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SENTENÇA
Prioridade Idoso
Tramitação prioritária
Justiça Gratuita
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por DANIELA ALMEIDA PRADO NINNO, liberado nos autos em 19/10/2023 às 16:09 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). Daniela Almeida Prado Ninno
Vistos.
MARIO PEREIRA DOS SANTOS move ação de dissolução de união estável c/c
partilha de bens em face de EDNA BERGAMO SEDE MERONHA, alegando que passaram a
conviver de forma pública, contínua e duradoura, estabelecida com objetivo de constituir família
em janeiro de 2008, conforme escritura de declaração de união estável. Fixaram residência na casa
da requerida, localizada na Rua Natale José Perilo, nº 23, Jaú/SP, onde, durante o período da
união, foram realizadas diversas melhorias e construções no imóvel. Afirma que, durante o
período da união, a requerida sofreu um AVC, em janeiro de 2016, tendo ficado com sequelas
motoras e impossibilitada de enxergar. Narra que cuidou da requerida desde o acidente até a
presente data, prestando todos os cuidados necessários, como levar ao médico, higiene,
alimentação, lazer, entre outros. Argumenta que, como a requerida é deficiente visual, passaram a
viver como se fossem amigos, não tendo mais nenhum tipo de relação, somente cuidados. Alega
que sempre frequentaram ambientes e locais públicos, demonstrando estabilidade no
relacionamento de forma afetiva e mútua. Aduz que, quando passou a conviver com a requerida,
sempre foi um companheiro dedicado, cuidadoso, zeloso e cuidava dos afazeres do lar, bem como
prestava apoio constante para sua companheira. Afirma que, diante da situação que vivia com a
requerida, em novembro de 2020, se envolveu amorosamente com sua cunhada, tendo mantido
relacionamento até março de 2021. Narra que, em virtude de tal acontecimento, a família da
requerida retirou esta do imóvel do casal, impedindo contato entre os mesmos. Argumenta que a
requerida está em pleno juízo de suas faculdades mentais, tendo total poder de decisão sobre seus
atos. Alega que possuem o seguinte patrimônio: um automóvel Chevrolet Prisma, placa GCQ
6819; as benfeitorias e construções realizadas no imóvel da requerida, com valor aproximado de
R$ 25.000,00; quanto aos bens móveis que guarnecem a residência, quer retirar apenas um guarda
roupa dos três que possuem, uma máquina de lavar roupas, uma geladeira ou um colchão
magnético e uma TV led das duas que possuem. Aduz que, durante a união, o casal contraiu um
empréstimo, com valor remanescente de quarenta e oito parcelas de R$ 711,00, cada uma. Afirma
que efetuou empréstimo em seu nome junto ao Banco Itaú, cujo valor foi transferido para conta de
um sobrinho da requerida, Kennedy Fernando Espricigo, para que este usasse o valor em benefício
próprio, pagando as parcelas mensais do empréstimo. Afirma que pretende que as dívidas sejam
divididas igualmente entre as partes e que a dívida junto ao Banco Itaú seja de responsabilidade
total da requerida. Pede a procedência da ação com a declaração de dissolução de união estável e a
partilha do patrimônio comum no importe de 50% para cada parte. Pleiteia os benefícios da justiça
gratuita.
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conciliação.
