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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO1 DA ____ VARA CÍVEL2 DO

FORO DA COMARCA DE CURITIBA3 NO ESTADO DO PARANÁ

CESAR CONSUMIDOR, brasileiro, solteiro, auxiliar administrativo, portador do


documento de identidade RG. 20.737.803-02 e inscrito no CPF sob o 658.764.591-02,
domiciliado nesta Comarca de Irati, onde reside na Rua Cruz Machado, número 52, centro,
vem, por seu procurador (instrumento de mandato incluso – doc. n.º 1), propor a presente

AÇÃO DE RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO c/c DANOS


MATERIAIS,

em face de JOÃO VENDEDOR, solteiro, vendedor autônomo, portador do documento de


identidade RG. Nº 58.549.589.-0, e inscrito no CPF sob o n.º 982.647.594-02, também domiciliado da
Comarca de Irati, na Rua Dr. José Augusto Silva, número 700, centro, pelos motivos de fato e de direito
a seguir expostos.

I – DOS FATOS

Segundo o Sr. César, aos dias 12 de março do corrente ano, comprou do Sr João Vendedor
uma moto Honda/NXR150 BROS ESD, no valor de R$15.000,00 (quinze mil reais).
Após a compra o Sr. Cesar solicitou ao vendedor João Vendedor, certificado de registro e
licenciamento de veículo a fim de que pudesse usufruir do novo bem sem incorrer em irregularidades.
Por sua vez, o Sr João Vendedor se recusou a entregar os documentos alegando que não seriam
necessários para utilização do veículo.
Não contente o Sr Cesar dirigiu-se ao Detran para tentar a posse dos documentos os quais
julgava necessários. No Detran o Sr, Cesar descobriu que a moto havia sido recuperada de sinistro, ou
seja, o valor da moto caia de R$15.000,00 para R$8.000,00, algo que não havia sido informado a ele na
hora da compra do veículo. Sr Cesar, salienta ainda que, na data da compra, foi informado apenas de
defeitos nos faróis. Por estes motivos, Sr Cesar procurou o Sr João para que desfizesse o negócio e lhe

1 Para magistrado da Justiça Estadual. Caso a competência fosse da Justiça Federal, conforme estabelece o art. 109 da
Constituição da República, o correto seria EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL.
2 Indicação da competência funcional.
3 Indicação da competência territorial. Em se tratando de Justiça Federal o termo comarca é substituído por SUBSEÇÃO
JUDICIÁRIA OU SEÇÃO JUDICIÁRIA.
No modelo em questão a competência encontra fundamento no art. 101, I do Código de Defesa do Consumidor.
fossem ressarcidos os gastos que teve com a moto para regularização da documentação perante ao
Detran e ainda o custo de emplacamento que durante a negociação ficaria a cargo do responsável pela
venda Sr. João, acordo o qual também não foi honrado.
João informou que não teria como saber do sinistro e que reembolsaria César apenas como
valor de R$ 15.000,00 pago pela moto, ainda assim sem data para tal devolução.

II – DO DIREITO4

Em razão dos fatos anteriormente narrados, podemos concluir que o Autor tem direito de ser
totalmente reembolsado e indenizado pelos prejuízos que sofreu em decorrência da regularização do
bem adquirido do Réu.
Inicialmente, há que se consignar que, no presente caso, estamos diante de uma relação de
consumo, nos termos previstos nos artigos 2º e 3º da Lei n.º 8.078/90, uma vez que o Autor adquiriu o
veículo na qualidade de destinatário final do bem do Réu, por sua vez, comerciante do produto.

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou


utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de
produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
(O original não ostenta os negritos).

O Réu, na qualidade de fornecedor, colocou no mercado produto com vício não aparente, o
sinistro, que além de diminuir o valor do bem tem perda da qualidade e segurança do material, do qual o
autor deveria estar ciente. A vulnerabilidade do consumidor vem expressa na mesma Lei anteriormente
citada em seu Art. 4º:
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo
o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia
das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de
consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a
necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a
viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da
Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas
relações entre consumidores e fornecedores; (O original não ostenta os
negritos).

4 A fundamentação apresentada é meramente exemplificativa, podendo ser complementada com posições doutrinárias e
jurisprudenciais.
A proteção dos direitos do consumidor, ainda na mesma Lei, segue-se no Art. 6º:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências; (O original não ostenta os
negritos).

O Código de Defesa do Consumidor tem previsão ainda sobre a responsabilidade do


fornecedor sobre produtos com vicio, expressados mais precisamente no seu Art. 18:

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não


duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se
destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes
da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes
de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - ...
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - ...
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos
ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de
fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao
fim a que se destinam. (O original não ostenta os negritos)

O Sr. Cesar, autor, recebe a proteção da Lei em questão desde a oferta do produto, isto
presente no Art. 31, reiterada no Art. 37 §1º, §3º os quais informam e determinam:
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua
portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição,
preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como
sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por
qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o
consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
serviços.
...
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por
omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto
ou serviço. (O original não ostenta os negritos)

Em consequência do descumprimento ao expresso pelo Art. 31 da Lei nº 8.078/90, tem-se a


previsão do Art. 35 da mesma Lei:
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento
à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá,
alternativamente e à sua livre escolha:
I - ...
II - ...
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.
(O original não ostenta os negritos)

O autor encontra-se amparado, ainda pela mesma Lei nº 8.078/90, em seu Art. 23 o qual traz
em seu texto que “A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos
produtos e serviços não o exime de responsabilidade. ” (O original não ostenta os negritos).
O direito do Sr. Cesar, quanto ao tempo de reclamação sobre o vício oculto, sendo constatado
apenas a partir da consulta ao Dentran, mostra-se evidente no Art. 27 do CDC: “Art. 27. Prescreve em
cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista
na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria. ” (O original não ostenta os negritos)
A proteção do consumidor, considerado parte vulnerável da situação, também prevê que a
produção de provas por parte do réu (inversão do ônus), no Art. 38 do Código de Defesa do Consumidor
“ Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a
quem as patrocina. ”

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Por todo o exposto, o Autor requer que sejam julgados procedentes os seguintes
pedidos de:

a) A citação do requerido nos termos do art. 246, do CPC/2015;


b) condenação do Réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios, em conformidade
como Art.82 do CPC 2015;
c) seja dado provimento a presente ação, no intuito de condenar o réu ao reembolso de R$
15.000,00 (quinze mil reais) pagos pelo bem com vício oculto, bem como ao pagamento pelo
emplacamento do veículo em questão, como combinado no ato da compra, e ainda aos custos de R$
86,00 ( oitenta e seis reais) e mais R$ 53,43 (cinquenta e três reais e quarenta e três centavos) ambos
pagos com intuito de regularizar a documentação para que o veículo pudesse transitar em acordo com
as leis vigentes;
d) O Autor requer a inversão do ônus da prova em relação ao defeito no produto, nos termos do art.
6º, inciso VIII do Código de Defesa do Consumidor, uma vez que é hipossuficiente. Requerendo, ainda,
pela produção de todos os meios de prova para a demonstração dos danos sofridos. Dá-se a causa o
valor de R$ 15.139,43 (quinze mil, cento e trinta e nove reais e quarenta e tres centavos).

Dá-se a causa o valor de R$ 15.139,43 (quinze mil, cento e trinta e nove reais e quarenta e tres
centavos).

Termos em que, pede deferimento.

Irati, 06 de novembro de 2022..

Lorena
OAB/... XXX. XXX

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