social
a qual estes estavam inseridos, assim, foi necessário buscar estratégias pedagógicas adaptadas
para a realidade das turmas, para que despertasse nos estudantes a motivação para os estudos,
desenvolver-se enquanto ser social e seres críticos e reflexivos. Como afirma Freire Apud
Mendes (2002) uma das tarefas mais cruciais da prática educativo-crítica consiste em criar as
condições que permitem aos educandos fortalecer a relação aluno/professor, experimentando
o ato de assumir-se. Esse processo envolve reconhecer-se como ser social e histórico, como
um indivíduo pensante, comunicativo, transformador, criador e realizador de sonhos. A
assunção de si mesmo não implica na exclusão dos outros, mas sim na compreensão e
aceitação do eu como sujeito, capaz de reconhecer-se também como objeto.
O processo de reflexão é diário, sobretudo quando se vivencia os desafios que o
espaço escolar apresenta. Mesmo que se possa imaginar como é a realidade de uma escola, ao
adentrar esse espaço percebe-se diversos elementos imprevisíveis, pois cada ambiente possui
suas particularidades, e entender essas características fortalecem o processo de segurança em
participar ativamente no espaço educacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso trilhado ao longo deste trabalho proporcionou uma imersão profunda na


realidade do Programa de Residência Pedagógica (PRP) na Escola de Ensino Médio Gonzaga
Mota da Fonseca. A vivência nesse contexto exigiu-nos a visibilidade da intersecção entre
teoria, prática e reflexão no processo de formação e desenvolvimento profissional docente.
As inúmeras reflexões fornecidas pela experiência na escola evidenciaram desafios
importantes, que muitas vezes se apresentaram como obstáculos aos licenciados. A
complexidade do ambiente escolar, marcada por problemas sociais, instigou a necessidade de
compreender o papel do ensino de geografia diante dessas questões. O enfrentamento desses
desafios revelou-se essencial para a construção da práxis docente e, por conseguinte, para as
afirmações do ser professor reflexivo.
A análise e discussão das fases de ambientação, observação, planejamento e regências
destacaram a importância crucial desses momentos na construção da prática profissional. A
superação das limitações, como a carência de recursos didáticos, exigiu criatividade e
adaptação, tornando evidente a relevância do apoio ao preceptor e das trocas de experiências.
Em suma, o PRP mostrou-se instrumento potencializador ao enfrentamento das
situações complexas em sala de aula, proporcionando não apenas o desempenho acadêmico
dos licenciandos, mas também contribuindo para a superação das inseguranças e incertezas
presentes no espaço escolar.

REFERÊNCIAS
BACCON, Ana Lúcia Pereira. O professor como um lugar: um modelo para análise da
regência de classe. Curitiba: Honoris Causa, 2011a, 2005.
BEZERRA, Géssica Oliveira; FERREIRA, Lúcia Gracia. A experiência de ensinar e aprender
no PIBID: o ensino de Ciências e da Biologia. Experiências em ensino de Ciências, v. 14, n.
1, p. 545-564, 2019.
BRUNER, J. Atos de significação. 2.ed. Trad. Sandra Costa. São Paulo: Artmed, 2002.

CUNHA, Ana Beatriz et al. Programa Residência Pedagógica: reflexões sobre a etapa de
ambientação em uma escola-campo. Research, Society And Development, São Paulo, v. 9,
n. 10, p. 1-17, 8 ago. 2020.

Escola Estadual Governador Luiz da Fonseca Gonzaga Mota. Projeto político pedagógico
(PPP): Quixadá. 2021.

MENDES, Vanessa Cristina Carvalho; DE OLIVEIRA, Graciete Maria. Por uma pedagogia
da Autonomia. Formação@ Docente, v. 4, n. 2, p. 64-71, 2012.

SOUZA, Nathália; LIMA, José. Importância do estágio Supervisionado para a construção da


identidade docente. In: CONGRESSO INTERNACIONAL MOVIMENTOS DOCENTES,
2022, Anais [...] Diadema: V& V Editora, 2022. p. 635-641

ZUBA, Janete Aparecida. O Ensino da Geografia na Atualidade: Desafios e Perspectivas.


Revista Cerrados (Unimontes), vol. 4, n. 1, janeiro-dezembro de 2006, pp. 109-118,
Universidade Estadual de Montes Claros.

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