Você está na página 1de 2

ANTÔNIO GOIS - O GLOBO › Annotations

Baixa expectativa
ANTÔNIO GOIS AUGUST ,

De onde menos se espera, daí é que não sai nada. A frase jocosa é apenas
uma máxima do Barão de Itararé, personagem do humorista Apparício
Torelly (-). Mas, de certa maneira, pode ilustrar também um
conceito sério, da profecia que se auto realiza. Se o professor não acredita no
potencial do aluno, tende a se esforçar menos para que ele aprenda, gerando
com seus atos um impacto negativo que acaba confirmando a expectativa
criada anteriormente.

Tabulações feitas pela economista Paula Penko, do Instituto Ayrton Senna,


evidenciam o quanto é preciso estar atento a este fenômeno. A partir dos
questionários respondidos pelos professores na Prova Brasil, exame aplicado
a todas as escolas públicas do país, foi possível identificar que, em colégios
que atendem crianças de menor nível socioeconômico,  dos professores
do º ano do ensino fundamental não acreditam que quase todos os seus
alunos concluirão o ensino médio. Em estabelecimentos onde estudam filhos
de pais mais ricos e escolarizados, ocorre o inverso:  dos professores
dizem acreditar que quase todos os seus alunos concluirão o ensino médio.

No º ano do fundamental, a discrepância se mantêm. Nas turmas com


alunos mais pobres, apenas  dos professores acreditam que quase todos
chegarão à universidade, percentual que sobe para  entre os que dão
aulas para crianças mais ricas.

Quando apontam as razões que explicam problemas de aprendizagem, as


causas mais destacadas pelos professores no º ano são todas relativas aos
alunos e suas famílias. Em escolas que atendem aos mais pobres, chega a
 o percentual dos que culpam a falta de assistência e acompanhamento
dos pais na vida escolar, além do desinteresse e falta de esforço do estudante
(). Em seguida aparecem o nível cultural dos pais () e a baixa
autoestima dos alunos (). As causas menos citadas são a sobrecarga de
trabalho (), insatisfação e desestímulo do professor () e conteúdos
curriculares inadequados ().

Mozart Neves Ramos, diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton


Senna, reconhece que a pobreza e a baixa escolaridade dos pais são fatores de
forte impacto negativo no aprendizado, tornando mais complexa a tarefa de
ensinar. Mas ele também critica a visão que isenta o professor de qualquer
responsabilidade nos resultados: “É triste quando o professor não acredita
em seus alunos e não se vê como fator determinante do sucesso. Muitas
vezes, ele entende que está fazendo o seu melhor, e que o problema está na
indisciplina e desinteresse. Os jovens querem que a escola dialogue com seu
mundo, mas a sala de aula está totalmente distante, o que leva ao
desinterese”.

De fato, nesse ponto, alunos e seus mestres concordam: os jovens costumam


apontar o desinteresse pela escola como o principal motivo para abandoná-
la, e os professores, por sua vez, destacam justamente esse desinteresse como
uma das principais causas do fracasso escolar. Mas é também curioso
constatar que  dos docentes de alunos mais pobres citam a baixa
autoestima como um dos maiores problemas de aprendizagem. Se o próprio
professor não acredita que seus alunos possam progredir nos estudos, como
esperar que eles pensem o contrário?

Veja as tabelas elaboradas pelo Instituto Ayrton Senna:

https://outline.com/ArynjT COPY Annotations · Report a problem

Outline is a free service for reading and annotating


news articles. We remove the clutter so you can
analyze and comment on the content. In today’s
climate of widespread misinformation, Outline
empowers readers to verify the facts.

H O M E · T E R M S · P R I VAC Y · D M C A · CO N TAC T

Você também pode gostar