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Resumo
Introdução
• O livro didático, ainda que não formalmente adotado, é uma fonte segura de
conteúdos do conhecimento (no caso da Sala de Apoio, há utilização do Caderno
de Orientações Pedagógicas: Língua Portuguesa/SEED-PR, 2005; grifos
nossos);
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[...] todo falante e todo ouvinte ocupa um lugar na sociedade, e isso faz parte da
significação. Os mecanismos de qualquer formação social têm regras de projeção
que estabelecem as relações entre as situações concretas e as representações
(posições) dessas situações no interior do discurso: são as formações imaginárias. O
lugar assim compreendido, enquanto espaço de representações sociais, é constitutivo
de significações. Tecnicamente, é o que se chama relação de forças no discurso.
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Por mais que a DCE de Língua Portuguesa, a Resolução nº. 196/2010 sobre a
distribuição de aulas, a Resolução nº. 371/2008 – GS/SEED, a Instrução nº. 22/2008 –
SUED/SEED estabeleçam um perfil e as atribuições dos profissionais ligados a SAA,
reforçando a necessidade de uma metodologia diferenciada, ainda assim, em algumas salas, o
trabalho com a metalinguagem do ensino da língua se sobrepõe. Isso devido ao
assujeitamento dos professores a determinadas concepções/formações discursivas, ou seja, a
filiação a determinadas redes de memória.
Um exemplo claro desse assujeitamento é a forma utilizada para diagnosticar as
dificuldades apresentadas pelos educandos nas práticas discursivas da oralidade, leitura e
escrita, considerando o nível de conhecimento esperado pelos alunos concluintes das séries
iniciais do Ensino Fundamental. Normalmente, os professores regentes da 5ª série/6º ano
elaboram uma avaliação para indicar quais crianças deverão frequentar a SAA e, a partir dos
resultados, preenchem a ficha de encaminhamento. Observa-se, muitas vezes, que tais
avaliações acabam por supervalorizar a prática da escrita em detrimento às outras duas,
prevalecendo o enfoque do ensino de regras e de ortografia.
Para detectar essas interferências, realizamos uma entrevista e coletamos atividades
junto aos docentes, instigando-os a trabalhar com a prática da leitura na SAA. Após a
pesquisa, foi possível perceber que existe um entrecruzamento entre aquilo que se teoriza e
aquilo que se pratica. Abaixo, segue a transcrição das respostas de três professores:
O sentido é assim uma relação determinada do sujeito – afetado pela língua – com a
história. É o gesto de interpretação que realiza essa relação do sujeito com a língua,
com a história, com os sentidos. Esta é a marca da subjetivação e, ao mesmo tempo,
o traço da relação da língua com a exterioridade: não há discurso sem sujeito. E não
há sujeito sem ideologia. Ideologia e inconsciente estão materialmente ligados. Pela
língua, pelo processo que acabamos de descrever.
A compreensão de sujeito-leitor
[...] seres situados num tempo histórico, num espaço geográfico; pertencem a uma
comunidade, a um grupo e por isso carregam crenças, valores sociais, enfim a
ideologia do grupo, da comunidade de que fazem parte. Essas crenças, ideologias
são veiculadas, isto é, aparecem nos discursos. É por isso que dizemos que não há
discurso neutro, todo discurso produz sentidos que expressam as posições sociais,
culturais, ideológicas dos sujeitos da linguagem. Às vezes, esses sentidos são
produzidos de forma explícita, mas na maioria das vezes não. [...] Fica por conta do
interlocutor o trabalho de construir, buscar os sentidos implícitos, subentendidos.
(BRANDÃO, 2005, p. 2-3)
leitura parafrástica (que procura repetir o que o autor disse) e a polissêmica (que atribui
múltiplos sentidos ao texto), precisam ser considerados. Além, é claro, das histórias da leitura
do texto e as histórias das leituras do leitor.
Segundo Antunes (2009, p. 186),
O Professor regente deve assinalar a situação em que o aluno se encontra em relação a cada conteúdo,
considerando o nível de conhecimento esperado do aluno concluinte das séries iniciais (1ª à 4ª séries) do Ensino
Fundamental.
