Este trabalho visa recuperar as visões principais do estagiário durante o estágio
obrigatório curricular. Foi realizado um projeto de colaboração com a escola acerca da temática de diálogos, com base teórica de Paulo Freire, em um momento de formação com os professores da rede municipal do turno matutino da Escola Professor Josefa Botelho, localizada na Vila de Ponta Negra. Questões como sobre como construir diálogo, qual o papel do professor e do estudante durante o diálogo e sobre o quê se dialoga, foram centrais na execução do projeto, que retornou um final positivo, assinalando proposições de reestruturação do trabalho docente no ano posterior ao do momento da formação, visando a inserção da cultura local no currículo escolar.
Palavras-chave: Estágio Curricular. Gestão Escolar. Formação de Professores.
1. INTRODUÇÃO
O Estágio foi realizado na Escola Professor Josefa Botelho, localizada na Vila
de Ponta Negra, próximo a residência do próprio estagiário, ou seja, houve um vínculo pessoal com a justificativa de escolha deste lugar para executar o estágio. A escola é pequena, conta com 26 turmas no momento do estágio, com uma média de 20 a 25 alunos por turma, totalizando uma média de 200 a 300 estudantes por turno. A escola oferece Ensino Fundamental Anos Iniciais e Finais, no turno matutino e vespertino respectivamente, como também a Educação de Jovens e Adultos (EJA) no período noturno. A coordenadora Márcia Fernandes foi a responsável pela recepção e acompanhamento do estagiário, oferecendo todo o suporte necessário. A escola também conta com uma infraestrutura razoável, com espaços de convivência, refeitório, biblioteca, sala de multimídia, uma quadra de areia e outra de concreto, sala de coordenação, sala de diretoria, sala dos professores, sala de reuniões e planejamentos, cozinha, garagem, pátio e vale salientar que o espaço entorno do prédio principal é arborizado e os estudantes têm acesso a espaços com areia também. Nos momentos de diálogo com a coordenadora, ficava evidente a posição dela com respeito da atuação do estagiário longe da sala de aula. A conversa era motivada pelo questionário elaborado pela turma e a coordenadora sempre tinha a responsabilidade de dar uma resposta satisfatória, apresentando sua visão profissional e pessoal acerca dos assuntos. Foi a partir deste diálogo, que surgiu a necessidade determinada pela coordenadora, que o projeto de colaboração fosse acerca de uma formação para os professores, pois se via a necessidade de se trabalhar um tópico em especial da afetividade presente na relação professor-estudante. Diante dessa tarefa, o estagiário a partir de suas experiências com as disciplinas de Organização do Trabalho Pedagógico e Curricular, imerso pelo contexto que a coordenadora incitava em seus discursos, sugeriu a possibilidade da base teórica ser Freiriana, tanto para trabalhar as questões de afeto nas relação de sala de aula, quanto para determinar o significado de cultura, que se atravessa dentro da escola e muitas vezes se chocam, criando conflitos e divergências acerca do entendimento sobre Educação.
