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Iluminismo – ideais

liberais na educação
PROF.ª ME. LUCIANA UHREN

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Iluminismo (séc. XVII)
Origem na França;
Século das luzes – uso da razão em lugar da fé para entender e solucionar os
problemas e reestruturar a sociedade;
Buscavam estender a crítica racional em todos os campos do saber humano;
Argumentavam contra as determinações mercantilistas (como intervenção do
Estado no comércio que deveria se autorregular) e religiosas;
Eram avessos ao absolutismo e aos privilégios dados à nobreza e ao clero;
Suas ideias se difundiram principalmente entre a burguesia, os quais detinham
a maior parte do poder econômico, mas não possuíam poder político e ficaram
sempre à margem das decisões.
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Principais pensadores iluministas
Montesquieu (1689-1755) – divisão do poder (executivo: colocaria em prática as leis
aprovadas; legislativo: encarregado da elaboração das leis; judiciário: julgaria segundo um
ordenamento jurídico);
Voltaire (1694-1778) – defensor do livre comércio e das liberdades civis (de expressão,
religiosa e de associação);
Diderot (1713-1784) – autor da Enciclopédia, defendia que a política deveria contribuir para
a diminuição das diferenças sociais;
Rousseau (1712-1778) – acredita que o homem é bom naturalmente, a vida em sociedade é
o que degrada sua bondade;
John Locke (1632-1704) – afirmava que o conhecimento era proveniente da experiência,
tanto de origem externa, nas sensações, quanto nas internas, através das reflexões;
Adam Smith (1723-1790) - liberdade econômica sem a intervenção do Estado. A livre
concorrência entre os empresários regularia o mercado, provocando a queda de preços e
melhoria na qualidade dos produtos.
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Pedagogia: racionalismo e empirismo

René Descartes (1596-1650) John Locke (1632-1704)

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Racionalismo
Descartes, Pai da Filosofia Moderna, ao analisar o processo pelo qual a razão atinge a
verdade, usou o recurso da dúvida metódica;
Começou duvidando de tudo: do senso comum, dos argumentos de autoridade, do
testemunho dos sentidos, das informações da consciência, das verdades deduzidas pelo
raciocínio, da realidade do mundo exterior e do próprio corpo;
Só interrompe a cadeia de dúvidas diante do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso:
“Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum);
“O pensamento, metodicamente conduzido, encontra primeiramente em
si os critérios que permitirão estabelecer algo como verdadeiro”. Ou seja,
trata-se da “crença na autonomia do pensamento, a ideia de que a
razão, bem dirigida, basta para encontrar a verdade, sem que
precisemos confiar na tradição livresca e na autoridade dos dogmas. O
espírito humano tem em si os meios de alcançar a verdade, se souber
cultivar sua independência e conduzir-se com método”.
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Racionalismo
A certeza é possível porque o espírito humano já possui ideias gerais
claras e distintas, que são inatas (porque inerentes à capacidade de
pensar) e, portanto, não estão sujeitas ao erro;
A primeira ideia inata é o cogito, pelo qual nos descobrimos como
seres pensantes;
São inatas também as ideias de infinitude e da perfeição (por isso
podemos ter a ideia de Deus), e as ideias de extensão e de movimento,
constitutivas do mundo físico.

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Empirismo
Empirismo, do grego empeiria, que significa “experiência” – enfatiza o papel da
experiência sensível no processo do conhecimento;
Não diminui o trabalho da razão, mas privilegia a experiência, subordinando a ela o
trabalho posterior da razão;
A alma é como uma tábula rasa (tábua sem inscrições), por isso o conhecimento só
começa após a experiência sensível.
Teoria pedagógica “Pensamentos sobre educação” de John Locke enfatiza o papel do
mestre ao proporcionar experiências para auxiliar o aluno no uso correto da razão;
Os fins da educação concentram-se no desenvolvimento do caráter, muito mais
importante que a formação apenas intelectual, embora esta não devesse ser
descuidada.
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"Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em branco,
desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer ideias; como ela é
suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a
ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase
infinita? De onde apreende todos os materiais da razão e do conhecimento?
A isso respondo, numa palavra, da experiência. Todo o nosso conhecimento
está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio
conhecimento”.
As fontes dessas ideias, diz Locke, são duas:
1) Sensação, ou sentido externo: é a percepção de objetos sensíveis e
particulares, como o gosto de uma maçã, a sensação de uma xícara quente de
café, o som da voz de nossa mãe ou a visão de um pôr do sol;
2) Reflexão ou sentido interno: é a percepção da operação de nossas mentes
com as ideias já ali depositadas pela sensação, derivando as dúvidas, crenças,
vontades e o conhecimento propriamente dito.

