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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC

Nome: João Pedro Vinícius Lazaro – RA: 11202210089


Curso: História, Eurocentrismo e Pós-colonialismo – Turno: Matutino
Professora: Dr.ª Márcia Helena Alvim

ATIVIDADE AVALIATIVA

Análise: Como a invisibilidade epistêmica e a produção de “desconhecimentos” foram


engendradas nas nações colonizadas?

A modernidade é um fenômeno engendrado pela Europa com a emergência de


um novo modo de vida e um novo modelo de produção que foram se consolidando a
partir da decadência do feudalismo. A produção de excedentes e as relações
comerciais com o oriente propiciaram o surgimento de uma nova classe social, os
burgueses, cuja ascensão foi impulsionada pela queda do antigo sistema.
Resumidamente, os comerciantes, ou burgueses, reorganizaram a forma de produzir
e circular bens, que se tornaram mercadorias, inicialmente num sistema mercantilista,
acumulando riquezas e potencializado sua participação política e cultural na
sociedade europeia. Ao se tornar a classe social dominante, estabelecendo o modo
de produção capitalista primitivo, sua influência se torna hegemônica e se espraia para
todos os campos das atividades humanas. Com o investimento maciço de capital no
desenvolvimento de técnicas para aumentar a produtividade, a capacidade de
exploração de recursos e de deslocamento de mercadorias, puderam alcançar
territórios ultramarinos antes desconhecidos pelos povos europeus. Conjuntamente
ao desenvolvimento das técnicas de produção e exploração, fez emergir um sistema
de conhecimento que, inspirado pelo rigor matemático e pelo pragmatismo da técnica,
acabou balizando toda a produção de saberes na Europa, resultando na ciência
moderna e sua racionalidade científica, cuja pretensão à universalidade vamos discutir
a seguir.
Ao entrar em contato com as populações do chamado “novo mundo”, a Europa
vive um contexto de transformação de paradigmas. A influência da Igreja ainda é muito
forte, apesar da ascensão da ciência. Seus objetivos com as grandes navegações
eram tanto a descoberta de novas rotas comerciais como de novos territórios para
exploração de recursos e produção de mercadorias. Tanto a Igreja quanto a Ciência
fizeram o trabalho de justificar a missão europeia nos novos continentes. A exploração
do trabalho e do território dos povos originários, a destruição de sua vida e sua cultura,
e a invalidação/apropriação de seu conhecimento, foram avalizados tanto pela
autoridade divina da Igreja como pelo saber científico. Deu-se início a um processo
de pilhagem do que era considerado útil para o progresso do povo europeu e
destruição ou negação de todo o resto da produção humana dos outros povos. Sob a
égide de homem universal, validade universal de seu saber, de sua fé e de suas
ações, o europeu se coloca como responsável por modernizar todo o mundo, como
uma espécie de missão divina atribuída a ele.
Nesse processo que se desenvolvia, foi sendo criado o mito do homem
civilizador europeu. Era tanto seu dever quanto seu direito impor seu modo de vida, e
o sofrimento, submissão e morte dos “selvagens e bárbaros” era o preço a se pagar
nessa “guerra justa”. Todo conhecimento produzido por essas pessoas era
descartado, negado, perseguido, destruído ou pilhado. Era visto como magia,
superstição, crendice. Não possuía rigor científico, então não era episteme. A criação
do método e dos requisitos da produção de conhecimento válido pretendia ser
universalizante, mas resultou apenas na invisibilização de todos os outros saberes
como desconhecimentos, como entraves para o progresso da ciência.
Vivemos hoje a continuação desse processo histórico que dura mais de cinco
séculos. O modo como a sociedade globalizada está organizada e hierarquizada é
consequência direta desse longo pesadelo, que produziu as maiores atrocidades e
desumanidades já vistas neste planeta, como a escravidão, o genocídio de milhares
de povos subumanizados, a destruição de inúmeras culturas e saberes e a miséria
dentro do capitalismo contemporâneo. O “sul global” é ainda o “outro”, cuja vida vale
menos, cujo papel é, no melhor dos casos, ser “ajudado” pelos países desenvolvidos,
cujos valores são descartáveis, cujos saberes são relativos e imprecisos. É preciso
subverter a ordem das coisas, inventar novas possibilidades e alternativas inéditas, e
é preciso justamente que aqueles que foram historicamente subalternizados estejam
na vanguarda dessa produção de alternativas.

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