2. DISCUSSÃO E REFLEXÃO
Visto a escolha do tema e da base teórica, o estagiário ficou incumbido de
preparar o material a ser apresentado e realizar a formação com os professores. Durante a escolha do melhor dia e momento, a coordenadora informou que desejaria a formação sendo feita para os professores do turno vespertino, mas infelizmente devido ao conflito de horários com a universidade, o estagiário não poderia realizar neste momento. Neste mesmo momento, o próprio estagiário enunciou sua vontade para realizar com os professores da EJA no período noturno, mas a coordenadora explicou que pelo fato destes professores serem mais voláteis no espaço escolar, ela temia que não fosse um momento proveitoso. Então se optou por realizar com os professores do turno matutino devido a impossibilidade de se realizar nos outros turnos e seria feito no último horário de aula, pois a coordenadora iria liberar os estudantes e consequentemente os professores para que estes participassem sem a possibilidade de ausência. Seria tudo feito num espaço de tempo em torno de 50 a 60 minutos. Sobre a base teórica, Paulo Freire se destaca por tratar de um aspecto fundamental que esteve presente várias vezes durante os diálogos estabelecidos entre o estagiário e a coordenadora, que é a questão do afeto. A obra escolhida para estruturar a formação foi a Pedagogia do Oprimido, em especial o Capítulo Três, quando Freire vai discutir o significado de Diálogo para que a verdadeira educação emancipadora se estabeleça. Vários conceitos da obra foram utilizados para se trabalhar na formação, como o propósito da educação; reflexão e ação do trabalho pedagógico; os pré-requisitos do diálogo; com quem se cria diálogo e a partir de quê; quando se começar a pensar o diálogo; qual o conteúdo que permeia o diálogo; qual o papel do professor e qual o papel do estudante durante o diálogo; como planejar e construir metodologicamente momentos de diálogo, etc. A apresentação ficou dividida em três momentos, um inicial para apresentação do estagiário e exposição dos conceitos, planejado para durar em torno de 20 minutos, um segundo momento após este para que os professores pudessem fazer suas colocações e expressassem suas opiniões a respeito, planejado para durar em torno de 30 minutos e um último momento ao final para propor encaminhamentos e encerrar com agradecimentos. Após tudo planejado e revisado, se conduziu a formação e é importante salientar que momentos antes, o estagiário se deparou com o fato de que iria trabalhar aspectos profissionais com profissionais que já estavam em cargo há décadas e isto propiciou um pico de ansiedade, deixando o estagiário nervoso, mas que felizmente a coordenadora conseguiu contornar esta situação inserindo o estagiário nos momentos de intervalo junto aos professores, criando um ambiente saudável e amigável. A formação foi feita numa das salas de aula, que foi organizada pelo próprio estagiário em formato de círculo oval semi-fechado com a projeção de slides no quadro. Apesar de todo o estresse inicial que o contexto propiciou, a apresentação seguiu tranquila e um momento que auxiliou a desenvoltura calma da formação, observada pelo próprio estagiário, foi durante o início se colocar também enquanto professor, ou seja, estar no mesmo nível que os que estavam ali, para que não se sentissem superior ou inferior ao que estava sendo exposto, visto que o conteúdo da formação poderia provocar sentimentos de inquietação. O momento do diálogo foi fantástico. A maioria dos professores que puderam estar presente, que totalizou em torno de 15, quiseram falar, expor suas ideias, seus problemas, suas necessidades, seus desejos e vontades e o clima ficou bastante seguro e agradável para que pudessem fazer suas colocações. Ao final, o estagiário encaminhou um convite para que os professores pudessem escutar mais seus estudantes e revissem seus posicionamentos acerca de suas escolhas durante os planejamentos, se seria mais importante trabalhar o currículo formal de conteúdos ou o oculto, das relações presentes e construídas pelo espaço escolar.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A incrível experiência de poder estar presente no locus de trabalho que se
pretende atuar é extremamente enriquecedor, principalmente no aspecto que diz respeito às construções de visões e posicionamentos que podem e precisam ser adotados, repensados ou evitados. Ouvir dos professores falas do tipo “[...] às vezes sou atropelada pela rotina e simplesmente não consigo dar conta de parar e refletir sobre o que estou fazendo em sala de aula! [...]” propiciaram ao estagiário a oportunidade de construir um olhar outro sobre o papel da gestão escolar, que os professores também precisam de ajuda metodológica e oportunidades de encontros frequentes para realizarem trocas acerca de seu trabalho. Vale destacar também as dificuldades encontradas para a execução do estágio, principalmente no que diz respeito ao tempo, ser próximo à residência facilitou muito poder estar presente em tempo hábil, mas ainda assim, conciliar as atividades da universidade, com as atividades pessoais do estagiário e da coordenadora e ainda as atividades escolares, realmente foi o ápice de dificuldade acerca do estágio REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Capítulo 3.