Capítulo 2 - Colonialidade do Poder e Classificação Social
Publicado em 2009, pela Editora Edições Almedina S.A, o objeto desta
Resenha é o capitulo II, do livro Epistemologias do Sul: Colonialidade do Poder e Classificação Social, autoria do sociólogo Aníbal Quijano, considerado um dos fundadores da “sociologia crítica” no Peru, no qual seu referente trabalho ganhou relevância para além de suas fronteiras nacionais, além disso, sendo um dos mais significativos e influentes intelectuais. Quijano aborda então a colonialidade, sendo este um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do poder capitalista. Essa ideia embasa se na imposição de uma classificação racial ou étnica da população do mundo como referido padrão de poder que opera em cada um dos planos, meios e dimensões, materiais e subjetivos, da existência social e da escala societal. Em movimento históricos, o emergente poder capitalista tornou se mundial, e os seus centros se localizavam se nas zonas situadas sobre o Atlântico, que segundo a ideia do autor, irão depois se identificarão como a Europa, e como eixos centrais do seu novo padrão de dominação que estabeleceram também a colonialidade e a modernidade. Aponta se desde o século XVIII, com a construção do Eurocentrismo, a partir do seio da modernidade e da racionalidade, foi se afirmando a mitológica ideia de que a Europa e os europeus eram o momento e o nível mais avançados e contínuo da espécie. Consolidando então essa ideia, uma concepção de humanidade segundo a qual a população do mundo se diferenciava em inferiores e superiores, irracionais e racionais, primitivos e civilizados, tradicionais e modernos. Brevemente, há a constatação de que a modernidade capitalista possui sua gênese na conquista colonial da América, e que esta moldaria profundamente diversas partes do mundo, não apenas pelos aspectos econômicos derivados do colonialismo, mas por introduzir em seu modelo de poder a classificação social da população mundial a partir da ideia de raça, em seus eixos fundamentais. A raça seria então a construção mental que condensa a experiência básica da dominação colonial, atravessando, desde então, as dimensões mais importantes do poder mundial, inclusive sua racionalidade específica, o eurocentrismo. Mas, mesmo tendo uma origem e um caráter colonial, provou ser mais duradouro e estável do que o colonialismo, em cuja matriz foi forjado. Isto implica, consequentemente, num elemento de “colonialidade” no modelo de poder hegemônico atualmente em escala mundial. Sendo assim, passando pelos séculos, XIX, XX, e até hoje mostrando que em pouco tempo, a colonialidade e modernidade instalam se associadas como eixos constitutivos do seu específico padrão de poder, até hoje nos dias modernos. Dessa forma, o texto mostra diversos fatores que permeiam a colonialidade do Poder, sendo o poder espaço e uma malha de relações sociais de dominação articuladas em função e em torno da disputa pelo controlo da existência social. Observa- se que partindo de uma reorganização da história de América e da articulação do padrão colonial de poder, Quijano delineou o eurocentrismo, entendido como um modo de controle da subjetividade mundial, e levantou questões envolvendo as lutas contemporâneas com seu heterogêneo legado, proveniente tanto de levantes anticoloniais na América, como das experiências subversivas mundiais do século XX. Para tal, estas lutas desenvolveram perspectivas de um novo horizonte histórico, abrindo a possibilidade de uma efetiva descolonialidade do poder. Portanto, atenta se de forma geral ao conteúdo exposto que o autor além de discorrer de forma clara e sucinta, tem as suas investigações que abarcam um intenso trabalho intelectual e político, e além de tudo foi marcado pela forma com que soube aliar a erudição de percorrer diversas correntes de pensamento da América Latina e do mundo, contudo, sem abdicar de coerência e um posicionamento crítico de extrema qualidade.