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Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Crítica ao poder exagerado atribuído à razão (Iluminismo) e ao modelo escolástico
(tradicional) de educação, o qual se fundamenta no intelectualismo pedagógico;
Principal obra: “Emílio ou Da Educação”
“Há um excesso de rigor e um excesso de indulgência, ambos a serem
igualmente evitados. Se deixas a criança sofrer, pondes em risco a sua
saúde, na sua vida; vos a tornais desde logo miserável; se lhe poupais
com demasiado cuidado toda espécie de mal-estar, preparais-lhe grandes
misérias; vos a tornais delicada, sensível; vos a tirais do seu estado de
homem, a que voltara.”
Educação natural – ao descobrir o seu lugar na ordem das coisas, a criança cria um sentimento
que lhe é fundamental para não ultrapassar os limites no seu futuro convívio social. Equilíbrio
entre desejo e o poder de alcançar o desejado, respeitando-se a si mesmo e aos outros.

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A finalidade da educação é auxiliar na condução da criança a ser um sujeito
autônomo, capaz de pensar por conta própria, possibilitando-a viver
livremente, em um governo republicano, quando adulto;
Projeto de educação natural – respeitar a criança naquilo que ela é tanto do
ponto de vista biológico, como afetivo e cognitivo;
Não se deve conceber a criança como um adulto em miniatura, concepção
que acarreta diretamente a impossibilidade de se iniciar a educação pela razão.

“De todas as faculdades do homem, a razão, que não é por


assim dizer, senão um composto de todas as outras, é a que
se desenvolve com mais dificuldade e mais tardiamente, e é
ela que se pretende utilizar para desenvolver as primeiras!”

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Importância do meio e do professor no processo de educação:
1) O primeiro com o papel de ofertar ao seu aluno a experiência, o contato, com
tudo que o circunda;
2) O segundo, como mediador da relação da criança com aquilo que vai
descobrindo.
Rousseau antecipa um pilar da pedagogia contemporânea – o de tomar as
potencialidades da criança, considerando suas capacidades e o seu modo de
ação, como ponto de partida do processo pedagógico;
A criança aprende interagindo com o meio, por isso é de fundamental
importância que o educador conheça suas potencialidades e seus limites, na fase
em que o educando se encontra, e, mais do que isso, seja capaz de criar o
ambiente pedagógico necessário para mobilizar o desenvolvimento biológico,
humano e social de seu educando.

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John Amos Comenius (1592-1670)
Didática Magna – a arte de ensinar tudo a todos (pansofia);
O ponto de partida da aprendizagem é sempre o conhecido, indo do simples
para o complexo, do concreto para o abstrato;
O ensino devia ser feito pela ação e estar voltado para a ação: “Só fazendo,
aprendemos a fazer”;
Inventário dos conhecimentos universais, de modo que o aluno alcançasse um
saber geral e integrado, ainda que simplificado, desde o ensino elementar;
Aspiração democrática do ensino, ao qual todos teriam acesso, homens ou
mulheres, ricos ou pobres, inteligentes ou ineptos.

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Didática magna
Que devem ser enviados às escolas não apenas os filhos dos ricos ou dos cidadãos
principais, mas todos por igual, nobres e plebeus, ricos e pobres, rapazes e raparigas,
em todas as cidades, aldeias e casais isolados, demonstram-no as razões seguintes:
Em primeiro lugar, todos aqueles que nasceram homens, nasceram para o mesmo fim
principal, para serem homens, ou seja, criatura racional, senhora das outras criaturas,
imagem verdadeira do seu Criador. Todos, por isso, devem ser encaminhados de modo
que, embebidos seriamente do saber, da virtude e da religião, passem utilmente a vida
presente e se preparem dignamente para a futura. Que, perante Deus, não há pessoas
privilegiadas, Ele próprio o afirma constantemente. Portanto, se nós admitimos à
cultura do espírito apenas alguns, excluindo os outros, fazemos injúria, não só aos que
participam conosco da mesma natureza, mas também ao próprio Deus, que quer ser
conhecido, amado e louvado por todos aqueles em quem imprimiu a sua imagem. E
isso será feito com tanto mais fervor, quanto mais acesa estiver a luz do
conhecimento: ou seja, amamos tanto mais, quanto mais conhecemos.