PARCIAL-
INDICAÇÃO DE CONTEÚDOS BÁSICOS – LÍNGUA PORTUGUESA SIM
MENTE NÃO
Lê com relativa fluência, entonação e ritmo, observando os sinais
6 de pontuação.
[...] as condições de produção, que envolvem não só a situação imediata (quem fala,
a quem o texto é dirigido, quando e onde se produz ou foi produzido), mas também
uma situação mais ampla em que essa produção se dá: que valores, crenças os
interlocutores carregam, que aspectos sociais, históricos, que relações de poder
determinam essa produção. Para produzir/compreender um texto tenho que ter não
só conhecimentos linguisticos (conhecer o vocabulário, a gramática da língua, isto é,
suas regras morfológicas e sintáticas), mas também tenho que ter conhecimentos
extralinguísticos (conhecimento de mundo, enciclopédico, históricos, culturais,
ideológicos de que trata o texto) que me permitirão dizer a que formação discursiva
pertence e a que formação ideológica está ligado. (BRANDÃO, 2005, p. 10).
Precisamos pensar que o aluno está na SAA, mas faz parte de um contexto maior que é
o "ensino regular". Se não tentarmos expandir a sua visão de mundo, ao deixar de frequentar
essa sala, o mesmo continuará com dificuldades de aprendizagem. Trata-se, pois, não apenas
de apoiar o aluno a superar suas dificuldades e ter condições de acompanhar seus colegas do
turno regular, para diminuir, assim, a repetência e melhorar a qualidade da educação ofertada
pela rede pública, mas de trabalhar com as formas de “assujeitamento ideológicas”, pelas
quais alunos e professores encontram-se interpelados inconscientemente (ambiente social,
discurso institucional, discurso escolar/ensino-aprendizagem, modos de conceber um
leitor/ficha de encaminhamento e metodologia de ensino), levando-os a ocupar seus lugares, a
identificar-se ideologicamente com grupos ou classes de uma determinada formação social.
Ao buscar contribuições da perspectiva interacionista discursiva de leitura, não há
como limitar a interpretação de textos ao exercício de responder questionários, iguais aos que
se apresentam nos livros didáticos. Neste sentido, a AD contribui para a leitura das vozes
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sociais, dos silenciamentos, das formas de assujeitamento ideológicas que se materializam nos
textos, suscitando o princípio da autoria. “A assunção da autoria implica uma inserção do
sujeito na cultura, uma posição dele no contexto histórico-social. Aprender a se representar
como autor é assumir, diante das instâncias institucionais, esse papel na sua relação com a
linguagem: constituir-se e mostrar-se autor”. (ORLANDI, 1988).
Possenti (2009), também, demonstra outros aspectos que devem ser observados diante
da proposta da AD para a formação de leitores:
expressar dúvidas, desejos, emoções, ideias e receber mensagens. A socialização das ideias
pelos alunos a respeito das leituras efetuadas se constitui como uma das formas de contemplar
os processos parafrásticos e polissêmicos da linguagem.
De acordo com Orlandi (2007, p. 36), “processos parafrásticos são aqueles pelos
quais em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o dizível, a memória” e “processos
polissêmicos são a ruptura de processos de significação”.
Nas atividades sobre os textos foram realizadas reflexões sobre os contextos de
produção, semântico-discursivas, polissêmicas, sentido e memória discursiva, posições-
sujeito, polifonia, entre outras.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009. (Estratégias de ensino; 10).
DEB: SALA DE APOIO. Disponível em: Portal Educacional do Estado do Paraná - Dia a dia
Educação:
http://www.diaadia.pr.gov.br/deb/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=62 Acesso em:
12 mar. 2010.
http://dokimos.files.wordpress.com/2008/09/pedido_de_oracao.jpgGERALDI, J. W.
Concepções de linguagem e ensino de português. In: GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala
de aula. São Paulo: Ática, 1997.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. 6. ed. São Paulo, Cortez; Campinas, 2001.
POSSENTI, S. Questões para analistas do discurso. São Paulo, SP: Parábola Editorial,
2009.