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perante o requerente cabe a Kennedy, e não à requerida, ainda que este seja seu sobrinho, não
podendo tal pecúnia ser objeto de partilha. Argumenta que conviviam em união estável pública,
notória e com intenção de constituir família durante o período de 01 de janeiro de 2007 a 21 de
julho de 2021, momento em que o requerente teve determinado contra si medida protetiva
proveniente do processo nº 1502995-44.2021.8.26.0302, em trâmite perante a 1ª Vara Criminal de
Jaú/SP, das quais, em especial, o afastamento do lar conjugal e a proibição de contato ou
aproximação. Alega que, em 20 de julho de 2021, registrou o boletim de ocorrência nº 3912/2021,
denunciando maus tratos, violência doméstica sofrida ao longo dos anos e humilhações, inclusive
com traição. Aduz que do relacionamento não advieram filhos, mas apenas a aquisição de bens,
além de contraírem dívidas e realizarem benfeitorias em imóvel de propriedade exclusiva do
requerente. Afirma que, depois de sofrer um acidente vascular cerebral, que a deixou cega, há
quatro anos, as desavenças e humilhações passaram a ocorrer. Narra que o requerente passou a
praticar maus tratos e constante pressão psicológica e humilhações, culminando em traição e uso
indevido de recursos provenientes de seu benefício previdenciário. Argumenta que o requerente,
usando de artifício vil e más intenções, diante da incapacidade física e intelectual da requerida,
abriu a conta corrente conjunta nº 124002-1, da agência nº 27-2, do Banco do Brasil, local onde
administrava e realizava transações sem o consentimento daquela. Alega que foram realizadas
benfeitorias em imóvel de propriedade exclusiva do requerente, localizado na Rua Guerino
Ferrucci, nº 151, Jardim Carolina, Jaú-SP, condizente a troca integral do telhado e calhas,
construção de uma suíte, pintura integral do imóvel, cujo valor deve ser objeto de perícia para
avaliar e determinar o valor correto da valorização do bem, ressarcindo-se após a requerida. Aduz
que o requerente se apropriou de empréstimo consignado realizado perante o Banco do Brasil, cujo
pagamento se dá mediante desconto mensal em benefício percebido junto ao INSS pela requerida,
no valor de R$ 28.173,07, dividido em sessenta e seis parcelas no valor de R$ 711,58, cada.
Afirma que já teve uma lesão patrimonial, a título de danos materiais, no importe de R$ 6404,22,
sendo que o desconto somente terá fim em maio de 2026. Narra que, ciente de que a requerida
havia deixado a própria residência para buscar ajuda diante do crime e dos danos sofridos, o
requerente utilizou de artifícios fraudulentos e em benefício próprio, “escondendo” o veículo do
casal, que está em nome da requerida e foi adquirido mediante benefícios do programa Pcd.
Argumenta que, na ocasião, o requerente afirmou ao Sr. Oficial de Justiça, além de ameaças
veladas à requerida, que o carro estava guardado e não iria entregá-lo, deixando apenas os cartões
de crédito e acesso bancário e de benefício, de titularidade daquela, mas que mantinha em sua
posse diante da “administração” dos recursos e em benefício próprio, causando lesão. Alega que o
requerente fez pedido para que a amante pudesse dormir na casa do casal. Aduz que deve haver a
partilha dos seguintes bens: um veículo Chevrolet Prisma, placa GCQ 6819; empréstimo
consignado perante o Banco do Brasil no valor de R$ 28.173,07, com parcelas de R$ 711,58, cada
uma; parcelamento de serviços realizados na concessionária Chevrolet Javep, condizente a sete
parcelas iguais e consecutivas no valor de R$ 104,00, totalizando a importância de R$ 728,00;
parcelamento de Listo Auto, condizente a duas parcelas iguais de R$ 266,12, totalizando a
importância de R$ 532,24; e benfeitorias realizadas no imóvel de propriedade exclusiva do
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requerente. Afirma que sofreu dano material, relativo à imputação de dívida no valor de R$
46.964,28 e dano moral, referente à lesão financeira, violência doméstica e humilhações. Pede a
improcedência da ação e a condenação do requerente em litigância de má-fe. Pleiteia, em sede de
tutela de urgência na reconvenção, a expedição de ofício ao Banco do Brasil para exibição do
contrato original condizente à operação nº 950029721 e a planilha de pagamentos, desde 05 de
dezembro de 2020, e para encerramento da conta corrente nº 124002-1, agência nº 27-2 e, ao final,
a procedência da reconvenção com o reconhecimento e dissolução da união estável no período de
01 de janeiro de 2007 a 21 de julho de 2021, a partilha dos bens adquiridos na constância da união,
bem como das dívidas e benfeitorias, com ressalva do item “a”, de forma que ocorrerá condenação
por meação da dívida ou por danos materiais e a condenação do reconvindo ao pagamento de
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indenização por danos materiais no valor de R$ 46.964,28, relativo à operação nº 950029721 ou,
se assim não entender, seja a importância destinada a partilha dos bens e ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de R$ 30.000,00. Pleiteia os benefícios da justiça gratuita.