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Em segundo lugar, porque não nos é evidente para que coisa nos destinou a divina providência. É
certo, porém, que, por vezes, de pessoas paupérrimas, de condição baixíssima e obscurantíssima, Deus
constitui órgãos excelentes da sua glória. Imitemos, por isso, o sol celeste, que ilumina, aquece e
vivifica toda a terra, para que tudo o que pode viver, verdejar, florir e frutificar, viva, verdeje, floresça e
frutifique.
Importa agora demonstrar que, nas escolas, se deve ensinar tudo a todos. Isto não quer dizer, todavia,
que exijamos de todos o conhecimento de todas as ciências e de todas as artes (sobretudo se se trata
de um conhecimento exato e profundo). Com efeito, isso, nem, de sua natureza, é útil, nem, pela
brevidade da nossa vida, é possível a qualquer dos homens. Vemos, com efeito, que cada ciência se
alarga tão amplamente e tão sutilmente (pense-se, por exemplo, nas ciências físicas e naturais, na
matemática, na geometria, na astronomia etc. e ainda na agricultura ou na silvicultura etc.) que pode
preencher toda a vida mesmo de inteligências grandemente dotadas que acaso queiram dedicar-se à
teoria e à prática, [...]. Pretendemos apenas que se ensine a todos a conhecer os fundamentos, as
razões e os objetivos de todas as coisas principais, das que existem na natureza como das que se
fabricam, pois somos colocados no mundo, não somente para que nos façamos de espectadores, mas
também de atores. Deve, portanto, providenciar-se e fazer-se um esforço para que a ninguém,
enquanto está neste mundo, surja qualquer coisa que lhe seja de tal modo desconhecida que sobre ela
não possa dar modestamente o seu juízo e dela se não possa servir prudentemente para um
determinado uso, sem cair em erros nocivos.

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Por isso, seja para os professores regra de ouro: que cada coisa seja apresentada
àquele dos sentidos a que convém, ou seja, as coisas visíveis à vista, as audíveis ao
ouvido, as odorosas ao olfato, as saborosas ao gosto, as tangíveis ao tato; e se
algumas podem, ao mesmo tempo, ser percepcionadas por vários sentidos, sejam
colocadas, ao mesmo tempo, diante de vários sentidos.
Desejamos que o método de ensinar atinja tal perfeição que, entre a forma de
instruir habitualmente usada até hoje e a nossa nova forma, apareça claramente
que vai a diferença que vemos entre a arte de multiplicar os livros, copiando-os à
pena, como era uso antigamente, e a arte da imprensa, que depois foi descoberta e
agora é usada. Efetivamente, assim como a arte tipográfica, embora mais difícil,
mais custosa e mais trabalhosa, todavia é mais acomodada para escrever livros
com maior rapidez, precisão e elegância, assim também este novo método, embora
a princípio meta medo com as suas dificuldades, todavia, se for aceite nas escolas,
servirá para instruir um número muito maior de alunos, com um aproveitamento
muito mais certo e com maior prazer, que com a vulgar ausência de método.

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Responda às questões acerca do texto de Comenius:
1) Selecione no texto e comente as passagens que indicam as
novidades da pedagogia de Comenius.
2) Por que a pansofia não se confunde com o simples
enciclopedismo?
3) Quais os elementos ainda atuais do pensamento de
Comenius?

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Referências
ARANHA, M. L. A. História da educação e da pedagogia – geral e Brasil. São Paulo:
Moderna, 2012.
WENDT, C. E.; DALBOSCO, C. A. Iluminismo pedagógico e educação natural em Jean-
Jacques Rousseau. Educação, Santa Maria, v. 37, n. 2, p. 229-240, maio/ago. 2012.
Disponível em: <https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/4827>. Acesso em:
05/03/2018.

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