É o relatório.
Fundamento e decido.
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Em primeiro lugar, deixo de apreciar o pedido de indenização por dano moral
formulado pelo requerente em réplica, pois, após a citação, qualquer alteração do pedido
demandaria anuência expressa da requerida, o que não se obteve no presente caso.
A questão referente ao período da união estável das partes foi decidida através do
acordo efetuada na audiência de conciliação, instrução, debates e julgamento, fixado entre abril de
2008 e julho de 2021.
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À união estável aplica-se o regime da comunhão parcial de bens, prevista no artigo
1658 do Código Civil, com comunicação dos bens que sobrevierem ao casal, na constância do
casamento, com exceção das situações dispostas nos artigos 1659 e 1661 do mesmo diploma legal.
No que tange aos bens que guarnecem a residência, a requerida, quando de sua
contestação, não impugnou os direitos alegados pelo requerente. Na verdade, apenas em
memoriais (e, portanto, extemporaneamente), alegou que já guarneciam sua casa e foram deixados
por seu falecido marido. Assim, confessa a comunhão aduzida na inicial, devem ser considerados
bens comuns e partilhados igualmente entre as partes.
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algumas pessoas o colocaram para fora da residência, não tendo visto o requerente pegar qualquer
pertence. Argumenta que, logo que o requerente saiu, um senhor trocou a fechadura da casa. Alega
que não deixaram o requerente entrar novamente na residência, nem para pegar seus pertences.
Aduz que viu algumas pessoas entrando na residência e o requerente saindo. Afirma que não ouviu
a conversa entre as pessoas. Não ouviu discussão em voz alta ou viu alguma atuação física. Narra
que viu a requerida saindo do imóvel e que esta estava chorando muito, pois era a casa dela.
Argumenta que mora no bairro há vinte e dois anos. Alega que conhece a requerida há vinte e dois
anos, tendo cuidado do primeiro marido desta. Aduz que o requerente cuidava muito bem da
requerida. Afirma que, durante a união, houve obras na casa, a qual não era reformada, tendo
havido uma reforma pequena, durante o casamento da requerida com o primeiro marido, executada
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pelo marido da depoente. Narra que as partes viviam como marido e mulher. Argumenta que,
quando houve a reforma grande no imóvel, o requerente era marido da requerida. Alega que o
requerente fez a reforma em prol da família. Aduz que as partes tinham um veículo, não
lembrando a marca, sendo que o requerente posteriormente trocou para maior facilidade de
condução da requerida. Afirma que, no dia em que o requerente saiu de casa, foi embora com o
carro. Não sabe em nome de quem estava o veículo. Narra que viu um moço e um senhor de idade,
que tiraram o requerente da casa, inclusive o senhor trocou as fechaduras da residência. Não teve
conhecimento sobre o relacionamento do requerente com a cunhada. Argumenta que a requerida
tinha um irmão, o qual faleceu. Alega que o filho do irmão da requerida ia ao bar da depoente,
para comprar refrigerante. Não sabe se o irmão da requerida era casado. Aduz que nunca foi
comentado no bar ou no bairro acerca da relação do requerente com a cunhada.
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por semana, que era o tempo em que o requerente ia ao banco e ao supermercado. Afirma que o
requerente cuidava da requerida e, quando esta ficou doente, a enfermeira Wilma também cuidava
desta.
A testemunha Washington disse, em depoimento, que era vizinho das partes. Aduz
que conhece a requerida. Afirma que as partes viveram juntos e, pelo que presenciou, eram, um
casal muito unido: não via um xingando ou maltratando o outro. Narra que nunca viu algum
vizinho dizendo que as partes brigavam ou se maltratavam. Argumenta que a casa em que as
partes viviam era da requerida. Alega que, quando as partes juntaram, foi realizada uma reforma
na casa, sendo que o depoente fez a obra. Aduz que, durante a reforma, foi feito um quarto, a sala,
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a cozinha e a suíte. Não sabe quanto foi gasto na reforma. Acredita que a reforma foi feita há cerca
de dez anos. Acredita que, atualmente, seria gasto em torno de 40 a 50 mil para fazer esse tipo de
reforma. Afirma que o requerente possuía uma casa. Não sabe se, durante a convivência, foi
realizada alguma reforma na casa do requerente. Não sabe o motivo pelo qual terminou o
relacionamento das partes. Narra que suas filhas ficaram sabendo da separação através de
vizinhos. Acredita que suas filhas não presenciaram algum ocasião na casa que indicasse o
momento da separação. Argumenta que, pelo que viu, não houve discussão ou alguma situação
envolvendo outras pessoas. Alega que não ficou sabendo de alguma situação. Não sabe se, no
momento em que algum deles saiu da casa, houve alguma situação de constrangimento. Aduz que,
na época em que trabalhava na casa, só via carinho entre as partes e nunca presenciou briga.
Afirma que conheceu o casal há cerca de dez anos. Narra que, no período mais recente, não teve
contato íntimo com as partes. Argumenta que tinha contato como vizinho. Pelo que sabe não
houve infidelidade por parte do requerente. Alega que os dois irmãos da requerida já faleceram,
sendo que um foi há pouco tempo. Aduz que um irmão da requerida era separado e tinha dois
filhos. Afirma que chegou a trabalhar junto com o irmão da requerida em uma obra. Narra que não
ficou sabendo se o requerente teve um relacionamento extraconjugal com a mulher do irmão da
requerida.
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ela embora. Aduz que o requerente tinha acesso a tudo da requerida, como cartão de crédito, sendo
que esta não tinha acesso a nada. Afirma que o requerente não queria devolver os documentos da
requerida, a qual queria ir para a casa de sua mãe, pois estava humilhada. Narra que a mãe da
requerida ficou indignada com a situação. Argumenta que o requerente escondeu o carro, que está
no nome da requerida e foi comprado com o dinheiro desta. Alega que todos ficaram tristes com a
situação. Aduz que a mãe da requerida levou esta para casa, a qual chegou em situação lastimável,
não tendo roupa para vestir, estando magra em excesso, precisando ser levada ao médico. Afirma
que precisaram chamar a polícia e o advogado para entrar com medidas cabíveis. Narra que,
através de um processo, o requerente foi obrigado a devolver os documentos da requerida e
cancelar a procuração que estava assinada para ele. Argumenta que, neste momento, a requerida
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tomou conhecimento do empréstimo. Não sabe como foi o momento quando o requerente saiu da
casa. Alega que a situação da relação extraconjugal foi conhecida no bairro e na igreja. Aduz que o
irmão da requerida confirmou a situação com a esposa. Afirma que, após um mês, o irmão da
requerida teve um infarto fulminante. Narra que o irmão da requerida perdoou a esposa e voltou
com esta. Argumenta que, pelo que sabe, o requerente possui um imóvel, mas não está registrado
em cartório. Alega que não sabe em qual banco foi feita a dívida. Não sabe se o requerente levou
seus pertences pessoais, quando saiu da residência. Não conhece o imóvel do requerente. Aduz
que não viu a reforma do imóvel do requerente.
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Nestes termos, a prova oral produzida dá conta de que houve reformas tanto no
imóvel em que o casal morava, o qual já era da requerida quando do início da união, como no
imóvel de propriedade do requerido. Dessa forma, devem ser partilhadas entre as partes o valor
despendido nas reformas realizadas nos dois imóveis, de modo igualitário. O valor das benfeitorias
será aferido em perícia a ser realizada em liquidação de sentença.
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requerente movimentasse sua conta bancária. Portanto, o valor de tal dívida deve ser partilhado de
forma igual entre as partes, restando indeferido o pedido da requerida de condenação do
requerente em danos materiais, relativos ao montante de tal empréstimo.
Ante a sucumbência recíproca, cada parte arcará com metade das custas judiciais e
despesas processuais, bem como com honorários advocatícios do advogado da parte adversa, que
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fixo em 20% do valor da condenação, respeitado o disposto no art. 98 do Código de Processo
Civil.
P.I.
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CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA
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